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RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE

Profa.Dra.Nicézia Vilela Junqueira Franqueiro


RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Hipócrates (460 A.C. 377 A.C.),


médico grego, Pai da Medicina
Ocidental, foi o primeiro médico, a
valorizar a relação médico-
paciente.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

“A arte da medicina está em


observar. Curar algumas vezes,
aliviar muitas vezes, consolar
sempre.” (Hipócrates).
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Dr. Celmo Celeno Porto


RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE
O estudo desse relacionamento deve partir das seguintes premissas:
 parte fundamental da prática médica, devendo ser o foco de atenção e
estudo a partir do momento em que o estudante encontra-se com seu
primeiro paciente;
 o exame clínico – anamnese, elemento principal do tripé em que se
apoia a medicina moderna. Os outros dois componentes: exames
laboratoriais e equipamentos que produzem traçados e imagens dos
órgãos;
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

O estudo desse relacionamento deve partir das seguintes premissas:


 a aprendizagem da relação médico-paciente está intimamente
interligada à aprendizagem do método clínico, e ambas dependem de
treinamento prolongado, sempre sob supervisão;

 é indispensável a aquisição de conhecimentos básicos das


humanidades, filosofia, antropologia, psicologia, sociologia e outras -
a relação médico-paciente ultrapassa o âmbito dos fenômenos
biológicos, dentro do qual se costuma aprisionar a profissão médica.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 O exame clínico é insubstituível para o relacionamento médico-


paciente.

“É bom saber - e nunca se esquecer que a relação médico-paciente é a


essência de uma medicina de excelência! Não se pode esquecer também
de que a relação médico-paciente “nasce” e “cresce” – ou pode “morrer”
– durante o exame clínico. O “nascimento” pode ser uma palavra ou um
simples olhar; porém, o “crescimento” é um processo mais delicado e
depende de todos os momentos do exame do paciente, continuando em
todos os encontros com ele”.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

PRINCÍPIOS BIOÉTICOS – são destaque no processo ensino/aprendizagem


da relação médico-paciente.

Bioética - ética do ser vivo, do ser humano.

Beneficência – buscar fazer sempre o bem para o paciente.

Não-maleficência – não fazer nada de mal ao paciente.

Justiça – fazer o que é justo, independente de fatores socioeconômicos,


emocionais, etc.

Autonomia – permitir que o paciente decida sobre o tratamento, aceitando-


o ou não, após o devido esclarecimento.
RELAÇÃO MÉDICO PACIENTE

Fatores que estimularam a aplicação dos princípios BIOÉTICOS na prática


médica:
 rápido crescimento dos conhecimentos científicos,

 avanços tecnológicos,

novas modalidades de organização na prestação de serviços médicos.


RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Fatores que estimularam a aplicação dos princípios BIOÉTICOS na prática


médica.

 Situações novas que vêm modificando condutas cultivadas desde os


primórdios da medicina.

 No lugar do paternalismo ou do autoritarismo, quando os médicos


faziam escolhas para os pacientes de acordo com seus valores
profissionais – surge um relacionamento mais igualitário – resultando
em decisão compartilhada.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Fatores que estimularam a aplicação dos princípios Bioéticos na prática


médica:

 decisão compartilhada – chamado de consentimento informado, e é


fruto do princípio da autonomia.

 o respeito pela autonomia do paciente como ser humano e cidadão = é


o núcleo do relacionamento médico-paciente.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 Fatores que estimularam a aplicação dos princípios Bioéticos na prática


médica:

 desde o primeiro paciente o estudante de medicina deve ter em mente


os princípios da beneficência, da não-maleficência, do sigilo e da justiça.

 o aprendizado correto do exame clínico é bom para o paciente –


mesmo que o estudante não saiba prescrever medicamentos ou fazer
cirurgias, isto porque sua presença junto ao paciente pode ter ação
terapêutica, tal qual a do médico.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 Cultivar o sigilo e procurar ser justo – é indissociável do exame


clínico e faz parte da relação médico-paciente.

 A boa relação médico-paciente é uma atitude preventiva,


evitando-se mal-entendidos que possam evoluir para situações
desagradáveis e desgastantes para o médico.
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 Adquire-se a ética no curso do desenvolvimento, e esta vem no


bojo do processo de humanização.

 Não nascemos competentes nem autônomos – adquirimos tais


condições com o desenvolvimento biológico, psíquico e social.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 É uma condição subjetiva, afetiva e cognitiva que o indivíduo irá


adquirir com sua experiência desde estudante até a vida profissional,
mais do que a condição objetiva que o diploma de médico lhe confere.
 A ética depende da moral e pressupõe uma construção individual
apreendendo valores e atitudes.
 A bioética da relação médico-paciente, ou bioética clínica – é a parte
mais complexa e, seguramente, a mais angustiante de toda a ética
médica, pois é no exercício prático da medicina que surgem os
verdadeiros conflitos éticos.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 No fim do séc. 19.

 Publicação de Freud – “Interpretação dos


Sonhos”.
 Descortinou o mundo inconsciente,
possibilitando a compreensão dos aspectos
psicodinâmicos da relação médico-paciente.
 Desnuda as raízes dos relatos feitos pelos
pacientes, descobrindo fenômenos psicológicos
de grande importância na relação médico-
paciente, reforçando o valor da anamnese.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

• Significado de ética – Dicionário Aurélio

1.Parte da Filosofia que estuda os fundamentos da moral.

2.Conjunto de regras de conduta.

3.Ética médica: Conjunto dos problemas postos pela responsabilidade

moral dos profissionais de saúde em relação aos pacientes.


RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 A bioética das relações parte da necessidade do indivíduo de perceber


os conflitos que podem surgir ao relacionar-se com outra pessoa.

 Esses conflitos das relações podem ou não fazer parte da consciência


do indivíduo, mas eles existem em consequência da necessidade de nos
adaptarmos ao mundo.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 Na bioética da relação médico-paciente está o conflito entre o


emocional e o racional; o maior desgaste do profissional médico não se
deve ao número de horas trabalhadas, mas à intensidade emocional com
que vivencia todos os seus atos, pois eles significam tratar com a vida, a
honra e a saúde de outras pessoas.

 Este conflito é desconhecido tanto pelo médico quanto pela sociedade.


RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 O que mantém os vínculos efetivos na profissão médica são a confiança e


a empatia.

 O médico não deve se esquecer de que quem o procura é um paciente e


não uma doença; e o faz em função da dor e do sofrimento.

A relação médico-paciente deve ter em sua base os princípios éticos,


desde o primeiro momento do curso médico.
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NÍVEIS DE RELACIONAMENTO:
 médico ativo/paciente passivo: o paciente abandona-se por completo e
aceita passivamente os cuidados médicos – medicina de urgência –
quanto mais ativo e seguro se mostrar o médico, tanto mais tranquilo e
seguro ficará o paciente.
 médico dirigindo/paciente colaborando: o médico assume seu papel de
maneira, até certo ponto, autoritária. O paciente compreende e aceita tal
atitude, procurando colaborar.
 médico agindo/paciente participando ativamente: o médico permanece
no seu papel de definir os caminhos e os procedimentos, e o paciente
compreende e atua conjuntamente.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 O paciente de hoje espera que a sua individualidade - ou cidadania seja


respeitada, pois, graças aos meios de comunicação, acha-se muito melhor
informado sobre assuntos médicos que as gerações anteriores.

 Médico cuidador se diferencia do médico curador, pela capacidade


humana de atender seu paciente, de forma global e holística, ampliando o
conceito de médico curador, que somente se envolve com a cura da doença,
o que frequentemente não é conseguido, causando profunda frustação.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

O MÉDICO....

A parte mais importante do exercício profissional é o exame clínico.

SERÁ QUE O MÉDICO TEM CONSCIÊNCIA DO SIGNIFICADO DO ENCONTRO


COM O OUTRO SER HUMANO E EM QUE PROFUNDIDADE ESSE ENCONTRO
SE ESTABELECE?
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

Século 20 – Balint, médico e psicanalista Húngaro.

Descreveu uma teoria sobre a relação entre o médico e seu paciente.

 !957 – publicação: “O Médico, seu Paciente e a Doença”.

 Marco no desenvolvimento da medicina e do método clínico.

 Ênfase – O processo de adoecimento, a anamnese menos dirigida e a


escuta terapêutica.
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O MÉDICO.....
Balint, descobriu que o médico ao receitar um medicamento, deve
pesquisar se este pode ser bom, fazendo bem ao paciente, ou verdadeiro
veneno, causando situações de estresse e angustia naquele que o procurou
– a este processo Balint intitulou “ o médico como droga”, substância que
ao penetrar no corpo provoca ação farmacológica, medicamentosa ou não.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

O MÉDICO....
O encontro entre o médico e o paciente é uma situação singular, pois
decisões serão tomadas em relação à vida daquela pessoa.
 O paciente procura o médico carregado de ansiedade e dúvidas,
esperançoso de ser compreendido e ajudado.
 Cabe a este reconhecer o estado de sofrimento e atuar sobre ele, agindo
com continência e de forma segura, permitindo ao paciente que
estabeleça uma relação de confiança.
 Na primeira consulta, uma palavra ou um gesto inadequado pode
deteriorar a relação entre o médico e o paciente e aumentar os
padecimentos deste.
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O MÉDICO....
Direcionar este encontro – torná-lo o menos angustiante possível.
O médico dispõe de conhecimento que o paciente não tem, e é isto que o
coloca na condição de dirigente do encontro – posição que deve assumir,
compreendendo, encorajando e respeitando o paciente.
Não pode se furtar de compreender e respeitar os aspectos culturais de seu
paciente; nem acreditar que o paciente nada sabe sobre a sua doença.
O dono da doença é o paciente – valorizar suas queixas.
A formação técnica vem sendo muito valorizada, em virtude das máquinas,
cada vez mais presentes no exercício da medicina.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE
Ao atender um paciente = guardar para si seus preconceitos, sua posição
político-filosófica, sua postura religiosa, não deixando que esses aspectos
interfiram no julgamento.

A profissão configura-se como um sacerdócio = a dedicação aos pacientes é


fundamental.

O significado da expressão sacerdócio: é a capacidade de se entregar de


corpo e espírito à arte de bem servir o seu semelhante.

Papel do médico = cuidador!


RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

As qualidades humanas fundamentais na relação médico-paciente são:

integridade: agir de forma correta.

respeito: valorizar a condição humana do paciente, sabendo que ele se


torna mais frágil e mais sensível pela própria doença.

compaixão: representada por interesse verdadeiro pelo seu sofrimento do


paciente.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE
Algumas posturas na fase de formação:

 assumir o paciente individualmente: o exame clínico do paciente; é


entre você e ele;
 estabelecer cumplicidade com o paciente: mesmo você não sabendo
diagnosticar nem podendo prescrever medicamento ou realizar qualquer
procedimento, não pense que sua presença e seu trabalho nada significam
para ele. O segredo dos médicos de sucesso: eles cuidam dos seus
pacientes;
 Continuidade em sua relação com o paciente: visitas diárias até a alta,
ou se ele morrer;
 Privacidade: ter uma sala privativa para que a relação médico-paciente
alcance níveis mais profundos.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

O treinamento de habilidades de comunicação é a base do encontro clínico.

Não existe relação médico-paciente sem a comunicação.

Não só o paciente, mas também sua família, desenvolverão espaços


importantes de comunicação com o profissional.

A comunicação entre o médico e o paciente não se faz apenas durante a


anamnese, baseada na comunicação verbal. O exame físico faz parte do
processo de comunicação entre o médico e o paciente.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

• Atualmente impera nas instituições de


saúde aspectos mecânicos e tecnicistas
conferidos pelas máquinas e o uso
excessivo de procedimentos técnicos.

• O ambiente é frio, pouco humano, onde


os funcionários são levados a agir quase
que como máquinas.
RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

A ciência médica em algumas


situações vem se tornando auxiliar
ou parceiros de máquinas e
executora de protocolos. Sem se
importar com as particularidades e
emoções dos pacientes.
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Precisamos resgatar a humanização!!!!


Resgatar a nossa natureza humana!
Compreender a multidimensionalidade do ser humano!
VOCÊS PODEM TRANSFORMAR ESTA REALIDADE…
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Patch Adams

Roben Uilian, ator americano


que interpretou Patch Adams
no filme “O amor é contagioso”
REFERÊNCIAS

PORTO, C. C. et al. Relação médico-paciente. In: PORTO, C. C.


Semiologia Médica. 6a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.

GONZALEZ, R.F.; BRANCO, R. Reflexão sobre o processo ensino-


aprendizagem da relação médico-paciente. Rev bioét. 2012; 20 (2):
244-54.

PORTO, C. C. Cartas aos estudantes de medicina. 1a ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2014.

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