Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O máximo que se pode dizer, portanto, é que existe na mente uma forte
tendência no sentido do princípio de prazer, embora essa tendência seja
contrariada por certas outras forças ou circunstâncias, de maneira que o
134 Freud e o Inconsciente
por exigência de fatores que lhe são exteriores. Uma morte obtida por
ação de agentes externos seria contrária a essa tendência, já que “ o
organismo deseja morrer apenas ao seu próprio modo” (op. cit., p.
56). É essa tendência inerente a todo ser vivo de retornar ao estado
inorgânico que Freud chama de pulsão de morte, enquanto o esforço
para que esse objetivo se cumpra de maneira natural, ele denomina
pulsão de vida. O objetivo da pulsão de vida não é evitar que a morte
ocorra, mas evitar que a morte ocorra de uma forma não natural. Ela
é a reguladora do caminho para a morte.
Tanto as pulsões sexuais como as pulsões de autoconservação
são consideradas pulsões de vida, já que ambas são conservadoras:
as primeiras mantendo o padrão de repetição, isto é, garantindo a
mesmidade do organismo; as segundas, preservando o organismo da
influência desviante dos fatores externos e garantindo a normalidade
do caminho para a morte. Eis aí o novo dualismo freudiano: em vez
da antiga oposição pulsões sexuais vs. pulsões de autoconservação,
temos agora a oposição pulsões de vida (que incluem as pulsões
sexuais e as de autoconservação) vs. pulsões de morte.
O que está dito acima poderia nos levar a duvidar da autenticidade
desse novo dualismo, já que a pulsão de vida nada mais faria do que
normalizar o caminho para a morte, o que significa dizer que ela não
está em oposição à pulsão de morte, mas que está a seu serviço. No
entanto, a autenticidade do novo dualismo (que Freud faz questão de
defender em face da ameaça do monismo junguiano) está salva a
partir do momento em que entendemos que as pulsões sexuais são as
verdadeiras pulsões de vida (op. cit., p. 58) e que elas implicam uma
junção de dois indivíduos da qual vai resultar um novo ser vivo.
Assim, enquanto pulsão de autoconservação, a pulsão de vida é a
manutenção do caminho para a morte, mas enquanto pulsão sexual
ela garante, por meio do sêmen germinativo, a imortalidade do ser
vivo. É o Eros se contrapondo ao Thánatos e garantindo o dualismo
tão caro a Freud.
Podemos voltar agora à questão que havia sido adiada no final
do item anterior sobre o sadismo e o masoquismo. Em As pulsões e
seus destinos, Freud havia afirmado que, no par de opostos sadismo-
masoquismo, apenas o sadismo era original, sendo o masoquismo
entendido como um sadismo voltado para o próprio eu do indivíduo.
Sob a influência do novo dualismo pulsional, Freud vai falar ainda
em Além do princípio de prazer (op. cit., p. 75) na possibilidade de
um “ masoquismo original” . Essa possibilidade será desenvolvida