Você está na página 1de 14

1 de 14

Além do Princípio do Prazer


--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER (1920) O instinto de morte de que trata o texto não
é empiricamente apreensível e têm de ser captado
Esta é uma resenha do texto de Freud, de igual título, de 1920,
contido no vol. XVIII, da Edição Standard Brasileira das
através de inferências. É um conceito elaborado
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Imago Edito- teoricamente e não extraído de forma direta da clíni-
ra, 1974. No geral ela mantém as palavras do próprio autor, ca. Freud demonstrou que enquanto permanece
mas é re-escrita de modo a tornar a linguagem mais fácil de ser interno ele é silencioso e que só se tem notícias dele
entendida. Alguns comentários adicionais são introduzidos. Ela quando se torna externo e assume a forma de com-
não visa substituir a leitura do texto original – que é aconselha-
da -, mas apenas facilitá-la. È um texto de divulgação e não se pulsão a repetir ou de agressividade.
presta a uma leitura crítica. Os trechos entre [.....] e em itálico Em seus textos não se encontra o termo
são de nossa autoria. Tânatos (na mitologia grega, a personificação da
morte) para referir-se a esse instinto, embora Ernest
[Esse texto foi redigido entre março e maio de Jones afirme que Freud o tenha utilizado em conver-
1919, quando o criador da psicanálise já contava, sações privadas. Isso é plausível, uma vez que se ele
então, 63 anos de idade. Nele Freud aproxima-se de buscou na mitologia um termo para os instintos de
sua ambígua admiração pela filosofia. Juntamente vida - Eros –, não teria porque não fazê-lo em
com “Psicologia dos grupos e análise do ego” (Edição relação ao seu oposto. No entanto, esse termo só foi
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Comple- popularizado na Psicanálise por Paul Federn, um
tas de Sigmund Freud, vol. XVIII, Imago Editora, de seus antigos seguidores.
1974) e “O ego e o id” (o. c., vol. XIX) ele ajudou a De um pensamento eminentemente causalista
produzir a grande reformulação da Psicanálise, histo- ele passou a outro, que borda à teleologia, embora
ricamente chamada de “a virada dos anos 20”. essa seja entendida num sentido diferente daquele
Freud, que clamou várias vezes que a Psica- que lhe dá a filosofia clássica e que é utilizado pela
nálise deveria manter-se empírica, aqui se permite religião Ao invés de um alvo a ser alcançado, Freud
especular, não sem advertir aos leitores de que eles não fala em finalidade, algo mais natural, portanto.
estão obrigados a segui-lo. De fato, alguns psicanalis- Se aceito, o presente artigo está destinado a
tas, mesmo entre os seus antigos discípulos, recusa- provocar grandes mudanças e adaptações em vários
ram-se a seguir essas idéias. conceitos anteriores. Até aqui Freud entendia que só
O texto lança a polêmica questão da existên- o princípio do prazer comandava o curso dos aconte-
cia do instinto de morte. Para bem se entender o cimentos mentais. No primeiro item deste texto
assunto deve-se estar advertido de que o problema que mostra como esse princípio deve ser entendido e como
ocupa Freud não é do da morte cadavérica, como se ele pode explicar fatos que aparentemente lhe são
poderia grosseiramente pensar, mas sim o fato de se contrários. Até então, o princípio da realidade era
nos seres vivos existem forças degenerativas que aca- visto como contraponto ao princípio do prazer, embo-
bam por levá-los de volta ao estado inorgânico. Se há, ra Freud não tenha deixado de afirmar que ele não
tais forças teriam caráter pulsional? Freud afirma passava de ser uma modificação do último e não era,
que sim e a partir dai passa a postular uma nova desse modo, o seu verdadeiro oposto. Uma oposição
dualidade dos instintos: ele que até então postulara real só surge depois da afirmação do caráter instin-
que as duas classes de instintos eram instintos de tual da compulsão a repetir e da agressividade, nas
auto-conservação (ou do ego) e instintos sexuais, passa quais ele alicerça a idéia do instinto de morte.
a considerar que elas são instintos de vida e instintos A dualidade instintos de auto-conservação
de morte . Este assunto, (como muitos outros, abor- (do ego) versus instintos sexuais passava a ser troca-
dados por Freud) já havia sido tratado por Schope- da por outra, entre os instintos de vida e de morte.
nhauer (1788-1860), um filósofo pouco anterior a Os instintos sexuais passaram a ser considerados
Freud, que morreu quando ele ainda era criança. como integrantes dos instintos de vida e colocados em
(Freud nasceu em 1856). oposição à compulsão a repetição e à agressividade,
2 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
formas em que se manifestaria o instinto de morte. [Até aqui vínhamos] pensando que to-
Freud deparou-se, então, com outra questão: os ins- dos os eventos mentais tinham o seu curso
tintos em geral parecem ter um sentido conservador, de regulado pelo princípio do prazer. Levando
fazer o organismo retornar a um estado anterior. Os em conta [a idéia de um instinto de morte] esta-
instintos de morte ajustavam-se bem a essa idéia, mas mos introduzindo um ponto de vista eco-
os de vida não, já que são voltados para a criação do nômico e, juntamente com os outros dois -
novo. É digno de nota que o princípio do prazer topográfico e dinâmico – [estamos] fazendo
tenha sido chamado inicialmente de princípio do pra- uma descrição [dos fenômenos psíquicos] que
zer-desprazer, pois Freud pensava haver sempre a pode ser chamada de metapsicológica. [Freud
busca de eliminar um estado de necessidade pelo re- considera que uma descrição metapsicológica de um
torno a uma situação anterior e que o prazer consistia fenômeno mental é aquela que pode descrevê-lo,
em evitar o desprazer ocasionado por aquele estado. simultaneamente, em termos econômico, dinâmico e
Isto é, não existiria uma força que impelisse ao pra- topográfico. É impossível deixar-se de estabelecer
zer, mas sim à evitação do desprazer. (Conforme o uma comparação com a metafísica].
texto “O Ego e o Id”- vol. XIX, da Edição Stan- Não nos interessa [aqui] indagar se há
dard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de [ou não] relação entre [nossa] idéia do princí-
Sigmund Freud, Imago Editora, 1974, pp. 56-63). pio do prazer [e aquelas] expressas por qual-
No presente texto Freud considera que pode haver tão quer sistema filosófico. Seria muito bom se
só uma tendência no sentido do prazer, a qual nem algum sistema filosófico ou psicológico pu-
sempre se realiza. desse [nos] esclarecer sobre o papel do pra-
No princípio do texto Freud alega que a ques- zer em nossas vidas, mas infelizmente isto
tão do prazer permanece enigmática para os filósofos e não acontece. Como não é possível trabalhar
para a Psicologia e tomando como referência as idéias sem uma idéia a respeito, a hipótese menos
de Fechener sobre a constância, faz derivar delas a rígida é a que melhor nos convém. Chega-
sua concepção sobre o prazer como resultante da “des- mos a ela de dentro do nosso [próprio] cam-
carga” de estímulos. Mesmo assim, sente-se em difi- po de estudos e ela é tão evidente que difi-
culdades porque ao fazer o prazer depender da dimi- cilmente se pode ser contestada.
nuição das excitações e o desprazer do aumento delas
se vê obrigado a reconhecer que para algumas excita- [O que é o prazer, para a Psicanálise?]
cões o aumento é prazeroso (como as sexuais, por
exemplo). Formula, então, a idéia de que o prazer e o Consideramos o prazer como decor-
desprazer dependem ainda de outros fatores, como o rendo da diminuição da energia livre na
ritmo delas, por exemplo. mente e o desprazer como do aumento dela,
Outro ponto abordado logo de início é a rela- sabendo, [contudo], que essa relação não obe-
ção entre o prazer e o mundo externo, onde Freud dece a uma proporção conhecida. [Para
demonstra como a sexualidade se desenvolve com uma “energia livre”, consultar o texto “Projeto para uma
grande independência dele, mais ligada à fantasia. Psicologia Científica” - Edição Standard Brasileira
(Para maiores esclarecimentos sobre esse ponto deve das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
ser lido o texto “Formulações sobres os dois princípios Freud, vol. I, Imago Editora, 1974]. É provável
do funcionamento mental” - Edição Standard Brasi- que a variação da quantidade dela na unida-
leira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund de de tempo seja um fator significativo. [Ou
Freud, vol. XII, Imago Editora, 1974]. seja: o ritmo com que o acúmulo e a descarga dela se
dão]. [Sobre esse ponto, contudo, ainda] necessi-
Resenha do texto de Freud: tamos mais experimentação. [Esta forma de
considerar o prazer - descarga das energias acumula-
I das - nunca constituiu para Freud uma idéia acaba-
da. Além de não ter encontrado a proporção cons-
3 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
tante de que fala, ele viu-se às voltas com uma con- As energias do ego são constituídas por im-
tradição: o aumento das tensões sexuais parecem se pulsos inatos, mas, no entanto, nem todos
acompanhar de prazer, embora o prazer final, corres- eles são igualmente desenvolvidos. Alguns
ponda a uma descarga. Fechener, a partir da conside- podem se encontrar em uma fase que seja
ração de fenômenos naturais, fez afirmações que servi- incompatível com os demais e assim os con-
ram de base a essa idéia de Freud, ao falar de uma flitos estabelecidos durante o desenvolvi-
“tendência no sentido da estabilidade”, que operaria mento do ego e se tornam causa de despra-
na matéria viva. A hipótese de que a mente atua zer. Eles, então, são reprimidos e ficam im-
segundo o princípio do prazer geralmente é concordan- pedidos de satisfação direta. Quando che-
te com a de que ela opera no sentido de desfazer-se de gam a ela por meio de substitutos, isto gera
toda excitação psíquica ou de tornar aquela excitação desprazer em vez de prazer.
tão mínima quanto possível. Assim o princípio do Essas duas situações não esgotam a
prazer seria decorrente do princípio da constância e questão, porém as demais não contrariam o
um modo de expressão dessa tendência]. princípio do prazer. Como o desprazer é, na
sua maior parte, desprazer perceptivo, em
[A vida] cotidiana desmente a domi- razão da percepção de uma pressão instintu-
nância do princípio do prazer, visto que mui- al ou de um perigo exterior, as reações do
tos atos psíquicos - talvez a maioria deles - não aparelho psíquico a elas são em geral co-
conduzem ao prazer. O que se pode dizer, no mandadas por aquele princípio do prazer.
máximo, é que existe uma tendência ao prazer, a
qual nem sempre se realiza. Isto, novamente II
concorda com Fechener, para quem a tendên-
cia para uma meta não significa sempre que [A idéia do princípio do prazer tem impor-
esta seja alcançada. tantes antecedentes. Como dissemos, Freud baseou
seu pensamento no de Fechener sobre a constância e
O que impede o princípio do prazer de atingir aceitou a denominação de princípio do Nirvana,
suas metas? conferido a essa tendência por Barbara Low. Num
sentido paralelo ele já falara de inércia neurônica no
Ainda nos são desconhecidos os porme- ‘Projeto para uma Psicologia Ciêntífica’, em l895 –
nores de por que o prazer se transforma em (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
desprazer. No entanto sabemos o sofrimento Completas de Sigmund Freud, vol. I, Imago Edito-
neurótico é desse tipo. ra, 1974). Outro antecedente está na idéia do eterno
 O princípio do prazer pode até ser contrá- retorno, de Schopenhauer. A idéia, afim à de finali-
rio à auto-preservação. Neste caso, é substi- dade conservadora dos instintos, já tinha adeptos
tuído pelo princípio da realidade, que não entre os filósofos gregos pré-socráticos. Fenômeno de
abandona o propósito de obter prazer, mas natureza idêntica é conhecido, na biologia atual com
o adia e tolera certo desprazer, por algum o nome de homeostase, termo sugerido por Cannon,
tempo. Os instintos sexuais, com mais faci- segundo o qual um ser vivo procura manter constante
lidade e por mais tempo, escapam ao prin- o seu meio interno e eliminar os estímulos que per-
cípio da realidade e ficam, assim, mais sujei- turbem seu equilíbrio.
tos ao princípio do prazer. [Ver, sobre isso, O fato de que muitas excitações sexuais pos-
“Os Dois Princípios do Funcionamento Mental” - sam ser prazerosas sempre pareceu a Freud estar em
vol. XII, da Edição Standard Brasileira das conflito com a idéia formulada por ele de que o pra-
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, zer coincidiria com a descarga e o desprazer com o
Imago Editora, 1974].[Adicionalmente, esse é o acúmulo de excitações. Ele buscou solucionar o fato
conflito referido por Freud entre os instintos do ego com o argumento de que o prazer decorreria também
(autopresevativos) e os instintos sexuais]. de outros fatores como o ritmo delas, por exemplo.
4 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Também a repetição tem história. Um de seus em 1915, quando ele passou uma semana na casa
mais remotos antecedentes pode ser encontrado na de uma de suas filhas.
idéia do eterno retorno, de Heráclito, concebida há Em virtude da observação de outros fatos da
mais de 2.500 anos. Nesta parte do texto Freud mesma natureza Freud concluiu que atua na psique
procura mostrar como certas repetições, como as que se humana uma tendência à repetição que é indepen-
pode verificar nas neuroses traumáticas, nas brinca- dente do princípio do prazer e que é de caráter ins-
deiras infantis, na transferência etc., parecem escapar tintivo. Por causa disso, falou de uma compulsão à
a explicações via princípio do prazer e obedecem a repetição. Acreditar-se no instinto de morte equivale,
outro determinante. A transferência será vista no pois, a acreditar-se que tal compulsão atua na men-
próximo item como exemplo de uma repetição impera- te, com independência do princípio do prazer].
tiva, ainda que as experiências que ela repita sejam [Freud segue à frente, dizendo que] as neu-
desagradáveis, e passará a ter novas bases explicati- roses traumáticas surgem em seguida a cer-
vas. Além dela, várias experiências da vida cotidiana tas tragédias, concussões mecânicas etc., que
várias são involuntariamente recorrentes e o curso de ameaçam a vida. Os sintomas delas são tão
certos eventos são imperiosamente repetidos, mesmo exuberantes quanto os da histeria, mas os
que as pessoas não o desejem.É verdade que algumas ultrapassa [em repercussão geral] porque levam
repetições ainda podem ser explicadas pelo princípio a uma maior indisposição e ao enfraqueci-
do prazer, mas Freud pensa que mesmo assim sobra mento das funções mentais. Se somos des-
margem para postular que outros determinantes – norteados pelas neuroses de guerra, ainda
expressos pela compulsão à repetição e pela agressivi- mais desnorteados [devemos ficar] por aquelas
dade - atuem na mente. dos tempos de paz. Dessas podemos dizer:
Parece que a idéia da repetição o perseguia que suas causas parecem estar nos fatores de
desde cedo, embora ele a e3xplicasse em outras bases. surpresa e susto e que um dano físico parece
Em 1894 já notara o fato no caso clínico de Frau atuar contra a neurose. [De fato, os distúrbios
Emmy von N. [“Estudos Sobre a Histeria” - Edi- físicos e os psíquicos atuam numa certa suplência, de
ção Standard Brasileira das Obras Psicológicas maneira que uns dispensam os outros].
Completas de Sigmund Freud, vol. II, Imago Edito-
ra, 1974] e, em 1905, nos “Três Ensaios sobre uma Pode-se diferenciar [os seguintes estados
Teoria da Sexualidade” – (Edição Standard Brasi- emocionais]:
leira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund susto: estado em que alguém entra quando
Freud, vol. VII, Imago Editora, 1974) já dizia que se vê em perigo, sem estar preparado
as impressões sexuais “tendem de maneira compulsiva para ele.
à repetição”. medo: quando existe um objeto definido do
As neuroses traumáticas são um fato atual- qual se sente temor.
mente desprezível, mas elas eram importantes no pós- ansiedade: estado de espera do perigo ou de
guerra imediato, quando este texto foi escrito. (Lem- preparo para ele.
bre-se: a 1a. Guerra Mundial acabara em 1918. O Nas neuroses traumáticas os sonhos do
presente texto é de 1920). Pela primeira vez, e a paciente o levam de volta à situação do aci-
propósito das neuroses de guerra, era aventada a dente, da qual ele acorda em novo susto. As
possibilidade de que nem todos os sonhos fossem satis- pessoas que julgam que ele está fixado à ori-
fações de desejos, uma vez que, pelo menos em certos gem dos seus traumas, mas, [no entanto], é nas
casos, atendem à compulsão de repetir. Esta parte do histerias, [e não nesses sonhos], que tal fixação
texto trás a descrição do “fort-da” (ver adiante, [de fato] ocorre. Na vida quotidiana, as pesso-
nesta mesma página), uma das mais famosas experi- as que sofrem traumas estão mais [inclinadas a
ências da Psicanálise. A criança de que Freud fala se afastarem da lembrança deles do que a repeti-los].
era seu próprio neto e aconteceu, ao que tudo indica, Os que pensam que os sonhos têm a função
de levar [as pessoas] de volta a seus traumas,
5 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
não compreenderam bem as teorias que os que as crianças repetem (ab-reagem) experi-
vêem como satisfações de desejos. [Segundo ências desagradáveis por que passam, tor-
essas teorias] seria mais de se esperar que eles nando-se assim senhoras das situações. O
apresentassem ao sonhador quadros de saúde fato de que sejam desagradáveis não impede
ou da cura que esperam. Mas [mesmo diante dos [essas experiências] de serem repetidas.
sonhos que repetem situações traumáticas] podemos
manter nossa crença de que os sonhos reali- O princípio do prazer não é, pois, a única coisa
zam desejos e argumentar que em tais pessoas que comanda esses comportamentos.
eles se acham afastados de seus propósitos ou
pensar nas tendências masoquísticas do ego. No entanto, [é possível compreender que mes-
Outro exemplo que vai contra o princí- mo] experiências desagradáveis possam ser
pio do prazer é fornecido palas brincadeiras explicadas como estando sob a égide daquele
das crianças. Essas brincadeiras têm sido mo- princípio e também possam ser rememora-
tivo de várias teorias que, no entanto, não têm das. Eis algumas explicações possíveis:
levado em consideração o fator econômico,  O menininho poderia estar fazendo desapa-
isto é, a produção de prazer que envolvem. Eu recer os objetos só para desfrutar do seu
próprio fiz uma observação de um menininho alegre retorno. [Conheci um paciente que se lem-
de um ano e seis meses. [A criança era um de brava de seu hábito infantil de enrolar um barbante
seus netos]. A criança já falava algumas palavras no dedo até deixá-lo roxo só para desfrutar do pra-
e encontrava-se em bons termos com seus zer de liberá-lo depois] ,
pais e com a babá. Tinha o hábito de atirar a  ou para se tornar ativo, na situação em que
um canto da sala seus brinquedos, enquanto era passivo: “Vá embora. Sou eu quem lhe
emitia um “o-o-o”. A mãe da criança, bem mando ir-se” [“e não você que me deixa”] [Aqui
como eu próprio, concordava em que isso não pode-se citar o exemplo da garotinha que vai ao
era uma simples interjeição, mas que represen- médico, passa por exames desagradáveis e ao chegar
tava a palavra alemã “fort” [embora]. A criança em casa vai brincar com a boneca, sendo ela, agora,
também brincava de “ir embora”, com seus o médico que faz na boneca os mesmos exames por
outros brinquedos e uma vez a vi brincando que passou],
[assim] com um carretel, preso a um cordão.  ou, enfim, para repassar a outros a suas
Ela o jogava por entre as cortinas de seu ber- experiências más, como acontece na tragé-
ço, fazendo-o desaparecer, proferindo então o dia, onde o autor leva os espectadores às
seu “o-o-o” e saudando o reaparecimento do mais penosas experiências, assim livrando-
brinquedo com um alegre “da”. A sua brinca- se de senti-las. [É o que acontece atualmente com
deira consistia nisso: fazer o carretel desapare- as novelas da televisão: enquanto o expectador atri-
cer e reaparecer. bui as situações dramáticas aos personagens, esque-
A interpretação do jogo logo ficou clara: ce-se de que também ele as vive como desejos].
à medida que renunciava à satisfação instintual
e deixava sua mãe ir embora, encenava o de- III
saparecimento e a volta dos objetos. A criança
não podia ter experienciado a partida da mãe [É aqui que Freud mostra que a transferência
como [uma coisa] agradável e, portanto, o jogo obedece também à compulsão à repetição. Nos pri-
não [podia ser] explicado por meio do princípio meiros textos sobre a transferência ele falava dela
do prazer. Ao realizá-lo, a criança transforma- apenas como resistência à recordação. Agora, embora
va uma experiência passiva noutra, ativa, e ela continue também a ser considerada da mesma
fazia isso independente de que fosse agradável maneira, postula que ela propicia, além disso, o re-
ou não, ou seja, independentemente do prin- torno do reprimido – isto é, repete-o. O material que
cípio do prazer. [Há ainda] outras ocasiões em não é recordado faz-se presente pela repetição. A
6 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
compreensão disso tornou possível à Psicanálise valer-  a perda de amor, que deixa atrás de si uma
se da análise da transferência em sua tentativa de importante cicatriz narcísica,
compreender as pessoas já que os fatos não são vistos  suas explorações sexuais, que terminaram
somente como coisas do passado, mas repetidos no em insucesso,
presente].  o laço afetivo com o sexo oposto, que leva
ao desapontamento,
A Psicanálise passou por importantes  a sua tentativa de ter um bebê, que fracassa,
mudanças em seus primeiros 25 anos: a princí-  as palavras duras dos adultos e o fato de ter
pio objetivava descobrir material inconsciente recebido cada vez menos afeição.
e comunicá-lo ao paciente; posteriormente a ên- A despeito disso, os pacientes repetem
fase veio a recair na análise das resistências e [compulsoriamente] essas emoções desprazente-
ela passou a querer levar o paciente a confir- ras na transferência e a mesma coisa se passa
mar com a sua memória as descobertas do com as pessoas normais. Elas dão a impres-
analista. No entanto tal método não levou à são de que estão sendo vítimas de um desti-
recordação do inconsciente em sua totalidade. no maligno, embora essas situações sejam
Uma parcela dele era repetida [na transferência] [inconscientemente] provocadas por elas pró-
não recordada. O repetido era sempre algo da prias e determinadas por fatos infantis. A
vida sexual da infância, do Complexo de Édi- repetição que se verifica nelas em nada difere
po trazido de volta e que na transferência em da compulsão à repetição que encontramos
relação ao analista, faz com que a neurose [com mais facilidade] nos neuróticos. É mais
original seja substituída pela [neurose] transfe- fácil de entender essa repetição se o indiví-
rencial. [Assim, a psicanálise passou de ser um pro- duo é o agente ativo de seus atos do que se
cesso que simplesmente procurava fazer o paciente ele é passivo e apenas parece sofrê-los sem
recordar-se de experiências esquecidas para outro que ter colaborado em nada para essa recorrência.
procura analisar como elas estavam sendo revividas nos De todo modo, somos levados à con-
tempos presentes, na relação com o analista. Isso a clusão de que:
tornou mais complexa e passou a requerer a análise do
próprio analista]. existe na mente uma compulsão a repetir que é
O que se contrapõe à análise das resis- independente do princípio do prazer.
tências não é outra resistência; elas são oriun-
das do ego [que, no sentido amplo, inclui o supere- Exemplo disso são os sonhos das neu-
go]; o inconsciente não apresenta resistências, roses traumáticas, os comportamentos repeti-
[só impulsos]. O correto, então, é falar-se em tivos das pessoas em geral, certas brincadei-
ego e em reprimido e atribuir àquele as resis- ras das crianças e a transferência, embora
tências e ao último, a compulsão a repetir. As algumas [dessas] ocorrências não sejam apenas
resistências obedecem ao princípio do prazer conseqüência dela. Nas brincadeiras da in-
e [procuram] evitar o desprazer que viria da fância [também há] satisfações instintivas
liberação do reprimido. A repetição, [por seu agradáveis que atuam no mesmo sentido e na
turno], está relacionada com o reprimido e por transferência o repetir [também] está a serviço
isso não pode atender àquele princípio. [Na das resistências. A recorrência dos sonhos
análise] o paciente repete transferencialmente também pode, igualmente, ter outras explica-
as suas experiências sexuais infantis, mesmo ções.
que [tenham sido] penosas. Assim, alguns atos repetitivos podem
ser explicados sem apelo àquela compulsão,
[Por exemplo]: mas num estudo aprofundado ainda restará
 desejos incompatíveis com a realidade ou espaço para ela. Parece-nos que ela é mais
com o grau de desenvolvimento do paciente, primitiva, mais elementar e mais instintual
7 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
que o princípio do prazer. [Nesse sentido, pode-se [Desta vez, adotando partido em relação à
dizer que na mente também atua algo aquém (no sua ambigüidade quanto à filosofia, Freud diz que]
senti de anterior) ao princípio do prazer]. “o que se segue é especulação que o leitor
pode acompanhar ou não”. [E prossegue]: a
IV Psicanálise considera seu ponto de partida o
fato de que tornar-se cônscio é apenas uma
[A compreensão deste capítulo será muito aju- das funções psicológicas [possíveis] e não um
dada se o leitor consultar antes o capítulo VII de “A atributo obrigatório delas e que isso é função
Interpretação dos Sonhos” – (Edição Standard Brasi- de um sistema especial que chamamos Cs., o
leira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund qual [tanto] recebe percepções originadas do
Freud, vol. V, Imago Editora, 1974) e o texto “O fora [quanto] do dentro [do organismo]. Ou seja:
Inconsciente” [o. c., vol. XIV]. Logo no início desse a consciência fica na fronteira entre o exter-
texto Freud estabelece uma distinção entre o aspecto no e o interno. [Esse modo de ver] não se cons-
descritivo e o dinâmico do inconsciente. O primeiro tem titui numa novidade, já que a própria anato-
um mero sentido adjetivo e refere-se apenas a se o mia a localiza no córtex cerebral, a camada
indivíduo é ou não cônscio de certa representação. Des- mais externa do cérebro. A anatomia, contu-
sa maneira é apenas um atributo que a vida mental do, não [é o elemento que] explica sua posição
pode ter ou não. O segundo, de sentido substantivo e limítrofe. A Psicanálise talvez consiga mais
Freud propõe grafar Ics, refere-se a uma instância com sucesso em tentá-lo.
regras próprias de funcionamento. A essa instância Tornar algo conhecido não é o único
Freud propõe denominar Ics. e entende que ela se atributo do sistema [Cs.]. Processos que
distingue de outras duas, o Cs e o Pcs. (Edição Stan- transcorrem em outros sistemas podem dei-
dard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de xar atrás de si traços muito fortes e deixam
Sigmund Freud, vol. V, Imago Editora, 1974). Os impressões [marcantes], embora não se tornem
dois sentidos em que fala nem sempre tratam de coisas conscientes. Aliás, [como já disse], parece que
que coincidem, embora isso aconteça em muitos casos. [eles] não podem pertencer ao sistema Cs-
Por isso, quando se fala em inconsciente é preciso dis- Pcpt, porque se assim fosse, muito cedo os
tinguir quando se está referindo a ele no primeiro ou limites dele para impressões novas do exteri-
no segundo sentido. or seriam preenchidos [e isso impediria a recep-
Em mais uma de suas boas analogias, Freud ção de novos estímulos]. No entanto, considerar-
propõe que se compare o aparelho psíquico a uma se esses traços como inconscientes cria um
vesícula viva e se imagine, então, a maneira como ela [aparente] problema já que, normalmente, a
busca proteger-se de estímulos. Uma vesícula exposta atividade é um processo consciente. Parece-
ao ambiente diferencia, à custa de sua própria subs- nos, pois, que se as excitações são captadas
tância, uma camada externa (“casca”) mais resistente, no sistema Cs., mas transferidas aos sistemas
que protege o interior de estímulos externos. No apare- seguintes, sem deixar nele nenhum traço, os
lho psíquico, essa ‘camada externa’ seria a consciên- quais se registram apenas nesses últimos,
cia]. conforme foi afirmado no capítulo VII de “A
Ser consciente [= dar-se conta, no sentido Interpretação dos Sonhos”. (Edição Standard
descritivo] e guardar traços de memória são Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sig-
coisas antagônicas [de vez que a consciência é essa mund Freud, vol. V, Imago Editora, 1974)
‘camada externa’ e não pode ser modificada a cada vez
pelos estímulos que afluem a ela já que nesse caso seria Assim:
diferente quando da chegada de um novo estímulo. Pelo
contrário, ‘memória’ significa registrar modificações por Tornar-se consciente e deixar traços atrás de si
modificações nessa camada]. são processos incompatíveis.
8 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Ou: [No interior do] sistema Cs. essa resis-
tência não existe. Tal fato pode ser relaciona-
A consciência surge no lugar de um traço de do à hipótese de Breuer de energia livre e
memória. energia vinculada e de que o Cs. só condu-
ziria energia não vinculada, não a vinculada.
Essa característica talvez se deva à loca- [A esse propósito, ver “Estudos sobre a Histeria”, de
lização dela na periferia da mente. [Para com- Breuer e Freud, - Edição Standard Brasileira das
preender isso], imaginemos o símile da vesícula Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud,
viva. [Pense, por exemplo, num queijo fresco, como vol. II, Imago Editora, 1974].
uma espécie de “vesícula”]. [Nossa] vesícula [imaginária], que supo-
mos achar-se exposta a poderosas energias
 a parte externa se diferencia [do restante] de- provindas do ambiente, morreria [se] não
vido a seu contato com o ambiente; criasse um escudo que a protegesse. A recep-
 [a essa parte] em contato com o ambiente ção de estimulações por sua camada exterior
cabe a recepção de estímulos de fora;z teria a função de descobrir a direção e a natu-
 em virtude deles, essa crosta se modifica até reza deles, para o que são suficientes peque-
certa espessura. [No nosso suposto queijo isso cor- nas amostras dos mesmos. Essa camada se
responde à casca]; forma graças à morte da substância viva e se
 forma-se, assim, uma crosta na qual os estí- transforma, assim, em inorgânica e em razão
mulos têm as suas rotas próprias; dessa morte as camadas internas se salvam.
 essa camada, que recebe os estímulos é inca- [Assim] como para nossa vesícula, para o
paz de sofrer mudanças; psíquico a proteção contra os estímulos é tão
 se não fosse protegida por essa camada [a importante quanto a recepção deles. Nos
vesícula] morreria pelo excesso de estímulos; seres superiores tal escudo há tempos se reti-
 tal camada externa deixa de ser “viva” e tor- rou para o interior [do corpo], deixando na
na-se inorgânica; periferia apenas os órgãos dos sentidos que
 esse envoltório resiste aos estímulos exter- recolhem amostras de estímulos, protegem o
nos que assim chegam com menor intensi- ser de quantidades excessivas deles e selecio-
dade à substância viva, no seu interior. na os específicos para cada órgão.
O objetivo mais importante da recep-
A proteção contra estímulos é tão importante para ção de estímulos é descobrir a direção e a
os seres vivos quanto a recepção deles. natureza deles, para o que bastam pequenas
quantidades dos mesmos. Kant disse que o
[Agora,] apliquemos isso à consciência: a tempo e o espaço são “formas necessárias de
embriologia nos mostra que ela se origina da pensamento”, mas os processos inconscien-
camada externa do feto (o ectoderma) e não tes são atemporais, ou seja, não se ordenam
pode experimentar qualquer mudança com segundo o tempo nem são desgastados por
estímulos novos. [O feto é, por analogia, a “vesícu- ele. Podemos melhor compreender tais ca-
la”, do exemplo]. Podemos imaginar que a pas- racterísticas se as confrontarmos com as dos
sagem da excitação de um sistema para outro processos conscientes. [Ou seja; Freud recusa a
enfrenta certa resistência e que a diminuição idéia de uma ordenação temporal necessária e postula
dela deixe um traço permanente, isto é, uma que, no inconsciente existe uma atemporalidade, não
facilitação. [Para essa questão de “facilitação” ver o uma ordenação linear passado-presente-futuro].
“Projeto para uma Psicologia Científica” - Edição Esse ‘escudo’ recebe, também, os estí-
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas mulos oriundos do interior. [Os instintos]. O
de Sigmund Freud, vol. I, Imago Editora, 1974]. fato de que esteja localizado na fronteira en-
tre externo e interno faz com que ele tenha
9 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
um funcionamento diferente em cada uma das Isto tem de ser diferenciado da primi-
[duas] direções: no sentido externo o organis- tiva teoria do choque, que colocava o fator
mo protege-se contra os estímulos, mas no mecânico como o mais importante: a Psica-
interno, não existe escudo protetor e as cama- nálise concede maior importância ao susto e
das profundas estendem-se sem limitações à ameaça à vida [que ao trauma mecânico]. Essas
nítidas até o ponto onde originam sentimen- duas hipóteses não são, contudo, inconciliá-
tos de prazer-desprazer. Contudo, os estímu- veis: a teoria do choque buscava explicar as
los internos em geral são mais moderados do coisas por meio dos danos causados à estru-
que os de fora. tura molecular e histológica do sistema ner-
Esse estado de coisas faz com que os voso; nós procuramos explicá-las por meio
sentimentos de prazer-desprazer predominem dos danos causados aos órgãos da mente em
sobre os estímulos externos e que haja um conseqüência da ausência de preparação para
modo de lidar com as sensações de desprazer a ansiedade e da falta de uma hipercatexia,
oriundas do interior, [diferente daquele com que se ambas igualmente importantes na determina-
lida com as vindas do exterior]. ção dos resultados [produzidos] pelo rompi-
[Essas sensações] são tratadas como se mento do escudo protetor.
fossem originadas fora, permitindo, assim, a Já afirmamos que nos sonhos os dese-
atuação do escudo protetor. [Essa é a raiz da jos se realizam alucinatoriamente, comanda-
projeção, que tem tão importante papel na vida psíqui- dos pelo princípio do prazer. Mas não é a
ca. È também uma decorrência da tese do ego de puro serviço desse princípio que os sonhos trau-
prazer, que expulsa de si toda experiência de despra- máticos levam à repetição dos acontecimen-
zer]. tos desencadeantes da neurose. Deve haver,
Essas considerações permitem uma me- então, na mente, outra regulação que antece-
lhor compreensão do âmbito onde domina o de a ele e que também parece fazer um es-
princípio do prazer, mas não lançam luzes nos forço para deter os estímulos e promover a
casos em que ele falha. Avancemos um pouco ansiedade que não existiu por ocasião da
mais. Denominamos de traumáticas as excita- ocorrência desencadeadora.
ções oriundas do exterior que sejam bastante
intensas para romper aquele escudo, provo- Então, nem todos os sonhos visam realizar dese-
cando um grande distúrbio no interior do jos; alguns parecem obedecer, antes, à compul-
são à repetição.
organismo e colocando em ação suas defesas.
Nesse tempo, o princípio do prazer é posto
A função de realização de desejos não
fora de ação. Há, então, [um] novo problema a
parece originária e não pode ocorrer até que
ser resolvido [pela mente]: o de dominar os
a mente, em sua totalidade, tenha aceito a
estímulos que afluem em grande quantidade
dominância do princípio do prazer.
ao aparelho psíquico. Estabelece-se uma anti-
As neuroses traumáticas devem-se a
catexia, em conseqüência da qual outros sis-
que as excitações mecânicas se tornam fonte
temas [psicológicos] são empobrecidos, de modo
de excitação da sexualidade [no sentido amplo
que as demais funções da mente vêem-se pa-
em que Freud a concebe] e são elas que sobrecar-
ralisadas ou reduzidas. [Como] um sistema
regam o psiquismo. [Por isso], as moléstias
altamente catexiado tem maior capacidade de
físicas, ao produzirem uma grande abundân-
vincular energias que um outro menos catexi-
cia de excitações, estão aptas para desencade-
ado, a energia que aflui para dentro do apare-
ar aquelas neuroses. Ademais, geram uma
lho psíquico sofre uma mudança de estado,
grande alteração na distribuição da libido,
passando de energia livre a energia vinculada.
exigindo uma hipercatexia do órgão que te-
As neuroses traumáticas correspondem a isso.
nha sido lesado. [A doença orgânica] parece ter
efeito sobre a distribuição da libido, da mes-
10 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
ma forma como acontece na melancolia e na uma forma passiva a outra, ativa. Na Psicaná-
esquizofrenia. [Conforme o texto “Sobre o Narci- lise, as repetições na transferência desprezam
sismo: uma Introdução”- Edição Standard Brasileira [o princípio do prazer]. As energias mentais não
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, obedecem ao processo secundário [e agem
vol. XIV, Imago Editora, 1974, onde Freud mostra segundo o processo primário]. [É] por isso [que]
que a doença orgânica também acentua o narcisismo.]. podem se associar aos resíduos diurnos e
formar sonhos.
V Mais tarde, [na vida], a preferência pela
repetição desaparece: um chiste ouvido uma
[Freud busca demonstrar, neste item, como a segunda vez já não causa o mesmo efeito que
compulsão à repetição é uma força impelente de com- antes; uma peça teatral já não atrai tanto,
portamentos. Ele a coloca como condutora da vida numa segunda vez, [quanto na primeira]; um
mental, junto com o princípio do prazer, mas destaca adulto que tenha gostado de ler um livro não
seu objetivo conservador que busca retornar a um esta- tem o mesmo prazer em relê-lo. [No adulto,] a
do anterior e aponta também que ela converte em ati- novidade, e não a repetição, é a condição de
vas certas condutas vividas de modo passivo pelo indi- deleite. Nenhuma dessas condições, no en-
víduo. O sentido progressivo dos eventos psíquicos é tanto, é [necessariamente] contrário ao princípio
visto como devidos à ação de forças externas. A vida do prazer, embora independa dele. Como
não é, segundo ele, senão, o resultado dessas forças.]. correlacionar a compulsão à repetição com
os instintos? Só revolucionando a idéia que
[Freud diz que] o fato de que a camada se tem até aqui e considerando que um ins-
cortical da mente se ache desprotegida quanto tinto é um impulso que visa restaurar um
aos estímulos internos faz com que eles fre- estado anterior. Ou seja: [que] são a expressão
qüentemente causem distúrbios traumáticos. da inércia inerente à vida orgânica. Essa ma-
As fonte mais intensa esse estímulos internos neira de considerar é nova para nós porque
são os instintos. Sabemos, pelos sonhos, que estávamos acostumados a ver [os instintos ape-
os estímulos vindos deles pertencem à classe nas como] algo impelidor no sentido do novo.
dos impulsos não vinculados: os sonhos nos
mostram que energias psíquicas podem ser Agora temos que concluir que os instin-
transferidas, deslocadas ou condensadas com tos [sempre] são conservadores.
facilidade. Neles predomina o processo pri-
mário, de energias móveis, em contraposição Da vida dos animais podemos extrair
ao processo secundário, de energias vincula- exemplos de que eles são determinados his-
das, que vige em nossa vida consciente. Se toricamente, o que quer dizer que são devi-
assim é, torna-se tarefa dos estratos superiores dos a estados já ultrapassados.
da mente sujeitar [a si] as excitações instintuais  Certos peixes e aves fazem laboriosas mi-
e o fracasso desse processo é o que leva às grações para desovarem em locais que habi-
neuroses traumáticas. Só após isso é que o tavam antes;
princípio do prazer entra em atividade. Até  o animal recapitula, durante a sua embrio-
então, a tarefa de submeter os estímulos teria gênese, as formas por meio das quais evolu-
precedência. iu;
A compulsão à repetição tem o caráter  certos animais têm o poder de regenerar
[de força] impelente de alto grau e quando atua um órgão perdido, igual ao anterior.
em oposição ao princípio do prazer, assume
uma aparência ‘demoníaca’. No caso das brin- Poder-se-á apresentar a objeção de que
cadeiras infantis parece que ela tem por meta há também instintos impelidores no sentido
dominar melhor as impressões, passando de do progresso. Isto é relevante e será visto
11 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
noutra conexão. [Não é claro qual é esta “outra achando condições que sejam propícias de-
conexão”]. No momento, contudo, é tentador senvolvem-se e repetem o desempenho a que
manter a hipótese de que eles sejam conserva- devem a sua [própria] existência. Uma parte
dores. Se, pois, todos os instintos tendem a delas leva adiante a evolução e outra parte
um estado anterior, disso decorre que o de- reverte-se à condição inicial, pronta para re-
senvolvimento orgânico deve ser explicado começar o ciclo. A célula germinal, portanto,
por meio da atuação de forças externas. A trabalha contra a morte, embora o que consi-
substância viva por si não teria outra tendên- ga seja apenas torná-la mais demorada. Os
cia que a de repetir-se e toda modificação, [no instintos sexuais, no entanto, podem ser con-
sentido progressivo], dever-se-ia a causas exterio- siderados conservadores em [um] mais alto
res. Estaria em contradição com a tese con- grau do que os outros, porque [também] tra-
servadora dos instintos que estamos supondo, zem de volta estados anteriores, mas preser-
se a vida consistisse em buscar um estado que vam a própria vida por um longo período.
ainda não fora atingido. Pelo contrário, o que
a substância viva procura atingir é um estado Os instintos sexuais são os verdadeiros instintos
antigo, ainda que por caminhos tortuosos. Se de vida.
considerarmos que tudo que tem vida morre,
podemos dizer que: Mas será que não existem outros ins-
tintos, além dos sexuais, que atuem num sen-
O objetivo de toda vida é a morte, ou seja: tornar tido progressivo? A resposta parece ser não.
inorgânico o orgânico. Aliás, constituí mera questão de opinião di-
zer-se que tal estágio seja superior a outro [e
A vida é um modo complexo de atingir que a atuação do instinto num certo sentido seja
a morte, modo que já foi mais simples, anteri- ‘progressivo’]. Tanto o desenvolvimento quanto
ormente. [No entanto], a hipótese dos instintos a regressão podem ser formas de adaptação
de auto-conservação, por exemplo, parece às forças externas e a ação dos instintos pode
estar em oposição a essa idéia, visto que eles limitar-se a uma forma obrigatória de modifi-
trabalham para manter a vida. Mas eles são cação.
[apenas] instintos componentes que têm por Pode ser difícil acreditar que não exista
função garantir que o organismo vivo siga seu um instinto que atue no sentido da progres-
próprio caminho para a morte. Não precisa- são, mas eu nunca descobri tal instinto Tudo
mos mais de pensar na enigmática tentativa do aquilo que no homem possa ser considerado
organismo para conservar a própria vida: anti- progresso é explicável a partir da idéia da
gamente, esses guardiões da vida eram, tam- repressão. O fato de progredir pode ser ex-
bém, lacaios da morte. Dai que os organismos plicado pela diferença entre a satisfação que
vivos lutem com todas as suas forças contra os instintos exigem e aquela que pode ser
aqueles perigos que os levaria mais rapida- conseguida. Os esforços de Eros para reunir
mente à morte. substâncias orgânicas em unidades cada vez
Os instintos sexuais, contudo, parecem maiores, oferece um sucedâneo para o instin-
não seguir o mesmo destino. As pressões ex- to para a perfeição, que parece não existir
ternas que levam ao desenvolvimento pare- [como tal].
cem não ter se aplicado a todos os instintos e
nem todas levam, então, ao caminho para a VI
morte. Nos seres mais evoluídos [apenas] al-
gumas células - as germinais - retêm as quali- [Freud discute, nessa parte, se há um processo
dades primitivas da matéria viva e mais cedo de morte inerente aos protistas e conclui que sim,
ou mais tarde se separam do organismo e depois de examinar as posições divergentes de vários
12 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
autores. Desse fato retira a idéia de que um processo Weisman foi quem introduziu a distin-
de desintegração é inerente a toda substância viva e por ção entre um estrato mortal e outro imortal
isso julga poder falar de um instinto de morte e, dessa na substância viva. Nossa distinção entre
forma, estabelecer uma nova oposição entre os instintos instintos de vida e de morte soa como um
de vida e de morte, em substituição à antiga, que opu- corolário que apóia [tal] idéia. Mas Weisman
nha os instintos sexuais aos do ego. É digno de se não foi muito longe porque só considerou
notar que ele considere a coalescência entre aqueles aquela distinção para seres multicelulares.
seres unicelulares como se opondo à morte ou retardan- Nos unicelulares, as duas parcelas coincidem
do-a. numa mesma célula e aqueles organismos
Quanto aos pluricelulares, emite a opinião que são, pois, potencialmente, imortais. A morte
os processos que levariam à morte voltam-se para fora nos seres multicelulares não é vista como
e lá constituem o sadismo. Parcela deles, retida no inerente aos processos de vida e sim como
interior desses organismos constituiria o masoquismo conseqüência da adaptação. [A multiplicação
primário. Essa idéia representa uma modificação de unicelular não deixa “restos mortais”. A pluricelu-
perspectiva, pois o masoquismo era tido anteriormente lar, sim].
como secundário: sadismo retornado contra o próprio Do ponto de vista experimental, sabe-
indivíduo]. mos que:
 Woodruff viu, em infusório do animálculo
Até agora [Freud vinha fazendo distinções] deslizador, [que se multiplica por divisão em
entre instintos do ego, (que atuam no sentido dois], que ele continuou reproduzindo-se
da morte) e instintos sexuais (que agem no normalmente até a 3.209a. geração, [quan-
sentido da vida). Essa hipótese, contudo, tor- do ele interrompeu a experiência], desde que se
nou-se insatisfatória. Só os primeiros, repre- trocasse o líquido nutridor das infusões.
sentados pela compulsão à repetição em ver- Até o ponto que pesquisou, portanto, a
dade, são conservadores e visam o retorno ao imortalidade dos protozoários pareceu-lhe
inorgânico. O instinto sexual visa também a demonstrada [e pareceu não haver um processo
repetição, mas de um modo especial, por meio natural de morte]. [O que são animálculos: por
da fusão de células germinais. Se essa união volta do ano 1.600, quando não havia ainda a
não acontecer, essas células morrem, junta- menor idéia de células, os cientistas se referiam as-
mente com as outras. [A fusão] é que pode sim a minúsculos seres que tinham, no entanto, as
emprestar a essas células uma aparência de características de seres vivos. Mais 200 anos se
imortalidade. passaram até que Theodor Schwann e Mathias
Façamos a suposição de que a substan- Schleiden propusessem a “teoria celular”. A de-
cia viva morre por causas internas e tentemos nominação antiga continuou, contudo, por algum
dar-lhe uma negação categórica. A noção da tempo].
morte natural, [no entanto], não existe em cultu-  Maupas e Calkins chegaram a resultados
ras primitivas, onde ela é sempre atribuída a diferentes. Segundo eles [as células do] infu-
um inimigo externo ou à influência de espíri- sório morrem depois de diminuírem de
tos. tamanho ou de perderem parte de sua es-
Contudo, na biologia a duração mais ou trutura. Segundo essas experiências, por-
menos fixa da vida fala em favor [da existência tanto, os protozoários morrem após perí-
de um processo] de morte natural. Os ciclos vi- odo de senescência, tal como os organis-
tais descritos por Fliess indicam o mesmo mos superiores.
sentido, embora a constância com que forças
externas os contrariam, faz com que se levante Duas idéias podem ser retiradas dessas
dúvidas com relação a eles. experiências:
13 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
 primeira: os [instintos] sexuais. Para tal, a concepção de
Se dois animálculos se fundirem antes da sexualidade teve de ser ampliada para muito
senescência, não morrem e ‘rejuvenescem’, além do usual e, posteriormente, um estudo
por assim dizer, efeito que também se pode mais detalhado do ego permitiu reconhecer
obter por meio de certos estímulos mecâ- que a libido pode dirigir-se a objetos externos
nicos, como, por exemplo, aumento da agi- ou permanecer vinculada ao ego. A libido
tação ou da temperatura. [vinculada ao ego] foi, então, chamada narcisis-
ta. Como coincidia com as atividades auto-
 segunda: preservativas, aquela primitiva oposição entre
É provável que os seres morram de seus os instintos perdeu seu valor, mas continuou,
próprios processos de vida. A experiência contudo, válida para as neuroses de transfe-
de Woodruff talvez tenha levado a resulta- rência. A distinção que era qualitativa deve
dos contrários devido ao fato de que ele ser vista, hoje, como topográfica. [Conforme
mudava o líquido nutriente das infusões. Se “Sobre o Narcisismo: uma Introdução”, de 1914,
não o fizesse, poderia ter observado os Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
mesmos fenômenos: os animálculos seriam Completas de Sigmund Freud, vol. XIV, Imago
danificados pelo seu próprio metabolismo. Editora, 1974].
Portanto, deixados a si mesmos, eles tam- Admitindo-se um instinto libidinal do
bém morreriam de morte natural. ego, precisamos, ainda, supor qualquer outro
Passando de um ponto de vista morfo- [instinto] que não seja o sexual? - Sim. As nos-
lógico a outro, dinâmico, é possível reconhe- sas concepções continuam dualistas: antes
cer nos protistas processos que tendem à contrapusemos os instintos sexuais aos do
morte, embora eles sejam inaparentes. Assim, ego; atualmente contrapomos os de vida e os
a biologia não contradiz, de forma rotunda, a de morte. Suspeitamos, mesmo, que outros
hipótese do instinto de morte. instintos além daqueles de auto-conservação
[Ainda mais:] atuam no ego, mas ainda não fomos capazes
1. Hering descreveu dois processos que atu- de reconhece-los. Pode ser que a libido do
am em toda substância viva, em direções ego esteja vinculada [também] a eles.
opostas: uma acumulativa, assimilatória, A oposição entre instintos de vida e de
[anabolismo] outra desassimilatória [catabo- morte nos remete a outra, entre amor e ódio.
lismo]. Eles podem ser postos em corres- O sadismo, primariamente voltado contra o
pondência com nossos instintos de vida e ego e que foi expulso dele pela libido, apon-
de morte, respectivamente. ta-nos o rumo para os instintos sexuais. On-
2. Ainda um passo mais: a organização multi- de quer que eles não tenham sofrido esse
celular permite continuar a vida, mesmo se destino observar-se-á ambivalência entre
as células individuais morrem. Aplicando amor e ódio. Isso mostra a existência do ins-
às células a teoria da libido, somos levados tinto de morte, mas cria uma impressão mís-
a imaginar que cada uma toma outra como tica. No entanto, tal suposição já havia sido
objeto de sua libido [instinto de vida] e que as feita, anteriormente: isto é, já se tinha supos-
células germinais sejam narcisistas, ou seja, to que o masoquismo fosse sadismo voltado
que retenham em si mesmas a sua libido, contra si mesmo. [“Três Ensaios sobre uma Teo-
reservando-a para as suas momentosas rea- ria da Sexualidade” - Edição Standard Brasileira
lizações futuras. [Assim], a libido de nossos das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
instintos de vida corresponde ao Eros dos Freud, vol. VII, Imago Editora, 1974]. O que
filósofos. temos a acrescentar aqui é que há um maso-
As neuroses de transferências puseram à quismo primário.
mostra a oposição entre os instintos do ego e
14 de 14
Além do Princípio do Prazer
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
[Ver, para confirmar isso, “O Problema sexual e a hipótese do narcisismo. Então,
Econômico do Masoquismo” (1924), - Edição Stan- podemos ter dado um golpe de sorte ou ter-
dard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de mos nos extraviado vergonhosamente.
Sigmund Freud, vol. XIX, Imago Editora, 1974
Retornando aos instintos sexuais auto- VII
conservadores Freud vê que nos protistas a
coalescência entre eles opõe resistência à mor- Se a compulsão à repetição realmente
te e à degeneração. Esse mesmo efeito talvez atua na mente, então nem todos os processos
possa ser conseguido por toda união sexual, o mentais obedecem ao princípio do prazer.
que sugere que os demais processos vitais Uma das mais antigas funções do sistema
tendem a anular tensões internas dos orga- nervoso é sujeitar os estímulos, substituir o
nismos e que elas são reativadas pela união processo primário predominante neles pelo
sexual. [Na verdade, o sexo, ao promover a união de processo secundário e, deste modo, conver-
gametas diferentes, revigora a espécie que, do contrário ter a energia livre em vinculada. Essas trans-
degenera]. Isto é exatamente o que vimos afir- formações atestam o domínio do princípio
mando desde que aceitamos o princípio da do prazer.
constância, que tem sua expressão no do pra- Façamos uma distinção entre a tendên-
zer. cia e a função: o princípio do prazer é uma
Mas a linha de pensamento que leva ao tendência a serviço da função de livrar o siste-
instinto de morte ainda não é inteiramente ma nervoso de estímulos. A função está cor-
franqueada [a partir daí], tendo em vista que o relacionada com o objetivo de fazer o orgâ-
sexual implica na coalescência de dois seres nico retornar ao inorgânico.
vivos, para originar um novo ser. Ela pode Os processos excitatórios, livres e vin-
constituir-se, contudo, na repetição da antiga culados, produzem prazer ao serem descarre-
anfimixia ocasional [fusão dos núcleos dos gametas gados, mas os primeiros o conseguem em
masculino e feminino] que tenha se fixado em muito maior intensidade que os outros. So-
função da conveniência, o que aproxima o mos levados á conclusão de que, no início da
instinto sexual do de morte. Porém, se não vida o princípio do prazer era mais dominan-
quisermos abrir mão da idéia dos instintos de te do que posteriormente.
morte temos que demonstrar que eles se ma-
nifestam, desde o início, associados aos instin-
tos de vida. [Note-se que Freud se esforça por encon-
trar alguma manifestação do instinto de morte mesmo
no sexo].
Platão alegava que, no princípio, o ser
humano era um dúplice do que é hoje. Zeus o
dividiu ao meio e, desde então, cada metade
busca encontrar a outra. Mutatis mutandi, será
que podemos supor a substância viva como
constituída de partículas que buscam se aglo-
merar em unidades maiores? E que esses fra-
gmentos organizam-se sob a forma multicelu-
lar? Eu não me acho inteiramente convencido
de tais idéias. Esse 3o. passo na teoria dos
instintos - a compulsão à repetição - não pode
reivindicar o mesmo grau de convencimento
dos outros dois: a extensão do conceito do

Você também pode gostar