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Psicanálise: história, conceitos e autores da abordagem

terapêutica
Escrito por Alex Carnier

Você certamente já ouviu falar de Sigmund Freud e da psicanálise, mas


talvez não tenha muita certeza do que realmente ela é.

Neste artigo, iremos apresentar a visão geral das teorias e práticas


psicanalíticas e seus impactos na forma como a mente humana é
compreendida hoje.

Se prepare, iremos mergulhar e aprender bastante sobre esta teoria do


comportamento e da personalidade humana, e seu papel na criação e
popularização da “terapia da fala”.

ÍNDICE DE CONTEÚDO
 O que é psicanálise?
 Principais conceitos da Psicanálise
 Principais autores e teóricos da psicanalise
 A neuropsicanálise
 História da psicanálise: o início de tudo
 Filme “Freud – Além da alma”
 Críticas à psicanálise
 Conclusão
O que é psicanálise?
A Psicanálise é uma linha teórica de investigação e explicação
da psique humana. E também podemos entende-la como um
campo clínico de atuação.
A psicanálise começou com o médico neurologista e psiquiatra Sigmund
Freud (1856-1939), e lida com a experiência subjetiva de maneiras que
outras terapias às vezes não fazem.
Apesar de ter sido formulada a mais de cem anos, ainda é usada para
tratamento de transtornos como depressão, ansiedade e síndrome do
pânico.
Os Fundamentos da Psicanálise
Freud foi pioneiro na ideia de que forças inconscientes influenciam o
comportamento e a personalidade do indivíduo.

Ele acreditava que eventos da infância e conflitos inconscientes,


geralmente relacionados a impulsos e agressões sexuais, moldam a
experiência de uma pessoa na idade adulta.

A terapia da fala
A teoria da psicanálise de Freud criou a estrutura para a terapia
psicanalítica, uma forma profunda e individualizada de terapia da fala.

A terapia psicanalítica abrange uma conversa aberta que visa descobrir


idéias e memórias há muito escondidas na mente inconsciente.

Os psicanalistas empregam técnicas específicas, como associação


espontânea de palavras, análise de sonhos e análise de transferência.

A identificação de padrões na fala e nas reações do cliente pode ajudar o


indivíduo a entender melhor seus pensamentos, comportamentos e
relacionamentos como um prelúdio para mudar o que é disfuncional.

Principais conceitos da Psicanálise


Vamos ver agora os conceitos bases da teoria de Freud, e como eles
interpretam a mente e o comportamento das pessoas.
A Mente humana
A imagem abaixo resume como Freud compreendia a mente humana.

Vamos detalhar cada elemento deste:

Consciente
O nível da mente consciente é tudo aquilo do que estamos percebendo racionalmente e intencionalmente
no momento, no agora.

Segundo a psicanálise, ele corresponderia à menor parte da mente


humana.

Neste consciente está tudo aquilo que podemos perceber e acessar de


forma intencional.
Outro aspecto importante é que o consciente funciona de acordo com as
regras sociais, respeitando tempo e espaço. Isso significa que é por meio
dele que se dá a nossa relação com o mundo externo.

Pré-consciente

O pré-consciente é muitas vezes chamado de “subconsciente”, mas é


importante destacar que Freud não utilizava esse termo.

O pré-consciente se refere àqueles conteúdos que podem facilmente chegar ao consciente, mas que lá
não permanecem.

Apesar de se chamar Pré-consciente, esse nível mental pertence ao


inconsciente. Podemos pensar no pré-consciente como uma peneira que
fica entre o inconsciente e o consciente, filtrando as informações que
passarão de um nível ao outro.

Inconsciente

Freud utiliza esse termo para se referir a qualquer conteúdo que se


encontre fora da consciência.

No inconsciente estão quase todas as memórias que acreditamos estarem


perdidas para sempre, todos os nomes esquecidos, os sentimentos e
medos. Todas essas memórias e sentimentos que conseguimos, de
alguma forma, ignorar.

Segundo a psicanálise, o uso de drogas também pode permitir a


manifestação do inconsciente.
Estruturas da personalidade humana
O Id, o Ego e o Superego são os três componentes da formação da
personalidade.

ID
É a fonte de energia psíquica e o aspecto da personalidade relacionado aos instintos.

O Id é a estrutura da psique humana que fica na superfície. É a primeira


que aparece na nossa vida e que rege nosso comportamento na primeira
infância.

É a que busca o prazer imediato, se guia pelo instintivo, pelos impulsos


mais primitivos da nossa essência. Impulsos contra os quais costumamos
lutar todos os dias.

EGO
É o aspecto racional da personalidade responsável pelo controle dos instintos.

À medida que crescemos e completamos 3 ou 4 anos, nosso conceito de


realidade e nossa necessidade de sobreviver no meio que nos cerca vão
aparecendo.

Assim, com o desenvolvimento desse “Ego” também aparece uma


necessidade: a de controlar a cada instante o “Id” ou a realização de
ações para satisfazer os impulsos de um modo aceitável e correto
socialmente.

SUPEREGO
É o aspecto moral da personalidade, produto da internalização dos valores e padrões recebidos dos pais
e da sociedade.
O Superego é uma entidade psíquica que surge a partir da socialização,
da pressão dos nossos pais, dos esquemas do contexto social que nos
transmitem normas, padrões, guias de comportamento.

Ele tem um fim último muito específico: zelar pelo cumprimento das
regras morais.

Esse propósito não é fácil de realizar. Isso devido aos impulsos do Id,
que desconsidera a moral e que deseja satisfazer seus impulsos.

Possíveis manifestações do Ego


O Ego forte

É a entidade que é capaz de compreender suas próprias necessidades e,


ao mesmo tempo, intuir os limites estabelecidos pela sociedade.

O Ego inflado

Este Ego torna a pessoa narcisista, com um falso sentimento de


superioridade e uma incapacidade de aprender e ouvir autocrítica.

O Ego inflado pode mascarar dores, traumas e frustrações. Então, isso


pode denunciar uma condição de sofrimento, que o ego quer esconder.

O Ego frágil

Um Ego frágil torna a pessoa submissa, suscetível a bullying e


exploração.

É um comportamento de alguém que se anula por falta de autoestima,


como medo de não ser mais aceita por uma pessoa ou por um grupo.
O Ego fragmentado

Um Ego fragmentado ocorre quando existe uma cisão entre Id e


Superego. Esta cisão pode ocorrer por um impacto violento demais por
parte da realidade, ou por perda de contato com essa realidade.

Mecanismo de Defesa do Ego


Os mecanismos de defesa do ego constituem operações de proteção
postas em jogo pelo Ego ou pelo self (Si-mesmo) para assegurar sua
própria segurança.

Os mecanismos de defesa não representam apenas o conflito e a


patologia, eles são também uma forma de adaptação.

O que torna essas defesas um aspecto doentio é sua utilização ineficaz ou


sua não adaptação às realidades internas ou externas.

Existem pelo menos quinze tipos de mecanismos de defesa conhecidos e


explicados pelas teorias da psicologia. Entre eles, podemos citar:

 compensação

 expiação

 fantasia

 formação reativa

 identificação

 isolamento

 negação

 projeção
 e regressão

Princípio do Prazer
O princípio do prazer é o que guia o Id. Isso quer dizer que o Id é sua
força propulsora.

Sabemos que o Id busca a satisfação imediata dos impulsos humanos.


Que por sua vez, podem ter caráter de desejo ou de necessidade primária.

Sendo o princípio do prazer a força motriz do Id, podemos concluir que


ele elege como único objetivo satisfazer nossos impulsos primitivos.

Esses podem ser o impulso da fome, o da raiva ou o sexual, sendo a


instância mental que permanece mais enterrada no campo inconsciente.

Os sonhos em psicanálise
Os sonhos possuem grande importância nas terapias psicanalíticas.

Eles proporcionam ao terapeuta um conhecimento mais profundo do que


se passa no íntimo de seus pacientes. Isso porque são carregados de
informação sobre a vida do indivíduo e oferecem ao analisando um
conhecimento maior de si mesmo.

Segundo a psicanálise, os sonhos fornecem um meio para que a mente


possa gozar de seus verdadeiros prazeres, fugindo da censura da
sociedade e das regras morais.

É através do sonho que podemos de fato vivenciar o que nossos impulsos


primitivos realmente gostaria de experimentar.
Desenvolvimento psicossexual
Como a personalidade se desenvolve?

Segundo Freud, as crianças passam por uma série de fases que levam
ao desenvolvimento psicossexual da personalidade adulta. Sua teoria
descreveu como a personalidade se desenvolveu ao longo da infância.
Embora a teoria seja bem conhecida na psicologia, sempre foi bastante
controversa, tanto na época de Freud quanto na psicologia moderna.
Uma coisa importante a ser observada é que as teorias psicanalíticas
contemporâneas do desenvolvimento da personalidade incorporaram e
enfatizaram idéias sobre relacionamentos e interações internalizadas e as
maneiras complexas pelas quais mantemos nosso senso de identidade
nos modelos que começaram com Freud.
Outras manifestações do inconsciente
Ato falho

Ato falho é um equívoco na fala ou na memória provocada


hipoteticamente pelo inconsciente.

Ou seja, através do ato falho, o desejo do inconsciente é realizado.

Isto explica o fato de que nenhum gesto, pensamento ou palavra


acontece acidentalmente. Os atos falhos são diferentes do erro comum,
pois este é resultado da ignorância ou conveniência.

Neurose

Do ponto de vista psicanalítico a neurose é decorrente de tentativas


ineficazes para lidar com conflitos e traumas inconscientes.
Por assim dizer, o que diferencia a neurose da normalidade é a
intensidade do comportamento e a incapacidade do sujeito em resolver
conflitos de maneira satisfatória.

Neurose pode ser um sintoma de algo recalcado, sentimentos e ações que


foram impedidos de ser manifestos na consciência.

Principais autores e teóricos da psicanalise


Sigmund Freud foi fundador dessa abordagem e talvez o psicanalista
mais conhecido, mas há outros autores e seus pensamentos que
contribuíram para o movimento psicanalítico.

Sigmund Freud: o pai da psicanálise

Freud, judeu e ateu, é considerado o pai da psicanalise, e estabeleceu


teorias como:
 a existência do inconsciente e a influência deste sobre as ações
humanas;

 o id, ego e superego,

 o desenvolvimento psicossexual
 e a ligação dos impulsos sexuais com as neuroses.

Também desenvolveu técnicas como interpretação dos sonhos e a fala,


transferência e contratransferência como processo psicoterapêutico.

Sándor Ferenczi

Psicanalista húngaro, Ferenczi foi conhecido por ser um colaborador na


pratica clínica de Freud.

Dedicou toda sua obra procurando ampliar os limites terapêuticos com a


preocupação no tratamento de psicóticos, de pacientes psicossomáticos e
casos-limites.

Dentre seus interesses teóricos destacam-se:

 os temas da introjeção e projeção

 a ênfase sobre o papel estruturante do objeto externo no


desenvolvimento psíquico

 a regressão na cura analítica

 a importância dos vínculos – relação mãe e bebê


 o impacto do trauma infantil na constituição do sujeito

Melanie Klein

Melanie Klein é considerada uma das autoras que mais contribuíram na


compreensão do conceito de inconsciente.

Com vários problemas na família, incluindo a morte de dois irmãos e da


mãe, problemas na criação dos filhos e com seu casamento, iniciou uma
psicoterapia com o húngaro Sándor Ferenczi – que foi seu grande
incentivador.

Estimulada por ele, iniciou o atendimento de crianças.

As contribuições de Melanie Klein para a psicanálise foram:

 Entendeu que os primeiros momentos de vida extrauterina do


bebê promove importantes impactos sobre sua construção
psíquica.

 Trouxe a brincadeira para o trabalho psicanalítico


 Reconheceu paralelos nas terapias psicanalíticas em adultos
através da interpretação de sonhos com brincadeiras
terapêuticas com crianças.

 Também fez um paralelo da técnica da associação livre


clássica com as verbalizações das crianças ao brincar.

Donald Winnicott

Discípulo de Klein, Winnicott postula que cada ser humano traz um


potencial inato para amadurecer e para se integrar.

Porém, entendeu que o fato de essa tendência ser inata não garante que
ela realmente vá ocorrer.

Isto dependerá de um ambiente facilitador que forneça os cuidados que o


indivíduo precisa, sendo que, no início, esse ambiente é representado
pela “mãe suficientemente boa“.
Jacques Lacan

Opondo-se aos pós-freudianos que promoveram a psicanálise buscando


fundamentações na Biologia, Lacan escolheu a linguística e a lógica para
reconfigurar a teoria do inconsciente.

Elaborou o conceito de estádio do espelho, que refere-se ao período que


se inicia aos seis meses de idade do indivíduo, aproximadamente,
encerrando aos dezoito meses. Este estádio é caraterizado pela
representação da unidade corporal pela criança, e também por sua
identificação com a imagem do outro.

Carl Jung

Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia


analítica, iniciou sua trajetória com Freud, com quem fez uma parceria
para estudos da mente.
Antes de trabalharem juntos, Jung enviou a Freud cópias de seus
trabalhos sobre a existência do inconsciente, confirmando concepções
freudianas de recalque e repressão.

Posteriormente, ambos passaram a se corresponder (359 cartas que


posteriormente foram publicadas entre 1906 a 1913).

O primeiro encontro entre eles, em 27 de fevereiro de 1907,


transformou-se numa conversa de treze horas ininterruptas. Depois desse
encontro, estabeleceram uma amizade de aproximadamente sete anos.

Esta parceria nas descobertas e definições do inconsciente acabou se


rompendo após divergências e disputas a respeito do significado da
libido.

Ana Freud

Filha de Sigmund Freud e Pedagoga de formação, exerceu essa profissão


nos anos de 1914 a 1920.

Por um curto período de tempo foi professora infantil, e logo se juntou


ao circulo de discípulos de Freud, e então se tornou Psicanalista.
Iniciou o tratamento voltado para crianças, sendo a pioneira nesta área.
Estabeleceu clínicas e berçários para crianças que eram vitimas da
guerra, sobreviventes do holocausto, ou que estavam sendo atormentadas
pelas suas vidas.

William Reich

Foi um discípulo de Freud, e propôs a gênese da neurose como


consequência dos conflitos de poder que se estabelecem nas relações
sociais e suas implicações emocionais e psicológicas.

Para ele a repressão se dava não apenas no plano psíquico, mas também
no físico, na qual o corpo respondia à repressão gerando tensão
muscular. Com o passar do tempo, essa repressão se traduzia em dores
crônicas e doenças.

Dizia que era uma “armadura” ou uma “couraça” que moldava o físico e
o caráter do indivíduo e determinava como essa pessoa encarava sua
existência.
Se quiser saber mais sobre desenvolvimento psicossexual, leia este outro
artigo aqui.
A neuropsicanálise
A neuropsicanálise é um subcampo emergente que visa unir os insights
da psicologia freudiana (e sua ênfase na experiência subjetiva) com as
novas descobertas neurocientíficas sobre os processos cerebrais.

À medida que as novas tecnologias revelam uma atividade cerebral cada


vez mais precisa, a neuropsicanálise procura identificar os fundamentos
neurobiológicos da emoção, fantasia e as camadas do inconsciente.

História da psicanálise: o início de tudo


Para se entender a história da psicanálise, é necessário entender a
própria contextualização histórica do momento. A Primeira Grande
Guerra (1914-1918), por exemplo, acabou contribuindo para a sua
difusão.

Nesse período histórico, a psicanálise foi muito usada para tratar pessoas
envolvidas na guerra, colaborando para a diminuição das neuroses por
ela causada.

A influencia de Charcot para a psicanálise


O neurologista Frances Charcot foi a primeira grande figura em que
Freud se baseou em seus primeiros estudos sobre a psique humana.
Charcot foi um dos maiores clínicos e professores de medicina da França
e fundador da neurologia.
Freud acompanhou de perto os atendimentos de Charcot a pacientes
histéricos. O termo tem origem no termo médico grego hysterikos, que
se referia a uma suposta condição médica peculiar a mulheres, causada
por perturbações no útero (hystera em grego).

A descrição clássica da histeria segundo Charcot incluia três grandes


grupos de sintomas: as manifestações agudas, os sintomas funcionais
duradouros e os sintomas viscerais.

O uso da hipnose na psicanálise


Charcot observou inúmeros casos de histeria no hospital parisiense
Salpêtrière, onde foi inclusive Diretor. Ele defendeu a busca por causas
biológicas associadas ao quadro, e utilizou o método hipnótico como
recurso de tratamento. Segundo ele, seria um modo simples, rápido e
certeiro de colocar o sistema nervoso em uma nova condição que pode
ser ficar disponível para a cura de certas desordens mentais.

Atualmente a hipnose é entendida como um estado de estreitamento de


consciência ou atenção no qual a mente interpreta a imaginação como
realidade.

Em uma sessão, o hipnólogo (pessoa que conduz a hipnose) ajuda o


paciente a entrar no chamado transe hipnótico. Ele faz isso usando
determinadas palavras e técnicas.

Assim, a pessoa atinge um estado máximo de concentração a ponto de


“deixar de lado” todo o resto que a cerca.

Ao atingir um determinado estágio máximo de atenção, é possível


acessar informações guardadas no inconsciente. No transe hipnótico,
manda-se boas mensagens e sugestões para o inconsciente, que é
basicamente o piloto automático das nossas vidas e coordena a maior
parte das nossas ações.

Freud e Charcot
Freud formou-se em medicina e trabalhava em uma clínica com vários
casos de histeria, que na época era vista como um fingimento das
pessoas que a apresentavam para apenas fugir de suas responsabilidades.

Freud, instigado pelas manifestações dos pacientes, resolve ir à procura


de estudos para entender melhor aquilo que viu durante seu estágio na
clínica, e buscou conhecer as teorias de Charcot (a maior autoridade
sobre a histeria da época).

Freud vai a Paris assistir ao curso que Charcot ministrava na Sapêtriére,


“e adere entusiasticamente ao modelo fisiológico oferecido por ele para a
histeria”, se tornando seu discípulo.

Três aspectos importantes dessa “doença” já estavam claros para Freud e


para Charcot:

1. O fato de que a histeria não era uma simulação;


2. Que ela era uma doença funcional, com um conjunto de
sintomas bem definidos;
3. E que a histeria era tanto uma doença feminina como
masculina, desfazendo a necessária relação que existia entre
histeria e o sexo feminino.

Charcot, através do uso de drogas e da hipnose, realizava o tratamento da


histeria, mas começou a verificar que os pacientes hipnotizados
passaram a oferecer muito mais do que lhes era solicitado.
Finalmente ele concluiu juntamente com Freud que a histeria nada tinha
a ver com o corpo neurológico, e começou a entende-la sobre a ótica da
teoria do trauma. Segundo ele, há uma predisposição do paciente à
sugestão no transe hipnótico, que é proporcionada em decorrência de um
trauma psíquico.

Portanto, esse trauma deve ser localizado na história de vida do paciente,


feito através do relato que o histérico faz de sua vida.

O elemento sexual e a criação do conceito de inconsciente


No levantamento feito por Charcot, as histórias de vida tinham
frequentemente o elemento sexual. Isso fez com que Freud iniciasse
investigações desse fenômeno.

Após estudos na França e já de volta ao seu país, Freud iniciou seus


atendimentos terapêuticos.

Tendo em mente que a histeria, além dos traumas, trazia a questão sexual
(a repressão destas), Freud deu início a construção da teoria
psicanalítica.
O psicanalista então cunhou o conceito de inconsciente e implantou o
uso da hipnose como um grande meio para se estudar e acessar esta
estrutura mental.

Em seu consultório, ouviu os relatos de pacientes histéricos em


detrimento de 2 fatores principais. O envolvimento com a grande guerra
e as condições socioeconômicas do final do século XIX, na qual sob a
pressão da industrialização, os papéis de homens e mulheres se
polarizaram como nunca.
Assim, a histeria passou a invadir seu consultório com pacientes
femininos. Associando as questões sexuais já levantados na sua
passagem pela França, conclui que a histeria seria uma manifestação
psíquica, como uma forma de significar o corpo e o mundo.

Freud então ele se afasta dos esquemas neurológicos para explicar a


histeria e se aproxima dos aspectos psicológicos.

O auxilio de Josef Breuer e o livro “Estudos sobre a Histeria”


Na construção do conceito da histeria como sintoma psicológico, o
auxilio que Freud teve de Josef Breuer (medico fisiologista) foi
importante. Foi com Breuer que Freud escreveu parte da primeira edição
do livro “Estudos sobre a histeria” (1895), uma obra fundamental da
psicanálise.

Nesse livro, se apresentam três pontos fundamentais da Histeria:

 os sintomas histéricos faziam sentido;

 existia um trauma que causara a doença, que tinha ligação com


impulsos libidinais que haviam sido reprimidos;

 a lembrança desse trauma e sua catarse era o caminho para a


cura.

Técnicas iniciais de Freud


No percurso histórico sobre atendimentos, Freud usou a hipnose desde
que abriu seu consultório em 1887, como uma técnica simples para
remover sintomas por intermédio da sugestão.
No entanto, logo ficou insatisfeito com a técnica uma vez que nem todos
seus pacientes aderiam a hipnose.

Outro ponto foi de que os benefícios terapêuticos duravam apenas


enquanto o paciente mantinha contato com o médico.

Catarse como método


Assim, Freud cria o método da catarse juntamente com Breuer.

A palavra catarse tem origem grega e significa “purificação”. Refere-se à


libertação do que estava reprimido, um sentimento de alívio causado
pela consciência de sentimentos ou traumas anteriormente reprimidos.

O método catártico é um procedimento terapêutico pelo qual um


indivíduo consegue liberar, trazendo a nível consciente, os sentimentos e
emoções reprimidos que até então estavam em seu inconsciente.

Por meio da fala, o paciente tem oportunidade de se conectar com ideias


recalcadas que produzem sintomas atuais. E assim pode se libertar das
consequências ou problemas que esses sentimentos lhe causavam.

Filme “Freud – Além da alma”


O filme “Freud – Além da Alma” conta a história da psicanálise. Tem
como diretor John Marcellus Huston, e aborda o surgimento de alguns
conceitos formulados por Freud e que hoje são muito conhecidos como a
base da psicanálise.
John ambientou o filme no século XIX, e desenrolou a história a partir
dos primeiros anos da trajetória de Freud, onde ele se deparou com
estranhos distúrbios que desafiavam o conhecimento médico da época.

Críticas à psicanálise
Os críticos da psicologia freudiana argumentam que esta teoria não é
apoiada por evidências científicas.

Estudiosos dizem que a psicanálise é boa em explicar, mas não em


prever comportamentos (que é um dos objetivos da ciência).

Por esse motivo, a teoria de Freud não pode ser provada verdadeira ou
refutada. Por exemplo, é difícil testar e medir objetivamente a libido,
elemento central na compreensão do indivíduo segundo a psicanálise.

A teoria de Freud é altamente não científica, dizem os críticos.

Eles também argumentam que Freud pode ter enviesado suas pesquisa
em suas interpretações. Ou seja, ele pode ter prestado atenção apenas às
informações que sustentavam suas teorias, e ignorado as informações e
outras explicações que não se encaixavam nelas.

No entanto, Fisher e Greenberg (1996) argumentam que a teoria de


Freud deve ser avaliada em termos de hipóteses específicas e não como
um todo.

Eles concluíram que há evidências para apoiar os conceitos de Freud de


personalidades orais e anais.
Conclusão
A psicanálise é uma das linhas psicoterapeuticas com maior adesão entre
os psicólogos.

Mesmo que alguns conceitos sejam controversos (como a ideia do


inconsciente ou a própria hipnose), ou que haja teorias alternativas
(como a terapia cognitivo comportamental), a psicanálise se mantém
como uma importante referência teórica da psicologia.

Aprendendo sobre a psicanálise, refletimos também sobre nossa própria


experiência de vida, e podemos compreender melhor a nós mesmos e
nossas relações com o mundo.

Espero que este resumo e pesquisa possa ter contribuído para isso.

Se cuide!

(Artigo escrito a partir das anotações de aula da profa. Msc. Catalina


Naomi Kaneta, juntamente com pesquisas pessoais na literatura e
internet.)
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12 COMENTÁRIOS

Priscilla Teixeira
30 de março de 2021 13:45
Artigo incrível!
Last edited 2 anos atrás by Priscilla Teixeira

Responder

Autor

Alex Carnier
24 de abril de 2021 04:11

Reply to Priscilla Teixeira

Obrigado Priscilla! ?
Responder

jairo
27 de abril de 2021 22:29

Muito bom, enriquecedor e bem explanado. Parabéns!


Responder

Autor

Alex Carnier
29 de abril de 2021 11:00

Reply to jairo

Jairo, meu caro, agradeço seu feedback. Você é sempre bem-vindo por aqui! 🙂 Se cuide!
Responder

Autor

Alex Carnier
29 de abril de 2021 14:16
teste apiki resposta

MAYARA MATTOS
21 de maio de 2021 10:18

Alex parabéns! Muito bem escrito oconteúdo, gostaria de utilizar ele em meu relatório,
poderia me informar o ano da publicação?
Responder

Autor

Alex Carnier
26 de maio de 2021 18:28

Reply to MAYARA MATTOS

Olá Mayara! Obrigado. O ano é 2020. Sucesso!


Responder

Isabel Aparecida Correa Westim


18 de outubro de 2021 23:13

Achei esse artigo muito interessante gostaria de estar colocando em um trabalho


acadêmico ,qual referências posso usar ,e se posso colocar .?
Responder

Autor

Alex Carnier
22 de outubro de 2021 17:48

Reply to Isabel Aparecida Correa Westim

Olá Isabel, pode sim. Basta fazer a referência assim:


CARNIER, Alexander. Psicanálise: história, conceitos e autores da abordagem terapêutica. Saúde
Interior, São Paulo, 2020. Disponível em: https://saudeinterior.org/psicanalise/. Acesso em: 22,
outubro de 2021.
Responder

Debora Costa
29 de novembro de 2021 22:28

parabéns, ótimo texto, contribuiu bastante para minha pesquisa.


Responder

Bethania
4 de maio de 2023 16:16

Excelente material! Parabéns!!


Responder

Shirlei
23 de maio de 2023 22:15

Amei, foi de muita utilidade… muita gratidão!


Responder

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