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FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ANALÍTICA I

Dra. Malena Segura Contrera

Curso de:

Psicologia Junguiana

Psicossomática

Arteterapia e Expressões Criativas


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Inconsciente Coletivo e Inconsciente Pessoal

Carl Gustav Jung via a Psique como um fenômeno complexo, que deveria
ser observado com atenção, em busca da compreensão da alma, que ele
acreditava expressar-se em toda a personalidade, mas especialmente por meio
dos sonhos, das expressões artísticas, dos acasos significativos, ou ainda
através dos sintomas.
Foi observando as expressões da psique de seus pacientes que durante
toda a sua vida foi construindo e aprimorando sua visão acerca dos fenômenos
psíquicos, construindo uma teoria original e reveladora acerca da Psique e
lançando um novo olhar sobre os sintomas psíquicos.
Jung, em seu trabalho como psiquiatra, não buscava pela doença, pela
mera identificação dos sintomas em um quadro prévio de psicopatologias,
buscava sim pela alma por detrás dos sintomas, por aquilo que se expressava
por meio dos distúrbios psíquicos, por sua verdade e pelo sentido que tais
manifestações abrigavam. Os sintomas eram, para ele, as revelações possíveis
de um sentido perdido, de conteúdos da alma que buscavam por
reconhecimento, por conscientização. Nessa busca deparou-se com fenômenos
que se repetiam com certa regularidade, levando-o à proposição uma visão muito
própria da psique.
Parte central de sua escola de Psicologia é a noção de que, além do
Inconsciente Individual, há o Inconsciente Coletivo, habitado por Arquétipos que,
por sua vez, são complementares aos Instintos, como veremos mais a frente.
O Inconsciente em si é algo que não se pode definir com precisão, já que
é de sua natureza ser justamente inconsciente, sendo que só podemos saber
dele aquilo que se manifesta e chega à Consciência. Sabemos do Inconsciente
porque conteúdos emergem de uma potência que desconhecemos, de alguma
dimensão que, apesar de desconhecida, se pode pressentir pelos sinais que
emite. Mas é sempre nossa Consciência que dá conta de saber que há algo para
além dela.
A linguagem metafórica e poética presta-se melhor para representar o
Inconsciente do que a própria linguagem científica o faria, e como a psique se
expressa por meio de símbolos, muitas vezes ele foi representado com o oceano
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universal, a escuridão, as profundezas, o ilimitado – tanto fascinante, quanto


assustador. Jung assim apresentou sua natureza, difícil de ser definida por si
mesma:
A meu ver o inconsciente é um conceito psicológico limítrofe, que
engloba todos os conteúdos ou processos psíquicos que não são
conscientes, isto é, não relacionados com o ego de modo perceptível.
Minha justificativa para falar da existência de processos inconscientes
em geral deriva única e exclusivamente da experiência” (O.C. 6, §
837).

Inconsciente Pessoal, Complexos e Sombra

Relativo à psique individual, o Inconsciente Pessoal daria conta de toda


a dimensão individual da psique não conhecida pela Consciência, abrigando luz
e sombras, tanto os esquecidos, como os ainda não conhecidos de nossa alma.
Aqui se localizariam as vivências do passado, as experiências traumáticas que
foram apagadas e os conteúdos reprimidos, mas também as potencialidades
ainda não conhecidas pelo Ego, os conteúdos ainda amadurecidos para
irromperem à consciência.
Sobre sua relação com a consciência, Jung afirma que:
Temos igualmente razões para supor que o inconsciente jamais se
acha em repouso, no sentido de permanecer inativo, mas está sempre
empenhado em agrupar e reagrupar seus conteúdos. Só em casos
patológicos tal atividade pode tornar-se completamente autônoma; de
um modo normal ela é coordenada com a consciência, numa relação
compensadora (O.C. 7, § 204).

Essa atitude compensadora é importante de ser compreendida e se refere


à busca da totalidade psíquica que gera o fenômeno da enantiodromia, ou seja,
o inconsciente faz sempre um movimento na direção oposta à consciência, de
modo a evitar a unilateralidade dissociativa da psique.
Os complexos são centrais na compreensão do funcionamento do
inconsciente individual, Jung chegou mesmo a afirmar que “a via régia que nos
leva ao inconsciente, entretanto, não são os sonhos, como ele [Freud] pensava,
mas os complexos, responsáveis pelos sonhos e sintomas” (O.C. 8, § 210).
O complexo é uma rede de imagens e ideias carregadas de sentimento
que se agregam ao redor de determinados arquétipos, como o de “pai” e “mãe”,
por exemplo. A característica central do complexo é a carga emocional que ele
abriga, ou seja, quando acionado, a pessoa se vê tomada emocionalmente e fica
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como que “possuída” por ele, sem contudo dar-se conta do que lhe está
acontecendo, já que a consciência não se inteira dos conteúdos do complexo
facilmente, daí sua relativa autonomia.
Quando um complexo está acionado há uma perturbação no desempenho
da consciência, produzindo esquecimentos, alterações no comportamento e na
fala, excessos ou desvios comportamentais. Tudo se passa, sob a ação de um
complexo, como se algo nos tomasse de assalto, tirando-nos do eixo, como se
algo que independe de nossa consciência entrasse em ação e nos tomasse por
completo, levando-nos a apresentar como que um outra personalidade. Jung diz
que “os complexos podem ter-nos” (OC 8, par. 200).
Eles se originam provavelmente de um trauma, de algum grande choque
emocional, de um conflito moral, de alguma experiência ou relação capaz de nos
afetar suficientemente a ponto de gerar um impacto emocional profundo e
durador, e o problema é que insistimos em permanecer longe dessas
experiências dolorosas, negando-as e as reprimindo.
Os complexos são modos de funcionamento da psique e não podemos
nos desfazer deles. Eles não são naturalmente negativos, e todos os temos, eles
nos forçam a lidar com nossos sentimentos mais profundos na direção de uma
ampliação da consciência, e “um complexo torna-se patológico somente quando
pensamos que não o temos” (CW16, § 179).
O Dicionário Crítico de Análise Junguiana traz a seguinte afirmação sobre
os complexos:
Um complexo é uma reunião de imagens e ideias, conglomeradas em
torno de um núcleo derivado de um ou mais arquétipos, e
caracterizadas por uma tonalidade emocional comum. Quando entram
em ação (tornam-se ‘constelados’), os complexos contribuem para o
comportamento e são marcados pelo afeto, quer uma pessoa esteja
ou não consciente deles. São particularmente úteis na análise de
sintomas neuróticos
(http://carlosbernardi.net/dicjung/verbetes/complexo.htm).

O complexo por si só não nos torna neuróticos, mas a identificação total


com ele sim, seja ele o complexo materno, o paterno, de Herói, de Princesa, etc.
Para evitarmos essa identificação contamos com a análise, que oferece ao
inconsciente um espaço/tempo de atenção à psique que é integrador e criativo.
O contrário da atitude que busca a análise e a crescente conscientização
é a repressão, a negação, a ignorância aos próprios processos internos, às
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próprias emoções e sentimentos, medos e limites. Essa atitude, que todos temos
em maior ou menor grau, dependendo de diversos fatores, que vão desde o
contexto social e à educação familiar recebida, até à própria capacidade de
resiliência individual, são geradores do que Jung chamou de sombra pessoal.
A sombra se forma através da opacidade, do lugar onde não enxergamos
a luz, da parte de nosso inconsciente que não queremos revelar. Aquilo que
existe em nós e que rejeitamos, relegamos à obscuridade, que achamos feio,
não aceitável, o lado negativo da personalidade, o que não aceitamos em nós
mesmos ou queremos esconder com medo do não reconhecimento por parte
daqueles que consideramos importantes.
Jung afirmou que:
Não há luz sem sombra nem totalidade psíquica isenta de
imperfeições. Para que seja redonda, a vida não exige que sejamos
perfeitos, mas sim completos; e para isso, necessita-se de um
“espinho na carne”, o sofrimento dos defeitos sem os quais não há
progresso nem ascensão (JUNG, 1999, p. 78-79).

Para Whitmont, “o termo sombra refere-se àquela parte da personalidade


que foi reprimida em benefício do ego ideal. Uma vez que todas as coisas
inconscientes são projetadas, encontramos a sombra na projeção que fazemos
do outro” (in ZWEIG & ABRAMS, 1999, p. 36). É de fato na dinâmica das
projeções que a sombra sempre aparece, especialmente nas relações com
pessoas do mesmo sexo, de forma a fazer com que tenhamos de aprender a
lidar com seus conteúdos.
Whitmont, ao tratar sobre a sombra pessoal, afirma ainda que:
(...) para entender melhor a projeção, que representa a nossa visão do
outro, assim como as figuras oníricas ou fantasias, a sombra
representa o inconsciente pessoal. Ela é como que um composto das
couraças pessoais dos nossos complexos” (in ZWEIG & ABRAMS,
1999, p. 37).

Portadora do lado escuro da alma, a Sombra é sentida como o Mal, e o


confronto com ela é sempre um momento especialmente delicado em todo
processo de análise, já que os conteúdos da Sombra são por vezes
avassaladoramente dolorosos, podendo agir de modo desintegrador. Esses
momentos, no entanto, se bem conduzidos, são profundamente transformadores
e enriquecedores.
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É nesse momento que se põe à prova a capacidade do Ego de ser


estruturante, capaz de possibilitar, ainda que lentamente e com algum
sofrimento, a integração de conteúdos sombrios à consciência.

Inconsciente Coletivo, Arquétipos e Instintos:

Em seu longo trabalho clínico, Jung pode perceber nos sonhos e nas
fantasias de seus pacientes a recorrência de símbolos e motivos que não se
originavam na história de vida do paciente em questão. Essas imagens não
partiam da vivência individual ou poderiam fazer parte da memória pessoal, de
algum conteúdo esquecido ou reprimido da infância, como postulava Freud.
Essas imagens fazem parte do que ele chamará de Inconsciente Coletivo e
que abriga imagens primordiais da psique coletiva, herança comum da
humanidade.
Por ser conhecedor de diversas Mitologias e de diversas Religiões, tanto
arcaicas quanto milenares, Jung pode identificar em grande parte desses
símbolos apresentados por seus pacientes elementos mitológicos e símbolos
arcaicos bastante conhecidos, ou pertencentes a matrizes religiosas específicas,
a culturas mais ou menos distantes do seu tempo e lugar. Sua grande erudição
e a curiosidade antropológica que sempre o acompanhou mostraram-se úteis
para que ele pudesse ver nas imagens produzidas por seus pacientes, ecos de
uma esfera que ia para além da história de vida ou das experiências pessoais
desses pacientes.
No trecho abaixo, Jung faz uma análise sobre essas recorrências
simbólicas, a partir do caso de um paciente específico, e podemos observar
nesse caso o processo pelo qual ele se depara com a existência de uma
dimensão coletiva do inconsciente:
(...) surge no inconsciente de uma pessoa civilizada uma imagem
divina autêntica e primitiva, produzindo um efeito vivo, que poderia dar
o que pensar a um psicólogo da religião. Nessa imagem nada há que
possa ser considerado ‘pessoal’, trata-se de uma imagem totalmente
coletiva, cuja existência étnica há muito é conhecida (O.C. 7, § 219).

O Inconsciente Coletivo é animado pelos Arquétipos, que são como


moldes/formas para as imagens e símbolos produzidos pelas diversas culturas
humanas.
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Por sua natureza inconsciente, os arquétipos não podem ser conhecidos,


mas podemos ver seus reflexos. Jung afirmava que: “Os arquétipos são, por
definição, fatores e motivos que ordenam os elementos psíquicos em
determinadas imagens, caracterizadas como arquetípicas, mas de tal modo que
podem ser reconhecidas somente pelos efeitos que produzem” (C.O. 11, § 222
nota 2).
Ainda sobre a forma como Jung concebia os arquétipos, Hopcke afirma
que: “Os arquétipos eram para ele ‘formas típicas de apreensão’ (O.C. 8, § 280)
– isto é, padrões de percepção e compreensão psíquicas comuns a todos os
seres humanos como membros da raça humana (HOPCKE, 2011, pg. 23).
O caráter universal dos arquétipos comprovava a existência de uma
dimensão do inconsciente para além do inconsciente pessoal, e este teria acesso
à essa dimensão, a seus símbolos, por meio de sonhos e da irrupção espontânea
desses símbolos em fantasias ou ainda nas produções artísticas. Por longos
anos Jung observou seus pacientes, deparando-se com esses motivos que o
levaram a reconhecer essa dimensão comum e partilhada do inconsciente da
humanidade.
Para os estudiosos da Mitologia e da Religião comparada é fácil
compreender a que Jung se referia, já que podemos observar padrões, símbolos
e episódios narrativos comuns em várias mitologias e religiões das mais
diferentes culturas1.
Jung chama ainda a atenção sobre a relação entre Arquétipo e Instinto,
ou seja a natureza psicóide2 do Arquétipo (apresentando-os da seguinte
maneira:
Os arquétipos são sistemas de prontidão para a ação, e, ao mesmo
tempo, imagens e emoções. São herdados junto com a estrutura
cerebral – constituem, de fato, o seu aspecto psíquico. Representam,
de uma lado, um poderoso conservadorismo instintivo e são, por outro
lado, os meios mais eficazes que se possa imaginar de adaptação
instintiva. São pois, essencialmente, a parte ctônica da psique...
aquela pela qual a psique se liga à natureza (O.C. 10, § 53).

1
Joseph Campbell foi um dos mitólogos que se ocupou dessas relações, e entre todos os livros
que escreveu, a série As Máscaras de Deus, que conta com quatro volumes no Brasil (Mitologia
Primitiva, Mitologia Oriental, Mitologia Ocidental e Mitologia Criativa), é um exemplo da existência
desses paralelismos e padrões comuns.
2
“A psique é essencialmente um conflito entre o instinto cego e a vontade (liberdade de escolha).
Onde o instinto predomina, têm início os processos psicóides, que se situam na esfera do
inconsciente, como elementos incapazes de consciência. O processo psicóide não é o
inconsciente como tal, uma vez que esse tem uma extensão muito maior” (CW8, par. 380).
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A relação entre Arquétipo e Instinto é apresentada por Jung da


seguinte maneira:
É como se o instinto se situasse, por assim dizer, na parte
infravermelha do espectro, ao passo que a imagem do instinto situa-
se na parte ultravioleta... A realização e a assimilação do instinto
jamais ocorrem na porção vermelha, isto é, por absorção na esfera do
instinto, mas somente pela integração da imagem, que significa e, ao
mesmo tempo, evoca o instinto, se bem que de forma completamente
diversa daquela que encontramos no nível biológico (OC 8, § 414).

Podemos visualizar essa relação por meio do seguinte gráfico:

INSTINTOS-------------------------------------------------------ARQUÉTIPOS
infravermelho ultravioleta

(Aspectos fisiológicos:
sintomas corporais).
(Aspectos psicológicos: espírito,
sonhos, concepções, imagens,
fantasias, etc.).

Ele concebe o Arquétipo como se ele fosse “uma imagem do instinto, uma
meta espiritual em direção à qual tende toda a natureza do homem” (O.C. 8, §
415), daí sua natureza transcendente.
Essa relação feita por Jung entre instinto e arquétipo relaciona-se, de
certa forma, à concepção de Jung acerca da relação entre corpo e espírito, tanto
um quanto o outro partes de uma mesma realidade, a psique, e por isso mesmo
indissociáveis. Nesse sentido é que podemos dizer que a Psicologia Profunda é,
em essência, psicossomática.
O conceito de Arquétipo em Jung não é simples e tem sido fonte de
inúmeros mal entendidos, por isso a importância de o compreendermos direitos.
Podemos encerrar nossa explanação sobre Arquétipo com a seguinte citação de
Jung:
O conceito de arquétipo foi tantas vezes mal entendido que é difícil
falar dele sem que devamos explicá-lo sempre de novo. É derivado da
variada e repetida observação de que, por ex., os mitos e contos de
fadas da literatura mundial contêm motivos determinados que
aparecem sempre e em todos os lugares. Estes mesmos motivos nós
os encontramos nas fantasias, sonhos, delírios e alucinações do
homem de hoje. Essas imagens e associações típicas são designadas
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representações ou ideias arquetípicas. Quanto mais nítidas forem,


tanto mais virão acompanhadas de tons sentimentais bem vivos. Isto
lhes dá um especial dinamismo no âmbito da vida psíquica. São
impressionantes, influenciam e fascinam (O.C. 10, § 847).

O Consciente - Ego e Persona

O consciente, em contraposição ao inconsciente, é tudo aquilo que


sabemos sobre nós mesmos e, conforme Jung “Todo o esforço da humanidade
concentrou-se por isso na consolidação da consciência” (JUNG, p. 32). Esta
consciência normalmente é o resultado de muito conflito, já que há forças
instintivas ou arquetípicas que nos movem e que muitas vezes nos possuem sem
que nos apercebamos delas. Percebê-las e procurar compreender o sentido
dessas forças parece ser, no entanto, nosso grande diferencial humano, aquilo
que deveríamos honrar.
Jung afirma que as diversas patologias decorrem da impossibilidade de
realizarmos esse processo de conscientização; ele afirma que:
O elemento patológico não reside na existência destas idéias
(arquetípicas), mas na dissociação da consciência que não consegue
mais controlar o inconsciente. Em todos os casos de dissociação é
portanto necessário integrar o inconsciente na consciência. Trata-se
de um processo sintético que denominei "processo de individuação".
Este processo corresponde ao decorrer natural de uma vida, em que
o indivíduo se torna o que sempre foi. Ε porque o homem tem
consciência, um desenvolvimento desta espécie não decorre sem
dificuldades; muitas vezes ele é vário e perturbado, porque a
consciência se desvia sempre de novo da base arquetípica instintual,
pondo-se em oposição a ela (O.C. 9, § 83-84).

A crescente conscientização de quem somos e de nossa própria


complexidade, como também da complexidade da vida, é o grande propósito da
análise, e parece ser de fato o grande propósito da vida humana, para Jung.
Acerca disso, em uma passagem poética, Jung nos diz que:
Sem conflito porém não há consciência da "personalidade". "Mas por
que", perguntar-se-á, "deve o homem atingir à tort e à travers, uma
consciência superior? Tal pergunta acerta na mosca o problema, e a
resposta a ela é algo difícil. Em lugar de uma verdadeira resposta, só
posso confessar uma espécie de crença: parece-me que alguém afinal
deveria ter sabido nos milhares de milhões de anos que este mundo
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maravilhoso das montanhas, mares, sóis, luas, da Via-Láctea, das


nebulosas, plantas e animais existe. Quando estive nas planícies Athi
da África Oriental e de pé num pequeno morro contemplava os
rebanhos selvagens de muitos milhares de cabeças a pastar no mais
absoluto silêncio, tal como sempre fizeram desde tempos imemoriais,
tive a sensação de ser o primeiro homem, o primeiro e único ser que
sabia que tudo aquilo existe. Todo aquele mundo ao meu redor ainda
permanecia no silêncio do início e não sabia do seu existir. Nesse
preciso momento em que eu soube, o mundo passou a existir, e sem
este momento ele jamais teria existido. Toda a natureza procura essa
finalidade e a encontra plenificada no ser humano, e isso apenas no
homem mais consciente. Qualquer passo à frente, por pequeno que
seja, na trilha da tomada de consciência, cria o mundo (O.C. 9, § 177).

Jung afirma que, para a realização desse longo e necessário trabalho da


consciência, contamos com uma função fundamental, o Complexo de Ego.
Jung assim o apresenta:
E o que seria o ego? É um dado compexo formado primeiramente por
uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir pelos
registros de nossa memória. Todos temos uma certa ideia de já termos
existido, quer dizer, de nossa vida em épocas passadas; todos
acumulamos uma longa série de recordações. Esses dois fatores são
os principais componentes do ego, que nos possibilitam considera-lo
como um complexo de fatos psíquicos. A força de atração desse
complexo é poderosa como a de um íma: é ele que atrai os conteúdos
do inconsciente, daquela região obscura sobre a qual nada se
conhece. Ele também chama a si impressões do exterior que se
tornam conscientes ao seu contato. Caso não haja esse contato, tais
impressões permanecerão inconscientes. Então, em minha
compreensão, o ego é uma forma de complexo, o mais próximo e
valorizado que conhecemos. É sempre o centro de nossas
atenções e de nossos desejos, sendo o cerne indispensável da
consciência. Se ele se desintegra, como na esquizofrenia, toda
ordem de valores desaparece e as coisas não mais podem ser
reproduzidas voluntariamente (O.C. 18, § 18-19).

Vale ressaltar o papel central do corpo, por um lado, e da memória, por


outro, para a constituição do ego.
Sendo o centro da nossa consciência, o ego é o organizador do que
podemos considerar nossa identidade. Tudo o que sabemos sobre nós, nossos
valores, gostos, história, é de certa forma organizado pelo ego. E tudo o que nos
chega à consciência, chega por seu intermédio. Sem o ego, o que nos aguarda
é a desintegração da consciência, a dissolução no inconsciente.
O ego naturalmente seleciona algumas de nossas características para
compor nossa identidade pessoal, e algumas outras, não selecionadas e não
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conscientes, permanecem na Sombra. Por isso há sempre uma tensão entre


Consciente e Inconsciente Pessoal, entre Ego e Sombra.
Há uma falsa ideia, difundida no senso comum, de que o ego deva ser
superado para que haja crescimento espiritual, e é necessário que
compreendamos bem que isso não é possível, já que o ego é fundamental para
o desenvolvimento da consciência. Por isso se diz da importância de termos um
Ego estruturante.
Ego estruturante é o ego forte o suficiente para manter uma boa relação
com os conteúdos que brotam do inconsciente, assimilando-os à consciência, e
mantendo possível o diálogo entre o consciente e o inconsciente. O ego rígido é
exatamente o contrário disso, já que a falta de flexibilidade não permite a
constante reorganização necessária desse diálogo C/I. A capacidade de
resiliência, ou seja, de se regenerar de choques ou crises de certa forma está
ligada a essa capacidade estruturante do ego.
Nesse sentido não há ego estruturado, finalizado, mas sim aquele que
está em constante reestruturação, sem perder seu poder de centralização e seu
papel de complexo organizador da consciência.
O Dicionário Crítico de Análise Junguiana apresenta uma interessante
relação acerca das psicopatologias possíveis de advir de um Ego frágil:
No que concerne à psicopatologia, existe determinado número de
perigos reconhecidos:
(1) De que o ego não venha a emergir de sua identidade primária como
self, o que o tornará incapaz de satisfazer às exigências do mundo
externo.
(2) De que o ego venha a ficar equiparado ao self, levando a uma inflação
da consciência.
(3) De que o ego possa vir a assumir uma atitude rígida e extremada,
abandonando como referencial o self e ignorando a possibilidade de
transformação pela função transcendente.
(4) De que o ego possa vir a não ser capaz de se relacionar a um
complexo particular devido à tensão gerada. Isso acarreta a
dissociação do complexo e sua dominação da vida do indivíduo.
(5) De que o ego poderá ser subjugado por um conteúdo interno oriundo
do insconsciente.
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(6) De que a função inferior poderá permanecer não integrada e não


disponível para o ego, levando a um comportamento claramente
inconsciente e um empobrecimentos geral da personalidade
(http://carlosbernardi.net/dicjung/verbetes/ego.htm).

Persona:
A persona, como o nome diz, é uma espécie de personagem criada para
possibilitar a adaptação da pessoa aos ambientes sociais dos quais depende ou
com os quais terá de interagir em sua vida em comunidade. Tem, por assim
dizer, uma função sociabilizadora, facilitando a inserção da pessoa no grupo
social, favorecendo a criação de um sentimento de pertencimento ao grupo.
Ela abriga a ideia de papéis sociais, e pode variar de acordo com o
ambiente e com o grupo social com o qual a pessoa interage. Não é difícil
compreendermos que desempenhamos papeis diferentes em casa, numa
reunião em família, numa reunião de trabalho ou ainda num evento social
público. Apesar de sermos os mesmos em todas essas situações, apresentamos
em cada uma delas aspectos diferentes, construídos para adequarmo-nos às
diferentes ocasiões, sempre em busca da melhor aparência possível.
A persona carrega uma enorme carga de idealização, ou seja,
construímos nossas personas de acordo com o nosso ideal do que deveríamos
ser, de como deveríamos parecer, de como gostaríamos que os outros nos
vissem. Essas idealizações nem sempre correspondem aos sentimentos
internos, e nunca correspondem às características relativas à nossa sombra
pessoal.
A persona é uma máscara, uma ficção necessária, mas na qual não
podemos correr o risco de acreditar. A persona não é a verdade do indivíduo, ela
é criada para ser facilitadora das relações sociais, mas não para expressar a
alma propriamente dita. Jung dizia que:
No fundo, nada tem real; ela representa um compromisso entre o
indivíduo e a sociedade, acerca daquilo que “alguém parece ser:
nome, título, ocupação, isto ou aquilo”. De certo modo, tais dados são
reais; mas, em relação à individualidade essencial da pessoa,
representam algo de secundário, uma vez que resultam de um
compromisso no qual outros podem ter uma quota maior do que a do
indivíduo em questão. A persona é uma aparência, uma realidade
bidimensional, como se poderia designá-la ironicamente (O.C. 7, §
246).
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Não se pode, porém prescindir delas totalmente, e personas bem


construídas e adequadas abrem portas, enquanto as personas erradas as
fecham e criam problemas que poderiam ser evitados com um pouco de
habilidade. Jung também considerou que existe algo de pessoal e autêntico na
escolha que fazemos de nossas personas, elas são nossas, são as máscaras
que nós escolhemos para nós, de certa forma.
É importante entender o papel da persona para as relações sociais, mas
é fundamental não deixarmos que a persona domine de tal modo a dinâmica
psíquica que fiquemos refém dela. Seria como se a máscara grudasse em nosso
rosto, querendo passar por ele até o ponto de não sabermos como somos de
fato.
Temos de usar a persona, jamais permitir que ela nos use para além das
circunstâncias nas quais elas podem ser úteis.
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Referências:

BERNARDI, C. Dicionário Crítico de Análise Junguiana.


http://carlosbernardi.net/dicjung/verbetes/abaismen.htm
HOPCKE, R. H. Guia para a obra completa de C. G. Jung. Petrópolis: Vozes,
2011.

C. G. JUNG Memórias, Sonhos e Reflexões. Lisboa, Porto Editora, 1999.

__________Obras Completas. Petrópolis, Vozes.

SHARP, D. Léxico Junguiano – Dicionário de Termos e Conceitos. São Paulo,


Cultrix, 1991.

ZWEIG, Connie e ABRAMS, Jeremiah (Orgs.) Ao Encontro da Sombra. São


Paulo: Cultrix, 1999.

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