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Neste mesmo texto, Freud introduz a noção de pulsões parciais ligadas a zonas erógenas
determinadas, cuja soma constitui a base da sexualidade infantil. Embora estejam ligadas à
sexualidade infantil, a puberdade não significa um abandono delas. Essas pulsões parciais
que funcionam, na infância, através de atividades parcelares, no adulto, funcionam sob a
forma dos prazeres preliminares e nas perversões. Embora na puberdade, a sexualidade
encontre certa organização, as pulsões parciais ainda se encontram ativas, mesmo que sob a
primazia dos genitais ou sob o destino do recalque.
Outro ponto importante deste texto foi a plasticidade conferida à pulsão, de forma que seu
objeto e sua finalidade são o que ela tem de mais variável, apesar de não poder prescindir
deles.
Ainda neste texto, Freud reintroduz os elementos acerca do funcionamento da pulsão que
haviam sido indicados nos três ensaios: fonte [Quelle] (processo somático que ocorre em um
órgão ou parte do corpo, mas em termos de via mental só chegamos a conhecê-lo através
das finalidades pulsionais); finalidade [Ziel] (satisfação e só pode ser alcançada através da
eliminação do estado de estimulação, conseguida por um caminho direto ou através da
combinação de várias finalidades mais próximas ou intermediárias que se combinam e se
intercambiam umas com as outras, no sentido de chegar à finalidade última);
e objeto[Objekt] (através de um objeto que a pulsão consegue alcançar sua finalidade). Ele
ainda acrescenta mais um elemento, a pressão[Drang], se caracterizando por ser uma
pressão constante e é a própria essência da pulsão. Ela é seu fator motor, sua quantidade de
força que se configura em uma exigência de trabalho ao psiquismo. Para Freud toda pulsão é
ativa e só pode falar em passividade pulsional quando referido a finalidade.
Em vista disso Freud postula a existência de uma tendência inerente ao organismo vivo a
reconduzí-lo à um estado anterior de coisas, ou melhor, fazê-lo retornar ao estado original
das coisas que é o estado inanimado, uma vez que a vida compareceu como um elemento
perturbador externo à esse estado inicial (Freud 1920, págs 53-54). Esse impulso será
denominado Pulsão de Morte e através dele Freud irá elaborar sua última teoria das pulsões,
ao mesmo tempo em que introduz a segunda tópica do aparelho psíquico. Nesta nova teoria,
a oposição não mais se dará entre pulsões sexuais, à serviço do princípio do prazer e pulsões
do ego, de caráter auto-conservativo, mas entre Pulsão de Morte e Pulsão de Vida ( Freud,
1920, pág 73). Estas últimas se contraporiam às de Morte, fazendo com que as unidades
vitais mantenham-se em funcionamento e constituam unidades cada vez mais complexas e
evoluídas, de modo a criar caminhos cada vez mais afastados, ou desviados do objetivo final
da Pulsão de Morte, que é o retorno ao inorgânico. A Pulsão de Vida impeliria o organismo
em direção à formas cada vez mais diferenciadas, tendo um caráter unificador e, portanto de
natureza sexual. A Pulsão de Morte, pelo contrário, impele o organismo no sentido de uma
descarga imediata. Esta por sua vez resultaria, em última instância, no esforço mais
fundamental inerente à toda substância viva que é o retorno ao estado inanimado, com a
eliminação de toda tensão existente (Freud, 1920, págs 53-61, 58-59, 83-85).
FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.
Rio de Janeiro: Imago, 1996.
ROUDINESCO, E. & PLON, M.; Dicionário de Psicanálise - Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro,
RJ, 1998