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1.

Pressupostos Teóricos, Termos e Metodologia

Entendemos a abordagem psicodinâmica como uma teoria psicológica complexa


elaborada para explicar as origens do comportamento humano e suas motivações,
além de desenvolver metodologias para a exploração e tratamento baseados nesse
modelo, o qual utiliza de um conjunto único de termos e conceitos que serão
aprofundados a seguir.

1.2 A Importância Da Mente Inconsciente

O inconsciente é uma parte da mente humana a qual detém os fatores influentes do


comportamento humano dos quais não temos consciência, segundo a abordagem
psicodinâmica, como os sentimentos, pensamentos, impulsos e memórias.

De acordo com Sigmund Freud, é a mente inconsciente que rege o comportamento


humano, como uma fonte provedora de motivações e impulsos. Fazendo uma
analogia entre um iceberg e o inconsciente, ele aponta que a parte mais importante é
aquela que não se pode ver, enquanto o consciente seria apenas a ponta do iceberg,
acessível à primeira vista.

É no inconsciente que são armazenadas as experiências vividas desde a infância, as


quais podem influenciar nossas decisões mais tarde, assim como nossos sentimentos
e motivações.

Na psicodinâmica, essa parte inconsciente da mente é que abriga os desejos e


impulsos primitivos, assim como pensamentos e memórias reprimidos, que são
impedidos de acessar o consciente. Freud a caracteriza como irreal, emocional e
irracional, razão pela qual seus anseios devem ser controlados, já que são vistos como
inaceitáveis para o nosso eu consciente e racional.

Segundo ele, as pessoas usam uma série de mecanismos de defesa (como repressão
ou negação) para evitar entrar em contato com os seus problemas inconscientes, visto
que podem causar conflitos e sentimentos desagradáveis, como a ansiedade, quando
tornados conscientes.

A função da mente inconsciente é proteger o ego desse conteúdo visto como


ameaçador. No entanto, de acordo com Freud, o conteúdo do inconsciente é o que
rege nossos sentimentos, motivos e decisões. De fato, o objetivo da psicodinâmica é
tornar o inconsciente consciente, o qual, portanto, é definido como um instrumento
psíquico responsável por ponderar as informações do mundo exterior e interior, tendo
a sua função perceptiva como fundamental.

É preciso salientar que entre o consciente e o inconsciente, o psicanalista austríaco


também apontou um terceiro conceito, o pré-consciente, o qual retém conteúdos que,
apesar de não estarem na consciência, podem ser facilmente acessados por ela.

Essa concepção de mente dividida entre consciente, pré-consciente e inconsciente foi


mais profundamente elaborada por ele posteriormente, com o desenvolvimento do
conceito da mente tripartida, introduzindo os termos id, ego e superego.

O id é uma parte da estrutura da mente definido por Freud como sendo motivador das
pulsões, a de vida (Eros) e a de morte (Thanatos), também chamadas de instinto
sexual e instinto agressivo, respectivamente.

Regido pelo princípio do prazer, o id anseia por responder imediatamente aos


impulsos e desejos – atendê-los é prazeroso, recusá-los gera tensão. Nesse sentido,
nos deparamos com o conceito de libido: também localizada nessa área da mente, é
definida pelo teórico como a energia sexual do ser humano que vai acompanhá-lo por
toda a sua vida, desde o início - o seu acúmulo é motivo de tensão, enquanto a sua
descarga leva ao prazer.

Compreendido desde o nascimento, o id se mantem infantil durante a vida toda de


uma pessoa, sem se afetar pela realidade ou pela lógica do mundo externo. Portanto,
essa é entendida como a parte inconsciente da estrutura da mente humana.

Por isso, o ego se desenvolve a fim de mediar essa relação entre a condição
fundamentalmente irracional do id e o mundo externo real. Dessa forma, ele é regido
pela razão – responsável pela tomada de decisões e resolução de problemas.

Também em busca do prazer, o ego evita a dor e não possui o conceito de certo ou
errado (socialmente falando), mas ao contrário do id, essa propriedade da mente
considera a lógica da realidade e elabora uma estratégia de comportamento racional
para satisfazer os seus desejos. Portanto, essa é entendida como a área consciente
na estrutura da mente.

Nesse sentido, o superego é a parte mental que incorpora os valores e a moral da


sociedade aprendidos através do convívio social e pelo contato com o conceito de
autoridade, que impõe limites e proibições (empregadas pelos pais ou outras
pessoas). Essa propriedade da mente humana atua em conflito com o id, afim de
controlar seus impulsos baseado nas exigências socio culturais, e visa persuadir o
ego a tomar decisões morais ao invés de escolhas puramente racionais.

Portanto, levando em consideração as influencias dessa propriedade na mente


humana, nos deparamos com os conceitos de ego-ideal e consciência do superego,
os quais se referem, primeiramente, a um padrão aspiracional (motivado pelo primeiro
grande apego amoroso do indivíduo) e, em seguida, ao caráter punitivo dessa
propriedade. Esse ideal, quando cumprido, será recompensador, gerando orgulho e
satisfação, mas, quando fracassado, a consciência pode punir o ego, causando o
sentimento de culpa.

1.3 As Influencias do Inconsciente e o Determinismo Psíquico da


Psicodinâmica

Ao entendermos a complexidade da mente inconsciente, podemos observar uma


característica notavelmente determinista no modelo teórico da psicodinâmica, visto
que esta abordagem enxerga o comportamento humano como resultado de forte
influência do inconsciente, que não controlamos.

A única parte da estrutura mental que nos acompanha desde o nascimento, é o id,
somente mais tarde o ego e o superego irão se desenvolver para satisfazer as
demandas sociais e direcionar a busca do prazer por vias socialmente aceitáveis –
assim é que se caracterizam os conflitos entre os desejos frustrados e as normas
sociais.
Quando os conflitos não são propriamente resolvidos na infância, podem permanecer
no inconsciente e gerar problemas na vida adulta, visto que, segundo a teoria
psicodinâmica, os eventos experienciados na infância e a forma como reagimos a
eles, moldam a nossa personalidade.

Para uma pessoa ser mentalmente saudável, o ego tem que ser capaz de ponderar
as exigências do id e do superego, afim de estabelecer um equilíbrio entre as suas
demandas. Caso o superego transcenda os limites estabelecidos pelo ego, a pessoa
pode desenvolver uma neurose como a depressão, por exemplo. Caso o id assuma o
controle, o indivíduo pode desenvolver uma psicose, como a esquizofrenia, por
exemplo.

Quando o ego é incapaz de resolver os conflitos propostos pelo id e pelo superego,


temos a ansiedade como resultado. Para diminuir essa ansiedade, utilizamos
mecanismos de defesa, como a repressão ou negação, adotados de forma
inconsciente a fim de nos protegermos de sentimentos desagradáveis, como a
ansiedade e a culpa, afastando-os de forma natural.

É uma normalidade da mente humana, mas, quando desproporcionais, ou seja, muito


frequentes, os mecanismos de defesa podem resultar no desenvolvimento de
neuroses, como as fobias, obsessões, estados de ansiedade ou histeria.

De acordo com a abordagem psicodinâmica, a resolução para resolver esse problema


pode ser alcançada quando analisada a infância desse paciente que, guiado pelo
terapeuta, pode encontrar a sua origem. Quando identificada, essa questão passada
pode ser trazida ao consciente novamente, onde o desequilíbrio pode ser resolvido,
devolvendo a equanimidade entre o id, o ego e o superego. Desse modo, os
mecanismos de defesa voltarão a funcionar no nível de manutenção comum e a
doença mental será curada.

Freud acreditava que as influências do inconsciente se revelam de várias maneiras,


incluindo sonhos, e em deslizes de língua, chamados também de parapraxias ou
agora popularmente conhecidos como deslizes freudianos, tratando todo
comportamento humano como significativo e, portanto, determinado.

Segundo o pai da psicanálise, estes supostos acidentes não são um mero equívoco
na fala, mas, de fato, um descuido em que revelamos o que realmente está em nossas
mentes dizendo algo que não pretendíamos - isso é o que define os deslizes de língua.
A inevitável ação de falarmos algo que não planejávamos evidencia a forte influência
dos impulsos emocionais advindos do inconsciente.

Se os deslizes de língua são caracterizados como um descuido do consciente que


permite a transferência breve do controle para sentimentos ou pensamentos
inconscientes, nos sonhos esse controle do consciente, como um vigilante, é ainda
menor, em forma atenuada.

Nesse sentido, na análise dos sonhos, o analista pode fazer interpretações a respeito
do significado e do simbolismo oculto nessa experiência, pois, segundo Freud, nos
sonhos estariam disfarçadas as verdadeiras preocupações do indivíduo – esse
disfarce acontece como uma tentativa de proteger o consciente de se chocar com a
realidade dos fatos desagradáveis à pessoa.

1.4 Metodologia

Em psicodinâmica, o tratamento das adversidades encontradas nas análises dos


pacientes está na exploração do inconsciente, tornando este conteúdo, oculto ou
reprimido, consciente.

Como já falamos anteriormente, os lapsos de língua são uma das indicações de um


pensamento oculto reprimido, como um ato falho, que pode escapulir em um
depoimento e redirecionar a investigação do verdadeiro problema de uma demanda
específica.

Também explorada na dissertação que antecede a esta, a análise dos sonhos é um


dos pilares da abordagem psicodinâmica. A interpretação bem sucedida de um
sonho pode trazer átona preocupações ocultas.

No estudo dos sonhos, entendemos que o que lembramos pode ter sido alterado
pelo processo onírico. Por isso, o analista precisa distinguir entre o conteúdo
manifesto e o conteúdo latente de um sonho, caracterizados como aquilo que
lembramos e aquilo que seria o seu verdadeiro significado.
Os sonhos são uma incorporação fantasiosa, ou seja, disfarçada, de desejos ou
traumas reprimidos pelo sonhador – a distorção ou disfarce desses desejos ou
traumas acontece como uma tentativa de contornar a censura aplicada pela mente
consciente.

Por ser uma espécie de guardião do sono, o sonho pode ser alterado por causa de
elementos externos que são incorporados a ele para evitar que o indivíduo acorde,
como o soar de um despertador, por exemplo.

A interpretação dos sonhos busca retirar os disfarces e trazer sentido para o


conteúdo sonhado.

Nesse sentido, podemos introduzir o método que é compreendido como o mais


essencial da psicodinâmica, a associação livre de ideias. Por exemplo, em análise
dos sonhos, esse método consiste em simplesmente deixar que o paciente fale
sobre o sonho, sem restrições, falando absolutamente tudo que vier a sua cabeça,
sem censuras. Por mais que o termo indique uma expressão livre dos pensamentos,
essas associações revelam-se como inevitavelmente influenciadas pelo
inconsciente, que será desvendado pela interpretação analítica.

Para que a associação livre seja bem sucedida, é imprescindível que o paciente não
apresente resistência em verbalizar os seus pensamentos. Porém, essa relutância
pode ser um forte indício de que o paciente está se aproximando de um conteúdo
reprimido e, portanto, exige uma maior atenção do analista.

Essa capacidade interpretativa se mostra essencial na aplicação prática da


psicodinâmica, a análise de transferência é mais uma técnica que exige da
observação aguçada do aplicador. Esse conceito consiste no fato do paciente
transferir seus sentimentos por uma pessoa importante do seu passado para o
analista a que se refere, de forma inconsciente.

Portanto, a identificação do desenvolvimento de uma transferência indica que um


importante conflito reprimido está ficando mais próximo e seu encontro se mostra
inevitável para a cura completa.

Devido à qualidade resistente do inconsciente, própria da utilização de mecanismos


de defesa e censura de seus impulsos, o Teste de Rorschach é mais um método
utilizado a fim de acessar essa parte oculta da mente humana, através de manchas
de tinta.

As manchas em si não possuem um significado próprio, a sua aplicação se mostra


eficaz de acordo com a interpretação pessoal que é condicionada pelo inconsciente.

Por isso, é chamado de teste projetivo, em que o paciente “projeta” suas


informações internas, inconscientes, a fim de interpretar a figura que observa, a
mancha.

Fontes bibliográficas

Mente Inconsciente: Freud and the Unconscious Mind (Iceberg Theory)


(simplypsychology.org)

A psicanálise: PDF: A Psicanálise De Sigmund Freud

A interpretação dos Sonhos – Sigmund Freud

Mecanismos de Defesa: Defense Mechanisms in Psychology Explained (+ Examples)


(simplypsychology.org)

Psicanálise de Sigmund Freud: Psychoanalysis: An Overview of Freud's Psychoanalytic


Therapy (simplypsychology.org)

Id, ego e superego: Freud's Id, Ego, and Superego: Definition & Examples
(simplypsychology.org)

Teste de Rorschach: Rorschach Inkblot Test: Definition, History & Interpretation


(simplypsychology.org)

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