Você está na página 1de 6

RESUMO PROVA FINAL – PSICANÁLISE

________________________________________________________________________

PARTE 1 – TRÊS ENSAIOS SOBRE A SEXUALIDADE

 Tópicos do vídeo sugerido pela Olívia, do Christian Dunker: a sexualidade não tem a ver
especificamente com coito ou com genitalidade, mas com prazer e satisfação. Freud olhou com atenção
para os cuidados que temos com a criança, que envolvem contatos corporais (limpeza, acalanto, cantar
música, brincar, etc).
 Marasmo ou hospitalismo: fenômeno observado por René Spitz em crianças órfãs que tinham perdido os
pais e eram cuidadas e alimentadas por enfermeiras, mas sem o toque, sem o brincar, sem o falar, que são
parte do conjunto de interações que envolvem a construção do prazer e da sexualidade. Essas crianças
morriam.
 Isso significa que a criança vai construindo sua sexualidade a partir dos encontros que ela tem com os
outros, o que difere, então, o ser humano de outros animais que têm apenas instinto.
 Freud observa que a sexualidade humana se caracteriza por uma extrema plasticidade (variedade). É como
se nascêssemos incompletos e o resto da nossa formação se desse fora do útero, no contato e vinculação
da criança com o seu outro social.
 A forma como você lida com a sexualidade da criança vai determinar como funciona a sexualidade do
adulto.
 Uma educação sexual muito restritiva irá gerar neuroses (ensinar que sexo = culpa é um problema), por
isso, segundo Freud, é muito importante cultivarmos uma atitude de liberdade no uso dos prazeres. Isso
não significa estimular ou doutrinar o processo sexual da criança, mas acompanhar. Exemplo: quais são as
perguntas que essa criança levanta? Quais atitudes ela tem em relação ao corpo? Quais teorias ela tem?
Trazer literatura adequada para aquela idade. É assim que se protege a criança de eventos intrusivos.
 Quem nega a sexualidade da criança não dá espaço para que ela se desenvolva.
 Tópicos do texto base dessa matéria (pontos importantes, de acordo com Olívia: os perversos;
sexualidade infantil; o autoerotismo; zonas erógenas e pulsões parciais):
 Se ―A Interpretação de Sonhos‖ é considerada como o discurso do desejo, os ―Três ensaios sobre a teoria
da sexualidade‖ são considerados os discursos da pulsão.
 O que a teoria do trauma (levantada nos estudos sobre a histeria) sustentava é que o neurótico, em sua
infância, teria sido vítima de uma sedução sexual real e que esse fato, pelo seu caráter traumático, teria
sido recalcado e se transformado em núcleo patogênico cuja remoção só seria obtida com uma ab-reação e
uma elaboração psíquica da experiência traumática.
 Lembrando que ab-reação = descarga emocional pela qual um sujeito se liberta do afeto ligado à
recordação de um acontecimento traumático.
 Nessa época Freud não admitia a existência de uma sexualidade infantil, o que tornava complicada a
afirmação de que o trauma teria sido produzido na infância em função de uma sedução sexual exercida por
um adulto. Não havendo sexualidade infantil, não poderia haver ―sedução sexual‖.
 Em função disso, Freud desdobra a ação traumática em dois momentos, sendo que o segundo momento é
que confere um caráter traumático ao primeiro.
 No primeiro momento haveria apenas a cena na qual a criança sofreria a sedução sexual, sem que ela
percebesse o caráter sexual do acontecimento e sem que isso produzisse nela qualquer excitação de
natureza sexual. O segundo momento ocorreria a partir da puberdade, quando a sexualidade já tivesse
surgido. Então, numa outra cena que não necessitaria ser de natureza sexual, a pessoa evocaria a primeira
cena por um traço associativo, tornando patogênica a sua lembrança.
 Não é o passado que é traumático, mas a lembrança do passado a partir de uma experiência atual.
 A superação dessa teoria do trauma se deu por duas descobertas: a do papel da fantasia e a da
sexualidade infantil. Essas duas descobertas podem ser concentradas numa só: a descoberta do Édipo.
 A primeira referência feita por Freud ao complexo de Édipo foi numa carta em que relatou um sonho que
teve, onde se apaixonava pela mãe e sentia ciúmes do pai. Ele considerou que esse era um evento
universal da infância.
 Um mês antes dessa carta Freud já havia questionado sua teoria anterior devido a dois fatores: o fracasso
terapêutico em grande parte dos casos e a desconfiança da veracidade dos relatos dos pacientes quanto a
terem sido realmente seduzidos pelos pais.
 Se a sedução não era real, não era possível negar a realidade das narrativas de sedução feitas pelos
pacientes. Essas histórias passam a ser consideradas, então, como fantasias cuja elaboração foi
decorrente de impulsos edipianos anormalmente intensos.
 Freud jamais abandona a teoria da sedução. O que ele abandona, mas não completamente, é a tentativa de
chegar a uma cena originária. Mesmo porque, há uma sedução à qual praticamente nenhum ser humano
escapa: a sedução dos cuidados maternos.
 Os Três ensaios sobre a sexualidade não falam do instinto sexual, mas da pulsão sexual. Mais do que isso,
constituem a pulsão sexual como modelo da pulsão em geral, já que Freud em nenhum momento
conseguiu caracterizar a pulsão como sendo não sexual.
 O primeiro dos três ensaios sobre a sexualidade tem como título ―As aberrações sexuais‖. Segundo
Freud, o objeto sexual é a pessoa de quem procede a atração e o objetivo sexual é o ato a que a pulsão
conduz.
 No instinto há padrões fixos de conduta que ligam objetivo e objeto, mas na pulsão esses padrões são
fixados durante a história do indivíduo (suas vivências). Portanto, a definição do que é um desvio é muito
mais variável no caso da pulsão do que no caso do instinto.
 No instinto a função dominante é a reprodução, sendo considerada perversa toda conduta sexual que não
conduza à reprodução, já que ela colocaria em risco a preservação da espécie.
 Dentro de um ponto de vista psicanalítico, para o qual o fundamental é o prazer e não a reprodução, certas
condutas que seriam consideradas perversas se tomássemos como referencial o instinto deixam de ser se
tomarmos como referencial a pulsão. O objeto da pulsão apresenta uma variedade que torna praticamente
impossível definir, apenas em função dele, o que seria uma perversão.
 O objetivo desse primeiro ensaio é mostrar o quanto a noção de sexualidade supera os limites impostos por
teorias, o que implicaria repensar o próprio conceito de desvio ou perversão.
 É em relação ao objetivo sexual que Freud vai definir os desvios com mais precisão. O objetivo sexual é
caracterizado como a união dos órgãos genitais que conduz a um alívio da tensão sexual e as perversões
são definidas como atividades sexuais que se estendem, num sentido anatômico, além das regiões do
corpo que se destinam à união sexual, ou demoram-se nas carícias prévias, as quais passam a ser mais
importantes que o objetivo sexual final.
 Freud declara, porém, que nenhuma pessoa sadia pode deixar de acrescentar algo de perverso ao objetivo
sexual normal e que a universalidade dessa conclusão é em si suficiente para mostrar quão inadequado é
usar a palavra perversão como um termo de censura.
 O grau de perversão permitido por cada pessoa está na maior ou menor resistência oferecida pelas ―forças
psíquicas‖, sobretudo a vergonha e a repugnância. Essas forças vão ser responsáveis pela transformação
desses impulsos em sintomas neuróticos, de modo que podemos considerar a neurose como o negativo
das perversões e os sintomas como a atividade sexual do indivíduo neurótico.
 É no segundo dos três ensaios que Freud desenvolve sua teoria da sexualidade infantil. Ao recusarmos o
reconhecimento de uma sexualidade infantil, estamos negando o reconhecimento dos nossos próprios
impulsos sexuais infantis. Assim, o ―esquecimento‖ que incide sobre os primeiros anos da nossa infância é
uma das formas pelas quais se manifesta a recusa de nossa própria infância perversa.
 O termo autoerotismo é usado por Freud para descrever um estado original da sexualidade infantil anterior
ao do narcisismo, no qual a pulsão sexual, ligada a um órgão ou à excitação de uma zona erógena,
encontra satisfação sem recorrer a um objeto externo.
 Antes ainda dessa fase autoerótica, há uma fase na qual a pulsão se satisfaz por ―apoio‖ em uma pulsão de
autoconservação, onde a satisfação se dá graças a um objeto: o seio materno.
 Num primeiro momento o objeto específico não é o seio da mãe, mas o leite. É a ingestão do leite, e não o
sugar o seio, o que satisfaz a fome da criança. Em termos instintivos, a função de sucção tem por finalidade
a obtenção do alimento e que satisfaz o estado de necessidade orgânica caracterizado pela fome. Mas, ao
mesmo tempo em que isso ocorre, ocorre também um processo paralelo de natureza sexual: a excitação
dos lábios e da língua pelo peito, produzindo uma satisfação que não é redutível à saciedade alimentar
apesar de encontrar nela o seu apoio.
 O objeto do instinto é o alimento, enquanto o objeto da pulsão sexual é o seio materno. Quando esse objeto
é abandonado, e tanto o objetivo quanto o objeto ganham autonomia com respeito à alimentação, se
constitui o protótipo da sexualidade oral para Freud: o chupar o dedo. Tem início, então, o autoerotismo.
 A pulsão sexual deve ser entendida como o desvio do instinto.
 Para Freud, as zonas erógenas eram certas regiões do corpo que serviam como fontes das diversas
pulsões parciais.
 Lembrando que: a sexualidade é composta por vários tipos de pulsões (pulsões parciais), cada uma ligada
a uma determinada fonte (por exemplo: pulsão oral – fonte do prazer: boca, pulsão anal – fonte do prazer:
ânus). Essas funções parciais funcionam primeiro de forma independente e depois tendem a se unir nas
diversas organizações libidinais.
 O objeto da pulsão é por definição um objeto perdido, ela nunca o encontra.
 Como o próprio nome indica, as organizações pré-genitais são organizações da vida sexual nas quais as
zonas genitais não assumiram ainda seu papel preponderante. A ideia de ―organização‖ da libido numa fase
pré-genital implica que Freud tenha admitido que a sexualidade do período de autoerotismo comece a se
organizar em torno de zonas privilegiadas antes de adquirir uma organização global em torno da zona
genital.
 Freud elabora a noção de zona erógena segundo um referencial anatomofisiológico. Segundo esse
referencial, certas regiões do corpo são consideradas predestinadas para fins sexuais, porém, após refletir
mais e depois de levar em conta outras observações, ele concluiu que todas as partes do corpo e todos os
órgãos internos são erógenos.
 O corpo psicanalítico é um corpo fantasmático. É para o ―fantasma‖ que se dirige o desejo, e não para o
real. Ao recentrar a teoria psicanalítica na noção de desejo, Lacan nos mostra como o desejo se dirige não
a um objeto real, independente do indivíduo, mas a um fantasma. O objeto de desejo nunca é alcançado.
 A noção de fase libidinal designa uma etapa do desenvolvimento sexual da criança caracterizada por certa
organização da libido determinada ou pela predominância de uma zona erógena ou por um modo de
relação de objeto. Duas noções são necessárias para que se possa compreender adequadamente o
conceito de fase: a de zona erógena e a de relação de objeto.
 Inicialmente, Freud distingue, dentre as organizações ―pré-genitais‖, duas fases: a oral e a sádico-anal.
Somente em 1923 ele incluiu uma terceira fase pré-genital, a fálica, que, apesar de genital, reconhece
apenas uma espécie de genital: o masculino. Essa fase é dominada pelo complexo de castração e
corresponde ao declínio do complexo de Édipo.
 O terceiro ensaio, que tem por título ―As transformações da puberdade‖, é dedicado à análise da
sexualidade genital. É com o início da puberdade que o desenvolvimento da sexualidade começa a tomar
sua forma adulta. As pulsões sexuais, até então marcadas por uma forma autoerótica de obtenção de
satisfação, encontram finalmente um objeto sexual.
 Freud coloca como novo objetivo sexual, nessa fase, a descarga dos produtos sexuais, subordinando a
pulsão sexual à função reprodutora. Isso não significa que a obtenção do prazer tenha deixado de se
constituir como objeto final da sexualidade, mas que agora ambos os objetivos se fundem.
 ―O objetivo de uma pulsão é sempre a satisfação‖ (Freud).

PARTE 2 – NARCISISMO

 Eu ideal = o que o outro quer que eu seja. Ele faz ligação com o complexo de Édipo, pois se eu alcanço
esse ideal, eu atraio o olhar sobre mim. É tudo aquilo o que gostaríamos de ter sido sob a ótica do que o
outro espera da gente, o que temos que ser para suprir as expectativas do outro sobre nós.
 Ideal do eu = o que eu de fato quero ser. São os ideais que iremos perseguir e nunca iremos alcançar, pois
o desejo sempre será deslocado.
 A ideia é abandonar o eu ideal e focar no ideal do eu, porém na prática isso é muito mais difícil. A nossa
tendência (solução neurótica) é juntar os dois.
 Tópicos do vídeo sugerido pela Olívia, do Christian Dunker: o narcisismo é um conceito proposto por
Freud para entender a origem do eu, pois, para a psicanálise, o eu surge, não nascemos com ele.
 De acordo com Freud, o narcisismo é o ato psíquico/a experiência que forma o eu. Ele está situado entre a
fase de autoerotismo e a fase do amor objetal, sendo o intermédio entre ambas.
 Tópicos do texto base dessa matéria: vimos que nos ―Três ensaios‖ Freud caracteriza o autoerotismo
como um estado original da sexualidade infantil, anterior ao do narcisismo, no qual a pulsão sexual encontra
satisfação sem recorrer a um objeto externo.
 A pergunta que Freud faz é: qual a relação entre o narcisismo e o autoerotismo?
 A resposta que ele próprio fornece é que o eu tem que ser desenvolvido. Portanto, algo tem que se
acrescentar ao autoerotismo para que o narcisismo se constitua. E o que se acrescenta a ele, para dar
forma ao narcisismo, é o eu.
 É importante notar que, anteriormente ao artigo de 1914, o narcisismo era assimilado à perversão — devido
a escolha do próprio corpo como objeto de investimento amoroso — e que, a partir do texto sobre o
narcisismo, deixa de ser concebido como perversão e passa a ser apontado como forma necessária de
constituição da subjetividade.
 Basicamente o texto a partir daqui vai falar sobre três modos de funcionamento libidinal:
autoerotismo, narcisismo e amor objetal. O autor vai começar uma lenga lenga sobre ser ou não
necessário distinguir narcisismo primário e secundário, vai se perguntar se o narcisismo primário
não seria o mesmo que autoerotismo, arruma uma falazada pra no final concluir que não dá pra
saber a resposta por meio do texto de Freud, mas que é certo que existe autoerotismo, narcisismo e
amor objetal. Em sala, a Olívia comentou sobre ser um narcisismo só, não sendo necessário
diferenciar primário e secundário. De toda forma, segue o resumo da enrolação:
 Originalmente, o eu é o objeto privilegiado de investimento libidinal, a ponto de se constituir como o ―grande
reservatório da libido‖, armazenador de toda a libido disponível. Esse momento, Freud denomina narcisismo
primário. Posteriormente, o investimento libidinal passa a incidir sobre objetos (entenda-se: representações-
objeto).
 No entanto, diz Freud, ―durante toda a vida o eu continua sendo o grande reservatório a partir do qual
investimentos libidinais são enviados aos objetos e para onde são recolhidos, tal como um corpo que se
estende e se recolhe‖.
 O retorno desse investimento libidinal ao eu, após ter investido em objetos externos, é chamado narcisismo
secundário.
 Freud distingue claramente entre retração da libido para o ego e retração da libido para objetos imaginários,
a primeira caracterizando o narcisismo e a segunda caracterizando a introversão propriamente dita.
 Em todos os momentos de sua construção teórica, Freud faz questão de assinalar a diferença de estrutura
entre a neurose e a psicose, e consequentemente a diferença entre a retração da realidade que se verifica
numa e noutra.
 Uma coisa é a retração da libido que podemos encontrar no indivíduo normal, outra coisa é a retração da
libido no esquizofrênico. No neurótico, a realidade é substituída pela fantasia, enquanto no psicótico há uma
perda da realidade sem que a fantasia forneça qualquer tipo de substituto.
 Na neurose há uma retração da libido em favor do eu, mas sem que o indivíduo elimine inteiramente o
vínculo erótico com pessoas e coisas. Esse vínculo é conservado na fantasia, substituindo os objetos reais
por objetos imaginários. Na psicose ocorre algo muito diferente, a retração da libido não se faz pela
substituição de objetos reais por objetos imaginários, mas pela retirada da libido das pessoas e coisas, sem
o recurso à fantasia. O que ocorre é um corte com relação ao objeto e uma acumulação da libido no eu. O
vínculo erótico com os objetos do mundo é eliminado sem que no seu lugar surjam objetos imaginários
(Schreber passou a se achar a pessoa mais importante do mundo quando teve os seus surtos psicóticos,
pois a libido recaiu totalmente sobre o seu ego).
 Inicialmente, a expressão ―narcisismo primário‖ parece indicar uma fase intermediária entre o autoerotismo
e o narcisismo secundário (ou narcisismo propriamente dito). No entanto, a partir dos textos de 1920, a
noção de narcisismo primário substitui a de autoerotismo, dando a entender que o que ele chamava de
narcisismo primário coincidia com o autoerotismo.
 Freud distingue dois tipos de escolha de objeto: o tipo anaclítico e o tipo narcísico. No primeiro, a criança
escolhe como objeto sexual as pessoas encarregadas de sua alimentação, cuidados e proteção, em geral a
mãe ou substitutos. No segundo, ela toma a si mesma como objeto de amor. Esses dois tipos não se
apresentam como excludentes um do outro.
 De acordo com Freud, ama-se: (1) Segundo o tipo narcisista: a) O que se é (isto é, a si mesmo); b) O que
se foi; c) O que se quereria ser; d) Alguém que foi parte do seu próprio eu. (2) Ou, segundo o tipo anaclítico:
a) A mulher que alimenta; b) O homem que protege.
 O que fica claro é que a hipótese de um narcisismo da criança é o pressuposto necessário para a
elaboração de sua teoria da sexualidade como um todo. O que permanece envolto numa penumbra teórica
é se esse narcisismo é o que Freud denomina narcisismo primário e, caso a resposta seja afirmativa, se ele
coincide com o autoerotismo, ou se é uma etapa distinta na constituição da subjetividade.
 O que é indiscutível é a afirmação que diz que o eu não está presente desde o início, ele tem que ser
acrescentado ao autoerotismo para o narcisismo se constituir.
 Poderíamos argumentar que, se no autoerotismo o próprio corpo é tomado como objeto sexual, o
autoerotismo pode ser considerado como uma forma de narcisismo, narcisismo primário neste caso. Mas
não é bem assim. O que ocorre no autoerotismo é o que Freud denomina ―prazer do órgão‖, isto é, o prazer
que o órgão retira dele mesmo. Não se trata do corpo considerado um todo, sendo tomado como objeto de
investimento libidinal, mas partes de um corpo vivido como fragmentado, sem unidade. Não há, no
autoerotismo, uma representação do corpo como uma unidade. O que nele falta é o eu, representação
complexa que o indivíduo faz de si mesmo.
 A constituição desse eu efetiva-se com o narcisismo dos pais que atribuem ao filho todas as perfeições,
além de concederem a ele privilégios que eles próprios foram obrigados a abandonar. O eu que surge da
imagem que a criança faz de seu próprio corpo e desse narcisismo paterno é o eu ideal, que corresponde
ao narcisismo primário.
 O narcisismo secundário, por sua vez, resulta de um retorno ao eu dos investimentos feitos sobre os
objetos externos. A libido que anteriormente investia o eu passa a investir objetos externos e posteriormente
volta a tomar o eu como objeto. Entre o narcisismo primário e o narcisismo secundário, há um investimento
da libido em objetos externos ao eu. Estes modos de investimento libidinal não devem ser considerados
fases ou etapas, pois não há um abandono completo do eu em benefício do investimento objetal, nem
posteriormente um abandono completo do investimento objetal em favor do eu; pode haver concomitância
das formas de investimento com a predominância de uma delas.
 A pergunta é se a distinção entre narcisismo primário e narcisismo secundário é necessária.
 Quando Freud afirma que o eu não está presente ―desde o início‖, o início a que ele se refere é o início da
vida erótica, que dará lugar ao princípio de prazer (ID), sendo fundamental entendermos que daí por diante
a própria vida biológica será libidinada.
 Diferentemente da função biológica sexual, que é adaptativa e preservadora da espécie, a sexualidade
humana, segundo Freud, é errante, não adaptativa e não obedece a nenhuma finalidade de preservar a
espécie.
 MAS AFINAL DE CONTAS, É UM OU DOIS NARCISISMOS? O artigo de Freud dá a entender a existência
de dois narcisismos, um narcisismo primário e um narcisismo secundário. No entanto, é inútil procurar no
texto freudiano uma resposta acabada para a questão, porque o próprio texto de 1914 não é claro a
respeito.
 Uma coisa, porém, parece indiscutível: a existência de pelo menos três modos distintos e sequenciais de
funcionamento libidinal: autoerotismo, narcisismo e escolha de objeto (essa lenga lenga toda pra concluir
isso).

PARTE 3 – ID, EGO E SUPEREGO | A NOÇÃO DE EGO NOS TEXTOS METAPSICOLÓGICOS

 Princípio da realidade (EGO): é um dos princípios que, segundo Freud, rege o funcionamento mental.
Forma par com o princípio do prazer (ID) e o modifica. Isso, pois, na medida em que consegue se impor
como princípio regulador, de forma que a procura da satisfação já não se efetua pelos caminhos mais
curtos, mas faz desvios e adia o seu resultado em função das condições impostas pelo mundo exterior.
 Princípio do prazer (ID): também é um dos princípios que, segundo Freud, rege o funcionamento mental.
A atividade psíquica no seu conjunto tem por objetivo evitar o desprazer e proporcionar o prazer. É um
princípio econômico na medida em que o desprazer está ligado ao aumento das quantidades de excitação e
o prazer à sua redução.
 Tópicos dos vídeos sugeridos pela Olívia, do Christian Dunker:
 O ID seria um princípio originário das pulsões no geral. No ID não há negação, não há obediência a não
contradição, não há vontade coletiva, juízo de valor, bem, mal, ou moralidade, assim como não há
temporalidade (Olívia citou essa parte como provável questão de prova).
 Christian cita o exemplo do cavalo, onde o cavaleiro é o EGO (eu), a rédea é o SUPEREGO (valores
impostos) e o ID (desejos recalcados, prazeres não satisfeitos) é o cavalo. Quem vai equilibrar a briga entre
ID e SUPEREGO é o EGO.
 EGO: o sujeito (eu) se percebe como uma imagem, se percebe num dualismo entre eu ideal x ideal do eu.
É importante compreender que o conceito de eu não é o conceito do indivíduo (uma pessoa em específico),
pois o nosso eu tem uma estrutura ―dual‖: nós e nossa sombra. Eu e aquela voz com quem a noite eu
converso. Em resumo, eu ideal x ideal de eu. Essa estrutura dual compõe o funcionamento egóico. É uma
função do eu a autoconservação.
 SUPEREGO: herdeiro do complexo de Édipo e construído segundo o modelo do superego dos pais (e até
avós). É como se no final do processo de escolha de objetos (fim do complexo de Édipo), o sujeito
incorporasse a lei, de tal maneira que ele não obedece mais porque o outro o controla e o vigia, mas porque
ele adquire uma lei própria, interiorizada. É uma instância que age a partir de três procedimentos:
observação (ele vigia e presta atenção); julgamento (julgar a si, aos outros, se comparar); punição (somos o
carrasco de nós mesmos, aplicamos punições a nós que geram o sentimento de culpa). É uma instância
que diz não e que representa a lei. Nos neuróticos, quanto mais se obedece ao superego, mais ele exige e
impõe, mais ele pune. Ele é a fonte mais frequente do nosso sofrimento (que nós mesmos nos infligimos).
 Verbetes úteis:
 Pulsão: processo dinâmico que consiste numa pressão ou força que faz o organismo tender para um
objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal.
 Meta pulsional: atividade a que a pulsão impele, e que leva a uma resolução da tensão interna: essa
atividade é sustentada e orientada por fantasias. É a obtenção da satisfação pela via da descarga das
excitações.
 Destinos da pulsão: Freud define quatro destinos possíveis para a pulsão: 1) reversão ao seu oposto, que
ocorre a partir de duas operações: mudança da atividade para a passividade e reversão de seu conteúdo;
2) retorno ao próprio eu; 3) recalque; 4) sublimação, que é o mecanismo que transforma algum desejo ou
energia inconsciente em determinados impulsos que são bem vistos pela sociedade.
 O objeto da pulsão é por definição um objeto perdido. Estamos sempre em busca dele.
 A pulsão, então, vai ter uma meta (satisfação), vai ter uma fonte, um objeto (perdido, pois ele já não
existe mais) e vai ter a pressão, que é a força que o inconsciente faz para vir ao consciente. O
recalque é a barreira que reprime essa força.

Você também pode gostar