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• A sublimação é o destino não sexual para uma pulsão sexual. As atividades humanas extraem sua
força da pulsão sexual, mas que deslocam seu alvo para o não sexual. Tais atividades seriam as
criações literárias, artísticas e intelectuais, muito valororizadas socialmente.
• Como apresentado anteriormente no tópico 2.3 do capítulo anterior, o recalque “designa o
processo que visa a manter no inconsciente todas as idéias e representações ligadas às pulsões e
cuja realização, produtora de prazer, afetaria o equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo,
transformando-se em fonte de desprazer.” (ROUDINESCO & PLON, 1998, p.647)
• Parece-nos termos chegado, enfim, após breve explicação da teoria da pulsão de Freud, no
momento de discorrermos sobre um conceito essencial para a teoria freudiana e, sem dúvida, para a
análise deste trabalho: a pulsão de morte.
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• A partir da formulação desse conceito, Freud apresentará seu novo dualismo pulsional: as pulsões
de vida (sexuais) “versus” as pulsões de morte. Eros e Tanatos, vida e morte, em eterna luta. Freud
jamais abandonará esse dualismo, que dominou todo o panorama da teoria da pulsão em Freud.
• Diferente da pulsão sexual, regida pelo princípio do prazer, a pulsão de morte visa o mais-além.
Ela deseja muito mais do que o gozo sexual, parcial. Ela busca um gozo que é mortífero, ela quer a
Coisa (Das Ding). Para Freud, há um impossível de ser satisfeito aí porque o objeto que daria a
satisfação à pulsão, o que Freud chama de Das Ding, a Coisa, é intangível, impossível de se
conhecer. “É um objeto suposto por nosso psiquismo como objeto a ser atingido. [...] A Coisa –
objeto da pulsão de morte, objeto que propiciaria o gozo absoluto, caso ele fosse passível de ser
atingido – é precisamente o nome de uma das faces do objeto, a face real.” (JORGE, 2003, p. 31)
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• Lacan, que retomaremos a seguir, afirmará em seu Seminário 11 que “toda pulsão é pulsão de
morte”. (1969, p. 195) Inicialmente pode parecer que Lacan estaria contrariando o dualismo
freudiano. Porém, para Lacan, este monismo é freudiano e está presente em Mais Além do
Princípio do Prazer, não exatamente com essas palavras.
• O sujeito é movido por um único vetor que se dirige para Das Ding. Esse vetor é mortífero, ou
seja, o que a pulsão pede é a morte. Por isso, dizer-se que o objetivo da vida é a morte
“enquanto anulação radical das tensões internas vividas pelo organismo vivo e pelo
psiquismo.” (JORGE, 2003, p. 33) Como Freud apresenta, este seria “o ‘princípio de Nirvana’,
para tomar de empréstimo uma expressão de Barbara Low [Psycho-Analysis, 1920, p. 73]”.
(FREUD, 1920, p. 71)
• Freud também citará Schopenhauer quando este diz que a morte é o “verdadeiro resultado e,
até esse ponto, o propósito da vida” [Schopenhauer (1851;Sämtiliche Werke, coord. De
Hübscher, 1938, vol.5, 236)] e acrescentará que “[...] a pulsão sexual é a corporificação da
vontade de viver.” (idem, 1920, p. 64)
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• O sujeito é movido por um único vetor que se dirige para Das Ding. Esse vetor é mortífero, ou
seja, o que a pulsão pede é a morte. Por isso, dizer-se que o objetivo da vida é a morte
“enquanto anulação radical das tensões internas vividas pelo organismo vivo e pelo
psiquismo.” (JORGE, 2003, p. 33) Como Freud apresenta, este seria “o ‘princípio de Nirvana’,
para tomar de empréstimo uma expressão de Barbara Low [Psycho-Analysis, 1920, p. 73]”.
(FREUD, 1920, p. 71)
• Freud também citará Schopenhauer quando este diz que a morte é o “verdadeiro resultado e,
até esse ponto, o propósito da vida” [Schopenhauer (1851;Sämtiliche Werke, coord. De
Hübscher, 1938, vol.5, 236)] e acrescentará que “[...] a pulsão sexual é a corporificação da
vontade de viver.” (idem, 1920, p. 64)
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• Em seu texto O Mal estar na cultura (1930[1929]), não à toa representado no título desta
dissertação, tivemos acesso às considerações freudianas que norteiam quase toda a nossa
análise.
• O tema principal nesse ensaio é o antagonismo inevitável entre as exigências pulsionais e as
restrições impostas pela cultura. Freud define três causas para o sofrimento humano: a
fragilidade de nossos corpos, o poder implacável da natureza e o caráter insatisfatório dos laços
sociais. Nesse ensaio, ele estuda o sofrimento proveniente desta última fonte. Isso muito nos
interessa para tentarmos compreender as dificuldades nos relacionamentos entre os sujeitos nas
empresas, causa de intenso mal-estar.
• A cultura, que surge para minimizar o sofrimento gerado pelos laços através do Estado e da
família, em contrapartida, impõe limites à busca do prazer, evidenciando-se também como fonte
de sofrimento.
• Não admira que, sob a pressão de todas essas possibilidades de sofrimento, os homens se
tenham acostumado a moderar suas reivindicações de felicidade – tal como, na verdade, o
princípio do prazer, sob a influência do mundo externo, se transformou no mais modesto princípio
da realidade -, que um homem pense ser ele próprio feliz, simplesmente porque escapou à
infelicidade ou sobreviveu ao sofrimento, e que, em geral, a tarefa de evitar o sofrimento coloque
a de obter prazer em segundo plano. (FREUD, 1930 [1929] pp.95-6)
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• Freud discorre sobre o antagonismo presente na cultura e fonte de sofrimento: o homem não
vive sem a cultura, mas não consegue ser feliz nela por esta limitar as pulsões sexuais e de
agressividade. “Não é fácil entender como pode ser possível privar de satisfação uma pulsão.
Não se faz isso impunemente. Se a perda não for economicamente compensada, pode-se ficar
certo de que sérios distúrbios decorrerão disso.”(idem, 1930[1929], p. 118)
• É fundamental compreender que para Freud o ódio é primário, sendo o amor um destino da
pulsão já apresentado anteriormente, a reversão ao seu oposto.
• Ele citará Plauto, “O homem é o lobo do homem” (Asinaria, II, iv.88) para evidenciar que “Os
homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se
quando atacadas, pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes pulsionais deve-se levar em
conta uma poderosa quota de agressividade.” (FREUD, 1930 [1929], p. 133).
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• Ele dirá que essa agressividade inerente ao humano que gera conflito entre os sujeitos.
• A civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para as pulsões
agressivas do homem e manter suas manifestações sob controle por formações psíquicas reativas.
[...] A existência da inclinação para a agressão, que podemos detectar em nós mesmos e supor com
justiça que ela está presente nos outros, constitui o fator que perturba nossos relacionamentos com o
nosso próximo e força a cultura a um tão elevado dispêndio [de energia]. (FREUD, 1930 [1929], p.
134)
• Com o processo civilizatório pretende-se unir sujeitos numa sociedade ligada por vínculos libidinais.
O trabalho de Eros é este, a união.
•A necessidade, as vantagens do trabalho em comum, por si sós, não as manterão unidas. Mas a
natural pulsão agressiva do homem, a hostilidade de cada um contra todos e a de todos contra um, se
opõe a esse programa da civilização. Essa pulsão agressiva é o derivado e a principal representante
da pulsão de morte, que descobrimos lado a lado de Eros e que com este divide o domínio do mundo.
(FREUD, 1930 [1929], pp.144-5)
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• Para manter o grupo unido, é necessário que a agressividade seja lançada para fora. “É sempre
possível unir um considerável número de pessoas no amor, enquanto sobrarem outras pessoas para
receberem as manifestações de sua agressividade. [...] Dei a esse fenômeno o nome de ‘narcisismo
das pequenas diferenças’. (idem, 1930 [1929], p.136). Esse conceito será articulado a posteriori para
evidenciar a existência dos pequenos feudos nas empresas, representados pelas áreas ou setores,
em constante disputa interna.
•É o supereu, a consciência moral, o principal agente normatizador a favor da cultura. A cultura
domina a agressividade a partir da autoridade que é “internalizada através do estabelecimento de um
superego” (idem, 1930 [1929], p.148). Freud fala então do sentimento de culpa. Pelo medo da
autoridade externa - o pai - a criança renuncia a pulsão para não perder o seu amor. Ao renunciar, o
sentimento de culpa desaparece. “Quanto ao medo do superego, porém, o caso é diferente. Aqui a
renúncia pulsional não basta, pois o desejo persiste e não pode ser escondido do superego. Assim, a
despeito da renúncia efetuada, ocorre um sentimento de culpa.” (idem, 1930 [1929], p.151) Esse
sentimento de culpa inconsciente nem sempre é percebido como tal, sendo atribuído como um mal
estar.
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• A pulsão de morte na sua face destrutiva se evidencia tanto em condutas sociais triviais como em
situações percebidas como marginais, cruéis. Quando as forças mentais que controlam a
agressividade então fora de combate, o humano é capaz de aniquilar o seu semelhante.
• Nesse sentido, uma consideração pode ser que a exploração do trabalho, a hostilidade, as ofensas,
o abuso de poder, o assédio moral são expressões dessa pulsão nas organizações, muitas vezes
travestidas por uma cultura organizacional que promove e autoriza tais condutas.
•Tratando-se da questão do poder, é interessante destacar, no entanto, que Freud chamará de utopia
comunista as premissas do sistema comunista e dirá que os comunistas se enganam em acreditar
que a instituição da propriedade privada é o grande mal da humanidade.
•[...] as premissas psicológicas em que o sistema se baseia são uma ilusão insustentável. [...] A
agressividade não foi criada pela propriedade. [...] Se eliminarmos os direitos pessoais sobre a
riqueza material, ainda permanecem, no campo dos relacionamentos, prerrogativas fadadas a se
tornarem a fonte da mais intensa antipatia e da mais violenta hostilidade entre homens que, sob
outros aspectos, se encontram em pé de igualdade.” (FREUD, 1930 [1929], pp.135-6)
A PULSÃO DE MORTE EM FREUD
• Para finalizar, acrescentamos uma das passagens conclusivas deste ensaio, onde Freud dirá que
• A questão fatídica para a espécie humana parece-me ser saber se, e até que ponto, seu
desenvolvimento cultural conseguirá dominar a perturbação de sua vida comunal causada pelo instinto
humano de agressão e autodestruição. Talvez, precisamente com relação a isso, a época atual
mereça um interesse especial. Os homens adquiriram sobre as forças da natureza um tal controle,
que, com sua ajuda, não teriam dificuldades em se exterminarem uns aos outros, até o último homem.
Sabem disso, e é daí que provém grande parte de sua atual inquietação, de sua infelicidade e de sua
ansiedade. Agora só nos resta esperar que o outro dos dois ‘Poderes Celestes’, o eterno Eros,
desdobre suas forças para se afirmar na luta com seu não menos imortal adversário. Mas quem pode
prever com que sucesso e com que resultado? (FREUD, 1930[1929], p. 170-1)
A PULSÃO DE MORTE EM LACAN
• Lacan, que retomaremos a seguir, afirmará em seu Seminário 11 que “toda pulsão é pulsão de
morte”. (1969, p. 195) Inicialmente pode parecer que Lacan estaria contrariando o dualismo
freudiano. Porém, para Lacan, este monismo é freudiano e está presente em Mais Além do
Princípio do Prazer, não exatamente com essas palavras.
• Para Freud, a sexualidade é um freio. Sem a dimensão sexual, tem-se o pior, o mais além, a
pulsão de morte. O amor, o cuidado e o desejo do Outro, articulados, que produzem esse freio. O
que Freud chamou de morte, Lacan nomeou de gozo. “Pois o caminho para a morte nada mais é
do que aquilo que se chama gozo.” ( LACAN, 1969, p. 17). “Gozo é precisamente o nome que
Lacan deu à morte introduzida por Freud, em “Mais-além do princípio de prazer”. (JORGE, 2003,
p. 33) Lacan denominou de empuxo ao gozo a direção desse vetor da pulsão.
A PULSÃO DE MORTE EM LACAN
• Para que esse vetor não funcione de maneira autônoma é necessária a ação do recalque
originário, ou seja, de colocar uma fantasia inconsciente no lugar do furo, da falta, do vazio. A
fantasia é o suporte do desejo do sujeito. Como sujeito barrado pela ação do recalque, a “entrada
em ação da fantasia é o que freia o empuxo-ao-gozo inerente à exigência imperiosa da pulsão de
morte em obter a satisfação absoluta a qualquer preço.”(idem, 2003, p. 34) A pulsão quer Das
Ding, mas recebe objetos que assumem a função de objeto a, na sua face simbólica e imaginária,
que oferece nome e imagem ao que não tem nome nem imagem (Das Ding). O conceito
lacaniano de objeto a, objeto causa do desejo, o objeto faltoso da pulsão, na sua face real é Das
Ding.
• Compreendam que o objeto do desejo é a causa do desejo, e esse objeto causa do desejo é o
objeto da pulsão – quer dizer, o objeto em torno do qual gira a pulsão. [...] Não é que o desejo se
prenda ao objeto da pulsão – o desejo faz seu contorno, na medida em que é dele que se trata na
pulsão. (LACAN, 1964, pp. 229-230)
• O que nos parece relevante do conceito de pulsão de morte para a articulação com o presente
trabalho é a forma pela qual ela se faz presente, principalmente na sua face agressiva.
A PULSÃO DE MORTE EM LACAN
• Para a psicanálise, a cultura se edifica na ‘perda de gozo’. O sujeito é barrado pela ação do
recalque. É o Nome-do-Pai, o Não-do-Pai, a metáfora paterna, que diz não ao gozo absoluto, que diz
não ao desejo da mãe pelo bebê e do bebê pela mãe.
• A metáfora paterna, pois, concerne à função do pai, como se diria em termos de relações inter-
humanas. [...] A função do pai está no centro da questão do Édipo, e é aí que vocês a vêem
presentificada. [...] Não existe a questão do Édipo quando não existe o pai, e, inversamente, falar do
Édipo é introduzir como essencial a função do pai. [...] O pai intervém em diversos planos. Antes de
mais nada, interdita a mãe. [...] Por outro lado, o que o pai proíbe? [...] Ele proíbe a mãe. Como objeto,
ela é dele, não é do filho. [...] O pai efetivamente frustra o filho da posse da mãe. (LACAN, 1958, pp.
167-178)
• É essa perda de gozo que constitui a civilização. O mal-estar é irrevogável, é a marca de uma
cultura, a marca de um sujeito. É o resultado do confronto imbatível entre Eros e Tanatos, vida e
morte.
A PULSÃO DE MORTE EM LACAN
• No entanto, vivemos numa sociedade hipermoderna, numa civilização que favorece o gozo. Isso
produz um excesso de gozo que pode levar a disfusão pulsional – a pulsão de morte. Podemos
pensar que nas organizações existem sujeitos que se colocam numa posição de poder, que
reivindicam para si o gozo absoluto.
• Apesar de concordarmos com isso, precisamos considerar que a sociedade atual globalizada,
diferente da que viveu Freud, está inscrita num sistema econômico e ideológico capitalista que
promete o impossível: liquidar o mal-estar através do consumo de produtos que, na função do objetos
a, prometem substituir a falta-a-ser . “Em nossos tempos, a verdade que nos interessa gira em torno
dos inúmeros objetos feitos pela ciência para causar nosso desejo, e que encontramos em todas as
vitrines, como se estivessem nos chamando e nos prometendo um mais-de-gozar.” (MAURANO,
2006, p. 210)
• O conceito lacaniano do mais-de-gozar provém do conceito de Karl Marx de mais-valia. A mais-valia
é a diferença entre o valor do que o trabalhador produz e o valor de seu salário, ou seja, este
excedente é a mais-valia do capitalista e a mola e essência da exploração do sistema capitalista.
(CATANI, 1995)
A PULSÃO DE MORTE EM LACAN
• [...] em Marx, o a que ali está é reconhecido como funcionando em um nível que se articula como
mais-de-gozar. Eis o que Marx descobre como o que verdadeiramente se passa no nível da mais-
valia. [...] Só que antes dele ninguém sabia o seu lugar [da mais valia]. Era o mesmo lugar ambíguo do
trabalho a mais, do mais de trabalho. O que é que isso paga senão justamente o gozo. [...] (LACAN,
1969, p.18)
• Freud em seu texto Análise terminável e interminável (1937), apresenta três tarefas impossíveis de
se realizarem que expressam o mal-estar na cultura: “governar, educar e analisar”.
• Lacan desenvolve a teoria dos quatro discursos e articula o ato de “Governar” ao “discurso do
mestre” ou do Senhor, onde o poder domina e de onde se inicia todo saber – o outro é um escravo,
um trabalhador; “Educar” relaciona-se ao “discurso universitário”, onde domina o saber – o outro é um
objeto, o ‘ensinável’; “Analisar”, ao “discurso do analista”, marcado pela castração – o outro é um
sujeito.
A PULSÃO DE MORTE EM LACAN
• Em seu seminário XVII, O Avesso da Psicanálise (1970), Lacan apresenta essa teoria e inclui o
quarto discurso nomeando-o de “fazer desejar”. Esse seria o discurso da histérica articulado à criação
da psicanálise. A histérica, que é o agente, o sujeito dividido, provoca pelo real do seu sofrimento, o
outro, que é o mestre-cientista (Freud) a invocar um saber que ele cria, produz (a psicanálise).
• Numa sociedade de consumo, a variante do discurso do mestre é o discurso do capitalista
acrescentado à teoria do discurso, por Lacan. O capital é o mestre, sujeito e objeto nivelam-se. Esse
discurso dominante rejeita a castração, não deixando espaço para a falta, para o desejo do sujeito.
Rompe com os laços e segrega, determinando os que têm, os que sabem, os que podem – na
sociedade, nas organizações.
• O sinal da verdade está agora em outro lugar. Ele deve ser produzido pelos que substituem o antigo
escravo, isto é, pelos que são eles próprios produtos, como se diz, consumíveis tanto quanto os
outros. Sociedade de consumo, dizem por aí. Material humano, como se enunciou um tempo – sob os
aplausos de alguns que ali viram ternura. (LACAN, 1969, p.33)
A PULSÃO DE MORTE EM LACAN
• Inseridas no contexto onde o mal-estar encontra-se no campo do gozo, numa promessa de tamponar
por completo a falta que é estrutural, e que não deixa espaço para a escuta da angústia, as
organizações trabalham com a questão da identificação do sujeito com a empresa, prometem o
impossível: a perfeição através do desenvolvimento de competências, a cultura da qualidade total e da
excelência, o sucesso a qualquer custo, a lucratividade através de bônus e premiações – que
acarretam numa maior competitividade e concorrência internas - e, com isso, o aumento da
possibilidade de consumo de gadgets (termo usado para designar os produtos gerados pela inovação
tecnológica disponíveis no mercado) – o grande apelo da sociedade de consumo.
• Alcançamos o nosso objetivo neste tópico ao concluirmos que a agressividade tão presente nos
laços sociais nas empresas, não só evidenciados nas relações de poder, motivo de muitas queixas
dos funcionários, adoecimentos, que comprometem a produtividade, não será extinta em sua
totalidade.
A PULSÃO DE MORTE EM LACAN
• Devemos estar atentos à promessa de extermínio da falta estrutural do sujeito castrado, que para a
psicanálise, será sempre incompleto. Uma promessa que aumenta o desprazer e a angústia,
decorrentes do imperatismo do consumo, do capital. Devemos pensar as ações de recursos humanos,
no sentido da escuta da angústia do sujeito singular e na revisão das políticas e ações que prometem
o irrealizável. É necessário preservar o lugar do mal-estar para que o sujeito possa desejar.
• Talvez por isso, Lacan tenha considerado esse ensaio, no seu seminário sobre a ética da psicanálise
(1959-1960), como um “livro essencial”, onde Freud fará a “síntese de sua experiência” e discorrerá
sobre a tragédia da condição humana. Assim como ele, Peter Gay considera-o como o texto mais
sombrio de Freud, em que ele aborda a questão da miséria humana.
Barbara Carissimi
A PULSÃO DE MORTE COMO
EFEITO DO SUPEREU
• Diante da relativa indefinição da noção de pulsão de morte, assim como das grandes
controvérsias a que deu lugar, a autora sugere que ao cunhar essa noção Freud apenas
sinalizou sua preocupação com os fatos clínicos que ainda não tinha levado
convenientemente em conta, e que só depois, com o desenvolvimento da teoria do supereu,
ele consegue de fato cunhar ferramentas teóricas para a clínica dos quadros de atração pelo
sofrimento e pela dor. Palavras-chave: Supereu, pulsão de morte, destrutividade, história,
energia.