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  15 de maio de 2017  Comentários 9  Leandro Quadros  7145 Visualizações

O Dom de Línguas em 1ª Coríntios 14 – Verso por Verso


Antes de tecermos os comentários verso a verso para estudar o dom de línguas em 1 Coríntios 14, vale lembrar que na primeira
carta aos coríntios o objetivo de Paulo é advertir a problemática igreja de Corinto, que vinha se dividindo e absorvendo diversos
costumes pagãos como: divisões e contendas (1:10,11) espírito mundano (3:3) imoralidade sexual e prostituição (5:1 6:16, 7:2),
idolatria e, obviamente, culto aos demônios (10:14,20,21), glutonaria e egoísmo (11:21,22,33,34), ignorância e confusão quanto
aos dons espirituais (incluindo o dom de línguas) 12:1,2,7,31.

O leitor perceberá claramente que tal igreja estava se alienando de maneira absurda e, por isso, perceberá a vital importância
entender o contexto em que esta carta foi escrita para que possa também compreender o que Paulo quis ensinar sobre o dom
de línguas.

A seguir, comentarei verso por verso do capítulo 14 de 1 Coríntios. Não deixe de comentar e dar suas impressões sobre o que foi
escrito.

1. Segui o amor; e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar.

A comunhão estava em declínio, a comunidade estava demasiadamente desequilibrada… e havia sim manifestações espirituais
duvidosas. Por isso, Paulo dá preferência ao profetizar. Afinal, isso envolveria necessariamente em conhecer as Escrituras e
estudar as profecias, ou seja, ter como base a Palavra já revelada, pois nenhuma revelação (por sonho ou visão) poderia
desqualificar algo já ensinado outrora por Deus nas Escrituras. Deus não se contradiz. O dom de profecia aliado ao
conhecimento bíblico tornaria possível identificar vários falsos profetas que viessem a surgir no meio deles.

2. Porque o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios.

Ao se referir de pronto ao “Porque o que fala em língua…” percebemos que o tema que gerava confusão na igreja de Corinto era
o dom de línguas. Paulo quis organizar a casa e enfatizar como o dom deveria ser ministrado adequadamente.

Há algumas interpretações viáveis para esse verso, entre elas:

a) O dom de línguas aqui é o mesmo dado no dia de pentecostes (At 2), ou seja, um dom de idiomas. Sendo assim, Paulo
estava dizendo que, uma pessoa estrangeira que participava do culto em Corinto e que conhecia apenas um idioma, não
compreenderia a mensagem caso alguém usasse o dom de línguas (idiomas) para falar um idioma totalmente diferente do
dela. Desse modo, quando a pessoa exercesse seu dom espiritual na adoração público sem que o ouvinte pudesse
compreender o idioma falado, ela estaria “falando mistérios” para quem tentasse entender. Afinal, qualquer coisa dita num
idioma que não é o nosso soa como “mistério”. Desse modo, o dom só seria compreendido por Deus e a fala que falasse.
Imagine alguns brasileiros que falam apenas a língua portuguesa assistindo a uma reunião de russos.

b) Outra interpretação viável é a apresentada, por exemplo, por Vanderlei Dorneles em sua obra Cristãos em Busca de
Êxtase. Entre outras coisas, o teólogo explica que Paulo não apoia o que ocorria em Corinto e nem mesmo está definindo o
que é o dom ali usado. Desse modo, Paulo estaria dizendo que a maneira como os Coríntios praticavam o dom era errada,
falando de coisas ininteligíveis e “misteriosas”, como se estivessem falando apenas a Deus e “edificando” a si mesmos de
maneira egoísta. O apóstolo queria resgatar o propósito missionário e evangelístico do dom.[1]

c) Por sua vez, o teólogo Samuel Bacchiocchi em sua obra Popular Beliefs: Are They Biblical? crê que 1 Coríntios 14:2 poderia
estar realmente tratando de um “dom” de línguas extáticas, porém, desaprovando-o: ele estaria corrigindo essa influência
pagã que levou alguns Coríntios a distorcerem o verdadeiro dom de línguas.[2]

3. Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação.

Considerando apenas a primeira das interpretações listadas acima, na congregação aquele que ministrava a Palavra, dirigia o
culto e pregava à comunidade normalmente era alguém da própria comunidade e que falava o idioma da maioria dos membros
residentes naquela cidade. Portanto, uma vez que a cidade de Corinto era uma cidade polo e também portuária, tinha que
ministrar cultos com a participação de estrangeiros. Com isso, pessoas que falavam outros idiomas deveriam atender à maioria,
sem desprivilegiar os visitantes.

4. O que fala em língua edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja.

Não podemos ignorar que o tom do apóstolo ao tratar das línguas no culto é de crítica, jamais incentivo. Ele faz questão de
mostrar quão egoísta é fazer algo para si apenas, sem pensar nos outros. Podemos entender isso como um exibicionismo
cultural. Por isso, Paulo aconselha que haja intérpretes – e com ressalvas: dois ou três. Além disso, Paulo privilegia o profetizar,
pois isso envolvia revelar os desígnios de Deus de maneira inteligível, ministrando às pessoas a Palavra de Deus.

5. Ora, quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis, pois quem profetiza é maior do que aquele que fala
em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação.

Ao Paulo falar que gostaria que todos falassem em línguas, fica nítido o que desejava: que todos pregassem o evangelho e
alcançassem todas as nações em seus idiomas, pois esta era a real finalidade, propósito e utilidade do dom de línguas (conf.
Verso 21 onde ele cita a profecia de Isaías 28:14 em conformidade com Atos 2:4 a 11). Agora, ao contrastar o dom de língua
com o de profetizar, ele (Paulo) está dizendo que o que profetiza ministra a palavra de modo a atingir a maioria presente no
culto, diferentemente daquele que está falando a língua de um determinado grupo apenas. Por este motivo ele ressalta que se a
pessoa também interpreta a língua estrangeira, ou há alguém que a interprete é algo válido, pois edifica a maioria presente na
reunião religiosa. A manifestação é dada para o que é útil (1 Coríntios 12:7). No caso das línguas, a pregação do evangelho. Se
não fosse assim, o dom não teria utilidade.

6. E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, de que vos aproveitarei, se vos não falar ou por meio de revelação, ou
de ciência, ou de profecia, ou de doutrina?

Neste verso segue sua crítica à igreja de Corinto, deixando claro que não há proveito falar em línguas se isto não for para edificar
a maioria das pessoas no culto. Paulo falava cerca de 14 línguas diferentes. Portanto, era um poliglota e sabia pregar
fluentemente em outras línguas. Porém, deixa claro que seria um exibicionismo de sua parte fazer isso. A preferência no culto
deveria ser o ensino de forma compreensível e racional por meio da ciência e da profecia, bem como através dos princípios
doutrinários exarados na Palavra de Deus. Aliás, em Romanos 12.1 Paulo afirma que Deus deseja um culto racional que,
obviamente, está intimamente relacionado à adoração “em espírito e em verdade” proposta por Jesus Cristo (Jo 4:23,24).

7. Ora, até as coisas inanimadas, que emitem som, seja flauta, seja cítara, se não formarem sons distintos, como se conhecerá o
que se toca na flauta ou na cítara?

Até um instrumento musical seja de sopro ou corda, deve emitir sua sonoridade por meio de notas musicais nítidas, para que se
possa saber a letra ou qual canção está sendo tocada. O mesmo deve ocorrer com o dom de línguas! Esse é o argumento de
Paulo.

8. Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha?

Um soldado reconhecia uma ordem pelo som da trombeta, ou seja, as notas que se emitiam a partir do instrumento. Até hoje
isto é claro para os militares num quartel. Do mesmo modo, só fazendo uso do dom de línguas corretamente, as pessoas
poderão ser edificadas.

9. Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque
estareis como que falando ao ar.

Todos com a voz humana devem se pronunciar/comunicar de maneira INTELIGÍVEL. Nosso ensino deve ser claro, compreensível
e deve poder ser ouvido nitidamente. Do contrário, nossas palavras serão improdutivas, como se estivéssemos falando “ao ar”,
não para pessoas.

10. Há, por exemplo, tantas espécies de vozes no mundo, e nenhuma delas sem significação.

Mais uma vez Paulo deixa claro que está defendendo o uso de um “dom de idiomas” dado pelo Espírito Santo, ou seja, línguas
nativas de diversos locais do mundo, e com significado idiomático compreensível entre os que falam.

11. Se, pois, eu não souber o sentido da voz, serei estrangeiro para aquele que fala, e o que fala será estrangeiro para mim.

Se eu ignorar o idioma da pessoa a quem quero me comunicar, infelizmente não me comunicarei – e vice-versa.

12. Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja.

Fica claro que havia certa euforia na busca pelo dom de línguas, a ponto de Paulo corrigir algo que não estava correto com o tipo
de manifestação do dom naquela igreja. Ou seja: haviam em Corinto manifestações verdadeiras e falsas.

13. Por isso, o que fala em língua, ore para que a possa interpretar.

Havia o que falava outra língua pelo poder do Espírito Santo e havia o que falava outra língua, mas não pelo poder de Deus. Daí
entendemos o porquê de Paulo dar esta ordem “ore para que a possa interpretar”. Isso significa que se um indivíduo estivesse
manifestando o dom, mas ninguém presente conseguisse interpretar – nem ele mesmo (depois de orar a Deus), ficava claro que
aquilo não era um idioma ou língua conhecida. Portanto, deveria calar-se conforme os versos 27 e 28.
14. Porque se eu orar em língua, o meu espírito ora, sim, mas o meu entendimento fica infrutífero.

Este verso revela que os que manifestavam o falso dom queriam se afirmar (e aparecer) usando uma linguagem apenas para
eles mesmos, e que ninguém precisava entender ou interpretar as sílabas ou verbalizações que eram produzidas por. Paulo
educadamente diz que a fala precisa ser usada para edificar os outros. O “espírito” (mente) desta pessoa está transmitindo algo
pelo som, mas algo vazio e sem fruto. Logo, subentende-se que não é o Espírito Santo quem está produzindo.

15. Que fazer, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei
com o entendimento.

Mas uma vez Paulo chama a irmandade que estava tendo estas manifestações a buscarem o Espírito Santo que sempre
privilegia a razão e o entendimento com o dom de línguas. Espiritualidade e razão não são excludentes nas Escrituras.

16. De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o amém sobre a tua ação de graças aquele que ocupa o lugar de
indouto, visto que não sabe o que dizes?

Paulo está argumentando: “como o indouto (que não é doutor), pessoa sem escolaridade ou formação em determinado idioma,
vai dizer “amém” se ele não entende o que você diz?”

17. Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado.

A pessoa pode até estar certa de que está dando uma mensagem abençoada, mas o outro não está se beneficiando em nada
com isso se não lhe for comunicado de modo compreensível.

18. Dou graças a Deus, que falo em línguas mais do que vós todos.

Saulo de Tarso era um poliglota que falava cerca de 14 idiomas. Seu currículo: judeu, membro do sinédrio e educado aos pés de
Gamaliel. Além disso, possuía cidadania romana.

19. Todavia na igreja eu antes quero falar cinco palavras com o meu entendimento, para que possa também instruir os outros, do
que dez mil palavras em língua.

Paulo reconhece que precisava ser simples na igreja em sua comunicação mesmo possuindo grande nível cultural. Mesmo
dominando vários idiomas, preferia instruir os outros com entendimento e não com idiomas incompreensíveis para a maioria.
Isso é uma regra básica da boa comunicação!

20. Irmãos, não sejais meninos no entendimento; na malícia, contudo, sede criancinhas, mas adultos no entendimento.

Paulo exorta para que a ingenuidade e a capacidade de percepção sejam colocadas em seus devidos lugares. Deseja que na
malícia eles sejam meninos, mas, no entendimento, adultos. Até hoje na igreja há essa grande necessidade, pois, muitos
acreditam em tudo o que é sobrenatural como se de origem divina, ignorando a advertência de Jesus em Mateus 7.21-24.

21. Está escrito na lei: Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o
Senhor.

É maravilhoso notarmos neste texto que Paulo sempre faz uso do Velho Testamento para sustentar seus ensinos. Aqui ele cita
Isaías 28:11,12 que prediz o exílio do povo de Deus, “para assinalar que a Palavra de Deus exposta em uma língua estranha ou
não conhecida pela audiência não caracteriza a benção, senão a maldição”.[3]

22. De modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; a profecia, porém, não é sinal para os
incrédulos, mas para os crentes.
Os não crentes, ou seja, os incrédulos no evangelho, ao observarem uma pessoa de outra cultura falando em seu idioma sem
nunca ter estudado para isso, poderá ser melhor convencido por tal sinal e se tornar mais acessível ao evangelho. Já a profecia é
sinal para os que creem. Perceba também que a alegação dos irmãos pentecostais de que o dom de línguas “identifica todos
aqueles são batizados com o Espírito” não se sustenta, pois, o dom é um sinal para os incrédulos, não para os crentes.

23. Se, pois, toda a igreja se reunir num mesmo lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão
porventura que estais loucos?

Mas uma vez percebemos a preocupação de Paulo com a ordem no culto. Se toda a cristandade desta igreja cosmopolita (com
pessoas de diversos lugares), tanto judeus como gentios, ao adorarem no culto começassem a falar de maneira sobrenatural ao
mesmo tempo e no mesmo lugar, viraria confusão e os incrédulos e os sem formação técnica em algum idioma (indoutos) iriam
dizer abertamente que tais crentes era loucos. Como consequência, uma enorme barreira seria criada entre a igreja e os
incrédulos, prejudicando todo trabalho de evangelização – algo que faz parte dos planos de Satanás para atrasar a volta de
Cristo e seu castigo no lago de fogo (Ap 14:11; 20:10; Rm 16:20).

24. Mas, se todos profetizarem, e algum incrédulo ou indouto entrar, por todos é convencido, por todos é julgado

Paulo exaltou o dom de profecia colocando-o em posição de destaque em relação ao dom de línguas exatamente porque o
profeta sempre falava no mesmo idioma que seus ouvintes, de modo que a mensagem era compreendida. Com isso, toda a
igreja era fortalecida e incrédulos convertidos. Para ele, qualquer profecia deveria estar subordinada às Escrituras já dadas
anteriormente, pois Deus jamais se contradiz e um profeta sempre estará subordinado aos profetas bíblicos (v. 32). Daí a
recomendação do apóstolo para não ir além do que Está Escrito (cf. 1Co 4:6). Afinal, Deus não traz confusão aos Seus filhos (v.
33).

25. Os segredos do seu coração se tornam manifestos; e assim, prostrando-se sobre o seu rosto, adorará a Deus, declarando que
Deus está verdadeiramente entre vós.

“Isto podia ocorrer por que a consciência era despertada e os desígnios e motivações reais do coração eram revelados pelo
Espírito Santo. Também podia ser que fatos secretos sobre os estranhos presentes na reunião seriam revelados sob inspiração
do Espírito Santo. Foi a revelação de segredos de sua vida que convenceu a mulher samaritana de que Jesus era um profeta (Jo
4:19, 29)”.[4] Ao presenciar tal fenômeno ele se prostra e adora ao Criador, reconhecendo que Deus está no meio daquela igreja
e, ao mesmo tempo, falando com ele.

26. Que fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem
interpretação. Faça-se tudo para edificação.

Há um momento para cada coisa e deve-se respeitar uma liturgia que precisa, obviamente, incluir a ordem e a decência (conf.
Verso 40)

27. Se alguém falar em língua, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e cada um por sua vez, e haja um que interprete.

Não podemos ignorar que o tom do apóstolo quanto às línguas no culto é de crítica e repreensão, jamais um incentivo. Neste
verso Paulo ordena que haja intérprete, e com limite de no máximo três. Se esta língua fosse uma língua de anjo ou uma
linguagem do Espírito Santo, você acredita que Paulo teria esta ousadia de limitar o Espírito? Deus permitiria Paulo limitar o
Espírito Santo? Mandar em Deus? Jamais. Portanto, a autorização e limitação era para idiomas que deveriam ser traduzidos (ou
interpretados) para a maioria.

28. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus.

Paulo é firme com a questão das línguas. A ordem era clara: se ninguém entende o que está sendo dito e não há interpretação
para o idioma, cale-se.

29. E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem.


Acerca da revelação por sonhos ou visões (cf. Nm 12:6), Paulo também quer a mesma ordem e decência. Além disso, pede para
se fiscalizar: membros peritos nas Escrituras deveriam julgar se as revelações estavam sujeitas e em conformidade com a Bíblia,
uma vez que Deus não se contradiz (v. 32)

30. Mas se a outro, que estiver sentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro.

O culto era interativo e havia a oportunidade de participação, porém, uma pessoa por vez deveria se manifestar. Enquanto um
falasse, os outros deveriam ficar em silêncio. Amigo leitor: sua igreja tem seguido essa e outras orientações do apóstolo Paulo?

31. Porque todos podereis profetizar, cada um por sua vez; para que todos aprendam e todos sejam consolados

Outra vez mais o apóstolo ensina que todos poderiam participar, mas que isso deveria ser feita de maneira organizada, de modo
que todos realmente se beneficiassem com o culto.

32. Pois os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas

“Devia haver pessoas que afirmavam não poder ficar em silêncio quando estavam sob inspiração do Espírito Santo. Paulo rejeita
essa pretensão. Os verdadeiros profetas tinham controle de sua mente e podiam falar ou permanecer em silêncio. A inspiração
não elimina a individualidade e o livre-arbítrio. O agente humano expressa em seu próprio estilo e pensamento as verdades
reveladas a ele”.[5]

33. Porque Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos.

Nada de confusão… um lugar de culto que é confuso, normalmente é um lugar onde ninguém se entende e no qual há muita
agitação e gritaria. Paulo diz que o Espírito Santo se entristece com esse tipo de culto, o que obviamente acarreta desconforto
para os anjos de Deus em permanecerem atuantes nesse tipo de lugar (leia Efésios 4:30,31)

34. As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei.

A questão aqui com as mulheres era uma questão cultural. Paulo, ao contrário do que muitos pensam, não está sendo machista,
mas adotando uma postura estratégica para evangelizar estrangeiros que visitavam a igreja de Corinto e que tinham seus
próprios usos e costumes. Devemos levar em consideração que este texto foi escrito há dois mil anos, e nele estão retratadas
vivências, acontecimentos da cultura daquela época.

Portanto, não poderemos ignorar este fato se quisermos interpretar devidamente o texto. Outro elemento a ser considerado é
que a posição da mulher cristã nos diferentes ambientes da época (greco-romano e judaico), era de subordinação ao homem. A
estrutura família era patriarcal, o que limitava a participação da mulher dentro do seu lar e excluía sua participação social e
pública.

Naquelas culturas, era vergonhoso e falta de decoro a mulher falar em público. Na história ocidental recente, a mulher só teve a
liberdade para votar no Brasil no governo de Getúlio Vargas a partir de 24 de fevereiro de 1932. Agora imagine a consideração
que se tinha pela mulher no primeiro século da nossa era, e ainda em uma cultura oriental.

Não querendo criar uma barreira cultural para a pregação do evangelho, Paulo pede para que as mulheres cristãs para que
evitassem falar em público para não escandalizar tais visitas no culto. O apóstolo sabia que aquelas pessoas eram muito
limitadas e compreendiam a submissão feminina de maneira muito equivocada. Todavia, perceba que em outros contextos,
Paulo apoiava o ministério da mulher (leia Romanos 16), tanto que nos dias dos apóstolos haviam até mesmo profetisas (At
21:8,9).

35. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na
igreja.
Indecoroso significa quebrar o decoro, ou seja, o costume da maioria… O comentário ao verso anterior também explica esse
verso.

36. Porventura foi de vós que partiu a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?

Agora Paulo vai finalizando e em tom de sátira faz perguntas: O conhecimento da vontade divina começa e termina em vocês? É
isso que vocês pensam? E aí, vocês discordam?

37. Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.

Quem se considera profeta entre vocês? Quem entre vocês possui uma capacidade espiritual especial? Se existe essa pessoa,
reconheça agora que o que eu estou dizendo é mandamento do Senhor.

38. Mas, se alguém ignora isto, ele é ignorado.

Se alguém ainda discordar, o jeito será deixar que permaneça em sua ignorância.

39. Portanto, irmãos, procurai com zelo o profetizar, e não proibais o falar em línguas.

Procurem com zelo a revelação profética para poder proclamar com entendimento o evangelho de salvação. Além disso, jamais
proíbam o falar em línguas como dom legítimo do Espírito para comunicar a mensagem de Deus em outros idiomas. Porém,
sigam os critérios já detalhados para evitar exageros, desordem e fanatismo.

40. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem.

Nada será para honra e glória de Deus se não for desta maneira.

Espero que essa breve análise tenha lhe auxiliado a fazer uma análise contextual e mais ampla do dom de línguas em 1 Coríntios
14.

Fique na paz de Cristo.

Veja também este vídeo:

Dom de Línguas em 1 Corintios 14 - Leandro Quad…


 

Prof. Jackson Baia


Grego Bíblico pela Universidade Hebraica de Jerusalém

E-mail: contato@jacksonbaia.com.br

Referências
[1] Vanderlei Dorneles, Cristãos em Busca do Êxtase: Adoração e Espiritualidade no Cenário Atual (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2014), p. 202-203.

[2] Veja Samuel Bacchiocchi em Popular Beliefs: Are They Biblical? (Berrien Springs, Michigan: Biblical Perspectives, 2008), p. 302-
322.

[3] Bíblia de Estudio Andrews (ACES: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2014), p. 1434. Ver 1 Coríntios 14.21.

[4] Francis D. Nichol e Vanderlei Dorneles (eds), Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 6 (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2014), p. 870. Série Logos.

[5] Ibid., p. 872.

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SOBRE O AUTOR
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9 COMENTÁRIOS

José Manuel Sinaportar


SETEMBRO 05, 05:45 RESPOSTA
Seu comentário…Agradeço a Deus por seu esclarecimento a minha dúvida é peço a ele que continue a ti iluminar

Anderson Arruda
JULHO 19, 10:31 RESPOSTA
Este comentário me ajudou muito a entender sobre a língua dos anjos.
Se este capitulo fosse pregado e estudado mais pelas pessoas, creio que não existiria uma igreja pentecostal no mundo!
Deus abençoe!!!
Silvia Garcia
JULHO 12, 13:13 RESPOSTA
Muito boa a didática do Prof. Leandro Quadros… uma bênção para quem procura entender melhor, textos que requererem
mais atenção! Deus abençoe seu ministério!

Marco Barbosa
JULHO 01, 04:42 RESPOSTA
Olá,gosto muito dos comentário do leandro Quadros,são bem alicerçados na palavra.
Deus abençõe a todos, e nos veremos na Eternidade.

Priscila Gomes Silva


JUNHO 05, 21:20 RESPOSTA
Todas as vezes que vejo o protestantismo histórico tentar explicar o poder do Espírito Santo minimizando os
acontecimentos sobrenaturais relacionados a Ele, vejo verdadeiros Franksteins interpretativos. Chega a ser risível. Se
existem pessoas que mentem e atribuem suas mentiras ao Espírito, elas é que tratarão com o próprio Senhor no dia do
juízo. Eu não consigo entender como o protestantismo histórico crê que a lógica da salvação é algo sobrenatural, que foge
à lógica humana, ou seja, a chave de interpretação precisa ser de ordem sobrenatural, crê em milagres, crê nas profecias
do Apocalipse e não consegue crer que o Espírito Santo é poder de Deus real. Que profetiza, cura e ressuscita mortos. A
meu ver, Deus é tão misericordioso que não fulmina nem o crente que mente em nome do Espírito, nem o protestante
histórico que passa a vida toda negando os poderes misteriosos (para usar um termo de Paulo) do Espírito. Deus como
criador cria pela própria palavra, a palavra dEle tem poder, tanto a que está na Bíblia, testamentada, quanto a que se
manifesta por meio da profecia, porque Ele é o mesmo ontem, hoje e será eternamente. Como a profecia em mistério,
que ordena coisas no mundo espiritual, não seria poderosa? Todas as vezes em que o Espírito Santo se manifesta no
Antigo Testamento ele traz profecia, traz a “ordem aos ossos secos”, até Zacarias profetiza pelo Espírito. O Espírito de
Deus manifestado é profético, SEMPRE. Ter o Espírito é ser selado na obediência para frutificar nEle. Manifestar o poder
do Espírito, é se mover no sobrenatural. Essa tradição da sola scriptura, desdenha todo um contexto histórico e se atém à
ordem contida no termo. A mesma falta de cuidado e autoridade atribuída ao tradicionalismo vale para a questão do
batismo infantil: isto é, falta contexto. Falta entender o contexto medieval que forja a necessidade desse tipo de batismo.
Falta um pouco de chave histórica e sabedoria para discernir com mais cuidado algo tão claro, na Bíblia. O Espírito Santo é
tão sensível de um jeito, que não se move em quem não crê no seu poder sobrenatural. Eu creio nesse Espírito, que é o
Espírito de Deus, que converte analfabeto em regiões ermas, por meio de revelação; que dá sonhos a religiosos em
sociedades teocráticas que perseguem cristãos, Espírito que revela e convence da verdade, e que ainda profetiza (sem
acrescentar ao que já está escrito) e fala em línguas que podem ser arcaicas ou simplesmente espirituais.

Ikaro Calixto Sousa


JANEIRO 13, 05:42 RESPOSTA
É fácil se perder em meio ao fascínio do dom de línguas descrito hoje junto as primeiras palavras de Paulo – com algumas
traduções (apesar de não ser a intensão do tradutor) isto se torna mais intensiva. Entretanto se for lido todo o capítulo a
compreensão é bem diferente.

Diego
OUTUBRO 22, 00:01 RESPOSTA
Paz do senhor irmãos, resumindo! Na parte das mulheres dizer que era somente questão cultural, creio que não pq no vs
37 parte B , Paulo diz ( as coisas que vos escrevo são mandamentos do senhor) como as escrituras e toda é divinamente
expirada, como ele mesmo AP. Paulo disse a Timóteo. Se for assim quase toda a palavra não serveria para os dia hoje por
questão cultural, creio que vai ser valido até a volta Cristo e que mulher na igreja não deve exercer ministério superior aos
homens como pastora etc… Os irmos entenderam amém.

Alexander
MAIO 15, 18:17 RESPOSTA
Paz do senhor irmãos.
Acompanho os estudos que o Pastor Leandro quadros posta e concordo pois TDS são a luz da palavra.Mas queria fazer
uma pergunta sobre 1cor 14, porque as traduções não bíblicas não trazem como idiomas ao invés de línguas? Visto que
isso para quem não busca um entendimento mas profundo,acaba que entendo que línguas seria um dom como vemos
que por que se ensinam e não idiomas compreensíveis.Nao seria correto as traduções então trazer com idiomas e não
línguas?

Ldsonline
NOVEMBRO 06, 13:37 RESPOSTA
Não iria mudar tanto as coisas, pois os pentecostais e neopentecostais diriam que estão falando o idioma
dos anjos…rs.

Um ponto importante que muita gente ainda não percebeu sobre o dom o de línguas é o seguinte: pesquisas
científicas já foram feitas e comprovaram que o dom de línguas não passa de vocalização livre e está
diretamente ligado à lingua nativa de que fala. Se fosse uma tal língua dos anjos, então o padrão deveria ser
o mesmo quando um brasileiro, um inglês, um árabe ou um russo orasse em línguas. Na verdade não é. Por
exemplo, no Brasil são usadas síladas comuns ao nosso idioma, e tome “decanta, demanto, shalalala, nébia,
súbia”, etc. Imagine agora como seria um russo orando em línguas, você acha que esse padrão seria
mantido? Claro que não! Ja foram pesquisas no Brasil e na Inglaterra e em ambas ficou comprovado que o tal
dom de línguas não passa de uma vocalização livre baseada na língua materna de quem fala. Ou seja, é algo
parecido com o que os bebês fazem, nada além disso.

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