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Recomendações aos médicos que

exercem à Psicanálise (Freu-1912)

A regras técnicas resultaram da minha própria experiência ao longo


de muitos anos, após ter abandonado outros métodos por
constatar seus prejuízos. Espera:
poupe aos médicos que lidam com a análise esforço desnecessário
proteja-os de inadvertências;

Esta “técnica resultou como a única adequada para mim, como


indivíduo” – outros médicos podem adotar atitude diferente

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)

a) Atenção Flutuante - Memorização


Não querer memorizar algo específico
Manter “atenção equiflutuante” (atenção suspensa) – a ATENÇÃO
DELIBERADA INDUZ À SELEÇÃO DO MATERIAL APRESENTADO. Está
sustentada em nossas expectativas ou inclinações. - se seguirmos
nossas inclinações, não saberemos não saberemos além do que já
sabemos e falsificaremos a possível percepção.
Em geral ouvimos coisas cuja importância só se revelará a posteriori

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)

1) ATENÇÃO FLUTUANTE
Regra para médico – manter todas as influências conscientes longe
de sua capacidade de memorização e se entregue completamente à
sua “memória inconsciente”: ouça o que lhe dizem e não se
preocupe se vai se lembrar de algo ou não.
“Aquelas partes do material que já formam um texto coerente se tornam
disponíveis conscientemente para o médico; o restante, ainda caótico e
desorganizado, parece estar imerso num primeiro momento, mas
ressurge e se torna disponível na memória assim que o analisando
apresenta algo novo que possa estabelecer uma relação com esse
material e através do qual possa haver uma continuidade.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
B) Anotação do Conteúdo Informado Pelos
Pacientes
Não recomendo fazer anotações ou registros nas sessões com o
analisando. Registro leva à Seleção do material e ocupa o analista
com uma atividade intelectual, que deveria ser aplicada na
interpretação do que ouvimos.
Exceções a essa regra: datas, textos de sonho, resultados
relevantes que podem ser separados do contexto (exemplos de
uma utilização autônoma).
“Anoto exemplos à noite depois de terminado o trabalho, a partir do que
me lembro; quanto aos textos de sonho que me interessam
particularmente, peço que os pacientes os registrem após contarem o
sonho”.
Profª Ms. Ozilea S. Costa
Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)

c. Registro para publicação científica

A anotação durante a sessão com o paciente se justificaria a partir


da intenção de tornar o caso tratado o objeto de uma publicação
científica. Isso dificilmente seria recusado. Mas temos de ter em
mente que registros acurados do histórico analítico de uma
doença trazem menos benefícios do que se poderia deles esperar.
Se o leitor não quiser levar a sério nem a análise nem o analista,
ele ignorará os registros acurados do tratamento.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)

d. Registro para publicação científica


Não é bom abordar um caso cientificamente enquanto o
respectivo tratamento não tiver sido concluído
“um dos méritos do trabalho analítico é que nele pesquisa e
tratamento coincidem, mas a técnica que serve a um, de um certo
ponto de vista, acaba se opondo à outra... Tratamento e produção
científica exigem configurações psíquicas diferentes. A produção
científica requer construir a sua estrutura, inferir a continuidade,
fazer imagens do status atual da situação de tempos em tempos.
Enquanto o analista não especula.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)

d. Registro para publicação científica

“os casos que mais têm sucesso são aqueles em que


procedemos quase sem intenção, nos surpreendendo com cada
mudança de rumo e com que nos defrontamos sempre
desarmados e sem preconcepções”

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)

e. ambição terapêutica negativa

Revela sua ASPIRAÇÃO POR AFETO, assim colocando-o uma


situação desfavorável para o seu trabalho.
Se EXPÕE, indefeso, a certas RESISTÊNCIAS DO PACIENTE, de cujo
embate de forças, afinal, depende essencialmente o
restabelecimento.
“FRIEZA EMOCIONAL”: cria as condições mais favoráveis: para o
médico, a preservação desejável de sua própria vida afetiva; para
o doente, a maior amplitude de assistência possível hoje.
Metáfora do cirurgião: “Eu lhe fiz os curativos, Deus o curou”

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
f. Servir-se de seu inconsciente como instrumento
durante a análise – análise do analista
“O médico deverá ser capaz de utilizar tudo que lhe foi dito para a
finalidade da interpretação, do reconhecimento do inconsciente
oculto, sem substituir a seleção descartada pelo doente por uma
censura própria; resumindo em uma fórmula: ele deverá dirigir
para o inconsciente emissor do doente o seu próprio inconsciente
enquanto órgão receptor”.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
f. Servir-se de seu inconsciente como instrumento
durante a análise – análise do analista
Para tanto, não poderá tolerar resistências dentro de si próprio, que
afastam de seu consciente aquilo que foi reconhecido pelo seu
inconsciente; do contrário, ele introduziria um novo tipo de seleção e
deformação na análise.
Logo deve ser submetido a uma “purificação psicanalítica” (análise) e
que tenha tomado conhecimento daqueles complexos próprios,
adequados para atrapalhá-lo na absorção daquilo que lhe é
apresentado pelo analisando.
Cada recalque não resolvido do médico corresponde, a um “ponto
cego” em sua percepção analítica.
Profª Ms. Ozilea S. Costa
Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
f. Servir-se de seu inconsciente como instrumento
durante a análise – análise do analista
O médico que despreza sua auto-análise será punido através da
incapacidade de aprender em certa medida com os seus
pacientes, e também correrá o risco mais sério, que poderá se
tornar um risco para outros. Ele facilmente irá se ver diante da
tentação, em uma tosca autopercepção, de projetar na Ciência
aquilo que, como se fosse teoria de validade geral, ele reconhecer
das idiossincrasias de sua própria pessoa; ele trará descrédito
para o método analítico e induzirá inexperientes ao erro.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
g. Tentações do médico: “Sugestão” – à emitir
opiniões sobre, revelar sua intimidade
A resolução da transferência, que é uma das tarefas principais do
tratamento, é dificultada pela postura de intimidade do médico.
“O médico precisa ser opaco para o analisando e, assim como
uma superfície espelhada, não deve mostrar nada além daquilo
que lhe é mostrado”

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
g. Tentações do médico: Ambição educativa
Tomar como a aptidão do analisando e não os próprios desejos.
“Nem todos os neuróticos têm muito talento para a
sublimação; ... Muitos deles não teriam adoecido se fossem
dotados da arte de sublimar suas pulsões.
“... A ambição educativa é tão pouco adequada quanto a
terapêutica. Além disso, ... muitas pessoas adoeceram justamente
na tentativa de sublimar suas pulsões para além da medida
autorizada pela sua organização, e naqueles capazes de fazer a
sublimação esse processo costuma acontecer por si mesmo,
assim que as suas inibições são superadas através da análise”.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
g. Tentações do médico: Cooperação intelectual do
paciente
É incorreto dar tarefas ao analisando: reunir as suas lembranças,
meditar sobre um determinado período de sua vida e tarefas
assemelhadas.
Pela meditação, pelo empenho da vontade e da atenção não será
resolvido nenhum dos mistérios da neurose. Estas só serão
resolvidos através do seguimento paciente da REGRA
PSICANALÍTICA, que estipula o desligamento da crítica ao
inconsciente e seus derivados.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
g. Tentações do médico: Cooperação intelectual do
paciente
A regra psicanalítica deve ser seguida de forma especialmente
rígida com aqueles pacientes que exercitam a arte de resvalar
para a intelectualização durante o tratamento.
“Por isso, com os meus pacientes NÃO gosto de RECORRER À
LEITURA DE ESCRITOS PSICANALÍTICOS; eu exijo que APRENDAM
COM SUA PRÓPRIA PESSOA .... desse modo experienciarão mais, e
coisas mais valiosas do que toda a literatura psicanalítica poderia
lhes transmitir. .... sob as condições de uma internação em uma
instituição pode ser vantajoso usar a leitura para preparar os
analisandos e para estabelecer um clima de influência”.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Recomendações aos médicos que
exercem à Psicanálise (Freu-1912)
g. Tentações do médico: Cooperação intelectual do
paciente
Desaconselho veementemente que busquem a concordância e o
apoio dos pais ou parentes, dando-lhes para ler alguma obra –
introdutória ou mais aprofundada – da nossa literatura.
Geralmente, essa medida bemintencionada é suficiente para fazer
eclodir precocemente a oposição natural, e em determinado
momento inevitável, dos parentes contra o tratamento
psicanalítico dos seus familiares, de modo que nem se chega a
começar o tratamento.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Sobre o início do tratamento (N0vas
recomendações sobre a técnica-1913
Metáfora com jogo do xadrez

Apenas as jogadas de abertura e as jogadas finais permitem uma


representação exaustiva, enquanto a enorme variedade das
jogadas que começam a partir da abertura acaba frustrando tal
representação.
“Esta lacuna na instrução só pode ser preenchida por um estudo
diligente dos jogos travados pelos mestres”. Sem essa transmissão
que depende das gerações anteriores de psicanalistas, não se
avança. A formação em psicanálise não prescinde desse lastro
transferencial.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


Sobre o início do tratamento (N0vas
recomendações sobre a técnica-1913
Metáfora com jogo do xadrez

Preferindo designá-las como RECOMENDAÇÕES, valorizando a


não mecanização da técnica diante da diversidade das
configurações psíquicas, da plasticidade dos processos mentais e
da riqueza dos fatores determinantes.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


“Recomendações”
1. Entrevistas preliminares

“SONDAGEM” para conhecer o caso e decidir se o mesmo


é apropriado para a psicanálise. Porém, esse período já
corresponde a um começo de análise.
O dispositivo aí instalado é o de realização de
ENTREVISTAS, nas quais “se deixa o paciente falar quase
todo o tempo e não se explica mais do que o
absolutamente necessário para fazê-lo prosseguir no que
está dizendo”. São sobretudo as PERGUNTAS que possuem
maior valor analítico neste momento.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


“Recomendações”
1. Entrevistas preliminares

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ENTRE NEUROSE E PSICOSE


O psicanalista precisará de ferramentas sólidas sobre as
distinções clínicas entre neuroses e psicoses.
Freud também examina as condições transferenciais para
a realização do processo analítico. Pondera que o
psicanalista não pode subestimar as resistências internas
que mantêm o padecimento neurótico

Profª Ms. Ozilea S. Costa


“Recomendações”
2. Tempo e Pagamento
Leva em conta a dimensão pulsional e inconsciente que
esses aspectos podem evocar.

TEMPO de uma análise – pergunta irrespondível. Implica o


desejo do analista, sua disponibilidade para atendimento
As interrupções do tratamento – frutos da resistência
O Tratamento experimental demora algumas semanas - um
“pronunciamento mais fidedigno (sobre o tempo) ao final do
período de prova” (FREUD, 1913/1996, p. 143)

Profª Ms. Ozilea S. Costa


“Recomendações”
2. Tempo e Pagamento
Leva em conta a dimensão pulsional e inconsciente que
esses aspectos podem evocar.

DINHEIRO: As questões de dinheiro são tratadas pelas pessoas


civilizadas com a mesma incoerência (falso pudor e hipocrisia) que
as questões sexuais.
O pagamento leva à perda de uma satisfação que parasita
sintomaticamente o sujeito: “... Nada na vida é tão caro quanto a
doença – e a estupidez”.
Pagamento em intervalos mais regulares e curtos

Profª Ms. Ozilea S. Costa


“Recomendações”
3. Uso do Divã

Divã: Facilitar a escuta ao IMPEDIR A PRESENÇA FIXA DO OLHAR a


ser suportada por várias horas.
Essa Barreira à pulsão escopofílica PROPULSIONA A ASSOCIAÇÃO
LIVRE NO CAMPO DA FALA, permitindo isolar mais criteriosamente
as resistências transferenciais da atividade imaginária
desencadeável no âmbito do ver e ser visto.

Profª Ms. Ozilea S. Costa


“Recomendações”
4. Em que ponto e com que material deve o
tratamento começar?
Vale a regra fundamental da associação livre – suspender, tanto
quanto possível, suas críticas e objeções. Objetivo é
enfraquecimento da resistência. A reserva mental do paciente em
falar está a serviço da resistência.
O paciente pode escolher em que ponto começará sua fala.
Ao clínico cabe estar atento às repetições que o relato apresenta.
Elas evidenciam os pontos nodais do discurso, os laços relevantes
que balizam as associações, na prática, “nada livres” do paciente
que ignora esses nexos causais. (FREUD, 1913/2019, p. 182).

Profª Ms. Ozilea S. Costa


“Recomendações”
5. Quando devemos começar a fazer nossas
comunicações ao paciente?
A transferência com o analista serve como uma primeira resistência
à associação livre, ao mesmo tempo em que permite um acesso
facilitado ao material patogênico do paciente.
As comunicações do analista devem aguardar a instalação de uma
dinâmica transferencial eficaz.
A comunicação prematura, mesmo quando pertinente à lógica do
caso, pode precipitar o abandono precoce do tratamento. A
interpretação do sintoma deve traduzir um elemento da fantasia
que o próprio paciente já esteja bastante próximo de tocar. Só assim
produzirá efeito de deslocamento da satisfação pulsional desfrutada
na neurose. O conhecimento consciente, quando não é expulso pela
negação, pode ser impotente contra a rigidez psíquica.
Profª Ms. Ozilea S. Costa
“Recomendações”
5. Quando devemos começar a fazer nossas
comunicações ao paciente?
Freud aposta que as forças psíquicas mobilizadas pelo tratamento
com a instauração do processo transferencial também estejam à
altura de alcançarem as bases psíquicas do sintoma:
“Assim, as novas fontes de força pelas quais o paciente é grato ao
analista reduzem-se à transferência e à instrução (através das
comunicações que lhe são feitas). O paciente contudo, só faz uso
da instrução na medida em que é induzido a fazê-lo pela
transferência” (FREUD, 1913/1996, p. 158).

Profª Ms. Ozilea S. Costa

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