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Teoria psicanalítica

teoria desenvolvida por Sigmund Freud

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Saiba mais

A teoria psicanalítica é a teoria que estuda a personalidade e o seu


desenvolvimento. É uma teoria que procura descrever a etiologia dos transtornos,
além de explicar a motivação humana.[1] Além disso, a teoria psicanalítica é uma
das bases conceituais que orientam a psicanálise, um método clínico para o
tratamento da psicopatologia.

Apresentada pela primeira vez por Sigmund Freud no final do século XIX, a teoria
psicanalítica passou por muitos refinamentos desde seu trabalho.[2] O conjunto
formado pelos modelos baseados na teoria psicanalítica, suas práticas
psicoterapêuticas e os métodos utilizados, geralmente é referido simplesmente
como psicanálise.

Estrutura e dinâmica da
personalidade
Freud imaginava a psique (ou aparelho psíquico) do ser humano como um sistema
de energia: cada pessoa é movida, segundo ele, por uma quantidade limitada de
energia psíquica. Isso significa, por um lado, que se grande parte da energia for
necessária para a realização de determinado objetivo (ex. expressão artística) ela
não estará disponível para outros objetivos (ex. sexualidade); por outro lado, se a
pessoa não puder dar vazão à sua energia por um canal (ex. sexualidade), terá de
fazê-lo por outro (ex. expressão artística). Essa energia provém das pulsões (às
vezes chamadas incorretamente de instintos). Segundo o autor, o ser humano
possui duas pulsões inatas, a de vida (Eros) e a de morte (Tânato).[3] Essas duas
pulsões opõem-se ao ideal da sociedade e, por isso, precisam ser controladas
através da educação, considerando que a energia gerada pelas pulsões não é
liberada de maneira direta. O ser humano é, assim, sexual e agressivo por natureza
e a função da sociedade é amansar essas tendências naturais do homem. A
situação de não poder dar vazão a essa energia gera no indivíduo um estado de
tensão interna que necessita ser resolvido. Toda ação do homem é motivada,
assim, pela busca hedonista de dar vazão à energia psíquica acumulada.[4]

Os níveis da consciência ou modelo


topológico da mente (1ª Tópico)
O ser humano, no entanto, não se dá conta de todo esse processo de geração e
liberação de energia. Para explicar esse fato, Freud descreve três níveis de
consciência[4]:

O consciente (al. das Bewusste), que


abarca todos os fenômenos que em
determinado momento podem ser
percebidos de maneira consciente
pelo indivíduo;
O pré-consciente (al. das
Vorbewusster), refere-se aos
fenômenos que não estão conscientes
em determinado momento, mas
podem tornar-se, se o indivíduo
desejar se ocupar com eles;
O inconsciente (al. das Unbewusster),
que diz respeito aos fenômenos e
conteúdos que não são conscientes e
somente sob circunstâncias muito
especiais podem tornar-se. (O termo
subconsciente é muitas vezes usado
como sinônimo, apesar de ter sido
abandonado pelo próprio Freud.)
Freud não foi o primeiro a propor que parte da vida psíquica se desenvolve
inconscientemente. Ele foi, no entanto, o primeiro a pesquisar profundamente esse
território. Segundo ele, os desejos e pensamentos humanos produzem muitas
vezes conteúdos que causariam medo ao indivíduo, se não fossem armazenados
no inconsciente. Este tem assim uma função importantíssima de estabilização da
vida consciente. Sua investigação levou-o a propor que o inconsciente é alógico (e
por isso aberto a contradições); atemporal e aespacial (ou seja, conteúdos
pertencentes a épocas ou espaços diferentes podem estar próximas). Os sonhos
são vistos como expressão simbólica dos conteúdos inconscientes.

Através da compreensão do conceito de inconsciente torna-se clara a


compreensão da motivação na psicanálise clássica: muitos desejos, sentimentos
e motivos são inconscientes, por serem muito dolorosos para se tornarem
conscientes. No entanto esse conteúdo inconsciente influencia a experiência
consciente da pessoa, por exemplo, através de atos falhos, comportamentos
aparentemente irracionais, emoções inexplicáveis, medo, depressão, sentimento
de culpa. Assim, os sentimentos, sonhos, desejos e motivos inconscientes
influenciam e guiam o comportamento consciente.

Modelo estrutural da personalidade


(2ª Tópico)
Freud desenvolveu mais tarde, (1923) um modelo estrutural da personalidade, em
que o aparelho psíquico se organiza em três estruturas:[4][5]

Id (em alemão: es, "ele, isso"): O id é a fonte da energia psíquica, a libido. O id é


formado pelas pulsões, instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. Ele
funciona segundo o princípio do prazer (Lustprinzip), ou seja, busca sempre o que
produz prazer e evita o desprazer. Não faz planos, não espera, busca uma solução
imediata para as tensões, não aceita frustrações e não conhece inibição. Ele não
tem contato com a realidade e uma satisfação na fantasia pode ter o mesmo
efeito de uma atingida través de uma ação. O id desconhece juízo, lógica, valores,
ética ou moral, sendo exigente, impulsivo, cego, irracional, antissocial e dirigido ao
prazer. O id é completamente inconsciente.

Ego (ich, "eu"): O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo de permitir que
seus impulsos sejam eficientes, ou seja, levando em conta o mundo externo, por
intermédio do chamado princípio da realidade. É esse princípio que introduz a
razão, o planejamento e a espera ao comportamento humano. A satisfação das
pulsões é retardada até o momento em que a realidade permita satisfazê-las com
um máximo de prazer e um mínimo de consequências negativas. A principal
função do ego é buscar uma harmonização inicialmente entre os desejos do id e a
supervisão/realidade/repressão do superego.

Superego (Über-Ich, "super-eu", "além-do-eu"): É a parte moral da mente humana e


representa os valores da sociedade. O superego tem três objetivos: (1) reprimir,
através de punição ou sentimento de culpa, qualquer impulso contrário às regras e
ideais por ele ditados; (2) forçar o ego a se comportar de maneira moral, mesmo
que irracional; e, (3) conduzir o indivíduo à perfeição, em gestos, pensamentos e
palavras. O superego forma-se após o ego, durante o esforço da criança de
introjetar os valores recebidos dos pais e da sociedade a fim de receber amor e
afeição. Ele pode funcionar de uma maneira bastante primitiva, punindo o
indivíduo não apenas por ações praticadas, mas também por pensamentos
inaceitáveis; outra característica sua é o pensamento dualista (tudo ou nada, certo
ou errado, sem meio-termo). O superego divide-se em dois subsistemas: o ego
ideal, que dita o bem a ser procurado, e a consciência (Gewissen), que determina o
mal a ser evitado.

Os mecanismos de defesa
O ego está constantemente sob tensão, nas suas tentativas de harmonizar os
impulsos do id no mundo exterior e adequando-os à repressão do superego.
Quando essa tensão (normalmente sob a forma de medo) se torna grande demais,
ameaça a estabilidade do ego, que pode fazer uso dos mecanismos de defesa ou
ajustamentos. Estas são estratégias do ego para diminuir o medo através de uma
deformação da realidade - dessa forma o ego exclui da consciência conteúdos
indesejados. Os mecanismos de defesa satisfazem os desejos do id apenas
parcialmente, mas, para este, uma satisfação parcial é melhor do que nenhuma.

Entre os mecanismos de defesa é preciso considerar, por um lado, os mecanismos


bastante elaborados para defender o eu (ego), e por outro lado, os que estão
simplesmente encarregados de defender a existência do narcisismo. Freud
(1937)[6] diz que mecanismos defensivos falsificam a percepção interna do sujeito
fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada.[7]
Freud descreveu muitos mecanismos de defesa no decorrer da sua obra e seu
trabalho foi continuado por sua filha Anna Freud; os principais mecanismos são:[8]

Repressão é o processo pelo qual se


afastam da consciência conflitos e
frustrações demasiadamente
dolorosos para serem experimentados
ou lembrados, reprimindo-os e
recalcando-os para o inconsciente; o
que é desagradável é, assim,
esquecido;
Formação reativa consiste em
ostentar um procedimento e externar
sentimentos opostos aos impulsos
verdadeiros, indesejados;
Projeção consiste em atribuir a outros
as ideias e tendências que o sujeito
não pode admitir como suas;
Regressão consiste em a pessoa
retornar a comportamentos imaturos,
característicos de fase de
desenvolvimento que a pessoa já
passou;
Fixação é um congelamento no
desenvolvimento, que é impedido de
continuar. Uma parte da líbido
permanece ligada a um determinado
estágio do desenvolvimento e não
permite que a criança passe
completamente para o próximo
estágio. A fixação está relacionada
com a regressão, uma vez que a
probabilidade de uma regressão a um
determinado estágio do
desenvolvimento aumenta se a pessoa
desenvolveu uma fixação por este;
Sublimação é a satisfação de um
impulso inaceitável através de um
comportamento socialmente aceito;
Identificação é o processo pelo qual
um indivíduo assume uma
característica de outro. Uma forma
especial de identificação é a
identificação com o agressor;
Deslocamento é o processo pelo qual
agressões ou outros impulsos
indesejáveis, não podendo ser
direcionados à(s) pessoa(s) a que se
referem, são direcionadas a terceiros.
As fases do desenvolvimento
psicossexual
Uma importante parte da teoria freudiana é dedicada ao desenvolvimento da
personalidade. Duas hipóteses caracterizam sua teoria:[8]

Freud foi o primeiro a afirmar que os


primeiros anos da vida são os mais
importantes para o desenvolvimento
da pessoa e o desenvolvimento do
indivíduo se dá em fases ou estádios
psico-sexuais. Freud foi, assim, o
primeiro autor a afirmar que as
crianças também têm uma
sexualidade.
Freud descreve quatro fases distintas, pelas quais a criança passa em seu
desenvolvimento. Cada uma dessas fases é definida pela região do corpo a que as
pulsões se direcionam. Em cada fase surgem novas necessidades que exigem
satisfação; a maneira como essas necessidades são satisfeitas determina como a
criança se relaciona com outras pessoas e quais sentimentos ela tem para
consigo mesma. A transição de uma fase para outra é biologicamente
determinada, de tal forma que uma nova fase pode iniciar sem que os processos
da fase anterior tenha se completado. As fases se seguem umas às outras em
uma ordem fixa e, apesar de uma fase se desenvolver a partir da anterior, os
processos desencadeados em uma fase nunca estão plenamente completos e
continuam agindo durante toda a vida da pessoa.[8]

A fase oral
A primeira fase do desenvolvimento é a fase oral, que se estende desde o
nascimento até aproximadamente dois anos de vida. Nessa fase a criança
vivencia prazer e dor através da satisfação (ou frustração) de pulsões orais, ou
seja, pela boca. Essa satisfação se dá independente da satisfação da fome, mas
inicialmente por ela. Assim, para a criança sugar, mastigar, comer, morder, cuspir
etc. têm uma função ligada ao prazer, além de servirem à alimentação. Ao ser
confrontada com frustrações a criança é obrigada a desenvolver mecanismos
para lidar com tais frustrações. Esses mecanismos são a base da futura
personalidade da pessoa. Assim, uma satisfação insuficiente das pulsões orais
pode conduzir a uma tendência para ansiedade e pessimismo; já uma excessiva
satisfação pode levar, através de uma fixação nessa fase, a dificuldades de aceitar
novos objetos como fonte de prazer/dor em fases posteriores, aumentando assim
a probabilidade de uma regressão.[8]

A fase oral se divide em duas fases menores, definidas pelo nascimento dos
dentes. Até então a criança se encontra em uma fase passiva-receptiva; com os
primeiros dentes a criança passa a uma fase sádica-ativa através da possibilidade
de morder. O principal objeto de ambas as fases, o seio materno, se torna, assim,
um objeto ambivalente. Essa ambivalência caracteriza a maior parte dos
relacionamentos humanos, tanto com pessoas como com objetos.[8]

A fase oral apresenta, assim, cinco modos de funcionamento que podem se


desenvolver em características da personalidade adulta:[8]

1. O incorporar do alimento se mostra


no adulto como um "incorporar" de
saber ou poder, ou ainda como a
capacidade de se identificar com
outras pessoas ou de se integrar
em grupos;
2. O segurar o seio, não querendo se
separar dele, se mostram
posteriormente como persistência e
perseverança ou ainda como
decisão;
3. Morder é o protótipo da
destrutividade, assim do sarcasmo,
cinismo e tirania;
4. Cuspir se transforma em rejeição e;
5. O fechar a boca, impedindo a
alimentação, conduz a rejeição,
negatividade ou introversão.
O principal processo na fase oral é a criação da ligação entre mãe e filho.[8]

A fase anal
A segunda fase, segundo Freud, é a fase anal, que vai aproximadamente do
primeiro ao terceiro ano de vida. Nessa fase a satisfação das pulsões se dirige ao
ânus, ao controle da tensão intestinal. Nessa fase a criança tem de aprender o
controle dos esfincteres sobre o ato de defecar e, dessa forma, deve aprender a
lidar com a frustração do desejo de satisfazer suas necessidades imediatamente.
Como na fase oral, também os mecanismos desenvolvidos nesta fase influenciam
o desenvolvimento da personalidade. O defecar imediato e descontrolado é o
protótipo dos ataques de raiva; já uma educação muito rígida com relação à
higiene pode conduzir tanto a uma tendência ao caos, aos descuido, à bagunça
quanto a uma tendência a uma organização compulsiva e exageradamente
controlada. Se a mãe faz elogios demais ao fato de a criança conseguir esperar
até o banheiro, pode surgir uma ligação entre dar (as fezes) e receber amor, e a
pessoa pode desenvolver generosidade; se a mãe supervaloriza essas
necessidades biológicas, a criança pode se desenvolver criativa e produtiva ou,
pelo contrário, se tornar depressiva, caso ela não corresponda às expectativas;
crianças que se recusam a defecar podem se desenvolver como colecionadores,
coletores ou avaros.[8]

A fase fálica
A fase fálica, que vai dos três aos cinco anos de vida, se caracteriza segundo
Freud pela importância da presença (ou, nas meninas, da ausência) do falo ou
pênis; nessa fase prazer e desprazer estão, assim, centrados na região genital. As
dificuldades dessa fase estão ligadas ao direcionamento da pulsão sexual ou
libidinosa ao genitor do sexo oposto e aos problemas resultantes. A resolução
desse conflito está relacionada ao complexo de Édipo e à identificação com o
genitor de mesmo sexo.[8]
Freud desenvolveu sua teoria tendo sobretudo os meninos em vista, uma vez que,
para ele, estes vivenciariam o conflito da fase fálica de maneira mais intensa e
ameaçadora. Segundo Freud o menino deseja nessa fase ter a mãe só para si e
não partilhá-la mais com o pai; ao mesmo tempo ele teme que o pai se vingue,
castrando-o. A solução para esse conflito consiste na repressão tanto do desejo
libidinoso com relação à mãe como dos sentimentos agressivos para com o pai;
em um segundo momento realiza-se a identificação do menino com seu pai, o que
os aproxima e conduz, assim, a uma internalização por parte do menino dos
valores, convicções, interesses e posturas do pai. O complexo de Édipo representa
um importante passo na formação do superego e na socialização dos meninos,
uma vez que o menino aprende a seguir os valores dos pais. Essa solução de
compromisso permite que tanto o ego (através da diminuição do medo) e o id (por
o menino poder possuir a mãe indiretamente através do pai, com o qual ele se
identifica) sejam parcialmente satisfeitos.[8]

O conflito vivenciado pelas meninas é parecido, contudo com mais possibilidades


de solução. A menina deseja o próprio pai, em parte devido à inveja que sente por
não ter um pênis (al. Penisneid); ela sente-se castrada e culpa à própria mãe por tê-
la privado de um falo. Por outro lado, a mãe representa uma ameaça menos séria,
uma vez que uma castração não é possível. Devido a essa situação diferente, a
identificação da menina com a própria mãe é menos forte do que a do menino
com seu pai e, por isso, as meninas teriam uma consciência menos desenvolvida -
afirmação esta que foi rejeitada pela pesquisa empírica.[8] Freud usou o termo
"complexo de Édipo" para ambos os sexos; autores posteriores limitaram o uso da
expressão aos meninos, reservando para as meninas o termo "complexo de
Electra", mas que foi rejeitado por Freud no texto "Sobre a Sexualidade Feminina"
de 1931.

A apresentação do complexo de Édipo dada acima é, no entanto, simplificada. Na


realidade o resultado da resolução do complexo de Édipo é sempre uma
identificação como ambos os pais e a força de cada uma dessas identificações
depende de diferentes fatores, como a relação entre os elementos masculinos e
femininos na predisposição fisiológica da criança ou a intensidade do medo de
castração ou da inveja do pênis. Além disso, a mãe mantém em ambos os sexos
um papel primordial, permanecendo sempre o principal objeto da libido.[8]
O período de latência
Depois da agitação dos primeiros anos de vida segue-se uma fase mais tranquila
que se estende até a puberdade. Nessa fase a libido é desinvestida das fantasias
e da sexualidade, tornando-as secundárias, mas reinvestida em outros meios
como o desenvolvimento cognitivo, aprendizado, a assimilação de valores e
normas sociais que se tornam as atividades principais da criança, continuando o
desenvolvimento do ego e do superego.[8]

A fase genital
A última fase do desenvolvimento psicossocial é a fase genital, que se dá durante
a adolescência. Nessa fase as pulsões sexuais, depois da longa fase de latência e
acompanhando as mudanças corporais, despertam-se novamente, mas desta vez
se dirigem a uma pessoa do sexo oposto, ou não (onde entra a questão da
homossexualidade). Como se depreende da explanação anterior, a escolha do
parceiro não se dá independente dos processos de desenvolvimento anteriores,
mas é influenciada pela vivência nas fases anteriores. Além disso, apesar de
continuarem agindo durante toda a vida do indivíduo, os conflitos internos típicos
das fases anteriores atingem na fase genital uma relativa estabilidade conduzindo
a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os desafios da idade
adulta.[8]

A teoria psicanalítica dos


transtornos mentais
Os transtornos mentais caracterizam uma faixa que vai desde formas neuróticas
leves até a loucura, na plenitude do seu termo. "Normal" seria aquela
personalidade com capacidade de viver eficientemente, manter um
relacionamento duradouro e emocionalmente satisfatório com outras pessoas,
trabalhar produtivamente, repousar e divertir-se, ser capaz de mensurar, julgar e
lidar com base realista suas qualidades e imperfeições, aceitando-as como são.

No início de sua obra, Freud dividiu os transtornos emocionais, que então ele
denominava psiconeuroses, em três categorias psicopatológicas: 1) As neuroses
atuais. 2) As neuroses transferenciais, também conhecidas como psiconeuroses
de defesa (que eram as histerias, as fobias e as obsessivas). 3) As neuroses
narcisistas (que constituem os atuais quadros psicóticos). De lá para cá, muita
coisa modificou substancialmente. Os autores discutem a adequação ou não do
termo “perversão” para nomear uma determinada categoria de pacientes que
apresentam uma série de características comuns e típicas entre eles, levando em
conta o fato de que essa denominação tem o inconveniente de estar impregnada
de “pré-conceitos”, especialmente os de ordem moral e ética, o que nem sempre
faz jus à seriedade e à profundidade com que tais pacientes merecem ser
compreendidos e analisados.[9]

Classificam-se os transtornos mentais em 3 grandes tipos básicos:[10]

Primeiro tipo: neuroses


É a existência de tensão excessiva e prolongada, de conflito persistente ou de uma
necessidade prolongadamente frustrada, é sinal de que na pessoa se configurou
uma neurose. A neurose determina uma modificação, mas não uma
desestruturação da personalidade e muito menos de perda de valores da
realidade. Com o desenvolvimento da psicanálise, o conceito evoluiu, até
finalmente encontrar lugar no interior de uma estrutura tripartite, ao lado da
psicose e da perversão. Em consequência disso, do ponto de vista freudiano,
classificam-se no registro da neurose a histeria, a fobia e a neurose obsessiva, às
quais é preciso acrescentar a neurose atual, que abrange a neurose de angústia e
a neurastenia, e a psiconeurose, que abarca a neurose de transferência e a
neurose narcísica.[10]

Costuma-se catalogar os sintomas neuróticos em certas categorias, como:


a) Histeria - Quando um conflito psíquico encontra saída através de conversões.
Neste tipo de neurose, a ideia conflitiva com o ego é convertida em sintomas
físicos, como cegueira, mutismo, paralisias, etc; que não têm origens orgânicas.
Atualmente a histeria foi banida dos manuais psiquiátricos, o que leva muitas
pessoas da área de saúde, inclusive psicólogos, a acreditarem que a histeria não
existe mais. Porém, a histeria ainda existe e sempre existirá, mesmo que os
sintomas possam variar de acordo com a sociedade e o tempo a que se refere.
Algo bastante específico da histeria é sua referência ao corpo e à sexualidade,
especialmente com questão à "o que é uma mulher?".[carece de fontes

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]

b) de Ansiedade (de angústia) - a pessoa é tomada por sentimentos generalizados


e persistente de intensa angústia sem causa objetiva. Alguns sintomas são:
palpitações do coração, tremores, falta de ar, suor, náuseas. Há uma exagerada e
ansiosa preocupação por si mesmo.[carece de fontes

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]

c) Fobias - uma área da personalidade passa a operar por respostas de medo e


ansiedade. Na angústia o medo é difuso e quando vem à tona é sinal de que já
existia, há longo tempo. Se apresenta envolta em muita tensão, preocupação,
excitação e desorganização do comportamento. Na reação fóbica, o medo se
restringe a uma classe limitada de estímulos e representações objetais.
Geralmente verifica-se a associação do medo a certos objetos, animais ou
situações.[carece de fontes

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]

d) Obsessiva-compulsiva: a obsessão é um termo que se refere a ideias que se


impõem repetidamente à consciência. São por isto dificilmente controláveis. A
compulsão refere-se a impulsos que levam à ação. Está intimamente ligada a uma
desordem psicológica chamada transtorno obsessivo-compulsivo.[carece de fontes

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]

Segundo tipo: psicoses


Se o conceito de neurose é parte integrante do vocabulário da psicanálise, o da
psicose aparece, a princípio, como um anexo proveniente do saber psiquiátrico,
pautada numa concepção do sujeito que se organiza em torno da ideia de
alienação e perda da razão.[10]

O psicótico pode se encontrar em estado de depressão, de extrema euforia ou de


agitação. Em dado momento age de um modo e em outro se comporta de maneira
totalmente diferente. Houve uma desestruturação da sua personalidade. O dado
clínico para se aferir à psicose é a alteração dos juízos da realidade. O psicótico
passa a perceber a realidade de maneira diferente, mas não menos real em sua
percepção. Por isso afirma com convicção que tem percepções que nos parecem
irreais não apoiadas nem justificadas na lógica e na razão. Nas psicoses, além da
alteração do comportamento, são comuns alucinações (alterações dos órgãos
dos sentidos: ouvir vozes, ver coisas, sentir cheiros ou toques) e delírios
(alterações do pensamento sob forma de conspirações, perseguição, grandeza,
riqueza, onipotência ou de predestinação). As Psicoses se manifestam como:
[carece de fontes

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]

a) Esquizofrenia - apatia emocional, carência de ambições, desorganização geral


da personalidade, perda de interesse pela vida nas realizações pessoais e sociais.
pensamento desorganizado, afeto superficial e inapropriado, riso insólito, bobice,
infantilidade, hipocondria, delírios e alucinações transitórias. (Consultar DSM-V ou
CID 10 para mais subtipos)[carece de fontes

?
]

b) Maníaca-depressiva – caracteriza-se por perturbações psíquicas duradouras e


intensas, decorrentes de uma perda ou de situações externas traumáticas. O
estado maníaco pode ser leve ou agudo. É caracterizado por comportamento
exacerbado, hipersexualidade. Os maníacos são cheios de energia, inquietos,
barulhentos, falam alto e têm ideias bizarras, uma após outra. O estado
depressivo, ao contrário, caracteriza-se por inatividade e desalento. Seus sintomas
são: apatia, pesar, tristeza, desânimo, crises de choro, perda de interesse
(embotamento afetivo) pelo trabalho, por amigos e família, bem como por suas
distrações habituais. Torna-se lento na fala, não dorme bem à noite, perde o
apetite, pode ficar um tanto irritado e muito preocupado.[carece de fontes

?
]

c) Paranoia – caracteriza-se sobretudo por ilusões fixas. É um sistema delirante.


As ilusões de perseguição e de grandeza são mais duradouras do que na
esquizofrenia paranoide. Os ressentimentos são profundos. É desconfiado,
agressivo, egocêntrico e destruidor. Acredita que os fins justificam os meios e é
incapaz de solicitar carinho.[carece de fontes

?
]

d) Psicose alcoólica – é habitualmente marcada por violenta intranquilidade,


acompanhada de alucinações de uma natureza aterradora.[carece de fontes
?
]

Terceiro tipo: perversões


Os perversos, ao vivenciarem o Complexo de Édipo, se recusam a aceitar a
castração a eles imposta passando, então, há duas possibilidades: 1) aferir que
para eles não existe castração, assim, não existem limites sociais impostos às
suas ações ou 2) são eles que impõe os limites proveniente da castração aos
outros. Atualmente são comumente relacionados às psicopatias, porém se
relacionam mais abrangentemente com todas as formas de ausência de empatia
com o Outro - pela ausência de atuação do Superego.

Essa estrutura favorece o aparecimento de outros sintomas, como o fetichismo e


relações que objetificam o Outro, em troca de obtenção de prazer (parafilias).
Retomado por Sigmund Freud a partir de 1896, o termo perversão foi
definitivamente adotado como conceito pela psicanálise, que assim conservou a
ideia de desvio sexual em relação a uma norma. Não obstante, nessa nova
acepção, o conceito é desprovido de qualquer conotação pejorativa ou
valorizadora e se inscreve, juntamente com a psicose e a neurose, numa estrutura
tripartite.[10]

Avaliação e crítica da teoria


A teoria freudiana é a mais influente das teorias do desenvolvimento da
personalidade e dos transtornos mentais. Ela influenciou grande parte do
pensamento psicoterapêutico durante todo o século XX. Seus principais pontos
fortes são:[8]
1. A introdução de novos processos
psíquicos, como o inconsciente, a
sexualidade infantil, id, ego e
superego, além de acentuar a
importância dos primeiros anos de
vida para o desenvolvimento do
indivíduo;
2. a ênfase no desenvolvimento
emocional da criança, ao contrário
de outras teorias que enfatizam
somente o desenvolvimento
cognitivo. A teoria freudiana procura
explicar porque os seres humanos
não se comportam sempre de
maneira lógica e como o conteúdo
do pensamento abrange mais do
que a pesquisa cognitiva costuma
estudar.
As principais críticas à teoria freudiana referem-se a:[8]

1. Problemas metodológicos com


relação à coleta dos dados:
1. O uso dos métodos próprios
da psicanálise exige que o
pesquisador seja ele mesmo
um psicanalista. A longa
formação exigida para isso
provoca, por um lado,
problemas práticos e
também problemas com
relação à imparcialidade da
pesquisa, uma vez que após
a longa formação
psicanalítica um
pesquisador dificilmente
poderá ser imparcial.
2. As sessões
psicoterapêuticas de Freud,
com base nas quais suas
teorias foram desenvolvidas,
não foram gravadas, mas
reconstruídas de memória,
às vezes imediatamente
depois das sessões, às
vezes apenas horas mais
tarde. Dessa forma suas
anotações podem ser
vítimas das distorções
típicas da memória, um
problema similar se refere a
basear teorias sobre a
infância em lembranças de
adultos.
2. Problemas metodológicos com
relação à possibilidade de
comprovação da teoria: os
conceitos freudianos são de difícil
definição e operacionalização. Isso
quer dizer que um mesmo
comportamento observável pode
ser explicado por diferentes
processos psíquicos e vice-versa, o
que dificulta a realização de um
exame empírico de tais conceitos.
3. A ênfase excessiva da sexualidade
infantil: Apesar de ter sido a
primeira a chamar a atenção para
essa face até então desconhecida
do desenvolvimento humano,
deixou de lado muitas outras faces,
como a influência social. Assim,
Malinowski encontrou entre os
povos de Papua-Nova Guiné por ele
pesquisados poucos indícios do
complexo de Édipo, tal como
descrito por Freud. Ligado a esse
problema se encontra outro, ligado
à estrutura tautológica com que a
teoria freudiana muitas vezes se
reveste: criticas à teoria são, por
vezes, vistas como formas de
repressão dos conteúdos
inconscientes.
Desenvolvimento posterior
O trabalho de Sigmund Freud foi continuado por sua filha Anna Freud e por outros
autores, que procuraram desenvolver a teoria, enfatizando outros aspectos e
procurando solucionar os pontos críticos, entre eles os que mais se destacam são
os psicanalistas Sándor Ferenczi, Melanie Klein, Donald Winnicott, Jacques Lacan,
Wilfred Bion, Erik Erikson e Heinz Kohut; os humanistas Abraham Maslow e Carl
Rogers; o fundador da psicologia do desenvolvimento individual Alfred Adler;
Karen Horney, Wilhelm Reich e o fundador da psicologia analítica Carl Jung.

Ver também

Noções Básicas de Psicanálise — livro


introdutório
Psicologia
Psicanálise
Psicoterapia
Pesquisa psicanalítica
Antropologia e psicanálise
Bibliografia

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ISBN 3 540 66230 8
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Psicopatologia e semiologia dos
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Artes médicas. ISBN 85-7307-595-3
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Psicanalítica2ª Ed. Porto Alegre-RS:
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