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Resumo: Recomendações ao médico para o

tratamento psicanalítico (Freud, 1912)


Resumo do texto “recomendações aos médicos que exercem a psicanálise“, “recomendações ao
médico que pratica a psicanálise” ou “recomendações ao médico para o tratamento
psicanalítico”.
O título varia conforma a tradução. Nesse caso, usamos como referência o livro Fundamentos da
Clínica Psicanalítica da Editora Autêntica (2017), na coleção Obras Incompletas de Freud.
Nesse texto Freud ainda faz recomendações aos médicos que exercem a psicanálise, mas em “A
questão da análise leiga” ele mesmo discute se a análise deveria ou não ser exclusividade dos
médicos. Embora a Psicanálise tenha origem na medicina (Freud era neurologista), ela não é uma
prática exclusiva de profissionais com essa formação. Desse modo, leia as “recomendações ao
médico que pratica a psicanálise” como dirigidas aos analistas em geral.

Resumo – Recomendações ao médico para o tratamento


psicanalítico
Freud propõe regras técnicas para o exercício da psicanálise. Muitas delas unem-se em apenas uma
prescrição.
a) Pode parecer difícil para o analista manter na memória e não confundir as inúmeras informações
de diversos pacientes. Contudo, a técnica sugerida por Freud é muito simples. Consiste unicamente
em não querer memorizar nada especificamente, e sim prestar a mesma “atenção
equiflutuante” ao que se ouve.
A “regra psicanalítica fundamental” para o analisando é falar sobre tudo que vem à mente,
sem criticar ou selecionar. A contraparte do analista é lembrar de tudo igualmente. A regra
para o médico é não permitir influências conscientes em sua capacidade de memorização, e sim
utilizar sua “memória inconsciente”, ou seja, ouvir o que for dito e não se preocupar se vai se
lembrar ou não de algo. O material se tornará disponível à consciência do médico assim que houver
uma contextualização.
b) Freud não recomenda que o analista faça anotações extensas, nem registros da sessão. Além
de causar uma má impressão em alguns pacientes, aqui valem os mesmos aspectos da memorização.
Enquanto anotamos, selecionamos de forma nociva o material, além de ocupar parte da própria
atividade intelectual, que deveria ser melhor aplicada na interpretação do que é ouvido. Exceções à
regra são aceitas em casos de datas, resultados específicos relevantes ou textos de sonho.
c) Caso a intenção seja usar o caso tratado em uma publicação científica, a anotação durante a
sessão de análise seria justificada. Porém, obtêm-se menos benefícios de registros do histórico
analítico de um transtorno do que se poderia esperar.
d) O trabalho analítico tem como um de seus méritos a coincidência entre pesquisa e tratamento,
contudo há uma oposição entre a técnica utilizada em um e a outra. O comportamento correto do
psicanalista é se alçar entre configurações psíquicas, não fazer especulações ou meditar enquanto
analisa e só trabalhar o material obtido, por meio do pensamento, depois do término da análise.
e) Freud recomenda que no tratamento psicanalítico se aja como, por exemplo, um cirurgião
que, suspendendo seus afetos e compaixão humana, tem como único objetivo estabelecido para suas
forças psíquicas a realização da operação da forma mais perfeita possível. Essa frieza necessária
ao analista justifica-se porque cria condições mais favoráveis para os dois lados: oferece maior
amplitude de assistência ao paciente e preserva a vida afetiva do médico.
f) Essas regras confluem no objetivo de produzir no psicanalista o contraponto da “regra
psicanalítica fundamental”. O médico deve ser capaz de interpretar o que foi dito e reconhecer o
inconsciente oculto, sem selecionar as informações por uma censura própria. Para isso, é
necessária uma condição psicológica: o psicanalista não pode ter dentro de si resistências, que
repelem da consciência o material inconsciente, e provocam uma nova forma de seleção e
deformação da análise. Desse modo, é necessário que ele seja submetido a uma purificação
psicanalítica e tome conhecimento dos próprios complexos que podem atrapalhar a absorção do
conteúdo exposto pelo paciente. Os recalques do próprio analista são como pontos cegos em sua
percepção analítica.
Como nos tornamos analistas? A análise dos próprios sonhos é suficiente para muitas pessoas,
mas não para todas. Uma boa recomendação é tornar-se analisando de um especialista. Se abrir
diante de uma pessoa sem ser pressionado por uma doença tem várias vantagens: podemos conhecer
o oculto em nós em menos tempo e com menos esforço afetivo, adquirimos convicções e
impressões no próprio corpo inalcançáveis ao ouvir conferências ou estudar por livros, e temos um
ganho devido à relação psíquica que geralmente se estabelece com o guia. O analisando que souber
valorizar o autoconhecimento e o aumento do autocontrole adquiridos pode prosseguir o
desbravamento analítico de si mesmo como uma autoanálise. Aquele que negligenciar esse cuidado
com o próprio psiquismo pode perder capacidade de aprender com seus analisandos, e pode projetar
na Ciência as particularidades de sua pessoa; isso pode levar descrédito ao método analítico e
induzir pessoas sem experiência ao erro.
g) A técnica afetiva que consiste em o analista mostrar seus próprios conflitos e defeitos
psíquicos ao paciente não é recomendável. Ela se aproxima dos tratamentos por sugestão, se
afastando da psicanálise, e aumenta no analisando a incapacidade de superação das resistências
mais profundas. Essa técnica também pode fazer com que o paciente queira inverter a situação,
tendo mais interesse na análise do analista do que em sua própria.
A postura de intimidade do psicanalista pode dificultar um dos principais objetivos da terapia: a
resolução da transferência. Freud sugere que o analista deve ser opaco e, tal como um espelho, não
mostrar ao analisando nada além do que lhe é mostrado.
h) Outra tentação a ser evitada é a ambição educativa. O analista deve controlar-se ao apontar
novos objetivos ao doente, e ter tolerância perante a sua fraqueza. Nem todos são capazes de
realizar bem a sublimação de suas pulsões, portanto deve se ter cuidado ao indicar isso.
i) Deve-se ter cuidado com a cooperação intelectual do paciente, especialmente com aqueles que
tendem a praticar a intelectualização. A resolução dos mistérios da neurose se dá por meio da regra
psicanalítica de trazer à tona os materiais do inconsciente sem crítica. Freud não recomenda
oferecer a literatura psicanalítica a pacientes ou seus parentes, mas afirma que, no caso de
internação em uma instituição, pode haver vantagem no uso da leitura para o estabelecimento de um
clima de influência e para a preparação dos analisandos.
Freud conclui exprimindo sua esperança de chegar a um consenso, por meio do progresso nas
experiências dos psicanalistas, sobre as questões da técnica a ser usada para o tratamento mais
eficaz dos neuróticos.

Referências:
Freud, S. (2017). Fundamentos da Clínica Psicanalítica.

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