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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Lara Martinez Mendes

CORPOS FILTRADOS:
Ansiedade social por aparência, autoestima e insatisfação corporal em
adolescentes nas redes sociais – Uma leitura junguiana.

MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA

São Paulo
2023
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Lara Martinez Mendes

CORPOS FILTRADOS:
Ansiedade social por aparência, autoestima e insatisfação corporal em
adolescentes nas redes sociais – Uma leitura junguiana.

Dissertação apresentada à Banca


Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de Mestra
em Psicologia: Psicologia Clínica, sob
orientação da Prof.ª Dr.ª Liliana Liviano
Wahba.

São Paulo
2023
Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta Dissertação de Mestrado por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura_______________________________________________
Data__________________
E-mail __________________________________________________
Lara Martinez Mendes

CORPOS FILTRADOS:
Ansiedade social por aparência, autoestima e insatisfação corporal em
adolescentes nas redes sociais – Uma leitura junguiana.

Dissertação apresentada à Banca


Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de Mestra
em Psicologia: Psicologia Clínica

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Dra. Liliana Liviano Wahba – PUC-SP

______________________________________
Dra. Denise Gimenez Ramos – PUC-SP

______________________________________
Dr. Michel Alexandre Fillus – PUCPR
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento nº 001. Processo nº 001.88887.675984/2022-00

This study was financed in part by Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Finance Code 001. Process nº
001.88887.675984/2022-00
AGRADECIMENTOS

À minha mãe, minha maior e mais forte saudade, que sempre lutou e
vibrou pelas minhas conquistas, e que hoje se faz presente em meu coração.
À minha avó, Milena, por ir muito além de uma inspiração acadêmica e
política, mas ser minha grande inspiração para lidar com as vicissitudes da vida.
Ao Geraldo, meu amor, filho de Oxalá, que com toda sua luz iluminou
meus caminhos e trouxe paz ao meu coração, não somente durante o processo
do mestrado, mas todos os dias, desde que nos encontramos.
À Marina e Gustavo, meus irmãos de longa jornada, que sempre se
fizeram presente nas dificuldades da vida e formam o elo mais forte de amizade
que já construí com alguém.
Ao Bruno, meu fiel escudeiro e porto seguro, que em nenhum momento
largou a minha mão, e vivenciou comigo o caos, a diversão e a calmaria.
À Antonieta, por fazer muito mais do que me ajudar com o processo de
escrita e estrutura do trabalho, mas por me oferecer sua amizade e relembrar
por diversas vezes que é preciso ter calma.
Ao Marcio, meu pisciano favorito, que além de me ensinar psicologia, se
transformou em grande amigo, antes mesmo de eu perceber.
Ao Pedro, uma das melhores e mais sábias pessoas que já conheci, que
me ajudou na vida e no trabalho.
Ao Kriz, não apenas por oferecer moradia em São Paulo, mas também
por ser moradia em seu coração e me acolher com todo seu afeto.
À Ana Paula, que com toda a sua generosidade e sensibilidade, fez
desse caminho mais leve.
À Faridi, por me ouvir incansavelmente e me ajudar a percorrer o
caminho das dores e delícias de estar vivo.
Aos meus amigos, que mais se parecem com uma família, andam
comigo lado a lado e tornam a vida feliz.
Aos meus colegas da PUC-SP, por todas as trocas vivenciadas ao longo
do mestrado, das angústias às alegrias.
Ao Jefferson, por ser paciente, conseguir me fazer entender questões
estatísticas complexas e me ajudar a tornar esse trabalho, um trabalho de
qualidade.
À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Liliana Liviano Wahba, pelos incontáveis
refinamentos de texto, pela paciência, por acreditar e contribuir grandiosamente
em meu trabalho
À Prof.ª Dr.ª Denise Gimenez Ramos e ao Prof. Dr. Michel Alexandre
Fillus por terem aceitado a participação na banca, pelos apontamentos
enriquecedores na etapa de qualificação e por continuarem presentes na etapa
da defesa. Ao Prof. Dr. Durval Luiz de Faria e ao Prof Dr. Marcio Zanardini Vegas
por também aceitarem fazer parte deste momento.
À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos.
“Na era da máquina, a alma é colocada em segundo lugar”
(Nise da Silveira)
RESUMO

MENDES, L. M. Corpos Filtrados: Ansiedade social por aparência,


autoestima e insatisfação corporal em adolescentes nas redes sociais –
Uma leitura junguiana. 83 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) –
Programa de Pós-Graduação em Psicologia: Psicologia Clínica, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2023.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Liliana Liviano Wahba

Com o intuito de analisar o uso de selfies, seus filtros e edições vinculadas


à autoestima, ansiedade social por aparência e satisfação corporal em
adolescentes foi realizado um estudo descritivo, de natureza quantitativa e
delineamento transversal em uma escola privada em Curitiba. Participaram 61
adolescentes de 13 a 19 anos que cursavam do nono ano do ensino fundamental
ao terceiro ano do ensino médio, sendo 60,7% correspondente ao gênero
masculino e 39,3% ao feminino. Os instrumentos utilizados foram: 1)
Questionário de perfil de uso 2) Escala de Autoestima de Rosenberg 3) Social
Appareance Anxiety Scale. Os resultados evidenciaram uma expressiva
diferença entre os gêneros, todas as participantes do gênero feminino
declararam usar filtros, tenderam a usar mais do que o gênero masculino, bem
como apresentaram uma maior ansiedade social por aparência. A maioria dos
participantes declarou utilizar os filtros por diversão ou para melhorar ou corrigir
a aparência. Aqueles que relataram fazer uso de filtros, demonstraram uma
maior ansiedade por aparência e maior insatisfação corporal, do que os que não
utilizavam, entretanto, não houve diferença significativa na autoestima de ambos
os grupos. Considerando os filtros de imagens um modo contemporâneo de se
apresentar aos outros, o estudo enseja ampliar a compreensão do mundo virtual
idealizado pelos jovens e a representação da persona na construção da
identidade.

Palavras-chave: Adolescência, filtros, ansiedade social, insatisfação corporal,


persona.

O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de
Financiamento nº 001.88887.675984/2022-00.
ABSTRACT

MENDES, L. M. Filtered Bodies: Social appearance anxiety, self-esteem and


body dissatisfaction in adolescents on social media – A Jungian
perspective. 83 p. Dissertation (Masters in Clinical Psychology) – Programa de
Pós-Graduação em Psicologia: Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2023.

Advisor: Liliana Liviano Wahba, PhD.

In order to analyze the use of selfies, their filters, and editions linked to
self-esteem, and social anxiety arising from self-image and body satisfaction in
teenagers, a descriptive, quantitative, and cross-sectional study was carried out
in a private school in Curitiba. The Participants were 61 teenagers between the
ages of 13 and 19 years who ranged from the ninth year of elementary school to
the third year of high school, 60.7% of the participants were male and 39,3%
female. The instruments used were 1) User profile Questionnaire 2) Rosenberg
Self-Esteem Scale 3) Social Appearance Anxiety Scale. The results showed a
significant difference between the genders, all the female participants declared
using filters, tending to use them more than the male gender, as well as showing
greater social anxiety about appearance. Most participants said they use filters
for fun, to improve, or, to correct their appearance. Those who reported using
filters showed greater anxiety about appearance and greater body dissatisfaction
than those who did not, however, there was no significant difference in the self-
esteem of both groups. Considering image filters a contemporary way of
presenting oneself to others, this study aims to broaden the understanding of the
virtual world idealized by young people and the representation of the persona in
the construction of identity.

Keywords: Adolescence, filters, social anxiety, body dissatisfaction, persona.

This study was financed in part by Coordenação de Aperfeiçoamento de


Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Finance Code 001. Process nº
001.88887.675984/2022-00.
LISTA DE ABREVIATURAS

BASS – Body Areas Satisfaction Scale


CAPES – Coordenação de Aperfeiçõamento de Pessoal de Nivel Superior
DEBQ – Escala de Comportamento Alimentar
EAD-3 – Escalas de Insatisfação Corporal
EAR – Escala de autoestima de Rosenberg
EAT-26 – Eating Attitudes Test 26
EDI-3 – Eating disorder inventory 3
OBC – Escala de Consciência Corporal Objetivada
PHQ-9 – Patient Health Questionnaire-9
PSWQ – Penn State Worry Questionnaire-9
SAAS – Social Appearence Anxiety Scale
VAS – Visual Analogue Scales

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados dos participantes relacionados ao uso de filtros e satisfação


corporal e facial (n=61)
Tabela 2 – Dados dos participantes relacionados ao uso de filtros (n=43)
Tabela 3 – Correlação bivariada entre as variáveis (n=61)
Tabela 4 – Análise de regressão linear múltipla – coeficientes
Tabela 5 – Comparação entre os grupos dos que não usam (n=18) e os que
usam filtro(n=43)
17
SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ....................................................... 19

2 LEVANTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE O TEMA .................................... 21


2.1 MÉTODO DE REVISÃO ......................................................................... 21
2.2 RESULTADOS DA REVISÃO ................................................................. 22
2.2.1 Tempo e frequência de uso ........................................................... 22
2.2.2 Autoestima ...................................................................................... 24
2.2.3 Insatisfação corporal ..................................................................... 25
2.2.4 Ansiedade social por aparência.................................................... 26

3 ADOLESCÊNCIA E IDENTIDADE ............................................................... 27


3.1 DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE NA ADOLESCÊNCIA ............ 27
3.2 AUTOESTIMA NA ADOLESCÊNCIA...................................................... 32

4 A BUSCA PELA BELEZA E O USO DE FILTROS ...................................... 35

5 ARTIGO – “CORPOS FILTRADOS: O USO DE FILTROS ENTRE


ADOLESCENTES BRASILEIROS DO NONO ANO E ENSINO MÉDIO” ....... 41
5.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 41
5.2 MÉTODO ................................................................................................ 44
5.2.1 Participantes ................................................................................... 44
5.2.2 Instrumentos de coleta de dados ................................................. 45
5.2.3 Procedimentos e aspectos éticos................................................. 46
5.2.4 Procedimentos de análise dos dados .......................................... 47
5.3 RESULTADOS ....................................................................................... 47
5.4 DISCUSSÃO........................................................................................... 54
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 59
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PERFIL DE USO............................... 65
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 67
APÊNDICE C – TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .. 69
APÊNDICE D – CARTA DE AUTORIZAÇÃO DA ESCOLA PARA
REALIZAÇÃO DA PESQUISA ...................................................................... 71
ANEXO A – ESCALA DE AUTOESTIMA DE ROSENBERG ........................ 73
ANEXO B – SOCIAL APPEARENCE ANXIETY SCALE (SAAS) ................. 75

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO ......................................... 77


18
REFERÊNCIAS DA DISSERTAÇÃO .............................................................. 79
19
1 APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

A temática central desta pesquisa é o uso da internet na adolescência.


Objetiva-se examinar o uso de filtros e aplicativos de edição de imagens em
redes sociais para modificar sua aparência facial e corporal e os impactos dessa
prática na autoestima, satisfação corporal e ansiedade social relacionada à
aparência dos jovens.
A escolha pelo tema surgiu do interesse que possuo no estudo das
relações estabelecidas pelos indivíduos com seus corpos, a partir das pessoas
em minha clínica e seus relatos de insatisfação corporal, baixa autoestima, e
preocupação excessiva em como são vistas pelos outros por sua aparência
física. Ao observar este comportamento sob uma perspectiva contemporânea,
compreendi que a internet e a mídia possuem forte influência sobre a percepção
dos indivíduos quanto à sua aparência. Nesse panorama, se mostrou importante
pesquisar como tais influências reverberam nos adolescentes, considerando que
além de estarem formando sua identidade, constituem a maior parte dos
usuários das plataformas digitais.
A construção da identidade na adolescência é um processo dinâmico e
multifacetado que abrange não apenas mudanças físicas, mas também
transformações psicológicas profundas. Esse período, em que a individualidade
é constituída, é marcado pela necessidade de aquisição de autonomia,
separação gradual dos pais, pela escolha e inserção em novos grupos sociais e
pelo desenvolvimento da própria persona. Nesse contexto, é comum que os
adolescentes deem grande importância a como são vistos pelos outros e,
atualmente, a internet se tornou o meio mais utilizado para se expor e se
destacar.
As selfies, ou autorretratos, são maneiras desses indivíduos
compartilharem suas imagens nas redes sociais. Com o avanço da tecnologia e
da inteligência artificial, os aplicativos de fotos passaram a introduzir
mecanismos de edição de imagens, comumente conhecidos como filtros,
possibilitando às pessoas alterarem suas aparências de maneira rápida e
intuitiva.
A busca pela beleza corporal é um processo histórico em que padrões se
impõem de acordo com a cultura. Na contemporaneidade, também é uma
demanda vendida pela mídia. Isso não é um fenômeno novo para os
20
pesquisadores, entretanto, a investigação acerca dos filtros ainda está em fase
inicial de investigações científicas devido ao fato de serem recursos novos. A
contemporaneidade da temática e sua importância no desenvolvimento de
adolescentes torna relevante compreender as interferências da edição de fotos
na percepção de satisfação corporal, autoestima e ansiedade social por
aparência deles, principalmente, por se tratar de indivíduos que estão
construindo sua identidade, vivenciando transições e novidades em seus
relacionamentos sociais.
O presente trabalho é dividido em seis capítulos que se seguem a esta
apresentação: o capítulo dois é composto pelo levantamento de literatura, os
capítulos três e quatro são teóricos e tratam da adolescência e do uso de filtros,
respectivamente; o capítulo cinco é um artigo, no qual são apresentados a
introdução, o método, os resultados, a discussão, as referências utilizadas na
referida seção, apêndices e anexos; o último capítulo é composto pelas
considerações finais da dissertação. Ao final do trabalho, todas as referências,
inclusive as já citadas no capítulo do artigo, serão listadas. A escolha de
estruturar a dissertação nesse formato se deve ao interesse em publicação. Por
isso, as pesquisas encontradas no capítulo de revisão de literatura se repetem
na introdução do artigo.
21
2 LEVANTAMENTO DE ESTUDOS SOBRE O TEMA

2.1 MÉTODO DE REVISÃO

A revisão de literatura se faz necessária em razão da complexidade e das


crescentes pesquisas na área da saúde, delimitando etapas metodológicas
concisas e fornecendo aos profissionais melhores evidências, baseadas em
estudos. Com essa finalidade, a revisão de literatura científica surge como uma
proposta metodológica que proporciona a síntese do conhecimento e suas
aplicabilidades.
A presente revisão narrativa procurou aportar informações sobre a prática
de selfies, suas edições e implicações, visando responder à indagação: Quais
as variáveis psíquicas em relação à produção de selfies e suas edições?
A pesquisa incluiu as palavras-chave: "enhanced selfies", "photograph
editing applications", "filtered photographs", "photograph filtering applications",
“facetune”, “snapchat”, “tiktok”, "snapchat dysmorphia" , "filtered selfie" , "selfie
enhancer", “facetuned”, "selfie improvement", "selfie editing", "photo editing",
“editing app”, "selfie improver", “reshape”, “filter”, "filtered photographs" ,
“filtering” ,“filtro”, “edição de fotos”, “redes sociais”, “social media”, “self-image”,
"self-esteem", “esteem”, “body image”, “autoestima”, “imagem corporal”,
“autoimagem”, “ansiedade”, “anxiety”, “adolescentes”, “mulheres”, “meninas”,
“meninos”, “teenagers”, “woman”, “women” , “young women”, “young woman”,
“psychology” e “psicologia”; em alguns descritores foram usadas combinações
de “e” ou “and”.
A abrangência dos termos pesquisados se deve ao fato de os artigos se
referirem às práticas de Selfie – assim como suas edições – de múltiplas formas,
pois ainda é um fenômeno recente e não foi encontrado um padrão de termos
para referenciar tais práticas. Dada a escassez de pesquisas, foram incluídas
algumas que não correspondem à faixa etária do presente estudo para ampliar
a possibilidade de detectar variáveis. Foram buscados os termos em português
e inglês.
As bases de dados escolhidas foram PubMed, Portal de Periódicos
CAPES, Scielo e Web of Science, embora, nas duas últimas mencionadas, não
tenham sido encontrados artigos.
22
2.2 RESULTADOS DA REVISÃO

As pesquisas selecionadas para a revisão de artigos incluem publicações


entre os anos de 2014 e 2021, levando em consideração o ato de tirar uma selfie
e suas respectivas edições.
A busca nas bases de dados (PubMed e Portal de Periódicos CAPES)
com os descritores mencionados encontrou um total de 640 artigos. A primeira
triagem foi realizada por título e palavras-chave, eliminando todos que não eram
da área da saúde ou não continham palavras-chave relacionadas ao tema de
pesquisa. Um total de 374 resultados foram excluídos. A segunda triagem, por
leitura dos resumos, excluiu os artigos focados em transtornos alimentares, os
que não abordavam redes sociais ou autoimagem, um total de 256. A última
seleção foi composta por 11 artigos, submetidos a uma leitura extensa e
detalhada. Desses, dois são revisões de literatura e nove, levantamentos
exploratórios.

2.2.1 Tempo e frequência de uso

Cinco das pesquisas (Caso, Schettino, Fabbricatore & Conner, 2020;


McLean, Paxton, Wertheim & Masters, 2015; Salomon & Brown, 2019;
Tiggemann, Anderberg & Brown, 2020; Wang et al., 2020) investigaram o tempo
de uso de celular em alguns aspectos: tempo gasto em redes sociais, frequência
de postagem de selfies e tempo gasto para a edição da selfie. Isso ajudou os
pesquisadores a nortearem seu estudo com mais precisão acerca do nível de
tempo e frequência de uso dos usuários das redes sociais digitais e o quanto
isso pode estar relacionado com as demais variáveis.
Em uma pesquisa experimental quantitativa, Tiggemann et al. (2020)
forneceram um tablet para os participantes que confirmaram editar suas selfies
e estipularam o prazo máximo de 10 minutos para edição. Desta maneira,
conseguiram medir experimentalmente o tempo de edição, além de
questionarem os jovens acerca da frequência de uso nas redes sociais. Isso foi
executado em paralelo com as Escalas de Manipulação de Imagem (McLean et
al., 2015) e Escala de Satisfação Corporal. O grau de insatisfação corporal
também foi medido ao expor os participantes a conjuntos de 15 fotos de perfis
públicos do Instagram contendo as hashtags #fashion, #beach e #plussize com
23
diferentes tipos de corpos, construído por Mills, Musto, Williams, & Tiggemann
(2018). Concluiu-se que quanto mais extensa a edição e produção da foto, maior
o nível de insatisfação corporal.
Yuhui Wang et al. (2020), em estudo quantitativo, mediram a frequência
da postagem de selfies por meio da escala de feedback positivo, escala de
satisfação corporal (Body Areas Satisfaction Scale – BASS), Escala de
Autoestima (Rosenberg, 1965) e cálculo de IMC. Os pesquisadores concluíram
que quanto maior o tempo de uso das redes sociais, menor o nível de autoestima
e satisfação corporal.
No estudo quantitativo de McLean et al. (2015), os pesquisados
responderam uma escala desenvolvida pelos próprios autores de adição em
redes sociais e um questionário acerca da frequência de postagem e tiradas de
selfies, junto com as Escalas de Insatisfação Corporal (EAD-3), Escala de
Comportamento Alimentar (DEBQ), Escala de Ideal de Magreza (Subescalas
Thin/Low Body, e The Sociocultural Attitudes Towards Appearance
Questionnaire-4). Foram apontados maiores engajamento e tempo gasto
trabalhando nas fotos tiradas entre adolescentes que as compartilham, em
comparação aos jovens que não o fazem.
A avaliação da frequência do tempo de uso na pesquisa quantitativa de
Salomon e Brown (2019) foi medida por um questionário no qual os participantes
indicavam quais redes utilizavam e por quanto tempo. Essa avaliação foi
associada à Escala de Consciência Corporal Objetivada (OBC) – Subescala de
Vergonha Corporal, um questionário para verificar comportamento de
objetificação, incluindo 10 tipos de postagens e comportamentos.
Caso et al. (2020) mediram a frequência de postagem questionando:
“Quantas fotos você tirou de você e postou nas redes sociais semana passada?”.
Uma pergunta sobre outras imagens postadas também foi utilizada para medir
as variáveis. A auto-objetificação, além de estar relacionada com os níveis de
autoestima e sexismo, foi positivamente associada ao tempo gasto nas redes
sociais, frequência de postagem de selfies e suas edições.
Nas pesquisas encontradas sobre o tempo de uso, frequência e possíveis
adições em redes sociais, foi notável que quanto maior o tempo usado nas redes,
seja para editar, tirar ou apenas ver fotos de outras pessoas, maiores as chances
de insatisfação corporal e baixa autoestima. O tempo de uso parece ser
determinante para as variáveis psíquicas encontradas nas pesquisas.
24

2.2.2 Autoestima

A publicação, assim como a edição de selfies nas redes sociais, possui


impacto direto na autoestima dos usuários. Níveis de autoestima medidos por
diversas escalas e questionários aparecem em pesquisas de levantamento
exploratório e de revisão narrativa.
Fastoso, González-Jiménez & Cometto (2021) apontam a autoestima
como um dos principais motivadores da edição de selfies. Para realizar a
pesquisa, os autores usaram itens da Escala de Autoestima (Rosenberg, 1965),
intercalando com outras escalas que medem a comparação entre corpos, cyber
vitimização (isto é, ser vítima de bullying na internet), comportamento de edição
de selfies, satisfação com a vida e desejabilidade social. Os pesquisadores
concluíram que, à medida em que a autoestima diminui, os adolescentes são
mais propensos a se envolver em edições de selfie.
A Escala de Autoestima de Rosenberg também foi utilizada na pesquisa
de Caso et al. (2020), com tradução e validação italianas. Ao somar essa escala
com outras, que medem diferentes variáveis (sexismo, internalização de ideal de
magreza, pressões sociais, tempo de uso, e auto-objetificação e comportamento
de edição de selfies), os autores perceberam que a autoestima diminui quando
as demais variáveis aumentam. A variável também apresentou relação positiva
com níveis de sexismo internalizado, mas não teve pontuação significativa ao ser
investigada na relação com o ato de publicar imagens de outras pessoas.
Em estudo com mulheres, Wang et al. (2020) fizeram uso da Escala de
Autoestima de Rosenberg (1965), relacionando esse fenômeno com as
seguintes variáveis: frequência de postagem de selfies, feedback de terceiros e
satisfação corporal. Os pesquisadores apontam que os níveis de autoestima das
participantes aumentam ao receberem feedbacks positivos como likes e
comentários de terceiros.
Perloff (2014) alerta que mulheres com baixa autoestima e com um ideal
de magreza internalizado recorrem às mídias sociais a fim de escapar das
angústias relacionadas à autoimagem, mas a relação estabelecida com as redes
acaba lhes gerando mais sofrimento.
25
2.2.3 Insatisfação corporal

Os níveis de insatisfação corporal analisados por Perloff (2014) e


Tiggemann et al. (2020) foram identificados como altos entre aqueles que tiram
e editam selfies.
Mills et al. (2018) aplicaram uma escala referente à satisfação
corporal/facial e medidas de estado de humor, a Visual Analogue Scales (VAS),
em três diferentes momentos: (1) no início do estudo, (2) após as participantes
visualizarem fotos públicas aleatórias de corpos magros e médios e (3) após a
edição de suas próprias selfies. Os autores apontam que tirar e editar uma selfie
resultou no aumento do humor negativo e da insatisfação facial, bem como,
quanto mais extenso o tempo de edição da selfie, maior o nível de insatisfação
corporal, concluindo que investir tempo em edições de fotos nas redes sociais é
uma prática prejudicial.
Wang et al. (2020) mediram o nível de satisfação corporal utilizando a
BASS. Ao relacioná-la com as variáveis referentes ao feedback de terceiros, os
autores observaram que receber respostas positivas, além de aumentar a
autoestima, aumenta os níveis de satisfação corporal.
Segundo McLean et al. (2015), responsáveis por aplicar a Body
Dissatisfaction Subscale (Eating Disorders Inventory 3) em jovens mulheres
adolescentes australianas (idade média de 13,1 anos), identificou-se que quem
mais posta selfies editadas supervaloriza seu peso e forma, bem como
apresenta índices maiores de insatisfação corporal, restrição alimentar e
internalização do ideal de magreza, em comparação com quem posta menos
selfies editadas.
Também a fim de medir a insatisfação com a imagem corporal em seus
participantes, Bue (2020) fez uso da Subescala de Insatisfação Corporal do EDI-
3. Esta subescala consiste em nove afirmações sobre a forma do estômago,
coxas, nádegas e quadris dos participantes. Os itens de amostra incluem “Acho
que minha barriga é muito grande” e “Sinto-me satisfeito com a forma do meu
corpo”.
O instrumento foi utilizado em paralelo com o método de rastreamento
ocular, evidenciando que a atenção visual, provavelmente, causa impacto na
satisfação com a imagem corporal: a insatisfação acentuada pode levar o sujeito
26
a focar sua atenção visual em regiões corporais pouco atraentes, gerando um
ciclo que reforça ainda mais a sua insatisfação.

2.2.4 Ansiedade social por aparência

Segundo Boursier, Gioia & Griffiths (2020), foram encontradas diferenças


significativas nas pontuações entre meninos e meninas, em escalas que medem
as expectativas em torno de uma selfie. As mulheres reportaram um nível maior
de ansiedade relacionada à web e altas expectativas em relação à imagem
postada e como seriam vistas. Os meninos se mostraram mais preocupados em
serem sexualmente atraentes nas fotos.
Wick e Keel (2020) aplicaram a escala de transtorno alimentar Eating
Attitudes Test-26 (EAT-26); três itens do Penn State Worry Questionnaire-9
(PSWQ-9), referentes à ansiedade; e o Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9),
para avaliar depressão. Os resultados demonstraram haver maior patologia
alimentar e ansiedade entre os que editam suas fotos (27% do público
pesquisado). Constatou-se que postá-las após edição relaciona-se a
preocupações aumentadas sobre os próprios peso e formato. Portanto, publicar
fotos editadas associou-se a maior restrição alimentar, ansiedade e desejo de
fazer exercícios. Editá-las sem postar, por sua vez, associou-se a uma redução
imediata nas preocupações com peso e diminuição na tristeza.
Em relação às abordagens teóricas encontradas nas pesquisas, é
evidente uma predominância de abordagens cognitivistas e focadas em
comportamento. Não foram encontradas abordagens psicodinâmicas, bem como
não foram identificadas pesquisas em português.
A revisão realizada indica que prejuízos na satisfação com a imagem
corporal, diminuição de autoestima, aumento de auto-objetificação e ansiedade
social por aparência possuem relação com o uso frequente de aplicativos de
edição de selfies. Com isso em vista, confirma-se a importância de pesquisar
esse fenômeno, cada vez mais presente no mundo digital e que já apresenta
graves consequências para a psique individual de jovens e, consequentemente,
para o coletivo.
27
3 ADOLESCÊNCIA E IDENTIDADE

3.1 DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE NA ADOLESCÊNCIA

O processo de construção de identidade é gradual ao longo da vida. Seus


primórdios incipientes existiriam antes do nascimento, quando sujeito é
planejado e imaginado pelos outros (Young-Eisendrath, 2009).
Durante a adolescência, acontece de modo progressivo o fenômeno de
aquisição de autonomia e a entrada no mundo adulto. Bovensiepen (2019)
explicita que é comum, aos adolescentes, um estado mental confuso. Isso indica
que, provavelmente, a tarefa psicológica desse período seja atuar diante da
necessidade de se separar da mãe e do pai, deixando para trás a relação infantil
na qual se encontravam. Tais separações resultam em uma maior autonomia e
no aparecimento daquilo que o jovem almeja ser.
Wahba e Bloise (2017) relatam que o tempo gasto pelos adolescentes
para adquirir essa autonomia tem se alongado cada vez mais em algumas
classes sociais. Segundo os autores, nas sociedades pré-industriais, os garotos
caçavam e as meninas se ocupavam do lar e da colheita, já as sociedades
modernas oferecem um leque de possibilidades maior e demandam cada vez
mais dos jovens. De acordo com Young-Eisendrath (2009), as demandas sociais
não são o único fator a influenciar essa mudança de etapas do desenvolvimento.
Para ela, é em média em torno dos vintre anos que os indivíduos começam a
dominar as habilidades da vida adulta. A autora ainda afirma que, até pouco
tempo, a sociedade acreditava que o desenvolvimento dos jovens estava quase
completo quando ainda estavam construindo suas identidades e valores.
O papel do corpo também possui importância fundamental para essa
etapa do desenvolvimento. Para Bovensiepen (2009), isso vai além das
mudanças óbvias provenientes da puberdade, como o desenvolvimento dos
órgãos genitais, crescimento de pelos e alterações na voz. Ser dono do próprio
corpo também diz respeito a diferenciar, na fantasia inconsciente, o corpo da
mãe e o do pai, o que ocorre nessa fase.
Ao dividir a adolescência em subfases, Bovensiepen (2019) considera o
período dos 15 aos 17, que intitula Middle Age Adolescence, como responsável
pelo pico do processo de individuação dessa etapa. Aqui, sob a perspectiva da
psicologia analítica, acontece uma reorganização do eixo ego-Self,
28
simbolicamente manifestando um renascimento. Entretanto, essas “fases” não
estão demarcadas com nitidez, são períodos de transições.
À luz da psicologia analítica, a imagem arquetípica do herói, muitas vezes,
expressa tal renascimento e busca de autonomia para a vida adulta. Byington
(2017) defende que essa é a etapa na qual o ser se prepara para buscar o outro
fora da família. Ele explica que, no início da vida, o ego opera de maneira passiva
e recebe, dos cuidadores, os significados de arquétipo matriarcal e patriarcal.
Anima e animus são arquétipos despertados na adolescência e têm a função de
relacionar a polaridade ego-Outro, estimulando tanto o primeiro quanto o
segundo a viverem de forma mais autêntica e profunda, de acordo com o que
ambicionam ser. Com essa nova atuação, é ativado o arquétipo do herói, que
age como protetor, incentivador e realizador de grandes feitos durante a vida.
Após o estabelecimento dessa nova dinâmica (anima/animus-alteridade),
segundo Byington (2017), é gerada uma turbulência no Self, ocasionando a crise
da adolescência, pois o ego sai de uma posição passiva e assume uma postura
ativa. Bovensiepen (2019) sintetiza esses estados mentais como oscilações de
humor, nas quais os adolescentes alternam do “alto astral” ao desespero total.
Com isso, estão expostos a uma maior possibilidade de ansiedade, mudanças
abruptas de sentimento, sensações de inadequação e onipotência. Bovensiepen
(2009) ressalta que estados de inconsciência são comuns nesse período e
podem levar a comportamentos maníacos, muitas vezes interpretados pelos pais
(pessoas identificadas com o superego projetado do adolescente) como típico
desta fase.
Oscilações de humor, mudanças de opinião, novas ideias, novos estilos,
alterações do estado mental e transformações significantes acontecem com
frequência na juventude. Esta mudança frequente, segundo Bovensiepen
(2009), se dá por diferentes momentos de identificação, que só ocorrem através
de deintegração, reintegração e introjeção.
As reações deintegrativas, para Bovensiepen (2019), acompanham o
indivíduo ao longo de todo o seu desenvolvimento. É importante notar como, no
início da vida, elas se dão de maneira mais rápida, e, à medida que o ego se
desenvolve, os períodos de instabilidade tendem a se tornar mais curtos.
Portanto, a maneira como o sujeito lida com as suas emoções vai se modificando
ao longo da vida e, através desses quadros de instabilidade e estabilidade, o
29
jovem sai do estado de latência e passa a integrar novos conteúdos à
consciência, atingindo níveis de amadurecimento.
Os adolescentes vivem, com recorrência, episódios de deintegração e
reintegração. É dessa maneira que assimilam os acontecimentos da vida e vão
construindo e transformando sua identidade. Bovensiepen (2019) salienta que,
no final desse período, não existe uma identidade definida e sólida, mas deve
estar desenvolvido o potencial de “brincar” com várias identidades.
A formação da identidade está diretamente relacionada à construção dos
papéis sociais, do que a psicologia analítica chama de persona. Essa palavra
latina, advinda de per sonare, ou “soar através de”, refere-se às máscaras
usadas pelos atores clássicos para representar seus personagens. Portanto, a
principal metáfora para o conceito é a máscara. Podemos, ainda, encontrar
outras analogias na obra de Jung, como disfarce, pele, crosta ou concha
(Hopcke, 2009).
Jung usou a noção de persona para definir o arquétipo de adaptação do
eu ao ambiente, que é mediador das interações através de funções sociais,
como, por exemplo, a das profissões. Em A persona como segmento da psique
coletiva (1928/2011), o autor explica que ela tenta convencer o sujeito e os outros
de que contém em si uma individualidade, mas se trata de um papel pelo qual a
psique coletiva fala. Portanto, estaria menos vinculada à singularidade e mais às
exigências e opiniões coletivas.
A importância da persona para a organização psicológica diz respeito à
orientação da própria consciência e seu colapso pode ser vivido até mesmo
como um “fim do mundo”. É dessa forma que Jung discute três possíveis
consequências de uma crise da persona: paranoia ou esquizofrenia, ocasionada
pela diluição do ego numa psicose; comportamento regressivo ou excêntrico,
devido a falhas na adaptação social; e o fenômeno clínico da “restauração
regressiva da persona”, como uma resistência psicológica que ocorre quando o
indivíduo, após ser desafiado por uma experiência crítica de transformação,
apega-se à fase anterior de sua personalidade por meio da manutenção de sua
“máscara” (Jung, 1928/2011).
Podemos concluir que a persona articula a vida privada e a pública e,
também, tem poder definidor sobre a identidade. Stein sintetiza que ela tem
função dual: “relacionar-se com os objetos e proteger o sujeito” (Stein, 2014,
p.109). Assim, atuando criativamente a favor do desenvolvimento psicológico,
30
pode funcionar tanto para expressar, como para esconder aspectos da
personalidade, conforme as circunstâncias. “Essencialmente, a persona, que é
a pele psíquica entre o ego e o mundo, é não só um produto de interação com
os objetos, mas inclui também as projeções do indivíduo nesses objetos” (Stein,
2014).
Dessa forma, o estudo da persona nos dá instrumentos para nos
debruçarmos não apenas na “vida interior”, suas imagens e reflexões, mas
também nas experiências relacionais. Essas últimas são imprescindíveis para
compreendermos tanto o desenvolvimento da identidade como a vida dos
indivíduos em seus grupos, uma vez que a persona pode ser vista como o ponto
da personalidade onde “aquilo que somos colide com o que deveríamos ser”
(Hopcke, 2009, p. 4).
Para Hopcke (2009), ela pode ser descrita como a face exterior do eu e
é, necessariamente, uma noção extrovertida. É também um dos conceitos
junguianos mais práticos, ainda que seja um dos menos explorados, visto que a
psicologia analítica é, segundo o autor, um campo, ainda, predominantemente
introvertido. Por isso, costuma-se considerar a persona, com o preconceito,
como se ela se tratasse de algo superficial, frívolo, pouco profundo. Para o autor,
o próprio Jung tratou-a com alguma ambivalência e desprezo, ao defini-la como
“bidimensional” e ao afirmar que “nada tem de real”, mesmo que, na prática,
esteja no cerne de algo tão relevante como as interações cotidianas.
Tanto Hopcke (2009) quanto Frankel (1998) defendem o papel central
assumido por ela nas interações que permeiam a vida em sociedade. Ao
desenvolver seu estudo sobre adolescentes, Frankel (1998) aponta que a
formação da persona representa papel tão central que poderia, por vezes,
confundir-se com o próprio eu.
Seu desenvolvimento, segundo Stein (2014), é um importante problema
na adolescência e no início da vida adulta. Isso se dá, pois, por um lado, há muita
atividade, impulsos, fantasias, sonhos, desejos e ideologias e, por outro, há
pressão dos seus iguais no sentido da conformidade. A identificação com o
grupo atua na emancipação do adolescente, sendo um passo necessário para
alcançar a maturidade.
Para o autor, o ego não escolhe deliberadamente identificar-se com uma
determinada persona. Ela é construída, sobretudo, a partir de imitação. Na
31
infância, imita-se os pais e outros meninos ou meninas. O sexo1 é um dos modos
como somos separados e definidos desde cedo e as características ligadas a
isso são absorvidas pela máscara que construímos na adolescência, o
desenvolvimento da persona pode ocorrer como imitação do grupo ou, também,
como prematuras adaptações a estereótipos do mundo adulto, alinhando-se,
algumas vezes até demais, a possíveis expectativas familiares ou sociais (Stein,
2014).
Ainda assim, sua função defensiva precisa ser valorizada: ela protege o
adolescente de se sentir demasiado exposto. Seu papel criativo também é
importante: mesmo se tratando de um fenômeno associado a percepções e
opiniões coletivas, ela contém em si uma semente da individualidade do
adolescente, na forma das suas fantasias sobre a própria persona ou sobre
personagens inspiradores que a encarnam. Desse modo, ela atua não apenas
para velar sua intimidade emocional, mas também para ampliar sua voz no
mundo.
Alguns adolescentes se mostram desatentos e quase inconscientes em
relação ao mundo objetivo, vivendo em uma fantasia de invencibilidade. Por
outro lado, há os que prestam demasiada atenção aos valores e expectativas
dos adultos, vestindo roupas sociais e falando sobre o que farão em suas futuras
profissões. Neste segundo caso, há o risco de se tornarem estereótipos, vítimas
de prematura adaptação da persona (Stein, 2014).
Também durante a adolescência, podem emergir intensos sentimentos de
vergonha, provenientes da fantasia de feiura, morbidez e insuficiência de seus
corpos (Bovensiepen, 2019). Podemos depreender que a persona, como aquilo
que a pessoa parece ser à luz de demandas coletivas, exercerá papel decisivo
na organização desses sentimentos e fantasias.
A persona do adolescente possui papel organizador nesse ponto, por
exemplo, no modo como veem seu corpo e como consideram sua aparência,
estilo e hábitos. Angústias nas transições desse período da vida tendem a estar
relacionadas às experiências corporais, que podem manifestar-se como
sintomas, por exemplo, nos transtornos alimentares e, até, no uso de drogas.
Durante a adolescência, a busca pela identidade pode ser desafiadora,
uma vez que há uma grande pressão para se conformar às normas e

1
Na atualidade, considera-se o gênero para a constituição da identidade, mais do que propriamente o sexo
da pessoa.
32
expectativas sociais. Deste modo, a construção da persona pode ser vista como
uma estratégia de adaptação, em que o indivíduo busca apresentar uma imagem
socialmente aceitável de si mesmo, enquanto preserva sua identidade pessoal.
Com base nas teorias, pode-se concluir que a construção da persona nessa
etapa é um processo complexo e dinâmico que exige o equilíbrio entre a
necessidade de se adaptar às expectativas sociais e à preservação da
identidade pessoal.

3.2 AUTOESTIMA NA ADOLESCÊNCIA

Embora o conceito possa variar entre os autores, é similar entre a maioria


dos que versam sobre o tema: a ideia de que autoestima é a afeição e
valorização de si, muito semelhante à sua etimologia, proveniente do grego
autós (a si mesmo) e latim aestimare (valorizar).
Branden (2002) propõe que o conceito se refere a muito mais do que um
senso inato de valor próprio, o qual pode causar a percepção de que somos
adequados para a vida e suas exigências. A essência da autoestima é confiar
nas próprias ideias e saber-se merecedor da felicidade. Segundo o autor, ela se
faz importante, pois com uma autoestima elevada, é mais provável que o
indivíduo persista diante das dificuldades da vida. Por outro lado, com baixa
autoestima, ele pode desistir mais facilmente dessas demandas.
A autoestima pode se revelar de diferentes formas: é expressa no rosto,
no modo de falar, nas palavras, na tranquilidade de ser quem se é. Ela está
relacionada com o relaxamento, o conforto e a segurança ao ouvir críticas,
mantendo-se em harmonia consigo mesmo (Branden, 2002).
Para Del Ciampo e Del Ciampo (2010), a autoestima é um indicador de
bem-estar mental e diz respeito ao conjunto de atitudes e ideias que cada
indivíduo tem sobre si. Além disso, é dotada de dinamismo e é composta por
oscilações, se revelando nos acontecimentos sociais, emocionais e fisiológicos.
Já Polly Young-Eisendrath (2009) postula que vai além da ideia de se sentir bem
consigo mesmo, referindo-se a uma aceitação dos pontos fortes e pontos fracos
de si.
Young-Eisendrath (2009) analisa a autoestima e o eu em uma relação
estreita. A autora enfatiza a compreensão do eu enquanto experiência interior e
individual de sermos um corpo, de termos habilidade de ação, de contar nossa
33
história e escreve que isso nos confere uma identidade pessoal. Tais funções
apoiam a autonomia do indivíduo e, consequentemente, a habilidade de tomar
decisões sensatas ao longo da vida. Porém, essas funções podem estar
desorganizadas ou distorcidas por conta dos relacionamentos que temos com
os outros – o primeiro deles, com nossos pais e irmãos.
Del Ciampo e Del Ciampo (2010), assim como Polly Young-Eisendrath
(2009), discorrem sobre a importância da família enquanto instituição social na
construção da autoestima na adolescência. Esse núcleo representa o modelo de
comportamentos e atitudes que são transmitidos ao longo do tempo, sendo
responsável por consolidar a incorporação de elementos que moldam
personalidade e caráter. A convivência com os familiares, as críticas e os elogios
escutados influenciam constantemente na autoestima do adolescente (Del
Ciampo & Del Ciampo, 2010).
Além da família, os professores, colegas de escola e o sistema
educacional como um todo também precisam ser levados em consideração no
desenvolvimento da autoestima (Young-Eisendrath, 2009). Ao formular suas
concepções sobre o tema no contexto da adolescênica, a autora considera a
teoria da geração do eu, importante para a compreensão de algumas
particularidades dos jovens: Acredita-se que esta geração é diferente das
gerações anteriores, com maior propensão a acreditar que o eu vem primeiro,
pensamento muito reforçados pela mídia que reflete uma cultura com um
paradigma saturado e profundo de acreditar em si mesmo, independente de
qualquer coisa. Esse pensamento faz com que os jovens tendam a se frustrar
ao não atingirem algumas metas fantasiosas e irrealistas estabelecidas consigo
mesmo. Tal perfeccionismo impede os sujeitos de serem realistas, flexíveis e
modestos, gerando uma autoimagem negativa de si mesmo.
Pais e professores começaram uma tentativa de curar a baixa autoestima
dos jovens, que, por vezes, se encontravam insatisfeitos ou frustrados por não
conseguirem realizar o que almejaram. Esse movimento parental e educacional
promoveu o que Young-Eisendrath (2009) chama de “armadilha da autoestima”:
quando as expectativas criadas – de poder, riqueza e status – não se
concretizam, isso resulta numa avaliação negativa do eu.
Em sua prática terapêutica, Young-Eisendrath (2009) se depara
constantemente com jovens confusos, com autoimagem negativa, inquietos com
seu descontentamento e temerosos dos desafios impostos pela vida, sem o
34
apoio dos pais. Muitas vezes a baixa autoestima desses jovens pode estar
relacionada com a sua aparência. Adolescentes que não possuem corpos
condizentes com o padrão estético da sociedade são mais vulneráveis à
discriminação social. Del Ciampo e Del Ciampo (2010) abordam a problemática
corporal desses jovens relatando que a inadequação do estado nutricional e a
adiposidade corporal representam fortes indicadores de baixa autoestima. Isso
é mais intenso nas meninas, que têm maior preocupação em serem julgadas
gordas. Os meninos, por sua vez, possuem mais interesse em adquirirem massa
muscular como forma de exibir a masculinidade.
Para lidar com a autoestima, Del Ciampo e Del Ciampo (2010) e Young-
Eisendrath (2009) enfatizam a importância de uma maior participação parental
no desenvolvimento dos jovens. Contudo, Del Ciampo e Del Ciampo (2010)
explicitam que tal participação deve ser feita com cautela, diante da possibilidade
de os pais abalarem a autoestima dos seus filhos com comentários rígidos
acerca da aparência corporal destes, visando um perfeccionismo estético. Já a
outra autora afirma que, visando a construção de uma autoestima genuína em
seus filhos, é comum que os pais se coloquem em um papel de igualdade com
eles, desconsiderando a hierarquia de sua relação. Ela assevera que o alcance
de tal estado nos filhos apenas é possível quando os genitores se colocam em
uma posição de liderança.
Independente de como é conceituada, a autoestima é um fator decisivo
para a autopercepção do sujeito. Da mesma forma que a construção de
identidade aflora na adolescência, a primeira surge com força neste período da
vida. E, assim como é possível a um jovem com autoestima consolidada encarar
as situações mais confiante de si mesmo, tornando-se capaz de passar, de
maneira mais facilitada, pelos desafios da existência, o oposto também pode
ocorrer, situação que torna o jovem uma pessoa desacreditada de si e de suas
conquistas.
35
4 A BUSCA PELA BELEZA E O USO DE FILTROS

Em diversas épocas se estipulou uma relação estreita entre belo e bom,


ou seja, é belo tudo aquilo que nos agrada, pode ser um gesto, uma ideia, um
amor, uma obra de arte. A beleza não é imutável, sofre fortes influências sociais
e diferentes modelos podem coexistir em uma mesma época. O belo pode
suscitar, ou não, o desejo do ser humano: nem tudo aquilo que um sujeito
considera bonito, tem vontade de possuir; pode-se apenas querer apreciar. A
beleza, portanto, é analisada como um fenômeno histórico que se mostra
agradável à contemplação, independente do desejo de quem a admira (Eco,
2013).
Para Eco (2013), a grande questão norteadora sobre a história da beleza
é o porquê de ela ser documentada por meio de obras de arte, uma vez que o
belo pode dizer respeito a outras coisas além dessa esfera. A resposta para tal
indagação é a de que essa ideia foi transmitida, ao longo da história, por artistas,
romancistas e poetas que determinaram o que poderia ser considerado bonito.
Eco (2013) percorre os diferentes tipos de beleza, desde a Grécia Antiga
até o século XX, período no qual identifica o que denomina “beleza de consumo”.
O homem, por meio de sua vaidade, sempre tentou atingir ou apreciar o belo.
Entretanto, é importante frisar que, a partir do século XX, diferente dos períodos
anteriores, há uma industrialização da beleza e forte influência da mídia como
detentora do que é bonito, criando uma padronização de rostos e corpos.
Durante o século, notam-se grupos de pessoas que se vestem, se penteiam, e
se maquiam de acordo com um modelo proposto pela mídia, como revistas e
filmes.
Naomi Wolf (1992) também discorre sobre as imagens impostas pela
mídia, tratando, em específico, da beleza feminina. Analisando o tema por um
viés social, a autora fala em “mito da beleza” e salienta que o controle sobre o
que significa, a uma mulher, ser bonita, é uma arma política contra a evolução
dela. A beleza, segundo Wolf (1992), é um sistema monetário que impõe às
mulheres um padrão físico atribuído culturalmente e que expressam relações de
poder nas quais elas precisam competir entre si de forma antinatural por recursos
dos quais os homens se apropriam.
Uma das consequências do “mito da beleza”, é o crescimento demasiado
da incidência de distúrbios relacionados à alimentação e de procedimentos
36
estéticos, além do fato de a estética estar se tornando uma das maiores
especialidades médicas (Wolf, 1992). Em sua extensa pesquisa, a autora afirma
que mais de trinta e três mil mulheres norte-americanas afirmaram aos
pesquisadores que preferiam perder de cinco a sete quilos do que atingir
qualquer outro objetivo. Foi descoberto também que a maioria das mulheres que
trabalham, têm sucesso e são atraentes estão imersas em obsessões com o
físico e têm medo de envelhecer.
Se, como salientado por Wolf (1992) e Eco (2013), a mídia tomou lugar
central em uma espécie de ditadura da beleza, atualmente, com as redes sociais
e uma sociedade dispondo de cada vez mais recursos tecnológicos, houve uma
mudança no modo como o belo se manifesta na comunidade e individualmente.
O meio digital está modificando a forma como as pessoas agem, percebem,
sentem, pensam e vivem juntas. Segundo Byung-Chul Han (2018b), a sociedade
produz imagens em enorme quantidade pelo meio digital e esse excesso pode
ser interpretado como uma fuga daquilo que é real e imperfeito.
Essa possível fuga, manifestada por meio de selfies postadas, aponta
para um universo onde as pessoas existem aos olhos do outro, um mundo em
que a aparência é supervalorizada. Ser visto, ser notado, elogiado e, até mesmo,
criticado pelo outro, é uma das condições básicas de quem está inserido e
participa de forma ativa da rede, de acordo com André Dantas (2020, p. 198). O
autor menciona o fenômeno “posto, logo existo”, a ideia de que, atualmente, os
conteúdos precisam ser cada vez mais postados com a finalidade de serem
curtidos. Para ele, trata-se de uma espécie de narcisismo coletivo em que as
pessoas são dependentes do número de seguidores e curtidas.
As ações são coletivizadas, como, por exemplo, o simples ato de comer.
Aquilo que era para ser uma refeição se torna uma idealização publicitária de si
mesmo: o prato de comida é fotografado, editado e compartilhado. Por mais que
os indivíduos hipermodernos sejam individualistas, vivem num paradoxo, pois
são cada vez mais dependentes das curtidas dos outros, se tornaram paparazzis
de si mesmos, querendo aparecer e transparecendo que a essência do ser,
agora, é sua aparência (Dantas, 2020).
Han (2018b), Cohn e Ferreira (2020) e Dantas (2020), assinalam, sobre o
mundo imagético idealizado, representado nas redes sociais, que é possível e
corriqueiro postar a idealização de uma vida. Han (2018b) reflete sobre a
discrepância com a realidade nessas imagens em que as pessoas aparecem
37
mais bonitas, melhores e mais vivas. O autor alerta para o perigo que é
transformar o mundo digital em um muito melhor do que o físico: as imagens
existem, são produzidas e consumidas. Cohn e Ferreira (2020) também
discorrem sobre a existência de duas realidades distintas: a que corresponde ao
mundo fora das telas e a do mundo virtual, que faz surgir um bios virtual, ou seja,
uma nova identidade na rede que faz desaparecer a naturalidade e a
individualidade das pessoas.
Cohn e Ferreira (2020) abordam a importância desse mundo maquiado
na vida dos adolescentes, que são caracterizados pela necessidade de
aceitação constante e de estarem vinculados a algo. Por isso, eles acatam os
valores e ideais do grupo on-line sem considerar as regras mais amplas que
estão em vigência na sociedade, criando uma aparência virtual de si que se
encaixa no padrão e na expectativa dos outros usuários da rede.
O espaço cibernético propicia a possibilidade de o adolescente ser quem
quiser, modificando sua apresentação física e fazendo uso de filtros para ter o
reconhecimento social. Em poucos cliques dentro do aplicativo, pode ter sua pele
uniformizada, embranquecer os dentes, alterar nariz e lábios. A vida virtual passa
a ser mais interessante, pois os limites sociais da realidade não o atingem. O
domínio da tecnologia com a manipulação de imagens lhes confere uma
sensação de poder em um mundo que não é real (Cohn & Ferreira, 2020).
O Hospital Santa Mônica de São Paulo (2021) ao desenvolver uma
pesquisa sobre possíveis impactos do uso de filtros em jovens, encontrou
resultados que corroboram os demais autores: a existência de dois “eus”, frutos
de duas realidades diferentes. A maioria dos adolescentes cria uma imagem
ficcionada com o objetivo de ser aceita. A pesquisa também alertou sobre os
efeitos negativos causados na autoestima e na autoimagem: transtornos
alimentares, transtorno dismórfico corporal e prejuízos emocionais associados.
Os danos alertados também foram encontrados na revisão integrativa de
literatura de Souza e Ribeiro (2022). Os pesquisadores perceberam uma
prevalência de domínio de padrões estéticos enunciados pela mídia,
predominantemente pelas redes sociais, que refletem na autoimagem e na
autoestima de adolescentes. Este pode acreditar que é possível atingir um ideal
de corpo e rosto perfeitos e se frustrar com o que enxerga no espelho. Ademais,
pode sofrer forte influência na construção de sua imagem corporal, tendo efeitos
sobre seu jeito de vestir-se, andar, comportar-se, comer e, em decorrência disso,
38
“perder” sua identidade.
Apesar dos riscos e possíveis prejuízos relatados, há de se considerar
pesquisas que demonstram os lados positivos das selfies. Por uma ótica da
Psicologia Analítica, Merwe (2021), em estudo qualitativo, enxerga a selfie como
uma possibilidade de o adolescente habitar um papel que quer assumir, mas
que, por alguma razão, não o fez, em uma atitude compensatória. O autor cita o
exemplo de um jovem que gostaria de tocar piano e, ao tirar uma foto de si
mesmo sentado em frente ao instrumento, poderia tê-la como inspiração e
motivação.
Merwe (2021) identificou o ato de tirar uma selfie como a possibilidade de
tornar os jovens mais autoconscientes e conscientes de como são vistos pelos
outros. Entretanto, é importante observar que as consequências positivas
relacionadas à prática de selfies encontradas pelo autor não se referem a
imagens editadas, mas, sim, selfies sem modificação.
Com a finalidade de reduzir os danos causados pelo uso de filtros,
empoderar os usuários e incentivar o aceite de corpos de verdade, algumas
campanhas e hashtags foram criadas, como a bodypositive ou #bodypositive,
em tradução literal “corpo positivo”. Trata-se de um movimento surgido nas redes
sociais com objetivo de promover a aceitação dos corpos fora do padrão imposto
pela mídia, que, por sua vez, além de incentivar a magreza, favorece a
gordofobia (Valle, 2021).
A manifestação desse movimento mediante discursos de empoderamento
e postagens de “corpos reais”, ou seja, corpos com seus verdadeiros traços –
estrias, celulites, sem edições – visa proporcionar uma verdadeira quebra do
paradigma estético vigente hoje. Além da representatividade da diversidade,
segundo Valle (2021), o movimento também incentiva que as pessoas parem de
seguir influencers com discursos opressores que levam as pessoas a se
sentirem inadequadas e fazerem comparações com imagens que não são fiéis
à realidade.
Além das manifestações online, que se preocupam com os danos
causados pelo uso de filtros e agem ativamente nas redes sociais para que as
pessoas tenham consciência dos possíveis prejuízos, Merwe (2021) e Souza e
Ribeiro (2022) trazem à luz a importância do papel dos pais e da escola na vida
dos adolescentes. Esses jovens requerem cuidado intenso de seus
responsáveis, pois são frequentemente bombardeados por fotos não
39
condizentes com a realidade, precisando de uma dimensão educativa
relacionada à imagem corporal. A escola, ao fazer uso da mídia, deveria ir além
da promoção da aprendizagem de habilidades tecnológicas, alertando e
incentivando os jovens a terem um olhar crítico sobre os conteúdos propagados
pela mídia (Souza & Ribeiro, 2022). Cohn e Ferreira (2022) também acreditam
ser preciso levar conhecimento sobre esses modelos midiáticos, com a intenção
de tornar o jovem consciente sobre os conteúdos e o que está por trás de uma
selfie.
Em suma, a busca pela beleza no ocidente é registrada desde a Grécia
Antiga e, mesmo sofrendo influências culturais em cada época, o ser humano
sempre buscou e ditou o que é aceitável a esse respeito. Entretanto, na pós-
modernidade, com o avanço da tecnologia, isso se exacerbou. A beleza atual é
imposta pela mídia e passou a ser revelada de forma on-line. Para acessar um
modelo de beleza imposto pela mídia, bastam cliques. Tirar e filtrar uma foto é
um comportamento frequente entre as pessoas, em especial os adolescentes.
Esse público chama a atenção dos autores, pois está formando suas
identidades, concebendo cada vez mais uma noção de “eu” que foge para um
mundo virtual em que pode ser diferente, inventado e irreal. Tal atitude, conforme
demonstram as pesquisas, pode acarretar fortes prejuízos.
A seguir, conforme descrito no capítulo de apresentação, segue-se uma
estrutura de artigo, com introdução própria, em que parte do levantamento de
pesquisas é apresentada novamente, assim como são descritos, o método, os
resultados e a discussão a respeito da pesquisa empreendida para a construção
da presente dissertação.
40
41
5 ARTIGO – “CORPOS FILTRADOS: O USO DE FILTROS ENTRE
ADOLESCENTES BRASILEIROS DO NONO ANO E ENSINO MÉDIO”

5.1 INTRODUÇÃO

A pesquisa relatada neste artigo visa vincular o uso de selfies, seus


respectivos filtros e edições em adolescentes, e suas relações com autoestima,
ansiedade social por aparência e satisfação corporal. Apesar de a busca pela
beleza ser documentada desde a Grécia Antiga (Eco, 2003), vive-se em uma
sociedade que produz imagens digitais em grande quantidade e essa produção
excessiva é prejudicial por fugir daquilo que é real (Han, 2018b).
Desde a criação da internet até os dias atuais, houve uma aceleração
tecnológica e a rede conta com cada vez mais usuários, acarretando novas
problemáticas sociais e comportamentais decorrentes da era digital. Um novo
fenômeno se deu com aplicativos e smartphones permitindo transformar com
facilidade a aparência física nas mídias.
Segundo dados da Agência Brasil (Cruz, 2019), cerca de 24,3 milhões de
crianças e adolescentes com idade entre 9 e 17 anos são usuários de internet
no Brasil. Esse número corresponde a 86% do total de pessoas dessa faixa
etária no país. Entre elas, 82% possuem perfis em redes sociais. Segundo
Boursier et al. (2020), tirar e postar selfies nas mídias sociais é uma das
atividades mais populares associadas ao uso dessas mídias por adolescentes.
O engajamento de jovens na edição de fotografias e o tempo gasto por
eles com isso foram investigados por McLean et al. (2015). As autoras
concluíram que há um maior investimento de tempo por parte dos jovens que
publicam autorretratos em seus perfis digitais, em comparação com os que não
as compartilham publicamente.
Comportamentos relacionados à postagem de selfies, tais como o tempo
gasto em redes sociais, a frequência de uso de aplicativos de fotos e vídeos, e
a relação entre estes e a satisfação com a imagem de si têm sido alvo de
pesquisas. Em uma, realizada com adolescentes brasileiras, foi observado que
quanto mais se usa redes sociais, como Facebook e Instagram, maiores as
chances de insatisfação com a própria aparência (Lira, Ganen, Lodi & Alvarenga,
2017).
42
Foi também investigado o tempo de edição de selfies por adolescentes.
Os resultados indicaram que mais tempo depreendido na produção de
autorretratos pode acarretar um maior nível de insatisfação com a própria
imagem. Tais dados foram obtidos por meio de uma pesquisa experimental
quantitativa que distribuía tablets para a edição de fotos. (Mills et al., 2018).
Dados semelhantes foram evidenciados em um estudo quantitativo, que
mediu a frequência de postagens e edições de selfies, junto a escalas de
satisfação corporal. Concluiu-se que a variável do tempo, além de estar
vinculada com menor nível de satisfação corporal, como mencionado nos
estudos acima, também se relaciona com menores níveis de autoestima (Wang
et al., 2020).
Uma noção que se difundiu é a de auto-objetificação (Salomon e Brown,
2019; Caso et al., 2020), entendida como a atribuição a si mesmo de uma
natureza de objeto e de produto, a fim de obter validação do outro. Indivíduos
que assumem posições de mercadorias tendem a sentir-se mais insatisfeitos
com a própria aparência. Os autores relacionaram a frequência de uso de selfies
com altos níveis de comportamentos de auto-objetificação em jovens. A
objetificação também se mostrou atrelada a altos índices de vergonha e
insatisfação corporal.
Pesquisas têm associado as variáveis da insatisfação corporal e da
relação com a edição de selfies. Tiggemann et al. (2020) apontaram que tirar e
modificar uma foto resultaram em maior humor negativo e insatisfação facial,
com mais tempo dispendido na edição da imagem. Wang et al. (2020)
salientaram que o nível de satisfação corporal está, também, relacionado com o
feedback de terceiros, concluindo que receber elogios e outras reações positivas
aumenta tanto a autoestima como a satisfação com o próprio corpo.
Bue (2020) estudou a insatisfação corporal por meio da atenção visual
depreendida pelos indivíduos sobre partes específicas dos seus corpos. Em um
primeiro momento, as pessoas foram indagadas sobre qual parte menos
gostavam. Posteriormente, foram distribuídos tablets para os participantes
tirarem fotos de si que, por último, foram mostradas aos outros. Os
pesquisadores utilizaram uma tecnologia de mapeamento ocular, por meio de
um software que identifica qual parte do que se vê está sendo observada. Notou-
se que a insatisfação corporal leva a atenção às partes do corpo criticadas, de
43
modo que o sujeito foca sua atenção em regiões que considera menos atraentes,
culminando em uma depreciação da própria imagem.
Em pesquisa com adolescentes australianas, McLean et al. (2015)
identificaram que quem mais posta selfies muito editadas dá maior importância
aos próprios peso e forma corpórea, apresentando índices mais elevados de
insatisfação corporal, que podem chegar a restrições alimentares em
decorrência da internalização de ideais de magreza.
A internalização de um ideal de magreza, imposto pelo âmbito social, está
intrinsicamente relacionada com a ansiedade social por aparência. Este
sentimento diz respeito à ansiedade em ser avaliada de modo negativo por
outras pessoas por causa de sua aparência geral, incluindo a forma do corpo
(Hart et al., 2008). Esse é outro fator que aparece na literatura relacionada com
o compartilhamento e edição de fotos. Boursier et al. (2020) identificaram
diferenças em graus de ansiedade social por aparência entre indivíduos de
gêneros diferentes após a postagem de uma selfie em redes sociais, bem como
a expectativa em torno dessa exposição. Ambos os grupos denotaram
ansiedade social por aparência. As mulheres reportaram um maior nível de
ansiedade vinculada às expectativas sobre as postagens e a maneira pela qual
seriam vistas e os homens, por sua vez, se mostraram mais preocupados em
parecer sexualmente atraentes em suas fotos.
Este tipo de ansiedade é mais visto em adolescentes que editam suas
fotos do que entre os que postam sem edição (Wick & Keel, 2020). Outros
resultados alertam para a solidão advinda da ansiedade social por aparência,
evidenciando que é possível haver um ciclo reverberatório repetitivo e complexo
entre o uso de mídias sociais e essas duas variáveis em grande parte dos jovens.
O sentimento de solidão pode fazer com que os jovens não se sintam seguros
pela maneira como são vistos pela sociedade, conforme apontam as pesquisas,
que o vinculam a uma diminuição da autoestima.
A autoestima é apontada como um dos principais motivadores da edição
de selfies: à medida em que a autoestima diminui, os adolescentes são mais
propensos a envolver-se em edições de selfie (Fastoso et al., 2021). Por outro
lado, a autoestima pode aumentar quando as fotos recebem feedbacks positivos,
como likes ou comentários (Wang et al., 2020). Ao pesquisar a autoestima
relacionada com as variáveis de sexismo, ansiedade social, tempo de uso, auto
objetificação e internalização de ideal de magreza, Caso et al. (2020)
44
identificaram que, quando as demais variáveis aumentam, a autoestima diminui.
A internalização de um ideal de magreza relacionada com autoestima baixa
também foi encontrada por Perloff (2014), que complementa: as mulheres são
quem mais recorre às redes sociais com a finalidade de escapar das angústias
relacionadas à autoimagem, entretanto, o objetivo não é alcançado, gerando
diminuição de autoestima.
As pesquisas assinaladas mostram a importância de compreender o efeito
do uso de edição de selfies e sua vinculação com insatisfação corporal,
ansiedade social por aparência e autoestima nos jovens, dada sua repercussão
na saúde psíquica deles. Segundo Frankel (2005), durante a adolescência, há
preocupação com o modo de ser visto, no vestuário, na aparência, nos modos
aceitáveis pelos pares. Em uma era de “culto às selfies e tecno imagens”, onde
tudo é compartilhado e midiático (Dantas, 2020), o efeito nesse período de
amadurecimento pode trazer pressões de difícil manejo. Polly Young-Eisendrath
(2009) e Naomi Wolf (1992) alertam para a incessante busca pela perfeição e
sobre os ideais de beleza que são pregados pela sociedade atual, principalmente
para as mulheres.

5.2 MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, de natureza quantitativa e delineamento


transver.

5.2.1 Participantes

O cálculo amostral considerou previamente uma análise de correlação


bivariada e as seguintes premissas foram adotadas: tamanho de efeito esperado
de 0,55; erro tipo I (α) de 5%; poder do teste (1-β) de 80%; e teste bicaudal. Foi
obtida uma amostra mínima de 59 participantes.
A amostra deste estudo foi composta por 61 adolescentes de 13 a 19
anos, média de idade de 15,3 anos (DP = 1,6). O critério de inclusão foi a
escolaridade dos participantes, todos matriculados regularmente entre o nono
ano do ensino fundamental e o terceiro ano do ensino médio. O critério de
exclusão referiu-se a diagnósticos de transtornos mentais graves que
impossibilitassem a comunicação.
45
A pesquisa foi realizada em uma escola privada na zona norte de Curitiba,
Paraná. A instituição foi escolhida por possuir a escolaridade do ensino
fundamental e médio. O local disponibilizou quatro salas de aula para cada turma
entrevistada.
A coleta de dados foi realizada nos meses de setembro e outubro de 2022.

5.2.2 Instrumentos de coleta de dados

5.2.2.1 Questionário de perfil de uso

Neste questionário (Apêndice A), desenvolvido pela pesquisadora,


elaborado por meio de alternativas não dissertativas, são exploradas quais as
plataformas mais utilizadas pelos participantes das redes sociais, a utilização,
ou não, de filtros, sua frequência, bem como o motivo e o momento em que os
filtros são usados. O Questionário foi desenvolvido em três partes: A) dados
sociodemográficos; B) uso de filtros: as respostas variam entre “nunca” (1 ponto)
e “sempre” (4 pontos), em formato Likert; C) satisfação corporal: composta por
uma questão optativa e as restantes em forma Likert, partindo de “nunca
satisfeito” (1 ponto) até “sempre satisfeito” (4 pontos).

5.2.2.2 Escala de Autoestima de Rosenberg

A Escala de Autoestima de Rosenberg (Anexo A), desenvolvida para aferir o


nível de autoestima global, possui 10 questões e quatro níveis de respostas em
forma de escala Likert. Os itens 1, 3, 4, 7 e 10 escalam entre 3 pontos (concordo
totalmente) e 0 ponto (discordo totalmente). Os itens 2, 5, 6, 8 e 9 variam de 0
ponto (concordo totalmente) a 3 pontos (discordo totalmente). As pontuações
totais possuem a amplitude de 0 a 30. Pontuações mais altas indicam níveis
maiores de autoestima, pontuações entre 15 e 25 estão dentro da faixa normal
e pontuações menores de 15 sugerem baixa autoestima. A análise fatorial,
realizada por Hutz e Zanon (2011) na revisão da adaptação, validação e
normatização da escala de Autoestima de Rosenberg, mostrou que a escala
possui validade de constructo (Alfa de Cronbach de 0,90) e que este modo uni
fatorial (global) continua sendo mais apropriado do que outros instrumentos.
46
Essa escala é disponibilizada para venda a psicólogos e foi adquirida pela
pesquisadora.

5.2.2.3 Social Appearence Anxiety Scale (SAAS)

A escala desenvolvida para aferir o nível de ansiedade social por


aparência (Anexo B) possui 16 perguntas elaboradas em formato de resposta
Likert. Os itens partem de 1 ponto (de modo algum) a 5 pontos (extremamente).
As pontuações totais possuem a amplitude de 16 a 80. Pontuações mais altas
indicam um menor nível de ansiedade social por aparência, pontuações menores
indicam um maior nível de ansiedade social por aparência. Não há pontuação
normativa; o escore será comparado com outro estudo de população similar. De
acordo com o estudo de Dakanalis et al. (2016), a pontuação média para a
população não-clínica de 15 a 18 anos foi de 36,38 (DP=12,41) para os meninos,
e para a população feminina da mesma faixa etária foi de 42,84 (DP=13,66),
considerando um desvio-padrão acima da pontuação destas duas amostras,
podemos estimar o ponto de corte para as escalas SAAS para este estudo: 48,79
para os meninos, e 56,50 para as meninas. Para se obter uma pontuação de
corte única, optou-se por calcular a média ponderada pelo gênero deste estudo,
o que resultou numa pontuação de corte de 51,82. O coeficiente alfa de
Cronbach para o presente estudo foi de 0,93, apresentando uma consistência
interna de classificação “muito boa” (Pestana & Gageiro, 2014). A escala não
possui validação brasileira e foi traduzida pela pesquisadora, que recebeu
autorização de Trevor Hart, criador do instrumento, para utilizá-la na presente
pesquisa.

5.2.3 Procedimentos e aspectos éticos

Após o envio da carta convite para a escola, aconteceu um encontro entre


a pesquisadora e as coordenadoras do ensino médio e do nono ano para
explicação da pesquisa e organização de sua aplicação. Foram visitadas, as
quatro turmas, às quais a pesquisa foi apresentada e os termos de
consentimento e assentimento foram entregues. Nesse momento, foi explanado
sobre o sigilo estabelecido entre pesquisadora e participantes. Por opção da
escola, a coleta de informações se deu coletivamente em um único encontro com
47
cada turma. A pesquisa foi realizada de acordo com os requerimentos éticos em
pesquisa envolvendo seres humanos preconizados pela Resolução CONEP
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, pela Resolução CNS/MS 510/2016 e
pelo Regimento dos Comitês de Ética em Pesquisa da PUC-SP (Número CAAE
62191722.2.0000.5373). Constam anexos, o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para os pais ou responsáveis (APÊNDICE B), o Termo de
Assentimento Livre e Esclarecido para o aluno (APÊNDICE C) e a carta de
autorização da escola para a realização da pesquisa (APÊNDICE D).

5.2.4 Procedimentos de análise dos dados

Para a análise estatística dos dados da pesquisa, foi utilizado o programa


IBM SPSS Statistics versão 25. O nível de significância estatística adotado neste
estudo foi de 0,05.
As variáveis de caracterização da amostra e de descrição com relação ao
perfil de uso de filtro foram mostradas em frequência (n) e porcentagem em
relação ao n total. As escalas utilizadas foram demonstradas por meio de
pontuações mínima e máxima, média, desvio-padrão e intervalo de confiança a
95%. Foi realizada análise de correlação bivariada entre as variáveis numéricas
da pesquisa por meio do cálculo do coeficiente de correlação de Spearman.
Entre as variáveis numéricas e dicotômicas, foi calculado o coeficiente de
correlação ponto-bisserial. A interpretação da correlação foi realizada conforme
proposto por Evans (1996): muito fraca (de 0,00 a 0,19); fraca (de 0,20 a 0,39);
moderada (de 0,40 a 0,59); forte (de 0,60 a 0,79); e muito forte (de 0,80 a 0,99).
Por fim, foi realizada a análise de regressão múltipla para verificar possíveis
variáveis previsoras da ansiedade social por aparência.

5.3 RESULTADOS

Foram analisados 61 adolescentes, dentre os quais a maioria era do


gênero masculino (60,7%) e 39,3% correspondentes ao feminino, com idade
média de 15,3 anos (DP=1,6). A maior parte dos entrevistados (54,1%) cursava
o nono ano do ensino fundamental, ao passo que o primeiro e segundo anos do
ensino médio corresponderam a 13,1% cada e o terceiro ano constituiu 19,7%
48
da amostra. A maioria se declarou branca (83,6%),13,1% indicaram ser parda, e
a minoria se intitulou amarela (3,3%).
Foram avaliadas autoestima e ansiedade social por aparência na amostra
geral, mediante as escalas de Autoestima de Rosenberg (EAR) e Social
Appeareance Anxiety Scale (SAAS). As pontuações mínima e máxima obtidas
para a escala EAR foram de 3 e 27, respectivamente, com uma média de 16,8
pontos e 5,8 de desvio padrão. Essa média está acima da pontuação padrão
(15) (Rosenberg, 1965), mostrando que os participantes têm autoestima normal.
Não houve diferença significativa no nível de autoestima entre os que usam e
não usam filtros (tabela 5).
Quando se utilizou a SAAS, as pontuações mínima e máxima da escala
foram de 21 e 78, respectivamente, com uma média de 44,9 pontos e um desvio
padrão de 16,3. Segundo estudo de referência (Dakanalis et al., 2016), a média
de corte para a ansiedade social nessa mesma faixa etária é de 53,42,
mostrando que a média dos participantes não assinalou ansiedade social por
aparência, entretanto, houve uma diferença significativa entre aqueles que usam
e não usam filtros, evidenciando que aqueles que fazem uso possuem uma
maior ansiedade social por aparência (tabela 5).
Ao analisar a amostra geral (n=61), mais de 70% afirmaram fazer uso de
filtros, ao passo que 29,5% relataram nunca usar. Ainda dentre todos os
participantes, foi avaliada a satisfação corporal: houve proporção semelhante de
satisfeitos com o próprio corpo (47,5%) e não satisfeitos (50,9%); já em relação
ao rosto, 59% se disseram satisfeitos e 39,4%, não satisfeitos (tabela 1),
portanto, haveria maior insatisfação com o corpo do que com o rosto.
Em relação à frequência de utilização de filtros, foi constatado que eles
tendem a ser mais utilizados por aqueles com menor satisfação corporal e facial,
assim como sua maior frequência de utilização está relacionada com uma maior
ansiedade social por aparência (tabelas 3 e 5).
Investigando separadamente os que usam e os que não usam filtros
dentro da mesma amostra (tabela 5), a maioria dos entrevistados que usam
filtros afirmou nunca ou raramente estar satisfeita com o próprio corpo (62,8%),
enquanto uma minoria relatou estar com frequência ou sempre satisfeita com o
corpo (37,2%). Por sua vez, dentre os que não usam filtros, a maioria relatou
estar com frequência ou sempre satisfeita com o corpo (77,2%), ao passo que
apenas 27,8% declararam estar nunca ou raramente satisfeitas, permitindo
49
concluir que a insatisfação com o corpo é mais notável entre os que usam filtros.
(tabela 3 e 5).
Ao concentrar o estudo naqueles que fazem uso de filtros (n=43), na
tabela 2, identificou-se que a maioria (62,8%) utilizou o Instagram como a
plataforma principal, seguido pelo Tik Tok (44,2%), o restante (23,3%) indicou
utilizar outros aplicativos. O motivo mais citado para o uso de filtros foi "por
diversão" (48,8%), seguido pela intenção de "melhorar ou corrigir a aparência"
(41,9%), e 9,3% mencionaram outros motivos. A maioria também relatou recorrer
aos filtros quando está entediado (39,5%), seguido de 20,9% que apontaram
fazer o uso quando está alegre, ao passo que a minoria (9,3%) declarou usar
quando está triste. A maior parte da amostra (83,7%) declarou querer parecer
com “ninguém em especial”.
Houve diferenças significativas entre gêneros: meninas tendem a utilizar
mais filtros do que meninos (tabela 3) e todas as meninas declararam fazer uso
deste recurso (tabela 5). Elas também tendem a ter maior ansiedade social por
aparência e os meninos mostram maior satisfação com o próprio corpo (tabela
3). Com respeito à autoestima não houve diferença entre meninas e meninos.
Houve correlação negativa entre ansiedade social por aparência e autoestima,
ou seja, quanto menor a ansiedade, maior a autoestima.
Ao analisar as correlações envolvendo satisfação corporal e facial, foi
observado, na tabela 3, que ambas estão relacionadas. A satisfação corporal e
do rosto se relaciona a maior autoestima. Já a ansiedade social por aparência,
decresce com satisfação de corpo e rosto e com maior autoestima.
Para as variáveis com alguma correlação estatisticamente significativa, foi
realizada a modelagem linear automática tendo a ansiedade social por aparência
como variável dependente. Na Tabela 4 pode-se verificar que a análise por
regressão linear múltipla resultou num modelo estatisticamente significativo
[F(2,58) = 34,09; p < 0,001; R2 = 0,540)], confirmando que a autoestima (β = -
0,532; t = -5,892; p < 0,001) e a frequência de utilização de filtros (β = 0,423; t =
4,683; p < 0,001) são preditoras da ansiedade social por aparência. Juntas, a
autoestima e a frequência de utilização de filtros foram responsáveis por 52,4%
da variância do SAAS. No modelo apresentado, a autoestima está negativa e
significativamente correlacionada com a ansiedade social, e a frequência de
utilização de filtros está positiva e significativamente correlacionada com a
ansiedade social.
50

Tabela 1: Dados dos participantes relacionados ao uso de filtros e satisfação corporal e


facial (n=61)

Variável Frequência Proporção (%)


Frequência de uso de filtros
Nunca 18 29,5
Raramente 26 42,6
Com frequência 13 21,3
Sempre 4 6,6
Satisfação com o corpo
Nunca satisfeito(a) 4 6,6
Raramente satisfeito(a) 27 44,3
Com frequência satisfeito(a) 21 34,4
Sempre satisfeito(a) 8 13,1
Não respondeu 1 1,6
Satisfação com o rosto
Nunca satisfeito(a) 2 3,3
Raramente satisfeito(a) 22 36,1
Com frequência satisfeito(a) 31 50,8
Sempre satisfeito(a) 5 8,2
Não respondeu 9 1,6
Fonte: Dados da pesquisa, 2022
51
Tabela 2: Dados dos participantes relacionados ao uso de filtros (n=43)

Variável Frequência Proporção (%)


Aplicativos utilizados
Instagram 27 62,8
Tik Tok 19 44,2
Outros 10 23,3
Motivo do uso de filtros
Por diversão 21 48,8
Para melhorar ou corrigir a aparência 18 41,9
Outro motivo 4 9,3
Quando utiliza filtros
Quando está alegre 9 20,9
Quando está entediado/a 17 39,5
Quando está triste 4 9,3
Outro motivo 8 18,6
Sem motivo aparente 5 11,6
Satisfação com o corpo ao usar filtro
Nunca satisfeito(a) 3 7,0
Raramente satisfeito(a) 12 27,9
Com frequência satisfeito(a) 22 51,2
Sempre satisfeito(a) 2 4,7
Não respondeu 4 9,3
Satisfação com o rosto ao usar filtro
Nunca satisfeito(a) 1 2,3
Raramente satisfeito(a) 10 23,3
Com frequência satisfeito(a) 25 58,1
Sempre satisfeito(a) 6 14,0
Não respondeu 1 2,3
Ao usar filtros quer parecer com
Ninguém em especial 36 83,7
Amigo, amiga, que admira 1 2,3
Alguém que ache bonito(a) 5 11,6
Não respondeu 1 2,3
Fonte: Dados da pesquisa, 2022
52
Tabela 3: Correlação bivariada entre as variáveis (n=61)

Variável 1 2 3 4 5 6 7 8
1. Idade -
2. Gênero † 0,063 -
3. Frequência utilização
0,039 -0,606** -
de filtros
4. Satisfação com o corpo 0,065 0,262* -0,361** -
*
5. Satisfação com o rosto -0,007 0,231 -0,298 0,627** -
**
6. EAR Total -0,133 0,098 -0,172 0,629 0,642** -
7. SAAS Total 0,072 -0,418** 0,515** -0,505** -0,544** -0,605** -
8. Satisfação ao utilizar
0,116 -0,002 -0,097 -0,381* 0,502** 0,459** -0,229 -
filtros no corpo
9. Satisfação ao utilizar
0,080 -0,031 0,053 0,047 0,379* 0,341* -0,059 0,580*
filtros no rosto
Fonte: Dados da pesquisa, 2022
Nota. EAR: Escala de Autoestima de Rosenberg; SAAS:Social Appearance Anxiety
Scale
* correlação significativa no nível 0,05
** correlação significativa no nível 0,01
†Padrão adotado: 1=feminino; 2=masculino

Tabela 4: Análise de regressão linear múltipla - coeficientes


Erro R2
Preditores* B β t p-valor R2 F
padrão ajustado
8,20 <0,00
(Constante) 50,21 6,119
6 1
- -
<0,00
EAR Total -1,468 0,249 0,53 5,89 0,73
1 0,540 0,524**
2 2 5
Frequência
0,42 4,68 <0,00
de utilização 7,886 1,684
de filtros 3 3 1
Fonte: Dados da pesquisa, 2022
* variável dependente: SAAS
** p-valor<0,001
53

Tabela 5: Comparação entre os grupos dos que não usam (n=18) e os que usam
filtro(n=43)

Grupo não usa


Grupo usa filtro
filtro
Variável p-valor
Freq / Prop. / Freq / Prop. /
M DP M DP
Idade 15,3 1,71 15,2 1,52 0,960
Escolaridade
Ensino fundamental - 9º
2 11,1% 6 14,0%
ano
Ensino médio - 1º ano 2 11,1% 6 14,0% 0,780
Ensino médio - 2º ano 5 27,8% 7 16,3%
Ensino médio - 3º ano 9 50,0% 24 55,8%
Gênero
Feminino 0 0,0% 24 55,8%
<0,001
Masculino 18 100,0% 19 44,2%
Etnia
Branca 15 83,3% 36 83,7%
Parda 2 11,1% 6 14,0% 0,786
Amarela 1 5,6% 1 2,3%
Satisfação com o corpo
Nunca satisfeito(a) 0 0,0% 4 9,3%
Raramente satisfeito(a) 4 22,2% 23 53,5%
Com frequência
9 50,0% 12 27,9% 0,045
satisfeito(a)
Sempre satisfeito(a) 4 22,2% 4 9,3%
Não respondeu 1 5,6% 0 0,0%
Satisfação com o rosto
Nunca satisfeito(a) 1 5,6% 1 2,3%
Raramente satisfeito(a) 4 22,2% 18 41,9%
Com frequência
8 44,4% 23 53,5% 0,041
satisfeito(a)
Sempre satisfeito(a) 4 22,2% 1 2,3%
Não respondeu 1 5,6% 0 0,0%
EAR 18,0 6,38 16,8 5,84 0,552
SAAS 32,3 13,62 44,9 16,26 0,004
Fonte: Dados da pesquisa, 2022
* Teste qui-quadrado
54
5.4 DISCUSSÃO

Procurou-se, nesta pesquisa, pensar como adolescentes lidam com a


persona ao estarem frequentemente expostos nas redes sociais. Considerando
o papel da persona como uma face extrovertida do eu (Hopcke, 2009), foi
investigada a relação entre aparecer e ansiedade social, escolhendo-se a
variável de ansiedade social por aparência como variável dependente. Isso
porque é justamente ela que engloba uma ansiedade relacional em,
possivelmente, ser avaliada negativamente pelo outro por sua aparência física
(Hart, 2008), e a internet é o ambiente em que a aparência física está
frequentemente exposta a terceiros.
Se a persona, para Jung (1928/2011), diz mais respeito às exigências e
opiniões coletivas do que a uma singularidade e trata-se de um papel que é a
expressão de uma psique coletiva, poderia-se pensar o filtro como uma forma
moderna de representação de persona. Por meio dos recursos tecnológicos, é
possível projetar uma imagem idealizada de si para seus seguidores, uma
imagem pública, influenciada pelas expectativas sociais, que também pode ser
vista como uma forma de adaptação ao ambiente.
A amostra estudada se apresenta dentro de escores normativos
apropriados para a faixa etária em relação à ansiedade social por aparência e à
autoestima. A autoestima pontuou acima da média, bem como a ansiedade
social abaixo da nota de corte. Ao verificar a autoestima dos jovens, não houve
diferença significativa entre aqueles que usam e os que não usam filtros,
diferente dos estudos de Fastoso et al. (2021), Caso et al. (2020) e Wang et al.
(2020), que apontam que, à medida em que a autoestima diminui, os
adolescentes são mais propensos a se envolverem em edições de selfie e filtros
de imagens.
Entretanto, se evidenciou uma diferença na pontuação da ansiedade
social por aparência entre aqueles que declararam usar e os que disseram não
usar: o grupo dos que fazem uso pontuou significativamente mais do que o outro
grupo, confirmando o estudo de Wick e Keel (2020), que apresenta um maior
nível de ansiedade entre aqueles que editam suas fotos. Richard Frankel (2005)
destaca a grande importância conferida pelos jovens à maneira pela qual são
notados pelos seus próximos, refletindo em suas vestimentas, vocabulário e
atitudes, com a finalidade de evitar constrangimentos vinculados à sua persona.
55
Portanto, ao se considerar os filtros e edições de imagens como formas de
adequação aos ideais de aparência transmitidos pelo grupo, alguns jovens
mostrariam maior ansiedade vinculando-a à necessidade de editar suas fotos
para se aproximarem do ideal esperado.
Em nosso estudo, foi evidenciado que uma maior insatisfação corporal
está relacionada a um maior uso de filtros, confirmando as pesquisas de Mills et
al. (2018), McLean (2015), Perloff (2014), Tiggemann et al. (2020) e Wick e Keel
(2020), que apontam que, quanto maior a frequência de utilização e mais
extensa a edição da foto, maior o nível de insatisfação corporal.
Se os adolescentes, em geral, se preocupam com como são vistos
(Frankel, 2005), estudos evidenciam diferença de gênero. Nesse sentido,
Schaverien (2010) afirma que é preciso se atentar para a construção psicológica
e social dos conceitos de gênero para entender como homens e mulheres podem
experimentar o mundo de maneiras diferentes. Isso foi confirmado em nossa
pesquisa, pois a ansiedade social por aparência foi encontrada em maior grau
em meninas do que em meninos, corroborando a pesquisa de Boursier et al.
(2020), que afirma que as mulheres demonstraram maior nível de ansiedade
quanto a como são vistas do que os homens, e de Del Ciampo e Del Ciampo
(2010), que relatam que as meninas possuem maior preocupação em serem
julgadas gordas.
Perloff (2014) afirma que mulheres com a autoestima reduzida tendem a
recorrer mais aos filtros. Em nosso estudo, apesar de todas as entrevistadas
relatarem usar filtros ou editar suas fotos, a autoestima se manteve acima da
nota de corte. Entretanto, houve interferência de gênero relacionada ao uso de
filtros e ansiedade social por aparência. Esse achado endossaria a
preponderância das mulheres no tocante à sua susceptibilidade a serem vítimas
dos padrões de beleza estabelecidos pela cultura e pela sociedade. Tal
fenômeno tem sido objeto de discussão de teóricas do movimento feminista ao
longo da história, como Simone de Beauvoir (1949/2019), que tratou da
construção de ideais de beleza feminina que são inatingíveis e geram um
sentimento de inadequação ou insuficiência nas mulheres. Esses padrões, de
acordo com a autora, são impostos desde muito cedo e, por isso, mesmo na
juventude, as meninas já se preocupam com seus atributos físicos e em serem
julgadas por alguém. Naomi Wolf (1992) também aborda a pressão social sofrida
pelas mulheres ao afirmar que a sociedade cada vez mais tem imposto padrões
56
de beleza irrealistas e inatingíveis para as mulheres. Tais imposições serviriam
como uma ferramenta de controle social para mantê-las preocupadas e
competitivas, causando-lhes turbulências psicológicas, incluindo a ansiedade.
Os resultados da pesquisa ainda indicam que a motivação mais
expressiva para o uso de filtros e edição de imagens foi a busca por diversão
(48,8%), seguido pelo desejo de melhorar ou corrigir a aparência (41,9%).
Portanto, nem todos os jovens querem ficar mais bonitos ao utilizar um
determinado filtro, mas podem também utilizá-lo de modo lúdico. Isso confirma
a teoria de Eco (2013), para quem nem tudo aquilo que possui beleza incita um
desejo de ser ou possuir, sendo passível apenas de contemplação.
Ao recorrer a essa ferramenta para se divertir, é possível perceber que
não necessariamente a utilização de filtros estaria relacionada com uma
insegurança na identidade, pois, como Bovensiepen (2019) descreve, durante a
adolescência, o jovem brinca de diferentes identidades. Transitar entre
identidades indica experimentar diferentes personas, diversas faces de se
mostrar à sociedade. Do mesmo modo, os filtros de imagens seriam recursos
tecnológicos dessas máscaras sociais, utilizados por adolescentes para serem
vistos de acordo com o papel que eles estão representando no momento. A
possibilidade de assumir diferentes identidades? na adolescência,
especificamente por meio de uma selfie, também é vista de maneira saudável
por Merwe (2021), ao afirmar que ela pode ser um recurso compensatório para
o jovem representar aquilo que almeja ser, servindo também como motivação
para alcançar seus objetivos.
O processo de experimentar diferentes identidades está atrelado à busca
de uma identidade própria e à autonomia processada no decorrer da separação
gradual dos pais. Isso porque o ego assume gradualmente uma postura mais
ativa do que passiva, se diferenciando do outro, buscando autenticidade em si
mesmo e em suas relações (Bovensiepen, 2019; Byington, 2017; Wahba &
Bloise, 2017).
Ao assumir uma posição dominantemente ativa, o adolescente passa a
vivenciar um período em que, segundo Byington (2017), ele se prepara para
buscar o outro fora da família. importante busca por conexões extrafamiliares se
vincula a uma necessidade de intimidade com grupos e pares que possuem
ideais e valores semelhantes. De acordo com Garritano e Sadala (2009), é na
fidelidade aos pares que o jovem procura a compreensão de si mesmo, criando
57
valores no seio de seu grupo. Pertencer a um círculo, criar relações, fazer
amizades e se apaixonar, segundo Frankel (2005), são características da
capacidade genuína, quase irrestrita, dos jovens.
A formação de um “Ideal de Eu”, segundo Garritano e Sadala (2009), deve
ser fundamentalmente considerada na adolescência, período em que a busca
pela perfeição é muito comum. Ela irá ditar a construção de novos valores de
referência, marcando a saída de um narcisismo infantil para um narcisismo que
se revela por meio de identificação. Uma espécie de perfeição narcísica, que,
além do seu caráter individual, pode também possuir um caráter de massa, está
contida no “Ideal de Eu” (Freud, 1914/2010).
Polly Young-Eisendrath (2008) discorre sobre os ideais que os
adolescentes incorporaram na contemporaneidade e estabelecem para si
mesmos e aponta fantasias não realistas de riqueza, realizações e beleza, que
se tornam valores com um foco obsessivo em si mesmo. Nesse sentido,
Roudinesco (2006), explana sobre um “culto a si”, um fascínio ilimitado do eu
que é proveniente da decrescente representação de autoridade dos pais. Os
adolescentes contemporâneos estariam cada vez mais obcecados com seus
corpos, muitas vezes perseguindo padrões irreais de beleza e realização
pessoal. Isso pode levar a uma insatisfação corporal com potencial de levar a
consequências negativas para a saúde física e mental dos jovens.
Souza e Ribeiro (2022) enfatizam que esses indivíduos podem sofrer forte
influência na construção da satisfação ou insatisfação com sua imagem corporal,
fruto da exposição aos ideais de corpos e rostos tidos como “perfeitos”, por
acreditarem ser possível alcançar tal patamar. Essa crença representa um forte
risco de perda de identidade. De igual modo, Polly Young-Eisendrath (2008)
defende que as expectativas criadas que não se concretizam resultam em uma
avaliação negativa de si mesmo.
A persona, o corpo e os objetivos idealizados pelos jovens estão
frequentemente expostos às redes sociais, que também se apresentam como
um mundo idealizado. André Dantas (2020) discorre sob essa perspectiva a
respeito do mundo virtual e seus possíveis impactos. De acordo com o autor, o
sujeito hipermoderno se identifica pelo impacto de sua imagem exposta aos
outros, criando uma percepção de si mesmo pelo eco estabelecido nas redes
sociais que, muitas vezes, se manifesta por meio de curtidas e comentários.
Byung-Chul Han (2018a) também aborda a irrealidade virtual, e o prejuízo
58
potencial das redes sociais para a identidade do ser humano, afirmando que a
selfie pode ser um recurso de um sujeito inseguro para escapar do vazio. A
autopercepção criada por uma falsa noção da realidade, onde o mundo on-line
ocupa um lugar mais importante do que o real, afeta particularmente os jovens,
expostos cada vez mais à denominada realidade virtual.
Em suma, a importância deste estudo se revela ao evidenciar a relação
da ansiedade social por aparência e a insatisfação corporal com o uso de filtros
entre adolescentes. Tanto uma quanto a outra se mostraram predominantes nos
participantes do sexo feminino, confirmando diversos excertos teóricos sobre a
pressão estética sofrida por mulheres. Também se mostraram relevante, as
diferentes motivações para o uso de filtros, elucidando que, apesar de existir
uma busca de adequação à padrões estéticos, também é possível utilizá-los por
uma busca pelo lúdico, como uma maneira de experimentação de persona. Essa
última razão faz quensar que os filtros podem ser úteis para o desenvolvimento,
sem causar problemas na formação de identidade. A busca pela beleza pode
ocorrer na utilização de filtros ou edição de imagens, sem indicar
necessariamente sofrimento.
Deve-se considerar que a pesquisa apresentou limitações por ter tido
como base de estudos um grupo pequeno de estudantes, de uma escola privada
de Curitiba, onde a maioria dos entrevistados (80%) se autodeclarou branca.
Desse modo, as respostas dos entrevistados aos quesitos apresentados
corresponderam ao entendimento desses jovens sobre o tema, podendo variar
ao considerar indivíduos inseridos em contextos sociais e étnicos diferentes.
Apesar da pesquisa quantitativa realizada no presente estudo possuir validação
e boa consistência interna para análise de dados, ela também pode se tornar um
fator limitante se for considerado que não é possível a compreensão das
nuances e perspectivas subjetivas dos entrevistados.
Os dados apontam a necessidade de conscientização entre adolescentes,
pais e educadores sobre o uso de filtros, suas problemáticas, bem como seu
aspecto saudável de uso. Merecem ser investigadas, as variáveis de autoestima
em amostras diferentes, para comparar com os resultados da nossa. É sugerida,
também, a realização de uma pesquisa qualitativa para compreender melhor as
motivações do uso de filtros, bem como a realização com maiores amostras,
cidades diferentes e novos instrumentos.
59
Por fim, é incontestável que as redes sociais, bem como suas selfies,
filtros e edições, estão cada vez mais presentes na vida dos adolescentes
brasileiros, estabelecendo relações com a construção de identidade desses
jovens. A utilização desses filtros pode ser prejudicial para o desenvolvimento
de alguns jovens, acentuando ansiedade social por aparência e insatisfação
corporal com seus efeitos dolorosos na socialização, principalmente em
meninas, assim como pode contribuir para um desenvolvimento saudável de sua
persona e de si mesmo quando o senso de identidade está fortalecido. O fato de
não ter se achado rebaixamento de autoestima parece promissor e merece ser
mais investigado.

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65
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DE PERFIL DE USO

A) Dados sociodemográficos
-Idade:
-Ano do Ensino médio que está cursando: 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
-Gênero: Masculino ( ) Feminino ( ) Outro ( )
-Cor: Branca ( ) Preta ( ) Parda ( ) Amarela ( ) Indígena ( )

B) Uso de filtros
-Você utiliza filtros ou aplicativos de edição de imagens? (assinale
somente uma opção)
Nunca ( ) Raramente ( ) Com frequência ( ) Sempre ( )

-Caso use, qual plataforma você utiliza mais?


Instagram ( ) TikTok ( ) Facebook ( ) SnapChat ( ) Face tune ( ) Air
Brush ( ) Outra ( ). Qual? ................................

- Você utiliza filtros (assinale somente uma opção):


a) por diversão ()
b) para me sentir mais bonito(a) ( )
c) para ganhar likes/comentários ( )
d) outra; qual? ...........................

- Você utiliza mais filtros quando (assinale somente uma opção):


a) quando está alegre ()
b) quando está entediado/a ()
c) quando está triste ()
d) outra; qual? .................................

C) Satisfação corporal
O quanto você está satisfeito com seu corpo (assinale somente uma
opção):
Nunca satisfeito ( ) Raramente satisfeito ( ) Com frequência satisfeito
() Sempre satisfeito ( )
66

-Assinale somente uma opção de o quanto você está satisfeito com seu
rosto (assinale somente uma opção):
Nunca satisfeito ( ) Raramente satisfeito ( ) Com frequência satisfeito
() Sempre satisfeito ( )

- Ao usar filtros, você se ente em relação a seu corpo (assinale somente


uma opção):
Nunca satisfeito ( ) Raramente satisfeito ( ) Com frequência satisfeito
() Sempre satisfeito ( )

- Ao usar filtros, você se sente em relação a seu rosto (assinale somente


uma opção):
Nunca satisfeito ( ) Raramente satisfeito ( ) Com frequência satisfeito
() Sempre satisfeito ( )

- Ao usar filtros quer parecer com (assinale somente uma opção):


a) ninguém em especial ()
b) personagem da mídia ()
c) amigo, amiga, que admira ( )
d) ator, atriz de cinema ()
e) alguém da família ()
67
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


PAIS OU RESPONSÁVEIS DE ALUNOS

Eu, _____________________________________________ RG.


__________________, na qualidade de responsável pelo
aluno(a)_________________________________________________ ___________________
RG. ___________________ cursando o ano _________ na escola
________________________, concordo que ele(a) participe da pesquisa Corpos Filtrados: Uma
leitura da Psicologia Analítica realizada na escola em 2022 pela psicóloga mestranda Lara
Martinez Mendes.
Esta pesquisa possui o objetivo de investigar o comportamento de adolescentes homens
e mulheres do ensino médio associados ao uso de filtros nas redes sociais. Os alunos do Ensino
Médio responderão escalas de ansiedade, autoestima e perfil de uso de redes sociais. Após a
aplicação das escalas, seis alunos serão convidados a participarem de uma entrevista sobre o
uso de filtros nas redes sociais e imagem corporal. Para que o aluno possa participar do estudo,
você deverá autorizar e assinar este termo de consentimento. A participação é voluntária, não
obrigatória, sem qualquer custo para a escola ou seus familiares. Poderá se retirar dela se quiser
a qualquer momento sem qualquer prejuízo a sua atividade escolar.

Fica esclarecido, nos termos das Resoluções CNS/MS n0 510/2016 e n0 466/2012:


• Confidencialidade: Todas as informações coletadas nesta pesquisa serão estritamente
confidenciais, sendo divulgados apenas resultados gerais e não resultados individuais,
mantendo a privacidade dos participantes.
• Pagamento: A instituição ou qualquer participante não terá despesa alguma ao participar
desta pesquisa e não haverá retorno financeiro por sua adesão.
• Participação: A participação é de caráter voluntário, não obrigatório e poderá ser
interrompida a qualquer momento, sem prejuízo para a instituição ou participante.
• Risco: Se houver algum incômodo ou desconforto emocional no decorrer da pesquisa, a
pesquisadora coloca-se à disposição para oferecer acolhimento e informações de
orientação para encaminhamento psicológico em instituições que prestem serviços
psicológicos. A pesquisa é considerada de risco mínimo.

Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética da PUC-SP. O comitê é o órgão responsável
por revisar, fiscalizar e verificar que a presente pesquisa se enquadre nos parâmetros éticos
necessários prezando pelos interesses dos participantes em sua integridade e dignidade.
Quaisquer dúvidas quanto aos aspectos éticos da pesquisa poderão ser dirigidas ao Comitê de
Ética em Pesquisa da PUC-SP, situado no seguinte endereço: Rua Ministro Godói, 969 –
Perdizes – São Paulo, SP – CEP 05015-001 – Edifício Reitor Bandeira de Mello, andar térreo,
68
sala 63-C – Tel.: (11) 3670-8466 – e-mail: cometica@pucsp.br. A participação dos alunos é
fundamental para o desenvolvimento da pesquisa.
Declaro que entendi o objetivo e o procedimento da pesquisa, concordando
voluntariamente em participar da mesma.
__________________________________ ________________________________
Assinatura do responsável Lara Martinez Mendes (CRP: 08/27253)
Data: ___ / ___ / ___ Psicóloga pesquisadora responsável
(41) 99177-8404
Laramartinez.psi@gmail.com
Orientadora: Liliana Liviano Wahba
Instituição: PUC SP
Programa de Estudos Pós Graduados em Psicologia Clínica
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / PUC SP
Rua Ministro Godoy, 969, 4º. andar - Sala 4E-05 - CEP 05015-901 Perdizes, São Paulo/SP
69
APÊNDICE C – TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


ALUNOS

Você está convidado(a) a participar de uma pesquisa que tem como objetivo investigar o
comportamento relacionado ao uso de filtros nas redes sociais.
Os alunos do Ensino Médio responderão escalas de ansiedade, autoestima e perfil de
uso de redes sociais. Após a aplicação das escalas, seis alunos serão convidados a participarem
de uma entrevista sobre o uso de filtros nas redes sociais e imagem corporal. Para participar
deste estudo o responsável por você deverá autorizar e assinar um termo de consentimento. Sua
participação é voluntária, não obrigatória, sem qualquer custo para a escola ou seus familiares.
Poderá se retirar dela se quiser a qualquer momento sem qualquer prejuízo a sua atividade
escolar.
Todas as informações são confidenciais e de uso exclusivo da pesquisa, mantendo total
sigilo em relação à sua identidade. Caso haja algum incômodo ou desconforto emocional no
decorrer da pesquisa, a pesquisadora coloca-se à disposição para oferecer informações,
orientações e encaminhamento psicológico.

Eu, ______________________________________________________, cursando o


__________________ na escola _________________________, fui informado(a) dos objetivos
da presente pesquisa de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Tenho
conhecimento de que a qualquer momento poderei solicitar novas informações a respeito da
pesquisa poderei modificar a decisão de participar, se desejar.
Declaro que concordo em participar voluntariamente desta pesquisa.
Curitiba ____ /____ / ____

_________________________________________
Assinatura do aluno

_________________________________________
Lara Martinez Mendes (CRP: 08/27253)
Psicóloga pesquisadora responsável
(41) 99177-8404
Laramartinez.psi@gmail.com
Orientadora: Liliana Liviano Wahba
Instituição: PUC SP

Programa de Estudos Pós Graduados em Psicologia Clínica


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / PUC SP
Rua Ministro Godoy, 969, 4º. andar - Sala 4E-05 - CEP 05015-901 Perdizes, São Paulo/SP
70
71
APÊNDICE D – CARTA DE AUTORIZAÇÃO DA ESCOLA PARA REALIZAÇÃO
DA PESQUISA

CARTA DE AUTORIZAÇÃO
DIREÇÃO DA ESCOLA _____________________
(solicitar em papel timbrado da instituição com carimbo e assinatura)

Na qualidade de Diretor(a) da Escola _____________ autorizo a realização da pesquisa


CORPOS FILTRADOS: Perspectivas Junguianas sobre autoestima, ansiedade e imagem
corporal em adolescentes nas redes sociais, com alunos do Ensino Médio. A condução deste
estudo de intervenção é de responsabilidade da mestranda no Programa de Psicologia Clínica
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC SP, Lara Martinez Mendes, sob
orientação de sua orientadora Dra Liliana Liviano Wahba.
Pretende-se, com esta pesquisa analisar o comportamento de adolescentes homens e
mulheres do ensino médio associados ao uso de filtros e aplicativos de redes sociais que
exercem a função de modificação facial e corporal. Esta pesquisa será feita em duas etapas: A
primeira aplicação de escalas que medem 1) autoestima 2)ansiedade 3)Perfil de uso de redes
sociais. A segunda etapa que será realizada com 6 alunos e contará com uma entrevista
semiestruturada para investigar o uso de filtros e as representações simbólicas associadas à
imagem corporal.

Estou ciente de que a pesquisadora realizará esta pesquisa em dias e horários


previamente agendados com a direção e a coordenação da escola.
Fica esclarecido, nos termos das Resoluções CNS/MS n0 510/2016 e n0 466/2012:
• Confidencialidade: Todas as informações coletadas nesta pesquisa serão estritamente
confidenciais, sendo divulgados apenas resultados gerais e não resultados individuais,
mantendo a privacidade dos participantes.
• Pagamento: A instituição ou qualquer participante não terá despesa alguma ao participar
desta pesquisa e não haverá retorno financeiro por sua adesão.
• Participação: A participação é de caráter voluntário, não obrigatório e poderá ser
interrompida a qualquer momento, sem prejuízo para a instituição ou participante.
• Risco: Se houver algum incômodo ou desconforto emocional no decorrer da pesquisa, a
pesquisadora coloca-se à disposição para oferecer acolhimento e informações de
orientação para encaminhamento psicológico em instituições que prestem serviços
psicológicos. A pesquisa é considerada de risco mínimo.
• Benefícios: Ao participar deste estudo a instituição terá um panorama geral de
preocupações e problemas emocionais e de comportamentos de seus alunos de
segundo ano do Ensino Médio e usufruir da implementação de um programa de cuidado
psicológico e saúde socioemocional, com foco em habilidades e competências
socioemocionais.
72
Esta pesquisa será submetida ao Comitê de Ética da PUC-SP. O comitê é o órgão
responsável por revisar, fiscalizar e verificar que a presente pesquisa se enquadre nos
parâmetros éticos necessários prezando pelos interesses dos participantes em sua integridade
e dignidade. Quaisquer dúvidas quanto aos aspectos éticos da pesquisa poderão ser dirigidas
ao Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP, situado no seguinte endereço: Rua Ministro Godói,
969 – Perdizes – São Paulo, SP – CEP 05015-001 – Edifício Reitor Bandeira de Mello, andar
térreo, sala 63-C – Tel.: (11) 3670-8466 – e-mail: cometica@pucsp.br.
Declaro que entendi o objetivo e o procedimento deste estudo de intervenção, concordando
voluntariamente em participar da pesquisa, sabendo que a qualquer momento a escola poderá
interromper a participação, sem qualquer prejuízo à instituição ou participantes. Este termo será
assinado em 2 vias, uma para a escola e outra para a pesquisadora.
São Paulo, ___ / ___ / 2022

______________________________ _________________________________
Lara Martinez mendes NOME DO RESPONSÁVEL
Pesquisadora responsável CARGO E INSTITUIÇÃO
CRP: 08/27253 ENDEREÇO DA INSTITUIÇÃO
73
ANEXO A – ESCALA DE AUTOESTIMA DE ROSENBERG

ESCALA DE AUTOESTIMA DE ROSENBERG


NOME:
DATA:

Por favor, leia cuidadosamente cada item. A seguir selecione uma das quatro
afirmações (concordo plenamente, concordo, discordo ou discordo plenamente)
e desenhe um X na afirmação selecionada. Certifique-se que leu todas as
afirmações de cada grupo antes de fazer a sua escolha. Todos os ítens devem
ser preenchidos.

Concordo Discordo
ITEM Concordo Discordo
plenamente plenamente
1) De uma forma geral (apesar de tudo), estou
satisfeito comigo mesmo
2) Às vezes, eu acho que eu não sirvo para
nada (desqualificado ou inferior em relação
aos outros)
3)Eu sinto que tenho um tanto (um número) de
boas qualidades
4) Eu sou capaz de fazer coisas tão bem
quanto a maioria das pessoas (desde que me
ensinadas)
5) Não sinto satisfação nas coisas que realizei.
Eu sinto que não tenho muito do que me
orgulhar
6) Às vezes, eu realmente me sinto inútil
(incapaz de fazer as coisas)
7) Eu sinto que sou uma pessoa de valor, pelo
menos num plano igual (num mesmo nível) às
outras pessoas
8) Não me dou o devido valor. Gostaria de ter
mais respeito por mim mesmo.
9) Quase sempre estou inclinado a achar que
sou um fracassado
10) Eu tenho uma atitude positiva
(pensamento, atos e sentimentos positivos)
em relação a mim mesmo.
74
75
ANEXO B – SOCIAL APPEARENCE ANXIETY SCALE (SAAS)

Leia cada uma das seguintes declarações cuidadosamente e indique o quão


característico é de você de acordo com a escala a seguir.
Preencha o círculo correspondente para indicar o quão característica a
declaração é sua.
1 = Não muito característico ou verdadeiro de mim
2 = Ligeiramente característico ou verdadeiro de
mim
3 = Moderadamente característico ou verdadeiro de
mim
4 = Muito característico ou verdadeiro de mim
5 = Extremamente característico ou verdadeiro de
mim

De modo Leveme Moderadam Extremam


Muito
algum nte ente ente

1. Eu me sinto confortável
com a forma como eu     
aparento para os outros.
2. Eu me sinto nervoso quando
    
tiram foto minha
3. Fico tenso quando é óbvio
que as pessoas estão olhando     
para mim.
4. Fico preocupado que as
pessoas não gostem de mim     
por causa da minha aparência.
5. Eu me preocupo que os
outros falem sobre falhas na
    
minha aparência quando eu
não estou por perto.
6. Fico preocupado que as
pessoas me achem
    
deinteressante por causa da
minha aparência.
76
7. Me preocupo que as
pessoas me achem pouco     
atraente.
8. Eu me preocupo que minha
aparência possa tornar a vida     
mais difícil para mim.
9. Eu me preocupo que tenha
perdido oportunidades por     
causa da minha aparência
10. Fico nervoso quando falo
com as pessoas por causa de     
como me pareço.
11. Eu me sinto ansioso
quando outras pessoas dizem     
algo sobre a minha aparência.
12. Tenho medo
frequentemente de não
    
atender aos padrões dos
outros de como devo parecer.
13. Eu me preocupo que as
pessoas vão julgar a minha     
aparência negativamente.
14. Fico desconfortável
quando acho que os outros
    
estão notando falhas na minha
aparência.
15. Eu me preocupo que um
parceiro romântico vai/iria me
    
deixar por causa da minha
aparência
16. Estou preocupado que as
pessoas pensem que eu não     
sou bonito.
Nota: *O item nº 1 é codificado inversamente.
77
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO

O processo de criação da presente pesquisa, assim como a estrutura do


trabalho, sofreu significativas alterações ao longo do percurso, desde a
modificação da proposta metodológica até a limitação do número de estudantes
que consentiram participar da pesquisa. Isso exigiu que fossem realizadas as
necessárias adequações do trabalho às condições que lhe foram impostas. Foi
possível, entretanto, alcançar os objetivos propostos ao investigar o uso de filtros
e aplicativos de edição de imagens em redes sociais nos adolescentes. Os
resultados obtidos confirmam em parte e enriquecem o levantamento de
literatura e excertos teóricos sobre o tema, bem como abrem espaço para novas
pesquisas e indagações.
É esperado que o trabalho apresentado contribua com a formação do
conhecimento científico acerca do modo contemporâneo de representação de
persona e identidade em uma sociedade que conta cada vez mais com o avanço
da inteligência artificial e dispõe de recursos capazes de transformar a aparência
física. Compreender mudanças culturais que influenciam a autoimagem e
relacionamentos do adolescente se torna imprescindível para a psicologia e a
educação.
Diante do exposto, o trabalho desenvolvido contribuiu consideravelmente
na formação de meu conhecimento, tanto em relação aos adolescentes, que
vivenciam um período tão intrigante e decisivo do desenvolvimento humano,
quanto à noção confirmada de que existem diferenças significativas entre os
gêneros, seus sentimentos e percepções quanto à sua aparência física. Também
foi possível explorar, além do lado prejudicial das selfies e suas respectivas
edições, motivações lúdicas, algo que é evidenciado em poucas pesquisas. Em
um mundo que, progressivamente, se valoriza mais um modo “on-line” de existir
e se representar, é importante e gratificante ter tido a oportunidade de pesquisar
sobre essa temática.
78
79
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