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Freud, S. (2013). As Pulsões e Seus Destinos (P. H. Tavares, Trad.). Editora: Autêntica. (pp.
29-50).
O texto explora o impacto duradouro do ensaio de Freud, "As pulsões e seus destinos",
na psicanálise e em campos como filosofia, teoria social e literatura. O texto de Freud, escrito
durante a Primeira Guerra Mundial, tornou-se um clássico ao descrever os processos
fundamentais que moldam a clínica psicanalítica. Ele introduziu o conceito de pulsão,
fundamental para entendermos como amamos, desejamos e sofremos. Freud examina como
as pulsões podem se manifestar de diferentes maneiras, transformando-se e moldando nossas
escolhas e desejos.
A teoria das pulsões de Freud não apenas influenciou a prática analítica, mas também
gerou debates intensos, especialmente em relação à tradução do termo alemão "Trieb". A
escolha da palavra "instinto" para traduzi-lo inicialmente criou problemas, pois tinha
conotações naturalistas que não refletiam a complexidade do conceito na prática clínica. A
tradução do texto para o português optou pelo termo "pulsão", buscando preservar a riqueza e
a profundidade do conceito original.
Além do texto de Freud, esta edição inclui ensaios complementares que discutem os
desafios da tradução, o contexto epistemológico do conceito de pulsão na obra de Freud e sua
aplicação prática na clínica psicanalítica. Estes ensaios oferecem uma visão abrangente da
teoria das pulsões, explorando suas nuances linguísticas, sua evolução histórica e sua
relevância clínica. Em conjunto, o texto e os ensaios fornecem uma compreensão
aprofundada de um dos conceitos fundamentais da psicanálise, enriquecendo o leitor com
uma perspectiva multifacetada sobre a natureza humana e os processos psíquicos subjacentes.
Neste texto, Freud explora o conceito de pulsão na psicanálise. Ele começa discutindo
como as ciências não começam com definições precisas, mas sim com a descrição de
fenômenos que são posteriormente agrupados e correlacionados. Os conceitos fundamentais
em ciência começam como ideias abstratas indeterminadas, que são gradualmente definidas à
medida que o conhecimento se desenvolve.
Freud introduz o conceito de pulsão, que é uma espécie de estímulo interno para o
psíquico. Ele diferencia a pulsão de outros estímulos, como os estímulos fisiológicos.
Enquanto os estímulos externos podem ser evitados através de ações musculares (como fugir
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de uma luz forte), os estímulos pulsionais vêm de dentro do organismo e não podem ser
evitados dessa maneira. A pulsão é constante e age como uma necessidade interna, e sua
satisfação só pode ser alcançada através de uma modificação adequada da fonte interna de
estímulos.
Freud também discute a natureza biológica da pulsão, relacionando-a à tendência ou
finalidade. Ele sugere que o sistema nervoso tem a função de afastar os estímulos que o
atingem e manter-se livre de estímulos. No entanto, os estímulos pulsionais são mais
complexos e exigem atividades nervosas intricadas para lidar com eles. Essas pulsões
internas, em vez dos estímulos externos, são consideradas os verdadeiros motores do
desenvolvimento do sistema nervoso.
Segundo Freud as pulsões são fundamentais para entender o comportamento humano e
têm um papel crucial na evolução do sistema nervoso. Elas representam necessidades internas
constantes que moldam a maneira como pensamos, sentimos e agimos, e são essenciais para a
compreensão da psicologia humana.
A pulsão é vista como um conceito fronteiriço entre o corpo e a mente, representando
estímulos internos do corpo que afetam a alma:
Pressão: É o fator motor da pulsão, a quantidade de força ou exigência de trabalho que
ela representa. Toda pulsão é impelente, ou seja, tem uma força que a impulsiona.
Meta: A meta da pulsão é a satisfação, que só pode ser alcançada suspendendo o estado
de estimulação na fonte pulsional. Existem diferentes caminhos que levam a essa meta, e
podem haver metas intermediárias ou aproximações para a satisfação final.
Objeto: É o que permite à pulsão alcançar sua meta. O objeto pode ser algo externo ou
interno ao corpo, e pode ser substituído ao longo da vida. A ligação intensa da pulsão com o
objeto é chamada de fixação.
Fonte da Pulsão: É o processo somático em uma parte do corpo cujo estímulo é
representado na mente como pulsão. A origem em uma fonte somática é crucial para a
pulsão, mas geralmente só é conhecida através de suas metas.
Freud também discute a qualidade das pulsões, sugerindo que todas são
qualitativamente da mesma ordem e que suas diferenças podem estar relacionadas às diversas
fontes pulsionais. Ele menciona a possibilidade de classificar pulsões em diferentes
categorias, como pulsões de jogo, de destruição ou de sociabilidade, mas ressalta que essa
classificação é arbitrária e depende do contexto da análise.
Além disso, Freud diferencia duas categorias principais de pulsões primordiais: as
pulsões do Eu (ou de autopreservação) e as pulsões sexuais. Ele reconhece que essa
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sadismo em masoquismo, a dor pode se tornar uma meta masoquista, produzindo prazer. O
retorno ao objeto narcísico é uma característica comum nos processos de transformação das
pulsões.
Além disso, Freud destaca que o amor também tem sua ambivalência,
manifestando-se como amor-ódio, amor-ser amado e atividade-passividade. Ele sugere que a
vida anímica é governada por três polaridades: sujeito-objeto, prazer-desprazer e
ativo-passivo, e essas oposições são fundamentais para entender a complexidade das pulsões
e dos sentimentos humanos.
Freud explora as complexas dinâmicas das pulsões, relacionando-as com as
polaridades fundamentais na vida psíquica. A oposição entre Eu (sujeito) e Não-Eu (mundo
exterior) é uma das primeiras experiências do indivíduo, destacando a diferença entre
estímulos externos e pulsionais. As polaridades prazer-desprazer e ativo-passivo também
desempenham papéis cruciais na escolha de ações e na relação do Eu com o mundo.
O narcisismo, uma fase inicial em que o Eu se satisfaz autoerotica e narcisicamente, é
fundamental. Durante esse período, o mundo externo é indiferente, e o sujeito-Eu se funde
com o prazer. Com o princípio do prazer, o Eu incorpora objetos prazerosos e projeta fora o
que causa desprazer. Dessa forma, as polaridades sujeito-Eu/prazer e mundo
exterior/desprazer são estabelecidas.
O amor e o ódio surgem de origens distintas. O amor é inicialmente narcísico,
transformando-se de um amor ambivalente (incluindo fases de dominação e repúdio) para
uma síntese na fase genital. O ódio tem suas raízes no repúdio do Eu narcísico ao mundo
externo estimulante, conectando-se às pulsões de conservação do Eu. O ódio pode mesclar-se
ao amor, especialmente durante conflitos entre interesses do Eu e do amor, e pode se
transformar em ódio erótico quando o amor regressa a fases sádicas.
Finalmente, Freud explora a transformação do amar em ser amado, relacionando-a à
polaridade atividade-passividade. Essas dinâmicas pulsionais são influenciadas por três
grandes polaridades: atividade-passividade (biológica), Eu-mundo exterior (real) e
prazer-desprazer (econômica). A investigação sobre o destino pulsional do recalque é
deixada para análises posteriores.
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Neste texto, Freud discuti as diferenças entre o luto e a melancolia, buscando esclarecer
a natureza da melancolia ao compará-la com a experiência normal do luto. Ele começa
apontando que a melancolia, uma condição que pode ser vista como uma forma patológica de
luto, é uma experiência complexa e variada, o que torna difícil encontrar uma definição
precisa para ela.
Freud observa que tanto o luto quanto a melancolia são reações à perda, seja da morte
de uma pessoa querida ou de um ideal abstrato. Ambos os estados envolvem um desânimo
profundo, perda de interesse pelo mundo externo, incapacidade de amar, inibição de
realizações e, no caso da melancolia, uma diminuição da autoestima, levando a
autorrecriminações e autoinsultos.
No luto, a pessoa enfrenta a dolorosa realidade da perda, aceita que o objeto amado não
existe mais e gradualmente retira sua energia emocional (libido) das conexões com esse
objeto. No entanto, essa retirada da libido não ocorre imediatamente; há uma resistência
natural contra abandonar as ligações emocionais, mesmo quando há a possibilidade de
encontrar um novo objeto de amor. Freud destaca que, em alguns casos, essa resistência pode
ser tão forte que leva a um afastamento da realidade e a uma adesão ao objeto perdido por
meio de alucinações de desejo.
No processo de luto, a pessoa eventualmente aceita a realidade da perda e retira
gradualmente a libido de suas ligações com o objeto falecido. Esse processo, no entanto, é
demorado e requer uma grande quantidade de tempo e energia emocional. Cada memória e
expectativa ligada ao objeto perdido é revisada e, aos poucos, a libido é dissolvida dessas
lembranças, permitindo que a pessoa se liberte emocionalmente do objeto perdido.
Freud argumenta que a melancolia é essencialmente semelhante ao luto, exceto por um
aspecto crucial: a perturbação do sentimento de autoestima. Na melancolia, além dos
sintomas comuns ao luto, há uma intensa autorrecriminação e autoinsulto, muitas vezes
chegando a delírios de punição. Esse componente adicional torna a melancolia mais
complexa do que o luto, mas Freud deixa claro que ambos os estados compartilham muitas
características emocionais semelhantes, sendo a dor uma delas.
Freud explora as características da melancolia, comparando-a com o processo do luto
para entender melhor sua natureza e origem. Ele começa discutindo como a operação de
compromisso (mecanismo psíquico pelo qual o trabalho de luto é realizado), na qual o
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trabalho do luto é realizado, é extraordinariamente dolorosa, embora essa dor nos pareça
natural.
Quando alguém sofre uma perda, como a morte de um ente querido, o luto é o processo
psicológico de enfrentar e superar essa perda. Durante o luto, a pessoa experimenta intensa
tristeza, dor emocional e uma sensação de vazio devido à ausência do objeto perdido.
Freud sugere que essa dor intensa durante o luto é resultado de um conflito emocional
interno. A pessoa sente amor pelo objeto perdido, mas também pode sentir raiva ou
hostilidade em relação a esse objeto (ambivalência). Para lidar com esse conflito, o ego
realiza uma "operação de compromisso", na qual a dor emocional é canalizada e
transformada em uma forma socialmente aceitável de expressão, como tristeza e saudade.
Após o processo bem-sucedido do luto, a pessoa consegue liberar o investimento
emocional no objeto perdido e está livre para investir emocionalmente em outras áreas da
vida. Após a conclusão bem-sucedida do luto, o ego da pessoa torna-se livre novamente, sem
as amarras emocionais ao objeto perdido.
Em seguida, Freud aplica o que aprendeu com o luto à melancolia. Ele observa que a
melancolia também pode surgir como reação à perda de um objeto amado ou de algo mais
ideal, como um ideal romântico ou uma qualidade pessoal. Em alguns casos, a pessoa pode
estar ciente da perda, mas não entender completamente o que foi perdido, ou pode haver uma
perda de objeto que foi subtraída da consciência.
Freud destaca que na melancolia, ao contrário do luto, há um notável rebaixamento na
autoestima do ego. O melancólico descreve a si mesmo como indigno, incapaz e moralmente
desprezível, com autoacusação, autodepreciação e expectativa de castigo. Este estado de
delírio de inferioridade é acompanhado por insônia, recusa de alimentação e uma peculiar
supressão da pulsão de vida, que normalmente leva os seres vivos a se apegarem à vida.
O melancólico não sente vergonha diante dos outros, como alguém com sentimento de
culpa geralmente faria. Pelo contrário, ele exibe uma urgência de comunicar seu estado,
buscando alguma forma de alívio através da exposição de seus sentimentos e pensamentos.
Freud enfatiza a complexidade da melancolia, ressaltando que a dor e a autoacusação
presentes nesse estado não podem ser simplesmente negadas ou tratadas como ilusões. Ele
sugere que esses sentimentos são reais para o melancólico, mesmo que não correspondam à
verdade objetiva. Isso destaca a profundidade do sofrimento psíquico experimentado pelos
indivíduos melancólicos e a complexidade do processo psicológico subjacente a essa
condição.
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objeto foi feita sobre uma base narcísica, onde o investimento de objeto pode regredir para o
narcisismo quando encontra dificuldades.
Freud observa que a identificação narcísica com o objeto de amor se torna um
substituto para o investimento amoroso. Nesse processo, a libido não se desloca para um
novo objeto, mas é recolhida no Eu, estabelecendo uma identificação com o objeto perdido.
Isso leva à substituição do amor objetal pela identificação, um mecanismo significativo em
afecções narcísicas.
Ele também menciona que essa regressão do investimento de objeto à fase oral da
libido, que pertence ao narcisismo, é associada à melancolia. A recusa de alimentação, um
sintoma melancólico grave, é referida a essa fase do desenvolvimento libido.
Freud enfatiza que essa identificação narcísica é uma etapa inicial na escolha de objeto
e destaca a ambivalência das ligações amorosas. Na melancolia, a perda do objeto de amor é
uma oportunidade para trazer à tona essa ambivalência. O conflito de amor e ódio em relação
ao objeto é internalizado e transformado em autoacusacões. Na melancolia, o amor pelo
objeto, que não pode ser abandonado, se refugia na identificação narcísica. O ódio, então, se
volta contra esse objeto substituto, resultando em autoacusações, humilhações e sofrimento.
O sofrimento autotorturante da melancolia representa a satisfação de tendências sádicas e de
ódio, voltadas tanto contra o objeto original quanto contra o próprio eu do melancólico.
Dessa forma, Freud ilustra como a melancolia envolve complexos mecanismos
psicológicos, incluindo identificação narcísica, ambivalência e satisfação de tendências
sádicas, que se manifestam de maneiras distintas na condição melancólica.
Freud explora a natureza do complexo mecanismo psicológico que envolve a
melancolia, comparando-a com a mania e investigando a relação entre esses dois estados
emocionais opostos.
Freud discuti a tendência suicida na melancolia. Ele observa que, devido à intensidade
do amor narcísico do Eu por si mesmo, é difícil compreender como o Eu pode consentir em
sua própria destruição. No entanto, a análise da melancolia revela que o Eu só pode se matar
se puder tratar a si próprio como objeto, direcionando para si mesmo a hostilidade que
normalmente é dirigida para objetos externos. Nesse processo, o Eu é subjugado pelo objeto,
seja na intensidade do amor apaixonado ou na autodestruição. Em outras palavras, pessoa
melancólica vê a si mesma como um objeto indigno, merecedor de punição e autodestruição.
Freud associa essa dinâmica à fase anal do desenvolvimento psicossexual, em que o
controle dos esfíncteres está no centro do foco da criança. No processo de socialização, a
criança aprende a controlar suas necessidades fisiológicas. Freud argumenta que a angústia de
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objeto perdido à medida que percebe a realidade da perda. Esse desligamento acontece de
forma lenta e gradual, e à medida que o trabalho do luto é concluído, o gasto de energia
também se dissipa.
Ele então compara o trabalho do luto ao trabalho melancólico, destacando que ambos
envolvem o desligamento da libido do objeto perdido. No entanto, na melancolia, o
desligamento é mais complexo devido à ambivalência em relação ao objeto. A melancolia
envolve uma série de batalhas isoladas pelo objeto, onde o amor e o ódio lutam para desligar
ou defender a libido do objeto. Freud sugere que essas batalhas ocorrem no sistema
inconsciente (ICS), onde as tentativas de desligamento no luto também acontecem, mas no
luto, esses processos podem avançar até a consciência. No entanto, no trabalho melancólico,
essas batalhas permanecem no inconsciente devido à ambivalência constitutiva e às
experiências traumáticas com o objeto.
O desfecho característico da melancolia ocorre quando a libido ameaçada finalmente
abandona o objeto, regressando ao Eu. Após essa regressão, o conflito entre uma parte do Eu
e a instância crítica se torna consciente. Nesse ponto, o amor não é mais suspenso pela fuga
para o Eu, e o processo se torna consciente como um conflito interno.
Freud sugere que a consciência não apreende a parte essencial do trabalho melancólico.
O Eu se degrada e se enfurece contra si mesmo durante esse processo, e a consciência
compreende pouco sobre a direção desse decaimento ou como ele pode mudar. Ele argumenta
que a produção desse processo deve ser atribuída mais à parte inconsciente do trabalho, pois
há uma analogia essencial entre o trabalho da melancolia e o trabalho do luto. Assim como o
luto leva o Eu a renunciar ao objeto e oferece-lhe o prêmio de continuar a viver, a melancolia
também envolve batalhas de ambivalência que enfraquecem a fixação da libido no objeto,
"matando-o" de certa forma. O processo pode terminar no inconsciente, seja após a fúria ter
se aplacado ou depois que o objeto é abandonado como sem valor. Freud especula que o Eu
pode sentir satisfação ao reconhecer-se como superior ao objeto após esse processo.
Freud investiga a transição entre os estados emocionais de melancolia e mania.
Inicialmente, ele considerou a ambivalência (a coexistência de sentimentos opostos em
relação ao mesmo objeto) como a chave para entender essa mudança de um estado para o
outro. No entanto, ele se deparou com um problema: a ambivalência também está presente
em situações de luto ou morte, mas esses casos não resultam em estados maníacos. Freud
percebeu que havia algo mais envolvido nesse processo.
Ele concluiu que o terceiro fator crucial para a transição é a regressão da libido ao
narcisismo, é o mais eficaz na produção da mania. Em outras palavras, durante a melancolia,
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a energia emocional (libido) que normalmente é direcionada para outras pessoas ou objetos
volta-se para o próprio indivíduo, criando um intenso conflito interno. Esse conflito gera uma
ferida emocional dolorosa, que exige uma intensificação do investimento emocional para
tentar lidar com essa dor.
No entanto, Freud reconhece que a natureza econômica da dor, tanto física quanto
mental, ainda precisa ser compreendida mais profundamente para explicar completamente o
fenômeno da mania. Ele deixa em aberto essa questão, adiando a compreensão completa da
mania até que haja uma análise mais aprofundada da relação entre a economia emocional e a
experiência da dor. Freud destaca a complexidade dos problemas psíquicos e a necessidade de
abordar cada investigação com cuidado, sugerindo que a compreensão total desses fenômenos
requer mais pesquisa e insights adicionais que só poderão ser alcançados com o tempo e
novas descobertas no campo da psicologia.
Freud discute a natureza das pulsões, que são as forças motivacionais por trás das
atividades humanas. Ele começa explicando que o verdadeiro propósito vital do indivíduo é a
satisfação de suas necessidades inatas, e esse impulso é proveniente do Isso. No entanto, o Eu
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em um assassino passional, ou tornar uma pessoa tímida ou impotente se houver uma redução
substancial do fator agressivo. Freud enfatiza que não se trata de restringir uma das pulsões
fundamentais a uma parte específica da mente, mas sim reconhecer que ambas, Eros e a
pulsão de destruição, estão presentes em todas as partes da psique.
Freud introduz o termo libido para se referir à energia derivada de Eros, que
inicialmente está presente em um Eu-Isso indiferenciado. A libido serve para neutralizar as
tendências destrutivas que também existem no Eu-Isso. No entanto, Freud observa que não há
um termo análogo para a energia da pulsão de destruição.
A pulsão de destruição, ou pulsão de morte, opera no interior do indivíduo,
permanecendo silenciosa até ser direcionada para fora como pulsão de destruição. O sistema
muscular desempenha um papel importante nesse direcionamento. Com a introdução do
Supereu, parte da pulsão de agressão é internalizada no Eu, operando de forma
autodestrutiva. Freud destaca que essa contenção da agressão é contrária à saúde e pode levar
à doença, indicando que a passagem da agressão impedida para a autodestruição ocorre
quando a agressão é direcionada contra a própria pessoa.
Freud argumenta que uma porção de autodestrutividade permanece no interior do
indivíduo, e é possível que o indivíduo morra como resultado de seus conflitos internos. Em
contraste, a espécie morre após lutar contra o mundo exterior e não conseguir se adaptar às
mudanças. Freud também discute o comportamento da libido no Eu, no Isso e no Supereu.
Ele descreve o estado inicial em que o Eu é o grande reservatório da libido, chamado de
narcisismo primário absoluto. Nesse estado, o Eu é o principal objeto de investimento
libidinal. Ao longo da vida, a libido é móvel, podendo ser transferida de um objeto para
outro, mas também pode ficar fixada em certos objetos por toda a vida. Freud destaca a
importância da mobilidade da libido e a complexidade de seus padrões de fixação em objetos
específicos.
Freud explora a natureza da libido e sua relação com as zonas erógenas do corpo. Ele
começa explicando que a libido tem fontes somáticas, ou seja, surge de diferentes órgãos e
partes do corpo, e parte significativa dela converge para o Eu. Esse conceito é especialmente
evidente nas partes do corpo que estão relacionadas à excitação sexual, conhecidas como
zonas erógenas. Freud argumenta que, na verdade, o corpo inteiro é uma forma de zona
erógena, indicando a importância generalizada da sexualidade na psique humana.
A teoria de Freud sobre a libido é central neste contexto. Ele sugere que a aspiração
sexual se desenvolve gradualmente a partir de várias pulsões parciais, que representam
zonas erógenas específicas. Essas pulsões parciais são contribuições sucessivas para a
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▪ Início da Vida Sexual: Freud argumenta que a vida sexual começa muito antes da
▪ Diferenciação entre Sexual e Genital: Freud introduz uma distinção crucial entre o
▪ Amnésia Infantil: Freud observa que muitos eventos desse período inicial da
sexualidade, exceto por alguns resíduos, são esquecidos devido à amnésia infantil.
Esta amnésia é importante para a compreensão da etiologia das neuroses, condições
psicológicas que Freud acredita terem raízes no desenvolvimento sexual infantil.
Essas observações influenciaram não apenas a teoria psicanalítica sobre o
desenvolvimento humano, mas também a prática clínica da psicanálise. O entendimento da
continuidade da vida sexual desde a infância até a idade adulta e o reconhecimento da
amnésia infantil são fundamentais para a abordagem psicanalítica na compreensão das
complexidades da mente humana.
Freud explora as diferentes fases do desenvolvimento sexual infantil:
▪ Fase Oral: Esta é a primeira fase do desenvolvimento sexual, onde a boca é a zona
▪ Fase Anal-Sádica: Nesta fase, que sucede à oral, as crianças encontram prazer na
agressão e na função de excreção. Aqui, surgem impulsos sádicos, e Freud sugere que
o sadismo é uma mistura de pulsões libidinais e agressivas. Esta fase é marcada por
uma busca pelo prazer ligada à manipulação e controle, muitas vezes relacionados ao
controle dos esfíncteres.
▪ Fase Fálica: Nesta fase, que precede a fase genital, as crianças exploram suas
criança. As meninas, por sua vez, desenvolvem teorias como a da cloaca para
entender as diferenças anatômicas.
Diferenciação dos Destinos dos Sexos: Após a fase fálica, os destinos sexuais de
meninos e meninas divergem. Os meninos entram na fase edípica, onde desenvolvem
fantasias relacionadas à mãe e enfrentam o complexo de Édipo. A visão da mãe como objeto
de desejo sexual e a ameaça de castração levam à entrada no período de latência. As meninas,
ao confrontarem a falta do pênis, experienciam um choque emocional significativo. Isso pode
levar a uma retirada da vida sexual ou a desenvolvimentos de caráter específicos em resposta
a essa decepção inicial.
Coexistência e Sobreposição das Fases: Freud enfatiza que essas fases não são
claramente separadas, mas se sobrepõem e coexistem em diferentes graus. Durante as fases
iniciais, várias pulsões parciais operam de forma independente. Na fase fálica, começa uma
organização que subordina outras pulsões ao primado dos genitais, indicando o início da
coordenação das aspirações de prazer na função sexual.
▪ Fase Genital: Finalmente, na puberdade, uma quarta fase, a fase genital, é alcançada.
Nesta fase, ocorre uma organização completa da sexualidade, onde algumas cargas
libidinais da infância permanecem retidas, enquanto outras são incorporadas na
função sexual. Além disso, anseios que não se enquadram na organização genital são
reprimidos ou encontram outras formas de expressão no ego, moldando traços de
caráter e passando por processos de sublimação.
Freud explora as implicações do desenvolvimento sexual, incluindo inibições e
fixações que podem levar a distúrbios sexuais:
Inibições no Desenvolvimento: Freud observa que o desenvolvimento sexual nem
sempre ocorre de forma perfeita. Inibições no desenvolvimento podem resultar em uma
variedade de distúrbios sexuais. Essas inibições podem levar a fixações da libido em fases
anteriores do desenvolvimento, o que caracteriza o comportamento como perversão.
Homossexualidade: Freud menciona a homossexualidade como um exemplo de
inibição de desenvolvimento. Ele argumenta que a ligação homossexual com um objeto (a
atração por pessoas do mesmo sexo) está presente em todos os casos de homossexualidade,
mesmo que de forma latente (o que significa que, em um nível inconsciente, a pessoa
experimenta atração pelo mesmo sexo). A organização genital é alcançada, mas é
enfraquecida pela persistência da libido em fixações pré-genitais (a energia sexual permanece
presa em estágios anteriores de desenvolvimento, como a fase oral ou anal, em vez de se
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