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A DINÂMICA PSÍQUICA

Iracildo P. Castro

Costumamos a chamar de psiquismo o conjunto de processos psíquicos e a forma


como eles se relacionam entre si. Os psicanalistas franceses J. Laplanche e B. Pontalis
assim definem a dinâmica psíquica:

Termo que ressalta certas características que a teoria freudiana


atribui ao psiquismo: sua capacidade de transmitir e transformar
uma energia determinada e sua diferenciação em sistemas ou
instâncias (1971, p.31)

A teoria de Freud sobre o Aparelho psíquico não deve ser interpretada no sentido
anatômico, umavez que não se aplica em ligações específicas em lugares do cérebro.
Atua como intermediário entreo o pulsional e a realidade.

A pulsão é o representante psíquico das necessidades biológicas, manifestando-se


em forma de desejos ou necessidades, sendo que é o aparelho psíquico que regula essa
energia, mantendo-a no mais baixo nível possível. Para eliminar essa tensão, é
necessário encontrar um objetivo que satisfaça a necessidade, podendo ser esse objeto
um se material, imaterial, simbólico, externo ou interno para o sujeito.

1 PRIMEIRA TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO

Em 1900, Freud apresenta a primeira teoria sobre o Aparelho Psíquico em seu livro
“ A interpretação dos Sonhos”, constituído pelo CONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE e o
INCONSCIENTE (Obras completas vol. 5, p. 504-611). Afirma Freud que a mente humana
é semelhante a um imenso iceberg. Sete oitavos de seu volume estão debaixo da água, e
não se vêem. Há uma parte do iceberg que, pelo movimento das ondas, às vezes é
possível ver, porém está oculta quando o mar está tranquilo. Há, porém, uma outra parte
do icebergque sempre podemos ver, a qual representa o consciente. A parte que não é
possível ser observada com um simples olhar corresponde ao inconsciente. O pré-
consciente está entre ambos, e que somente às vezes podemos ver.

O CONSCIENTE
Este é o centro de percepção do Aparelho Psíquico. Ele permite ao indivíduo saber
claramente o que está fazendo e reconhece livremente o que deseja. É por meio do
consciente que o indivíduo tem a percepção do mundo subjetivo. Ao mesmo tempo,
recebe as informações do mundo exterior e as do mundo interior.
O PRÉ-CONSCIENTE
Localiza-se entre o consciente e o inconsciente. Nele estão todos os conceitos,
ideias, experiências, etc., que não são conscientes, que podem, entretanto, ser trazidos a
consciência pormeio da memória, desde que o sujeito se interesse por elas.
O INCONSCIENTE
Essa é a maior conquista de Freud, mas também é interpretado como o mais
complicado e obscuro deste sistema. Dele não se pode saber nada de forma direta, sendo
possível apenas de forma introduzida ou indireta. Para Freud, o inconsciente é o reino dos
pensamentos incontrolados, não lembrados, reprimidos, mas que estão ativos. Éportanto,
a base de toda a vida psíquica e a morada do pulsional. É do inconsciente que afloram
fragmentos que às vezes, acabam tornando-se conscientes.
No inconsciente não há lógica e se busca o prazer por todos os meios possíveis,
mas Freud diz que temos barreiras, as quaisdenominou de censuras, cuja função é “filtrar
conteúdos”. As censuras impedem a passagem para a consciência de conteúdo difíceis
eangustiantes.
As censuras, durante o sono estão no nível mais reduzido, por isso realizamos ações nos
sonhos e falamos de assuntos de modo diferente doque normalmente faríamos se
estivéssemos acordados. Por isso, para Freud, os sonhos são realizados de desejo
inconscientes reprimidos.
Em geral aparecem desordenados e sem lógica, com uma grande quantidade de
simbolismos que são simplesmente “conteúdos“ inconscientes, que podem ser
interpretados. Aquilo que é possível recordar de um sonho chama-se conteúdo manifesto,
a partir do qual é possível atingir o latente. Aliás, é o que a psicanalise procura descobrir.
É muito importante, portanto, conhecero inconsciente, pois é nele que se localiza o núcleo
de toda neurose.
Em geral, quando as causas que motivam os distúrbios da personalidade são
conhecidas e trabalhadas, estes tendem a desaparecer. Geralmente os distúrbios da
personalidade costumam originar-se de experiências traumáticas nos primeiros anos de
vida.
Jorge A. Leon, psicanalista cubano e pastor metodista, argumenta que a acriança é
como um cimento fresco, é tão frágil que até um passarinho pode deixar pegadas nele,
porém, uma vez endurecido, nem um elefante pode deixar nele sua marca. Bem,
podemos dizer que uma vida pode ser arruinada para sempre depois de experiência
traumática. Eis, então, a importância de uma boa educação às crianças.

2 A SEGUNDA TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO

A segunda tópica é formada pela interação do Id, Ego e Superego, embora cada
um desses sistemas tenha suas próprias funções, princípios operantes, dinamismos e
mecanismo. Para Freud, a Freud, a personalidade é composta por essa três instânciase o
comportamento é resultante da integração entre elas. Id, Ego e superego atuam de forma
tão estreita que é difícildeterminar os seus efeitos de modo separado.

a) O Id é regido pelo PRINCÍPIO DO PRAZER. Essa é a instância original da psique, na


qual estão os nossos impulsos,cujo conteúdos são as representações psíquicas dos
instintos. Ele é reservatório da energia física que põe em funcionamento os outros
sistemas. Podemos dizer que é o componente biológico da personalidade.

b) O Ego é regido pelo PRINCÍPIO DA REALIDADE, sendo, portanto, o responsável pelo


contato com o ambiente e o mundo externo que o rodeia. Enquanto o id se interessa
apenas em saber se uma experiência é agradável ou desagradável, o ego vai em busca
de certifica-se da veracidade ou não daquela experiência. É a parte organizada do id e o
intermediário entre o id e o superego. Podemos dizer que é o representante psicológico
da personalidade.

c) O Superego é regido pelo PRINCÍPIO DO DEVER. Ele é o censor das funções do ego
e decide se algo é certo ou errado. Tende mais à perfeição do que ao prazer, por isso
podemos dizer que o superego é o componente social da personalidade, uma vez que ele
bloqueia os impulsos do id.

i. O PREDOMÍNIO DO ID NA CONDUTA HUMANA

Leon (1996), Infere que o individuo que vive sob o predomínio do id não tolera a tensão e
exige uma gratificação imediata. É exigente, impulsivo, irracional, antissocial, egoísta e
amante do prazer. Sente-se importante porque acredita possuir o poder mágico de
realizar seus desejos mediante a imaginação, a fantasia, as alucinações e os sonhos. O
que importa é apenas a busca do seu prazer.

Geralmente1 o individuo que vive no predomínio do id, pouco se importa com os


meios para obter o seu prazer. Cria sempre dificuldades para os outros em qualquer
relacionamento social. Em termos de relacionamento religioso, chega até ao abuso da
boa fé dos seguidores.

CARACTERÍSTICAS DAS PESSOAS QUE VIVEM SOB O PREDOMÍNIO DO ID:

 Não sentem culpa, pois o superego é fraco;


 Têm dificuldades de adaptação à realidade. Exigem que os outros resolvam seus
problemas. Não aceitam os padrões estabelecidos;
 São ativistas, mas logo se cansam;
 Têm absoluta incapacidade de aprender, por isso não mudam;
 Escondem com uma máscara sua falsa espiritualidade;
 Não conseguem ser tolerantes diante da ansiedade e da frustração;
 Não conseguem ter vínculos fortes.

O PREDOMINIO DO SUPEREGO NA CONDUTA HUMANA

Como sabemos, o superego é regido pelo princípio do dever. O superego é aquele


que diz o que está certo e o que está errado. Em geral a pessoa sente-se culpada e
angustiada só porque pensou fazer o que jamais fez. A pessoa que vive sob esse
predomínio (do superego) torna-se rígida em suas ações, e, muitas vezes, cruel e cria
angústias intoleráveis. Exige muito dos outros e não sabe educar e nem ensinar com
amor. Carrega dentro de si um juiz implacável e não consegue fortalecer o outro para que
tenha um ego sadio.

Ego sadio é ter o controle de si mesmo, com autonomia, sem que este seja
manipulado como se fosse uma maquina.
O que o ser humano precisa não é de alguém que o iniba, bloqueie, atemorize,
deprima ou frustre, mas de alguém que tenha um comportamento compreensivo,
estabelecedor e humano.

Quando há predomínio do superego sobre os demais sistemas, são comuns as


disfunções sexuais.

O PREDOMÍNIO DO EGO NA CONDUTA HUMANA

O ego pode ser narcisista ou normal. O narcisista é doente. O ego narcisista


nohumano deve procurar ser regido pelo amor e não pela vanglória, esvaziar-se do seu
narcisismo e de acreditar que é superior em tudo.

A criança tem necessidades de ser narcisista, pois está estruturando a sua


personalidade, mas logo chegará a ser adulta quando poderá esvaziar o seu ego, como
sinal de maturidade.
Nas crianças, é comum ouvir delas que tudo é “delas”. Não é normal que os
adultos tomem esta mesma posição, pois é prejudicial e pode levar a psicose.
Um indivíduo que tem a mente doente sempre terá um conceito de si mesmo mais
alto do que deve ter. É narcisista.
O ego normal é aquele que sabe encarar a realidade e viver bem. Sabe adaptar-se, não
se deixa vencer pelas pressões externa, não se desvaloriza e sabe manter o equilíbrio
entre as forças do sistema.

SINTOMAS DO EGO DEBILITADO:


 Redução de faculdade psicomotora;
 Redução da capacidade de percepção, atenção, concentração, memória,
planificação e execução da ação;
 Incapacidade para controlar os impulsos;
 Incapacidade de estabelecer relações interpessoais;
 Incapacidade de tolerar ansiedade e frustração;
 Diminuição de autoestima.

O Aparelho psíquico é para manter o ser humano em equilíbrio. Nesse sentido,


penso que as comunidades religiosas devem agir como comunidades terapêuticas, como
fontes de fortalecimento do ego, pois assim poderão ajudar o indivíduo a aliviar suas
ansiedades e tensões, oportunizando ao ser humano viver de modo equilibrado e feliz.

REFERÊNCIAS

Boock. Ana Mercês. Psicologias. São Paulo: Saraiva, 2019


Hall, Calvin Springer. Teorias da personalidade. São Paulo, EPU. 13ª Reimpressão.
2000.

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