Você está na página 1de 3

Síntese: Formulações sobre os Dois Princípios do Acontecer Psíquico

Introdução

- O tema principal é a distinção entre os dois princípios reguladores: princípio do


prazer vs princípio de realidade - que dominam respectivamente os processos
psíquicos primário e secundário
- já era um tema existente anteriormente na metapsicologia freudiana, mas começou
a ser melhor elaborado nesse artigo
- Artigo como Freud mesmo disse, de natureza preparatória e exploratória
- Gênese e consequencias do principio de realidade
- Esboço de opiniões

Os princípios

- O neurótico afasta-se da realidade por achá-la insuportável (ela toda ou partes dela)
- Estudar a relação do neurótico (e do ser humano em geral) com a realidade
- Os processos psíquicos inconscientes primários obedecem ao princípio do prazer.
Os atos que possam provocar desprazer são recalcados
- As necessidades internas do organismo e o desejado geravam formas alucinatórias
que eram frustradas (não davam prazer). Então invés de alucinar, o aparelho
psíquico passou a conceber as circunstancias reais do mundo externo e almejou
uma modificação, assim nasce o princípio de realidade.

Consequências da instauração do princípio de realidade:

1) foi necessária uma série de adaptações do aparelho psíquico. Com a valorização da


realidade exterior, os órgãos sensoriais e consequentemente a consciência
tornaram-se mais relevantes. Desenvolveu-se a atenção e memória, além de uma
avaliação de juízo (se algo é ou não real). Também o agir e o processo de pensar
(possibilita suportar o aumento da tensão decorrente do acúmulo de estímulos -
enquanto se porterga a ação). Originalmente o pensar era provavelmente apenas
inconsciente, depois se tornou parte também da consciência
2) O apego e a dificuldade do desapego das fontes de prazer podem ser por um
princípio de poupar esforço. Porém, com o princípio da realidade, um tipo de pensar
ficou submetido apenas ao princípio do prazer - o fantasiar e o devanear (adultos)
não sustentado em objetos reais
3) De início, as pulsões sexuais comportam-se auto-eroticamente e encontram a
satisfação no próprio corpo. Quando as pulsões sexuais começam a busca de objeto
no mundo externo há o período de latência que adia os impedimentos e a
instauração do princípio da realidade. Auto erotismo e período de latência colocam a
pulsão sexual por muito mais tempo sob domínio do princípio do prazer. A pulsão
sexual e a fantasia estão mais próximas assim como as pulsões do Eu com a
consciência (relações secundárias). Parte essencial da disposição psíquica para a
neurose é a demora com que a pulsão sexual é ensinada a levar em conta a
realidade (que se deixa o autoerotismo)
4) O Eu-real almeja coisas que lhe tragam benefícios e garante-se contra danos. A
substituição do princípio de prazer pelo de realidade não indica destruição do
primeiro, sim sua continuidade - um prazer momentâneo e incerto só é abandonado
para assegurar que depois se tenha um prazer garantido (religiões e ciência)
5) A educação é um estímulo à superação do princípio de prazer, subtituição deste
pelo princípio de realidade.
6) A arte promove uma reconciliação dos dois princípios. Ao mesmo tempo que o
artista busca afastar-se da realidade, ele consegue encontrar o caminho de volta
para o mundo (sublimação). E gera um reconhecimento e identificação das outras
pessoas que também estão insatisfeitas com a transição de princípios (insatisfação
essa que faz parte da realidade)
7) As pulsões sexuais passam por mudanças do auto-erotismo para o amor objetal. Em
alguma dessas etapas que pode ocorrer a formação da neurose.
8) Nos processos inconscientes a realidade do pensar torna-se equivalente à realidade
exterior e desejar equivale à realização do desejo.

O tema sobre os dois princípios reguladores do aparelho psíquico - o princípio do


prazer e o princípio da realidade - não era completamente novo para a metapsicologia
freudiana em 1911. Mesmo assim, no artigo “Formulações sobre os Dois Princípios do
Acontecer Psíquico”, artigo “de natureza preparatória e exploratória”, Freud traz alguns
esboços de opiniões, principalmente sobre a gênese do princípio da realidade e as
consequências formadas por essa constituição.
Em suas observações foi que Freud notou um ponto importante a ser investigado:
neuróticos afastam-se da realidade por achá-la insuportável. Mas como funciona essa
relação do ser humano com a realidade? Freud fez uma tentativa de elucidar: em um
momento primário dos processos psíquicos, se obedece ao princípio do prazer que, como
coloca o próprio nome, busca a satisfação dos desejos ao mesmo tempo em que tenta se
desvencilhar (pelo recalque) do desprazer. As necessidades internas do organismo e os
desejos, contudo, são frustrados, gerando apenas algumas formas alucinatórias que não
levam ao prazer. Assim, o aparelho psíquico abandona o alucinar e passa a figurar
situações reais do mundo externo, ainda que procurando sua modificação. Está presente
então o princípio de realidade.
Com esse “nascimento” do outro princípio que junto com o princípio do prazer
conduzirá os processos da psiquê, Freud coloca algumas consequências e considerações.
Uma série de adaptações foram conduzidas por esse processo: com maior reconhecimento
da realidade exterior, ocorre maior desenvolvimento de aspectos como os órgãos
sensoriais, a consciência, atenção, memória, avaliações de juízo (sobre o que é ou não
real), agir para o mundo externo e o processo de pensar.
Há uma dificuldade natural de se desapegar das fontes de prazer, por um princípio
até de poupar esforço. Mas com a instauração do princípio de realidade, um tipo de pensar
fica submetido não mais à realidade, mas ao princípio do prazer: o fantasiar, na infância, e o
devanear, na idade adulta.
Inicialmente, as pulsões sexuais são auto-eróticas, sendo assim, encontram a
satisfação no próprio corpo (como um bebê ao chupar os dedos). A busca de objeto no
mundo externo, que deveria servir como um choque que instauraria o princípio da realidade,
é adiado pelo período de latência. É o auto-erotismo junto com o período de latência que
coloca a pulsão sexual por muito mais tempo sob dominação do princípio do prazer. Em
decorrência disso, estabelece-se a relação secundária de proximidade da pulsão sexual
com a fantasia, ao mesmo tempo que as pulsões do Eu estão próximas da consciência;
parte essencial da disposição psíquica para a neurose é a forma como o indivíduo lida com
o frustração dos desejos não realizados e com a substituição da impulsividade do princípio
do prazer por uma gratificação posterior do princípio da realidade. Os sintomas
desenvolvidos nada mais são que defesas ao sofrimento de ser incapaz de levar em conta a
realidade.
A substituição do princípio do prazer pelo da realidade, contudo, não é indicativo da
destruição do primeiro, pelo contrário, é sua continuidade. Ao mesmo tempo que o Eu-
prazer busca o prazer e se desvencilha do desprazer, o Eu-real almeja coisas que lhe
tragam benefícios e garante-se contra os possíveis danos. Um prazer momentâneo e
incerto só é abandonado para assegurar que depois se tenha um prazer garantido (um bom
exemplo seria a ideia de “recompensa” caso siga-se corretamente as doutrinas das religiões
).
Freud analisa sob esse prisma dois pontos importantes da sociedade. Primeiro, a
educação, segundo ele, que serve de estímulo para superação do princípio do prazer e sua
substituição pelo da realidade. Depois, a arte, que promove uma reconciliação dos dois
princípios, já que ao mesmo tempo que um artista busca uma fuga da realidade, acaba
encontrando um caminho de volta com a identificação que gera nos demais indivíduos que
também se sentem insatisfeitos com isso (eimportante salientar: essa própria insatisfação
faz parte da realidade).
Por fim, a realidade do pensar equivale-se à realidade exterior e desejar já se
homóloga ao realizar do desejo. É difícil diferenciar fantasias inconscientes de lembranças
que se tornam inconscientes. Por isso, nunca se deve aplicar os critérios da realidade às
formações psíquicas inconscientes.

Você também pode gostar