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Seminário Teológico Bereshit – SETEB
Coleção: Parábolas - Nº 04
A Parábola da Grande
Ceia
1.5 - Estude a parábola em seu contexto histórico para determinar por que foi contada.
Todas as parábolas foram primeiro contadas a uma determinada audiência
numa ocasião específica. Por exemplo, a história do Bom Samaritano foi ocasionada
pela queixa de certo advogado a Jesus, que era difícil amar seu próximo quando não
podia imaginar quem ele era (Lucas 10:25-30), e as três maravilhosas parábolas sobre as
coisas perdidas em Lucas 15 foram uma resposta aos ataques feitos contra Jesus pela
"má companhia" que ele estava mantendo (versículos 1-2). Às vezes esta informação
de pano de fundo está faltando e o significado de uma determinada parábola precisa
ser buscado na informação mais ampla dos Evangelhos, mas, quando presentes, as
circunstâncias nas quais uma parábola foi contada nos dão uma indicação mais certa
quanto ao propósito do Senhor para sua história. O contexto precisa sempre governar o
texto.
1.8 - Não tente estabelecer uma posição doutrinária somente por uma parábola.
Há muito que é esclarecido para nós pelas parábolas de Jesus, mas precisam
sempre ser entendidas à luz dos ensinamentos claros da Escritura, nunca em
contradição com ela. Estas ilustrações são mais destinadas a serem janelas do que
pedras de fundação. Elas não declaram tanto uma doutrina quanto ilustram uma faceta
significativa dela.
1.9 - Finalmente, e mais importante, procure sempre uma aplicação pessoal de cada parábola.
Depois de ter determinado a lição, ou as lições corretas da parábola sendo
estudada, a pergunta mais importante é: "Encontrei a mim mesmo nesta parábola?"
"Quais mudanças em minha vida e meus pensamentos esta parábola exige de mim?"
Não há nada tão trágico como um estudo dos ensinamentos de Jesus que não é
conduzido por mais do que uma curiosidade intelectual, a menos que seja o estudo de
algum pregador que sente a necessidade "profissional" de pregar um sermão a outros
sem um único pensamento de fazer qualquer aplicação a si mesmo. É imperativo, em
nosso estudo das parábolas, que cada um continuamente pergunte, "Senhor, o que há
aqui para mim?" Deste modo somente encontraremos os ouvidos de ouvir para os
quais nosso Senhor apelou quando pela primeira vez ele ensinou por parábolas
(Marcos 4:9, 23).
2. A Grande Ceia
Ao ensinar na casa de um dos principais dos fariseus, Jesus provocou o
comentário de um dos convidados que estavam com ele à mesa. Ele disse: “Bem-
aventurado aquele que comer pão no reino de Deus”. Falando assim, deixava implícito que,
a qualquer custo, ele estaria presente nas festas celestiais. Mas, quando o convite para a
celebração desta festa nos céus chegasse, estaria ele disposto a aceitá-lo? Jesus quis
testar a sinceridade do homem e contou a parábola sobre uma grande ceia.
2.1 - A história
Uma pessoa abastada, numa certa cidade, preparou cuidadosamente uma
grande ceia. Ele tinha falado a respeito com numerosos amigos que receberam bem sua
idéia de oferecer um banquete. Disseram-lhe que, quando tudo estivesse pronto, o que
tinha a fazer era falar, e eles iriam.
No dia da ceia, o homem mandou seu servo avisar os convidados que já estava
preparada a festa. Ele chegou à casa do primeiro convidado, e disse: “Vinde, porque
tudo já está preparado”. Infelizmente, o convidado tinha um compromisso e, com
tristeza, teve de recusar o convite. Disse ao servo: “Comprei um campo, e preciso ir vê-lo”.
Realmente, queria dizer: “Sinto muito, mas não posso comparecer ao banquete. Os negócios
vêm antes do prazer. Rogo-te que me tenhas por escusado”. Mandou lembranças ao anfitrião,
e esperou que este o compreendesse.
O servo procurou o segundo convidado, e chamou-o para a ceia, pois o anfitrião
estava à espera: “Vinde, porque tudo já está preparado”. O homem pareceu perplexo, ao
ouvir o convite. Estava tratando de negócios. Tinha acabado de pagar uma quantia
razoável por cinco juntas de bois e se preparava para experimentá-las Não podia sair,
pois os homens que conduziam os bois dependiam dele. Era o único que podia tomar
decisões. Era o chefe, ali. Sair de sua fazenda naquele momento, para tomar parte em
um banquete, seria muita irresponsabilidade. Ele expressou profundo pesar e pediu ao
servo que levasse suas saudações ao anfitrião. Tinha certeza de que o outro entenderia
sua situação embaraçosa.
O servo continuou, e bateu à porta do terceiro convidado. A esta altura já estava
preparado para receber resposta negativa ao convite de seu senhor. Quando chamou o
convidado para o banquete, ficou sabendo que este se casara durante aquela semana, e
estaria ocupado com suas próprias festas. Realmente, ele nem precisava se justificar.
Ninguém estranharia o fato de o noivo querer ficar ao lado de sua noiva.
Depois de ter falado com todos os convidados, o servo voltou ao anfitrião e
transmitiu-lhe todas as desculpas e lembranças enviadas. Compreensivelmente, o dono
da casa não se sentiu satisfeito. Ficou muito zangado. Não podia perder toda a comida
preparada. Não tinha outra escolha senão encher sua casa com outros convidados.
Assim, ordenou ao servo que fosse às mas e becos da cidade e trouxesse para a ceia os
mendigos, aleijados, cegos e coxos, que encontrasse. O servo cumpriu as ordens do seu
amo, mas, quando os convidados já estavam assentados, ainda sobrava lugar. O senhor
o enviou, para que buscasse todos os marginalizados pela sociedade, que encontrasse
pelos caminhos e atalhos da cidade. O anfitrião queria que todos os lugares do
banquete fossem ocupados, de modo que se algum daqueles que convidara antes
chegasse atrasado, não poderia entrar, pois não haveria mais lugar.
3. Interpretação
Um dos convidados presentes à casa do fariseu ilustre tinha dito: “Bem--
aventurado aquele que comer pão no reino de Deus”. Ele visualizava o céu como o lugar
onde não há mais morte, luto, lágrimas, ou dor (Ap 2 1.4), onde os cegos vêem e os
coxos andam. Que bênção se assentar em lugar reservado, à mesa de Deus, como um
filho seu, e participar com gozo da festa e da comunhão celestiais.
Jesus ensinou a parábola da grande ceia para mostrar que mesmo tendo
intenção de honrar nossas obrigações em relação a Deus, quando os cuidados e
interesses da vida terrena fazem seus reclamos, nós os pomos em primeiro lugar, e
oferecemos nossas desculpas a Deus. Prometemos a Deus amá-lo com todo o nosso
coração, toda a nossa mente e toda a nossa a!ma. Porém, a promessa prontamente se
esvazia quando os interesses desta vida exigem nossá atenção. Então, apresentamos
nossas desculpas a Deus e dizemos que ele deve compreender o acúmulo de nossas
responsabilidades, nossos compromissos, e que as oportunidades não se apresentam
com muita freqüência. Nossas obrigações, relacionamentos e conveniências contrariam,
freqüentemente, a promessa de amar a Deus e de servi-lo. Satisfazemos nossos
próprios interesses e esperamos que Deus nos dê uma segunda oportunidade.
As desculpas apresentadas pelos convidados simplesmente não se
sustentariam. Elas fazem referência a negócios e assuntos de família que poderiam
facilmente ficar em segundo plano em relação ao convite anteriormente aceito. O
campo ainda estaria lá no dia seguinte, para ser vistoriado. Os bois poderiam descansar
por uma noite e os recém-casados poderiam concordar numa separação ocasional.
A seqüência de desculpas atinge um limite. Na fala de Jesus, após o almoço,
percebemos uma nota de humor.
Primeiro, o exemplo do homem que tinha comprado um campo é
despropositado — quem compra um campo vai vê-lo antes de comprá-lo, não depois.
Do mesmo modo, a segunda desculpa não convence — as cinco juntas de bois
podiam ser colocadas para trabalhar no dia seguinte. Além disso, se o fazendeiro não
tivesse experimentado as juntas de bois antes de comprá-las, teria feito uma grande
tolice.
O terceiro exemplo foi o ponto culminante das ilustrações. O marido recém-
casado, incapaz de deixar a esposa por uma noite, fornece excelente material para
inúmeras brincadeiras.
Ao enumerar essas desculpas, o objetivo de Jesus era mostrar sua inconsistência
e fragilidade. Ninguém poderia levá-las a sério. Elas simplesmente não resistiriam. Nos
dias de Jesus todo mundo sabia da importância de um convite para um banquete.
Recusar-se a atender o segundo convite constituía um insulto ao dono da casa — em tal
grau que, entre as tribos árabes, equivalia a uma declaração de guerra. O convite devia
ser considerado uma ordem.
Os que ouviam Jesus, na casa do fariseu, compreenderam que a parábola era
dirigida a eles. O hospedeiro e seus hóspedes estavam sendo convidados novamente
para o banquete de Deus, ao qual já tinham aceitado comparecer. Eles viriam ou Deus
deveria procurar outros, porque os hóspedes convidados se recusavam a ir? Jesus disse
aos fariseus e aos doutores da lei que o banquete de Deus não é um acontecimento a
ser celebrado no final dos tempos. A festa já está pronta e Deus espera, então, a
resposta que têm para dar. Respondendo ao homem que tinha comentado: “Bem-
aventurado aquele que comer pão no reino de Deus”, Jesus falou: “Sim. Vinde, que a festa já
está preparada. Os convidados devem vir agora. Depois será tarde demais”. As instituições
religiosas dos dias de Jesus não estavam preparadas para aceitar a vinda do reino,
apesar dos sinais e maravilhas realizadospor Jesus, diante de todos.
Pela parábola, Jesus deixou entrever que não haverá falta de cidadãos no reino
de Deus. Se os líderes religiosos de Israel rejeitassem o convite de Deus para a entrada
no reino, ele o estenderia aos marginalizados pela sõciedade, isto é, aos coletores de
impostos, indecisõs e gentios.
A mensagem de salvação não foi aceita pelos líderes religiosos dos dias de
Jesus. Ela muitas vezes foi alvo de escárnio e désprezo. O povo comum a aceitou com
ardor. Marginais, ignorantes, samaritanos e gentios atenderam prontamente ao
chamado de Jesus.
4. Colocação
A parábola da grande ceia foi contada por Jesus após um almoço de sábado,
que se seguiu ao culto da manhã. A parábola sobre o banquete das bodas foi contada
por Jesus nos últimos dias de seu ministério terreno (Mt 22.1-14), As duas têm um tema
comum, mas sua disposição é inteiramente diferente. Em Lucas, a parábola é dirigida
aos fariseus e doutores da lei. Em Mateus, a parábola do banquete nupcial se volta
contra os líderes religiosos. O relato de Mateus se refere à dura realidade de um rei que,
provocado até à ira, reage com pronto castigo. No Evangelho de Lucas, o quadro
apresentado éo de um anfitrião que, se sentindo deliberadamente menosprezado,
extravasa seus sentimentos convidando a escória da sociedade.
Os quatro evangelhos mostram, repetidamente, que Jesus ensinava à maneira
dos rabinos daquela época. Para ele, ensinar significava repetir. Assim, ensinou a
parábola da grande ceia na ocasião em que foi convidado para um almoço de sábado
na casa de um fariseu. Alguns dias antes de sua morte, ele contou a parábola sobre o
banquete de núpcias.
Quando Jesus expôs a parábola da grande ceia, aqueles que tinham instrução religiosa
e teológica puderam perceber a alusão a duas passagens encontradas em
Deuteronômio:
“Os oficiais falarão ao povo, dizendo: Qual o homem que edificou casa nova e ainda não a
consagrou? Vá, torne-se para sua casa, para que não morra na peleja, e outrem a consagre. Qual
o homem que plantou uma vinha e ainda não a desfrutou? Vá, torne-se para sua casa, para que
não morra na peleja, e outrem a desfrute. O homem que está desposado com alguma mulher e
ainda não a recebeu? Vá, torne-se para sua casa, para que não morra na peleja, e outro homem a
receba” (Dt 20.5-7).
“Homem recém-casado não sairá à guerra, nem se lhe imporá qualquer encargo; por um ano
ficará livre em sua casa e promoverá felicidade à mulher que tomou” (Dt 24.5).
Os teólogos sabiam que estas passagens eram válidas apenas em relação à
guerra e ao serviço militar e que não serviam de desculpa para obrigações sociais. Eles
conheciam, também, os costumes prevalecentes.
Quando o primeiro convite fosse feito, o hospedeiro poderia aceitar as
desculpas apresentadas. Recusar um segundo convite, quando tudo já estava
preparado, era não apenas faltar ao prometido, mas também insultar o hospedeiro. A
parábola, claramente, se dirigia e se aplicava aos fariseus e doutores da lei. Se não
aceitassem o convite para serem hóspedes de Jesus, no reino de Deus, seriam deixados
de lado, e outros, que não mereciam seu respeito, tomariam seus lugares.
5. Aplicação
O hospedeiro é, às vezes, visto como vítima das circunstâncias. Seria
compreensível que um dos convidados declinasse o convite, mas o anfitrião fica
sabendo que todos se recusaram a ir. Talvez seja mais lógico ver menosprezo
deliberado no fato de que todos os convidados — e não temos que nos ater a apenas
três exemplos — se recusaram a ir. Ainda que não tenham combinado entre si, o efeito
foio mesmo. Os convidados refletiam a atitude da hierarquia religiosa.
Jesus envolveu a si mesmo na conclusão, quando disse: “Porque vos declaro que
nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia”. Quem fala já não é
mais o hospedeiro dirigindo-se ao servo. Jesus é a figura central, é ele quem fala
“minha” ceia, e diz que nenhum dos convidados insolentes provará da sua comida.
Jesus é o anfitrião que, por intermédio de seus servos, envia convites chamando o povo
para a festa no reino de Deus. Quando o convite é enviado por Jesus, com seus servos
falando ao povo, não deve ser entendido como um chamado que pode ser aceito ou
rejeitado, de acordo com a própria vontade. O chamado é equivalente a uma ordem
que deve ser cumprida.
O povo de Deus, que é parte e parcela da igreja, recebe o chamado para o
serviço obediente. Já responderam ao convite inicial. Agora, soa o chamado para o
serviço. Será que o povo de Deus vai responder à ordem de amar a Deus de todo o
coração e ao próximo generosamente? O homem que come do pão do banquete no
reino de Deus é chamado de bem-aventurado, porque obedece às leis do reino e
cumpre as ordens do Rei.
A lição da parábola é clara. Jesus está enviando seus servos com a mensagem da
vinda do reino de Deus. Os que ouvem a mensagem são convidados a fazer parte desse
reino. Não devem apresentar desculpas é se demorar porque Jesus não reservará um
lugar para eles. Ele preéncherá os lugares de seu reino com outros, que virão daqui e
dali. Ele quer que sua casa fique repleta. Ele diz: “Obriga a todos a entrar”.
A parábola tem sentido, obviamente, missionário. Jesus reúne seu próprio povo
das ruas e becos da cidade, e das estradas e atalhos dos campos. Ele não se envergonha
de chamar de seus irmãos os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos (Hb 2.11). Estes
são feitos santos e pertencem à família de Deus. Numa época em que muitos que
pertencem à igreja oferecem fracas desculpas para não participarem da obra contínua
do reino de Deus, os servos fiéis de Deus devem sair às ruas e becos da vida, com o
convite para que todos aceitem a Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Enquanto esses
que se recusam a tomar conhecimento do chamado de Jesus são preteridos e perdem
sua cidadania do reino, estranhos ao reino são convencidos a responder, pela fé, ao
chamado de Cristo.
O convidado precisa ter fé para aceitar o convite. Quando o servo chega
com o recado do hospedeiro: “Vinde, porque tudo já está preparado”, convidado vê apenas
um homem. Quando um ministro da Palavra de Deus proclama a mensagem de
salvação, muitos que ouvem a Palavra vêem apenas um homem. E necessário fé para
que se possa ver e ouvir, por intermédio do pregador, Jesus Cristo, o Salvador, que
oferece, de graça, salvação plena. O carcereiro de Filipos procurou Paulo e Barnabé, e
lhe foi dito: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31).
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D, D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
Coleção: Parábolas - Nº 07
“Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não
lhes é isso concedido.
Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe
será tirado.
Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem
entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: [...]” (Mt 13.11-14a; cf.
Mc 4.10-13; Lc 8.9,10).
(A) Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus,
(B) mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
Entretanto, cabe aqui informar que dois grupos são facilmente distinguidos: dos
discípulos (AA), e da multidão frívola – incluso os líderes judeus (BB).
Não é muito difícil entender a principal razão pela qual o segundo grupo não
compreende as parábolas: Eles não têm disposição obediente e contrita para
ouvir e aceitar com fé e arrependimento genuíno a mensagem de Jesus. Isto se
explica primeiro, pelo contexto imediato e, depois, pela primeira parábola de
Mateus 13. Essas parábolas surgem em função da oposição dos fariseus e da
hostilidade de alguns da multidão contra o ministério de Jesus (Mt 11; 13. 53-
14.2; Mc 6.1-6, 14-29; Lc 9.7-9). A primeira parábola do grupo, isto é, das sete
mencionadas em Mateus 13, acusa silenciosamente a multidão, cujos corações
ou disposição para atender a mensagem do reino, são comparados a solos nos
quais a semente (a Palavra do Reino) não frutifica. Somente uma pequena parte
“frutifica” em razão de ser boa terra (v.23). As parábolas, portanto, se propunham a
revelar os mistérios do reino aos contritos e humildes e ocultar as mesmas verdades da
multidão insensível à mensagem do Reino. Para entendê-las era necessário
reconhecer a Jesus como o Messias e que a sua mensagem revelava o reino de
Deus.
As comparações usadas por Jesus não apenas apresentavam uma verdade, mas
também condenavam atitudes arbitrárias, injustiças sociais e hipocrisias
religiosas. Seu ensino não era apenas anunciação do Reino dos Céus, mas
também denúncia dos pecados dos homens. A semelhança de Natã (2 Sm 12), as
parábolas de Jesus são veementes invectivas contra o pecado e hipocrisia dos
líderes religiosos. Estas parábolas geralmente ocultavam a mensagem do Reino
aos soberbos espirituais, mas explicavam-na aos humildes de espírito.
1.6.1 - Imanência
1.6.2 - Eschaton
2. Exegese
paryenov = parthenos
14 ocorrências no Novo Testamento
1) virgem
1ª) virgem núbil, com idade de casar
2ª) mulher que nunca teve relação sexual com um homem
3ª) filha núbil de alguém
2) homem que se absteve de toda sujeira e prostituição presente na idolatria, e assim
manteve sua castidade
2ª) alguém que nunca teve relação com mulheres.
3. As 10 Virgens
Apenas Mateus registrou a parábola das dez virgens. Ele, habilmente,
colocou a parábola após o sermão de Jesus sobre o final dos tempos. Na
últi-ma parte desse sermão, Jesus fala da divisão entre os que são eleitos,
atentos e fiéis, e aqueles que não o são. “Então, dois estarão no campo, um
será tomado, e deixado o outro; duas estarão trabalhando num moinho,
uma será tomada, e deixada a outra” (Mt 24.40,41). O sewo fiel e prudente
será responsável por todos os bens de seu senhor, mas o servo infiel terá
seu lugar com os hipócritas (Mt 24.45-51). Na parábola das dez virgens,
cinco entram na casa do noivo; as outras cinco encontram a porta fechada.
Este tema da separação entre os bons e os maus continua na parábola dos
talentos (Mt 25.14-30), e na descrição de um pastor separando as ovelhas
dos cabritos (Mt 25.31-33).
3.1 - As bodas
Jesus conta a história de dez damas de honra que, de acordo com o cos-
tume nupcial do lugar, naquela época, se preparavam para aguardar a chegada
do noivo. E uma história interessante que tem como objetivo ensinar a lição da
necessidade de se estar preparado.
Embora as informações a respeito sejam variadas e imprecisas, podemos
supor que nos dias de Jesus o casamento acontecia em idade precoce. Porque a
maturidade sexual se dá na adolescência, em Israel os casamentos eram
contratados nos primeiros anos de vida. Era costume a noiva se cercar de dez
damas de honra, escolhidas entre suas melhores amigas e da mesma idade que
ela.
A sentença introdutória: “Então o reino dos céus será semelhante a dez
virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo”, descreve
a cena. Isto é, dez moças adolescentes tomaram suas lâmpadas e foram para a
casa da noiva com o propósito de prepará-la para o encontro com o noivo. A
sentença introdutória, naturalmente, não se refere ao encontro acontecido entre
o noivo e as dez virgens, pois este acontece mais tarde, no desenrolar da
história (Mt 25.10).
Não devemos imaginar essas jovens sentadas em algum lugar, na
estrada, no meio da noite, vencidas pelo sono enquanto o óleo de suas
lâmpadas acaba e estas se apagam. E melhor vê-las ocupadas, na casa da noiva,
enfeitando-a e cuidando dos últimos preparativos. Não podemos afirmar com
certeza que o texto também faz alusão à noiva, como algumas versões bíblicas
indicam em notas de rodapé. E fato, no entanto, que o objetivo da parábola não
se refere à noiva. Ela focaliza as damas de honra, e, especialmente, as cinco,
néscias. As dez moças deviam acompanhar a noiva à casa do noivo, ou de seus
pais, onde, de acordo com o costume, acontecia o casamento.
Cinco das moças eram displicentes, cinco eram prudentes (ou
previdentes). As displicentes tinham apanhado suas lâmpadas, mas deixaram
de levar o óleo. Que tipo de lâmpadas eram essas que precisavam de freqüente
reabastecimento para continuar brilhando? As pequenas lamparinas usadas em
casa não seriam apropriadas para uma procissão ao ar livre, porque o vento
apagaria sua chama. As lâmpadas do cortejo das bodas eram tochas. Consistiam
de uma longa vara com trapos encharcados de óleo no topo. Quando acesos
esses archotes queimavam com grande brilho, iluminando o cortejo festivo, em
sua caminhada até à casa do noivo. Entretanto, por causa da brilhante chama
ardente, a vasilha de cobre, que continha o óleo, logo se esvaziava. De quinze
em quinze minutos os trapos deviam ser novamente encharcados, para
conservar a tocha ardendo. Aquelas que levavam as tochas deviam, pois, ter à
mão um suprimento de óleo suficiente para mantê-las acesas, especialmente se
fosse esperado que as damas de honra apresentassem sua dança, à luz das
tochas, na chegada.
As cinco moças displicentes haviam chegado à casa da noivas completamente
despreparadas; foram negligentes e não levaram consigo o óleo extra. Porque
não precisaram de suas tochas até ao começo do cortejo, elas não tiveram,
infelizmente, consciência de seu descuido.
O noivo estava atrasado para seu encontro com a noiva. A demora pode ter sido
causada pelos acertos relativos à questão do dote. Este antigo costume,
mencionado freqüentemente nas Escrituras, consiste na dádiva de bens da parte
da família do noivo para a família da noiva. A conversa a respeito do dote
podia tomar tempo considerável e levar a discussões prolongadas. Quando
tudo estava devidamente combinado, e as partes de pleno acordo, a festa de
casamento tinha início. O noivo não podia ir ao encontro da noiva antes que o
dote fosse pago e o contrato de casamento assinado.
Enquanto esperavam, as damas de honra ficaram sonolentas e acabaram
adormecendo. Tanto as prudentes quanto as néscias dormiram. O tempo
passou rapidamente. Mas, de repente, à meia-noite, ouviu-se um grito: “Eis o
noivo! Saí ao seu encontro”. O noivo e seus acompanhantes se aproximavam
alegremente da casa da noiva. Dentro, as damas de honra acordaram
rapidamente, levantaram-se, se retocaram e colocaram em ordem as suas
lâmpadas. Todas as dez tinham suas tochas ardendo brilhantemente, mas cinco
delas perceberam que sem óleo extra suas tochas estariam completamente
apagadas antes que o cortejo começasse. Tentaram contar às outras o seu
problema. Disseram: “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se
apagando”. Mas as cinco moças, que tinham levado consigo as vasilhas de óleo,
sabiam que a cada quinze minutos teriam de reabastecer suas próprias tochas, e
mantêlas acesas durante todo o cortejo, bem como durante a dança à luz das
tochas, ao chegarem. O bom senso lhes dizia que o óleo que traziam consigo
seria suficiente para cinco tochas, mas não para dez. Delicadamente se
recusaram a repartir o óleo. Aconselharam as moças a irem aos que o vendiam
para comprá-lo.
As cinco moças que tinham passado o tempo esperando e dormindo tinham,
agora, de correr até a um vendedor, acordá-lo e comprar o óleo necessário.
Nesse intervalo, o noivo chegou e o cortejo começou. Todos foram à casa do
noivo para participar da festa. A entrada do salão das bodas foi fechada, na casa
do noivo, e ninguém mais, que não tivesse feito parte do cortejo, tinha
permissão para entrar. Este era um procedimento costumeiro entre os ricos
daqueles dias.
A parábola termina com a cena das cinco moças que encontraram a porta
fechada, pedindo: “Senhor, senhor, abre-nos a porta”. Seu insistente chamado
trouxe à porta o noivo, que disse às moças que não tinha nada a ver com elas.
Elas estavam muito atrasadas.
3.2 – O Significado
A conclusão que Jesus dá à parábola é simples e direta: “Vigiai, pois,. porque
não sabeis o dia nem a hora”. Ele, evidentemente, se refere a si mesmo, e nessa
parábola ensina a respeito de seu próprio retorno. Ele é o noivo, é aquele que
vem. Repetidamente, durante seu ministério, ele fez referências ao noivo. A
questão sobre por que seus discípulos não jejuavam, Jesus respondeu: “Podem,
acaso, estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles?
Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias hão de jejuar” (Mt
9.15). Além disso, o final da parábola das dez virgens é um claro eco do ensino
de Jesus, registrado em Mateus 7.21-23.
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me:
“Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome
não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi
explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.”
O ensinamento óbvio é que Jesus exclui do reino dos céus todo aquele que
deixa de fazer a vontade de Deus, o Pai. No dia da volta de Jesus, eles podem
chamá-lo pelo nome e mostrar suas obras religiosas, mas porque não fizeram a
vontade do Pai não terão parte no reino.
Cinco das virgens da parábola são chamadas de prudentes. São aquelas que
estavam preparadas. São sábias porque estavam completamente prontas para a
situação e seguiram as instruções usuais cuidadosamente. As Escrituras
ensinam que uma pessoa prudente tem verdadeiro discemimento da vontade
de Deus.
As cinco moças chamadas de néscias ( displicentes) e que são o centro da
parábola não parecem culpadas de nenhum mal. Tinham a melhor das
intenções, e desejavam à noiva e ao noivo muitos anos de felicidades. Mas não
fizeram a vontade dos noivos por causa de sua negligência ao esquecer o óleo
necessáno. “Acaso, se esquece a virgem dos seus adornos ou a noiva do seu cinto?” (Jr
2.32). A resposta é, naturalmente, que não. No entanto, essas cinco moças se
esqueceram de se preparar adequadamente para a tarefa que lhes fora
determinada. Chegaram despreparadas e por isso não foram recebidas no salão
das bodas.
Nada na parábola indica que se esperava que as dez moças
permanecessem acordadas. As prudentes, assim como as néscias, caíram no
sono enquanto esperavam. A vigilância não é, portanto, a característica
marcante ensinada nesta parábola. Antes, o que é predominante é a disposição
de estar preparado.
Como o noivo, na cultura e nos dias de Jesus, podia vir a qualquer hora
da noite, assim Jesus virá, subitamente, no dia de sua volta.
3.3 - Interpretações
A parábola das dez virgens tem sido interpretada alegoricamente, de
inúmeras maneiras, desde a Igreja Primitiva até aos nossos dias. Em tais
interpretações, Jesus é o noivo e as dez virgens, a igreja. A igreja se constitui de
bons e maus, os eleitos e os rejeitados, os sábios e os displicentes. As lâmpadas
que eles carregam são as boas obras, porque os cristãos são exortados a
deixarem suas obras brilhar diante dos homens. O óleo é o Espírito Santo, pois
quando Samuel ungiu Davi com óleo, o Espírito Santo desceu sobre ele. Os
mercadores de óleo são Moisés e os profetas. E o alarme: “Eis o noivo!” E o
chamado da trombeta de Deus, quando da volta de Cristo.
Este tipo de interpretação leva à confusão e, freqüentemente, termina em
absurdos. Alguns intérpretes entendem que o óleo significa alegria ou amor,
enquanto outros o vêem como boas obras ou como a ajuda prestada aos ne-
cessitados. Outros, ainda, consideram o óleo como sendo a palavra de ensino.
Além disso, a falta de caridade na atitude das virgens prudentes, em relação às
cinco virgens em apuros, poderia ser questionada. A resposta negativa — “Não
vos conheço” — exigiria, também, uma avaliação crítica. Interpretações ale-
góricas e o questionamento detalhado de partes da parábola, no entanto, vão
contra o espírito do ensino de Jesus. Na parábola das dez virgens, o intérprete
não deve perder de vista a floresta por causa das proverbiais árvores. Deve
buscar o sentido principal da parábola.
Quando o profeta Natã procurou o rei Davi e lhe contou a história de um
homem rico que tomou a cordeirinha que pertencia a um homem pobre, Davi
reagiu imediatamente e quis punir a principal figura da história — o rico.
Então, Natã dirigiu-se a Davi, e disse: “Tu és o homem” (2 Sm 12.1-10). Natã
transmitiu a mensagem principal da parábola com grande eficiência, pois
provocou uma resposta imediata de Davi. Se, por outro lado, a parábola for
interpretada alegoricamente, perde seu impacto. Então o homem rico é Davi e o
pobre é Urias; a cordeirinha se transforma em Bate-Seba, mas o viajante em
visita, de certo modo, não cabe na alegoria. Resumindo, interpretar
alegoricamente os detalhes de uma parábola desvia a história de sua direção e,
muitas vezes, resulta em disparates.
A mensagem central da parábola é dirigida aos seguidores de Jesus. Os
que são prudentes e estão constantemente buscando cumprir a vontade de Deus
são os que fervorosamente oram: “Maranata”, “Vem, Senhor Jesus”. Mas os
displicentes parecem não prestar atenção à. volta iminente do Senhor:
A parábola é dirigida a eles para suscitar de suas bocas as palavras: Quão
tolo se pode ser!
A parábola das dez virgens deve ser vista no amplo contexto dos ensi-
namentos de Jesus a respeito de sua volta. A conclusão: “Vigiai, pois, porque não
sabeis o dia nem a hora” (Mt 25.13) é uma repetição dos versículos precedentes:
“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe” (Mt 24.36), e, “Portanto, vigiai,
porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24.42). E Jesus quem profere
seu familiar: “Em verdade vos digo” (Mt 25.12), indicando assim que fala a
respeito de sua própria volta. São palavras de Jesus, não de um noivo
adolescente. Isto é, por meio da parábola, Jesus ensina claramente a seus
seguidores que devem estar preparados para o seu retorno. Os que não.
estiverem preparados serão excluídos, para sempre, do reino, quando Jesus
voltar. Esses são os que ouvirão Jesus dizer: “Em verdade vos digo que não vos
conheço”. São os insensatos que não têm lugar, em seu estilo de vida, para os
pensamentos a respeito da volta de Cristo. Para eles, o dia do Senhor virá
inesperadamente, e estarão completamente despreparados. Então será tarde
demais para qualquer mudança.
No contexto em que Jesus contou esta parábola; o tema da volta (vinda)
do senhor (noivo) predomina. O senhor do servo, a quem foi dada autoridade,
volta no tempo apropriado; o noivo vem à meia-noite; e na parábola dos
talentos, o senhor volta depois de longo tempo (Mt 25.19). Dentro desta
composição, a parabola das dez virgens adquire sua verdadeira dimensão.
Na parábola do servo investido de autoridade, ele é caracterizado como
fiel e prudente; na parábola seguinte, cinco virgens são descritas como pru-
dentes; e na parábola dos talentos, dois dos servos são chamados de bons e fiéis.
Sem dúvida, pois, a primeira parábola ensina fidelidade e sabedoria; a segunda
sabedoria; e a terceira fidelidade.
Bibliografia: As Parábolas de Jesus – Simom Kistemaker – Editora Cultura
Cristã,2002,SP
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D, D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
Coleção: Parábolas - Nº 08
A Parábola
das Bodas
1.5 - Estude a parábola em seu contexto histórico para determinar por que foi contada.
Todas as parábolas foram primeiro contadas a uma determinada audiência
numa ocasião específica. Por exemplo, a história do Bom Samaritano foi ocasionada
pela queixa de certo advogado a Jesus, que era difícil amar seu próximo quando não
podia imaginar quem ele era (Lucas 10:25-30), e as três maravilhosas parábolas sobre as
coisas perdidas em Lucas 15 foram uma resposta aos ataques feitos contra Jesus pela
"má companhia" que ele estava mantendo (versículos 1-2). Às vezes esta informação
de pano de fundo está faltando e o significado de uma determinada parábola precisa
ser buscado na informação mais ampla dos Evangelhos, mas, quando presentes, as
circunstâncias nas quais uma parábola foi contada nos dão uma indicação mais certa
quanto ao propósito do Senhor para sua história. O contexto precisa sempre governar o
texto.
1.8 - Não tente estabelecer uma posição doutrinária somente por uma parábola.
Há muito que é esclarecido para nós pelas parábolas de Jesus, mas precisam
sempre ser entendidas à luz dos ensinamentos claros da Escritura, nunca em
contradição com ela. Estas ilustrações são mais destinadas a serem janelas do que
pedras de fundação. Elas não declaram tanto uma doutrina quanto ilustram uma faceta
significativa dela.
1.9 - Finalmente, e mais importante, procure sempre uma aplicação pessoal de cada parábola.
Depois de ter determinado a lição, ou as lições corretas da parábola sendo
estudada, a pergunta mais importante é: "Encontrei a mim mesmo nesta parábola?"
"Quais mudanças em minha vida e meus pensamentos esta parábola exige de mim?"
Não há nada tão trágico como um estudo dos ensinamentos de Jesus que não é
conduzido por mais do que uma curiosidade intelectual, a menos que seja o estudo de
algum pregador que sente a necessidade "profissional" de pregar um sermão a outros
sem um único pensamento de fazer qualquer aplicação a si mesmo. É imperativo, em
nosso estudo das parábolas, que cada um continuamente pergunte, "Senhor, o que há
aqui para mim?" Deste modo somente encontraremos os ouvidos de ouvir para os
quais nosso Senhor apelou quando pela primeira vez ele ensinou por parábolas
(Marcos 4:9, 23).
2. Exegese
2.1- Bodas = = gamos
16 ocorrências no Novo Testamento
1) grande festa de casamento, banquete de casamento, festa de núpcias
2) bodas, matrimônio
3.1- A Parábola
Jesus contou a história de um rei que preparou um banquete para festejar
as núpcias de seu filho. O rei e não sua mulher, nem seu filho, mas o rei fez os
preparativos. Para a ocasião feliz do casamento, o rei planejou cuidadosamente
a festa. Ele queria que todos os importantes dignitários de seu reino estivessem
presentes. Mandou, então que fossem anunciadas as bodas.
Era costume, naqueles dias, os convites serem entregues em mãos e os
convidados serem relembrados do acontecimento, no dia da festa. Mas ao
entregar os convites, os servos do rei não foram bem recebidos. Os dignitários e
membros da nobreza fizeram saber aos servos que não estavam absolutamente
interessados na festa. Expressaram amargura e rebeldia. Mesmo sabendo que o
convite real era equivalente a uma ordem real, se recusaram a tomar
conhecimento do comunicado do rei.
Uma sombra se abateu sobre o palácio. Pessoas de alta posição no reino,
abertamente menosprezavam o rei. Eles se recusavam a honrá-lo com sua
presença no casamento do príncipe herdeiro. Mas, o rei continuou os
preparativos para a festa, e, quando chegou o dia das núpcias de seu filho,
enviou novamente os servos para lembrar aos dignitários de todo o reino que
foram convidados ao banquete. Fez saber que tudo estava pronto.
No entanto, infelizmente, a atitude do rei não teve o resultado esperado.
Ele, talvez, até soubesse o tipo de resposta que seus servos receberiam, quando
fossem enviados pela segunda vez. Eles já tinham recebido respostas negativas
e hostis. Certamente enfrentariam a mesma amargura e o mesmo ressentimento,
se não pior. Os servos partiram com a mensagem real: “Meus bois e cevados já
foram abatidos, e tudo está pronto; vinde para as bodas.” Mas, os convidados não
deram atenção ao convite. Agiram de modo ostensivamente desafiante: uns
foram para o seu campo, outros para o seu negócio, e, quando os servos do rei
insistiram um pouco mais com um terceiro grupo, foram maltratados. Alguns
foram mortos.
O rei, com justiça, irado, enviou seus soldados para punir os assassinos e
queimar sua cidade. Desabafou assim a sua ira, mas ainda queria que pessoàs
viessem e celebrassem com ele as bodas de seu filho. Por isso, ordenou aos
servos quê fossem às esquinas das ruas e convidassem todos os que quisessem
vir à festa. Tanto pessoas boas como más vieram em grande número, de modo
que a sala do banquete se encheu de convidados.
Um dos convidados, no entanto, se recusou a usar o traje nupcial que lhe
foi oferecido, quando chegou. Por causa de sua roupa, ele ficou muito em
evidência. Chegou, então, o momento da entrada do rei no salão do banquete.
Ele examinou seús convidados com aprovação, até notar aquele que se tinha
recusado a usar vestimenta apropriada. Surpreso, o rei exclamou: “Amigo, como
entraste aqui sem veste nupcial?” O homem ficou calado. Não podia contar ao rei,
na frente de todos os outros convidados, que se recusara a usar o traje que lhe
fora oferecido ao chegar. Permaneceu em silêncio. O rei ordenou a seus servos
que amarrassem o convidado obstinado e o lançassem lá fora, nas trevas.
3.2 - Aplicação
A parábola do banquete das bodas é a terceira de uma série de três, e é o
ponto culminante do grupo que inclui ainda as parábolas dos dois filhos e dos
lavradores maus. Estas três parábolas sobre o reino foram enunciadas no
decorrer da última semana de Jesus na terra, quando ele experimentou a
hostilidade dissimulada dos fariseus, dos principais sacerdotes e dos anciãos do
povo, enquanto estes preparavam súas armadilhas para apanhá-lo em
contradição. Sem temor, Jesus ensinou a parábola das bodas, que era dirigida,
claramente, a seus oponentes. Esta parábola, no entanto deve ser lida e
entendida no contexto histórico dos eventos que encerram o ministério de Jesus.
Na introdução da parábola, ressoa uma nota de alegria e felicidade. O rei
prepara, com esmero, um banquete para festejar as bodas de seu filho.
Celebrando, ele convida altos dignitários para o banquete. O ato de comer e
beber juntos, alegremente expressa com naturalidade, o laço de paz e união que
deve existir entre o hospedeiro e seus convidados. Um banquete, obviamente,
não é preparado apenas com o propósito de satisfazer o apetite. Enquanto o
dono da casa e seus hóspedes comem juntos, conversam e se tomam mais
íntimos. O embaraço desaparece e um espírito de entendimento e afinidade
toma seu lugar. Nos banquetes devem prevalecer a paz e a harmonia.
Aqueles que foram convidados pelo rei recusaram-se a ir. No oriente,
assim como em qualquer outro lugar, espera-se que os convidados aceitem o
convite real, como uma obrigação. Espera-se, também, que os convidados ao
casamento tragam presentes apropriados à ocasião. Porque os convidados da
parábola não poderiam agir de maneira recíproca, convidando o rei e sua
família para uma festa semelhante, os presentes deveriam ser caros —
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D, D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
Coleção: Parábolas - Nº 01
A Parábola do Bom
Samaritano
1.1 - Formas
A palavra parábola, no Novo Testamento, tem uma conotação ampla que inclui
formas de parábolas que são, geralmente, divididas em três categorias. Há as autênticas
parabolas, historias em forma de parábolas e ilustrações.
1.2 – Composição
Embora, de um modo geral, seja verdade que uma parábola ensina somente
uma lição básica, esta regra nem sempre é definitiva. Algumas das parábolas de Jesus
têm composição complexa. A composição da parábola do semeador apresenta quatro
partes e cada parte pede uma interpretação.
Do mesmo modo, a parábola sobre as bodas não é uma história única, pois tem
acrescentado uma parte a respeito de um convidado que não está usando roupas
apropriadas para a ocasião.
Também, a conclusão da parábola sobre os lavradores maus se desvia do cenário da
vinha para o de construtores e seus negócios.
Por causa dessa complexidade, é sensato o intérprete não se prender a um ponto
único na interpretação da composição das parábolas.
Ao ler as parábolas de Jesus, nós nos perguntamos por que são deixados de lado
vários detalhes que deveriam fazer parte da história. Por exemplo, na história do
amigo que bate à porta de seu vizinho, no meio da noite, para pedir três pães, a mulher
do vizinho não é mencionada.
Na parábola do filho pródigo, o pai é uma figura marcante, mas nem uma palavra é
dita a respeito da mãe.
A parábola das dez virgens apresenta o noivo, mas ignora completamente a noiva.
Esses pormenores, entretanto, não são relevantes na composição geral das parábolas,
especialmente se compreendermos o artifício literário das tríades, muitas vezes usado
nas parábolas de Jesus. Na parábola do amigo que vem bater à porta no meio da noite,
há três personagens: o viajante, o amigo e o vizinho. A parábola do filho pródigo
também fala de três pessoas: o pai, o filho mais jovem e o irmão mais velho. Na história
das dez virgens, encontramos três elementos: as cinco virgens prudentes, as cinco
virgens tolas e o noivo.
Além disso, nas parábolas de Jesus não é o começo da história o que é importante,
porém o seu final. A importância recai sobre a última pessoa mencionada, o último
feito ou a última declaração. O “efeito final” da parábola é deliberadamente elaborado
em sua composição. Foi o samaritano que procurou aliviar a dor do homem ferido, não
o sacerdote ou o levita. Embora os dois servos que apresentaram cinco e dois talentos
adicionais a seu senhor tenham recebido louvor e elogios, foi o fato de ter enterrado
seu único talento na terra que trouxe ao terceiro servo escárnio e condenação. Na
parábola sobre o proprietário de terras que durante o dia contratou homens para
-
relatando aos outros seu encontro com o lobo. Então, ele encontrou um leão e escapou
dele; e seguiu adiante, contando a todos o encontro com o leão. A seguir, ele encontrou
uma cobra e escapou dela. Após esse acontecimento, ele se esqueceu dos dois
anteriores e prosseguiu contando o caso da cobra. Assim também é Israel: as últimas
dificuldades o fazem esquecer as primeiras.
Entretanto, a semelhança entre as parábolas de Jesus e as dos rabinos está
apenas na forma. As parábolas dos rabinos, normalmente, são apresentadas para
explicar ou elucidar a lei, versículos das Escrituras, ou uma doutrina. Elas não são
usadas para ensinar novas verdades, como acontece com as parábolas de Jesus. Através
das parábolas, Jesus explicava os grandes temas de seu ensinamento; o reino dos céus;
o amor, a graça e a misericórdia de Deus; o governo e a volta do Filho de Deus; o modo
de ser e o destino do homem. Enquanto as parábolas dos rabinos não ensinam senão a
aplicação da Lei, as parábolas de Jesus são parte da revelação de Deus ao homem. Jesus
revela novas verdades, pois ele foi comissionado por Deus para tornar conhecida a
vontade e a Palavra de Deus. As parábolas de Jesus, portanto, são as revelações de
Deus; as dos rabinos, não.
1.3 – Propósito
As parábolas mostram que Jesus estava perfeitamente familiarizado com a vida
humana em seus múltiplos aspectos e significados. Ele tinha conhecimento de como
cultivar a terra, lançar a semente, extirpar as ervas daninhas e colher os frutos. Ele se
sentia em casa, em uma vinha; sabia a época da colheita dos frutos da videira e da
figueira, e estava a par do quanto se pagava por um dia de trabalho.
Ele não apenas estava familiarizado com a rotina do fazendeiro, do pescador, do
construtor e do mercador, mas se encontrava igualmente à vontade entre os chefes de
estado, os ministros das finanças de uma cortereal, os juízes das cortes de justiça, os
fariseus e os coletores de impostos. Ele compreendeu a pobreza de Lázaro, embora
fosse convidado para jantar com os ricos. Suas parábolas retratam a vida de homens,
mulheres e crianças; o pobre e o rico; os que são marginalizados e os que são exaltados.
Pelo seu conhecimento da amplitude da vida humana, ele era capaz de ministrar a
todas as camadas sociais. Ele falava a linguagem do povo e seus ensinamentos eram
adequados ao nível daqueles que o ouviam. Jesus usava parábolas para tornar sua
linguagem acessível ao povo, para ensinar às multidões a Palavra de Deus, para
chamar seus ouvintes ao arrependimento e à fé, para desafiar os que criam a
transformar palavras em atos e para exortar seus seguidores a permanecerem atentos.
Jesus usou as parábolas para comunicar a mensagem de salvação de um
modo claro e simples. Seus ouvintes podiam, prontamente, entender a história do filho
pródigo, dos dois devedores, da grande ceia e do fariseu e o publicano. Por meio das
parábolas, eles identificavam Jesus com o Cristo que ensina com autoridade a
mensagem redentora do amor de Deus.
Dos relatos do evangelho, todavia, tomamos conhecimento que a
interpretação das parábolas era feita em particular, no círculo dos discípulos. Jesus
lhes disse: “A vós outros é dado o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina
por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam e não
entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles” (Mc 4.11,12).
Isso significa que Jesus, que foi enviado por Deus para proclamar a redenção
dos homens caídos e pecadores, esconde essa mensagem através de parábolas
incompreensíveis? As parábolas são, então, um tipo de enigma compreendido apenas
pelos iniciados?
As palavras de Marcos 4.11,12 devem ser entendidas no contexto mais amplo,
no qual o escritor as colocou. No capítulo anterior, Marcos relata que Jesus encontrara
descrença, blasfêmia e oposição direta. Ele foi acusado de estar possuído por Belzebu e
de expelir demônios, pelo príncipe dos demônios (Mc 3.22). O contraste que Jesus
apresenta, conseqüentemente, é entre aqueles que acreditavam e os que não
acreditavam, entre seguidores e oponentes, entre os que aceitavam e os que rejeitavam
a revelação de Deus. Os que fazem a vontade de Deus recebem a mensagem das
parábolas, porque pertencem à famiia de Jesus (Mc 3.35). Os que tentam destruir Jesus
(Mc 3.6) não conhecem a salvação, por causa da dureza de seus corações. É uma
questão de fé e descrença. Os que acreditam ouvem as parábolas e as recebem com fé e
entendimento, mesmo que a completa compreensão venha, apenas, gradualmente. Os
incrédulos rejeitam as parábolas porque elas são estranhas à sua maneira de pensar.
Recusam-se a perceber e entender a verdade de Deus. Assim, por causa de seus olhos
cegos e seus ouvidos surdos, privam a si mesmos da salvação proclamada por Jesus, e
trazem sobre si mesmos o julgamento de Deus.
Não nos surpreende que os discípulos de Jesus não tenham entendido
completamente a parábola do semeador (Mc 4.13). Os seguidores mais próximos
estavam perplexos com os ensinamentos da parábola porque não tinham visto ainda a
importância da pessoa e do ministério de Jesus, em relação à verdade de Deus revelada
na parábola. Somente pela fé foram capazes de ver aquelas verdades da qual as
parábolas davam testemunho. Jesus explicou de modo mais pormenorizado a parábola
do semeador e a do trigo e do joio (em outras, ele, de quando em quando, acrescentava
esclarecimentos às conclusões). Aos discípulos foi dado ver a relação entre os
acontecimentos que Jesus descrevia na parábola do semeador e o reino dos céus,
iniciado na pessoa de Jesus, o Messias.
1.4 – Intepretação
Na Igreja Primitiva, os Pais da Igreja começaram a procurar nas Escrituras do
Antigo Testamento vários significados ocultos relacionados à vinda de Jesus. Como
conseqüência natural dessa tendência, eles começaram a encontrar significados ocultos
nas parábolas de Jesus. Influenciados, talvez, pela apologética judaica, substituíram a
simplicidade das Escrituras pela especulação sutil. O resultado foi as interpretações
alegóricas das parábolas. Por isso, desde o tempo dos Pais da Igreja, até meados do
século 19, muitos intérpretes interpretaram as parábolas alegoricamente.
Orígenes, por exemplo; acreditava que a parábola das dez virgens estava cheia
de símbolos ocultos. As virgens, disse Orígenes, são todos aqueles que receberam a
Palavra de Deus. As prudentes acreditam e levam uma vida de justiça; as néscias
acreditam, mas falham no agir. As cinco lâmpadas das prudentes representam os cinco
sentidos, que são todos preparados para o seu uso apropriado. As cinco lâmpadas das
néscias deixaram de fornecer luz e se encaminharam para a noite do mundo. O óleo é o
ensinamento da Palavra e os vendedores de óleo são os mestres. O preço que eles
cobram pelo óleo é a perseverança. A meia-noite é a hora do descuido imprudente. O
grande clamor ouvido vem dos anjos que despertam todos os homens. O noivo é Cristo
que vem para encontrar a noiva, a Igreja. Assim Orígenes interpretou a parábola.
Entre os comentaristas do século 19, era comum identificar os pormenores da
parábola. Na parábola das dez virgens, a lâmpada acesa representava as boas obras; e o
óleo, a fé daquele que crê. Outros viram o óleo como uma representação simbólica do
Espírito Santo.
Ainda assim, nem todos os intérpretes das parábolas tomaram o caminho da
alegoria. Por ocasião da Reforma, Martinho Lutero tentou mudar a maneira de
interpretar as Escrituras. Ele preferiu um método de exegese bíblica que levava em
consideração a localização histórica e a estrutura gramatical da parábola.
João Calvino foi ainda mais direto. Ele evitou totalmente as interpretações
alegóricas das parábolas e procurou estabelecer o ponto principal de seu ensinamento.
Quando ele constatava o significado de uma parábola, não se preocupava com os seus
pormenores. Em sua opinião, os detalhes não tinham nada a ver com aquilo que Jesus
pretendia ensinar por intermédio da parábola.
Durante a segunda metade do século 19, C. E. van Koetsveld, um
estudioso alemão, deu novo impulso ao modo de abordar o assunto, iniciado pelos
Reformadores. Ele mostrou que as extravagantes interpretações alegóricas das
parábolas, feitas por numerosos comentaristas, obscureciam mais do que esclareciam o
ensino de Jesus. Para interpretar uma parábola apropriadamente, o intérprete precisa
apreender seu significado básico e distinguir o que é, ou não, essencial. Van Koetsveld
foi seguido, em sua maneira de abordar as parábolas, pelo teólogo alemão A. Jülicher,
que observou que, embora o termo parábola seja usado freqüentemente pelos
evangelistas, a palavra alegoria jamais é encontrada nos relatos dos Evangelhos.
No final do século passado, as amarras que atavam a exegese das
parábolas foram cortadas e uma nova era de pesquisa teve início. Enquanto
Jülicher via Jesus como um professor de princípios morais, C. H. Dodd o
considerou uma pessoa histórica, dinâmica, que, com seus ensinamentos,
provocou um período de crise. Disse Dodd: “A tarefa de um intérprete de
parábolas é descobrir, se puder, a aplicação da parábola na situação pretendida
pelos evangelhos. Jesus ensinava que o reino de Deus, o Filho do homem, o juízo
e as bem-aventuranças passavam a fazer parte da história daquela época. Para
Jesus, de acordo com Dodd, o reino significava o governo de Deus exemplificado
em seu próprio ministério. Portanto, as parábolas ensinadas por Jesus devem ser
entendidas como diretamente relacionadas à efetiva situação do governo de Deus
na terra.
J. Jeremias continuou o trabalho de Dodd. Ele, também, desejou
descobrir os ensinamentos das parábolas que remetem de volta ao próprio Jesus.
Jeremias se dispôs a traçar o desenvolvimento histórico das parábolas, o que
acreditava ocorrer em dois estágios. O primeiro diz respeito à situação real do
ministerio de Jesus e o segundo e uma reflexão sobre o modo como as parábolas
eram colocadas em prática pela Igreja Cristã Primitiva. A tarefa a que Jeremias se
propôs era a de recuperar a forma original das parábolas para ouvi-las na própria
voz de Jesus. Com o seu profundo conhecimento da terra, da cultura, dos
costumes, do povo e da língua de Israel, Jeremias foi capaz de reunir uma
quantidade de informações que fazem de sua obra: um dos livros de maior
prestígio à respeito das parábolas.
Apesar disso, uma questão se apresenta pode a forma original ser separada do
contexto histórico sem sucumbir a um acúmulo, de adivinhações? Por outro lado, o
texto das parabolas pode ser tomado e aceito como uma representação real do ensino
de Jesus. Isto é, o texto bíblico que o evangelista nos entregou reflete o contexto
histórico no qual as parábolas foram originalmente, narradas. Dependemos do texto
que recebemos e agimos acertadamente quando deixamos as parábolas e seu
assentamento histórico intactos. Isso pede confiança — que os evangelistas, ao
registrarem as parábolas, tenham compreendido a intenção de Jesus ao ensiná-las nas
circunstâncias por eles descritas . Na ocasião em que as parabolas foram registradas,
testemunhas e ministros da Palavra transmitiram a tradição oral das palavras e feitos
de Jesus (Lc 1.1,2). Por causa do elo com as testemunhas, podemos crer que o contexto
no qual as parábolas estão inseridas se refere ao tempo, lugares e circunstâncias nas
quais Jesus, originalmente, as ensinou.
Mais recentemente, representantes de nova corrente da hermenêutica têm, de
maneira crescente, deslocado as parábolas de seu assentamento histórico para uma
ênfase literária claramente baseada numa estrutura existencial. Quer dizer, esses
estudiosos tratam as parábolas como literatura existencial, as removem de suas
amarras históricas e substituem sua significação original por uma mensagem
contemporânea. Negam que o sentido da parábola tem sua origem na vida e ministério
de Jesus; não estão interessados em suas fontes e bases, mas, antes, em sua forma
literária e sua interpretação existencial. Para eles, a estrutura literária da parábola é
importante porque leva o homem moderno a um momento de decisão: tem de aceitar
ou rejeitar o desafio colocado diante dele.
Aceitamos prontamente a idéia de que as parábolas chamam o homem à ação;
na aplicação da parábola do bom samaritano, ao intérprete da lei que o questionou,
Jesus disse: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10.37). Entretanto, o existencialista, em
sua interpretação da parábola, enfatiza o modo imperativo e menospreza o modo
indicativo no qual a parábola foi contada. Ele separa as palavras de Jesus de sua
disposição cultural e, assim, as despoja do poder e autoridade que Jesus lhes deu.
Além do mais, ao tratar as parábolas como estruturas literárias separadas de
seu assentamento original, o existencialista precisa estabelecer para elas uma nova
base. Assim, ele coloca as parábolas num contexto contemporâneo. Mas, esse método
dificilmente pode ser chamado de exegético, pois sugere no texto bíblico uma filosofia
existencial. Isso é eisegese (dar ao texto um sentido diferente), não exegese.
Infelizmente, o cristão comum, que procura orientação para o entendimento das
parábolas com os representantes da nova escola hermenêutica, precisa, primeiro,
buscar conhecer a filosofia existencial, a teologia neoliberal e o jargão literário do
estruturalismo, para que possa se beneficiar com seus pontos de vista.
1.5 – Princípios
Interpretar parábolas não exige um treinamento completo em teologia e
filosofia, mas implica que o intérprete se atenha a alguns princípios básicos de
interpretação. Esses princípios, em resumo, estão relacionados à história, à gramática e
à teologia do texto bíblico. Sempre que possível, o intérprete deve fazer um estudo da
conjuntura histórica da parábola, incluindo uma análise pormenorizada das
circunstâncias religiosas, sociais, políticas e geográficas reveladas nela. A disposição,
da parábola do bom samaritano, por exemplo, exige certa familiaridade com a
instrução do clero daqueles dias. O intérprete da lei, procurando Jesus e perguntando-
lhe o que fazer para herdara vida eterna, deu início à conversação que levou à história
do bom samaritano.
Em relação à parábola do bom samaritano, o intérprete deveria se familiarizar
com a origem, a classe social e a religião dos samaritanos, com as funções, ofício e
residência do sacerdote levita; com a topografia da área entre Jerusalém e Jericó; e com
o conceito judaico de boa vizinhança. Observando o contexto histórico da parábola, o
intérprete apreende a razão por que Jesus contou essa história e compreende a lição
que Jesus procurou transmitir através da parábola.
A seguir, o intérprete deve atentar para a estrutura literária e gramatical da
parábola. Os modos e tempos de verbos empregados pelo evangelista em relação à
parábola são muito significativos e lançam luz sobre o principal ensinamento da
história. As palavras estudadas em seu contexto bíblico, assim como em escritos
extracanônicos são parte essencial do processo de interpretação de uma parábola.
Deste modo, o estudo da palavra próximo no contexto do comando “Ama o teu próximo
como a ti mesmo”, como foi dado no Antigo e Novo Testamentos, resulta num exercício
gratificante. O intérprete precisa, também, levar em consideração a introdução e a
conclusão de uma parábola, pois podem conter um artifício literário como uma questão
de retórica,uma exortação ou uma ordem. A parábola do bom samaritano é concluída
com o comando direto: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10.37). O intérprete da lei,
que tinha perguntado a Jesus a respeito do que fazer para herdar a vida eterna, não
teve como deixar de se envolver no cumprimento da ordem de amar a seu próximo
como a si mesmo. As introduções, e especialmente as conclusões contêm as diretrizes
que ajudam o intérprete a encontrar os pontos principais das parábolas.
E mais ainda, o ponto principal de uma parábola deve ser comparado
teologicamente com os ensinamentos de Jesus e com o restante das Escrituras. Quando
o ensino básico de uma parábola foi completamente explorado e esta corretamente
entendido, a unidade das Escrituras se manifestará e o sentido apropriado da
passagem poderá ser visto em toda a sua simplicidade e limpidez.
Por último, mas não menos importante, o intérprete da parábola deve traduzir
seu significado em termos apropriados às necessidades de hoje. Sua tarefa é aplicar o
ensinamento central da parábola à situação de vida da pessoa que está ouvindo sua
interpretação. Na parábola do bom samaritano, a ordem para amar o próximo se torna
cheia de significado quando a pessoa que foi roubada e ferida na estrada de Jericó não
é mais uma figura de um passado distante. Ao contrário, o próximo que clama pelo
nosso amor é o sem-teto, carente e oprimido. Ele vem ao nosso encontro na estrada de
Jericó das páginas diárias dos jornais e do noticiário colorido da televisão.
1.6 – Classificação
As parábolas de Jesus podem ser agrupadas e classificadas de várias formas. As
do semeador, da semente germinando secretamente, do trigo e do joio, da figueira
estéril, e a da figueira brotando são, todas, parábolas naturais.
Várias parábolas de Jesus dizem respeito ao trabalho e ao salário. Algumas
delas são a respeito dos trabalhadores da vinha, do arrendatário e do administrador
infiel.
O tema de outras são as bodas e festas ou ocasiões solenes. Essas incluem a
parábola das crianças brincando na praça, a das dez virgens, a da grande ceia e a do
banquete das bodas.
Outras, ainda, têm como motivo geral o achado e o perdido. Essas incluem as
parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e a do filho perdido.
Não é fácil, contudo, classificar uma parábola. A parábola da rede é uma
parábola natural, ou deve ser agrupada com as que falam de trabalho e salário? Onde
colocar a parábola do bom samaritano? Fica claro que a classificação das parábolas
pode ser, de certo modo, arbitrária, e, em alguns casos, forçada.
Os Evangelhos Sinóticos apresentam parábolas com correspondentes em dois
ou mesmo três dos evangelhos, e também parábolas específicas de um único
evangelista. Enquanto Marcos tem apenas uma parábola peculiar a seu evangelho (a da
semente crescendo secretamente), Mateus e Lucas têm várias. O mais correto é
obedecer a seqüência dos evangelhos, discutindo primeiro as de Mateus, com a
exclusiva de Marcos estudada entre a parábola do semeador e a do trigo e o joio, e,
então, as apresentadas no Evangelho de Lucas.
2. Lugar e Povo
A parábola do bom samaritano se tornou parte de nossa cultura e de nosso
vocabulário. E comum encontrarmos hospitais e instituições de caridade usando esse
nome. A estrada de Jericó é mencionada em hinos e canções, e hoje os turistas podem
encontrar a Hospedaria do Bom Samaritano a meio caminho de Jerusalém para Jericó.
A caminho de Jerusalém, Jesus foi inquirido por um estudioso das Escrituras do
Antigo Testamento a respeito de como fazer para herdar a vida eterna. Esse teólogo,
naturalmente, não fez a pergunta por ignorância, mas porque queria testar Jesus e
ouvir sua explicação sobre as Escrituras. Ele se dirigiu a Jesus, chamando-o de
“mestre”, reconhecendo, assim, sua autoridade em assuntos religiosos. Ele esperava de
Jesus uma resposta para uma pergunta muito comum.
Hábil e gentilmente, o Mestre instruiu seu aluno de teologia nos ensinamentos e
implicações da Palavra. Dirigiu-lhe outra pergunta: “que está escrito na lei?” De fato, ele
perguntou: “Como resumes a lei, quando adoras na sinagoga?” O teólogo respondeu
citando os dois mandamentos ligados pela palavra amor: “Amarás o Senhor teu Deus...”
e “amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
Logo o doutor da lei compreendeu que Jesus tinha o controle da situação e que
sabia a resposta. Ao comentário de Jesus: “Respondestes corretamente; faze isto, e viverás”,
ele apôs a questão: “Quem é o meu próximo?” Esse era o ponto fundamental.
O judeu vivia num círculo:o centro era ele mesmo, cercado por seus parentes
mais próximos, então pelos outros parentes, e, finalmente, pelo círculo daqueles que
proclamavam descendência judaica e que se tinham convertido ao Judaísmo. A palavra
próximo tinha um significado de reciprocidade:ele é meu irmão e eu sou irmão dele.
Assim se fecha o círculo de egoísmo e etnocentrismo. Suas linhas haviam sido
cuidadosamente traçadas, a fim de assegurar o bem-estar dos que se achavam dentro e
negar ajuda aos que estavam fora.
Nos dias de Jesus, havia uma marcada afluência de não-judeus para Israel. Os
samaritanos separavam os judeus do norte daqueles do sul.
As forças de ocupação romanas estavam presentes em todos os lugares, e
viajantes helênicos visitavam Israel regularmente. Israel funcionava como uma ponte
entre as nações, e diariamente o judeu esbarrava em estrangeiros. “Quem é o meu
próximo?” era uma pergunta comum.
O estudioso de teologia não via qualquer problema com relação ao primeiro
grande mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus”. Mas o amor a Deus não poderia se
expressar separado do segundo mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Ele via um problema no segundo mandamento e fez a pergunta, esperando que Jesus
definesse os limites. Mas, Jesus se recusou a responder diretamente. Em vez disso,
aplicou o princípio da regra áurea: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o
vós também a eles” (Lc 6.31) e contou a história do bom samaritano. Ele queria que seu
ouvinte lhe perguntasse: “Quem devo tratar como meu próximo?”
A história que Jesus contou é tão real e verdadeira que pode muito bem refletir
um acontecimento atual relatado por alguém que foi assaltado e sobreviveu para
contar o fato com todos os pormenores. Embora nem a hora ou o local exatos sejam
descritos, o incidente pode muito bem ter acontecido naquele ano, não muito longe de
Jerusalém.
A estrada de Jerusalém para Jericó tem apenas 27 quilômetros (17 milhas) de
extensão, e ao longo desse trecho apresenta um declive de 1200 metros (3300 pés). A
área é praticamente deserta, sem vegetação e marcada por penhascos de pedras
calcárias e barrancos, em ambos os lados da estrada. Nos tempos bíblicos, a estrada era
conhecida como “o caminho (ladeira) do sangue”, muito provavelmente por ser
considerada insegura. O trânsito de peregrinos e caravanas era muito intenso por ali.
Freqüentemente ocorriam assaltos, realizados por bandidos que se escondiam atrás das
rochas..
De acordo com a história contada por Jesus, um homem descia a
estrada de Jericó. Não nos é dito se era rico ou pobre. Ele foi assaltado e foi
espancado. Em farrapos, e quase morto, foi abandonado à beira do caminho. Logo
após o assalto, passou por ali um sacerdote, a caminho de sua casa em Jericó. Ele
olhou o homem ferido, e passou de lado. Se estivesse montando um burrico, não
teria se incomodado ao menos em saltar. Negou ao homem qualquer ajuda ou
esperança. Pouco depois, um levita fez exatamente o mesmo: olhou-o e continuou
seu caminho.
Mais tarde veio um mercador, cujas roupas o identificavam como
um samaritano. Parou, e olhou para o homem, que, desamparado jazia em seu
.
3. Implicações
Jesus terminou a história perguntando: “Qual destes três te parece ter sido o
próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?” O teólogo teve de dizer: “O que
usou de misericórdia para com ele”. Em outras palavras, o samaritano provou ser um
irmão do homem ferido. Com o conselho: “Vai, e procede tu de igual modo”, Jesus o
dispensou.
Na parábola, cinco pessoas são mencionadas (com exceção dos ladrões): São,
pela ordem: o homem assaltado e ferido, o sacerdote, o levita, o samaritano e o dono da
hospedaria. O ponto central não é tanto o homem à beira da estrada, embora ele seja
objeto de atenção. Depois de roubado, ele foi primeiro negligenciado, mas depois
cuidado com bondad. O objeto da história não é o sacerdote, nem o levita, ou o dono
da estalagem. A figura central é o samaritano. Ele é o autor, o agente e o principal
personagem. Por isso a parábola é chamada parábola do bom samaritano e não
parábola do homem que foi assaltado e ferido. O ferido é uma figura sem rosto, cuja
ocupação, nacionalidade, religião ou raça são ignoradas. Talvez, sem suas roupas, o
homem não pudesse ser identificado pelo sacerdote, pelo levita ou pelo samaritano.
Resumindo, a identidade do homem não importa. Ele faz apenas o papel do próximo é
só um vulto.
Os ladrões vêm e vão. Cometem o crime e partem. É inútil, portanto, especular
se eram zelotes, se tinha alguma queixa contra o homem - afinal de contas, o sacerdote,
o levita e o samaritano não foram atacados - ou se eram moradores das redondezas e
que viviam roubando os desventurados que por ali passavam.
O sacerdote e, presumivelmente, o levita estavam a caminho de casa, vindos do
templo, em Jerusalém. Pela lei, estavam impedidos de tocar em um defunto. Se
transgredissem a regra, estariam criando embaraços para si mesmos: socialmente (se
tornando impuros), financeiramente (pagando o funeral) e profissionaim ente (sendo
suspensos de seus ofícios sacerdotais e levíticos).
Naturalmente, o homem assaltado e ferido não estava morto. Mas, iria um
sacerdote ou um levita desmontar de seu jumento, apanhar uma vara e com ela tocar o
ferido para verificar se estava vivo, e, então, por fim, ministrar-lhe os primeiros
socorros? Dificilmente. Na história, entretanto, o homem estava vivo, e por isso não
havia desculpa convincente a ser apresentada pelos clérigos. Se tiverem medo de cair
numa emboscada, ou se tinham o coração empedernido, ou se acreditavam estar
interferindo no julgamento de Deus, que golpeava um pecador perverso. ou se eram
vaidosos demais a respeito de sua posição de líderes religiosos para desmontar e
ajudar uma vítima, jamais saberemos. O fato é que nenhum dos dois, nem o sacerdote
nem o levita, mostrou misericórdia.
O samaritano, como é descrito, enternece o coração de todos. É a figura
preferida na história. Sabe o que deve fazer e o faz bem. Raça, religião, diferença de
classes não são importantes para ele. Vê um ser humano em dificuldades e o ajuda.
Os samaritanos, para sermos exatos, não eram um povo muito simpático.
Seu ódio pelos judeus explodia de diversas maneiras. Por exemplo, certa vez,
entre 9 e 6 a.C., tinham profanado a área do templo para evitar que os judeus
celebrassem a Páscoa. Fizeram isso espalhando ossos humanos pelos pátios do templo.
Aos olhos dos judeus, os samaritanos eram mestiços. Tinham-se estabelecido na terra
de Israel durante o exílio dos judeus, e sua Bíblia consistia apenas dos cinco livros de
Moisés. Tinham construído seu próprio templo no monte Gerizim (Jo 4.20); os judeus o
destruíram em 128 a.C. Por causa desse ódio profundo, os judeus não se davam com os
samaritanos.
Ainda assim, esse viajante, reconhecido como um samaritano, por suas roupas,
seu modo de falar e suas maneiras, parou, desmontou e ajudou com bondade o seu
semelhante. Não perguntou se o ferido era judeu, romano ou sírio. Para ele, aquela
pessoa nua, ferida, meio morta, era um irmão precisando de ajuda. Prontamente pagou
ao dono da hospedaria o suficiente para manter o homem na estalagem por alguns
-
5. Aplicação
Em seu ministério terreno, Jesus torna conhecida uma dimensão mais ampla da
exigência da lei: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. No Sermão do Monte, o
mandamento não se restringe ao próximo, mas inclui, também, o inimigo: “Amai os
vossos inimigos” (Mt 5.44; Lc 6.27).
Para o sacerdote e o levita descrttos na parábola, a palavra próximo se referia a
um judeu que podia ser claramente identificado. Mas alguém assaltado, espancado, nu
e semimorto, simplesmente não se qualificava como tal,
Para o intérprete da lei que inquiria Jesus, a questão era como traçar o limite.
Ele queria saber se o amor tem limites. Queria se autojustificar e se assegurar de estar
cumprindo o que a lei ordenava.
Se a lei pudesse ser usada como uma barreira protetora, seria possível viver em
paz dentro desse abrigo, onde tudo já estaria interpretado e soaria familiar. Mas,
quando a Lei está em aberto “Amarás o teu próximo”, que inclui “Amai os vossos
—
dessa lei.
Jesus não contou a história de um judeu que encontrou um samaritano ferido,
ao longo da estrada, e o ajudou, levando-o a uma hospedaria próxima. Tal história
poderia provocar uma reação contrária, porque o judeu seria considerado um traidor
da causa judaica. Do mesmo modo, se Jesus tivesse usado os três: o sacerdote, o levita e
o israelita, o efeito teria sido inteiramente diferente. Teria criado um contraste entre o
clero e os leigbs com uma tendência decididamente anticlerical. Mas, a apresentação do
samaritano, na conjuntura apropriada, surpreende agradavelmente o ouvinte e não o
predispõe a levantar objeções. O samaritano mostra como se deve amar o próximo e ser
como um irmão para ele.
Se o intérprete da lei tivesse quaisquer objeções teológicas, elas desapareceram
com o desenrolar da história. Jesus podia ter-se referido ao estrangeiro que vivia entre
os judeus e era tratado como um natural do lugar. Também, podia ter mencionado os
judeus convertidos e os que eram chamados tementes a Deus, que, regularmente,
assistiam aos serviços religiosos na sinagoga. Mas. essas pessoas tinham como retribuir
a bondade que recebiam. Além disso, eram consideradas amigas e, em alguns casos,
membros da fé judaica.
Jesus, no entanto, focaliza não o próximo “Quem é o meu próximo?” mas o
— —
único que mostrou amor e compaixão. O próximo não é uma pessoa atraente. Na
parábola ele é mostrado sujo de sangue, nu e semimorto. Não tem condições para
retribuir o amor, o dinheiro e as roupas. Precisa de ajuda e não tem como ressarcir.
Deixar de atender esse próximo é incorrer na ira divina, pois significa não apenas
transgredir o segundo grande mandamento, mas, também, deixar de praticar o
primeiro.
A parábola do bom samaritano é atemporal. Podemos substituir ocupações,
nacionalidades e raças por equivalentes modernos, e nada mudou desde o dia em que
Jesus ensinou a parábola. Portanto, a parábola não é uma história sobre alguém que
simplesmente, praticou uma boa ação. Ela é uma denúncia contra qualquer um que
tenha erguido barreiras protetoras e construído com elas um abrigo.
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” é uma ordem que alcança além de nosso
círculo de amigos e companheiros cristãos. E um chamado para que mostremos
misericórdia aos desventurados que jazem pela estrada de Jericó que é a vida humana.
E um clamor às nações desenvolvidas para que atentem ao sofrimento e pobreza sem
fim, experimentados pelos povos subdesenvolvidos.
Desde os tempos dos Pais da Igreja ao tempo atual, os intérpretes têm tentado
interpretar, simbolicamente, a parábola. Há variações numerosas e algumas até
engraçadas. A interpretação de Agostinho é clássica: o homem espancado e assaltado é
Adão; os ladrões são o demônio e seus anjos; à sacerdote e o levita são os sacerdotes e
ministros do Antigo Testamento; o samaritano é Jesus; o óleo é o conforto e o vinho a
exortação ao trabalho; a hospedaria é a igreja; as duas moedas são os mandamentos
para amar a Deus e ao próximo; e o dono da hospedaria é o apóstolo Paulo.
É uito comum ver Jesus como o bom samaritano, que é amigo e irmão de
pessoas vindas dos variados caminhos da vida, de qualquer nação e de todas as raças.
Entretanto, ainda que o próprio Lucas possa ter pensado assim quando registrou a
parábola, ele não nos da a menor indicação de que Jesus pretendesse transmitir essa
mensagem. Nem o texto, nem o contexto, aceitam tal interpretação.
A mensagem que Jesus ensina por intermédio da parábola se resume na
expressiva exortação feita ao teólogo que provocou a historia “Vai e procede tu de igual
modo”. Na linguagem de Tiago: “Tomai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente
ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22).
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D, D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008-07-23
Coleção: Parábolas - Nº 12
A Parábola do
Credor Incompassivo
A Parábola do Credor
Incompassivo
“Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei
que
resolveu ajustar contas com os seus servos”
Mateus 18:22
1. Introdução as Parábolas
1.1 - Significado do termo.
A palavra parábola deriva do grego parabole que, etimologicamente, significa
“colocar as coisas lado a lado”, geralmente com a finalidade de fazer uma comparação.
Como na Septuaginta (LXX) a palavra para bole foi usada como tradução da palavra
hebraica mashal, seus diversos significados ficaram anexados ao termo para bole.
Portanto, no NT as expressões figuradas, comparações e metáforas são todas chamadas
de parábolas.
A parábola propriamente dita, isto é, uma história simples e curta de onde se
origina algum detalhe de ensino, é um exemplo ampliado de uma comparação ou
metáfora. A. M. Hunter sugere a seguinte definição: a parábola é uma “comparação
extraída da natureza ou da vida quotidiana, destinada a esclarecer alguma verdade espiritual
com a suposição de que o que é válido em uma determinada esfera também será válido em outra”
(Interpreting the Parables, p. 8).
O Senhor Jesus, naturalmente, não inventou a parábola. Elas são
encontradas no Antigo Testamento(AT) (cf., por exemplo, 2 Samuel 12:1-14; Isaías 5.1-
7) e nos escritos rabínicos. Uma cuidadosa comparação entre o uso das parábolas no
AT e os escritm dos rabinos, com o uso feito pelo Senhor Jesus, revela inúmeras e
surpreendentes semelhanças. As diferenças, entretanto, são ainda mais notáveis. Os ra-
binos usavam a parábola para esclarecer uma verdade já conhecida das Escrituras. O
Senhor Jesus usava a parábola para proclamar o reino de Deus, que veio em sua pró-
pria pessoa e ministério. A originalidade, o vigor e o talento de suas parábolas não en-
contram paralelo nem no AT nem nos escritos dos rabinos.
2. Parábolas de Jesus
Fazemos aqui uma tentativa de relacionar, classificar e fornecer alguma
orientação sobre a interpretação dessas parábolas. A maioria dos estudiosos tem
discordado quanto ao número de parábolas que identificaram nos Evangelhos. Suas
relações variam entre 30 a 80, dependendo de terem ou não incluído parábolas
semelhantes que não foram descritas sob o termo “parábola” e de terem incluído
parábolas mais curtas e exemplos extraídos delas. Aqui foram analisadas 52 parábolas.
Elas foram distribuídas em nove categorias. Em alguns casos a classificação de uma
parábola em determinada categoria foi um pouco arbitrária. Em cada caso, sua história
não é contada, mas simplesmente sugerida em uma conjunção com sua interpretação.
As referências das Escrituras são mencionadas em todos os exemplos para que o leitor
possa acompanhá-las com a Bíblia aberta.
2.7 - As Recompenas
A parábola dos trabalhadores da vinha (Mt 20.1-16) ensina que Deus irá
recompensar todo trabalho bem feito, e que Ele o fará de acordo com sua soberana
vontade.
Ninguém tem o direito de exigir recompensas pelo serviço prestado ao Senhor.
Uma parábola semelhante está em Lucas 17.7-10, cuja principal mensagem é que o
servo não pode fazer uma queixa justa por ter feito além daquilo que deveria.
2.9 - O Juízo
O Senhor Jesus julgará a todos após o final da Grande Tribulação. A
parábola da rede de pesca (Mt 13.47-50) fala sobre esse julgamento em termos
gerais.
Três outras parábolas estão relacionadas ao julgamento de Cristo, depois
da Grande Tribulação. Duas são semelhantes, mas aparentemente não são
idênticas: a das dez minas (Lc 19.11-27) e a dos dez talentos (Mt 25.14-30).
Um estudo cuidadoso irá revelar que existe uma lista completa de diferenças
entre elas. Na primeira, o nobre que viajou para um país distante à procura do reino
não pode ser outro a não ser o próprio Senhor. Seus servos, então, seriam os discípulos
ou outros crentes. Aqueles que odiavam e rejeitavam a Cristo seriam os cidadãos
iníquos. Estes últimos deverão ser mortos (lançados no local de condenação) por
ocasião da vinda do Senhor. Os discípulos deverão ser recompensados de acordo com
seus serviços, durante a ausência do Senhor. Da mesma forma, a parábola dos talentos
demonstra a importãncia da fidelidade à luz da volta de Cristo. Talvez exista uma
intimação no verso 30, de que a infidelidade indique a falta dó uma experiência
regeneradora. Portanto, os infiéis serão lançados à perdição.
Outra parábola sobre o juízo, e uma das que tem sido objeto de muita
discussão, é a das dez virgens (Mt 25.1-13).
Naturalmente, é superficialmente óbvio que nessa passagem Jesus procurou
ensinar a importância da vigilância à luz de sua volta. O que se segue é oferecido como
uma tentativa de interpretação. A parábola descreve o julgamento de Israel. As dez
virgens são os remanescentes que professam ao Senhor em Israel depois da Igreja ter
sido arrebatada. Cinco virgens prudentes representam um remanescente que crê em
Deus; as virgens loucas representam os ínfiéis que professam estar esperando que o
Messias venha com poder. O casamento do noivo com a noiva (Igreja) já se realizou no
céu, e a parábola faz alusão à festa de casamento que acontece na terra. A chegada do
noivo é o retorno do Senhor em glória, no final da Grande Tribulação. A entrada na
festa do casamento corresponde à entrada no reino do céu sobre a terra (o Milênio). A
presente obra não tem como escopo uma defesa mais detalhada ou uma discussão
sobre as facetas dessa interpretação.
Uma última parábola sobre o juízo está muito relacionada ao julgamento
individual que ocorre sempre que uma pessoa deixa a vida terrena: o homem rico e
Lázaro (Lc 16.19-3 1). Alguns poderiam preferir dar a este relato o nome de incidente
histórico e não de parábola; em todo caso, a mensagem não seria modificada. Quanto
ao seu significado, precisamos nos lembrar do seu contexto. Antes dela, encontramos a
parábola do mordomo infiel que procura mostrar os benefícios da utilização prudente
das vantagens e recursos do presente. O homem rico, ao invés de aproveitar suas
oportunidades e recursos para fazer o bem na terra, fez da própria riqueza seu maior
bem. Deste modo, a riqueza tornou-se o empecilho para uma fé viva em Deus, e uma
Vida que seria uma benção para os outros. Ele perdeu a chance de acumular tesouros
no céu. Lázaro, entretanto manteve a fé em Deus durante seus anos na terra, e por isso
foi recompensado na vida seguinte
3. A História
Jesus, alguma vez, negou-se a atender qualquer um que tenha
vindo a ele em arrependimento e fé? Claro que não! Nunca, não importa que
pecado tivesse cometido. Essa é a nossa resposta. Sabemos isso porque “a Bíblia
nos diz”. Mas, quantas vezes nos esquecemos do nosso próximo? Uma coisa é
Jesus perdoar a alguém que tenha cometido um crime hediondo; outra, nós
perdoarmos ao nosso próximo que cai, constantemente, no mesmo pecado.
Pedro, conhecedor da Lei e dos Profetas, bem como da tradição judaica, sabia
que devia perdoar ao seu semelhante. Sabia qual era o seu dever. Mas, qual o limite?
Há limite, afinal? Pedro pensava que devia perdoar até sete vezes. Ele achava que sete
vezes seria suficiente, e que Jesus, provavelmente, diria algo como: “Sim, Pedro, é o
bastante”. A misericórdia sem limite não incentiva uma vida de pecados? Jesus não
concordaria com Pedro: “Há limite para tudo?”
Mas a resposta de Jesus é: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.
Jesus multiplica os dois números, sete e dez — números que simbolizam a perfeição —
e acrescenta um outro sete: Ele quer dizer, não sete vezes, mas setenta vezes — sete
vezes; isto é, a perfeição vezes a perfeição e mais a perfeição. Ele indica a idéia de
infinito. A misericórdia de Deus é tão grande que não pode ser medida; você, Pedro,
deve também mostrar misericórdia a seu próximo.
Para explicar a magnitude do amor misericordioso de Deus, que deve se refletir
em seu povo, Jesus ensina a parábola do servo incompassivo. Ele conta a história, e o
faz muito bem.
Um rei reuniu seus oficiais (servos), no dia marcado para o acerto de contas. Um
deles lhe devia a astronômica soma de dez mil talentos. De fato, a expressão “dez mil
talentos” traz implícito o significado de algo que não se pode numerar ou contar, algo
infinito.
Além disso, o talento era, naqueles dias, o mais alto valor monetário do sistema
financeiro. Comparando, vemos que o total anual de impostos que Herodes, o Grande,
recebia de todo o reino era de, aproximadamente, novecentos talentos. Está claro que o
ministro das finanças devia a seu senhor uma quantia enorme. Não nos é contado o
que ele havia feito com o dinheiro; esse fato não tem importância. Ele devia a soma de
dez mil talentos, e tinha de pagar. Ele sabia que jamais conseguiria todo aquele
dinheiro, no dia marcado para o ajuste de contas.
Quando ficou diante de seu senhor, ouviu o veredicto: ele, sua mulher, seus
filhos e tudo o que possuía seriam vendidos para o pagamento da dívida. Era demais
para ele. Atirou-se aos pés do soberano, implorando misericórdia, e pediu: “Sê paciente
comigo e tudo te pagarei”. Ele implorou misericórdia, nãoo perdão. Prometeu restituição,
sabendo que poderia pagar apenas uma pequena parte e não mais. Como resposta,
recebeu o que menos esperava – quitação da dívida. Seu senhor teve piedade dele,
cancelou o seu débito e deixou-o ir. Inacreditável! Que alegria! Quanta bondade!
Este foi apenas o primeiro ato do drama. O segundo ato é paralelo ao primeiro:
o ministro das finanças se torna senhor e encontra um outro oficial do rei.
Descendo as escadas do palácio real, o servidor absolvido encontrou um outro
servidor que lhe devia cem denários. Realmente, era muito pouco — alguns dias de
trabalho e a soma seria conseguida. Mas o servidor público agarrou-o pelo pescoço e o
sufocava, exigindo pagamento imediato: “Paga-me o que me deves.” O devedor atirou-se
aos pés do ministro das finanças e pediu: “Sê paciente comigo e te pagarei”. Ele não
precisava dizer: “Pagarei tudo”, porque o total era pequeno. Estava claro que ele pagaria
tudo. Mas o ministro das finanças se recusou, lançou o homem na prisão, esperando
que alguém o colocasse em liberdade sob fiança, e pagasse a dívida.
O terceiro ato apresenta as testemunhas do segundo ato; e é, também, a
segunda e última confrontação do rei com o servidor.
Nada foi feito às escondidas; era difícil guardar segredos, no palácio. Outros
viram o que tinha acontecido e não podiam manter silêncio. Tinham de contar ao rei. O
rei, quando ouviu a história, ficou zangado. Chamou o servo e o repreendeu: “Servo
malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente,
compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?” Com isso, entregou-o
aos carcereiros para que o torturassem até que a dívida fosse paga.
A conclusão é que todo aquele que recebeu perdão deve estar pronto a perdoar
a quem quer que esteja em débito com ele e deve fazê-lo de todo o coração.
4. A lição
Esta história movimentada, contada em pormenores expressivos, acentua o
contraste entre o amor infinito e a misericórdia de Deus e o comportamento mesquinho
do homem, que tenta justificá-lo com base na lei. Jesus usa essa parábola para dizer a
Pedro algo a respeito da grandeza do amor misericordioso de Deus para com o homem
pecador. O pecado do homem é tão grande que Deus tem de perdoá-lo infinitamente
mais que a conta de setenta vezes sete. A misericórdia de Deus não pode ser medida.
Podemos calculá-la apenas vaga e aproximadamente, ao contar a história do servidor
que devia a seu senhor uma soma que beirava a milhões.
Embora a palavra justiça não seja encontrada na parábola, os conceitos ex-
pressos são os de misericórdia e justiça. São conceitos bíblicos porque ocorrem
repetidamente no Antigo Testamento, revelados pelos salmistas e profetas.
O povo judeu sabia muito bem que tinha de praticar a misericórdia e a com-
paixão. Deus lhes dissera expressamente: “Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre
que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros. Se do teu próximo
tomares em penhor a sua veste, lha restituirás antes do pôr do sol; porque é com ela que se cobre,
é a veste do seu corpo; em que se deitaria? Será, pois, que, quando clamar a mim, eu o ouvirei,
porque sou misericordioso” (Êx 22.25-27). A justiça se manifestava de diversas maneiras.
Por exemplo, as exigências do Ano do Jubileu eram impostas; durante aquele ano, os
que haviam alienado suas propriedades entravam de novo na posse delas e os escravos
adquiririam sua liberdade. Resumindo, o judeu dos dias de Jesus sabia que
misericórdia e justiça não podem ser tratadas separadamente. Estão interligadas.
É por esse motivo que Jesus conta a parábola do credor incompassivo. Ele
ensina que a prática da misericórdia não se coloca apenas ocasionalmente ao lado da
justiça. Jesus ensina a aplicação de ambas, da justiça e da misericórdia. Muitas vezes,
entendemos justiça como uma norma que deve ser aplicada rigorosamente, a
misericórdia como um abandono ocasional dessa norma. Exercemos essa opção como
um “direito”, e, freqüentemente, somos elogiados ao mostrar indulgência.
Reconhecemos que a justiça contém um tanto de misericórdia, mas, no geral, sentimos
que esta não deve ser mostrada a toda hora.
No tempo do Antigo Testamento, entretanto, Deus instruiu seu povo a con-
siderar misericórdia e justiça como normas iguais. Normas essas que devem ser,
ambas, eficientes e funcionais, pois refletem a maneira como Deus se relaciona com o
seu povo. Com o tempo, a ênfase se alterou. Escritos do período entre os Testamentos
proclamam que, no dia do juízo, a justiçá prevalecerá e a misericórdia terá fim. “Então o
Altíssimo será visto no trono do julgamento, e haverá um fim para toda piedade e paciência.
Apenas o julgamento permanecerá” (2 Esdras 7.33, 34 NEB).
5. Aplicação
Em nossa sociedade temos, às vezes, enfatizado a misericórdia, em detrimento
da justiça. A preocupação exageradamente escrupulosa para com os “direitos” do
criminoso tem alcançado extensão tal que os direitos do ofendido acabam por ser
completamente ignorados. As Escrituras não ensinam que a misericórdia anula a
justiça; nem ensinam que a justiça elimina a misericórdia. As duas normas são
igualmente válidas.
Como Jesus mostrou a Pedro que ele devia perdoar ao seu próximo, vezes sem
fim? Ele contou a história de um homem cujo débito era esmagadoramente grande e
que implorou piedade quando a justiça foi aplicada. Seu senhor cancelou a dívida e
mostrou infinita misericórdia. O homem foi posto em liberdade e pôde conservar sua
mulher, filhos e tudo quanto possuía. Estava isento de sua dívida.
Jesus não contou a história de um homem que, várias vezes, dia após dia, vinha
diante de seu senhor para implorar perdão pelos pecados que repetidamente cometia.
Em vez disso, para realçar o nosso débito para com Deus, ele ensina a história de um
homem que tinha uma enorme dívida com o seu senhor. “Se observares, SENHOR,
iniqüidades, quem, SENHOR, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que te temam”
(Sl 130.3,4). A desesperança do homem se revela quando ele está diante de Deus. Seu
pecado é esmagador porque ele fransgrediu a lei de Deus. Merece á morte. Mas ele
sabe que Deus é um Deus de misericórdia. Quando Davi tinha desobedecido a Deus,
levantando o censo de Israel e Judá, ao fazer cumprir a justiça, Deus deu a ele três
escolhas: três anos de fome, três meses de perseguição, ou três dias de peste. Davi
respondeu: “caiamos nas mãos do SENHOR, porque muitas são as suas misericórdias...” (2
Sm 24.14; 1 Cr 21.13). Deus revelou a Davi o seu pecado, deu-lhe o veredicto e mostrou
misericórdia.
No segundo ato da história, Jesus mostra que o homem perdoado deve refletir a
misericórdia e a compaixão de Deus. Se Jesus não tivesse descrito o servidor,
ajoelhado, implorando misericórdia, e tivesse contado apenas a segunda metade da
história, com o homem forçando seu companheiro a pagar-lhe a dívida, poderíamos
dizer que prevaleceu a justiça mesmo que rigorosa. Mas o homem tinha sido perdoado
de uma dívida enorme, e agora encontrava um companheiro que, devendo-lhe uma
ninharia, pedia misericórdia. Ele perdoaria?
Corrie ten Boom, conhecida oradora e autora, esteve prisioneira, durante a
Segunda Grande Guerra, em um campo de concentração alemão, sofrendo muito nas
mãos de um dos guardas alemães. Anos mais tarde, um dia, testificou sua alegria no
Senhor, numa reunião na Alemanha do após guerra. Depois do encontro, enquanto
algumas pessoas conversavam com ela, aquele mesmo guarda alemão aproximou-se de
Corrie e lhe pediu que o perdoasse. Num clarão de reconhecimento, ela se lembrou da
dor e da angústia sofrida na prisão, por causa daquele guarda. Agora, ele ali estava, à
sua frente, pedindo-lhe misericórdia. E aquele que não merecia, recebeu o perdão.
Triunfou a misericórdia!
O servidor retratado na parábola não perdoaria. Aplicaria o princípio da justiça
sem misericórdia. Em vez de deixar triunfar a misericórdia, escolheu a vitória da
justiça. Esse foi seu erro. Tiago escreve que “o juízo é sem misericórdia para com aquele que
não usou de misericórdia” (2.13). O servo se recusou a refletir a compaixão que seu
mestre lhe mostrara. Porque não mostrou piedade por seu companheiro, mas exigiu
justiça, teve de enfrentar, uma vez mais, seu senhor, o rei. Exigindo justiça se afastou
de seu mestre e de seu companheiro.
No último ato desse drama, o servo incompassivo reencontra, face a face, o seu
irado senhor. O que o servo fizera seu devedor, o senhor faz agora a ele: a justiça é
administrada sem misericórdia. O servo lançou a si próprio na miséria, para sempre.
Deus não pode relevar que alguém se recuse a mostrar misericórdia, pois isto
contraria sua natureza, sua Palavra e seu testemunho. Deus perdoa aceitando o
pecador como se este não tivera pecado jamais. Deus perdoa a dívida do pecador e
recomenda que não peque mais (Sl 103.12 e Jr 31.34). Deus espera que o pecador
perdoado faça o mesmo. Ele se torna o representante de Deus quando mostra a
característica divina da graça misericordiosa.
A conclusão da parábola é expressa em palavras que nos são familiares.
Quando Jesus ensinou o Pai Nosso, continuou, dizendo: “Porque, se perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos
homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6.14,15).17
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D,
D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
Coleção: Parábolas - Nº 13
A Parábola do
Filho Pródigo
A Parábola do Filho
Pródigo
“Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai:
Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os
haveres”.
Lucas 15: 11,12
1.1 - Formas
A palavra parábola, no Novo Testamento, tem uma conotação ampla que inclui
formas de parábolas que são, geralmente, divididas em três categorias. Há as autênticas
parabolas, historias em forma de parábolas e ilustrações.
1.2 – Composição
Embora, de um modo geral, seja verdade que uma parábola ensina somente
uma lição básica, esta regra nem sempre é definitiva. Algumas das parábolas de Jesus
têm composição complexa. A composição da parábola do semeador apresenta quatro
partes e cada parte pede uma interpretação.
Do mesmo modo, a parábola sobre as bodas não é uma história única, pois tem
acrescentado uma parte a respeito de um convidado que não está usando roupas
apropriadas para a ocasião.
Também, a conclusão da parábola sobre os lavradores maus se desvia do cenário da
vinha para o de construtores e seus negócios.
Por causa dessa complexidade, é sensato o intérprete não se prender a um ponto
único na interpretação da composição das parábolas.
Ao ler as parábolas de Jesus, nós nos perguntamos por que são deixados de lado
vários detalhes que deveriam fazer parte da história. Por exemplo, na história do
amigo que bate à porta de seu vizinho, no meio da noite, para pedir três pães, a mulher
do vizinho não é mencionada.
Na parábola do filho pródigo, o pai é uma figura marcante, mas nem uma palavra é
dita a respeito da mãe.
A parábola das dez virgens apresenta o noivo, mas ignora completamente a noiva.
Esses pormenores, entretanto, não são relevantes na composição geral das parábolas,
especialmente se compreendermos o artifício literário das tríades, muitas vezes usado
nas parábolas de Jesus. Na parábola do amigo que vem bater à porta no meio da noite,
há três personagens: o viajante, o amigo e o vizinho. A parábola do filho pródigo
também fala de três pessoas: o pai, o filho mais jovem e o irmão mais velho. Na história
das dez virgens, encontramos três elementos: as cinco virgens prudentes, as cinco
virgens tolas e o noivo.
Além disso, nas parábolas de Jesus não é o começo da história o que é importante,
porém o seu final. A importância recai sobre a última pessoa mencionada, o último
feito ou a última declaração. O “efeito final” da parábola é deliberadamente elaborado
em sua composição. Foi o samaritano que procurou aliviar a dor do homem ferido, não
o sacerdote ou o levita. Embora os dois servos que apresentaram cinco e dois talentos
adicionais a seu senhor tenham recebido louvor e elogios, foi o fato de ter enterrado
seu único talento na terra que trouxe ao terceiro servo escárnio e condenação. Na
parábola sobre o proprietário de terras que durante o dia contratou homens para
-
relatando aos outros seu encontro com o lobo. Então, ele encontrou um leão e escapou
dele; e seguiu adiante, contando a todos o encontro com o leão. A seguir, ele encontrou
uma cobra e escapou dela. Após esse acontecimento, ele se esqueceu dos dois
anteriores e prosseguiu contando o caso da cobra. Assim também é Israel: as últimas
dificuldades o fazem esquecer as primeiras.
Entretanto, a semelhança entre as parábolas de Jesus e as dos rabinos está
apenas na forma. As parábolas dos rabinos, normalmente, são apresentadas para
explicar ou elucidar a lei, versículos das Escrituras, ou uma doutrina. Elas não são
usadas para ensinar novas verdades, como acontece com as parábolas de Jesus. Através
das parábolas, Jesus explicava os grandes temas de seu ensinamento; o reino dos céus;
o amor, a graça e a misericórdia de Deus; o governo e a volta do Filho de Deus; o modo
de ser e o destino do homem. Enquanto as parábolas dos rabinos não ensinam senão a
aplicação da Lei, as parábolas de Jesus são parte da revelação de Deus ao homem. Jesus
revela novas verdades, pois ele foi comissionado por Deus para tornar conhecida a
vontade e a Palavra de Deus. As parábolas de Jesus, portanto, são as revelações de
Deus; as dos rabinos, não.
1.3 – Propósito
As parábolas mostram que Jesus estava perfeitamente familiarizado com
a vida humana em seus múltiplos aspectos e significados. Ele tinha conhecimento de
como cultivar a terra, lançar a semente, extirpar as ervas daninhas e colher os frutos.
Ele se sentia em casa, em uma vinha; sabia a época da colheita dos frutos da videira e
da figueira, e estava a par do quanto se pagava por um dia de trabalho.
Ele não apenas estava familiarizado com a rotina do fazendeiro, do pescador,
do construtor e do mercador, mas se encontrava igualmente à vontade entre os chefes
de estado, os ministros das finanças de uma cortereal, os juízes das cortes de justiça, os
fariseus e os coletores de impostos. Ele compreendeu a pobreza de Lázaro, embora
fosse convidado para jantar com os ricos. Suas parábolas retratam a vida de homens,
mulheres e crianças; o pobre e o rico; os que são marginalizados e os que são exaltados.
Pelo seu conhecimento da amplitude da vida humana, ele era capaz de
ministrar a todas as camadas sociais. Ele falava a linguagem do povo e seus
ensinamentos eram adequados ao nível daqueles que o ouviam. Jesus usava parábolas
para tornar sua linguagem acessível ao povo, para ensinar às multidões a Palavra de
Deus, para chamar seus ouvintes ao arrependimento e à fé, para desafiar os que criam
a transformar palavras em atos e para exortar seus seguidores a permanecerem atentos.
Jesus usou as parábolas para comunicar a mensagem de salvação de um
modo claro e simples. Seus ouvintes podiam, prontamente, entender a história
do filho pródigo, dos dois devedores, da grande ceia e do fariseu e o publicano.
Por meio das parábolas, eles identificavam Jesus com o Cristo que ensina com
autoridade a mensagem redentora do amor de Deus.
Dos relatos do evangelho, todavia, tomamos conhecimento que a
interpretação das parábolas era feita em particular, no círculo dos discípulos. Jesus
lhes disse: “A vós outros é dado o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina
por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam e não
entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles” (Mc 4.11,12).
Isso significa que Jesus, que foi enviado por Deus para proclamar a redenção
dos homens caídos e pecadores, esconde essa mensagem através de parábolas
incompreensíveis? As parábolas são, então, um tipo de enigma compreendido apenas
pelos iniciados?
As palavras de Marcos 4.11,12 devem ser entendidas no contexto mais amplo,
no qual o escritor as colocou. No capítulo anterior, Marcos relata que Jesus encontrara
descrença, blasfêmia e oposição direta. Ele foi acusado de estar possuído por Belzebu e
de expelir demônios, pelo príncipe dos demônios (Mc 3.22). O contraste que Jesus
apresenta, conseqüentemente, é entre aqueles que acreditavam e os que não
acreditavam, entre seguidores e oponentes, entre os que aceitavam e os que rejeitavam
a revelação de Deus. Os que fazem a vontade de Deus recebem a mensagem das
parábolas, porque pertencem à famiia de Jesus (Mc 3.35). Os que tentam destruir Jesus
(Mc 3.6) não conhecem a salvação, por causa da dureza de seus corações. É uma
questão de fé e descrença. Os que acreditam ouvem as parábolas e as recebem com fé e
entendimento, mesmo que a completa compreensão venha, apenas, gradualmente. Os
incrédulos rejeitam as parábolas porque elas são estranhas à sua maneira de pensar.
Recusam-se a perceber e entender a verdade de Deus. Assim, por causa de seus olhos
cegos e seus ouvidos surdos, privam a si mesmos da salvação proclamada por Jesus, e
trazem sobre si mesmos o julgamento de Deus.
Não nos surpreende que os discípulos de Jesus não tenham entendido
completamente a parábola do semeador (Mc 4.13). Os seguidores mais próximos
estavam perplexos com os ensinamentos da parábola porque não tinham visto ainda a
importância da pessoa e do ministério de Jesus, em relação à verdade de Deus revelada
na parábola. Somente pela fé foram capazes de ver aquelas verdades da qual as
parábolas davam testemunho. Jesus explicou de modo mais pormenorizado a parábola
do semeador e a do trigo e do joio (em outras, ele, de quando em quando, acrescentava
esclarecimentos às conclusões). Aos discípulos foi dado ver a relação entre os
acontecimentos que Jesus descrevia na parábola do semeador e o reino dos céus,
iniciado na pessoa de Jesus, o Messias.
1.4 – Intepretação
Na Igreja Primitiva, os Pais da Igreja começaram a procurar nas Escrituras do
Antigo Testamento vários significados ocultos relacionados à vinda de Jesus. Como
conseqüência natural dessa tendência, eles começaram a encontrar significados ocultos
nas parábolas de Jesus. Influenciados, talvez, pela apologética judaica, substituíram a
simplicidade das Escrituras pela especulação sutil. O resultado foi as interpretações
alegóricas das parábolas. Por isso, desde o tempo dos Pais da Igreja, até meados do
século 19, muitos intérpretes interpretaram as parábolas alegoricamente.
Orígenes, por exemplo; acreditava que a parábola das dez virgens estava
cheia de símbolos ocultos. As virgens, disse Orígenes, são todos aqueles que receberam
a Palavra de Deus. As prudentes acreditam e levam uma vida de justiça; as néscias
acreditam, mas falham no agir. As cinco lâmpadas das prudentes representam os cinco
sentidos, que são todos preparados para o seu uso apropriado. As cinco lâmpadas das
néscias deixaram de fornecer luz e se encaminharam para a noite do mundo. O óleo é o
ensinamento da Palavra e os vendedores de óleo são os mestres. O preço que eles
cobram pelo óleo é a perseverança. A meia-noite é a hora do descuido imprudente. O
grande clamor ouvido vem dos anjos que despertam todos os homens. O noivo é Cristo
que vem para encontrar a noiva, a Igreja. Assim Orígenes interpretou a parábola.
Entre os comentaristas do século 19, era comum identificar os pormenores da
parábola. Na parábola das dez virgens, a lâmpada acesa representava as boas obras; e o
óleo, a fé daquele que crê. Outros viram o óleo como uma representação simbólica do
Espírito Santo.
Ainda assim, nem todos os intérpretes das parábolas tomaram o caminho da
alegoria. Por ocasião da Reforma, Martinho Lutero tentou mudar a maneira de
interpretar as Escrituras. Ele preferiu um método de exegese bíblica que levava em
consideração a localização histórica e a estrutura gramatical da parábola.
João Calvino foi ainda mais direto. Ele evitou totalmente as interpretações
alegóricas das parábolas e procurou estabelecer o ponto principal de seu ensinamento.
Quando ele constatava o significado de uma parábola, não se preocupava com os seus
pormenores. Em sua opinião, os detalhes não tinham nada a ver com aquilo que Jesus
pretendia ensinar por intermédio da parábola.
Durante a segunda metade do século 19, C. E. van Koetsveld, um
estudioso alemão, deu novo impulso ao modo de abordar o assunto, iniciado
pelos Reformadores. Ele mostrou que as extravagantes interpretações alegóricas
das parábolas, feitas por numerosos comentaristas, obscureciam mais do que
esclareciam o ensino de Jesus. Para interpretar uma parábola apropriadamente, o
intérprete precisa apreender seu significado básico e distinguir o que é, ou não,
essencial. Van Koetsveld foi seguido, em sua maneira de abordar as parábolas,
pelo teólogo alemão A. Jülicher, que observou que, embora o termo parábola seja
usado freqüentemente pelos evangelistas, a palavra alegoria jamais é encontrada
nos relatos dos Evangelhos.
No final do século passado, as amarras que atavam a exegese das
parábolas foram cortadas e uma nova era de pesquisa teve início. Enquanto
Jülicher via Jesus como um professor de princípios morais, C. H. Dodd o
considerou uma pessoa histórica, dinâmica, que, com seus ensinamentos,
provocou um período de crise. Disse Dodd: “A tarefa de um intérprete de
parábolas é descobrir, se puder, a aplicação da parábola na situação pretendida
pelos evangelhos. Jesus ensinava que o reino de Deus, o Filho do homem, o juízo
e as bem-aventuranças passavam a fazer parte da história daquela época. Para
Jesus, de acordo com Dodd, o reino significava o governo de Deus exemplificado
em seu próprio ministério. Portanto, as parábolas ensinadas por Jesus devem ser
entendidas como diretamente relacionadas à efetiva situação do governo de Deus
na terra.
J. Jeremias continuou o trabalho de Dodd. Ele, também, desejou
descobrir os ensinamentos das parábolas que remetem de volta ao próprio Jesus.
Jeremias se dispôs a traçar o desenvolvimento histórico das parábolas, o que
acreditava ocorrer em dois estágios. O primeiro diz respeito à situação real do
ministerio de Jesus e o segundo e uma reflexão sobre o modo como as parábolas
eram colocadas em prática pela Igreja Cristã Primitiva. A tarefa a que Jeremias se
propôs era a de recuperar a forma original das parábolas para ouvi-las na própria
voz de Jesus. Com o seu profundo conhecimento da terra, da cultura, dos
costumes, do povo e da língua de Israel, Jeremias foi capaz de reunir uma
quantidade de informações que fazem de sua obra: um dos livros de maior
prestígio à respeito das parábolas.
Apesar disso, uma questão se apresenta pode a forma original ser separada do
contexto histórico sem sucumbir a um acúmulo, de adivinhações? Por outro lado, o
texto das parabolas pode ser tomado e aceito como uma representação real do ensino
de Jesus. Isto é, o texto bíblico que o evangelista nos entregou reflete o contexto
histórico no qual as parábolas foram originalmente, narradas. Dependemos do texto
que recebemos e agimos acertadamente quando deixamos as parábolas e seu
assentamento histórico intactos. Isso pede confiança — que os evangelistas, ao
registrarem as parábolas, tenham compreendido a intenção de Jesus ao ensiná-las nas
circunstâncias por eles descritas . Na ocasião em que as parabolas foram registradas,
testemunhas e ministros da Palavra transmitiram a tradição oral das palavras e feitos
de Jesus (Lc 1.1,2). Por causa do elo com as testemunhas, podemos crer que o contexto
no qual as parábolas estão inseridas se refere ao tempo, lugares e circunstâncias nas
quais Jesus, originalmente, as ensinou.
Mais recentemente, representantes de nova corrente da hermenêutica têm, de
maneira crescente, deslocado as parábolas de seu assentamento histórico para uma
ênfase literária claramente baseada numa estrutura existencial. Quer dizer, esses
estudiosos tratam as parábolas como literatura existencial, as removem de suas
amarras históricas e substituem sua significação original por uma mensagem
contemporânea. Negam que o sentido da parábola tem sua origem na vida e ministério
de Jesus; não estão interessados em suas fontes e bases, mas, antes, em sua forma
literária e sua interpretação existencial. Para eles, a estrutura literária da parábola é
importante porque leva o homem moderno a um momento de decisão: tem de aceitar
ou rejeitar o desafio colocado diante dele.
Aceitamos prontamente a idéia de que as parábolas chamam o homem à ação;
na aplicação da parábola do bom samaritano, ao intérprete da lei que o questionou,
Jesus disse: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10.37). Entretanto, o existencialista, em
sua interpretação da parábola, enfatiza o modo imperativo e menospreza o modo
indicativo no qual a parábola foi contada. Ele separa as palavras de Jesus de sua
disposição cultural e, assim, as despoja do poder e autoridade que Jesus lhes deu.
Além do mais, ao tratar as parábolas como estruturas literárias separadas de
seu assentamento original, o existencialista precisa estabelecer para elas uma nova
base. Assim, ele coloca as parábolas num contexto contemporâneo. Mas, esse método
dificilmente pode ser chamado de exegético, pois sugere no texto bíblico uma filosofia
existencial. Isso é eisegese (dar ao texto um sentido diferente), não exegese.
Infelizmente, o cristão comum, que procura orientação para o entendimento das
parábolas com os representantes da nova escola hermenêutica, precisa, primeiro,
buscar conhecer a filosofia existencial, a teologia neoliberal e o jargão literário do
estruturalismo, para que possa se beneficiar com seus pontos de vista.
1.5 – Princípios
Interpretar parábolas não exige um treinamento completo em teologia e
filosofia, mas implica que o intérprete se atenha a alguns princípios básicos de
interpretação. Esses princípios, em resumo, estão relacionados à história, à gramática e
à teologia do texto bíblico. Sempre que possível, o intérprete deve fazer um estudo da
conjuntura histórica da parábola, incluindo uma análise pormenorizada das
circunstâncias religiosas, sociais, políticas e geográficas reveladas nela. A disposição,
da parábola do bom samaritano, por exemplo, exige certa familiaridade com a
instrução do clero daqueles dias. O intérprete da lei, procurando Jesus e perguntando-
lhe o que fazer para herdara vida eterna, deu início à conversação que levou à história
do bom samaritano.
Em relação à parábola do bom samaritano, o intérprete deveria se familiarizar
com a origem, a classe social e a religião dos samaritanos, com as funções, ofício e
residência do sacerdote levita; com a topografia da área entre Jerusalém e Jericó; e com
o conceito judaico de boa vizinhança. Observando o contexto histórico da parábola, o
intérprete apreende a razão por que Jesus contou essa história e compreende a lição
que Jesus procurou transmitir através da parábola.
A seguir, o intérprete deve atentar para a estrutura literária e gramatical da
parábola. Os modos e tempos de verbos empregados pelo evangelista em relação à
parábola são muito significativos e lançam luz sobre o principal ensinamento da
história. As palavras estudadas em seu contexto bíblico, assim como em escritos
extracanônicos são parte essencial do processo de interpretação de uma parábola.
Deste modo, o estudo da palavra próximo no contexto do comando “Ama o teu próximo
como a ti mesmo”, como foi dado no Antigo e Novo Testamentos, resulta num exercício
gratificante. O intérprete precisa, também, levar em consideração a introdução e a
conclusão de uma parábola, pois podem conter um artifício literário como uma questão
de retórica,uma exortação ou uma ordem. A parábola do bom samaritano é concluída
com o comando direto: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10.37). O intérprete da lei,
que tinha perguntado a Jesus a respeito do que fazer para herdar a vida eterna, não
teve como deixar de se envolver no cumprimento da ordem de amar a seu próximo
como a si mesmo. As introduções, e especialmente as conclusões contêm as diretrizes
que ajudam o intérprete a encontrar os pontos principais das parábolas.
E mais ainda, o ponto principal de uma parábola deve ser comparado
teologicamente com os ensinamentos de Jesus e com o restante das Escrituras. Quando
o ensino básico de uma parábola foi completamente explorado e esta corretamente
entendido, a unidade das Escrituras se manifestará e o sentido apropriado da
passagem poderá ser visto em toda a sua simplicidade e limpidez.
Por último, mas não menos importante, o intérprete da parábola deve traduzir
seu significado em termos apropriados às necessidades de hoje. Sua tarefa é aplicar o
ensinamento central da parábola à situação de vida da pessoa que está ouvindo sua
interpretação. Na parábola do bom samaritano, a ordem para amar o próximo se torna
cheia de significado quando a pessoa que foi roubada e ferida na estrada de Jericó não
é mais uma figura de um passado distante. Ao contrário, o próximo que clama pelo
nosso amor é o sem-teto, carente e oprimido. Ele vem ao nosso encontro na estrada de
Jericó das páginas diárias dos jornais e do noticiário colorido da televisão.
1.6 – Classificação
As parábolas de Jesus podem ser agrupadas e classificadas de várias formas. As
do semeador, da semente germinando secretamente, do trigo e do joio, da figueira
estéril, e a da figueira brotando são, todas, parábolas naturais.
Várias parábolas de Jesus dizem respeito ao trabalho e ao salário. Algumas
delas são a respeito dos trabalhadores da vinha, do arrendatário e do administrador
infiel.
O tema de outras são as bodas e festas ou ocasiões solenes. Essas incluem a
parábola das crianças brincando na praça, a das dez virgens, a da grande ceia e a do
banquete das bodas.
Outras, ainda, têm como motivo geral o achado e o perdido. Essas incluem as
parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e a do filho perdido.
Não é fácil, contudo, classificar uma parábola. A parábola da rede é uma
parábola natural, ou deve ser agrupada com as que falam de trabalho e salário?
Onde colocar a parábola do bom samaritano? Fica claro que a classificação das
parábolas pode ser, de certo modo, arbitrária, e, em alguns casos, forçada.
Os Evangelhos Sinóticos apresentam parábolas com correspondentes em dois
ou mesmo três dos evangelhos, e também parábolas específicas de um único
evangelista. Enquanto Marcos tem apenas uma parábola peculiar a seu evangelho (a da
semente crescendo secretamente), Mateus e Lucas têm várias. O mais correto é
obedecer a seqüência dos evangelhos, discutindo primeiro as de Mateus, com a
exclusiva de Marcos estudada entre a parábola do semeador e a do trigo e o joio, e,
então, as apresentadas no Evangelho de Lucas.
2. As Circunstâncias
Jesus estava ensinando aos publicanos e àqueles considerados marginais, por
causa de sua conduta moral. Ensinava-lhes verdades espirituais que diziam respeito ao
reino de Deus, quando os líderes religiosos daqueles dias manifestaram seu desagrado,
murmurando contra Jesus: “Este recebe pecadores e come com eles”. Aos olhos dos escribas
e fariseus, os publicanos, porque tinham-se vendido ao governo romano, e as
prostitutas, pelo seu pecado moral, estavam banidos da comunidade religiosa de Israel,
e estavam, espiritualmente, mortos. Embora procurassem ganhar convertidos, os
doutores da lei e os fariseus não tinham interesse em receber tais convertidos para um
relacionamento mais expressivo com Deus (Mt 23.15). Não podiam nem queriam
entender que Deus deseja o arrependimento que, quando demonstrado, causa imenso
júbilo nos céus.
Jesus contou a parábola do filho pródigo Talvez fosse melhor falar de dois
filhos e seu pai. Nestes três personagens, Jesus caracterizava seus ouvintes. Cada um
dos que o ouviam tinha de se mirar no espelho da parábola e pensar: “Este sou eu”. O
filho pródigo retratava aqueles que, por sua moral e pela sua classe social, eram
marginalizados. Seu irmão era o judeu que se autojustificava, e o pai era o reflexo de
Deus. Jesus se dirigiu diretamente aos que o ouviam. Chamou o pecador ao
arrependimento e exortou o justo a aceitar o pecador e a se alegrar com sua salvação. A
parábola descreve claramente o amor de Deus por seus filhos, tanto pelo rebelde
quanto pelo obediente. Os contemporâneos de Jesus tinham plena consciência da
paternidade de Deus. Das profecias de Jeremias eles sabiam que Israel tinha sido o filho
que se desviara. Efraim disse:
“Converte-me, e serei convertido, porque tu és o SENHOR meu Deus. Na verdade, depois que
me converti, arrependi-me; depois que fui instruído, bati no peito; fiquei envergonhado, confuso,
porque levei o opróbrio da minha mocidade (Jr 31.18,19).
4. O Pai
Jesus apresentou a parábola, dizendo: “Certo homem tinha dois filhos”.
Mas, à medida que continuava, mostrou que esse homem tinha um relacionamento
extraordinário com os filhos: ele os amava de modo sábio, com ternura e não
possessivamente. Podemos imaginar um pai ainda suficientemente moço para se
opor rigorosamente ao pedido de divisão dos bens, feito pelo filho mais novo. O pai
poderia ter recusado o pedido porque o filho era muito jovem para receber sua parte
dos bens. Nenhum argumento, no entanto, foi usado. O pai consentiu que o filho se
tomasse independente e, embora ferisse seu coração vê-lo partir, sabiamente guardou
para si o que sentia.
Podemos presumir que o pai tenha tentado descobrir onde vivia o filho e
o que fazia longe de casa. As notícias sobre a fome, com certeza, chegaram até ele.
Deve ter sabido das condições miseráveis em que o filho vívia, e que determinariam a
sua volta, porque constantemente olhava ao longo do caminho por onde esperava
que ele regressasse.
Podemos perguntar por que os parentes próximos do rapaz não o
procuraram sabendo de sua situação tão degradante. Havia fartura na fazenda. Teria
sido carinhoso da parte deles enviar algo ao filho para aliviar suas necessidades. O
pai poderia ter enviado ao filho uma mensagem, convidando-o a voltar. Tudo isso
teria sido prova de amor.
Mas, aqui, nos deparamos com um contraste. O pai não procurou seu
filho para trazê-lo de volta à casa. Nas outras duas parábolas, o pastor vasculhou os
montes para encontrar a ovelha perdida, e a mulher varreu o chão à procura da
moeda. Mas o pai ficou em casa. Há uma diferença entre uma ovelha e uma moeda,
de um lado, e um filho, de outro. O pastor só pode encontrar sua ovelha se sair à
procura dela pelos montes. A única maneira de a mulher recuperar sua moeda é
varrendo a casa. O pai, no entanto, tinha mais que uma opção. A primeira, seria
visitá-lo e chamá-lo de volta à casa. A segunda era esperar paciente e prudentemente
que o filho caísse em si, confessasse seus pecados e buscasse a reconciliação. Assim,
estaria restabelecida a relação pai-filho. Então o que estava perdido seria encontrado.
O pai tinha o controle da situação, não o filho. O pai olhava na direção de onde
esperava que seu filho viesse. Quando o viu, seu coração se compadeceu dele.
Deixando de lado a dignidade e o decoro, correu ao encontro do filho, descalço e
maltrapilho, e, abraçando-o, o beijou. O pai aceitou o filho como membro da família
antes que ele pudesse atirar-se a seus pés para beijá-los, como um escravo; ou, antes,
que se ajoelhasse e lhe beijasse as mãos. Abraçando-o e beijando-o, deixou que
soubesse que era considerado filho. Assim, não foi necessário que o jovem fizesse o
discurso que já havia preparado para dizer que gostaria de ser empregado na fazenda
de seu pai. O pai o impediu, beijando-o e tratando-o como filho. O filho confessou seu
pecado: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”’.
Ele falou a verdade. Já não era mais digno por causa de seu passado. Tinha perdido o
direito legal à sua filiação. Mas, o pai o aceitou como filho, e isso pôs fim a qualquer
idéia de trabalhar na fazenda como con-tratado. O pai decidiu assim.
O longo período de espera chegara ao fim. O pai tinha seu filho de volta.
Portanto, era hora de comemorar. O pai ordenou aos servos que lhe trouxessem as
melhores roupas Puseram lhe um anel no dedo e sandalias nos pés. O filho foi tratado
com muita honra pelo pai, pois as melhores vestes estavam sempre guardadas para
hospedes muito especiais. O anel era simbolo de autoridade, e, assim todos podiam
ver que ele estava reintegrado. Naturalmente, as sandalhas lhe foram dadas para
indicar que era um homem livre. Os escravos e os pobres andavam descalços. “Trazei
tambem e matai o novilho cevado” disse o pai, “Comamos e regozijemo-nos”. Como o pastor
tinha chamado os amigos e vizinhos para festejarem com ele por ter achado a ovelha
perdida, e como a mulher celebrou a recuperação da moeda com amigas e vizinhas,
tambem o pai ordenou que houvesse musicas e danças. Todos os membros da família e
os servos foram chamados para a festa. Era hora de celebrar e ser feliz.
“Porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”. O pai se
referia ao fato de que o filho, deixando de ter parte na herança da família, e dando por
acabada sua obrigação moral e material para com o pai, tinha se desligado
voluntariamente, de casa. Na pratica, o filho estava morto. Na verdade ele não tinha
mais nada a reclamar sobre a propriedade, quando o pai morresse “Este meu filho estava
morto e reviveu”, disse o pai
A parábola não diz como foram resolvidos os aspectos legais dos direitos
envolvidos com relação à herança. Esse não é o objetivo. O ponto importante é a volta
do jovem e o fato de ter sido aceito plenamente como filho.
6. Aplicação
A intenção de Jesus era descrever a atitude dos fariseus e mestres da lei em
relação aos coletores de impostos e as prostitutas Ele havia sido acusado de receber
aqueles pecadores e de comer com eles Tinham lhe dado a enten der que, associando-
se com os proscritos, ele mesmo seria banido. Jesus contou essa parabola na qual o pai
manda matar o novilho cevado e diz “Comamos e regozijemo-nos”. Queria mostrar aos
escribas e fariseus por que comia com publicanos e meretrizes.
Na pessoa do filho pródigo, os ouvintes de Jesus viram o retrato dos
marginalizados daqueles dias. Os coletores de impostos e os “pecadores” eram judeus
de nacionalidade, porem, por causa de sua ocupação, tinham sido banidos da
comunidade religiosa. Estavam espiritualmente mortos, aos olhos dos judeus que
permaneciam na lei. O filho pródigo trabalhara para um empregador gentio; assim
como o coletor de impostos. O pródigo, no entanto, caiu em si e voltou para casa de seu
pai. Poderiam os publicanos fazer o mesmo e voltar? A pergunta que Jesus propunha
aos ouvintes era: “O que acontece quando um publicano ou um ‘pecador’ se arrepende?”
Jesus retratou o amor do pai pelo filho para deixar bastante claro que o
amor de Deus é infinito. Seus ouvintes reconheceram Deus, na pessoa do pai. Sabiam
que o pecado é sempre primeiro contra Deus e depois contra o semelhante. Como Deus
perdoa um pecador e depois o reintegra como membro da sua família? A atitude do
pai, na parábola, representa o perdão amoroso de Deus oferecido ao pecador que se
arrepende. Como o pai disse aos servos: “Comamos e regozijemo-nos”, assim Deus se
alegra com seus anjos por um pecador que se arrepende. Como nas parábolas da
ovelha e da dracma perdidas, todos os amigos e vizinhos também se reúnem para
festejar na parábola do filho pródigo, o filho mais velho é convidado a festejar e a
alegrar-se.
Os fariseus e doutores da lei não podiam deixar de entender a
pretendida identificação. Jesus tinha apontado seu dedo para eles, quando contara a
parte sobre o irmão mais velho. Jesus, entretanto, não os acusou, de maneira alguma.
Pela parábola, mostrou amor e zelo genuínos, não apenas pelo pecador arrependido,
mas, também, pelo filho obediente. Pediu aos líderes religiosos daqueles dias para
celebrarem e alegrarem-se quando alguém social e moralmente marginalizado se
arrependesse. Pediu-lhes que aceitassem essas pessoas com amor fraternal e que os
reintegrassem na comunidade religiosa. Jesus fez a proposta. Os fariseus e os
doutores da lei teriam de tomar a decisão.
A parábola do filho pródigo proclama as boas novas do
evangelho. Todos aqueles que voltaram suas costas para Deus, que consideram a
igreja fora de moda e aceitam a permissiva sociedade atual, encontrarão um Pai celes-
tial amoroso, esperando por eles, no momento em que regressarem. Há uma volta ao
lar para eles, porque Deus é o lar. Embora o arrependimento seja um mistério, o
cristão que tem amado e obedecido a Deus deve regozijar-se e alegrar-se, quando um
pecador se arrepende. Para ele são dirigidas as palavras: “Meu filho, tu sempre estás
comigo; tudo o que é meu é teu”. Esta é a mensagem para ajusto que tem enfrentado
batalhas pelo e com o Senhor, que tem suportado o calor do dia e tem guardado a fé.
Do ponto de vista da economia, modernos filhos pródigos têm dissipado
milhões. Os pródigos de nossos dias esbanjam tempo e talentos como se não tivessem
valor. Não é de admirar que os justos digam: “Imaginem se esses recursos fossem usados
para difundir o evangelho e construir o reino de Deus!”. Ninguém pode discutir isso. Deus
não está interessado em tempo, energia e talentos gastos — embora não perdoe o mau
uso e o desperdício. Deus está interessado na salvação dos seres humanos. Quando um
pródigo moderno cai em si e volta para Deus, há alegria nos céus. Como o céu se
alegra, assim a igreja deve celebrar e regozijar-se quando alguém espiritualmente
morto revive, e quando o que estava perdido é achado. Proclamar o evangelho da
salvação e ver pecadores serem salvos pelo conhecimento de Crista deve ser uma
infindável celebração de vida para todos os que crêem.
É esta uma história na qual apenas a graça de Deus é revelada? A parábola é
uma história do Cristianismo sem Cristo?. A resposta a essas perguntas é que a
parábola deve ser vista no contexto das Escrituras. Do princípio ao fim, a Bíblia, desde
a desobediência de Adão e Eva até à descrição das multidões cercando o trono do
Cordeiro, é um comentário fluente a respeito desta parábola. E Jesus que fala sobre o
amor do Pai, que abre o caminho para a casa do Pai, e que chama o pecador de volta à
casa.
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D,
D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
Coleção: Parábolas - Nº 05
A Parábola do
Grande Julgamento
20ª Edição – 2022 = Caldas da Rainha – Leiria – Portugal
A Parábola do Grande
Julgamento
“Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos
os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua
glória;”
Mateus 25:31
1. Introdução as Parábolas de Jesus
1.1 - Sentido Etimológico
(B) mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
1.6.1 - Imanência
1.6.2 - Eschaton
3. O Grande Julgamento
Estritamente falando, a passagem a respeito do juízo final é muito mais uma
profecia que uma parábola. Apenas a parte que fala das ovelhas e dos cabritos pode ser
considerada uma parábola. E essa breve comparação serve perfeitamente ao propósito
de Jesus, quando ensina a seus discípulos a doutrina do último julgamento.
Rapidamente, Jesus se refere a uma cena bucólica comum em seus dias. O
pastor reúne ovelhas e cabritos em um rebanho. Em áreas onde a grama é escassa por
causa da seca, os cabritos preferem comer as folhas e os rebentos mais do que pastar.
Eles ficam no mesmo rebanho com as ovelhas, mas nem os cabritos nem as ovelhas se
misturam. Ao entardecer, as ovelhas atendem ao chamado do pastor, mas os cabritos,
muitas vezes, o ignoram. Quando cai a noite, as ovelhas preferem ficar ao ar livre, ao
contrário dos cabritos, que não suportam o frio e precisam se abrigar.
O pastor põe as ovelhas à direita e os cabritos à esquerda. Ele não separa os
machos das fêmeas, e, sim, as ovelhas dos cabritos. Simbolicamente, coloca as ovelhas à
sua direita e os cabritos de seu lado esquerdo. As ovelhas valem mais que os cabritos, e
sua lã branca, que não se confunde com a pele malhada dos cabritos, se destaca como
símbolo de justiça.
O bode, há muito tempo, vem sendo associado ao mal. O Antigo Testamento
retrata o bode como o portador do pecado, que é enviado para o deserto (Lv 16.20-22).
Mesmo nós, em nossa própria linguagem, usamos a passagem registrada em Levítico.
Além disso, o lado direito significa sempre o que é bom, porém o esquerdo pode se
referir a algo sinistro, sombrio, mau e vil.
Todas as nações do mundo são comparadas a ovelhas e cabritos que são
separados pelo pastor, no fim do dia. As nações serão reunidas diante do Filho do
homem sentado em seu trono na glória celestial. Ao comando divino, os anjos se
adiantarão e reunirão os eleitos dos quatro ventos e os apresentarão diante do trono do
juízo (Mt 13.41,42; 24.31; 2 Ts 1.7,8; Ap 14.17-20). Todos os povos estarão diante do Juiz.
Tanto os bons, quanto os maus, os ímpios como os justos. Ninguém será excluído. O
Juiz separará uns dos outros, como o pastor divide seu rebanho de ovelhas e cabritos
depois de tê-los apascentado durante o dia.
3. Implicações
A parábola das ovelhas e dos cabritos é uma introdução à descrição do último juízo.
Como o pastor separa suas ovelhas dos cabritos, assim também Jesus separa os justos
dos ímpios no dia do juízo. Naquele dia, todas as nações do mundo permanecem
diante do Filho do homem e são julgadas com base na aceitação ou rejeição mostradas a
ele, quando seus mensageiros proclamaram o seu chamado. O que se deduz deste
quadro é que o julgamento só pode acontecer quando a ordem da Grande Comissão
tiver sido plenamente cumprida. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt,
28.19). Quando este comando tiver sido cumprido, o fim está próximo. Os seguidores
de Jesus devem proclamar fielmente a mensagem do reino a todas as nações, pois
quando esta tarefa estiver cumprida, o fim virá (Mt 24.14).
Os mensageiros do evangelho de Jesus experimentam fadiga e sofrem fome, sede,
frio, doença, solidão e prisão. Paulo relata suas experiências e fala das vezes em que
passou fome e sede; esteve nu e com frio; nas vezes em que esteve em perigo entre
patrícios e entre gentios; e como esteve, muitas vezes, nas prisões; como foi açoitado e
enfrentou o perigo de morte (2 Co 11.23~27). As pessoas que o ouviam e que cuidaram
dele por ocasião de seus julgamentos e de suas tribulações, demonstraram genuíno
amor. Esses atos, como Paulo diz aos Filipenses que lhe haviam ofertado dádivas, eram
“aroma suave, como um sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Fp 4.18). Mas, quando Paulo
foi abandonado por todos, enquanto estava sendo julgado, o Senhor estavá ao seu lado,
dando-lhe força. Aqueles que o haviam desamparado, Paulo escreveu: “Que isto não
lhes seja posto em conta!” (2 Tm 4.16). Ele deixou o julgamento para o Senhor. Embora
representante de Jesus, não usou da autoridade daquele que o enviara. Jesus é o juiz, e
ele dará o veredicto no dia do juízo. Paulo pode apenas orar para que o ato de deserção
não fosse imputado àqueles que deveriam tê-lo apoiado.
A auto-identificação de Jesus com seus irmãos não inclui todos os pobres e
necessitados do mundo. Ver na passagem sobre o juízo final uma base para o amor
cristão pelos pobres, considerados indiscriminadamente, porque o pobre representa
Cristo, é acrescentar algo ao texto. Ver o Cristo na figura rejeitada do homem na
estrada de Jericó, ou de Lázaro à soleira da casa do rico, é aceitar uma exegese falha. A
parábola das ovelhas e dos cabritos e seu subseqüente quadro do dia do juízo final
acentuam a palavra irmão (Mt 25.40). Para Mateus o termo irmão não se aplica a todos,
mas apenas àqueles que aceitam Jesus como seu Senhor e Salvador. Em seu Evangelho,
Mateus fornece um significado para a palavra irmão. Para ele, a palavra significa um
discípulo, um seguidor de Jesus. Portanto, a frase “meus pequeninos irmãos”, em Mateus
25.40, se refere às pessoas que acreditam em Jesus. São membros de seu corpo, a igreja.
Naturalmente, as palavras de Jesus: “Os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim
nem sempre me tendes” (Mt 26.11; Mc 14.7; Jo 12.8), não significam que, em sua ausência,
Jesus seja representado pelos pobres. Suas palavras são uma exortação para que os
pobres sejam cuidados, como Deus ordenou aos israelitas: “Pois nunca deixará de haver
pobres na terra; por isso, eu te ordeno: livremente, abrirás a mão para o teu irmão, para o
necessitado, para o pobre na tua terra” (Dt 15.11). Paulo era cuidadoso a respeito desta
mesma injunção, que recebera novamente ao se engajar na missão aos gentios. Após ter
recebido a destra de comunhão de Tiago, Pedro e João, ele disse:
“Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres...” (Gl 2.10). Ninguém
pode, jamais, ignorar os pobres, porque a ordem de Deus: “Amarás o teu próximo como a
ti mesmo”, é suficientemente clara. O cumprimento da lei é o amor, e aquele que
cumpre esta lei régia está agindo bem (Tg 2.8). Assim, os cristãos têm a obrigação
divina de mostrar amor genuíno e sincero interesse pelos necessitados e rejeitados, não
importando a raça, origem, idade, sexo, ou religião. Qualquer um se qualifica como o
próximo e reclama á mor, porém nem todos são chamados de irmão ou irmã de Cristo.
Apenas aqueles que crêém em Cristo e fazem a vontade de Deus são irmãos e irmãs de
Çristo (Mt 12.48).
Na parábola e na apresentação da cena do juízo, as seguintes pessoas aparecem
individual e coletivamente: (1) o Filho do homem, (2 todas as nações, (3) um pastor, (4)
o Rei, (5) o Pai do Rei, (6) os justos, (7) os irmãos do Rei, (8) os ímpios.
E óbvio que Deus é o Pai do Rei; embora Deus não seja o Juiz. O Rei é o Juiz que é
comparado a um pastor que separa as ovelhas dos bodes. Além disso, o Rei é também
conhecido como o Filho do homem, que é como Jesus se denomina. Os irmãos do Rei,
também, estão presentes no julgamento. Quem são eles? Jesus diz a seus discípulos
que: “quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também
vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19.28). O privilégio de
julgar com Cristo não se limita aos doze discipulos Os santos julgarão o mundo,
escreve Paulo a congregação de Corinto (1 Co 6 2). O Juiz não esta sozinho, porem fala
pelos seus irmãos Ele não julga seus irmãos, porem todas as nações se apresentam
diante de seu trono e são separadas em dois grupos os que estarão a direita do Juiz,
porque ajudaram os irmãos, e aqueles a esquerda, porque se recusaram a ajudar.
Nesta parábola, Jesus apresenta apenas um aspecto do quadro do último
julgamento. Outras passagens das Escrituras nos revelam cenas adicionais do que
acontecerá naquele dia. A parábola das ovelhas e dos cabritos descreve uma divisão
entre os que foram colocados à direita e aqueles que foram colocados à esquerda. A
descrição da cena do julgamento acaba com uma referência ao destino permanente que
terão. “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna” (Mt 25.46). A
conclusão indica que o veredicto, para ambas as partes, é final e irrevogável. Os justos
gozarão para sempre a plenitude da vida, e os ímpios receberão a maldição da punição
eterna.
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D,
D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
Coleção: Parábolas - Nº 03
A Parábola do
Rico e do Lázaro
A Parábola do Rico e
do Lázaro
“ Ora, havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho
finíssimo e que, todos os dias se regalava esplendidamente. Havia
também certo mendigo, chamado Lázaro...”
Lucas 16:31
1.1 - Formas
A palavra parábola, no Novo Testamento, tem uma conotação ampla que inclui
formas de parábolas que são, geralmente, divididas em três categorias. Há as autênticas
parabolas, historias em forma de parábolas e ilustrações.
1.2 – Composição
Embora, de um modo geral, seja verdade que uma parábola ensina somente
uma lição básica, esta regra nem sempre é definitiva. Algumas das parábolas de Jesus
têm composição complexa. A composição da parábola do semeador apresenta quatro
partes e cada parte pede uma interpretação.
Do mesmo modo, a parábola sobre as bodas não é uma história única, pois tem
acrescentado uma parte a respeito de um convidado que não está usando roupas
apropriadas para a ocasião.
Também, a conclusão da parábola sobre os lavradores maus se desvia do cenário da
vinha para o de construtores e seus negócios.
Por causa dessa complexidade, é sensato o intérprete não se prender a um ponto
único na interpretação da composição das parábolas.
Ao ler as parábolas de Jesus, nós nos perguntamos por que são deixados de lado
vários detalhes que deveriam fazer parte da história. Por exemplo, na história do
amigo que bate à porta de seu vizinho, no meio da noite, para pedir três pães, a mulher
do vizinho não é mencionada.
Na parábola do filho pródigo, o pai é uma figura marcante, mas nem uma palavra é
dita a respeito da mãe.
A parábola das dez virgens apresenta o noivo, mas ignora completamente a noiva.
Esses pormenores, entretanto, não são relevantes na composição geral das parábolas,
especialmente se compreendermos o artifício literário das tríades, muitas vezes usado
nas parábolas de Jesus. Na parábola do amigo que vem bater à porta no meio da noite,
há três personagens: o viajante, o amigo e o vizinho. A parábola do filho pródigo
também fala de três pessoas: o pai, o filho mais jovem e o irmão mais velho. Na história
das dez virgens, encontramos três elementos: as cinco virgens prudentes, as cinco
virgens tolas e o noivo.
Além disso, nas parábolas de Jesus não é o começo da história o que é importante,
porém o seu final. A importância recai sobre a última pessoa mencionada, o último
feito ou a última declaração. O “efeito final” da parábola é deliberadamente elaborado
em sua composição. Foi o samaritano que procurou aliviar a dor do homem ferido, não
o sacerdote ou o levita. Embora os dois servos que apresentaram cinco e dois talentos
adicionais a seu senhor tenham recebido louvor e elogios, foi o fato de ter enterrado
seu único talento na terra que trouxe ao terceiro servo escárnio e condenação. Na
parábola sobre o proprietário de terras que durante o dia contratou homens para
-
relatando aos outros seu encontro com o lobo. Então, ele encontrou um leão e escapou
dele; e seguiu adiante, contando a todos o encontro com o leão. A seguir, ele encontrou
uma cobra e escapou dela. Após esse acontecimento, ele se esqueceu dos dois
anteriores e prosseguiu contando o caso da cobra. Assim também é Israel: as últimas
dificuldades o fazem esquecer as primeiras.
Entretanto, a semelhança entre as parábolas de Jesus e as dos rabinos está
apenas na forma. As parábolas dos rabinos, normalmente, são apresentadas para
explicar ou elucidar a lei, versículos das Escrituras, ou uma doutrina. Elas não são
usadas para ensinar novas verdades, como acontece com as parábolas de Jesus. Através
das parábolas, Jesus explicava os grandes temas de seu ensinamento; o reino dos céus;
o amor, a graça e a misericórdia de Deus; o governo e a volta do Filho de Deus; o modo
de ser e o destino do homem. Enquanto as parábolas dos rabinos não ensinam senão a
aplicação da Lei, as parábolas de Jesus são parte da revelação de Deus ao homem. Jesus
revela novas verdades, pois ele foi comissionado por Deus para tornar conhecida a
vontade e a Palavra de Deus. As parábolas de Jesus, portanto, são as revelações de
Deus; as dos rabinos, não.
1.3 – Propósito
As parábolas mostram que Jesus estava perfeitamente familiarizado com
a vida humana em seus múltiplos aspectos e significados. Ele tinha conhecimento de
como cultivar a terra, lançar a semente, extirpar as ervas daninhas e colher os frutos.
Ele se sentia em casa, em uma vinha; sabia a época da colheita dos frutos da videira e
da figueira, e estava a par do quanto se pagava por um dia de trabalho.
Ele não apenas estava familiarizado com a rotina do fazendeiro, do pescador,
do construtor e do mercador, mas se encontrava igualmente à vontade entre os chefes
de estado, os ministros das finanças de uma cortereal, os juízes das cortes de justiça, os
fariseus e os coletores de impostos. Ele compreendeu a pobreza de Lázaro, embora
fosse convidado para jantar com os ricos. Suas parábolas retratam a vida de homens,
mulheres e crianças; o pobre e o rico; os que são marginalizados e os que são exaltados.
Pelo seu conhecimento da amplitude da vida humana, ele era capaz de
ministrar a todas as camadas sociais. Ele falava a linguagem do povo e seus
ensinamentos eram adequados ao nível daqueles que o ouviam. Jesus usava parábolas
para tornar sua linguagem acessível ao povo, para ensinar às multidões a Palavra de
Deus, para chamar seus ouvintes ao arrependimento e à fé, para desafiar os que criam
a transformar palavras em atos e para exortar seus seguidores a permanecerem atentos.
Jesus usou as parábolas para comunicar a mensagem de salvação de um
modo claro e simples. Seus ouvintes podiam, prontamente, entender a história
do filho pródigo, dos dois devedores, da grande ceia e do fariseu e o publicano.
Por meio das parábolas, eles identificavam Jesus com o Cristo que ensina com
autoridade a mensagem redentora do amor de Deus.
Dos relatos do evangelho, todavia, tomamos conhecimento que a
interpretação das parábolas era feita em particular, no círculo dos discípulos. Jesus
lhes disse: “A vós outros é dado o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina
por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e ouvindo, ouçam e não
entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles” (Mc 4.11,12).
Isso significa que Jesus, que foi enviado por Deus para proclamar a redenção
dos homens caídos e pecadores, esconde essa mensagem através de parábolas
incompreensíveis? As parábolas são, então, um tipo de enigma compreendido apenas
pelos iniciados?
As palavras de Marcos 4.11,12 devem ser entendidas no contexto mais amplo,
no qual o escritor as colocou. No capítulo anterior, Marcos relata que Jesus encontrara
descrença, blasfêmia e oposição direta. Ele foi acusado de estar possuído por Belzebu e
de expelir demônios, pelo príncipe dos demônios (Mc 3.22). O contraste que Jesus
apresenta, conseqüentemente, é entre aqueles que acreditavam e os que não
acreditavam, entre seguidores e oponentes, entre os que aceitavam e os que rejeitavam
a revelação de Deus. Os que fazem a vontade de Deus recebem a mensagem das
parábolas, porque pertencem à famiia de Jesus (Mc 3.35). Os que tentam destruir Jesus
(Mc 3.6) não conhecem a salvação, por causa da dureza de seus corações. É uma
questão de fé e descrença. Os que acreditam ouvem as parábolas e as recebem com fé e
entendimento, mesmo que a completa compreensão venha, apenas, gradualmente. Os
incrédulos rejeitam as parábolas porque elas são estranhas à sua maneira de pensar.
Recusam-se a perceber e entender a verdade de Deus. Assim, por causa de seus olhos
cegos e seus ouvidos surdos, privam a si mesmos da salvação proclamada por Jesus, e
trazem sobre si mesmos o julgamento de Deus.
Não nos surpreende que os discípulos de Jesus não tenham entendido
completamente a parábola do semeador (Mc 4.13). Os seguidores mais próximos
estavam perplexos com os ensinamentos da parábola porque não tinham visto ainda a
importância da pessoa e do ministério de Jesus, em relação à verdade de Deus revelada
na parábola. Somente pela fé foram capazes de ver aquelas verdades da qual as
parábolas davam testemunho. Jesus explicou de modo mais pormenorizado a parábola
do semeador e a do trigo e do joio (em outras, ele, de quando em quando, acrescentava
esclarecimentos às conclusões). Aos discípulos foi dado ver a relação entre os
acontecimentos que Jesus descrevia na parábola do semeador e o reino dos céus,
iniciado na pessoa de Jesus, o Messias.
1.4 – Intepretação
Na Igreja Primitiva, os Pais da Igreja começaram a procurar nas Escrituras do
Antigo Testamento vários significados ocultos relacionados à vinda de Jesus. Como
conseqüência natural dessa tendência, eles começaram a encontrar significados ocultos
nas parábolas de Jesus. Influenciados, talvez, pela apologética judaica, substituíram a
simplicidade das Escrituras pela especulação sutil. O resultado foi as interpretações
alegóricas das parábolas. Por isso, desde o tempo dos Pais da Igreja, até meados do
século 19, muitos intérpretes interpretaram as parábolas alegoricamente.
Orígenes, por exemplo; acreditava que a parábola das dez virgens estava
cheia de símbolos ocultos. As virgens, disse Orígenes, são todos aqueles que receberam
a Palavra de Deus. As prudentes acreditam e levam uma vida de justiça; as néscias
acreditam, mas falham no agir. As cinco lâmpadas das prudentes representam os cinco
sentidos, que são todos preparados para o seu uso apropriado. As cinco lâmpadas das
néscias deixaram de fornecer luz e se encaminharam para a noite do mundo. O óleo é o
ensinamento da Palavra e os vendedores de óleo são os mestres. O preço que eles
cobram pelo óleo é a perseverança. A meia-noite é a hora do descuido imprudente. O
grande clamor ouvido vem dos anjos que despertam todos os homens. O noivo é Cristo
que vem para encontrar a noiva, a Igreja. Assim Orígenes interpretou a parábola.
Entre os comentaristas do século 19, era comum identificar os pormenores da
parábola. Na parábola das dez virgens, a lâmpada acesa representava as boas obras; e o
óleo, a fé daquele que crê. Outros viram o óleo como uma representação simbólica do
Espírito Santo.
Ainda assim, nem todos os intérpretes das parábolas tomaram o caminho da
alegoria. Por ocasião da Reforma, Martinho Lutero tentou mudar a maneira de
interpretar as Escrituras. Ele preferiu um método de exegese bíblica que levava em
consideração a localização histórica e a estrutura gramatical da parábola.
João Calvino foi ainda mais direto. Ele evitou totalmente as interpretações
alegóricas das parábolas e procurou estabelecer o ponto principal de seu ensinamento.
Quando ele constatava o significado de uma parábola, não se preocupava com os seus
pormenores. Em sua opinião, os detalhes não tinham nada a ver com aquilo que Jesus
pretendia ensinar por intermédio da parábola.
Durante a segunda metade do século 19, C. E. van Koetsveld, um
estudioso alemão, deu novo impulso ao modo de abordar o assunto, iniciado
pelos Reformadores. Ele mostrou que as extravagantes interpretações alegóricas
das parábolas, feitas por numerosos comentaristas, obscureciam mais do que
esclareciam o ensino de Jesus. Para interpretar uma parábola apropriadamente, o
intérprete precisa apreender seu significado básico e distinguir o que é, ou não,
essencial. Van Koetsveld foi seguido, em sua maneira de abordar as parábolas,
pelo teólogo alemão A. Jülicher, que observou que, embora o termo parábola seja
usado freqüentemente pelos evangelistas, a palavra alegoria jamais é encontrada
nos relatos dos Evangelhos.
No final do século passado, as amarras que atavam a exegese das
parábolas foram cortadas e uma nova era de pesquisa teve início. Enquanto
Jülicher via Jesus como um professor de princípios morais, C. H. Dodd o
considerou uma pessoa histórica, dinâmica, que, com seus ensinamentos,
provocou um período de crise. Disse Dodd: “A tarefa de um intérprete de
parábolas é descobrir, se puder, a aplicação da parábola na situação pretendida
pelos evangelhos. Jesus ensinava que o reino de Deus, o Filho do homem, o juízo
e as bem-aventuranças passavam a fazer parte da história daquela época. Para
Jesus, de acordo com Dodd, o reino significava o governo de Deus exemplificado
em seu próprio ministério. Portanto, as parábolas ensinadas por Jesus devem ser
entendidas como diretamente relacionadas à efetiva situação do governo de Deus
na terra.
J. Jeremias continuou o trabalho de Dodd. Ele, também, desejou
descobrir os ensinamentos das parábolas que remetem de volta ao próprio Jesus.
Jeremias se dispôs a traçar o desenvolvimento histórico das parábolas, o que
acreditava ocorrer em dois estágios. O primeiro diz respeito à situação real do
ministerio de Jesus e o segundo e uma reflexão sobre o modo como as parábolas
eram colocadas em prática pela Igreja Cristã Primitiva. A tarefa a que Jeremias se
propôs era a de recuperar a forma original das parábolas para ouvi-las na própria
voz de Jesus. Com o seu profundo conhecimento da terra, da cultura, dos
costumes, do povo e da língua de Israel, Jeremias foi capaz de reunir uma
quantidade de informações que fazem de sua obra: um dos livros de maior
prestígio à respeito das parábolas.
Apesar disso, uma questão se apresenta pode a forma original ser separada do
contexto histórico sem sucumbir a um acúmulo, de adivinhações? Por outro lado, o
texto das parabolas pode ser tomado e aceito como uma representação real do ensino
de Jesus. Isto é, o texto bíblico que o evangelista nos entregou reflete o contexto
histórico no qual as parábolas foram originalmente, narradas. Dependemos do texto
que recebemos e agimos acertadamente quando deixamos as parábolas e seu
assentamento histórico intactos. Isso pede confiança — que os evangelistas, ao
registrarem as parábolas, tenham compreendido a intenção de Jesus ao ensiná-las nas
circunstâncias por eles descritas . Na ocasião em que as parabolas foram registradas,
testemunhas e ministros da Palavra transmitiram a tradição oral das palavras e feitos
de Jesus (Lc 1.1,2). Por causa do elo com as testemunhas, podemos crer que o contexto
no qual as parábolas estão inseridas se refere ao tempo, lugares e circunstâncias nas
quais Jesus, originalmente, as ensinou.
Mais recentemente, representantes de nova corrente da hermenêutica têm, de
maneira crescente, deslocado as parábolas de seu assentamento histórico para uma
ênfase literária claramente baseada numa estrutura existencial. Quer dizer, esses
estudiosos tratam as parábolas como literatura existencial, as removem de suas
amarras históricas e substituem sua significação original por uma mensagem
contemporânea. Negam que o sentido da parábola tem sua origem na vida e ministério
de Jesus; não estão interessados em suas fontes e bases, mas, antes, em sua forma
literária e sua interpretação existencial. Para eles, a estrutura literária da parábola é
importante porque leva o homem moderno a um momento de decisão: tem de aceitar
ou rejeitar o desafio colocado diante dele.
Aceitamos prontamente a idéia de que as parábolas chamam o homem à ação;
na aplicação da parábola do bom samaritano, ao intérprete da lei que o questionou,
Jesus disse: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10.37). Entretanto, o existencialista, em
sua interpretação da parábola, enfatiza o modo imperativo e menospreza o modo
indicativo no qual a parábola foi contada. Ele separa as palavras de Jesus de sua
disposição cultural e, assim, as despoja do poder e autoridade que Jesus lhes deu.
Além do mais, ao tratar as parábolas como estruturas literárias separadas de
seu assentamento original, o existencialista precisa estabelecer para elas uma nova
base. Assim, ele coloca as parábolas num contexto contemporâneo. Mas, esse método
dificilmente pode ser chamado de exegético, pois sugere no texto bíblico uma filosofia
existencial. Isso é eisegese (dar ao texto um sentido diferente), não exegese.
Infelizmente, o cristão comum, que procura orientação para o entendimento das
parábolas com os representantes da nova escola hermenêutica, precisa, primeiro,
buscar conhecer a filosofia existencial, a teologia neoliberal e o jargão literário do
estruturalismo, para que possa se beneficiar com seus pontos de vista.
1.5 – Princípios
Interpretar parábolas não exige um treinamento completo em teologia e
filosofia, mas implica que o intérprete se atenha a alguns princípios básicos de
interpretação. Esses princípios, em resumo, estão relacionados à história, à gramática e
à teologia do texto bíblico. Sempre que possível, o intérprete deve fazer um estudo da
conjuntura histórica da parábola, incluindo uma análise pormenorizada das
circunstâncias religiosas, sociais, políticas e geográficas reveladas nela. A disposição,
da parábola do bom samaritano, por exemplo, exige certa familiaridade com a
instrução do clero daqueles dias. O intérprete da lei, procurando Jesus e perguntando-
lhe o que fazer para herdara vida eterna, deu início à conversação que levou à história
do bom samaritano.
Em relação à parábola do bom samaritano, o intérprete deveria se familiarizar
com a origem, a classe social e a religião dos samaritanos, com as funções, ofício e
residência do sacerdote levita; com a topografia da área entre Jerusalém e Jericó; e com
o conceito judaico de boa vizinhança. Observando o contexto histórico da parábola, o
intérprete apreende a razão por que Jesus contou essa história e compreende a lição
que Jesus procurou transmitir através da parábola.
A seguir, o intérprete deve atentar para a estrutura literária e gramatical da
parábola. Os modos e tempos de verbos empregados pelo evangelista em relação à
parábola são muito significativos e lançam luz sobre o principal ensinamento da
história. As palavras estudadas em seu contexto bíblico, assim como em escritos
extracanônicos são parte essencial do processo de interpretação de uma parábola.
Deste modo, o estudo da palavra próximo no contexto do comando “Ama o teu próximo
como a ti mesmo”, como foi dado no Antigo e Novo Testamentos, resulta num exercício
gratificante. O intérprete precisa, também, levar em consideração a introdução e a
conclusão de uma parábola, pois podem conter um artifício literário como uma questão
de retórica,uma exortação ou uma ordem. A parábola do bom samaritano é concluída
com o comando direto: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10.37). O intérprete da lei,
que tinha perguntado a Jesus a respeito do que fazer para herdar a vida eterna, não
teve como deixar de se envolver no cumprimento da ordem de amar a seu próximo
como a si mesmo. As introduções, e especialmente as conclusões contêm as diretrizes
que ajudam o intérprete a encontrar os pontos principais das parábolas.
E mais ainda, o ponto principal de uma parábola deve ser comparado
teologicamente com os ensinamentos de Jesus e com o restante das Escrituras. Quando
o ensino básico de uma parábola foi completamente explorado e esta corretamente
entendido, a unidade das Escrituras se manifestará e o sentido apropriado da
passagem poderá ser visto em toda a sua simplicidade e limpidez.
Por último, mas não menos importante, o intérprete da parábola deve traduzir
seu significado em termos apropriados às necessidades de hoje. Sua tarefa é aplicar o
ensinamento central da parábola à situação de vida da pessoa que está ouvindo sua
interpretação. Na parábola do bom samaritano, a ordem para amar o próximo se torna
cheia de significado quando a pessoa que foi roubada e ferida na estrada de Jericó não
é mais uma figura de um passado distante. Ao contrário, o próximo que clama pelo
nosso amor é o sem-teto, carente e oprimido. Ele vem ao nosso encontro na estrada de
Jericó das páginas diárias dos jornais e do noticiário colorido da televisão.
1.6 – Classificação
As parábolas de Jesus podem ser agrupadas e classificadas de várias formas. As
do semeador, da semente germinando secretamente, do trigo e do joio, da figueira
estéril, e a da figueira brotando são, todas, parábolas naturais.
Várias parábolas de Jesus dizem respeito ao trabalho e ao salário. Algumas
delas são a respeito dos trabalhadores da vinha, do arrendatário e do administrador
infiel.
O tema de outras são as bodas e festas ou ocasiões solenes. Essas incluem a
parábola das crianças brincando na praça, a das dez virgens, a da grande ceia e a do
banquete das bodas.
Outras, ainda, têm como motivo geral o achado e o perdido. Essas incluem as
parábolas da ovelha perdida, da moeda perdida e a do filho perdido.
Não é fácil, contudo, classificar uma parábola. A parábola da rede é uma
parábola natural, ou deve ser agrupada com as que falam de trabalho e salário?
Onde colocar a parábola do bom samaritano? Fica claro que a classificação das
parábolas pode ser, de certo modo, arbitrária, e, em alguns casos, forçada.
Os Evangelhos Sinóticos apresentam parábolas com correspondentes em dois
ou mesmo três dos evangelhos, e também parábolas específicas de um único
evangelista. Enquanto Marcos tem apenas uma parábola peculiar a seu evangelho (a da
semente crescendo secretamente), Mateus e Lucas têm várias. O mais correto é
obedecer a seqüência dos evangelhos, discutindo primeiro as de Mateus, com a
exclusiva de Marcos estudada entre a parábola do semeador e a do trigo e o joio, e,
então, as apresentadas no Evangelho de Lucas.
2. Introdução
A parábola do administrador infiel e a do rico e Lázaro têm algumas coisas em
comum. Primeiro, um ponto óbvio: as frases introdutórias das duas parábolas são
idênticas: “Havia certo homem rico”. Segundo, o ensino da parábola do administrador
infiel é a advertência para que não ajuntemos tesouros na terra, e, sim, nos céus. Este é,
também, um dos temas da parábola do rico e Lázaro. E, terceiro, nas duas parábolas
encontramos o chamado para o arrependimento, antes que seja tarde demais. Elas
desafiam o ouvinte a voltar ao ensinamento da lei de Deus a respeito do uso das
riquezas, ao exercício da honestidade e do respeito, e à prática da misericórdia e do
amor.
A parábola do rico e Lázaro pode ser vista como um drama em dois atos, seguidos de
uma conclusão. A primeira cena apresenta a vida e a morte na terra; a segunda retrata o
céu e o inferno. A conclusão é dada na forma de uma aplicação implícita.
3. Aqui e Agora
Jesus contou a história sugestiva de um rico e um pobre. O rico se vestia de
púrpura, ornamento de reis, suas roupas eram de linho finíssimo, vindo do Egito. Dia
após dia, ele gastava seu tempo em banquetes porque não tinha nada para fazer.
Passava sua vida em festas. Apesar de toda a sua riqueza, o nome do homem não é
conhecido. Tudo que sabemos é que tinha cinco irmãos que, como ele mesmo,
mostravam habitual menosprezo pela Palavra de Deus revelada.
A segunda pessoa apresentada na história se achava no extremo oposto do
espectro econômico. Vivia em pobreza abjeta. Não podia nem mesmo andar. Seus
amigos tinham de carregá-lo e apoiá-lo junto ao portão da mansão do rico. Por causa
da falta de cuidados médicos e de higiene pessoal, ele sofria de uma doença da pele e
possuí ao corpo coberto de feridas. Seu corpo tinha definhado, a fome era sua
companheira constante e seu olhar ansioso se voltava para as sobras de comida que
tinham sido varridas do chão da sala de jantar e reunidas para serem dadas aos cães e
aos mendigos que esperavam la fora Esse miserável ser humano so tinha a companhia
dos cães que vinham lamber-lhe as feridas Embora tenha passado pela vida como se
fosse ninguem. Seu nome era Lázaro, forma abreviada de Eleazar, que significa “Deus
ajuda”.
Os dois homens eram judeus, mas o rico ignorava a ordem de Deus para cuidar
de seu compatriota abatido pela pobreza O rico não podia ser total mente ignorante
das Escrituras, pois os mestres da lei diligentemente instruiam o povo acerca dos
preceitos divinos Alem disso, conhecia Lázaro e até mesmo sabia seu nome. O pobre
homem, que nunca se queixava, nem nunca se dirigia ao rico, confiava em Deus, que o
ajudava.
A morte veio e pôs fim ao sofrimento de Lázaro. Seu corpo, que não era mais
que pele e osso, foi rapidamente removido. Porque não havia ninguém para mostrar ou
receber simpatia, seu funeral não foi, ao menos, mencionado. Mas, Lázaro não estava
sozinho na hora de sua morte. Os anjos de Deus vieram e o levaram para um lugar de
honra nos céus. Estava assentado junto de Abraão, onde podia desfrutar do banquete
Messiânico.
O rico morreu, também. Sua vida de comodidade, luxo, conforto, prazer e
pompa, subitamente terminou. Talvez tenha sofrido um ataque cardíaco. Seu funeral
foi bem cuidado. Seus cinco irmãos fizeram todos os arranjos necessários. Tocadores de
flauta e carpideiras vieram, e todos os seus amigos compareceram. O morto vivera com
pompa; foi enterrado com pompa. Mas, todos aqueles que vieram pranteá-lo, não
podiam ver além do túmulo. Continuavam a pensar nele como um homem rico, agora
morto. Enquanto Lázaro foi levado pelos anjos para o seio de Abraão, o rico, despojado
de seus bens terrenos, foi para o inferno.
4. Então e Além
Tudo mudou no momento da morte. Lázaro recebeu um lugar da mais elevada
honra, junto do pai dos crentes. Os anjos o tinham levado para junto de Abraão, onde
gozava da companhia dos filhos de Deus. O rico, que na terra vivia cercado de amigos,
não era mais considerado rico no inferno. Despojado de toda a sua riqueza, estava só.
Do outro lado do túmulo, Lázaro mantinha silêncio em relação ao rico, embora,
compreensivelmente, conversasse com Abraão. Foi Abraão quem respondeu aos
pedidos do homem rico. Não foi Lázaro, e, sim, Abraão quem o instruiu sobre as
realidades dos destinos eternos. O rico estava em tormentos, enquanto Lázaro gozava o
prazer da companhia de Abraão. No sofrimento do inferno estavam incluídas a sede
extrema e a agonia do fogo.
O rico, no tormento do inferno, viu Abraão a distância e Lázaro junto dele.
Reconheceu Abraão, o pai dos crentes. Sendo judeu, ele o conhecia como pai. Esperava
que sua raça fosse levada em conta, embora fosse muito mais física que espiritualmente
filho de Abraão. Mesmo no inferno, parecia não compreender que sua completa
indiferença às ordens de Deus na terra tinha posto fim a qualquer apelo de herança
espiritual. Durante sua vida, ele mesmo rompera os laços espirituais com Abraão,
ignorando as necessidades de seu próximo. Em vez de amar o próximo como a si
mesmo, vivera não para este, nem para Deus, senão para si mesmo. Buscara sempre a
satisfação própria. Agora, no inferno, estava entregue a si mesmo.
O rico não se encontrava no inferno porque tinha vivido de modo perverso, na
terra. Seus muitos parentes e amigos podiam testemunhar que tinha sido cidadão
proeminente e que dera provas de ser anfitrião muito generoso, quando recebia seus
convidados. Podiam falar dele com palavras calorosas de elogio e reconhecimento.
Entretanto, o rico não merecia os tormentos do inferno por causa do que tinha feito na
terra, mas, antes, pelo que deixara de fazer. Havia negligenciado o amor a Deus e ao
próximo. Menosprezara Deus e sua Palavra.
Mesmo no inferno, o rico continuava impenitente. Não pediu misericórdia a
Deus, mas a Abraão. Chamou Abraão de pai, e esperava que o patriarca tivesse pena
de um de seus descendentes. Instruiu Abraão a como mostrar misericórdia e enviar
alívio: “Manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua”. Pôs de
lado os preconceitos. Aceitaria prontamente ser servido por um antigo mendigo, se
pudesse. Ainda assim, seu tom de voz deixava implícito que considerava Lázaro como
um servo que devia ser enviado a seu pedido, com a aprovação de Abraão. Na terra, o
rico nunca tinha ajudado Lázaro; no inferno, entretanto, mostrava necessidade de
ajuda. Reconheceu Lázaro, mas não se dirigiu a ele, diretamente. Queria que Abraão o
enviasse, como um servo humilde que respondesse prontamente às ordens de um rico.
Em certo sentido, agia como se ainda estivesse na terra.
Enquanto Lázaro gozava dos prazeres celestiais, provavelmente no cenário de
um riacho corrente, o rico sofria a agonia ardente do fogo do inferno. Ele implorou por
água para refrescar sua língua, e viu que Lázaro poderia alcançá-la.
Abraão se dirigiu ao rico como “filho”, aceitando o parentesco físico. Mesmo
esse parentesco não devia trazer alívio ao homem, por duas razões: (1) a lei da
retribuição, e (2) o caráter irrevogável do veredicto de Deus.
Primeiro, a lei da retribuição estipulava que a vida terrena de um homem, em
palavras e atos, permanecia em relação direta com seu destino na vida futura. O rico
escolhera uma vida de coisas boas na terra; no inferno sofria agonia. Lázaro, ao
contrário, passara a vida na miséria, mas, depois, gozava do conforto dos céus.
Segundo, o irrevogável julgamento de Deus estava confirmado pelo abismo
intransferível existente entre o céu e o inferno. Ninguém poderia ir do céu para o
inferno e vice-versa. Deus pronunciara seu julgamento sem possibilidade de apelo. O
destino fora selado no momento da morte.
Lázaro foi para o céu, e o rico para o inferno. Entre os dois lugares, Deus
colocou um grande abismo para tornar impossível a passagem de uma situação para
outra.
O rico compreendeu que sua situação era permanente. Seu próprio quinhão foi
fixado, mas o de seus cinco irmãos, na terra, não estava, Poderiam mudar a maneira de
viver e, assim, evitar passar a eternidade no inferno. Mais uma vez, ele chamou Abraão
de “pai”, e outra vez queria usar Lázaro como servo. Implorou a Abraão que enviasse
Lázaro à casa de seus pais para avisar seus irmãos, a fim de que não viessem para o
lugar de tormento no qual se encontrava. Estava ciente do grande abismo colocado
entre o céu e o inferno, mas pensava que alguém poderia, prontamente, ir do céu para
a terra. Pensava que Abraão tinha autoridade para enviar Lázaro. De algum modo,
compreendia que ele mesmo não poderia deixar o inferno para voltar a terra, Tinha de
ficar onde estava.
Durante sua vida na terra, assim como durante a conversa do rico com Abraão,
Lázaro permaneceu em silêncio. Nem uma palavra saiu de seus lábios sobre a audácia
do rico de dizer a Abraão o que fazer. O rico se dirigiu a Abraão, que lhe respondeu.
Abraão se recusou a permitir que um sinal dos céus fosse enviado aos cinco
irmãos do homem rico. Não permitiu nada que vislumbrasse o oculto. A revelação de
Deus fora dada e era suficiente para a salvação. Abraão disse ao rico que seus parentes
tinham acesso aos cinco livros de Moisés, e aos livros dos profetas. Isto é, tinham as
Escrituras do Antigo Testamento. “Ouçam-nos.”
O rico sabia que seu pai e seus irmãos não levavam a sério as
Escrituras. Seus cinco irmãos solteiros viviam ainda na casa do pai (o número
cinco é arbitrário) e viviam uma vida semelhante à que ele levara na terra. Não
eram as riquezas que eles desfrutavam que o preocupavam, e, sim, o seu
menosprezo para com as Escrituras. Chamou Abraão de “pai” pela terceira vez,
assegurando-lhe que seu pai e seus irmãos se arrependeriam se alguém de entre
os mortos ressuscitasse e fosse ter com. eles. Não pediu mais que Lázaro fosse
enviado. Qualquer um poderia fazê-lo.
Abraão respondeu que ninguém ressuscitado de entre os mortos seria capaz de
lhes falar a respeito da revelação de Deus mais claramente do que podiam achar nas
Escrituras. Se um homem rejeita a Palavra de Deus escrita, não se arrependerá nem
será persuadido por alguém que ressuscite. O rei Saul viu Samuel trazido pela médium
de En-Dor, e, ainda assim, não se arrependeu (1 Sm 28.7-25). Os fariseus viram Lázaro,
irmão de Maria e Marta, sair do túmulo. Não se arrependeram, antes, procuraram
matá-lo (Jo 12.10).
O fato de o nome Lázaro, na parábola, ser o mesmo do ressuscitado em Betânia,
surpreende. Leva-nos a perguntar até que ponto pode isto ser mera coincidência. No
entanto, porque não sabemos a circunstância histórica precisa na qual a parábola foi
contada, a tentativa de ligá-la ao relato da ressurreição de Lázaro, em Betânia, embora
bem intencionada, dificilmente convence. Por outro lado, a ressurreição de Lázaro e a
ressurreição de Jesus demonstram indubitavelmente que aqueles que se recusam a
aceitar o testemunho da revelação de Deus “tampouco se deixarão persuadir, ainda que
ressuscite alguém dentre os mortos”.
4. Aplicação
Não há, na parábola do rico e Lázaro, introdução nem conclusão específica. A
parábola pode ter sido contada em qualquer ocasião do ministério terreno de Jesus.
Mas, porque Lucas a registrou em seguida à do administrador infiel, e porque ele
revela a reação dos fariseus ao ensino de Jesus: “Não podeis servir a Deus e às riquezas”
(Lc 16.13), podemos deduzir que os fariseus estavam presentes quando Jesus contou a
parábola do rico e Lázaro. Os fariseus eram, provavelmente, os que ouviam a parábola.
O contexto imediato mostra que, porque amavam o dinheiro, ridicularizavam Jesus (Lc
16.14). Também porque se justificavam a si mesmos diante dos homens, como Jesus
afirmou (Lc 16.15). Deus, no entanto, conhecia seus corações Jesus via a contradição
que havia em suas vidas e contou a história de um homem que amava o dinheiro, vivia
no luxo, e pensava que o fato de ser descendente de Abraão lhe garantiria a salvação.
O conteúdo da parábola esta ligado ao comentário dirigido aos fariseus a respeito de
vícios como o amor ao dinheiro e a autojustificação.
No contexto mais amplo da série de parábolas registradas por Lucas, várias
questões se impõem “O que o rico e Lázaro representam?” e “Por que Jesus não contou
a historia de um rico coletor de impostos e um pobre mestre da lei”. Os fariseus
olhavam os publicanos como “pecadores’ que corriam o risco de perderem o direito de
ser chamados filhos de Abraão e de pertencer ao povo da aliança de Deus Na parábola,
no entanto, Jesus retrata dois homens um rico e o outro pobre. O rico viveu uma vida
respeitável, chamava Abraão de pai, e foi viver a eternidade no inferno. O pobre
jamais abriu a boca na terra ou no céu, embora ocupasse lugar de honra junto ao pai
Abraão.
Os fariseus foram capazes de se reconhecer no homem rico. Reagiram
veementemente contra a afirmação de Jesus de que não poderiam servir a Deus e às
riquezas. Ridicularizando Jesus, ostensivamente revelaram que eram aqueles que
amavam o dinheiro. Eram, também, os únicos que prontamente chamavam Abraão de
pai e pensavam que seu parentesco com o patriarca lhes assegurava o futuro. Três
vezes o rico chamou Abraão de pai. Mas, Abraão. embora aceitando a descendência
física, chamando-o de “filho”, na primeira vez, deixou claro, nas respostas
subseqüentes, que um parentesco físico era insuficiente. Portanto, os fariseus não
podiam contar com o fato de serem da linhagem de Abraão para terem garantido um
lugar no céu.
Além disso, os fariseus eram os que ensinavam a lei da retribuição, em relação à
vida futura. Essa doutrina, simplesmente, não é compatível com o ensino de Jesus. É
estranha a ele. Mas Jesus pôs a doutrina dos fariseus na boca de Abraão: “Filho, lembra-
te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente os males; agora, porém, aqui,
ele está consolado; tu, em tormentos”. Jesus aplicou a lei da retribuição aos fariseus, que
ouviram sua própria teologia dos lábios de Abraão. Eles tinham criado um grande
abismo entre eles próprios e os proscritos moral e socialmente. Esses banidos da
sociedade viviam em completa pobreza religiosa e econômica. Ninguém da
comunidade judaica lhes fornecia alimento espiritual; estavam condenados a morrer de
fome. Se alguém, alguma vez, questionasse a atitude dos fariseus em relação a esses
marginalizados, ouviria como resposta que eles tinham Moisés e os profetas, que
ouvissem a lei e se arrependessem. Os fariseus ouviam suas próprias palavras distinta
e diretamente de Abraão. Estavam retratados pelo rico, no inferno, e Lázaro
representava os marginalizados.
Os fariseus, mais que uma vez, haviam pedido a Jesus que lhes desse um sinal
dos céus. Pediam isso com o propósito de testá-lo. Provavelmente não teriam
acreditado nele, mesmo que lhes apresentasse um sinal sobrenatural. Agora, esses
mesmos fariseus ouviam o rico da parábola pedir a Abraão um sinal dos céus. Abraão
recusou. Ele disse: “Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir,
ainda que ressuscite alguém dentre os mortos”. No pedido do rico, os fariseus ouviram o
eco de suas próprias palavras. A parábola era endereçada a eles.
5. Conclusão
A lição ensinada por Jesus é atemporal; é a regra permanente de como ouvir,
obediente e agradecido, a Palavra de Deus. As Escrituras nos ensinam a amar o Senhor
nosso Deus de todo o nosso coração, nossa alma e nossa mente, e ao próximo como a
nós mesmos. Este amor tem de ser materialmente expresso na cuidadosa entrega de
nossos dons ao Senhor e àqueles que, próximos a nós, estão em dificuldade (Sl 112.9; 2
Co 9.7). Este amor, também, deve-se mostrar espiritualmente; primeiro, pelo
crescimento na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jésus Cristo (2 Pe
3.18); e, segundo, ensinando nosso próximo a conhecer o Senhor (Jr 31.34; 1—Hb 8.11).
Os ricos são realmente ricos quando repartem suas bênçãos materiais e
espirituais com os necessitados. Na verdade, são terrivelmente pobres se guardam,
para si mesmos, essas bênçãos. Qualquer que ajunte egoisticamente riquezas materiais
acaba sofrendo bancarrota espiritual. Do mesmo modo, qualquer igreja que deixa de
evangelizar, morre espiritualmente.
Os cristãos das sociedades abastadas não podem deixar de ver e ouvir as
necessidades dos pobres na Africa, Asia e América Latina. Pelas notícias da mídia,
encontram os necessitados junto à sua porta. Esses são os que sofrem de fome física e
espiritual, que anseiam pela comida que cai da mesa do rico.
Em nenhum lugar as Escrituras ensinam que é pecado ser rico. Repetidamente,
no entanto, elas advertem o povo de Deus que riquezas podem ser cilada e tentação
que “afogam os homens na ruína e perdição” (1 Tm 6.9):
Quando o homem coloca Deus e seu próximo necessitado em um plano secun-
dário, e trata as Escrituras com desprezo intencional, sua resposta responsável ao
chamado para o arrependimento pode não acontecer jamais.
Na parábola, soa uma nota de urgência para o homem que sábia e
obedientemente atenta para a Palavra de Deus. Ela o chama ao arre pendimento e à fé;
diz-lhe que ele está vivendo no período da graça; instrui-o a deixar de lado a
autojustificação; e o lembra que o destino do homem é irrevogaveirnente selado no
momento da morte. Resumindo, a parábola reitera as palavras do salmista: “Hoje se
ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração” (Sl 95.7,8).
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D,
D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
A Parábola dos
Lavradores Maus
1.5 - Estude a parábola em seu contexto histórico para determinar por que foi contada.
Todas as parábolas foram primeiro contadas a uma determinada
audiência numa ocasião específica. Por exemplo, a história do Bom Samaritano foi
ocasionada pela queixa de certo advogado a Jesus, que era difícil amar seu próximo
quando não podia imaginar quem ele era (Lucas 10:25-30), e as três maravilhosas
parábolas sobre as coisas perdidas em Lucas 15 foram uma resposta aos ataques feitos
contra Jesus pela "má companhia" que ele estava mantendo (versículos 1-2). Às vezes
esta informação de pano de fundo está faltando e o significado de uma determinada
parábola precisa ser buscado na informação mais ampla dos Evangelhos, mas, quando
presentes, as circunstâncias nas quais uma parábola foi contada nos dão uma indicação
mais certa quanto ao propósito do Senhor para sua história. O contexto precisa sempre
governar o texto.
1.8 - Não tente estabelecer uma posição doutrinária somente por uma parábola.
Há muito que é esclarecido para nós pelas parábolas de Jesus, mas
precisam sempre ser entendidas à luz dos ensinamentos claros da Escritura, nunca em
contradição com ela. Estas ilustrações são mais destinadas a serem janelas do que
pedras de fundação. Elas não declaram tanto uma doutrina quanto ilustram uma faceta
significativa dela.
1.9 - Finalmente, e mais importante, procure sempre uma aplicação pessoal de cada
parábola.
Depois de ter determinado a lição, ou as lições corretas da parábola
sendo estudada, a pergunta mais importante é: "Encontrei a mim mesmo nesta
parábola?" "Quais mudanças em minha vida e meus pensamentos esta parábola exige
de mim?" Não há nada tão trágico como um estudo dos ensinamentos de Jesus que não
é conduzido por mais do que uma curiosidade intelectual, a menos que seja o estudo
de algum pregador que sente a necessidade "profissional" de pregar um sermão a
outros sem um único pensamento de fazer qualquer aplicação a si mesmo. É
imperativo, em nosso estudo das parábolas, que cada um continuamente pergunte,
"Senhor, o que há aqui para mim?" Deste modo somente encontraremos os ouvidos de
ouvir para os quais nosso Senhor apelou quando pela primeira vez ele ensinou por
parábolas (Marcos 4:9, 23).
2. Exegese
2.1 - Lavradores
Gewrgov = georgos
17 ocorrências no Novo Testamento
1) um agricultor, lavrador do solo, dono de vinha
2.2 - Vinha
ampelwn = ampelon
21 ocorrências no Novo Testamento
1) vinhedo, vinha
3. Os Lavradores da Vinha
De acordo com Mateus, Marcos e Lucas, Jesus contou a parábola dos lavradores
maus durante a última semana de sua vida na terra. Entre o relato dos três evangelistas
pode haver variações em pequenos detalhes, mas todos transmitem, com fidelidade, o
ensino de Jesus. O Evangelho de Tomé, apócrifo, também apresenta a parábola. A
história deve ser fiel ao fato e reproduz a história eclesiástica de. Israel. As pessoas que
cercavam Jesus entenderam a história, porque responderam à parábola, dizendo:
“Tal ,não aconteça!” (Lc 20.16). Além disso, os fariseus, os principais sacerdotes e os
mestres da lei sabiam que essa parábola era dirigida a eles.
3.1 - A História
Um dono de terras tinha um terreno e decidiu transformá-lo num vinhedo.
Depois de ter plantado os tenros brotos da uva, ele os protegeu dos animais selvagens,
tais como as raposas e os javalis (Ct 2.15; Sl 80.13) plantando uma sebe ao redor da
vinha. Também equipou a vinha com um lagar e uma torre. A torre era usada durante
a colheita na vigilância contra os ladrões, e podia, também, servir de morada ao
lavrador.
O projeto todo era uma aventura financeira para o fazendeiro. Ele plantou novas
videiras num solo ainda não testado. Arrendou a vinha a lavradores, mas teria de
esperar durante quatro anos até que as videiras começassem a produzir. Durante esse
período, ele teria de sustentar os lavradores, comprar adubo e suprimentos para a
vinha, e esperar que o quinto ano lhe trouxesse algum lucro. Um novo vinhedo não era,
portanto, um empreendimento que trouxesse retomo financeiro imediato; era, antes,
uma promessa de resultados permanentes que beneficiariam sucessivas gerações.
O fazendeiro saiu para viajar durante um longo período. Na sua ausência, os
lavradores cultivariam a vinha, podariam os galhos e cuidariam da plantação de
vegetais entre as videiras durante os primeiros anos. Os arrendatários trabalhavam
como meeiros e tinham direito a uma parte do que fosse produzido. O lucro restante
pertencia ao proprietário. Os lavradores tinham feito um contrato com o dono da terra
para cultivar a vinha. Durante os quatro primeiros anos seriam sustentados pelo
proprietário. Passados esses anos de trabalho árduo, a vinha poderia se tornar uma
fonte de lucros para o dono.
Quando se aproximou a época da colheita, no quinto ano, o fazendeiro
enviou seu servo para receber o lucro da vinha. Os contatos entre o proprietário e
os arrendatários devem ter sido mínimos, durante os primeiros quatro anos. Essa
falta de aproximação pode ter resultado em alienação e mesmo em atitudes
hostis da parte dos lavradores, como descreve a parábola. A razão exata da
amarga animosidade não é exposta, mas fica evidente no relato. O servo foi
agarrado, espancado e mandado de volta a seu senhor. Voltou com as marcas
físicas de um corpo ferido. O fato serviu ao proprietário como mensagem de que
os arrendatários não tinham a intenção de pagar o lucro exigido, proveniente da
colheita das uvas. Eles queriam guardar, para si mesmos, o lucro total, talvez
como recompensa pelos anos de labuta e cuidado dispensados à vinha, antes que
viesse a colheita. Ao mandarem o servo de volta, espancado, e de mãos vazias,
os arrendatários não deixaram dúvidas quanto à sua intenção de reter o total do
lucro da safra.
Porque o fruto da vinha tinha de ser vendido, o lucro exigido
pelo fazendeiro poderia ser pago em épocas variadas, durante o ano. O
proprietário, portanto, mandou um outro servo aos seus arrendatários, com o
mesmo pedido. Ele, sem dúvida, se referiu ao contrato assinado entre os
arrendatários e o proprietário, que expunha claramente os termos. Mas eles o
receberam do mesmo modo como tinham recebido seu predecessor. Bateram-lhe
na cabeça, insultaram-o e, também, o enviaram de volta com as mãos vazias (Lc
20.11). Uma vez mais se mostraram abertamente desafiadores: não queriam
partilhar com ninguém o lucro obtido na colheita.
O proprietário mostrou elogiável tolerância. Ele não opôs força à
força, nem declarou nulo ou cancelado o contrato, como tinham feito os
arrendatários. Depois de algum tempo, talvez na safra seguinte, o proprietário
enviou um terceiro servo. Outra vez, os lavradores se recusaram a ceder ao pedido
do proprietário; foram violentos, ferindo (Lc 20.12 ou matando o servo [Mc 12.5]).
Mas, enquanto o dono continuava enviando os servos, os arrendatários, ferindo-os
e matando-os, tomavam conhecido o fato de que a vinha permanecia em suas
mãos. Eles a tinham feito produtiva; portanto, argumentavam, tinham direito ao
que fosse produzido pela vinha e, mesmo, à própria vinha.
O proprietário entendeu que os arrendatários estavam agindo
como donos legítimos da propriedade que era sua. Como último recurso ele
enviou seu filho, dizendo a si mesmo que os lavradores reconheceriam sua
autoridade, quando se confrontasse com seu filho. “A meu filho respeitarão”, disse.
Os simples servos não impunham o mesmo respeito que seria devido a um filho
que tosse enviado. Enviaria seu unico filho, o herdeiro da vinha
Os arrendatários, no entanto, não estavam dispostos a abrir mão
da vinha. Quando viram o filho se aproximando, devem ter pensado que o dono
tinha morrido e que seu filho havia tomado seu lugar. Se esse fosse o caso, pouco
restaria no caminho da posse total da vinha, se o filho fosse afastado. Os
arrendatários, então, poderiam proclamar que tinham cuidado da vinha
fielmente, que não haviam pago aluguel algum durante vários anos, e que o
legítimo proprietário das terras havia morrido. No tempo legal, os lavradores
estariam habilitados à posse exclusiva da propriedade. Os juízes locais mui
provavelmente favoreceriam os lavradores e dariam como legal a operação.
Os arrendatários decidiram matar o herdeiro e tomar para si a herança. Eles o
receberam na vinha, mas, depois, para não macular a vinha com sangue, eles o
mataram fora. Eles o abandonaram ali, presumindo que os servos que o
acompanhavam cuidariam do enterro.
A paciência do dono das terras se esgotou. Os arrendatários tinham cometido um erro
desastroso ao matar seu filho. Medidas foram tomadas para arrancá-los da terra e levá-
los à justiça, e o proprietário, reclamando plena posse da propriedade, escolheu outros
lavradores para tomar conta da vinha. Esses eram servos que lhe dariam a parte
estipulada da colheita, no tempo devido.
3.2 – O Significado
A história contada por Jesus foi prontamente aceita pelos que o ouviam. Ela
retratava a situação real de um fazendeiro que, ausente de tempos em tempos, enviava
um servo para recolher a parte justa do lucro anual da vinha. Os que o ouviam
conheciam as circunstâncias descritas por Jesus na parábola. Podiam imaginar o final
da história e dar sugestões de como se executaria a justiça.
Jesus se dirigia aos principais sacerdotes, fariseus e mestres da lei. Eles devem
ter reconhecido, rapidamente, a citação da profecia de lsaías:
“Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha.
O meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo.Sachou-a, limpou-a das
pedras e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um
lagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas”. (Isaías 5.1,2).
O povo judeu sabia esse cântico de cor; eles o haviam aprendido
no culto da sinagoga onde era cantado de tempos em tempos. Sabiam, também, o
seu final:
“Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os
homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que exercessem juízo, e eis
aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor” (Isaías 5.7).
Os líderes religiosos, especialmente, sabiam que a parábola se
aplicava a eles. Sabiam que Jesus estava se referindo aos profetas que Deus
enviara a Israel. Alguns desses profetas foram mortos por causa da mensagem
que traziam. Um deles, Zacarias, foi assassinado no pátio do templo, entre o
santuário e o altar (2 Cr 24.20,21; Mt 23.35). Com habilidade, Jesus ensinou a seus
ouvintes o significado dessas passagens tão conhecidas do Antigo Testamento.
Quando Jesus falou a respeito do filho do dono da vinha que, tendo sido enviado
à vinha, foi assassinado pelos arrendatários, falou, profeticamente, de sua própria
morte iminente.
Jesus perguntou aos que o ouviam: “Quando, pois, vier o senhor da
vinha, que fará àqueles lavradores?” Ele usou palavras que trazem à memória
aquelas do Cântico da Vinha (Is 5.4,5). Suas palavras eram dirigidas aos líderes do
povo. Eles tinham rejeitado a mensagem de João Batista, e tinham questionado a
autoridade de Jesus, a ponto de o desafiarem abertamente. Ná verdade, rejeitaram
o último mensageiro dë Deus.
A resposta à pergunta de Jesus foi que um castigo imediato
deveria ser aplicado aos lavradores assassinos. Deveriam ser mortos e a vinha
arrendada a outros.
Falando diretamente à multidão, Jesus fez referência ao Salmo 118, uma
passagem das Escrituras bastante conhecida por todos aqueles fiéis que tinham vindo a
Jerusalém, na época da Páscoa. Esse salmo seria entoado num dia determinado,
durante a festa. Participavam do coral dos cânticos, os sacerdotes, os peregrinos e os
prosélitos que cantavam as palavras do salmo diante dos portões do templo. Um coro
de peregrinos cantava a parte do salmo que fala da pedra rejeitada pelos construtores,
mas que se tomou a principal pedra, a pedra angular (Sl 118.22-25). Referindo-se a esse
salmo familiar, e especialmente aos versículos a respeito da pedra rejeitada, Jesus
perguntou aos ouvintes se nunca tinham lido nas Escrituras:
3.3 - Teologia
A parábola, como registrada pelos evangelistas, tem um foco
cristológico definido. O assassinato do filho traz a inevitável transferência do
arrendamento para outros lavradores, e a rejeição da pedra resulta em sua
maravilhosa exaltação. A parábola ensina, portanto, as imagens paralelas
darejeição do filho e da rejeição da pedra. Ambas representam o Filho de Deus.
Ao mencionar dois grupos separados de servos enviados pelo dono de terras
para receber sua parte no produto da vinha, Mateus, aparentemente, faz alusão às
duas divisões de profetas os antigos e os últimos profetas. Ele não adianta qualquer
—
3.4 - Aplicação
A parábola se aplicava, de maneira óbvia, aos principais sacerdotes, aos
fariseus, escribas e anciãos do povo. Eles eram descritos como maus lavradores e como
construtores preconceituosos. Eles se rebelaram contra o dono da vinha, mataram seu
filho e rejeitaram a pedra principal, angular. Escolheram a inimizade contra Deus e seu
Filho. Foram esmagadoramente derrotados e tiveram morte inesperada.
Qual é o propósito da parábola? Jesus ensina que, aparentemente, a paciência
infinita de Deus se estende a todos os que se opõem a ele, mas que, quando essa
paciência se esgota, na rejeição de seu Filho, o castigo imediato de Deus se segue com
toda a certeza.
A passagem proclama uma mensagem de certeza e confiança àqueles que
fielmente seguem a Jesus. Mesmo que a igreja possa experimentar tempos de
adversidade, Jesus Cristo é o Rei eterno cuja vitória é certa. Nas palavras de uma
confissão do século 16:
Esta igreia existe desde o princípio do mundo e permanecerá até ao fim. Isso
emana do fato de que Cristo é o Rei eterno, do que se conclui que ele não pode deixar de
ter súditos. E esta santaigreja é protegida por Deus do furor do mundo todo. Nunca será
destruída mesmo que, às vezes, possa afigurar-se pequenina e possa mesmo parecer que
se apaga.
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D,
D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
Coleção: Parábolas - Nº 06
A Parábola dos
Talentos
(B) mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.
1.6.1 - Imanência
1.6.2 - Eschaton
Outra realidade apresentada pelos ensinos parabólicos de
Jesus é o eschaton – a realidade e aproximação do fim.
Nestes ensinos o Reino dos Céus é demonstrado não apenas
como uma realidade presente, mas também futura. A completa
salvação dos justos, a devida condenação futura dos ímpios,
a manifestação do Reino sempiterno de Deus, são
demonstrados em diversas ilustrações parabólicas. Por meio
dessas parábolas as coisas visíveis e temporais refletem as
invisíveis e eternas. Visto que o futuro ou porvir é
desconhecido e inimaginável, somente alguém que conhece
perfeitamente o fim das coisas é capaz de compará-lo às
coisas visíveis e temporais do dia-a-dia. A terrível
doutrina do julgamento dos ímpios é tratada na figura de um
pescador que separa os peixes bons dos maus (Mt 13.47s). O
futuro glorioso das nações no final da Grande Tribulação é
demonstrado na apresentação de um pastor que separa os
bodes das ovelhas (Mt 25.31s).
3. Os Talentos
A parábola dos talentos ensina que os servos do Senhor devem ser fiéis,
administrando pronta e eficientemente o que lhes foi confiado, até ao dia do
ajuste de contas. Como se espera que as noivas aguardem a chegada do noivo,
assim também é desejado que os servos aguardem a volta de seu senhor.
Embora a parábola das virgens não mencione nada a respeito de algum tra-
balho feito durante sua vigília noturna, a parábola dos talentos ensina que os
servos devem se ocupar durante a ausência de seu senhor. As duas parábolas
mostram que tanto as mulheres como os homens devem estar alerta enquanto
esperam a volta do Senhor.
De acordo com Mateus, Jesus dirigiu-se aos seus discípulos, ao falar sobre o
final dos tempos (Capítulo 24), e prosseguiu com algumas parábolas relacio.
nadas à sua volta. Tudo isso aconteceu dois ou três dias antes da celebração da
Páscoa (Mt 26.2). Por sua vez, Lucas registra no capítulo 19.12-27, que Jesus
ensinou a parábola das dez minas depois de ter deixado Jericó, e ao se
aproximar de Jerusalém, pouco antes ou no próprio domingo de ramos. Essa
parábola se assemelha à dos talentos, embora as duas não sejam idênticas. Mas
com base na estrutura e no assentamento histórico dado a elas pelos
evangelistas, além da própria finalidade das parábolas, cremos que Jesus as
ensinou em duas diferentes ocasiões.
A parábola dos talentos é a mais longa registrada no Evangelho de Mateus.
Relata de maneira pormenorizada a conversa entre o senhor e seus servos. A
conclusão, um tanto longa, liga-a às outras parábolas.
3.3 - Um Servo
Quando o terceiro servo se apresentou para prestar contas, a cena mudou.
Em vez de devolver o dinheiro que lhe fora confiado, como tinham feito os dois
primeiros, o servo começou a fazer um pequeno discurso. Não louvou o senhor
pela generosidade demonstrada. Antes, descreveu seu senhor como um homem
rigoroso, que ceifava onde não havia semeado, e que recolhia onde não havia
espalhado a semente. Porque teve medo de arriscar, tinha cavado um buraco na
terra e enterrado ali o dinheiro. Parecia dizer a seu senhor: “Porque o senhor teve
tão pouca confiança em mim, entregando-me apenas um talento? O que eu poderia
realmente fazer com ele, levando-se em conta que, se tivesse algum lucro, eu pouco veria
dele? Por desforra, decidi nada fazer com o dinheiro”.
Seu discurso foi caracterizado pela contradição. Ele falhou não entendendo a
bondade do senhor, mas vendo-o segundo sua própria natureza invejosa e
egoísta. Ele, se sentiu diminuído, embora afirmasse que temera fazer qualquer
investimento com o dinheiro. Ele não usou o talento de modo lucrativo, mas
parecia esperar palavras elogiosas por apenas tê-lo guardado em segurança.
Queria que entendessem que não perdera nada do dinheiro de seu senhor.
Explicitamente, disse que o talento pertencia ao seu senhor. Ele o conservara em
segurança.
Por que o servo não guardou o dinheiro no banco, onde renderia juros?
Provavelmente não confiava nos banqueiros inescrupulosos que podiam alterar
ou invalidar o combinado. Talvez, o servo estivesse motivado por um desejo de
vingança contra o senhor e, por isso, tivesse decidido não depositar o dinheiro
num banco. Embora o investimento envolvesse algum risco, ele sabia que o
senhor, ao voltar, poderia recuperar o talento, com lucro. Ao enterrar o talento
privaria o senhor dos juros acumulados. Assim, quando seu senhor voltasse, o
servo poderia devolver-lhe o único talento.
3.4 - O Senhor
Quando o senhor entregou a soma de oito talentos aos seus três servos, ele
mesmo se tomou dependente da honestidade e da lealdade dos servos.
Se eles perdessem o dinheiro em transações comerciais, seria um homem
arruinado. Compreensivelmerite, pareceu bastante satisfeito quando o primeiro
e o segundo servos mostraram haver dobrado a quantia confiada a eles. Ele os
louvou pela diligência e os recompensou generosamente.
A chegada do terceiro servo com o único talento deixou claro ao senhor que
ele havia julgado mal o caráter de seu servo, que tinha se equivocado ao
depositar confiança nele, e que em vez de recompensá-lo tinha de puni-lo.
A resposta do senhor à fraca desculpa do servo para sua indolência foi o
oposto da sua resposta aos outros dois servos. Primeiro, palavras de louvor não
podiam ser pronunciadas. Segundo, o senhor chamou o servo de mau e
negligente. Terceiro, criticou-o pela preguiça e falta de lealdade. E quarto,
mandou que retirassem o servo de sua presença, para sempre.
O servo foi julgado por suas próprias palavras. Sabia que seu senhor
esperava que seus servos se esforçassem ao máximo. De fato, o senhor era um
homem que queria colher onde não havia semeado e que agarrava a
oportunidade quando esta se apresentava. Por estas atitudes, se tornou um
homem duro aos olhos do servo indolente.
“Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez”, disse o senhor. Mesmo tendo
afirmado explicitamente que o talento pertencia ao senhor, o que o servo
preguiçoso disse pôs fim à relação senhor-servo. A sociedade com os outros
dois servos continuou, enquanto o terceiro sabia que não era mais um dos
sócios. Agora era olhado como um devedor que tinha de pagar juros sobre o
dinheiro que tivera nas mãos. Se tivesse entregado o dinheiro aos banqueiros, o
senhor o teria exigido com juros. O senhor, então, voltando-se para o servo,
procurou recuperar o que, de direito, lhe pertencia, isto é, os lucros esperados.
“Ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.” Assim, todas as propriedades do
servo lhe foram tomadas. O servo era inútil para o seu senhor. Foi lançado fora,
nas trevas (de acordo com as palavras familiares de Jesus), onde “haverá choro e
ranger de dentes”.
3.5 – O Significado
A parábola dos talentos se insere no conjunto de ensinamentos de Jesus a
respeito de sua volta. As damas de honra esperavam o noivo; os servos que
receberam dinheiro de seu amo, trabalharam. A parábola ensina que, durante a
ausência de Jesus, espera-se que seus seguidores trabalhem diligentemente com
os dons a eles confiados, pois serão considerados responsáveis por eles, na
ocasião de sua volta. Por causa de pronunciamentos tais como, “entra no gozo do
teu senhor” e “o servo inútil lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de
dentes”, Jesus deixa entender que estas não são apenas as palavras do senhor.
São suas próprias palavras referindo-se ao dia do juízo.
Quando os discípulos primeiro ouviram a parábola, podem ter pensado que
ela se aplicasse não a eles, mas aos seus contemporâneos. Aos judeus tinha sido
confiada a verdadeira Palavra de Deus, como Paulo afirmou, anos mais tarde.
Eles podiam ver o paralelo do relacionamento do senhor com seus servos e de
Deus com Israel. Deus dera ao povo judeu a sua Palavra e esperava que eles
tomassem sua revelação conhecida em todos os lugares. Mas, nos dias de Jesus,
um judeu piedoso podia observar a Lei de Deus em seus pormenores e, ainda
assim, negligenciar ao repartir as riquezas da revelação, de Deus. Os discípulos
de Jesus talvez tenham visto os fariseus defensores da lei e os mestres da lei
personificados no servo que enterrou o único talento que seu mestre lhe havia
dado. Aos líderes religiosos de Israel tinha sido confiado um depósito sagrado:
muitos deles falharam, no entanto, deixando de usá-lo de modo apropriado.
Eles se sentiam satisfeitos de poder devolvê-lo a Deus, dizendo: “Temos
guardado a Lei”. Guardaram para si mesmos o depósito. Fazendo isso falharam,
pois não o colocaram para render. Mas Deus, que lhes dera a guarda sagrada de
sua revelação, um dia os chamaria para o ajuste de contas.
A parábola dos talentos foi primeiramente dirigida aos discípulos de Jesus.
Eles eram os únicos a quem o evangelho tinha sido confiado, a eles fora dito
que pregassem o arrependimento e o perdão, em nome de Cristo, a todas as
nações, começando por Jerusalém (Lc 24.47). Mas, o ensinamento da parabola
não se limitava aos discipulos. O autor da Epistola aos Hebreus advertiu
explicitamente os cristãos de seus dias, ao perguntar: “como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb 2.3). E, atraves dos séculos, a parabola
dos talentos tem falado, e continua a falar, a todos os cristãos. Eles devem ser o
canal por onde a mensagem da Palavra de Deus flui para o mundo que os cerca.
4. Conclusão
O servo a quem foi confiado um unico talento guardou o depósito em
segurança, em um lugar escondido. Temeu investi-lo, pois sabia que seu senhor
exigiria seu talento, ao voltar. O receio, portanto, sobrepujou o amor, a
confiança e a fé. O medo e o oposto da confiança.
O cristão que trabalha com fé colherá imensos dividendos. Ele não se
preocupa consigo mesmo ou com seus próprios interesses, pois o que quer que
tenha pertence ao Senhor, e o que quer que faça o faz pelo Senhor. Nenhum
seguidor de Jesus pode jamais dizer que lhe faltam dons para o serviço,
simplesmente por não ter a estatura de um Paulo, Lutero, Calvino ou Knox. A
parábola ensina que cada um dos servos recebeu dons: “segundo a sua própria
capacidade”. Jesus conhece a capacidade de cada cristão e espera receber frutos.
Como em várias outras parábolas, não devemos realçar e aplicar pormenores
específicos. O que importa é a mensagem central. O ensino básico da parábola
dos talentos é que cada crente é dotado de dons diferentes, quanto a sua habilidade,
e que esses dons devem ser postos a serviço da obra de Deus. No reino de Deus é
esperado que cada um empregue plenamente os dons que recebeu. No reino de
Deus não há lugar para zangões – apenas para as abelhas operárias!
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D, D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008
Coleção: Parábolas - Nº 11
A Parábola dos
Trabalhadores na Vinha
“ Por que o Reino dos céus é semelhante a um dono de casa que
saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha.”
Mateus 20:1
1.8 - Não tente estabelecer uma posição doutrinária somente por uma parábola.
Há muito que é esclarecido para nós pelas parábolas de Jesus, mas precisam
sempre ser entendidas à luz dos ensinamentos claros da Escritura, nunca em
contradição com ela. Estas ilustrações são mais destinadas a serem janelas do que
pedras de fundação. Elas não declaram tanto uma doutrina quanto ilustram uma faceta
significativa dela.
1.9 - Finalmente, e mais importante, procure sempre uma aplicação pessoal de cada parábola.
Depois de ter determinado a lição, ou as lições corretas da parábola sendo
estudada, a pergunta mais importante é: "Encontrei a mim mesmo nesta parábola?"
"Quais mudanças em minha vida e meus pensamentos esta parábola exige de mim?"
Não há nada tão trágico como um estudo dos ensinamentos de Jesus que não é
conduzido por mais do que uma curiosidade intelectual, a menos que seja o estudo de
algum pregador que sente a necessidade "profissional" de pregar um sermão a outros
sem um único pensamento de fazer qualquer aplicação a si mesmo. É imperativo, em
nosso estudo das parábolas, que cada um continuamente pergunte, "Senhor, o que há
aqui para mim?" Deste modo somente encontraremos os ouvidos de ouvir para os
quais nosso Senhor apelou quando pela primeira vez ele ensinou por parábolas
(Marcos 4:9, 23).
2. Exegese
2.1 - Trabalhadores
ergathv = ergates
15 ocorrências no Novo Testamento
1) trabalhador, obreiro
1a) geralmente aquele que trabalha por salário, esp. um trabalhador rural
2) alguém que faz, operário, perpetrador
2.2 - Vinha
ampelwn = ampelon
21 ocorrências no Novo Testamento
1) vinhedo, vinha
3. Os Trabalhadores na Vinha
Conhecida pelo título de “Os trabalhadores na Vinha”, esta história é
uma das parábolas encontradas em Mateus, a respeito do reino. Entretanto,
esta parábola não termina com a mensagem: “Vai, e procede tu de igual modo”, no
reino do céu. Seu enfoque não é a relação de trabalho e economia com o
estabelecimento de um pagamento justo. Antes, as palavras e os atos do
empregador, teologicamente falando, apontam para Deus, que dá aos homens,
livremente, suas dádivas. Na verdade, ecoa na história o verso de um dos
Salmos de Davi: “Oh! Provai, e vede que o SENHOR é bom...” (Si 34.8).
3.3 - Graça
Não há na parábola a intenção de ensinar economia ou
negócios. Ela não existe para ser usada como exemplo de relações
humanas, na área do trabalho e da administração. A lição que a parábola
transmite é a de que a graça vale mais que a justiça imparcial e as práticas
lucrativas de negócio. O empregador da parábola foi à praça, várias vezes,
durante o dia, e viu, atrás de cada trabalhador, uma família necessitando
de sustento. Ele sabia que uma fração de denário não seria suficiente para
as necessidades diárias de uma família. No fim do dia, pagou aos
trabalhadores que contratara no decorrer do dia, não em relação às horas
trabalhadas, mas de acordo com a necessidade de seus dependentes. Ele
era uma pessoa muito generosa.
Quando Jesus ensinou a parábola, estava diante de pessoas
treinadas na doutrina judaica do mérito. Seus contemporâneos
acreditavam que o homem deve acumular a seu crédito numerosas boas
obras, que possam ser convertidas em recompensas, para assim poder
reclamá-las diante de Deus. Essa era a doutrina das obras, no tempo de
Jesus. O povo conhecia a graça de Deus exaltada em salmos e orações.
Contudo, dava ênfase ao meritório valor das obras.
Ao ensinar a parábola, Jesus mostrou que Deus não trata os
homens de acordo com o princípio do mérito, da justiça ou da economia.
Deus não está interessado em lucros. Deus não trata o homem na base do
“toma lá dá cá”, ou “uma boa ação merece recompensa”. A graça de Deus
não pode, simplesmente, ser dividida em quantidades proporcionais ao
mérito acumulado pelo homem. Havia em circulação, na época, uma
moeda chamada pondion, que valia a duodécima parte de um denário. Na
graça de Deus, no entanto, não circulam porcentagens, porque “todos nós
temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo 1.16).
3.4 - Aplicação
Deus é tão bom; Deus é tão bom; Deus é tão bom; Tão bom ele é
para mim.
Esta simples música, cantada em muitas línguas, por todo o
mundo, expressa vividamente o sentido básico da parábola. No reino dos
céus, a bondade de Deus prevalece e se revela àqueles que, somente pela
graça, entraram no reino. O fato do fazendeiro pagar um denário àqueles a
quem dissera que receberiam o que fosse justo e também àqueles a quem
nada fora prometido, foi um ato de pura bondade. Todos os trabalhadores
receberam o mesmo pagamento, que era suficiente para o sustento de suas
famílias. Aqueles trabalhadores, que tinham combinado trabalhar pela
soma de um denário ao dia, tinham de reconhecer que o fazendeiro era um
homem justo, que honrava seus compromissos. Justiça e bondade,
exemplificadas na parábola, são características fundamentais no reino de
Deus.
O contexto da parábola diz respeito à pergunta de Pedro e à
resposta de Jesus. Pedro perguntou o que ele e os discípulos seus
companheiros receberiam por seguirem a Jesus: “Eis que nós tudo deixamos e
te seguimos; que será, pois, de nós?” Jesus respondeu que seus seguidores
receberiam incontáveis bênçãos espirituais:
“Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na
regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos
assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que
tiver deixado casas, ou irmãos ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou mulher], ou filhos, ou
campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida
eterna. Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.” (Mt 1
9.27-3O)
Jesus ilustra o significado da última sentença — “muitos
primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros” — por intermédio da parábola
dos trabalhadores na vinha. Ele conclui a parábola com as mesmas
palavras, embora em ordem inversa: “Os últimos serão primeiros, e os
primeiros serão últimos”.
Dizendo isso, Jesus não tem a intenção de mostrar a Pedro e
aos outros discípulos que a posição do primeiro e do último no reino será
invertida. A parábola usa, antes, a expressão para indicar que, no reino dos
céus, a igualdade é a regra. A recompensa, igual para todos, mesmo que o
trabalho possa variar, transcende a tarefa realizada pelos discípulos, e
conseqüentemente por qualquer um que se disponha a seguir a Jesus. O
dom de Deus é a graça plena. Sua graça é suficiente para todos.
Os discípulos eram os ouvintes de Jesus. Não podemos
afirmar que havia outras pessoas presentes. Os discípulos, desde crianças,
tinham aprendido a doutrina do mérito. Era necessário deixarem de lado
esse ensinamento para que pudessem apreciar inteiramente a bondade de
Deus e para que pudessem entender que seu próprio lugar no reino era um
dom da graça. Mais que isso: no decorrer do tempo, receberiam, na igreja,
com agrado, os gentios. Pedro, por exemplo, seria enviado à casa de
Cornélio, o centurião romano, para pregar o evangelho, batizar os que
criam, e para louvar a Deus por ter concedido, também aos gentios, “o
arrependimento para vida” (At 11.18). Os gentios receberiam a mesma dádiva
que Deus havia dado aos judeus que acreditaram em Jesus. Paulo chama
isto de mistério, e conclui que “os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo
corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef
3.6).
Quem, então, são os murmuradores? Embora a parábola
não deva ser interpretada alegoricamente, a questão referente aos
murmuradores é válida. Eles podem ser comparados ao irmão mais velho
da parábola do filho pródigo. Juntos, refletem a atitude de alguns fariseus
que, por causa de seu zelo na observação da lei de Deus, contavam ter um
lugar privilegiado no reino de Deus. Os fariseus esperavam que Deus os
recompensasse por suas obras e se recusasse a abençoar os pecadores
indignos. Jesus mosfrou-lhes (presumindo-se que estivessem ali) por
intermédio da parábola, que Deus é um Deus de justiça que honra sua
Palavra, mas que oferece, também, suas misericórdias aos que não as
merecem, mas que, apesar disso, são vasos de sua graça.
A parábola ensina que quando o homem chega diante de
Deus, ele não recebe uma porção cuidadosamente calculada da graça
divina. Deus, antes, lhe concede livremente as dádivas do perdão, da
reconciliação, da paz, da alegria, da felicidade e da segurança. “Segundo a
suá riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus...” (Fp 4.19) todas as suas
necessidades. O cristão deve se alegrar com os que se convertem e passam
a fazer parte da igreja de Jesus Cristo. Não deve haver ceticismo. Mas, a
história ensina que esse ceticismo tem existido repetidamente. Quando
George Whitefield e John Charles Wésley levaram o evangelho às classes
menos favorecidas da sociedade do século 18, foram criticados e
provocaram a ira dos cristãos convencionais. William Booth, que teve
compaixão dos moradores dos bairros pobres de Londres e que deu a eles
“sopa, sabão e salvação”, foi condenado pelos presunçosos membros da igreja
de sua époça.
Esta parábola nunca será aceita por aqueles que querem
impor à salvação regras e condições feitas pelos homens. No reino dos
céus, como as Escrituras ensinam, não existe a burocracia humana. A graça
de Deus é plena e livre para todo aquele que venha a ele pela fé. E todos os
que são vasos de sua graça proclamam com o salmista:
Compilação: Pr. Prof. Hilmar Sathler Emmerich Eller Kaiser – Th.D, Ph.D, D.D
Lajinha-MG, em Julho de 2008