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Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Campus Maringá

Curso de Psicologia – 2º bim. 4º período 2019


Disciplina: Fundamentos Epistem. das Teorias da Personalidade
Docente : Vinícius Romagnolli
Discentes: Gracielle Silva Lima

Fichamento capítulos 01 e 02
FEIST, Jess; FEIST, J.; ROBERTS, Tomi-Ann. Teorias da personalidade. 8ª ed.
Porto Alegre: AMGH, 2015, p. 02-42.

CAP. 1 – INTRODUÇÃO À TEORIA DA PERSONALIDADE

Derivada do latim persona, que designava a máscara teatral utilizada pelos


autores gregos e romanos, o termo personalidade, contrariando o sentido superficial
oferecido por sua origem latina, foi adotado pelos profissionais da psicologia como
referência de algo que extrapola o simples papel desempenhado pelas pessoas na
vida, personalidade passa a designar um conjunto padrão de traços (características
que podem ser únicas a cada sujeito ou comuns a um grupo ou mesmo
compartilhados por uma espécie inteira), relativamente permanentes, e características
únicas (atributos como temperamento, psiquê, inteligência, etc.) que dão consistência
e individualidade ao comportamento de um indivíduo.

Definição de teoria
Podemos definir teorias como ferramentas geradoras de pesquisa e
organizadoras de informações. Dentro da ciência, constitui um conjunto de
pressupostos relacionados que permite a formulação de hipóteses verificáveis através
do raciocínio lógico dedutivo. Para ser considerada verdadeiramente científica, uma
teoria deve atender a alguns requisitos: a) possuir, necessariamente, mais de um
pressuposto constituindo-se em um conjunto de pressuposto inter-relacionados; b) o
raciocínio lógico-dedutivo deve ser ferramenta na geração de hipóteses. Hipóteses
são suposições específicas e suficientemente fundamentadas para sua validade seja
submetida e testada através de métodos científicos. Uma hipótese será útil somente
se puder ser verificada e c) deve possuir estrutura lógica, consistência e valor
significativo ao conceito que se propõe. Por fim, ainda que relacionadas à filosofia, à
especulação, à hipótese e à taxonomia, o conceito de teoria não deve ser confundido
aquelas. Assim, ciência é o ramo de estudo interessado na observação e classificação
dos dados e na verificação das leis gerais através do teste científico das hipóteses.
Para que seja útil, uma teoria científica deve ser dotada de 6 conceitos: 1)
capacidade de gerar pesquisa; 2) natureza refutável; 3) possuir dados organizados e
bem estruturados entre si; 4) orientar à ação oferecendo uma estrutura de respostas
aos problemas cotidianos; 5) ser internamente coerente, ou seja, ser fiel ao âmbito
aquilo que propõe respeitando seus limites; e 6) ser parcimoniosa. Entre duas teorias
sobre o mesmo objeto, aquela mais parcimoniosa, isto é, a mais simples é também a
mais útil.
As teorias da personalidade diferem entre si em questões básicas referentes à
natureza humana. Para que seja possível o exame do conceito de humanidade em
cada uma das teorias, adotamos 6 dimensões estruturais: 1) determinismo vs livre
arbítrio; 2) pessimismo vs otimismo (onde, normalmente, os teóricos deterministas
caracterizam-se também pelo pessimismo e aqueles militantes do livre arbítrio
geralmente são otimistas); 3) casualidade vs teleologia; 4) determinantes conscientes
vs determinantes inconscientes; 5) influências biológicas vs sociais; e 6)
singularidades vs semelhanças.

CAP. 2 – TEORIAS PSICODINÂMICAS – FREUD: PSICANÁLISE

Sigmund Freud (1856 – 1939) baseou-se mais no raciocínio dedutivo do que


em métodos de pesquisa rigorosos praticando observações de modo subjetivo e em
uma amostra relativamente pequena de pacientes, a maioria dos quais provinham da
classe média alta ou alta à época. Freud utilizou como abordagem, quase que
exclusivamente, o estudo de caso. Em 1885, recebeu uma bolsa de estudos pela
Universidade de Viena e foi estuda em Paris com o neurologista Jean-Martin Charcot
(1825 – 1893) com quem aprendeu a técnica da hipnose para o tratamento da histeria,
transtorno geralmente caracterizado pela paralisia ou mau funcionamento de certas
partes do corpo. A partir daí, Freud postula que a origem dos sintomas da patologia
era de origem psicogênica e sexual. Através de sua amizade com o médico vienense
Josef Breuer (1842 – 1925) aprende sobre o conceito de catarse, processo de
remoção dos sintomas histéricos por meio de sua expressão física, em um processo
de “colocá-los para fora”. Com o tempo, contudo, Freud abandona a técnica e passa
a dedicar-se à técnica da associação livre. Técnica esta que também viria a substituir
a hipnose como seu método terapêutico principal.
Após a morte do pai e demais eventos pessoais, no final da década de 1890,
começa a fazer a análise dos próprios sonhos como uma prática diária de autoanálise.
Freud apresentou, ao longo da vida, estados depressivos e dificuldade em cultivar
amizades, tornando-se com facilidade ex-amigo ou inimigo de pessoas de quem tivera
sido amigo em função de mera discordância teórica.
Para Freud, a vida mental está dividida em dois níveis: inconsciente,
subdividido, ainda, em pré-consciente e o consciente.
O inconsciente seria a área que guarda todos os impulsos, desejos e instintos
que residem para além da consciência, mas que motivam a maioria dos sentimentos,
ações e palavras. Para o psicanalista, ainda que estejamos conscientes de nossos
comportamentos explícitos, muitas vezes, estamos alheios aos processos mentais por
de trás deles. Sonhos, lapsos de linguagem e certos tipos de esquecimentos
conhecidos como repressão seriam vias de compreensão e explicação do âmbito
inconsciente da mente humana. Freud utilizava-se, ainda, do conceito de herança
filogenética, que é o fato de uma parte do nosso inconsciente ter sua origem nas
experiências de nossos ancestrais, repetidas por várias gerações, quando os demais
conceitos não davam conta de explicar as experiências individuais adequadamente.
O pré-consciente, subdivisão do próprio inconsciente, segundo Freud, é o
ambiente que guarda todos os elementos que não estão conscientes, mas que podem
tornar-se conscientes com rapidez e considerável facilidade. Tais conteúdos provêm
de duas fontes: a percepção consciente e a percepção inconsciente.
Consciente, por sua vez, refere-se ao nível de consciência que está disponível
para nosso pronto uso. Os elementos que ali residem têm duas origens: o consciente
perceptivo e a estrutura mental.
Freud classifica a mente ainda em outras 3 instâncias: id, ego e superego. O
id representa a parte mental mais primitiva, a essência da personalidade individual e
é totalmente inconsciente; o id não conserva contato com a realidade. Procura
unicamente a redução das tensões por meio da satisfação de seus desejos; o id serve
ao princípio do prazer. É amoral, desorganizado, ilógico e recebe a energia dos
impulsos básicos descarregando-os em busca de sua satisfação. Requer gratificação
imediata.
O ego, por sua vez, corresponde a instância que guarda contato com a
realidade. Desenvolve-se a partir do id, sendo, portanto, parte dele, e se torna a única
fonte de comunicação do sujeito com o mundo externo. É governado pelo princípio da
realidade, numa tentativa de substituir o princípio do prazer. Ego é o tomador de
decisões, obrigando-se a mediar as demandas incompatíveis e irrealistas do id e do
superego com as provenientes do mundo externo.
O superego é, por fim, a representação dos aspectos morais e ideais. É guiado
por princípios moralistas em absoluto antagonismo com o princípio do prazer e relativo
conflito como princípio da realidade. Desenvolve-se a partir do ego e não possuí
energia própria nem contato com o mundo externo. Subdivide-se em: consciência
como resultado de experiências punidas como impróprias e em ideal de ego, que se
desenvolve a partir de experiências recompensadas por serem consideradas
comportamentos adequados.

Dinâmicas da personalidade
Os níveis e instâncias da mente constituem a estrutura da personalidade,
contudo, Freud acreditava que a personalidade em si também desempenha um papel
nesse funcionamento. Assim, estipula um princípio motivacional que explicasse a
força motora por detrás das ações individuais pela procura do prazer e que buscam
reduzir a tensão e ansiedade. Tal energia seria derivada da energia psíquica e da
física e tem sua origem em nossos impulsos básicos.
Impulsos, nesse contexto, referem-se a estímulos internos que operam como
uma força motivacional constante. São classificados em dois grupos: sexo ou libido
(eros) e agressividade ou destruição (tânatos). Tais impulsos originam-se no id, mas
ficam sob o controle do ego. A finalidade de eros é o prazer, contudo, não apenas
limitado à satisfação genital, vide as zonas erógenas e o deslocamento objetal
proposto pela teoria freudiana do desenvolvimento psicossexual. Fenômenos como o
sadismo e o masoquismo também aparecem interligados ao conceito de eros.
Tânatos, por sua vez, é o impulso destrutivo de retornar o organismo a um estado
inorgânico, ou seja, a morte. Assim, o objetivo final do impulso agressivo é a
autodestruição do sujeito.
Eros e tânatos compartilham o centro da teoria dinâmica freudiana com o
conceito de ansiedade. Freud define ansiedade como um estado afetivo
desagradável, acompanhado de uma sensação física que alerta o indivíduo contra um
perigo iminente. Somente o ego pode produzir ou sentir ansiedade, porém, id,
superego e mundo externo são fatores envolvidos no desenvolvimento de cada um
dos 3 tipos de ansiedade – neurótica (resultado da dependência que o ego tem do id),
moral (objeto da dependência do ego em relação ao superego) e realista (produzida
pela relação de dependência entre ego e mundo externo). Normalmente, os três tipos
de ansiedade tendem a existir simultaneamente.

Mecanismos de defesa
São mecanismos de proteção do ego, presente em todos os indivíduos em
maior ou menor grau, mas que quando levados a níveis extremos culminam em
comportamentos compulsivo, repetitivo e neurótico. Quanto mais defensivos somos,
menos energia psíquica nos sobra para a satisfação dos impulsos do id. Esse é, em
sim, o objetivo do ego ao estabelecer tais mecanismos – evitar lidar diretamente com
os impulsos sexuais e agressivos e, assim, defender-se da ansiedade que os
acompanha.
Os principais mecanismos de defesa são:
a) Repressão: sempre que o ego é ameaçado por impulsos indesejados do id,
tende a se proteger reprimindo tais impulsos, ou seja, força os sentimentos
ameaçadores para o inconsciente.
b) Formação reativa: originada nos impulsos reprimidos, a formação reativa
caracteriza-se pela manifestação e deslocamento disfarçados de tais
impulsos. Identifica-se por seu caráter exagerado, obsessivo e compulsivo,
quase sempre inverso ao desejo inconsciente real.
c) Deslocamento: trata-se do redirecionamento de impulsos considerados
inaceitáveis a objetos ou pessoas ou comportamentos de forma que o
impulso original seja disfarçado ou oculto, tornando-se, então, aceitável e
possível de ser sustentado pelo ego.
d) Fixação: ocorre quando a perspectiva de ultrapassar uma fase produz
ansiedade excessiva e, a fim de evitá-la, o ego recorre à estratégia de
manter-se no estágio psicológico presente e mais confortável, vinculando a
libido permanentemente a um nível de desenvolvimento anterior e primitivo.
e) Regressão: mais comum em crianças, a regressão manifesta-se quando,
devido a episódios de grande ansiedade, a libido regride a seu estágio de
desenvolvimento anterior. Costumam ser temporárias, contrapondo-se ao
processo de fixação, que demanda gasto predominantemente permanente
de energia libidinal.
f) Projeção: ocorre quando um impulso interno produz níveis de ansiedade
não suportados pelo ego. Este, por sua vez, para reduzir tais níveis de
ansiedade, atribuí o impulso indesejado a um objeto externo ou outra
pessoa. Ou seja, trata-se do mecanismo de projetar no outro aquilo que
reside em nosso próprio inconsciente, mas que não aceitamos ou com os
quais não queremos lidar. Seu nível extremo resulta no comportamento
paranoide.
g) Introjeção: trata-se da incorporação da qualidade positiva de outras
pessoas em seu próprio ego.
h) Sublimação: define-se como a repressão do alvo genital do impulso libidinal
e sua substituição por um propósito cultural ou social.

Estágios do desenvolvimento
Para Freud, os bebês possuem uma vida sexual pré-genital, de caráter
exclusivamente autoerótico durante os primeiros 4 ou 5 anos de vida. O autor, através
de sua teoria do desenvolvimento psicossexual, dividiu o processo de
desenvolvimento nas seguintes fases caracterizadas pelo deslocamento das zonas
erógenas:
- Fase Oral, onde a o prazer reside na boca, primeiro órgão a proporcionar
prazer ao bebê. Nessa fase, o prazer é satisfeito pelo ato de sugar. Subdivide-se em
fase oral precoce e sádica.
- Fase anal, caracterizada pelo deslocamento da satisfação através de
comportamentos agressivos e pela função excretória, pelo início do controle dos
esfíncteres. Subdivide-se em fase anal inicial, com comportamentos de destruir ou
perder objetos, e fase anal final, onde surge o interesse amistoso em relação as
próprias fezes e o prazer erótico de defecar.
- Fase fálica: presente entre 3 e 4 anos de idade, define-se pelo deslocamento
da principal zona erógena para os genitais. É marcado pela diferenciação anatômica
entre os sexos masculino e feminino. É nessa fase que começamos a observar a
ocorrência dos complexos de édipo, de castração e do complexo de Eléctra.
- Período de latência: vai dos 4 ou 5 anos até a puberdade. Caracteriza-se
como um período de adormecimento sexual.
- Fase genital: inicia-se no final da puberdade e persiste por toda a vida adulta.
Caracteriza-se pelo abandono do autoerotismo e o deslocamento da libido para outras
pessoas, bem como pelo amadurecimento sexual do organismo. Os impulsos sexuais
adquirem uma organização mais completa onde as demais zonas erógenas assumem
um papel auxiliar aos genitais.
- Maturidade psicológica: estágio alcançado após a passagem pelos níveis de
desenvolvimento anteriores de forma teoricamente considerada ideal. Como todo ato
idealizado, é raramente possível ou encontrado.

Técnicas terapêuticas da psicanálise


Inicialmente, Freud utilizava-se de uma abordagem ativa, pautada na indução.
Ou seja, tal processo, muito provavelmente, produziria exatamente os resultados
buscados uma vez tratar-se de um processo altamente sugestivo. Com o tempo,
Freud percebeu que sua abordagem, muitas vezes, produzia memórias da infância
cuja comprovação de que eram, de fato, reais, ele não possuía. Foi cada vez mais
convencendo-se de que os sintomas neuróticos estavam relacionados a fantasias
infantis, e não à realidade material; assim, de forma gradual, adotou uma técnica
psicoterápica mais passiva.

O objetivo primário da terapia psicanalítica posterior de Freud era trazer à


tona lembranças reprimidas por meio da associação livre e da análise dos
sonhos. “Nossa terapia funciona transformando o que é inconsciente em
consciente, e ela funciona somente quando estiver em uma posição de
efetuar essa transformação” (Freud, 1917/1963, p. 280). De forma mais
específica, o propósito da psicanálise é “fortalecer o ego, torná-lo mais
independente do superego, ampliar seu ângulo de percepção e aumentar sua
organização, de forma que ele possa se apropriar de porções novas do id.
Onde havia id, haverá ego” (Freud, 1933/1964, p. 80)

Assim, a associação livre demanda que o paciente verbalize cada pensamento


que vier a sua mente, independente de julgamentos sobre sua adequação ou
relevância. O propósito é alcançar o inconsciente através de uma ideia consciente,
perseguindo-a ao longo da cadeia de associações até onde ela possa levar.
Outro conceito clínico psicanalítico é o de transferência, que se refere aos
sentimentos sexuais ou agressivos que o paciente desenvolve (projeta) em relação
ao analista durante o curso do tratamento. A transferência positiva permite que o
paciente reviva, em diferentes graus, experiências da infância em um ambiente não
ameaçador. Já o processo de transferência negativa na forma de hostilidade deve ser
explicado ao paciente de maneira que ele possa superar a resistência gerada ao
tratamento.
A análise do sonho, por sua vez, é um conceito que consiste em transformar o
conteúdo onírico manifesto em um conteúdo latente mais importante.

“Freud acreditava que os sonhos são motivados pela realização de desejos.


O conteúdo latente dos sonhos é formado no inconsciente e, em geral,
remonta às experiências da infância, enquanto o conteúdo manifesto, com
frequência, provém de experiências do dia anterior. A interpretação dos
sonhos serve como a “estrada real” para conhecer o inconsciente, porém os
sonhos não devem ser interpretados sem as associações do sonhador com
o sonho. O material latente é transformado em conteúdo manifesto por meio
do trabalho onírico. O trabalho onírico atinge seu objetivo mediante os
processos de condensação, deslocamento e inibição do afeto. O sonho
manifesto pode ter pouca semelhança com o material latente, mas Freud
acreditava que uma interpretação cuidadosa revelaria a conexão oculta,
rastreando o trabalho onírico retroativamente até as imagens inconscientes
serem expostas.”

Por fim, o conceito de ato falho ou parapraxia: consiste em lapsos de linguagem


(leitura errada, audição incorreta, esquecimentos, dentre outros) que, para Freud, não
representam meros erros ou acidentes ao acaso e, sim, revelações de intenções do
inconsciente do sujeito. As intenções mais fracas do pré-consciente seriam, então,
suplantadas pelas intenções do inconsciente, revelando, assim, o verdadeiro
propósito do indivíduo através de um ato falho.

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