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PEDAGOGIA DE DEUS

Há algum tempo tenho pensado nesse tema “pedagogia de Deus”. Com certeza isso se deve a
minha formação. Desde que comecei a acompanhar o Evangelho diariamente tenho tentado
compreender o que e como Deus quer nos ensinar. A palavra Pedagogia tem origem na Grécia,
paidós (criança) e agodé (condução). Portanto, pedagogo significa condutor, aquele que ajuda a
conduzir o ensino. A Pedagogia é, portanto, um conjunto de estratégias, métodos e técnicas de
ensino. Interessa-nos saber quais as estratégias de Jesus? Meu olhar começou a se voltar para
essa realidade. Aos poucos fui descobrindo que alguns teólogos, presbíteros e membros do
Clero também se interessaram pelo tema e muitos desses escritos aparecem no corpo dessa
reflexão. Como Deus nos ensina as coisas?
Uma das coisas que mais me intrigou nessa jornada foi perceber que desde o princípio, o
Criador manifestou-Se à criatura, a fim de animá-la a penetrar cada vez mais na vida da graça.
Essa Revelação adquiriu um significado particularmente novo no contexto do pecado original. O
que antes já estava nos planos divinos, isto é, a salvação do homem por meio da comunhão
plena com o Senhor, tornou-se mais profundo, à medida que a criatura precisava agora não
somente da salvação como também da redenção, ou seja, libertação, reabilitação, reparo,
salvação. O Criador tinha um plano inicial, mas precisou muda-lo e mudou – primeiro grande
ensinamento do Senhor para nós, aprendamos com Ele. Nesse processo Deus falou conosco de
diversas maneiras para ensinar-nos a amar. Isso nos permite dizer que a "Revelação não é mais
do que a educação do gênero humano" ao amor.
O Catecismo da Igreja nos explica que Ele se comunica gradualmente com o homem,
preparando-o por etapas. Olhemos para o Antigo Testamento, Deus preparou a humanidade
para receber o Seu Filho, falou-nos pelos profetas, mas nestes últimos tempos ele nos falou por
meio do seu Filho.
E Ele nos ensinou desde o seu nascimento muitas coisas. Através de Santo Afonso de Ligório
compreendemos o nascimento de Jesus como encarnação redentora; ou seja, Jesus vem para
sofrer por nós, e o sofrimento — a marca da cruz — já está no presépio. Ele vem numa gruta,
portanto na pobreza, no frio e no gelo. O Menino divino tremendo de frio, é uma figura de
desamparo onde vemos o Redentor que sofre por nós. O sofrimento marca a sua vida desde o
nascimento até a cruz.
O esvaziamento que veremos na Carta de São Paulo aos Filipenses, onde o autor diz: “embora
fosse de condição divina”, igual a Deus em tudo, Jesus “se esvaziou a si mesmo e assumiu a
forma de servo [de escravo], obediente até a morte, e morte de cruz” não começa na vida adulta
ou pública, a realidade da pobreza, foi vivida desde o início na humildade do presépio. Na
manjedoura, Jesus viveu a pobreza desde o primeiro instante da sua vida neste mundo. Já na
missão, observamos através do Evangelista Mateus (8:20) quando o próprio Jesus diz: “As
raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a
cabeça”. Aprendemos com o Mestre a vida de humildade e desapego aos bens materiais. Jesus
nos ensina que toda experiência de amor tem de ter uma experiência de pobreza, porque quem
ama de verdade deixa os falsos amores para abraçar o amor verdadeiro; e esse deixar os falsos
amores é uma experiência de pobreza, de desapego.

É importante nós sabermos que o mínimo sofrimento de Jesus, redentor e salvador, já teria sido
o suficiente para redimir a humanidade. Os gemidos do pequeno Menino, naquela noite de frio
na manjedoura, já seriam suficientes, já teriam amor suficiente para redimir a humanidade
inteira, e, no entanto, Deus não quis que as coisas cessassem por aí. Deus quis amar os seus e
amá-los até o fim, ou seja, até que transbordasse o cálice do amor sobre todos nós. Mas é
importante nós enxergarmos que aquele amor, que na Cruz brilha como um farol, já está
presente na luminosidade da noite de Natal. Não foram três anos de doação e missão. Foi uma
vida inteira, doada, ofertada, até ao máximo que se pode ir. Ele não se poupa, não desanima,
não perde o foco em toda a sua trajetória.

Ninguém de nós escolheu ser quem é e ter a vida que tem. Mas, Jesus escolheu se fazer
homem. Jesus escolheu viver as nossas penas e as nossas dores. O próprio Cristo o diz no
Evangelho de São João: “Ninguém tira a minha vida; sou eu quem a dou livremente”; portanto,
na Criança divina, desde o ventre de Maria, e durante toda a sua vida, já existe a plena
consciência de que cada respiração, cada palpitar do coração de Cristo foi por amor a nós.

Temos poucos relatos da infância de Jesus. Sabemos através do Evangelista Lucas (2:21-24)
que “Completando-se os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe posto o nome de Jesus,
o qual lhe tinha sido dado pelo anjo antes de ele nascer. Completando-se o tempo da purificação
deles, de acordo com a Lei de Moisés, José e Maria o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao
Senhor (como está escrito na Lei do Senhor: "Todo primogênito do sexo masculino será
consagrado ao Senhor") e para oferecer um sacrifício, de acordo com o que diz a Lei do Senhor:
"duas rolinhas ou dois pombinhos". Esses relatos nos mostram que mesmo sendo o Filho de
Deus e sendo a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Jesus não deixou de cumprir nenhum
dos preceitos da Lei. Não se achava diferente ou superior aos demais.
Nessa trajetória vamos percebendo que a “escola de Jesus” tem uma pedagogia própria, que
não se impõe, mas se apresenta como uma oferta gratuita de aprendizado para quem busca
fazer a experiência com Ele. E que cada passo, cada palavra, cada gesto, cada olhar de Jesus
nos ensina algo. Jesus corrige, vemos um exemplo quando o Mestre corrige a Pedro: (Mt 16,23;
Mc 8,33); e isso às vezes se dá de forma firme ou dura como quando ²³disse a Pedro: “Para trás
de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de
Deus, mas só as que são dos homens”. Em outra passagem Jesus reprova o comportamento do
Tiago e João (Lc 9,55); ⁵⁵dizendo: "Vocês não sabem de que espécie de espírito são, pois o
Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los"; Para muitos pais
que temem corrigir os filhos ou não compreendem a importância disso para a formação deles, é
importante aprender com Jesus.

O mestre sabe que o discípulo precisa de tempo para assimilar. Jesus sabe esperar. Os
discípulos assimilarão certas coisas somente mais tarde (Jo13,7;13,36; 14,20, 14,26, 16,13).
Assim foi com eles e assim também é conosco, com nossos filhos. Respondeu Jesus: "Você não
compreende agora o que estou fazendo a você; mais tarde, porém, entenderá". Ou ³⁶Jesus lhe
respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás. ²⁰Naquele
dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. ²⁶Mas aquele Consolador,
o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará
lembrar de tudo quanto vos tenho dito.

Jesus precede com o exemplo. Aquilo que muitos pensadores contemporâneos pregam sobre a
coerência entre o discurso e a prática já vemos no modo de viver e ensinar de Jesus. Paulo
Freire e a Pedagogia da Esperança é um exemplo disso quando nos adverte: “É preciso diminuir
a distância entre o que se diz e o que se faz”. Há em Jesus coerência entre ensinamento e
comportamento – Jesus vive o que ensina e ensina o que vive. Em um processo educativo, a
pessoa do mestre é muito importante. Jesus tinha autoridade porque servia as pessoas, era
próximo delas e era coerente, ao contrário dos doutores da Lei que se sentiam príncipes. Os
doutores da Lei ensinavam com uma autoridade clericalista, separados das pessoas, não viviam
aquilo que pregavam. Temos aqui uma autoridade real e outra formal. Três características que
diferenciam a autoridade de Jesus da dos doutores da Lei. Enquanto Jesus “ensinava com
humildade” e dizia aos seus discípulos que “o maior seja como aquele que serve: faça-se o
menor”, os fariseus se sentiam os melhores, os maiores: “Jesus servia as pessoas, explicava as
coisas para que as pessoas entendessem bem: estava a serviço das pessoas. Tinha uma atitude
de servo, e isso dava autoridade. A segunda característica da autoridade de Jesus é a
proximidade. Jesus não tinha receio das pessoas: tocar os leprosos, os doentes, não lhe dava
medo, enquanto os fariseus desprezavam “a pobre gente, ignorantes”, gostavam de passear
pelas praças, bem vestidos. Jesus era coerente. A atitude clericalista é hipócrita. Havia como que
uma unidade, uma harmonia entre o que ele pensava, sentia, fazia. Por isso Jesus aconselha
aos seus discípulos: ‘Façam o que eles dizem, mas não o que eles fazem’: diziam uma coisa e
faziam outra. Incoerência. Eram incoerentes. E o adjetivo que muitas vezes Jesus lhes diz é
hipócrita. Essa deve ser uma postura elementar do discípulo/a, que busca segui-lo captando sua
misteriosa coerência de vida, que brota de uma autoridade interior, diferente daquela dos
escribas e fariseus (cf. Mt 23,3-8).

A pedagogia de Jesus se move a partir da gratuidade: A gratuidade significa um gesto


qualificado, traduzido pelo “dar de graça”, sem necessidade de que, o que foi dado, seja pago.
Deus nos ama e pronto! Não precisamos fazer nada para pagar por esse amor. Todavia, quanto
mais nos deixarmos amar por Ele, mais nossa vida vai adquirir Seu modo de agir. Jesus é um
pedagogo que com muita discrição e respeito, reúne todas as condições favoráveis para deixar
Deus fazer sua obra de Evangelho nas pessoas que encontra no seu caminho: “Minha filha, meu
filho, tua fé salvou” (cf. Mc 5,34; Lc 8,48). Esta pedagogia nos auxilia a afastar-nos da arrogância
e da fantasia de nos sentirmos superiores e liberta-nos da angústia de não ter feito nunca o
suficiente. Como disse Jesus: “Que a mão direita não saiba o que faz a esquerda” (cf. Mateus
6,3).

Jesus suscita a coragem humana de “ser”, provocando nas pessoas que estão desanimadas o
desejo e a força de vida. Provoca o desejo de viver! Essa é a fé mais elementar, a mais básica:
acreditar que posso viver! Jesus tem uma pedagogia que promove as pessoas.

Jesus certamente lidou com muitas pessoas difíceis durante Seu tempo aqui na terra. Em suas
interações com pessoas difíceis, Jesus nunca demonstrou uma atitude de superioridade ou
orgulho desdenhoso; antes, Ele mostrou autoridade sob controle. Ele usou repreensão quando
necessário (João 8:47), mas também lidou com pessoas difíceis permanecendo em silêncio
(João 8:6), fazendo perguntas (Marcos 11:28-29), apontando-as para as Escrituras (Marcos
10:2– 3) e contando uma história (Lucas 7:40–42). Ou seja, para cada situação uma estratégia
diferente.

No Sermão da Montanha, Jesus foi bastante específico ao lidar com pessoas difíceis com amor
e humildade: “Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem
aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. Ao que te
bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a
túnica; dá a todo o que te pede; e, se alguém levar o que é teu, não entres em demanda. Como
quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Lucas 6:27–31). Primeiro
Pedro 3:9 diz: “não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo,
pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança.”
Então, quando tivermos que lidar com uma pessoa difícil, devemos nos aproximar da situação
com mansidão. O amor também é fundamental: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”
(Gálatas 5:14). Devemos mostrar o amor de Deus a todos, inclusive a pessoas difíceis.
O livro de Provérbios fornece muita sabedoria ao lidar com pessoas difíceis. Provérbios 12:16
promove a paciência em nossos relacionamentos: “A ira do insensato num instante se conhece,
mas o prudente oculta a afronta.” Provérbios 20:3 elogia a pacificação: “Honroso é para o
homem o desviar-se de contendas, mas todo insensato se mete em rixas.” Provérbios 10:12
encoraja o amor: “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões.”
Provérbios 17:14 valoriza a prevenção e deferência: “Como o abrir-se da represa, assim é o
começo da contenda; desiste, pois, antes que haja rixas.” Se possível, seria melhor totalmente
evitar a situação através da cuidadosa escolha de com quem nos associamos: “Não te associes
com o iracundo, nem andes com o homem colérico” (Provérbios 22:24).
Lidar com pessoas difíceis é inevitável. Quando lidamos com pessoas assim, é fácil responder
de forma carnal. Entretanto, isso só traz o pior de nós. Quanto melhor seria permitir que nossos
tratos com pessoas difíceis demonstrassem o fruto do Espírito em nós (Gálatas 5:22-23)! Pela
graça de Deus, possamos lidar com pessoas difíceis em amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e – para completar – domínio próprio. Além disso,
que nós tenhamos o cuidado de não nos tornarmos as “pessoas difíceis” com as quais os outros
têm que lidar!

Jesus sentou-se várias vezes quando estava acompanhado, para ensinar, para conversar, pois
era o homem do diálogo. (Lc 4, 14-30; Lc 5, 1-11; Mt 5, 1-12; Jo 2, 25) Quando alguém diante de
outros senta-se, ele está nesse simples gesto convidando os outros a sentarem-se também, está
convidando-os ao diálogo. Esforcemo-nos para termos tempo para os outros, para sentarmo-nos
com os outros, sem pressa, como o Cristo que sabia sentar-se para dar atenção ao próximo.
Sem pressa.

A vida toda de Jesus foi uma vida doada por amor (Jo 15,9). No amor se encontra o segredo da
pedagogia de Jesus. Os discípulos compreendem que Jesus quer o seu bem, e são chamados
por amor e educados para o amor. Por fim Jesus pede aos discípulos que se amem, como Ele os
ama (Cf. Jo 13,34;15,12). A pedagogia de Jesus passa muito mais pela questão do diálogo do
que pela imposição de verdades prontas. A experiência com o Mestre nos remete a uma práxis
kenótica. Kénosis é o ato de se esvaziar de si mesmo, sem perder a própria identidade, para se
fazer abertura ao outro e se encontrar no outro. Abre perspectivas para refazermos as relações
em nossos espaços educativos, comunidades, a partir de uma unidade que agrega e cria
comunhão.

Os relatos da paixão podem nos levar a pensar que o ensinamento de Jesus fracassou. Os
discípulos o abandoaram, Judas o traiu, Pedro o renegou. Estes discípulos aprenderam de Jesus
por um tempo que com certeza não foi suficiente para compreenderem tudo o que vivenciaram.
Além disso eles tinham convicções anteriores muito arraigadas.
…“Nós esperávamos que ele fosse salvar Israel …” (cf. Lc 24,21). O relato dos discípulos de
Emaús revela-nos que o conhecimento de Jesus Cristo, a amizade com Ele, a inserção na
comunidade dos seus seguidores(as) e o testemunho de sua ressurreição são progressivos.

Mas, o Ressuscitado permanece como Mestre e pacientemente lhes explica as Escrituras e os


ajuda a chegarem à fé; Os discípulos são lentos, mas chegam à dinâmica da fé: “Não ardia o
nosso coração ….” (cf. Lc 24,32).
– No livro dos Atos dos Apóstolos os discípulos continuam a missão de Jesus – eis a eficácia de
seu ensinamento: o ensinamento de Jesus continua na vida – práxis – de cada discípulo/a.

Santo Afonso Maria de Ligório foi um bispo, escritor e poeta italiano. Fundou a congregação
religiosa dos Padres Redentoristas. Foi um prodigioso escritor. historiador, pregador, poeta e
exímio musicista. Escreveu entre outras obras: “Tu desces das estrelas”. Essa verdadeira obra
prima vai nos ajudar a compreender melhor a Pedagogia de Deus.
“Tu desces das estrelas, Ó, Rei do céu,
e vens numa gruta ao frio e ao gelo!
E vens numa gruta ao frio e ao gelo!
Doce Menino, meu divino, eu te vejo aqui a tremer.
Ó, Deus beato, ó, quanto te custou ter-me amado!”.

É interessante notar que, desde a primeira estrofe, Santo Afonso fala do nascimento de Jesus
como encarnação redentora; ou seja, Jesus vem para sofrer por nós, e o sofrimento — a marca
da cruz — já está no presépio. Vem numa gruta, portanto na pobreza, no frio e no gelo. O
Menino divino está tremendo de frio, e nessa figura de desamparo vemos o Redentor que sofre
por nós.
Ó, quanto te custou ter-me amado!
Tu desces das estrelas, ó, Rei do céu, e vens numa gruta ao frio e ao gelo!
E vens numa gruta ao frio e ao gelo!
Ó, Deus beato, ó, quanto te custou ter-me amado!
Ó, quanto te custou ter-me amado!

Na Carta de São Paulo aos Filipenses vemos “embora fosse de condição divina”, igual a Deus
em tudo, Jesus “se esvaziou a si mesmo e assumiu a forma de servo [de escravo], obediente até
a morte, e morte de cruz”. Esse esvaziamento é visto aqui por Santo Afonso como uma realidade
da pobreza, vivida desde o início na humildade do presépio. Na manjedoura, Jesus viveu a
pobreza desde o primeiro instante da sua vida neste mundo. Santo Afonso diz: “A ti, que és o
Criador do mundo, faltaram pão e fogo, ó meu Senhor”. Jesus nos ensina que toda experiência
de amor tem de ter uma experiência de pobreza, porque quem ama de verdade deixa os falsos
amores para abraçar o amor verdadeiro; e esse deixar os falsos amores é uma experiência de
pobreza, de desapego.

“Como tu, que gozas da alegria do seio divino, vens sofrer sobre este feno?”

Ou seja, nem sequer havia um berço decente para acolher ao nosso divino Salvador.

“Ó doce Amor do meu coração, até onde te levou o Amor?” “Ó meu Jesus, por quem tanto
sofrer?”

Jesus sofreu por cada um de nós. Porque Deus nos amou, precisamos também nos amar;
porque, se não nos amamos, não seremos capazes de dar-nos como presente aos outros.
“Mas se foi vontade tua o teu sofrimento, por que queres chorar, por que gemer? Ó meu Esposo,
Deus amado, meu Jesus, eu te compreendo, sim. Ó meu Senhor. Tu não choras pela dor, mas
pelo amor”.

“Tu choras por ver a ti mesmo sendo tão pouco amado por mim, que sou ingrato depois de tão
grande amor”.

O amor vulnerabiliza a pessoa, e é exatamente por isso que tanta gente se fecha ao amor. Deus,
que é inatingível; Deus, que é invulnerável; Deus, que é impassível; Deus, que não sofre, fez-se
homem para ser atingido por nós. Ele é “Deus conosco”, porque não só veio nos tocar, mas
também porque veio ser tocado por nós, e a primeira coisa que Jesus recebe aqui neste mundo,
depois de sair do ventre da Virgem Santíssima, é a nossa ingratidão. Eis aí, nossa miserável
ingratidão. Fomos amados por um amor sem medidas; e, no entanto, Ele recebeu de nós apenas
a ingratidão.

“Tu dormes, meu Menino, mas ao mesmo tempo o teu coração não dorme, não, mas vela a todo
momento. Eia, meu belo e puro Cordeiro, dize-me em que tu pensas, ó imenso amor. Tu
respondes: ‘Eu penso em morrer por ti’”.

É extraordinário que Santo Afonso veja já no Menino que acaba de nascer o Cordeiro que será
imolado; e, embora o Menino Jesus esteja dormindo, o santo atesta aquilo que é a fé e a
convicção da Igreja, de muitos séculos: de que no íntimo de sua alma, Jesus não dorme. Ele
está velando e pensando em nós e na nossa salvação. Embora a natureza humana de Jesus
precisasse dormir, e de fato Jesus dormiu, a alma humana de Cristo, no seu íntimo, estava tão
unida à Pessoa do Verbo divino, que em todos os momentos, permanecia amando-nos.

TRAÇOS DA PEDAGOGIA DE JESUS


A “escola de Jesus” tem uma pedagogia própria, que não se impõe, mas se apresenta como uma
oferta gratuita de aprendizado para quem busca fazer a experiência com Ele.
Jesus corrige:

– Jesus corrige Pedro: (Mt 16,23; Mc 8,33);

– Jesus reprova o comportamento do Tiago e João (Lc 9,55);


Para esses pais que temem corrigir os filhos ou não compreendem a importância disso para a
formação deles, é importante aprender com Jesus.

Jesus sabe esperar:

– O mestre sabe que o discípulo precisa de tempo para assimilar.

– Os discípulos assimilarão certas coisas somente mais tarde (Jo13,7;13,36; 14,20, 14,26,
16,13).

Jesus precede com o exemplo:

– Coerência entre ensinamento e comportamento – Jesus vive o que ensina. Em um processo


educativo, a pessoa do mestre é muito importante. Uma postura elementar do discípulo/a, que
busca segui-lo captando sua misteriosa coerência de vida, que brota de uma autoridade interior,
diferente daquela dos escribas e fariseus (cf. Mt 23,3-8).

A pedagogia de Jesus se move a partir da gratuidade:

Jesus é um pedagogo que com muita discrição e respeito, reúne todas as condições favoráveis
para deixar Deus fazer sua obra de Evangelho nas pessoas que encontra no seu caminho:
“Minha filha, meu filho, tua fé salvou” (cf. Mc 5,34; Lc 8,48). Esta pedagogia nos auxilia a afastar-
nos da arrogância e da fantasia de nos sentirmos superiores e liberta-nos da angústia de não ter
feito nunca o suficiente.

Uma pedagogia que promove as pessoas:

– Jesus suscita a coragem humana de “ser”, provocando nas pessoas que estão desanimadas o
desejo e a força de vida. Provoca o desejo de viver! Essa é a fé mais elementar, a mais básica:
acreditar que posso viver!

A pedagogia da gestação:

– A experiência da gestação nos move a sair de uma prática do enquadramento. A considerar


que as pessoas não são receptoras passivas de nossos ensinamentos. A imagem da “gestação”
está ligada ao dom da vida e chama atenção justamente para o compromisso com seu o cuidado
em todas as suas dimensões. Sendo assim, o ensinamento, a evangelização devem ser
gestados a partir de espaços livres, comunitários e fraternos, onde a fé cristã possa emergir com
uma renovada pertinência na busca de mais humanidade e de melhor qualidade de vida.

A pedagogia da comunhão:

A Encíclica Fratelli Tutti chama atenção para uma “comunhão universal” (n. 95), para “uma
comunidade feita de irmãos/as que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros” (n. 96).
Essa abertura é geográfica, mas mais ainda existencial. É urgente retomarmos a experiência do
cuidado entre nós e com o cosmo.

O grito que ecoa da Encíclica é o da fraternidade e da amizade social, pois “se não seguirmos
este caminho corremos o risco de fazer parte de um mundo onde estamos todos contra todos”.

A pedagogia do amor

– A vida toda de Jesus foi uma vida doada por amor (Jo 15,9). No amor se encontra o segredo
da pedagogia de Jesus. Os discípulos compreendem que Jesus quer o seu bem, e são
chamados por amor e educados para o amor. Por fim Jesus pede aos discípulos que se amem,
como Ele os ama (Cf. Jo 13,34;15,12).

– A pedagogia de Jesus passa muito mais pela questão do diálogo do que pela imposição de
verdades prontas. A experiência com o Mestre nos remete a uma práxis kenótica. Abre
perspectivas para refazermos as relações em nossos espaços educativos, comunidades, a partir
de uma unidade que agrega e cria comunhão. Deus que testemunha e chama a seguir
seus exemplos.

A eficácia da pedagogia de Jesus:


– Os relatos da paixão parecem nos mostrar que o ensinamento de Jesus fracassou. Os
discípulos o abandoaram, Judas o traiu, Pedro o renegou. Estes discípulos aprenderam de Jesus
por um tempo …“Nós esperávamos que ele fosse salvar Israel …” (cf. Lc 24,21);

– Mas, o Ressuscitado permanece como Mestre e pacientemente lhes explica as Escrituras e os


ajuda a chegarem à fé;

– Os discípulos são lentos, mas chegam à dinâmica da fé: “Não ardia o nosso coração ….” (cf.
Lc 24,32).

– No livro dos Atos dos Apóstolos os discípulos continuam a missão de Jesus – eis a eficácia de
seu ensinamento: o ensinamento de Jesus continua na vida – práxis – de cada discípulo/a.

Jesus nos ensina que não há hora e nem lugar específico para ensinar. Tanto é que ao lermos as
passagens dos Evangelhos podemos observar Jesus ensinando na Sinagoga, no Templo; na
montanha (Mt 5,1-2), à beira do lago (Jo 1,29ss.), à beira do poço (Jo 4), no caminho (Lc 24), em
casa (Lc 10,38-42). Jesus não desperdiça uma oportunidade sequer.
Jesus veio anunciar o Reino de Deus a todos os homens, de todas as condições existenciais,
grandes e pequenos, pobres e ricos, próximos e distantes, judeus e pagãos, homens e mulheres,
justos e pecadores, povo e autoridade, indivíduos e grupos, crianças e jovens, homens e
mulheres, da mesma forma, todas as pessoas são destinatárias da catequese. Não faz, portanto,
acepção de pessoas, trata a todos iguais, não revela preferências e nem desafetos em seus
relacionamentos e sobretudo em sua missão. Fala com sabedoria e ensina com amor (Jo 1,37ss;
4,31; 9,1-2; 11,8; Mc 9,5;11,21; 14,45).
A maioria dos ensinamentos de Jesus eram feitos através de Parábolas: metáforas, provérbios,
enigmas, paradoxos. Jesus ensinava com autoridade, diferente dos escribas e fariseus (Mt 7,28-
29; Mc 1,21-22). Jesus ensina a misericórdia e acolhimento, libertando diversas categorias de
cativos: os pecadores (Lc 15,7-10); os cobradores de impostos (Lc 15,1-2;19,7); os
economicamente oprimidos (Lc 16,19-31); os doentes (Lc 13,10-17); devolvendo-lhes a
dignidade e o senso de pertença à comunidade de discípulos.
Jesus falava por parábolas para explicar verdades complexas de uma forma
simples. Ele usava parábolas para responder a perguntas e tirar dúvidas. Usar parábolas
era um método de ensino muito comum no tempo de Jesus.

Em suas parábolas, Jesus usava figuras que seus ouvintes entendiam: comida,
casamento, a relação entre um pai e um filho... Essas histórias simples explicavam
realidades difíceis de entender, como a salvação e o Reino de Deus. Assim, até a pessoa
mais simples poderia entender o evangelho. Através de suas parábolas, Jesus tornou
o caminho da salvação acessível a todos.

A pedagogia divina valoriza a pessoa, respeita a sua situação existencial, se serve de sinais,
fatos, palavras, celebrações, experiências de vida e valoriza as potencialidades naturais do fiel
com a sua inteligência, vontade, afetividade, memória.
S. Irineu de Lião fala, repetidas vezes, dessa pedagogia divina sob a imagem da familiaridade
mútua entre Deus e o homem: “O Verbo de Deus habitou no homem e fez-se Filho do homem
para acostumar o homem a apreender a Deus e acostumar Deus a habitar no homem, segundo
o beneplácito do Pai”.

A pedagogia da fé
Jesus Cristo cuidou com muito zelo da formação dos seus discípulos e depois os enviou. No
processo de formação deles, Jesus foi para eles o único mestre; foi-lhes amigo, paciente, fiel,
sincero! Compartilhou sua vida com eles, respondeu as suas perguntas e os introduziu na ação
missionária.

Ele conhecia muito bem a Bíblia, pois aprendeu a ler na sinagoga e em casa. É na bíblia que ele
encontrava respostas contra as tentações do diabo (Lc 4,4). Na bíblia encontrava também
respostas contra as provocações dos adversários que procuravam desautorizá-lo diante do povo
e desviá-lo do caminho do Pai (Mc 2,25-26). Na hora da Paixão, ele rezou salmos (Mc 15,34; Lc
23,46; Jo 19,28);

A pedagogia de Deus e os destinatários da Catequese no Diretório Catequético - CNBB Acesso


em 05/01/2024

A PEDAGOGIA DE JESUS – Congregação das Servas de Maria Reparadoras


(congregacaosmr.com.br)

“Foi o amor que te fez pobre por mim” (padrepauloricardo.org)

“Quanto te custou ter-me amado!” (padrepauloricardo.org)

“Até onde te levou o Amor?” (padrepauloricardo.org)

Por que chorava o Menino Jesus? (padrepauloricardo.org)

Por amor, Deus se fez vulnerável (padrepauloricardo.org)

Uma vigília perpétua de amor (padrepauloricardo.org)


Como Maria nos ajuda a amar Jesus? (padrepauloricardo.org)

A pedagogia de Deus (padrepauloricardo.org)

Hebreus 1:1-10 Antigamente, por meio dos profetas, Deus falou muitas vezes e de muitas
maneiras aos nossos antepassados, mas nestes últimos tempos ele nos falou por meio do seu
Filho. Foi ele quem Deus escolheu para | Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) | Baixe
o App da Bíblia Agora (bible.com)

"Jesus tem autoridade porque está a serviço. O clericalismo despreza as pessoas" - Instituto
Humanitas Unisinos - IHU

O que a Bíblia diz sobre lidar com pessoas difíceis? | GotQuestions.org/Portugues

E JESUS SENTOU-SE! (paroquiasaojoaonatal.org.br)

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