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Sumário
Introdução ........................................................................................... 2
DISCIPLINA 01: NOÇÕES BÁSICAS DE PSICANÁLISE ......................... 3
As duas hipóteses fundamentais da psicanálise: ............................... 4
Atos falhos ....................................................................................... 4
Impulsos .......................................................................................... 5
O aparelho psíquico .......................................................................... 6
Duas teorias da ansiedade ................................................................ 9
Mecanismos de defesa do aparelho psíquico ..................................... 9
DISCIPLINA 2: A PSICANÁLISE E A PSICOTERAPIA ........................... 15
Histórico da psicanálise .................................................................. 16
Doutrina Freudiana ........................................................................ 24
Psicoterapia breve .......................................................................... 27
DISCIPLINA 3: SOCIOLOGIA DAS DOENÇAS MENTAIS ..................... 33
DISCIPLINA 4: INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE ................................... 58
O objetivo da psicanálise ................................................................ 60
Um pouco de história ..................................................................... 61
A psicanálise: a frequência e a duração .......................................... 75
DISCIPLINA 5: PSICANÁLISE E COMPLEXO DE ÉDIPO ................... 178
O mito de Édipo............................................................................ 178
Análise do complexo de édipo, à luz da psicanálise freudiana ........ 193
DISCIPLINA 6 FOBIAS (transtornos fóbico-ansiosos) ........................ 203
Disciplina 7 -TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E
HIPERATIVIDADE ............................................................................ 204
Disciplina 8 -TRANSTORNO DE PÂNICO .......................................... 205
Manifestações clínicas e diagnóstico atual .................................... 206
Abordagem terapêutica ................................................................. 207
Disciplina 9 - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO ................. 208
Disciplina 10- AS DIFERENÇAS ENTRE PSIQUIATRA, PSICÓLOGO E
PSICANALISTA ................................................................................ 209
DISCIPLINA 11: MEDICINA PSICOSSOMÁTICA CONCEITO GERAL.. 211
A doença de cada um “esboço cotidiano” ....................................... 213
Desenvolvimento psicossomático .................................................. 216
O ser saudável em seu princípio I ................................................. 220

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2

O ser saudável em seu princípio II ................................................ 224


“Futuros caminhos somáticos” - pré e pós-natal ........................... 229
Organização pulsional e psicossomática ....................................... 239
Os distúrbios psicossomáticos a partir de freud ............................ 270
Clínica e prática terapêutica ......................................................... 300
DISCIPLINA 12 DEPRESSÃO (Transtorno depressivo) ...................... 319
DISCIPLINA 13 DEPRESSÃO NO IDOSO .......................................... 321
DISCIPLINA 14 ESQUIZOFRENIA .................................................... 322
Quais os sintomas? ...................................................................... 322
Qual é a causa da esquizofrenia? .................................................. 323
Como se diagnostica a esquizofrenia? ........................................... 324
Como se trata a esquizofrenia? ..................................................... 324
Disciplina 15 FOBIAS (transtornos fóbico-ansiosos) ......................... 325
Disciplina 16 ALCOOLISMO ............................................................ 326
Detecção ...................................................................................... 327
Consequências físicas do alcoolismo ............................................. 329
Consequências psíquicas do alcoolismo ........................................ 329
Tratamento................................................................................... 330

Introdução
Esta apostila, é um compêndio do módulo 01 do curso de psicanálise. E
faz parte da parte teórica do curso. Vamos nos aprofundar nos conceitos
centrais que estruturam a psicanálise de Freud. A apostila está no
formato para impressão, caso prefira estudar com material impresso,
poderá imprimir a mesma.
Nesta apostila, apresentaremos de forma Clara, didática e simples sobre
os principais conceitos da psicanálise.
Aproveite bem o módulo e bom curso!

“A psicanálise é a profissão de pessoas


leigas que curam almas.”
-Sigmund Freud

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DISCIPLINA 01: NOÇÕES BÁSICAS DE PSICANÁLISE


O objetivo da presente disciplina é apresentar de maneira concisa,
coerente e seletiva, algumas informações básicas sobre a Psicanálise.
Destacando os elementos de maior interesse e importância da área.
As Cinco Premissas da Psicanálise:
▪ Existe um inconsciente dinâmico;
▪ Existe uma sexualidade infantil;
▪ O núcleo da neurose é o complexo de Édipo;
▪ A neurose do adulto é a repetição da neurose infantil;
▪ O indivíduo adoece com a diminuição da capacidade de amar.
No decorrer do curso, você vai aprender sobre esses princípios entre
outros, que são de suma importância no estudo da teoria freudiana
chamada de Psicanálise.
O inconsciente dinâmico exerce grande influência na conduta dos
pacientes. O Inconsciente detém, aquele conteúdo de difícil acesso e
exerce grande influência na vida mental. O Inconsciente é tudo aquilo o
que nós não sabemos de nós mesmos, o que esquecemos, e continua
existindo. O Inconsciente detém aquele conteúdo de difícil acesso e exerce
grande influência na vida mental. O inconsciente comanda você. Ele
registra tudo o que aconteceu com você. Por exemplo, você saberia
responder o que você comeu dia 20/11/2018? Certamente que não, pois
essa informação está no seu inconsciente.
O inconsciente é atemporal, Freud dizia que: “o inconsciente, não conhece
o tempo”, para o inconsciente, o que aconteceu há anos atrás em sua
vida, é como se tivesse acontecido hoje.
Como Freud trazia os conteúdos do inconsciente para o consciente?
As formas mais comuns de se acessar estes conteúdos são através dos:

▪ Sonhos
▪ Associação livre
▪ Atos falhos
▪ Chistes
▪ Testes projetivos
▪ História de sintomas neuróticos e psicóticos

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A sexualidade infantil é o conjunto de transformações no corpo e no


psiquismo que se iniciam no nascimento e culminam na fase fálica.
A neurose está ligada a uma tendência a repetir situações traumáticas.
Freud: focalizava suas teorias no complexo de Édipo e na sexualidade
infantil.
Pós‐Freudianos: focalizavam, nas primeiras experiências emocionais
infantis.

As duas hipóteses fundamentais da psicanálise:


As duas hipóteses fundamentais são o determinismo psíquico e o
inconsciente.
Teoria Psicanalítica é um corpo de hipóteses sobre o funcionamento e
desenvolvimento da mente humana.
O Determinismo Psíquico, afirma que nada acontece por acaso na mente,
tudo está relacionado com algo anterior. Os sonhos também estão
sujeitos a essa regra.
As Técnicas Psicanalíticas, são métodos indiretos para o estudo de
fenômenos psíquicos ocultos.
A Associação Livre é a essência da técnica psicanalítica.
De acordo com o vocabulário Laplanche & Pontalis:
“A associação livre é método que consiste em exprimir
indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao espírito, quer
a partir de um elemento dado (palavra, número, imagem de um sonho,
qualquer representação), quer de forma espontânea.”
O Pré‐consciente detém tudo aquilo que é de fácil acesso, como
memórias e lembranças que podem facilmente tornar‐se conscientes.

Atos falhos
Os Atos falhos ocorrem por influência do inconsciente. O ato falho,
também conhecido por ato falhado ou lapso Freudiano, é um erro verbal
ou de memória ligado à mente inconsciente.
De acordo com (Laplanche e Pontalis), o ato falho “ocorre quando o
resultado explicitamente visado não é atingido, mas se vê substituído por
outro.”
A famosa frase do Chaves, expressa muito bem o ato falho:
“Foi sem querer, querendo”. Um ato falho foi sem querer
(conscientemente falando) mas também foi querendo
(inconscientemente).

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Impulsos
Impulsos são forças instintivas que, juntamente às percepções
sensoriais, vinculam a Psicanálise com a Biologia. A diferença entre
instinto e impulso está na resposta motora do impulso que é mediada
pelo Ego. Os impulsos são dinâmicos, pois possuem uma fonte, uma
finalidade, um objeto e uma força, empregado energia psíquica (catexia);
são inatos e internos ao organismo; estão no limite entre o somático e o
psicológico (no limite entre as necessidades fisiológicas e as necessidades
psicológicas). Pertencem ao inconsciente, mas tornam‐se conscientes
quando se ligam a um afeto ou a uma representação.
Representações abrangem sensações e experiências emocionais
primitivas que ficam impressas no Ego.
Pulsões (impulsos) são dinâmicas, originam‐se do corpo (fonte), visam
obter satisfação (finalidade), possuem um objeto que pode ser uma
pessoa ou a própria pessoa, e empregam uma energia e intensidade
(força/catexia) que é constante enquanto não há satisfação.
Toda pulsão possui:
▪ Fonte
▪ Finalidade
▪ Pressão
▪ Objeto
2 tipos básicos de pulsões:
Pulsão de vida - Eros
Pulsão de morte - Tanatos
As pulsões passam por vicissitudes, que são a transformação ou
deslocamento da energia psíquica de uma pulsão para outra.
Tensão é o estado de excitação psíquica provocada por um impulso que
impele o indivíduo a buscar alguma gratificação.
A Energia Psíquica é a energia envolvida na tensão provocada por um
impulso.
Catexia é a quantidade de energia psíquica associada à representação
mental de uma pessoa ou objeto.
Libido é a energia com um componente erótico originária de um impulso
sexual, ou seja, é a energia que dirigimos aos objetos de nossos desejos.
A libido abrange todas as pulsões que se relacionam ao amor. Libido é
uma palavra que vem do latim e significa desejo ou anseio.
Destruto é a energia com um componente destrutivo originária de um
impulso agressivo.

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Fases do desenvolvimento psicossexual são fases de fluxo gradual e


variável, denominadas fase oral, fase anal, fase fálica, latência e fase
genital. Os nomes estão relacionados ao objeto e modalidade de
gratificação em que está investida grande energia psíquica. As três
primeiras fases (oral, anal e fálica) compreendem o desenvolvimento
psicossexual da criança. A fase oral e a fase anal são conhecidas também
como a fase narcísica. Tanto o impulso libidinal quanto o impulso
agressivo participam da progressão das fases. As pulsões normais são
aquelas observadas no desenvolvimento psicossexual.
Intercâmbio de pulsões, podem ser exemplificadas quando o sadismo vira
masoquismo ou o voyeurismo vira exibicionismo.
A transformação de pulsões pode ser exemplificada pelos mecanismos de
sublimação ‐ quando a energia da pulsão sexual é empregada em outra
atividade; repressão ‐ quando a energia é reprimida para o inconsciente;
e pela formação reativa ‐ quando a energia é manifesta de uma forma
contrária à pulsão original.
Compulsão a repetição trata‐se da tendência de voltar a catexia para
objetos que já foram altamente catexizados e repetir a modalidade de
gratificação.
Fixação da libido é a permanência de forte catexia libidinal em algum
objeto ou modalidade de gratificação de uma fase passada.
Refluxo ou regressão é quando, na progressão normal do
desenvolvimento psicossexual, a catexia libidinal retorna para um objeto
de alguma fase anterior. Quando é desencadeada por um impulso trata ‐
se de uma regressão instintiva.
Autoerotismo é voltar a catexia libidinal dispensada a um objeto para o
próprio corpo.
Infantilismo psicossexual: refere‐se àquelas pessoas que se tornam
fixadas em algum estágio do desenvolvimento psicossexual e não atingem
a maturação para a heterossexualidade. Pessoas que ficam fixadas a uma
dessas fases: fase oral, fase anal, fase fálica, latência e fase genital.

O aparelho psíquico
A mente é dinâmica, em seu amadurecimento e funcionamento. As fases
não possuem uma divisão bem definida e eventos marcantes em cada
fase costumam influência a vida mental por um longo tempo.
A diferença entre pré‐consciente e inconsciente é que aquilo que está no
pré‐consciente torna‐se consciente facilmente.
A Psicologia Profunda (ou Ψ do Ics.) trata dos conteúdos e processos
mentais impedidos de atingir a consciência por alguma força psíquica.
As 2 hipóteses do Aparelho Psíquico:

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1ª. Hipótese Topográfica: Freud dividia a mente em consciente, pré‐


consciente e inconsciente. Paradigma: o que é inconsciente precisa se
tornar consciente. A 1ª tópica é conhecida como modelo Topográfico.
2ª. Hipótese Estrutural: Freud divide a mente em Id, Ego e Superego.
Paradigma: onde há Id precisa haver Ego.
Em 1920, Freud adiciona a 2ª tópica, ela é conhecida como modelo
Estrutural.
Diferença entre a 1ª e a 2ª Hipótese: a 2ª hipótese é mais dinâmica.
Id é onde residem os impulsos. Ego é onde a mente interage com o
ambiente e onde os impulsos do Id são intermediados com os preceitos
morais do Superego. Superego é onde residem os preceitos morais.
As funções do Ego são o controle motor, a percepção sensorial, as
lembranças, os sentimentos e os pensamentos.
A Prova da Realidade é uma função do Ego que consiste em distinguir os
estímulos do ambiente (externos) dos impulsos e desejos do Id (internos).
Os fatores de desenvolvimento gradativo do ego são dois: o crescimento
físico sistema nervoso central (maturação) que é geneticamente
determinado e os fatores experienciais.
O corpo do bebê tem uma importância fundamental para o
desenvolvimento do Ego, pois, diferente dos demais objetos, o corpo não
é apenas sentido, mas também sente. Isso define o Ego corporal.
Identificação é o processo que enriquece o ego para melhor ou para pior.
A identificação com o agressor ocorre quando um objeto é catexizado pela
energia agressiva e o indivíduo sente satisfação de participar ele próprio,
pelo menos em fantasia, do poder e da glória que atribui ao seu oponente.
O Superego é formado durante o complexo de édipo, como subproduto do
medo da castração – é uma instância psíquica que se separou do ego. É
a internalização simbólica da figura paterna e da cultura ideal. O
Superego age como consciência, mantendo o senso de moral e de
proibição, e por tender a ficar em constante oposição aos desejos do Id
acaba sendo agressivo com o Ego. Diz ‐ se que o Superego é o herdeiro do
complexo de édipo por sua formação estar marcada pelas proibições
paternais que impedem a realização dos desejos incestuosos dessa fase.
Ele emerge da solução dada pela criança a esse impedimento, na forma
da introjeção dos pais para si (identificação).
O Superego também encontra a energia para sua formação no sentimento
de hostilidade da criança para consigo mesma.
As três funções principais do Superego são:

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▪ Auto‐observação;
▪ Consciência moral – responsável pela culpa;
▪ Formações ideais – responsável pelo sentimento de inferioridade.
Ideal do Ego é uma subdivisão do ego, relativamente autônoma, que
surge com a perda do narcisismo individual e permite a submissão de
grupos à figura de um líder.
Ego Auxiliar são objetos do Superego que se organizam como aliados do
Ego, estabelecendo limites e impondo valores de forma não agressiva
Processo primário é o modo original como funciona aparelho psíquico,
característico de um Ego imaturo. No processo primário a energia
psíquica se desloca e descarrega no Id ou no Ego imaturo.
A tendência a gratificação imediata, a facilidade com que a catexia pode
ser deslocada do objeto original ou a facilidade com que um método de
descarga pode ser substituído por outro são características do processo
primário.
O deslocamento está ligado ao modo como o Ego originalmente se
manifesta, até evoluir e se tornar capaz de retardar a descarga da energia
catéxica.
O pensamento do processo primário é ilógico, atemporal, confuso, não
verbalizado e sem sequência.
São três os aspectos do pensamento do processo primário:
1-Deslocamento: uma parte representa o todo ou o todo representa uma
parte de uma ideia ou objeto.
2-Simbolismo: linguagem inconsciente para objetos e ideias proibidas.
3-Condensação: várias ideias são representadas por uma ideia ou parte
de uma ideia.
Renegação: o indivíduo acredita em nível inconsciente ter sofrido a
castração, sem ter sido deveras castrado.
Perverso polimórfico: é a capacidade de utilizar qualquer tipo de objeto
como fonte de prazer. É característico das fases iniciais do
desenvolvimento psicossexual, a catexia fica dispersa em vários órgãos.
O processo secundário é o modo característico de funcionamento do Ego
maduro. São características do processo secundário o pensamento
consciente, primariamente verbal que obedece às leis habituais da
sintaxe e da lógica.
Neutralização é colocar a energia de um impulso a serviço do Ego. No
processo primário a energia do impulso não é neutralizada. No processo
secundário a energia do impulso é neutralizada.

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A frustração é importante para a maturação e desenvolvimento do Ego


pois estabelece os limites entre o "eu" e o "não eu".
O Ego pode opor‐se aos impulsos e desejos do Id, e até mesmo combatê‐
los. O desenvolvimento do Ego determina inevitavelmente um certo grau
de enfraquecimento do Id.
Os processos de gratificação fantasiosa são devaneios ou sonhos onde os
desejos do Id se encontram parcialmente realizados, trazendo uma certa
gratificação.
O Princípio do Prazer é a tendência da mente em obter prazer e evitar o
desprazer. O Id é dominado pelo princípio do prazer e pelo processo
primário.
É importante notar a diferença entre o princípio do prazer e o processo
primário: o processo primário é objetivo, enquanto o princípio do prazer
é subjetivo.

Duas teorias da ansiedade

1ª. Teoria da Ansiedade: a ansiedade seria resultado da transformação


da libido represada.
2ª. Teoria da Ansiedade: a ansiedade seria consequência da influência de
estímulos que podiam emanar dos impulsos ou do ambiente.
A ansiedade é causada por estímulos internos do Id ou externos do
ambiente que ficam represados e não são adequadamente assimilados
pelo Ego, dando origem a uma situação traumática.
Ansiedade de alarme é uma função do ego que visa prevenir o trauma por
meio da antecipação da ansiedade de uma situação traumática, em uma
situação de perigo ou de perigo eminente.
A função normal da ansiedade é permitir ao Ego inibir os impulsos e
desejos perigosos do Id.

Mecanismos de defesa do aparelho psíquico


Defesa (atividade defensiva do Ego) é o controle exercido pelo Ego sobre
os impulsos do Id, usando a ansiedade que age sobre o "onipotente"
princípio do prazer.
Contracatexia é a energia empregada pelos mecanismos de defesa e que
faz oposição às catexias.
Supressão: atividade consciente de "esquecer" um conteúdo.
Principais mecanismos de defesa:

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Repressão: atividade inconsciente em que um conteúdo é bloqueado ao


acesso do consciente.
Formação reativa: transformar um sentimento em seu oposto.
Isolamento do sentimento: uma fantasia ou pensamento aparece no
consciente isolada de seu respectivo sentimento.
Anulação: ação que visa anular suposto dano.
Projeção: atribuir impulso ou desejo seu a outra pessoa.
Voltar‐se contra si próprio: utilizar‐se como meio de gratificação a um
impulso destrutivo.
Negação: negar a realidade externa.
Identificação: introjetar as características de outrem.
Regressão: voltar a uma fase anterior relacionada ao trauma que
desencadeia o mecanismo.
Sublimação: gratificar os impulsos por meio de uma atividade produtiva
e aceita pelo Superego.
Os mecanismos de defesa raramente são empregados de modo isolado ou
mesmo aos pares, ao contrário, muitos são usados em conjunto. Em geral
um ou dois mecanismos sobressaem‐se como sendo os mais importantes.
As transformações sofridas pelo ego
Segundo Freud não haveria ego no recém‐nascido, no início apenas o Id
está presente. Melanie Klein e outros autores, refutam essa ideia, para os
pós‐freudianos o ego é inato.
O Ego Arcaico (ou Ego do prazer puro) já permite interação com o mundo
exterior, mas é incapaz de diferenciar o "eu" do "não eu" por não possuir
condições neurobiológicas para tanto. Nesta fase o bebê expele (projeta)
tudo que for desagradável e retém (introjeta) tudo o que for agradável.
No Ego da Realidade Primitiva persiste a indiscriminação entre o "eu" e o
"outro", a realidade exterior. O processo de representações no ego está
em pleno andamento.
O Ego da Realidade Definitiva é o estágio em que a criança procura
reencontrar no exterior um objeto real que corresponda à representação
de um objeto primitivamente satisfatório e perdido.
As funções do ego
Freud definiu o Ego como sendo um conjunto de funções e de
representações a nível inconsciente e consciente. Na Psicanálise Clássica
a preocupação era com os conflitos que se processavam no plano
inconsciente entre as pulsões e as defesas; já na Psicanálise

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Contemporânea Vincular, embora persista a valorização da abordagem


clássica, é concedida grande importância a muitos outros aspetos do
plano consciente.
As Funções Egóicas apresentam implicações inconscientes, mas
manifestam‐se principalmente no plano consciente. Estão intimamente
ligadas aos órgãos dos sentidos, contatam diretamente a realidade
externa com a finalidade adaptativa.
As funções inconscientes do Ego são os mecanismos de defesa e a
ansiedade.
Atividades com participação consciente do Ego:
Percepção: é como o indivíduo percebe o mundo exterior e a possível
intenção dos outros, e como o indivíduo percebe a si próprio.
Pensamento: a capacidade para pensar de forma eficaz tem origem no
plano inconsciente do ego. Depende da capacidade do sujeito se deprimir
para possibilitar a formação de símbolos que permitam a generalização e
abstração do pensamento. O ato de pensar requer o estabelecimento de
confrontos e correlações entre ideias, fatos presentes e passados e entre
aspectos contraditórios de si mesmo.
Juízo Crítico: supõe a capacidade do ego em articular e discriminar
diversos pensamentos que são separados entre si, relaciona‐se a
capacidade de raciocínio (articulação de diversos juízos).
Capacidade de Síntese: consiste em juntar e integrar os mesmos
elementos que estão sendo pensados, mas com um novo arranjo
combinatório de modo a possibilitar um novo significado.
Conhecimento: função egóica importante na prática psicanalítica pois
permite tomar ciência das verdades penosas, externas e internas.
Linguagem e Comunicação: dá boa ou má resolução das funções do
pensamento e conhecimento, e resultará na qualidade da estrutura
linguística e comunicacional.
Ação: função do ego que se refere ao plano comportamental. Depende da
harmonia entre as funções de pensamento de conhecimento com as
funções de conduta (ação). A falha nesta função egóica acarretará na
reprodução das vivências de impotência infantil e na descarga da
ansiedade na forma de actings e de condutas sintomas.
Diferença entre a visão Psicanalítica da visão Behaviorista do
comportamento: os Psicanalistas valorizam a participação do Ego (mundo
interior) na conduta do indivíduo, já os Behavioristas preocupam‐se
apenas com os estímulos positivos e inibitórios provenientes do
ambiente, que geram a resposta ou conduta exterior.

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Atividades com participação inconsciente do Ego:


Formação de ansiedade: divide‐se em dois tipos de angústia. A angústia
automática ocorre quando há um excesso de estímulos que o Ego não
consegue processar e, por isso, reprime‐os. A angústia sinal é concebida
como "sinal" emitido pelo ego diante de uma ameaça, para então
processar‐se a repressão.
Mecanismos de defesa, também são uma atividade inconsciente do Ego.
Ansiedades e angústias identificadas por Freud
Ansiedade: receio sem relação com qualquer contexto de perigo de causa
psicológica inconsciente.
Angústia: ansiedade ou aflição intensa.
Angústia de Nascimento: situação traumática primal.
Angústia de Desamparo: deriva da incapacidade do ego em processar os
traumas psíquicos e pode ser considerada como o protótipo de todas as
demais angústias. Manifesta‐se com uma terrível sensação de desvalia e
abandono.
Angústia de perda: ocorre em momentos de separação do objeto
catexizado.
Angústia de perda do amor dos pais: ocorre no complexo de édipo e é
importante no desenvolvimento psicossexual da criança.
Angústia de castração: também ocorre no complexo de Édipo. Quando
mal resolvida pode gerar problemas como insegurança.
Angústia de culpa e medo diante do Superego: ameaça de punição em
nível de vida mental caso houver transgressão do código de valores
impostos pelo Superego.
Angústia devido à presença do instinto de morte (thanatos): desejo inato
ao ser humano de autodestruição.
1ª. Teoria da Ansiedade: a ansiedade é resultado da descarga de um
represamento inadequado da libido. A ansiedade era a libido
transformada em uma manifestação patológica.
2ª. Teoria da Ansiedade: a ansiedade é o problema central da neurose e
tinha uma base biológica herdada. Sendo o ego o local de todas as
emoções, a ansiedade deveria, portanto, ser sentida no ego. Quanto mais
desenvolvido for o ego mais ele será capaz de dominar ou descarregar os
estímulos produzidos quer sejam eles de ordem interna ou externa. A
situação se tornaria traumática apenas quando esses estímulos
superarem a capacidade do ego de digeri‐los adequadamente.

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Diferença entre a 1ª Teoria da Ansiedade e a 2ª Teoria da Ansiedade: na


primeira teoria a ansiedade é originada por estímulos internos, na
segunda teoria a ansiedade pode tanto ser originada por estímulos
internos quanto externos.

Mecanismos de defesa do ego


São processados pelo Ego e são praticamente inconscientes. Quanto mais
imaturo e menos desenvolvido estiver o ego, mais primitivas e carregadas
de magia serão as defesas. O mecanismo fundamental do ego é rejeitar
de qualquer forma a vivência e a tomada de conhecimento de experiências
emocionais ansiogênicas.
A importância dos mecanismos de defesa: todos os mecanismos de defesa
participam do enriquecimento do Ego, ou seja, são estruturantes para a
época do seu surgimento. A forma e o grau do emprego destes
mecanismos diante da ansiedade é que vai determinar a natureza da
formação de uma normalidade ou patologia nas diferentes estruturas
psíquicas.
Símbolos
A Formação de Símbolos é uma capacidade exclusiva do ser humano e é
por meio dela que a criança terá acesso a outras capacidades de
conceituar, generalizar, abstrair, verbalizar, construir metáforas e criar,
sendo que a aquisição e a verbalização da palavra que designa fatos e
ideias – característica do processo secundário – representa um dos mais
nobres símbolos.
Identificação
Identificação é a aquisição de um sentimento de identidade coesa e
harmônica resulta do reconhecimento e da elaboração de diferentes
identificações parciais que foram sendo incorporadas aos indivíduos pela
introjeção dos valores dos pais que, por sua vez, transmitem os valores
que assimilaram da sociedade.
Dois tipos de identificação:
1.Proto‐identificação: tem natureza arcaica e divide‐se em 4
modalidades:
•Adesiva - quando há uma fusão e não se forma uma identificação
acompanhada de uma necessária individuação (o indivíduo absorve a
característica como ela é, sem adaptá‐la à sua subjetividade).
•Especular - comum na infância quando a criança comporta‐se como se
fosse uma mera imagem que só reflete os desejos da mãe.

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•Aditiva - quando o indivíduo não encontra sua identidade própria e


torna‐se dependente de certas pessoas que complementam as lacunas de
sua personalidade.
•Imitativa - que é a identificação saudável, quando a criança introjeta as
características sem anular‐se, sem tornar‐se dependente, e adaptando‐as
às suas subjetividades.

2.Identificação propriamente dita: é aquela que resulta dos processos


de introjeção de figuras paternais dentro do ego sob a forma de
representação objetais ‐ símbolos ‐ e no superego.
Tipos e causas das identificações propriamente ditas:
•Com a figura amada e admirada, tipo mais sadio e harmônico de
identificação;
•Com a figura idealizada, costuma ser frágil devido à pequena tolerância
às decepções e custa ao indivíduo um esvaziamento de suas capacidades
afetivas;
•Com a figura odiada, que configura a identificação com o agressor;
•Com a figura perdida, base do processo depressivo;
•Com a figura que, na realidade ou na fantasia, foi atacada identificação
com a vítima;
•Com valores impostos pelos pais, mais evidente ao final do complexo de
édipo.
A identificação pode se dar por meio da projeção, onde características do
próprio indivíduo que, de início, não podem ser assimiladas por ele, são
projetadas em outrem para então serem introjetadas.
A aquisição do sentimento de identidade se dá em vários planos ‐ sexual,
social, profissional ‐ e inicia‐se com as múltiplas identificações parciais
ou totais, saudáveis ou não. A identidade sofre contínuas transformações
ao longo da vida. Existem vários transtornos do sentimento de
identidade, tais como os normais ‐ como a adolescência ‐, até as formas
patológicas que aparecem em indivíduos psicopatas.
“Falso Self” é uma percepção errada que o indivíduo possui de si mesmo,
que o leva a agir de maneira diferente àquela que seria de se esperar de
sua formação.
Difusão de identidade é quando o indivíduo projeta suas características
nos outros e as encontra de maneira desintegrada em si mesmo.

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DISCIPLINA 2: A PSICANÁLISE E A PSICOTERAPIA


CONCEITO GERAL
O ser humano ao suportar os sofrimentos de toda espécie, provocados
pelas dificuldades diárias, encontra-se com uma bagagem de
conhecimentos trabalhosamente adquiridos na escola, no trabalho, na
família, na prática, que nada lhe servem ante o inimigo que, lentamente
abala sua saúde, deixando-o exposto a todos os tipos de desequilíbrios
mentais, que seguramente abalarão sua saúde física.
Mas como querer que o ser humano tenha equilíbrio emocional e viva
com saúde, se ele convive com problemas sociais e econômicos que o
afligem; com a busca desenfreada por uma melhor sorte, a ambição
desmedida, os excessos sexuais, o ódio, o amor, a inveja, o orgulho
totalmente descontrolados; que debilitam o sistema nervoso, levando ao
estresse e perturbando as funções fisiológicas.
Então estando doente, o homem procura auxílio na medicina, achando
que recuperará a saúde tomando remédios, o que além de não solucionar
o problema, porque este, está em sua parte mental, ainda tem efeitos
colaterais...
A volta à normalidade, é conseguida somente com um tratamento
completo: da mente e do corpo, para que se restabeleça a harmonia. O
tratamento em casos graves deve ser acompanhado por um médico e um
psicoterapeuta E OU PSICANALISTA, porque um complementa o outro;
porque as doenças psicossomáticas são alterações funcionais psíquicas
ou imaginárias que acometem uma pessoa.
Nem sempre as pessoas procuram auxílio psicanalítico ou
psicoterapêutico, existe uma resistência muito grande por parte de
algumas pessoas por causa da falta de informação e do preconceito. O
medo de ser considerado "louco" faz com que muitas pessoas que
deveriam receber este auxílio se esquivem dele.
A psicanálise, no entanto, encanta certas pessoas, que acham “chique”
estar fazendo terapia, dá "status", e nem mesmo tem ideia do valor do
tratamento em si. Outras pessoas acham que em uma única sessão de
psicoterapia, vão encontrar a fórmula mágica para resolver todos os seus
problemas de uma vez. Como isso não acontece, elas acabam
depreciando o tratamento.
A psicoterapia tradicional ou análise, leva de três a 10 anos de acordo
com o problema do paciente, o que às vezes a torna onerosa demais e
pouco conveniente para a maioria.
Hoje contamos com uma nova modalidade de psicoterapia: a Psicoterapia
Breve, que leva de dois meses a um ano conforme o caso. Mais rápida e
acessível que a psicoterapia tradicional e a psicanálise; a chamada

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psicoterapia breve vem ganhando mais espaço e aceitação a cada dia,


pelo alívio a curto prazo para as dificuldades específicas.
Ela prevê um número fixo de sessões semanais, e trabalha com um
objetivo específico, que pode resolver desde uma crise no casamento até
problemas com os filhos. Funciona também para tratar de crises
familiares, crises de identidade, fobias, bulimia, etc.
Há basicamente dois tipos de psicoterapia breve: a de orientação
psicanalítica e a de orientação cognitiva ou comportamental. A maior
diferença entre elas está na forma como o terapeuta interpreta os
conflitos e nas tarefas que prescreve como lição de casa.
A relação psicoterapêutica de ajuda, nada mais é que um relacionamento
de confiança entre psicoterapeuta e cliente; onde é permitido ao cliente
ser ele mesmo com suas qualidades e defeitos, sem nenhum tipo de
recriminação e julgamento. Onde o cliente tem a chance de se ver como
realmente é, de sentir, saber e escolher o que deve mudar.
A psicanálise é um trabalho de autoconhecimento em um nível mais
profundo, levando o ser humano de encontro consigo mesmo, o que nem
sempre ocorre de maneira suave e tranquila. Sempre há sofrimento ao
liberar as emoções mais profundas e trabalhar com elas, para que se
restabeleça a harmonia.
Mas a psicanálise e a psicoterapia sendo tão antigas, ainda são um
tratamento moderno por excelência; muito embora seja confundida por
leigos com as outras formas de terapias, por falta de informações do que
é "Psicoterapia" e "Psicanálise". O analista deve conhecer bem todas as
psicopatologias que acometem as pessoas, diferenciá-las para saber
avaliar quando o caso é somente psicológico ou também precisa do
tratamento psiquiátrico convencional. Isso é muito importante! Esta é
uma área em que a vaidade do profissional jamais deve ofuscar a busca
de uma solução para o bem-estar do paciente.
A psicanálise e a psicoterapia devem ser buscadas sempre que
necessário, de preferência de livre vontade do paciente, e levada à sério,
pois a busca de si mesmo é um caminho que exige dedicação e esforço,
para se reencontrar o equilíbrio físico-emocional resolvendo os problemas
em suas causas, não somente os sintomas superficiais.

Histórico da psicanálise
O fundador da Psicanálise foi um médico austríaco, Sigmund Freud,
nascido em 1856, nas proximidades de Viena, cidade onde estudou
Medicina.
Terminado esse curso, Freud dirigiu-se a Paris desejando especializar-se
em Neurologia (parte da medicina que estuda as doenças do sistema

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nervoso). Tornou-se então, aluno do Dr. Charcot, que exerceu sobre ele
influência decisiva, principalmente em dois pontos:
a-Charcot acreditava que as doenças mentais eram originadas de certos
fatos passados na infância dos indivíduos doentes.
b-Para fazer com que seus pacientes narrassem fatos do seu tempo de
criança, Charcot usava a hipnose. O conhecimento de certos episódios
emocionais da infância dos indivíduos ajudaria o médico a descobrir as
causas de suas doenças.
Voltando para Viena, Freud associou-se ao Dr. Breuer. Ambos usavam o
método de Charcot, isto é, hipnotizavam seus doentes de modo que
contassem fatos de sua infância. Esse relato tinha dois efeitos: fornecia
dados que auxiliavam o médico no diagnóstico da doença e aliviavam o
paciente libertando-o de alguns sintomas, tais como: angústia, agitação,
ansiedade, etc. Chamavam esse método de "catarse". Notaram, porém
que essa cura era transitória, logo apareciam outros sintomas de
perturbação. Freud e Breuer trabalharam juntos em alguns casos, sem
empregar a hipnose. Após terem captado totalmente a confiança do
paciente, levavam-no a relatar seu passado em estado normal.
Notaram que ocorria muitas vezes, o fenômeno chamado "transferi:" ou
"transferência afetiva”. Quase sempre acontecia do paciente transferir ao
médico suas emoções, ora afeiçoando-se a ele ou aborrecendo-se com ele.
Método Psicanalítico
Em 1922, Freud definiu a psicanálise da seguinte maneira:
1. um procedimento que serve para investigar processos
anímicos dificilmente acessíveis por outras vias;
2.um método de tratamento das perturbações neuróticas, fundado nessa
investigação;
3.uma série de concepções psicológicas, obtidas por esse caminho, que
pouco a pouco foram se constituindo em uma nova disciplina científica.
Freud, portanto, caracteriza a psicanálise em função de uma teoria, um
método e uma técnica. Define-se como TEORIA o sistema conceitual
dentro do qual é pensado o objeto de que a teoria pretende dar conta.
Uma teoria se constrói a partir dos fenômenos, tentando revelar o sistema
que os produz. A partir do sintoma, do sonho e do ato falho, Freud
constrói uma teoria do aparelho psíquico. A teoria do inconsciente e de
seu funcionamento é o conceito central, mas é toda a articulação
conceituai que permite voltar aos dados (movimento aparente) e entender
sua gênese (movimento real).
O valor de uma teoria não é dado por sua coerência interna, mas por sua
capacidade explicativa dos fenômenos. O conhecimento científico

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ultrapassa o nível de reconhecimento dos efeitos, para produzir os


conceitos adequados que expliquem como esses efeitos são produzidos a
partir de uma determinada estrutura. Deve descobrir a configuração
subjacente que gera o sensível.
São os conceitos exercitados, aplicados, realizados em efeitos concretos
em um processo terapêutico que decidem o valor teórico da psicanálise.
Assim como uma ciência contém um sistema conceitual teórico, no qual
é pensado seu objeto, contém também um método que expressa a relação
que a teoria, em sua aplicação, tem como seu objeto.
O MÉTODO em psicanálise é a ASSOCIAÇÃO LIVRE, e possibilita a
passagem de uma teoria geral de um processo (teoria da elaboração
onírica) para a compreensão de um fenômeno particular. Ou num nível
mais amplo, a passagem de uma teoria geral do sujeito para o estudo de
um sujeito singular e das determinações que o constituem. Se uma teoria
carece de método, é uma teoria especulativa e corre o risco de converter-
se em dogma. É então a relação entre objeto teórico (teoria do
inconsciente), com sua objetivação como método (associação livre,
atenção flutuante) e determinação de uma técnica, o que permite
transformações e articulações sobre a realidade.
O método psicanalítico consiste em uma forma de estruturação do
material sobre a base do reconhecimento dos mecanismos psíquicos.
Nunca uma investigação é passiva. Freud não observou sonhos melhor
que os outros investigadores que o precederam, mas aplicou aos sonhos
o método de associação livre, e isso lhe permitiu produzir um novo
material, o conteúdo latente, que agregado ao conteúdo manifesto,
possibilitou a descoberta das leis que regem a elaboração onírica. Por isso
dizia que nunca uma investigação é passiva. Ela só se realiza com o
controle de sistemas teóricos que determinam as regras de observação e
de seleção, em uma montagem técnica que constitui o campo
experimental: o dado se constrói.
Qualquer prática deve determinar as matérias primas, os instrumentos
transformadores e o efeito pertinente que lhe é exclusivo como produto.
A matéria prima com que se trabalha em análise são as palavras, atos,
produções imaginárias de um sujeito no interior da situação
psicanalítica. Tudo isto remete a uma realidade psíquica. Alguns
instrumentos com os quais o analista trabalha são específicos, como as
interpretações e as construções, e outros inespecíficos, como os
esclarecimentos, as confrontações e outros tipos de intervenção.
A interpretação tem por meta descobrir o conteúdo latente encoberto pelo
conteúdo manifesto, assinalando a modalidade do conflito defensivo e
apontando em última instância, para a análise das ansiedades e desejos
através das fantasias inconscientes que as encarnam.

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O analista interpreta em função de uma tripla determinação: o que


consegue escutar do que é falado pelo paciente (via atenção flutuante), o
que incorporou do sistema conceituai e que determina sua forma de
privilegiar o material em função dos eixos referenciais básicos e, por
último, pela contratransferência, cuja percepção e utilização
instrumental é possível pelo conhecimento, sempre relativo, que o
analista tem de seus próprios processos inconscientes. Assim evitará
sobre determinar a realidade transferencial com seu próprio imaginário
narcisista. O específico da escuta analítica é poder interpretar um
discurso para além do narcisismo do analista, discurso que sempre deve
ser escutado em sua singularidade. Não seria arriscado dizer que
conseguir, verdadeiramente, uma possibilidade de atenção flutuante é a
única meta legítima da análise do analista, mal chamada de análise
didática.
Portanto, fazer psicanálise não é só possuir um instrumento teórico, não
é só ter um paciente que cumpre a regra fundamental, que às vezes pode
ser simplesmente um ritual, não é só estar alerta às vivências que o
paciente desperta, mas é a articulação de todos esses elementos que
tornará possível o processo analítico. Tomando um aspecto, se a relação
que o analista tem com a teoria é excessiva, metaforizando, se ele se
caracteropatizou em sua teoria, só vai escutar do paciente o que leu
anteriormente nos livros.
Se o analista tem uma relação privilegiada com a contratransferência,
inevitavelmente converterá a análise em um intuicionismo, em uma
comunicação de inconsciente para inconsciente, em uma leitura projetiva
onde a realidade transferencial, em vez de estar primordialmente
determinada pela realidade psíquica do paciente, será determinada pela
realidade psíquica do analista. Por fim se fica capturado pelo paciente,
não há o lugar terceiro a partir do qual possa sair do circuito, imaginário.
A psicanálise não consiste em explicar todo fenômeno por sua redução
ao edípico, ao pulsional ou à castração. Contudo é necessário situar cada
fenômeno, esclarecendo seu lugar e seu papel no interior do sistema
concreto onde necessariamente se produz, dando conta da lei que
possibilita sua emergência em função do conjunto de condições e no
contexto da vida atual do paciente.
O outro instrumento técnico que é a castração, com a qual se tenta
descobrir situações históricas do paciente que possam estar
determinando seu padecer atual. Tanto as interpretações como as
construções devem ser inseridas no processo terapêutico e vinculadas a
outro conceito técnico, que é o conceito de elaboração. Uma TÉCNICA
não pode ser compreendida nem, portanto, aplicada se os conceitos que
a fundamentam são desconhecidos. Toda prática tem um efeito que lhe é
específico. No caso da psicanálise, isto abre a questão do projeto
terapêutico. Mencionando algumas das propostas que Freud foi

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elaborando ao longo de sua experiência: fazer consciente o inconsciente,


resolver fixações infantis onde era o isso o eu deve advir, colocar menos
energias a serviço das defesas, ter mais capacidade de realizar
sublimações e, em última instância, melhorar as transações que o eu
deve fazer constantemente ante as exigências contraditórias que lhe
impõem o isso, o supereu e a realidade exterior. Esse é um tema muito
vasto, que neste momento só quero apontar como problemático.
Costumam-se diferenciar dois tipos de critérios em relação ao projeto
terapêutico:
1.critérios metapsicológicos: fazer consciente o inconsciente, levantar as
resistências, maior plasticidade do eu, reforço do eu (na escola
americana), des-ser destituição subjetiva (na escola lacaniana) etc.
2.critérios clínicos: desaparição de sintomas, adaptação, criatividade,
satisfação nas relações objetais, nos trabalhos profissionais, na
sexualidade.
Resumindo:
Freud começou então a trabalhar sozinho criando um método, chamado
"Psico-análise" ou "Análise da mente”, hoje chamado de "Psicanálise".

Esse método é composto por três técnicas:


a- Técnica da associação livre
b-Técnica da análise dos sonhos
c-Técnica da análise dos atos falhos

A técnica da associação livre: Freud ganhava a confiança dos pacientes,


depois os fazia ficarem em repouso. Geralmente em uma sala silenciosa.
Ficava à sua cabeceira, sem encará-lo e pedia que contasse os fatos de
sua vida dos quais se lembrasse. Essa técnica chama-se associação,
porque Freud pedia ao paciente que mencionasse os fatos conforme lhe
ocorressem, conforme fossem se associando uns aos outros em sua
mente. Quando ocorriam pausas no decorrer dos relatos, Freud chamou-
as de "resistência", e explicou resultarem do desejo do paciente ocultar
alguma coisa do psicanalista ou de si mesmo. O estudo das resistências
é importante para a descoberta da causa dos sintomas que afligiam o
paciente, para fazer o diagnóstico de sua doença mental. Muitas vezes o
paciente se sentia aliviado; em outras ao contrário, passava por crises
emocionais profundas por reviver certos fatos de sua vida. O emprego
dessa técnica, portanto oferece dois resultados: faz a catarse de alguns

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sintomas e auxilia o psicanalista a descobrir as causas da perturbação


mental (diagnóstico).
A técnica da análise dos sonhos: Freud pedia que o paciente relatasse o
que sonhava. Certos aspectos da mente das pessoas ficavam mais bem
conhecidos pela interpretação que Freud fazia de seus sonhos. Em 1990,
foi publicado o mais famoso dos livros de Freud: A interpretação dos
sonhos.
A técnica da análise dos atos falhos: era chamada assim por Freud e
outros psicólogos, por causa dos esquecimentos ou lapsos de linguagem;
enfim certos atos que praticamos e que, aparentemente não tínhamos a
intenção de praticar. Analisando esses fatos, o psicanalista compreendia
melhor certos sintomas apresentados pelos doentes.
Poder-se-ia fazer um enorme inventário de critérios de cura em
psicanálise. Como síntese provisória, poderíamos dizer que para Freud,
o projeto terapêutico teria por finalidade:
1.uma redução quantitativa do espaço psíquico sob a égide do
inconsciente;
2.permitir que o eu submeta a seus próprios fins uma parte dos desejos
inconscientes, possibilitando recursos sublimatórios e tendo um prazer
sexual e relacional realizável com outros reais, que não sejam, fonte de
conflito;
3.mudar a relação presente entre o eu e os efeitos do recalcado que
retorna;
4.transformar a organização fantasmática, quer dizer, alguns dos
conteúdos inconscientes, de forma que percam sentido as inibições, as
defesas, a angústia, os sintomas e os estereótipos caracteriais a que o eu
se via obrigado a recorrer.
Uma teoria que não tenha método e técnica não tem campo de
confrontação, já que através da aplicação técnica, surgem novos
materiais que permitem retificar, reelaborar e ampliar o campo teórico.
Da mesma forma, uma técnica que não esteja baseada em um
conhecimento teórico daquilo que pretende transformar gera uma prática
cega que se esteriliza. O ideal deveria ser que, em sua aplicação técnica,
a psicanálise seja uma prática de sua teoria.
Uma vez colocada à impossibilidade de separar os preceitos técnicos do
sistema conceitual do qual essa técnica é feita, nosso objetivo, será
estudar os fundamentos da PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA.
Fundamentos - princípio, razão, origem - aquilo que está na base de todo
o operar em psicoterapia psicanalítica, a racionalidade que determina as
condutas técnicas.

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Tomemos qualquer dos conceitos técnicos: resistência, transferência,


interpretação, construção, elaboração, repetição, contratransferência,
atenção flutuante, associação livre. Qualquer um deles só é inteligível,
como conceito técnico, por sua solidariedade com o sistema conceituai a
que pertence.
Tomemos a resistência como exemplo. Freud descreve a resistência como
aquilo que se opõe à associação livre. Foi primeiro, uma descoberta
empírica: ao abandonar a hipnose, Freud descobre uma força que se opõe
ao recordar e postula que deve ser a mesma força que obrigou ao
recalcamento. Tenta manobras técnicas, como a mão na frente, postula
que só o trabalho do terapeuta pode se contrapor à força da resistência.
O abandono da hipnose se tornou evidente que a tarefa terapêutica não
é uma aventura epistemofílica, como quem descobre novidades e coisas
prazerosas, mas se dá em um magma de angústia, de conflito, de
desprazer. Porém poderíamos ficar tranquilos com isso e pensar que
conhecemos o conceito de resistência.
Freud descobre cinco tipos de resistência:
1.uma resistência por benefício secundário, que implica toda uma
elaboração da teoria do sintoma, do benefício primário, da tendência do
eu à egossintonia, da possibilidade que o eu tem de converter um sintoma
em traço de caráter e dos benefícios intersubjetivos e narcisistas que isso
pode lhe trazer.
2.uma resistência por recalcamento, que é a descrita desde o início.
3.uma resistência por transferência, que já supõe uma elaboração do
fenômeno transferencial como campo de repetição que, por sua vez, é um
instrumento, mas que em alguns casos o repetir no aqui e agora torna-
se um obstáculo para que o paciente apreenda as determinações
históricas que tornam inteligível essa repetição.
4.uma resistência do isso, que implica uma elaboração quanto à pulsão
de morte, a compulsão à repetição, a fixação, a viscosidade da libido, etc.
5.uma resistência do supereu, ligando-a ao sentimento inconsciente de
culpa, a necessidade de castigo, a reação terapêutica negativa, etc.
Só para concluir: não é possível estudar a técnica isolada da teoria geral
que dá conta dessa sub-região chamada teoria da técnica.
Habitualmente costuma-se ensinar teoria psicanalítica de acordo com
dois modelos:
O primeiro é o modelo hipotético-dedutivo, que apresenta a teoria como
um todo acabado, coerente, que vai desde as hipóteses mais abstratas
até as mais específicas; em geral são exposições dogmáticas que deixam
de lado os pontos obscuros que requerem maior elaboração. A obra de

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Freud apresenta uma assimetria relativa, não é um todo compacto,


homogeneamente estruturado.
O segundo é o método histórico-crítico. no qual a partir da teoria já
desenvolvida, tenta-se reconstruir o momento de gênese de cada conceito
e seu posterior processamento intrateórico.
Assim quando estudamos um texto, a primeira coisa que devemos fazer
é contexturizá-lo, situá-lo em um momento teórico e em um campo
problemático. Sem um eixo de coordenadas referenciais não é possível
uma leitura sintomática, na qual concebe-se o texto como sintomas a
decifrar, sintoma de uma problemática a partir da qual o texto se torna
inteligível. Na leitura de qualquer autor, é necessário combater outro mito
que é o de considerar que o pensamento amadurece, e que o posterior
cronologicamente sempre supera o anterior. A história de uma teoria não
tem curso linear. Processa-se mediante rupturas e mutações, passa por
conjunturas críticas e pode desviar-se esterilmente. Um pensamento
teórico pode ter regressões em função de importações conceituais ou
ideológicas. No Freud dos últimos anos, por exemplo, há um biologismo
que pode ser criticado, uma naturalização do isso.
A psicanálise para Freud é uma técnica, um método terapêutico e um
conjunto de concepções psicológicas convertendo-se em uma
cosmovisão, em uma ideologia relevante frente à crise ideológica. Isso faz
com que em muitos pacientes, encontremos não um branco em sua
história, mas um texto que vem recobri-la, texto que repete a
conceitualização psicanalítica em voga e conta a história da infância, não
de sua infância. A amnésia infantil está substituída pelo anonimato de
um texto que a cultura institucionalizou. Em tais meios, o compromisso
analítico formaliza-se entre dois crentes da psicanálise: o primeiro por
ser herdeiro do saber do texto e o segundo, por ser o herdeiro de uma
cultura que concede um lugar a esse saber. Assim como Freud se
ocupava em definir pacientes com um alto nível de resistência e um baixo
nível de resistência; hoje se poderia falar de pacientes com alto nível de
crença e baixo nível de crença. Nos pacientes com alto nível de crença, o
discurso teórico se duplica no objeto, o que gera um reenvio recíproco
alienante. Ambos os membros do par psicanalítico ilustram o que os
textos dizem, estão ambos capturados em uma engrenagem ideológica e
têm a ilusão, só a ilusão de descobrir algo singular.
Nosso século de ciência e técnica é desesperadamente religioso, esse
apetite que, sob forma de crenças mais ou menos sofisticadas pode
utilizar o resto diurno que a psicanálise lhe oferece. Nessas
circunstâncias a psicanálise não é a colocação em prática de uma
experiência singular, mas um cerimonial feito por dois praticantes do
mesmo ritual.

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A obra de Freud é complexa, não há como simplificá-la, ainda que se


possa organizar sua leitura. Num primeiro passo, situaremos o processo
de aprendizagem da obra de Freud. Num segundo passo é a leitura dos
textos chaves, aqueles que nas Associações Psicanalíticas são definidos
como Escritos Básicos de Freud. Um terceiro passo é um trabalho sobre
as regiões teóricas: teoria do aparelho psíquico, teoria das pulsões, teoria
da identificação, psicopatologia, teoria da técnica, teoria do narcisismo.
Um quarto passo implicaria no trabalho sobre alguns conceitos.
Um quinto passo, inevitável, que é o de mergulhar na atualidade da
psicanálise.
Nessa atualidade, é impossível desconhecer os aportes dos autores pós-
freudianos: Lacan, Melanie Klein, Winnicott, Aulagnier, Kohut, etc. É
importante ver como esses autores têm trabalhado dentro das
problemáticas abertas pelo próprio Freud.

Doutrina Freudiana
A Libido
Freud constatou que a causa da doença mental apresentada pela maioria
de seus pacientes, era sempre um problema sexual. Observou também
as personalidades normais, chegando à conclusão que "o comportamento
humano é orientado pelo impulso sexual”. Freud dá o nome de "libido" ao
impulso sexual (libido é uma palavra feminina que significa prazer). A
libido constitui uma força de grande alcance na nossa personalidade; é
um impulso fundamental ou fonte de energia.
Elementos da personalidade - Freud divide a personalidade humana em
três elementos, aos quais dá os nomes de:
▪ Id,
▪ Ego
▪ Superego
O Id - Na nossa personalidade há uma parte irracional ou animal. Essa
parte biológica, hereditária, irracional que existe em todas as pessoas,
procura sempre satisfazer a nossa libido, os nossos impulsos sexuais.
Esses impulsos do Id, na sua maioria são inconscientes, passam
despercebidos, nós os ignoramos.
Superego - é a força que é adquirida lentamente por influência da nossa
vida em sociedade: ideias morais, religiosas, regras de conduta, etc. O Id
e o Superego são forças opostas, em constante conflito. O superego é
contrário à satisfação da natureza animal enquanto que o Id procura
satisfazê-la. Essa luta entre o Id e Superego na maioria das vezes não é
percebida por nós, é inconsciente.

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Ego - é quem procura manter o equilíbrio entre essas forças opostas, é


nossa razão, a nossa inteligência. O ego tenta resolver o constante
conflito entre Id e Superego. Numa pessoa normal, o conflito é resolvido
com êxito.
Níveis de Vida Mental
Ao apresentar a sua teoria, Freud explicou o que ele entendia por
inconsciente. Explicou que nossa vida mental se dá em 3 níveis:
•Consciente
•Subconsciente
•Inconsciente

Nível consciente: há fenômenos mentais que se estão processando e deles


estamos tomando conhecimento imediato.
Nível subconsciente: há fenômenos que não estão se passando agora em
minha mente, mas que são do meu conhecimento. Sei da existência dos
mesmos, posso chamá-los à minha mente quando quiser ou precisar.
Nível inconsciente: são fenômenos que se realizam em nossas mentes
sem que o saibamos. Eles nos passam despercebidos, nós os ignoramos.
Freud forneceu meios para conhecer a vida mental inconsciente, as
técnicas psicanalíticas e afirmou que os fatos inconscientes têm grande
influência na direção do nosso comportamento, na orientação de nossas
ações.
Desenvolvimento da Personalidade
Freud explica nosso desenvolvimento emocional dizendo que o ser
humano passa por diferentes períodos desde que nasce, até alcançar a
adolescência. Em cada um desses períodos a libido toma uma direção
característica:
Período narcisista - no início da vida a criança dirige a sua libido para
seu próprio corpo. Ela ama a si mesma, suas reações emocionais
dependem de seu bem-estar ou mal-estar. É egocêntrica. Essa fase é
chamada autoerótica: a criança busca prazer em seu próprio corpo:
chupa o dedo, etc. Esse período recebeu o nome de "narcisista" devido a

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lenda grega do formoso jovem Narciso, que se apaixonou pela sua própria
imagem nas águas.
Período edipiano - nesta fase a criança dirige sua libido para o progenitor
do sexo oposto, manifestando hostilidade para com o progenitor do
mesmo sexo. Ainda a criança se identifica com o progenitor do mesmo
sexo. A menina ama o pai e hostiliza a mãe. É neste período que cada
qual adota o papel sexual para toda a vida. Esse período recebeu esse
nome devido à lenda grega em que Édipo, jovem príncipe, assassina seu
pai e casa- se com sua mãe.
Período de latência sexual - esse período corresponde aos anos da escola
primária, em que a criança se ocupará em adquirir habilidades, valores
e papéis culturalmente aceitos. Ele é um período de latência porque os
impulsos são impedidos de manifestar. A energia dos impulsos sexuais é
sublimada.
Período da puberdade - tem duração de dois anos, é época de grandes
modificações físicas para ambos os sexos. Nessa fase jovem inicia sua
libertação emocional dos progenitores. A principal característica é a
ligação afetiva que se estabelece entre jovens do mesmo sexo e de idade
aproximada. É a idade dos amigos prediletos ou inseparáveis.
Período da adolescência - nessa fase a libido se dirige a um adolescente
do sexo oposto; essa ligação emocional heterossexual, fora da família, vai
exigir a emancipação do adolescente de seus pais. A separação emocional
ocasiona pelo menos por algum tempo, rejeição, ressentimento e
hostilidade contra pais e outras autoridades. É uma fase difícil e às vezes
o desenvolvimento emocional apresenta problemas anormais como:
fixação e regressão. A fixação é a parada que uma pessoa pode apresentar
numa fase determinada. A regressão se verifica quando o
desenvolvimento emocional volta a uma fase anterior.
Mecanismos de Defesa
Chama-se mecanismos de defesa, os modos do ego equilibrar as duas
forças opostas (Id e Superego) em conflito constante. Pode ser através da
-repressão
-racionalização
-projeção
-conversão
-sublimação etc.
A repressão é o dinamismo mais comumente usado para acomodar a
oposição entre nossas tendências naturais e nossa consciência moral,

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que as julga más. Consiste em não admitir a existência do Id, ignorá-las,


torná-las inconscientes, recalcá-las.
A racionalização é o dinamismo pelo qual nossa inteligência apresenta
razões socialmente aceitáveis para as nossas ações, que na realidade
foram motivadas pelos impulsos do id. Racionalizar é inventar pretextos,
razões para desculpar.
A Projeção é atribuir aos outros os nossos próprios desejos e impulsos,
as tendências indesejáveis, cuja manifestação em nossas ações no
podemos permitir e vão então ser projetadas nos outros.
A conversão é converter nossos conflitos em sintomas físicos: paralisia,
dores de cabeça, perturbações digestivas, etc. A somatização é frequente,
pois, mente e corpo estão ligados intimamente, e interagem. Pode
também manifestar-se sob forma de tiques, que são contrações
automáticas sem finalidade alguma.
A sublimação é a satisfação modificada dos impulsos naturais em atos
socialmente aceitáveis. Podem ir desde a mudança de um objeto de lugar,
mudança de reação ou ambas.

Psicoterapia breve
Mais rápida e acessível do que a psicanálise, a chamada psicoterapia
breve, vem ganhando cada dia mais adeptos ao acenar com alívio em
curto prazo para dificuldades específicas.
Desde os anos vinte, seguidores de Freud, como o psicanalista austríaco
Otto Fenichel, já achavam que algumas pessoas por causa da urgência e
do tipo do problema que estavam vivendo, poderiam ser encaminhadas
para terapias mais rápidas do que a psicanálise.
Apesar do sucesso, alguns psicanalistas, como António Quinet, membro
da Escola Brasileira de Psicanálise, consideram essa forma de terapia
apenas uma promessa, nem sempre cumprida, de nos livrar facilmente
dos problemas: o sintoma é apenas a ponta de um iceberg da vida da
pessoa. Ao contrário da análise tradicional, que dura em média de sete a
dez anos, mas não tem prazo para terminar; a psicoterapia breve dura
tempo limitado (de dois meses a um ano), prevê um número fixo de
sessões, que são combinadas com o paciente e trabalha com um objetivo
específico, que pode se resolver desde uma crise no casamento até um
problema com os filhos.
Apesar de o preço ser o mesmo de uma sessão de psicanálise, o custo
final é menor pela brevidade do tratamento.

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A psicoterapia breve, segundo Dra. Vera Lemgruber, vice-presidente da


Associação Psiquiátrica do Rio de Janeiro, é mais eficaz com adultos do
que com crianças e contra indicada para pessoas com graves distúrbios
psicológicos. Também não é recomendada para quem busca um
autoconhecimento profundo.
"O objetivo deste tipo de terapia é trabalhar com o presente". A terapia
é orientada para o problema. Enquanto a psicanálise modifica a relação
da pessoa com o mundo, a psicoterapia breve muda sua relação com o
mal estar.
Há basicamente duas linhas de psicoterapia breve: a de orientação
psicanalítica e a cognitiva ou comportamental.
A maior diferença entre elas, está na forma como o terapeuta interpreta
os conflitos e nas tarefas que prescreve. Ao contrário da linha
psicanalítica, a cognitiva recomenda lições de casa. Vejamos abaixo as
situações em que a psicoterapia breve pode ser usada com bons
resultados:
Crise familiar
A psicoterapia breve funciona muito bem em casos como conflitos com
um dos filhos ou entre irmãos. Normalmente é indicada apenas como
preparação para uma terapia quando um dos membros é dependente de
drogas ou apresenta algum outro distúrbio mais sério, que implique
necessariamente um processo terapêutico mais demorado.
O tratamento: o objetivo é ajudar os membros da família a perceber o
problema. Pelos conflitos que as pessoas apresentam, procuram-se as
causas das dificuldades, que são focalizadas nas sessões, sem se
aprofundar muito no passado. Apenas no que está acontecendo no
presente.
Duração: dependendo da gravidade, de três meses a um ano, com sessão
uma vez por semana.
Distúrbios obsessivo-compulsivos
A pessoa tem manias como lavar a mão, pentear o cabelo ou checar a
fechadura da porta a toda hora. Tratamento: consiste em fazer com que
o paciente perceba que suas manias causam problemas e, aos poucos vá
modificando seu comportamento.
Duração: geralmente seis meses, com uma sessão por semana.
Fobias
As queixas são o mais variadas possível. Medo de dirigir, de andar de
avião, de falar em público, etc. Também há um tipo específico de fobia, a
social, que impede a pessoa de fazer em público coisas tão simples quanto

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assinar o próprio nome ou tomar um café. Tratamento: é feito o que os


psicólogos chamam de dessensibilização sistemática. No início o paciente
se imagina fazendo aquilo que não consegue fazer, e aos poucos começa
a falar sobre seus medos e vai superando a dificuldade. Duração:
geralmente três meses, com uma sessão por semana.
Bulimia
Distúrbio alimentar que se caracteriza por uma fome insaciável seguida
de vômitos provocados. Uma pesquisa do Dr. Táki Athanássios Cordas,
autor de uma tese e de um livro sobre o assunto, revelou que 60 % dos
pacientes apresentam uma melhora com esse tipo de tratamento.
Tratamento: nesses casos prepara-se o paciente para uma terapia mais
demorada. A psicoterapia breve faz a pessoa perceber que está doente e
começa a enxergar que conflito se esconde atrás da avidez. Se a terapia
for da linha cognitiva, são feitos exercícios para ajudá-la a treinar novas
maneiras de pensar. Ela deve saborear apenas um prato da sua comida
preferida ou anotar o que sentiu durante a última crise.
Duração: em média três meses, com uma sessão por semana.
Crise no casamento
Pode ser feita individualmente ou com marido e mulher.
Tratamento: muitas vezes a queixa é uma, mas o problema é outro.
Portanto o primeiro passo nesses casos é procurar os sintomas e
descobrir onde está o foco. O objetivo é que a partir daí, cada um passe
a perceber o significado das suas atitudes com o outro e possa mudá-las
se for necessário. Se seguir a linha cognitiva, são propostos vários
exercícios, uma mulher que só reclama do marido, por exemplo, tem
como tarefa encontrar vinte qualidades nele.
Duração: geralmente de três meses a um ano, com uma sessão por
semana.
Crise de identidade
A psicoterapia breve vem sendo muito utilizada para adolescentes que
manifestam essa crise, típica da fase de transição entre a infância e a
vida adulta.
Tratamento: o terapeuta vai procurar as causas das suas angústias e
refletir sobre isso com ele.
Duração: em média de dois a três meses com uma sessão por semana.
Crise no trabalho

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Queixas do tipo "não consigo me dar bem com o meu chefe" ou "estou
inseguro em relação a minha promoção" são perfeitamente tratáveis neste
tipo de terapia.
Tratamento: o paciente vai começar a refletir sobre o que espera do chefe,
qual é a sua meta profissional, como é a sua postura no trabalho.
Confrontando-se com o que pensa, vai ter a oportunidade de rever suas
atitudes.
Duração: em média três meses, com sessão uma vez por semana.
Modalidades de psicoterapia
O psicoterapeuta atua de muitas maneiras na área psicoterapêutica, de
acordo com a conveniência da situação do paciente. Ele pode praticar a
psicoterapia em várias modalidades conforme o caso:
-Psicoterapia individual: a relação terapêutica se estabelece somente
entre paciente e psicoterapeuta, sem intervenção de terceiros nem como
participante nem como observador.
-Psicoterapia socorrista: na qual se produz descargas emocionais
(catarse) por parte do paciente, trazendo-lhe calma pois sabe que o
psicoterapeuta não o julgará, mas lhe dará apoio e confiança.
-Psicoterapia por hipnose: onde o paciente entra em transe tendo contato
com seu próprio inconsciente e traz à tona seus traumas para serem
trabalhados e superados.
-Psicoterapia hipnoídica: onde o paciente é induzido ao transe através de
medicamentos e depois se explora este estado psicologicamente. Também
se induz ao transe usando um placebo sob sugestão de narcose.
-Psicoterapia existencial: onde a atenção se concentra em tudo o que se
refere ao paciente: sua vida, seus sonhos, seus traumas, suas alegrias,
etc., tudo o que se refere a sua existência é analisado.
-Psicoterapia corporal: trabalha a respiração, postura corporal,
funcionamento glandular e metabólico e todos os demais aspectos do
funcionamento orgânico para melhorar e ajudar equilibrar o emocional.
-Psicoterapias analíticas: se baseiam em que a noção de inconsciente e
de dinamismo afetivo de expressão, é mais ou menos simbólica, então
usa-se a análise para explicar as particularidades:
a- Psicoterapia Freudiana: se baseia em explicações de fundo sexual.
b- Psicoterapia Adleriana: se baseia no sentimento de inferioridade.
c- Psicoterapia Junquiana: se baseia na sistematização e sincronicidade.

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Psicoterapias de grupo: que se aplica cada vez mais para problemas


variados, onde os grupos podem ter de 2 a 15 participantes, onde todos
falam de suas experiências e conflitos.
Psicoterapia sexual: trata das causas das dificuldades sexuais.
Psicoterapia familiar: cuida dos aspectos gerais do relacionamento.
Psicoterapia conjugal: investiga as causas da incompatibilidade.
Psicoterapia de apoio: anima, apoia e incentiva o paciente.
Psicoterapia exploratória: investiga a personalidade do paciente.
Psicanálise: o paciente é ouvido sem ser julgado ou questionado.
Psicoterapia breve: mais rápida e acessível que a psicanálise, funciona
bem em casos que tem um objetivo específico, uma crise ou desorientação
que está acontecendo no momento presente.
CONCLUSÃO
Os termos "Psicoterapia" e "Psicanálise" nos é imposto pela atualidade
europeia, pois não são dois domínios excludentes um do outro. Do ponto
de vista do Estado, a psicanálise é classificada como uma forma de
psicoterapia, como um elemento ou subconjunto do conjunto das
psicoterapias. Não podemos ficar satisfeitos em pôr a essa concepção a
noção de exterioridade pura e simples de dois conjuntos, pois há uma
intersecção entre eles!
Se considerarmos a psicanálise com base na psicoterapia, a psicanálise
confunde-se com a psicoterapia; ao passo que se ela for considerada com
base em si mesma, não tem nada a ver com psicoterapia.
Mas o que há de comum entre elas?
* Ambas admitem a existência de uma realidade psíquica!
Os psicanalistas foram os primeiros contra a opinião de Freud, a querer
confundir medicina com psicanálise. Essa identificação da medicina à
psicanálise fracassou historicamente e é retomada hoje sob forma da
identificação da psicanálise à psicoterapia. Pergunta-se se é legítimo
prescrever à operação analítica a finalidade de curar. A ideia de cura no
domínio psíquico baseia-se na noção de que o psiquismo seria um órgão
do corpo, que o psiquismo se confundiria com o funcionamento do
cérebro.
Mas a psicanálise não se ocupa do psiquismo, ocupa-se do inconsciente,
o que é muito diferente! Pois o inconsciente não é um órgão, não assegura
nenhuma função de conhecimento do mundo e no campo específico do
inconsciente, curar não tem sentido.

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A distinção entre psicanálise e psicoterapia para ser feita, deve antes de


tudo partir do reconhecimento dos efeitos terapêuticos em ambas as
experiências, efeitos que podem se produzir toda vez que um que sofre se
dirige a um outro que acolhe a sua demanda de cura. É, portanto a
relação do sujeito com a palavra que convoca, imediatamente a ação
terapêutica desde que a palavra põe em operação a função do outro.
Foi mesmo somente em nome desse efeito terapêutico da palavra que
conhecemos uma época em que a psicanálise era invocada para imprimir
seriedade e eficácia a uma prática puramente psicoterapêutica. Tempo
em que as psicoterapias afirmavam ser "de base analítica". Psicanalistas
e psicoterapeutas acolhem a mesma demanda que o sintoma motiva, e
utilizam o mesmo meio, a palavra. Entretanto eles reconhecem que não
fazem desse meio o mesmo uso e não visam os mesmos fins. Uns e outros
efetivamente não cessam de afirmar suas diferenças. Os psicoterapeutas
usam a psicanálise como contraponto, prometendo: mais curto, mais
humano, menos caro, menos perigoso, etc. E os psicanalistas pretendem
introduzir o sujeito que a ele se confia, em outra coisa, até mesmo em um
além da terapêutica.
Todavia o psicanalista não recusa a demanda terapêutica, e mesmo a
pressupõe, é um fato histórico. Freud não subiu à cena da civilização por
via especulativa. Ele se adiantou sob a investidura do médico. Médico do
que se nomeava então "doenças nervosas", cuja noção hesita entre
causalidade orgânica e causalidade psíquica.
O psicanalista acolhe "aquele que sofre", ou antes, aquele que por estar
sofrendo, pede que isso cesse. Ele pode estar sofrendo por muitas razões:
que o amor lhe escape, o poder o abandone, o vazio o ataque; não importa
o que; o psicanalista não diz não.
Ele sabe antes de mais nada que o efeito terapêutico é possível, pois
consiste na definição mais simples, em resolver para um dado sujeito o
intolerável do que chamamos sintoma. Este intolerável é próprio de cada
um. Isto inclui a resposta do sujeito ao que ele encontra, e nenhuma
verdade universal lhe corresponde.
Vê-se a diferença: num caso muda-se a causa, pelo menos a causa do
sofrimento; em outro muda-se o sujeito. Ou o obsessivo descobrirá a
vacância do pensamento, ou então ele irá se acostumar a sua obsessão,
remanejada ou não.
Da perspectiva de diferenciar Psicanálise e Psicoterapia, podemos dizer
que a psicanálise se mantém, como dispositivo que orienta sua direção
no tratamento, em uma função que Lacan chama o desejo do analista.
Emerge no sujeito que chega ao final de sua análise.

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Claire Harmand estabelece a diferença entre Psicoterapia, destacando a


função do desejo do analista que opera na Psicanálise e não na
psicoterapia. O desejo do analista é um desejo inédito e inumano, que
toma forma no sujeito depois do final de sua análise pessoal e se
caracteriza como um desejo de saber sobre a verdade da castração. Dessa
perspectiva, podemos dizer que se trata de uma dimensão realmente
nova. A abertura do saber na dimensão do desejo. O saber verdadeiro
como causa.
Enfim, entre tantas intersecções e controvérsias, o que há realmente de
comum entre Psicanálise e Psicoterapia, é que ambas admitem a
existência de uma realidade psíquica!

DISCIPLINA 3: SOCIOLOGIA DAS DOENÇAS MENTAIS

CONCEITO GERAL
Sociologia é a ciência comportamental que estuda os princípios
organizadores da vida social, o impacto de forças sociais e históricas
mundiais sobre estes princípios e o modo como estes princípios afetam o
comportamento individual e organizacional.
Os sociólogos supõem que forças sociais fundamentais influenciam a
ação individual determinando áreas de opções comportamentais
possíveis. A investigação sociológica busca esclarecer estas forças sociais
a fim de entender os motivos que subjazem ao comportamento humano.
A sociologia comportamental é relevante para os psiquiatras de diversas
formas.

Ao longo da última década os sociólogos estudaram os determinantes


socioculturais da saúde e da doença mental, fatores sociais na busca de
ajuda psiquiátrica, atitudes em relação aos doentes mentais e a
organização do atendimento de saúde mental. Em cada uma destas áreas
existe um corpo teórico e de pesquisa interdisciplinar, com contribuições
feitas não apenas por sociólogos, mas também por psiquiatras, psicólogos
e epidemiologistas.
A sociologia aplica a biologia a processos sociais. Transtornos
psiquiátricos podem ser considerados subconjuntos destes processos. O
termo “sociobiologia” entrou em uso logo após a Segunda Guerra
Mundial, quando a pesquisa sobre o comportamento animal prosperou,
mas tomou-se popular e polêmico devido ao livro de Edward O. Wilson

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sobre comportamentos sociais na vida animal, Sociobiology: The New


Symthesis, publicado em 1975. Wilson enfatizou fortemente os fatores
evolutivos em sua formulação, mas omitiu a psiquiatria, exceto ao
mencionar o suicídio em suas frases de abertura.
3.1- O contexto social de atividade pessoal
No contexto da Sociologia deparamos com a profissão médica passando
por imensas mudanças como veremos a seguir:
Arranjos ambulatoriais diversificados
Grupos de Diagnósticos e Indústria de atendimento médico
Que trabalham suas fatias no mercado, na intenção lógico de simplificar
o bom atendimento dos pacientes. Consequentemente, as competições e
prestadores de serviço toma-se crescente e preocupante.
Estas mudanças fazem parte de forças sociais mais amplas que incluem
o envelhecimento da nossa população e mudanças de coorte, que levaram
à expansão massiva na instalação da indústria de atendimento médico e
a uni marcante aumento no número de médicos no mercado local.
Os sociólogos têm estado intensamente interessados nas implicações
destas tendências para o futuro da medicina. Uma perspectiva sustenta
que a dominação de médicos do sistema de atendimento de saúde está
demasiada firmemente estabelecida para ser abalada pelas mudanças em
andamento no contexto social. A subordinação legal ao médico de
enfermeiras, farmacêuticos e outros profissionais de atendimento de
saúde, é citada como um fato crítico, assim como poderes de
licenciamento exclusivos concedidos a médicos como guardiões do
sistema de atendimento médico.
Supõe-se que a profissão médica se encontra em uma metamorfose ou
diante de um período de declínio de concentração em decorrência do
surgimento do consumismo em medicina. Quanto maior o número de
pacientes médicos que sofrem de condições crônicas ao invés de agudas
cria-se um grupo de interesse de pessoas leigas que adquirem
considerável conhecimento técnico sobre suas próprias aflições, que se
reúnem em grupos de autoajuda e às vezes desafiam os profissionais que
cuidam deles.
Considera-se que diversificação técnicas de procedimentos médicos e as
crescentemente importantes contribuições ao atendimento de saúde por
técnicos especializados que não são médicos também desempenham um
papel. Com mudanças na organização do atendimento profissional, novos
sistemas de propriedade e administração promoveram competição entre
os médicos, o que inevitavelmente traz consigo um maior controle do
consumidor.

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Finalmente, a posição dominante de grandes seguradoras consolida a


posição de barganha dos consumidores de um modo novo. Estas visões
são particularmente relevantes para os psiquiatras, porque a existência
de especialistas auxiliares em saúde mental, como psicólogos clínicos e
assistentes sociais psiquiátricos, não tem contrapartida entre outras
especialidades médicas.
Uma outra perspectiva sobre a natureza em transformação da prática
médica envolve a proletarização do trabalho médico. ‘Mais e mais
médicos, especialmente psiquiatras, estão trabalhando como
empregados assalariados em grandes organizações burocráticas. A
medida que estas organizações instituem estilos administrativos
orquestrados pelos egressos de escolas de administração ao invés de
escola de medicina, mudanças em procedimentos para o controle
profissional invariavelmente ocorrerão. Revisão formal dos
procedimentos está sendo aplicado a uma gama mais ampla de
acompanhamentos profissionais. Dentro de instituições particulares,
mecanismos estão sendo desenvolvidos para monitorar e controlar as
decisões técnicas dos clínicos. Todas estas tendências resultarão em
maior controle externo do domínio da prática profissional.
Determinantes sociais e culturais de doença mental
Durante a década passada as pesquisas sobre fatores sociais e culturais
em psicopatologia foram dominadas por um interesse nos efeitos
prejudiciais à saúde de experiências de vida estressantes.
Eventos de Vida:
Embora a hipótese de que o estresse pode causar transtorno mental seja
antiga, pesquisas populacionais sérias sobre o tópico, embasadas foram
conduzidas apenas durante as duas últimas décadas. Grande parte da
pesquisa usou um inventário de eventos de vida para medir o estresse e
avaliar seus efeitos. A pesquisa inicial foi limitada a estudos de caso-
controle nos quais relatos retrospectivos sobre eventos de vida foram
obtidos de pacientes psiquiátricos e de controles. Trabalhos mais
recentes foram embasados em amostras da população geral e em design
Longitudinais.
É difícil documentar efeitos causais de eventos de vida sobre doenças
mentais, pois uma associação evento-doença pode refletir uma influência
da doença sobre o evento ao invés do contrário. Perda de emprego,
divórcio e muitos outros eventos de vida importante podem resultar de
transtornos preexistentes e não há nenhum meio seguro para descontar
esta possibilidade em estudos não experimentais que são o suporte da
pesquisa de estresse. Não obstante, estudos que focalizam sobre eventos
sabidamente independentes de transtorno anterior elucidaram os efeitos
do estresse. Estudos de perda de emprego devido a fechamentos de

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fábricas, por exemplo, documentaram taxas de ansiedade e depressão


clinicamente significativas entre trabalhadores desempregados duas a
três vezes superiores às encontradas entre os estavelmente empregados.
Ao longo da última década, à medida que os cientistas sociais focalizaram
sobre adaptação a crise de vida particulares, esforços foram
empreendidos para especificar as dimensões de crises que os tornam
estressantes. O impacto diferencial de eventos pode ser explicado em
parte por diferenças nos modos como estas dimensões coalescem em
casos particulares. Por exemplo, perda de emprego parece promover
ansiedade e depressão aumentando a tensão financeira e intensificando
reatividade a estresses não relacionados. Consequentemente, os
resultados psiquiátricos mais sérios associados a perda de emprego são
encontrados entre pessoas que carecem de reservas financeiras e
experimentam uma outra crise importante (por exemplo, um filho
desenvolve uma doença ameaçadora da vida) durante o período de
desemprego. A próxima década tende a testemunhar uma importante
expansão da pesquisa que visa delinear as feições contextuais de
experiências que preveem adaptação e recuperação saudáveis.
Duas linhas de pesquisa relacionadas também se desenvolveram ao
longo da última década:
Estudos de transtorno de estresse pós traumático após estupro ou
combate elaboraram o impacto de tais estressores por toda a existência.
Este trabalho motivou os pesquisadores a considerar os efeitos a longo
prazo de adversidades no início da vida (por exemplo, morte parental ou
violência familiar) no contexto de uma perspectiva desenvolvimental
sobre a psicopatologia.
A outra linha de pesquisa estudou os efeitos de história prévia da
psicopatologia sobre reações de estresse, às vezes em conjunção com
uma investigação do impacto de adversidades no início da vida sobre
reações emocionais para eventos de vida adulta.
Esta pesquisa estabeleceu que estresses em adultos promovem episódios
clinicamente significativos de transtorno principalmente entre pessoas
que já são vulneráveis. As implicações do achado para esforços de
pesquisa e prevenção futuros ainda não foram plenamente apreciadas;
espera-se que intervenções futuras visarão estas pessoas mais
vulneráveis a estresses quando adultos.

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Estresse crônico e transtorno Emocional:


É mais fácil determinar que um evento ocorreu do que medir a existência
de uma situação estressante continuada e é mais fácil fazer uma
interpretação causal sobre o efeito de um evento distinto do que de um
estresse crônico. Consequentemente, muitos pesquisadores favoreceram
medições de eventos de vida em relação a medições de estresse crônico.
Esta preferência não implica que eventos de vida são mais importantes
do que estresses crônicos. Pesquisas recentes usando levantamentos em
comunidades sugerem que estresses crônicos são mais preditivos de
transtornos psicológicos do que os eventos de vida. procedimentos mais
confiáveis para medir estresses crônicos e seus efeitos ainda têm que ser
desenvolvidos.
A pesquisa mais desenvolvida deste tipo até o momento concentra-se em
estresse de trabalho. Estudos naturalistas documentaram que pressões
de tempo, proximidade da supervisão insegurança no emprego e uma
variedade de outras dimensões de estresse no trabalho estão associadas
a uma incidência mais elevada de depressão, ansiedade e abuso de
substância. Com base nestes resultados, estudos mais proximamente
focalizados de ocupações de alto risco como trabalho em linha de
montagem e controle de tráfego aéreo foram realizados. Estes estudos
associaram constelações particulares de condições de trabalho com
incapacidade emocional. Por exemplo: Diversos estudos estabeleceram
uma ligação entre a combinação de altas exigências de trabalho (por
exemplo, um emprego no qual os trabalhadores devem apressar-se para
cumprir prazos importantes) e baixa extensão decisória (ou seja, baixo
controle tanto sobre o ritmo como sobre a organização de trabalho) com
tanto incapacidade emocional quanto doença cardiovascular.
Diversas grandes empresas concordaram em realizar experimentos de
redesign de trabalho visando modificar algumas destas condições de
trabalho prejudiciais à saúde. Motivados parcialmente por um desejo de
aumentar a produtividade do trabalhador, os experimentos estão
suprindo uma oportunidade sem paralelo para estudar os efeitos do
estresse crônico. Eles deveriam produzir conhecimentos novos
importantes acerca dos determinantes de estresse crônico de trabalho e
sobre estratégias eficazes para mudar ambientes de trabalho para reduzir
os tipos de estresse mais perniciosos.

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Como lidar com o stress


Queremos compilar aqui escritos dos Drs. Dorival Caetano e Luiz Paulo
de C. Becheili da Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica, 1992.
Publicação DHHS No (ADM) 87.502. Traduzido do original americano do
“National institute of Mental Health “, Divisão de comunicação e
Educação, “PIam Talk Series “, editora Ruth Kay.
O Stress nos acompanha quase todo o tempo. Provém da atividade mental
ou emocional e atividade física. E exclusivo e individual para cada um de
nós. Tão individual, de fato, que o que pode ser relaxante para uma
pessoa, pode ser estressante para outra.
Por Exemplo: Se você for um executivo atarefado que gosta de se manter
ocupado o tempo todo “ficar ocioso” na praia, em um lido dia, pode fazê-
lo sentir-se extremamente frustrado, não produtivo e chateado. Você
pode ficar emocionalmente tenso por “estar sem fazer nada”. Stress
emocional em excesso pode produzir doenças físicas, tais como
hipertensão arterial, úlceras oi mesmo doenças do coração; o stress físico
produzido pelo trabalho ou exercício provavelmente não causa estes
distúrbios. A verdade é que o exercício físico pode ajudá-lo a relaxar e a
controla o seu “stress” emocional ou mental.
O médico Hans Selye, um especialista reconhecido nesta área, definiu
“stress” como:
Uma resposta inespecífica do organismo a uma solicitação.

O importante é aprender como nosso organismo reage a tais solicitações.


Quando se torna prolongado ou particularmente frustrante, o “stress”
pode tornar-se nocivo causando angústia, ou seja, “stress” ruim.
Reconhecer os primeiros sinais de tensão e então fazer algo a respeito
pode significar uma importante diferença na sua qualidade de vida e até
mesmo influenciar sua sobrevivência.

Reagindo ao “stress”:
Para usar o “stress” de forma positiva e evitar que ele se torne angústia,
você deve se tomar consciente de suas próprias reações aos eventos
estressantes. O organismo reage ao “stress” através de três estágios:
1º Alertar;
2º Resistência;
3º Exaustão.

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Vamos tomar o exemplo de um motorista típico em horário de grande


movimento. Se um carro subitamente avança o sinal à frente dele, a
reação de alerta inicial que ele tem pode incluir medo de um acidente,
raiva do infrator e frustração. O organismo pode responder ao estado de
alerta com a liberação de hormônios na corrente sanguínea, o que causa
rubor facial, transpiração, sensação de aperto no estômago e tensão
muscular nos braços e pernas.
O estágio seguinte é de resistência, no qual o organismo repara o
distúrbio produzido pelo “stress”. Se, entretanto, o “stress” no trânsito
tiver sequência, por contingências como a atividade cotidiana ou
congestionamentos frequentes, o organismo não terá tempo suficiente
para se restabelecer. O indivíduo pode se tomar tão condicionado a
esperar problemas potenciais ao dirigir, que fica tenso cada vez que se
sentar ao volante, podendo vir a desenvolver uma (ou mais de uma) das
doenças do “stress”, como enxaqueca, hipertensão arterial, lombalgia ou
insoma.
Embora seja impossível viver completamente livre de “stress” ou
angústia, é possível evitar-se alguma tensão bem como minimizar seu
impacto quando ela não puder ser evitada.

Ajudando a si próprio: Quando o “stress” de fato ocorre, é importante


reconhecê-lo e saber lidar com ele.

Algumas sugestões:
Quando começar a compreender como o “stress” o afeta, o paciente
desenvolverá suas próprias ideias de como aliviar a tensão.
Reconheça seus limites:
Se o paciente estiver diante de um problema além de seu controle e que
não pode ser modificado no momento, não lute contra ele. Aprenda a
aceitá-lo — por enquanto — até chegar o momento em que possa resolvê-
lo.
Compartilhe seu “stress”:

Conversar com alguém sobre seus problemas e preocupações ajuda.


Talvez um amigo, uma pessoa da família, um professor ou conselheiro
possam ajudar esse paciente a ver seu problema sob um ângulo diferente.
Se o indivíduo achar que o seu problema é grave, é melhor procurar a
ajuda profissional, isto poderá evitar problemas mais graves no futuro.

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Procure praticar atividade física:


Quando o indivíduo estiver nervoso, com raiva ou chateado, reduza a
pressão através de exercícios ou atividades física. Correr, caminhar, jogar
tênis ou trabalhar no jardim são algumas atividades adequadas para
isso. O exercício físico alivia a sensação de “opressão”, relaxa e ajuda a
transformar as contrações faciais em sorriso. Lembre-se de que seu corpo
e sua mente trabalham juntos.

Cuide-se: Você é especial. Repouse o suficiente e alimente-se bem. Se


ficar tenso e irritável por dormir pouco, ou se não se alimentar
corretamente, o indivíduo terá menor capacidade de lidar com situações
estressantes.
Reservar tempo para distrair-se:
O profissional deve programar o tempo do paciente para trabalho e para
recreação - Considerando que o lazer pode ser tão importante para o bem-
estar quanto o trabalho. O paciente precisará de distrações na sua rotina
diária de trabalho para relaxar e evitar o “stress”.
O ser participante:
Uma forma de evitar o tédio ou de se sentir triste e solitário é ir onde as
coisas estão acontecendo. Ficar sentado sozinho, sem fazer nada pode
deixar a pessoa frustrada. Ao invés de sentir pena de si mesma, tentar
participar de algo bom e produtivo. Envolver-se com pessoas que
precisem de você (paciente). Para tanto, incentivar o paciente que sempre
que puder, ofereça seus préstimos à vizinhança ou participe de
organizações assistenciais como voluntário. Ao ajudar os outros o
paciente estará ajudando a si próprio. Envolvendo-se com o mundo e com
as pessoas ao seu redor, ela descobrirá que elas aparecerão a sua
iniciativa e isso abrirá Portas para o paciente fazer novas amizades e
desfrutar de uma vida mais interessante.
Organizar suas Atividades:
Tentar fazer tudo ao mesmo tempo pode ser estressante e, como
resultado, o individuo acaba não conseguindo fazer nada. Todavia, ao
invés disso, o profissional deve ensinar o paciente a organizar uma lista
das tarefas que ele precisará realizar e então fazer uma de cada vez,
eliminando-a da relação até completar todas. Dando prioridade às mais
importantes e fazendo-as primeiro.
Paciente estressado quer chorar:

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Chorar pode ser uma forma saudável de aliviar a ansiedade e pode até
mesmo evitar uma enxaqueca ou outra consequência física de seu estado
emocional. Procure inspirar profundamente, isto também alivia a tensão.
Criar um ambiente Calmo:
Ajudando o paciente de que ele não pode fugir sempre dos problemas ou
dificuldades, mas pode “sonhar o sonho impossível”. Ela pode pintar
mentalmente (ou na tela mesmo) uma cena tranquila num campo, para
escapar de uma situação conflitiva ou estressante Poderá inclusive,
mudar de cenário lendo um bom livro ou ouvindo música agradável para
criar sensação de paz e tranquilidade.
Automedicação:
Instruir o paciente a evitar a automedicação. Apesar de que o paciente
pode usar medicamentos para aliviar a tensão temporariamente (ou com
prescrição médica). Todavia, lembre- se de que os remédios nem sempre
removem as condições causadoras do “Stress”. Alguns medicamentos, na
realidade, podem criar hábito e produzir, mais do que aliviar, o “stress”.
Remédio só deve ser tomado quando prescrito pelo seu médico.

A arte de relaxar:
A melhor estratégia para evitar o “stress” é aprender a relaxar.
Infelizmente muitas pessoas tentam relaxar no mesmo ritmo em que
conduzem o resto de suas vidas. Por algum tempo desligue-se de suas
preocupações com agendas, produtividade e com aquela filosofia de “fazer
a coisa certa”.
Descubra atividades que lhe deem satisfação e que sejam boas para seu
bem-estar físico e mental. Desista de “vencer a todo custo”. Concentre-se
em relaxamento, prazer e saúde. Sela bom para você mesmo.
Fatores de Vulnerabilidade:
Apenas uma pequena minoria de pessoas que são expostas a
experiências de vida estressantes, desenvolvem transtornos emocionais
clinicamente significativos. De fato, evidências emergentes indicam que
encontros estressantes podem ás vezes promover competência.
Correspondentemente, o principal impulso da pesquisa corrente sobre
estresses de vida é identificar variáveis que ajudam a explicar diferenças
em resposta ao estresse. Alguns investigadores enfatizaram
características psicológicas duradouras tais como flexibilidade cognitiva,
comportamentos efetivos para a resolução de problemas e habilidades
interpessoais. Outros focalizaram em recursos mais sociais como apoio
social e recursos financeiros.
Apoio Social:

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O termo apoio social tem sido amplamente usado para referir- se aos
mecanismos pelos quais os relacionamentos interpessoais protegem
pessoas dos efeitos deletérios do estresse.
Embora altamente inferenciais em seus argumentos e nem sempre claros
sobre sua definição do conceito, os artigos geraram muito interesse
cientifico na possibilidade de que apoio social possa apresentar efeitos
promotores da saúde. Desde então, os tópicos e evidências foram sujeitos
a exame crítico.
Diversos tipos de apoio social foram identificados e distinções foram feitas
empiricamente entre os efeitos das diversas dimensões. Várias funções
diferentes de apoio social foram identificadas, tais como a expressão de
julgamentos positivos, expressão de concordância com as crenças ou
sentimentos da pessoa, encorajamento de ventilação e fornecimento de
conselhos ou informações.
População normal e estados de casos controle A pesquisa mais recente
concentrou-se na habilidade do apoio social de reduzir o impacto do
estresse sobre a saúde. Por exemplo: Foi mostrado que o impacto de
eventos de vida em provocar episódios do transtorno depressivo maior é
reduzido entre pessoas que possuem relacionamentos íntimos,
confidentes com amigos ou parentes.

Em um estudo, quase 40% das mulheres estressadas sem um confidente


tornaram-se deprimidas em comparação com apenas 4% das mulheres
que tinham acesso a um confidente. Este resultado foi reproduzido em
diversos levantamentos comunitários e estudos de caso-controle.
Embora estes estudos supram evidências sugestivas. problemas
metodológicos obscurecem os resultados. Não há virtualmente modo
algum de descartar a possibilidade de que alguma predisposição, ou a
seus correlatos na personalidade, ser menos propensas do que outras a
formar relacionamentos pessoais íntimos, confidentes.
Intervenção Experimental:
Examinaram o efeito do suporte em resultados tais como ansiedade pré-
operatória, recuperação de cirurgia e aderência a regimes médicos.
Intervenções de apoio também lutam instituídas para facilitar o
enfrentamento de crises de vida como viuvez, estupro e perda de
emprego. Estas intervenções operacionalizaram apoio de diversos modos,
embora todos tenham envolvido tanto interações emocionais tomo
informativas com supridores de apoio. A maioria fora suprida por
profissionais de atendimento de saúde e fora modesta em alcance,
geralmente usando recursos limitados e envolvendo um pequeno número
de sessões. Na vasta maioria dos casos, tais manipulações foram eficazes

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para promover ajustamento a crises de vida. Embora o apoio social possa


proteger contra transtornos emocionais que podem estar ligados a crises
de vida, experimentos de intervenção não foram projetados para
esclarecer os mecanismos através dos quais esta influência ocorre.
Ademais, já que a maioria das intervenções foram multifacetadas. é
impossível especificar que aspectos do apoio são mais eficazes.
Direções Futuros:
As evidencias sugerem que o apoio social pode desempenhar um papel
importante para proteger tanto contra o início como contra a continuação
de psicopatologia. Um entendimento mais claro destas influências
requererá avanços de pesquisas em diversas direções. Um avanço
envolveria a especificação adicional dos componentes do apoio social,
incluindo seus efeitos diferenciais, dependendo do supridor. Um tópico
relacionado refere-se aos efeitos de interações sociais negativas.
A Literatura sugere claramente que interações entre indivíduos
psiquiatricamente prejudicados e suas redes sociais não são meramente
não apoiadoras, mas abertamente conflituosas. Seria útil avaliar trocas
sociais negativas como fatores de risco para o início e o prolongamento
de transtornos psiquiátricos. Nos poucos estudos que compararam
elementos positivos e negativos da interação social, os elementos
negativos foram uniformemente mais fortemente relacionados a
consequências na saúde mental. Deve-se aprender mais sobre a
importância relativa de componentes positivos e negativos como para-
choques para o estresse e fatores de risco. Há até mesmo evidências de
que alguns comportamentos de apoio são danosos e tornam as coisas
piores. Estes esforços de ajuda fracassados parecem particularmente
propensos a ocorrer quando a ajuda solapa o senso de autocontrole e
competência da vítima na crise.
O melhor pensamento atual sobre a importância da percepção de
disponibilidade de apoio hipotético é que ele leva a avaliação da situação
como manejável A percepção, por sua vez parece promover esforços de
enfrentamento autoconfiantes e ativos que dão à pessoa algum senso de
domínio sobre a situação de crise. Algumas intervenções de apoio foram
desenvolvidas com esta perspectiva em mente. Pesquisas sobre vítimas
de desastres naturais, por exemplo, mostram que a adaptação emocional
é melhorada se a equipe de atendimento mobiliza as vítimas de desastres
a participar ativamente no trabalho reconstrutivo ao invés de sentar-se
por perto com cobertores e café. Pesquisas futuras são necessárias para
ligar intervenções de apoio com intervenções de autoajuda e entender
mais sobre a capacidade de apoio para mobilizar enfrentamento ativo.
Psicopatologia Prévia:

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Uma importante pesquisa recente conceituou história prévia de


psicopatologia como um fator de vulnerabilidade Nós agora sabemos que
eventos estressantes exercem efeitos minto mais poderosos sobre a
recorrência de depressão do que sobre o primeiro episódio de depressão
tia fase adulta. História prévia também foi associada a muitas das
variáveis psicossociais que são conhecidas como fatores de
vulnerabilidade para depressão, incluindo variáveis sociodemográficas
como classe social e sexo, recursos sociais como acesso a apoio social e
variáveis de personalidade como neurose e autoestima. A associação de
história prévia com todos estes fatores de vulnerabilidade levanta a
questão de se os efeitos supostos destas variáveis podem ser devidos, ao
menos em parte, a história previa.

Esquisofrenia
A esquizofrenia é uma doença mental, que se caracteriza por apresentar
sintomas próprios, como por exemplos: Alterações da volição, do
pensamento, das emoções e da psicomotricidade; gerando uma
desorganização da personalidade do indivíduo. A palavra esquizofrenia
significa mente dividida e foi definida desta forma por E. Bleuler em 1911.
Anteriormente, Kraepelin denominava demência precoce os quadros
clínicos com desfecho desfavorável, de início na juventude ou no princípio
da adultez (1896). Morei, em 1860, usou a denominação demência
precoce pela primeira vez, designando um grupo de características
semelhantes. No distúrbio de pensamento característico do
esquizofrênico, aspectos periféricos e secundários de um conceito global,
geralmente inibidos na atividade mental normal dirigida, surgem em
primeiro piano e são utilizados em lugar dos elementos principais e
apropriados à situação. O diagnóstico de “esquizofrenia” não deve ser
feito a menos que ocorram ou tenham sido evidentes durante a mesma
doença distúrbios característicos do pensamento, percepção, humor,
conduta ou personalidade, de preferência ao menos em duas dessas
áreas. O diagnóstico não deve restringir-se a afecções de curso
prolongado, deteriorante ou crônico.
Origem e Causas: A referência a alguma característica do corpo do
paciente muitas vezes provoca o comentário de que a característica em
questão é um traço de família. Uma paciente poderá comentar: “A minha
mãe e a minha também têm as mesmas pernas curtas e coxas pesadas.
Deve ser hereditário”. Sem dúvida, muitos fatores hereditários
determinam até certo ponto a forma e o formato do corpo de uma pessoa.
As crianças tendem a ser parecidas com seus pais. No entanto, esta
semelhança também pode se dever, em parte pelo menos, a uma
identificação como o pai. Às vezes o filho é uma imagem exata do pai, ou
a filha o retrato da mãe. Tais casos parecem conter fortes evidências de
uma base hereditária para a personalidade.

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Nota-se, todavia, que estes “sósias” compartilham modos de pensar


comuns, e possuem os mesmos padrões de comportamento, fato este que
não pode ser explicado pelos atuais conceitos de hereditariedade. O papel
da hereditariedade na determinação da estrutura corporal é difícil de
avaliar. A estrutura do corpo não é fixa e imutável, O corpo está sujeito,
no decorrer do seu desenvolvimento, a inúmeras influências externas que
afluam sobre ele e modificam suas características, sua expressão, e sua
motilidade. Da mesma forma que a natureza do solo, o índice de chuvas,
e a quantidade de luz solar determinam o crescimento de uma árvore, a
forma como a criança é criada afetará o seu desenvolvimento total. As
suas experiências durante os anos deformação, quando ela é totalmente
dependente dos pais, condicionarão as suas respostas quando adulta. O
condicionamento resulta em padrões fixos de reação neuromuscular a
estímulos dados. A aprendizagem de como agir ou como não reagir é um
processo de aquisição de domínio e coordenação muscular. Com o tempo
estes controles se tomam automáticos. A resposta condicionada toma-se
uma reação inconsciente e evolui para as atitudes caracterológicas de
comportamento. O caráter, no sentido de um padrão fixo de
comportamento, é, portanto, determinado pela quantidade e qualidade
dos controles impostos á atividade muscular Os músculos que se acham
sujeitos a estes controles inconscientes são “cronicamente tensos,
cronicamente contraídos, e desligados da percepção”.

Wilhelm Reich empregou o termo “couraça” para descrever a função e o


efeito destes músculos espásticos sobre a personalidade. A couraça
muscular é uma defesa contra o meio ambiente externo, mas é ao mesmo
tempo uma forma de manter reprimidos os impulsos perigosos. O caráter
é, portanto, funcionamento idêntico à couraça muscular. A biologia nos
diz que o formato dos ossos é influenciado pela tração dos músculos a
eles ligados. A formação óssea é um processo continuo no corpo vivo,
mais ativo durante os primeiros anos de vida, porém nunca inteiramente
quiescente. Assim, a estrutura do corpo está sendo constantemente
modificada, como um reflexo das tensões musculares às quais está
sujeita. Tal fato justifica a utilização da estrutura corporal na análise da
personalidade. E também oferece uma base para a tentativa de modificar
a estrutura corporal por intermédio da liberação da tensão muscular
crônica. Se a hereditariedade não é responsável pela tensão muscular,
ela não pode ser culpada dos distúrbios criados por músculos
cronicamente tensos.

A origem e as causas da respiração diminuída, da motilidade reduzida, e


da rigidez corporal encontradas na Personalidade Esquizoide (TPE) devem

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ser buscadas nas condições de existência dos primeiros anos de vida. Até
que ponto da história passada da pessoa devemos recuar em busca dos
fatores constitucionais que predispõem o indivíduo a esta perturbação?
Temos que voltar ao útero, pois o efeito das influências pré-natais não
pode ser ignorado se quisermos entender a etiologia da estrutura
esquizoide. A constituição de um individuo já se encontra presente no
nascimento. Fatores Constitucionais do tipo corporal Esquizoide: O tipo
corporal esquizoide foi anteriormente descrito como astênico, isto é, de
constituição esguia e pouco desenvolvimento muscular. A palavra
“astenia” significa fraqueza e debilidade. Existe uma fraqueza
fundamental na personalidade esquizoide que está presente em todo e
qualquer indivíduo esquizoide, independente do seu tipo físico. Esta
fraqueza é a incapacidade de mobilizar a sua energia e sentimentos,
dirigindo-os para a satisfação das suas necessidades. Independente da
sua força aparente, o esquizoide carece de energia para suster uma
atitude agressiva em relação ao mundo. A atual pesquisa que se preocupa
com a etiologia da esquizofrenia, acha-se largamente voltada para o
passado familiar.
Clausen e Kohn: Notam que os primeiros autores sobre o assunto
descrevem as mães de filhos esquizofrênicos como “frias, perfeccionistas,
ansiosas, supercontroladoras e restritivas — o que conota um tipo de
personalidade incapaz de dar amor e aceitação espontâneos para a
criança”. Hill julga as mães dos esquizofrênicos ambivalentes e com
tendência a congelar toda vez que é mencionada alguma coisa
desagradáve,l quer pareça que o assunto mais desagradável e que mais
frequentemente leva estas mães a congelar é o sexo.
Dois outros pesquisadores deste problema, M. J. Boatman e
S.A. Szurek descrevem estas mães como sexualmente apáticas ou
insensíveis, e afirmam que elas são “extremamente medrosas e inibidas”
com relação ao fato de manifestar qualquer desejo sexual aos seus
maridos. Muitas delas são alcoólatras, ao passo que outras são viciadas
em tranquilizantes ou comprimidos de dormir. A personalidade
esquizoide tem a sua origem em um útero “frio”. Aquele do qual foi
removido o sentimento como resultado da dissociação geral que a pessoa
tem da parte inferior do corpo. Um grande número de autores tem
chamado ultimamente a atenção para a importância dos fatores pré-
natais no desenvolvimento do organismo. O indivíduo esquizoide
expressa com muita frequência a forte convicção de que o seu problema
tem origem em experiências intrauterina.

Hill, faz a seguinte observação: Na minha análise a respeito da


personalidade esquizoide, descobri que todo paciente, numa fase
bastante precoce de sua vida, voltou-se da mãe em virtude da ansiedade

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e hostilidade inconscientes da mesma como resultado desta troca, o pai


se transforma numa figura de mãe substituta para a criança Porém, isto
gera um problema real quando ocorre muito cedo.

Causas Sociais da Esquizofrenia:


As causas sociais da esquizofrenia têm sido pesquisadas tendo como
chave o diagnóstico. Tem-se questionado de forma radical até a existência
da doença mental.
Para Laing, a enfermidade mental é negada e a sanidade é definida de
forma relativa e não absoluta: “Sugiro, portanto, que sanidade ou psicose
seja testada pelo grau de conjunção ou disjunção entre duas pessoas,
onde uma esteja sã pelo consenso comum”.
Segundo Laing, delírios e alucinações, indicativos da insanidade,
estariam ligados a fatos reais ocorridos principalmente na infância e
representariam uma estratégia criada por uma determinada pessoa, para
poder defender-se de uma situação insustentável.
Exemplificando isto, pode-se citar o caso Schreber, estudado por Freud,
onde as ações do pai interferiram diretamente no adoecer do filho. A
esquizofrenia, segundo Laing e Bateson, vai além de um estratagema
para se sobreviver em famílias impossíveis, podendo ser positiva e até
mesmo algumas vezes, considerada como um processo de cura. Laing em
seu livro “The Polities os Experience” considera que o esquizofrênico
empreenderia uma viagem mística ao seu interior, podendo ou não
retomar dela. Cita: “Não é necessário que a loucura seja toda colapso.
Também pode ser ruptura das linhas inimigas. E potencialmente
liberação e renovação, tanto quanto escravidão e morte existencial”. Já
Batson, em “Perceval’s narrative: a patient account of bis psychosis 1830-
1832”, argumenta que: “Esta é uma das características mais
interessantes da estranha condição conhecida como esquizofrenia: que a
doença, caso se trate de uma, parece ás vezes ter propriedades curativas”.
O paciente, que seria uma vítima sacrificial de famílias desorientadoras,
encontra na esquizofrenia, um percurso, uma viagem de descoberta.
Apesar de Laig e Bateson terem feito importantes considerações sobre
vários aspectos desta patologia, nunca conseguiram melhoras
significativas, em seus pacientes, do que a psiquiatria convencional.
Quanto á origem da esquizofrenia tentaremos sistematizar o esboço de
um quadro evolutivo:
Os Pais: Têm eles uma grande responsabilidade por transmitirem uma
carga genética importante e também pela forma de criarem seus filhos.
Além do que se descobriu que haveria uma incidência de pais com
personalidade incomum (esquizoide). Um outro resultado social seria
decorrente a interpretação onde o indivíduo é estigmatizado, afastado de

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seus parentes e colocado junto aos loucos. Pelas próprias condições do


hospital psiquiátrico haveria um aumento da incapacitação social do
paciente esquizofrênico. Isto decorrente do ambiente de privação social e
das expectativas de insanidade que impregnam tudo nos negligenciados
pavilhões psiquiátricos carentes. A frequência de parentes que visitam o
doente faz ou não com que exista unia maior alienação ao mundo externo.
Acredita-se que a doença pode ser o fim patológico de um processo que
começa como uma variante das possibilidades de adaptação humana. A
retração do mundo externo para o interno, do público para o particular e
da razão para a irracionalidade são decorrentes de processos cerebrais,
familiares e sociais. Além destes fatores de risco, outros, ainda
desconhecidos, são encontrados em diferentes casos de esquizofrenia. Na
realidade, o estudo das questões sociais pertinentes à psiquiatria não é
recente, iniciou-se no fim do século passado com Durkheim estudando
suicídios.
Os fatores sociais envolvidos na evolução da esquizofrenia podem ser
familiares ou não, como exemplo deste último temos a questão das
instituições psiquiátricas.
Institucionalismo:
Segundo Wing, o estudo da forma pela qual pacientes esquizofrênicos
reagem a diferentes a Ambientes externos só poderia ser avaliado a partir
de três concepções teóricas: O primeiro corpo teórico corresponde a três
tipos de problemas que os pacientes podem apresentar: Pré-mórbidos,
primários e secundários. O Segundo corpo teórico trata do modo pelo
qual o ambiente social afeta os “handicaps” primários. Já o Terceiro corpo
teórico, trata dos “handicaps” secundários.

Rotulado Social:
Thomas Scheff, sociólogo norte-americano, elaborou uma interessante
aproximação teórica das relações entre o meio social e sintomas
psiquiátricos: “teoria da rotulação social”. Basicamente considera o
comportamento rotulado de doença mental como um tipo particular de
quebra de regras do grupo social ou desvio. Logo, alucinações, autismo,
EMBOTAMENTO AFETIVO (é um tipo de comportamento em que o
indivíduo se apresenta com dificuldades em expressar emoções e
sentimentos. É comum ocorrer na esquizofrenia e em outras doenças
psiquiátricas., etc), seriam vistos como quebra de regras de
comportamento.
Para Scheff, a quebra de regras residuais viria a partir de quatro “fontes”
diversas:
Orgânica;

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Psicológica;
Por “stress” externo;
Por atos volitivos de inovação ou desafio.

Compara isso com a que Balint chamou de fase tido organizada


da doença. Este acredita que isso caminharia para uma doença
organizada;
Já Scheff, pensa que isto pode se voltar para a excentricidade,
genialidade, etc. Esta quebra de regras residuais vem a ser a reação social
ao desvio, ou seja, a rotulação que a sociedade outorga a ele. O
estereótipo cultural da insanidade regeria a conduta individual após a
instalação do desvio primário. Em termos gerais o estereótipo sena
aprendido na infância. A “cristalização” do comportamento se daria em
função de “expectativas” a esse respeito, ou seja, o comportamento
passaria a ser semelhante ao de outras pessoas na cultura com o mesmo
rótulo de doentes mentais.
Eventos Vitais: Estudos realizados ultimamente mostraram haver relação
entre fatores de “stress” e as condições de saúde do indivíduo. Estes
eventos vitais tanto podem ser “positivos” (casamento, promoção no
emprego, mudança de moradia, etc.) quanto “negativos” (perdas). Wing
refere que os esquizofrênicos são mais susceptíveis a mudanças em seu
ambiente social (tendem à recidiva). Estes percebem a vida, o dia-a-dia,
como algo estressante, num limiar muito mais baixo do que a maioria
das pessoas.
Melhor visão da formação e origem da família, e sua importância no
processo do adoecer esquizofrênico:
Segundo Morgan, inicialmente, podemos generalizar a classificação dos
estágios pré-históricos da cultura, da seguinte forma:
Estado Selvagem -Período em que predomina a apropriação de produtos
da natureza, prontos para serem utilizados; as produções artificiais do
homem são, sobretudo, destinadas a facilitar essa apropriação.
Barbárie -Período em que aparecem a criação de gado e agricultura, e se
aprende a incrementar a produção da natureza por meio do trabalho
humano.
Civilização -Período em que o homem continua aprendendo a elaborar os
produtos naturais, período da indústria propriamente dita e da arte.
Família Normal:
Segundo Both, em qualquer grupo social, leigo ou técnico, conclui-se que
não existe uma “família normal”. A própria definição toma forma

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diferentes. Alguns, por exemplo, entendem normal como “perfeita”,


“média”, “habitual” e “comum”, termos muito ambíguos. Apesar disso, é
impossível renunciar a utilização da ideia de normalidade, pois o conceito
de família normal continua a ser empregado.
E, Both e outros pesquisadores perceberam através de entrevistas com
vários casais, a dificuldade de definição das normas da família.
Concluíram, então, que havia menos consenso sobre normas familiares
do que, via de regra, se supõe; e também que muitos informantes
achavam difícil declarar as normas de uma forma explícita.
Em resumo, os pontos de concordância entre os casais entrevistados
eram poucos: cada família elementar devia ser financeiramente
independente dos parentes e amigos e possuir sua própria moradia; devia
haver uma divisão de trabalho básica entre o marido e a esposa, sendo
que o marido ficaria encarregado do sustento financeiro e a esposa pela
tarefa de

limpeza da casa, cozinha e atenção ás crianças; todos achavam que o


adultério é uma séria ofensa e que os pais teriam a obrigatoriedade de
cuidar de seus filhos, até que estes pudessem cuidar de si próprios.
Estas normas não eram declaradas explicitamente por meios de tantas
palavras. Elas eram, simplesmente tidas como assentes. Esses pontos
gerais de concordância brotam das semelhanças gerais do meio ambiente
social.
A Família do Esquizofrênico:
Laing, após cinco anos de estudos com 11 famílias de esquizofrênicos e
uma série de 25 pacientes do sexo feminino, mostra os primeiros relatos
dessa pesquisa. A palavra “esquizofrênico” é usada para uma pessoa, sua
experiência ou comportamento, se estes forem considerados como
produto de um processo patológico. Segundo Laing a “esquizofrenia” é
um evento social, pois diz não existirem mudanças orgânico- estruturais
notadas no desenvolvimento da “doença”, não terem qualquer forma de
tratamento comprovado nem alterações patológicas post mortem, e ainda
sem mudanças fisiopatológicas que possam ser correlacionadas com ela.
A “esquizofrenia”, apesar de ocorrer em família, não observa nenhuma lei
genética clara.bÉ importante notar, diz Laing, que o paciente é alguém
que tem experiências estranhas e/ ou age de maneira estranha do ponto
de vista normalmente adotado por seus parentes e por nós próprios.
Interessa-se por cada pessoa, nas relações entre elas e nas características
da família como um sistema composto de uma multiplicidade de pessoas.
Cada pessoa não sena somente um objeto no mundo de outros, mas sim
o seu próprio centro com seu ponto de vista

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próprio. Porém, cada pessoa não ocupa unia única posição definida em
relação aos outros membros da família; podendo ser filha, irmã, esposa
e mãe. Chama a atenção para o que chama de vinculo familiar: essa
multiplicidade de pessoas pertencentes ao mesmo grupo de parentesco e
de outras que, apesar de não serem ligadas por laço de parentesco, são
consideradas como membro da família. Esses relacionamentos são
caracterizados por influências recíprocas, duradouras e intensivas da
experiência e comportamento de cada um. O indivíduo não seria a
unidade da doença, mas sim a família; logo, não é o indivíduo que
necessita dos serviços de um “clínico” para ser curado, mas sim toda a
família. A família (ou mesmo a sociedade, em escala maior) seria um tipo
de hiper organismo, com unia fisiologia e patologia que podem ser boas
ou doentias. Como a antipsiquiatria estuda principalmente a estrutura
familiar de pacientes esquizofrênicos, a família seria o agente causador
mais importante desta enfermidade. Sendo também o primeiro sistema
de relações, é na família que forma-se a personalidade do indivíduo.
Tanto para Laing quanto para Cooper, o indivíduo apresenta
comportamentos “diferentes”, isto é, sintomas não de uma doença e sim
manifestação de uma situação social patológica. Logo, a esquizofrenia
constituiria uni modo mais ou menos característico de comportamento
grupal perturbado. Pode se dizer também, que, o indivíduo esquizoide
vive num limbo, isto é, não “foi de vez” como o esquizofrênico, e nem “está
totalmente ai”. Com muita frequência ele se encontra à margem da
sociedade, onde ao lado de pessoas do mesmo tipo, sente-se mais cm
casa.

Vínculos duplos:
A presença de unir esquizofrênico em determinadas famílias faz com que
exista, frequentemente, uma paralisia coletiva, o psiquiatra e
psicoterapeuta, quando penetra nestes intercâmbios familiares, percebe
que sua razão está colocada em questão, não só pela patologia do doente,
mas principalmente, pela forma de comunicação dos membros da família.
Isto foi constatado por pesquisadores de Pato Alto, descobrindo-se assim
o duplo vínculo (double bind).
As condutas, atitudes e conversas do esquizofrênico se caracterizam por
incomunicabilidade, impenetrabilidade, dissociação, extravagância,
ambivalência e falso desprendimento.
“Cada esquizofrênico” (J. haley) é uma linguagem não- linguagem, unia
comunicação fundamentada na ruptura da comunicação. O paciente
diverge, vive — e parece ter vivido num universo familiar afetivo e verbal
de tipo paradoxal, em que as atitudes e as trocas foram marcadas por

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uma incerteza desorientadora. Os comportamentos aberrantes do doente


têm vínculos diretos com os modos habituais de relação cm sua família.
O doente ilustra os paradoxos familiares descobrindo sentido no
contrassenso”. O estatuto do esquizofrênico é formular lhe a indagação
essencial da psicopatologia: a angústia não é vivida? A angústia suprime
o sujeito. Ela o cristaliza, no limite da confusão, entre o eu e o ele, entre
a consciência e a loucura. Um breve contato com as situações
esquizofrênicas mostra a confusão existente entre os planos verbais e
comportamentais da comunicação; onde a mais exata das mensagens
pode ser ambígua, em função do tom adotado ou mesmo das palavras
escolhidas. Tanto Bateson quanto Don Jackson, Haley e Weakland
apresentam em artigo publicado em 1956 os “ingredientes” do vínculo
duplo. São eles:
Trata-se de relações entre duas ou mais pessoas. Fica urna delas
designada como “vitima” para facilitar a descrição. Tanto a mãe quanto o
pai ou mesmo parentes podem estar intervindo igualmente no vínculo
duplo.
Essa experiência se repete ao logo da existência da vitima, que conta,
portanto, com sua intervenção.
Emite-se uma injunção primária negativa, combinada com uma ameaça.
Pode tratar-se de formulações como: “Não faça isso ou aquilo, caso
contrário eu o punirei”. Enfatiza-se o caráter punitivo, tendo-se mais
sanções do que recompensas se têm como exemplo de punição o ódio e a
cólera dos pais gerando o abandono e unia profunda confusão.
Trata-se de uma injunção secundária cm conflito com a primeira, onde
verbaliza-se uma afirmação, porém as atitudes (posturas. gestos,
modulações da voz) transmitem outra mensagem. Por exemplo: “Não
considere isto como uma punição”, “Não me encare como responsável por
uma punição” ou ainda “Não leve em conta minhas proibições”. Quando
os pais intervêm simultaneamente, podem desempenhar papéis opostos,
cada qual exprimindo uma das mensagens, criando assim a interferência.
O bloqueio da relação é caracterizado pela injunção negativa terciária que
proíbe a vítima qualquer escapatória. Para as crianças é impossível fugir
da relação vital que representa os adultos que a cercam, podendo
algumas vezes ocorrer substituição do bloqueio pela ambiguidade.

É fundamental no estudo de situações relacionais concretas, o esboço da


aplicação do vínculo duplo, com o uso apenas de um dos ingredientes
anteriores, gerando a partir desse sinal o essencial da reação emocional.
No doente mental os personagens reais podem ser substituídos pelas
alucinações.

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Quando um indivíduo se vê frente a injunções paradoxal, quando é


impassível revoltar-se ou mesmo quando uma resposta lhe é exigida, ele
responde utilizando uma expressão metafórica. Assim sendo, mantém
preservada sai individualidade (um sentido pessoal), porém dando
possibilidades de gerar múltiplas interpretações. Já os sintomas e as
formas clínicas dos esquizofrênicos são também modos de responder
ambiguamente, ou mesmo de dar respostas sem respostas.
Haveria uma correlação evidente entre a comunicação esquizofrênica e
as formas da esquizofrenia. Na forma paranoide, solicita-se o imaginário
privado, com imagens, mito e palavras que chegam até a criar urna
ruptura com o imaginário
coletivo, apesar de manter o vínculo inicial com ele. Na forma hebefrênica
a resposta efetiva em relação a outrem é feita de forma ambivalente,
mesclando a intensidade da relação com a frieza e a hipersensibilidade
com a indiferença Finalmente à forma catatônica, coloca o distúrbio das
relações no uivei comportamental (um rosto que não reage ao contato,
mau humor, retraimento patológico e rigidez cérea).

Jackson, cm estudos sobre psicoterapia, lembrou que os tratamentos


individuais podem resultarem efeitos sobre a família do paciente, seja
negativa DLI positivamente.
A semiologia esquizoide poderia aparecer quando a mãe pouco calorosa
oculta urna atitude de rejeição sob um papel de mártir, ficando o pai em
segundo plano, ausente ou morto. A mãe nega seus próprios
sentimentos, “dizendo uma coisa que significa outra inteiramente
diferente”.
A semiologia histérica poderia aparecer quando uma criança tivesse
sofrido a projeção dos desejos sentais e agressivos não aceitos de seus
pais. A presença compensadora de um avô ou parente afetuoso, ou ainda
uma ambivalência acentuada na mãe poderia prevenir a evolução para a
psicose.
Os psicopatas viriam de famílias instáveis.
J Haley fez a descrição sistêmica da família do esquizofrênico.
Posteriormente na definição de “mãe esquizofrenogênica” viu- se a
importância do papel de um pai inadequado e além da igual
responsabilidade dos pacientes não esquecendo também os parentes.
Sendo assim, o essencial seria a natureza funcional do comportamento
esquizofrênico no interior de um dado sistema familiar. Enfatizou

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também a necessidade de uma metodologia para obter-se estes dados. O


observador deve sempre estar incluído no sistema familiar; sendo que o
melhor modo de observar sena o contexto terapêutico. De uma maneira
global a rigidez das regras é o que dificulta essencialmente este
funcionamento familiar.
Já para Laing, o efeito de camuflagem da mistificação aumenta quando
“a mistificação é confirmada pela mistificação da consciência da
mistificação”. A tomada de consciência é rotulada pelo mistificador:
agressão ou loucura, O sujeito mistificado está perturbado, mas, quer
sinta ou não estes distúrbios, sua percepção subjetiva é posta em dúvida
pelo mistificador: “Isto é efeito de sua imaginação, você sonhou?”, “Não
quero que você diga isso; bem sei que na verdade não pensa assim!”.
Laing acredita que a mistificação se diferencia do duplo vínculo na
medida em que deixa ao sujeito o direito inalienável de experimentar e
agir. Bem depressa, no entanto, apenas um grau mais acima, aparecem
o duplo vinculo e suas limitações fechadas.
Já H. SEARLES, EM 1969: Teve a felicidade de elaborar a seguinte
formulação: o esforço para tornar o outro louco. Ele dedicou inúmeros
anos à psicoterapia de esquizofrênicos hospitalizados no Chestnut Lodge
Sanitarium. O esforço para tornar o outro louco da origem ao drama da
relação esquizofrênica.
Searles assim precisou seu ponto de vista: “A instauração de roda e
qualquer interação interpessoal que tenda a favorecer um conflito afetivo
no outro — que tenda a fazer com que ajam umas contra as outras as
áreas de sua personalidade — tende a torná-lo louco (ou seja,
esquizofrênico)”. Diz ainda que a estimulação e a frustração simultânea,
ou alterando-se rapidamente, podem ser exercidas tanto pela mãe
excitada e logorreica quanto pelo esquizofrênico que erotiza sua relação
como o psicoterapeuta, enquanto lhe fala em filosofia.
Que significado teria, “ser uma verdadeira mãe de esquizofrênico?”
Refletir sobre isso é evitar a escolha de uma via etiológica única: origem
genética, distúrbio biológico, determinantes afetivos ou déficits familiares
sociais. A teoria do vínculo duplo diz apenas o seguinte: é necessário
tratar o esquizofrênico juntamente com sua família. Para descrever estes
vínculos, é preciso viver uni pouco neles, experimentando a complexidade
de suas ligações comportamentais e verbais.
A mãe do esquizofrênico e a instituição hospitalar dedicam-se a tarefas
semelhantes, mas reciprocamente competitivas. A lógica da situação
seria que o hospital praticasse intervenções terapêuticas e que a mãe
consentisse numa cooperação positiva. Um modelo fascinante das
relações primitivas continua a ser a simbiose da nutrição; onde se apoiam

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a maior parte dos psicanalistas que entram em relação com os psicóticos,


como por exemplo, Searles.
Pseudomutualidade:
Wynne: E colaboradores realizaram uma tentativa de interpretação da
esquizofrenia, levando em conta a organização social da família como um
todo.
Há uni esforço de adequação ao outro da relação, sendo esse esforço
realizado às custas da diferenciação da própria identidade, que não pode
ocorrer.
Inversamente, nas relações de mutualidade, a pessoa apresenta sua
identidade positiva e significativamente valorizada, a partir da
experiência e da valorização conjunto se desenvolve o reconhecimento
mútuo da identidade, o qual inclui um reconhecimento cada vez maior
das qualidades do outro.
Hipoteticamente, nas famílias de futuros esquizofrênicos, as relações que
se reconhecem como aceitáveis exibem uma qualidade de
pseudomutualidade intensa e perdurável. Acreditam que ela não seja
exclusiva de famílias de esquizofrênicos, constituindo um traço
importante no tipo de meio em que a esquizofrenia se desenvolve quando
existem também outros fatores.
Citam algumas características da pseudomutualidade familiar.
Uma inviabilidade da estrutura de papéis, apesar das alterações que
ocorrem na vida familiar.
Uma insistência no conveniente e adequado desta estrutura de papéis.
Sinais de intensa preocupação com respeito a qualquer divergência ou
independência com respeito a esta estrutura de papéis.
Ausência de espontaneidade, novidade, humor e entusiasmo na
participação conjunta. Radanm acredita que, à distância entre as várias
teorias sobre aspectos comunicacionais e emocionais da dinâmica
familiar do paciente esquizofrênico não estejam tão longe assim entre si,
apesar de desenvolvidas deforma independente.

Ideias do Grupo de Theodore Lidz: Sem negar a importância dos fatores


genéticos, estudam a possível contribuição familiar de gênese da
esquizofrenia, partindo do enfoque dos modelos de interação na família
como um todo, possibilitando o desenvolvimento psicológico e
identificação do individuo.
Basicamente, Lidz e seu grupo categorizam as famílias de pacientes
esquizofrênicos em dois grupos: aquelas caracterizadas por “cisma

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conjugal” (marital Schism) e aquelas caracterizadas por “viés conjugal”


(marital Skew). O primeiro mostrava-se como uma espécie de
desequilíbrio conjugal no qual a família mostrava-se dividida, como um
cisma, pelos dois cônjuges, competindo e rivalizando entre si e pelo afeto
dos filhos, onde não havia complementaridade de propósitos de
reciprocidades de papéis; tentativa de imposição de opinião e padrões,
por parte de um cônjuge, sem levar em consideração o outro, que era
sistematicamente rejeitado, podado, denegrido, ao invés de aceito e
amado, o “centro da gravidade” da família com as casas dos pais dos
cônjuges, que não haviam conseguido suficiente independência; a relação
era estabelecida em base de pouca confiança, a família dividida em duas
facções; se a criança adotasse comportamentos de identificação com um
dos pais era francamente atacada e hostilizada pelo outro, a criança era
frequentemente utilizada para suprir necessidades conjugais
insatisfeitas, como tipo de “marido ou esposa auxiliar”. O Segundo era
um tipo de desequilíbrio conjugal no qual não existia propriamente o
cisma anterior, poderia até existir um certo grau de harmonia conjugal,
mas tio ambiente, predominasse francamente um quadro psicopatológico
no mínimo razoavelmente sério de um dos cônjuges; nesses casamentos,
um dos parceiros, que era exatamente dependente ou masoquista, tinha
se casado com alguém que supria essas necessidades de dependência ou
masoquistas. A patologia mental séria do cônjuge era aceita pelo outro,
os conflitos sendo mascarados, com a criação de uma atmosfera
completamente irreal. Apontam então, Hirsch e Leff, que conceitos de
inversão e de delimitação de papéis entre as gerações estão nas bases das
concepções de Lidz.
Trabalho de R.D. Laing:
“Santv, Madness and the Family “: Escrito em co-autoria com
A. Esterson, através do estudo de onze famílias de pacientes
esquizofrênicos, mostra que se olhamos comportamentos e experiências
do individuo isoladamente, sem referência à família e sem o observarmos
dentro de seu contexto, dentro da interação familiar, eles perecerão sem
sentido.
Mas, “se enxergarmos a mesma experiência e comportamento em seu
contexto familiar original, provavelmente eles terão mais sentidos”.
Enfatiza o fato de que a família do paciente esquizofrênico deveria ser
vista como um todo, para qualquer tentativa de compreensão do que se
passa com o paciente.
Quanto “a Política da Família”, Laing se refere à questão família e
esquizofrenia, colocando a questão da esquizofrenia em termos de sua
“atribuição”. Diz: “Uma espécie particular de disjunção entre dois seres
humanos, um psiquiatra e o outro paciente, é a causa decisiva, ainda
que não originária, da atribuição da esquizofrenia” (no que se refere ao

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diagnóstico). Afirma que para haver progresso no tratamento de pacientes


rotulados de “esquizofrênicos”, os psiquiatras terão que aprender mais
acerca da esquizofrenia de tais pacientes e abandonar as dominantes
noções de que eles são “geneticamente determinados, bioquimicamente
intoxicados, interpessoalmente incapazes, intrapessoalmente absortos e
socialmente desviados”.
Sustenta ainda, que a esquizofrenia é um produto de relações entre
pessoas em sistema social que hoje “gera e desenvolve esquizofrênicos
tanto quanto gera e desenvolve psiquiatras” um sistema social que hoje
“pessoas nasceram na esquizofrenia. pessoas escolheram tornar-se
esquizofrênicos e pessoas têm esquizofrenia que lhes imputaram.
Continua dizendo que a esquizofrenia deve ser considerada ã luz dessas
relações sociais, das instituições sociais e sua estrutura histórica. Enfim,
para Laing, a esquizofrenia é considerada um produto de ralações em uni
sistema social
Socioterapia, Reinsercão e reintegração social:
O interesse pela humanização do hospital, pelos direitos do doente, por
higiene mental, por serviço social, por testes, pela criança, por seleção e
orientação profissional, por psicopedagogia, por terapêutica ocupacional,
por reabilitação de crônicos, por assistência extra-hospitalar inclusive
heterofamiliar e a egressos, pelos métodos sociológicos, configura Ulisses
Pernambuco como o primeiro e maior psiquiatra social no Brasil.
Diz Clark: “Se um médico deseja usar a psiquiatria social para ajudar
seus pacientes, deve estar preparado para se encarrega de muitas tarefas
que não são consideradas usualmente como trabalho dos médicos”.
Nas estatísticas, a maior proporção de pacientes que permanecem
internados nos hospitais psiquiátricos é de esquizofrênicos. Em casos de
primeira internação em todo o Brasil, esta patologia também é a
predominante. Em ambulatório o segundo maior percentual (o primeiro,
psiconeuroses) de pacientes atendidos é ainda de esquizofrênicos. Já o
terceiro maior percentual de concessão de auxílio-doença nos hospitais
da previdência social (o primeiro, psiconeuroses; o segundo, epilepsias) é
de esquizofrênicos; incluindo casos de todas as especialidades nos
cálculos (1968 a 1973). Enquanto o esquizofrênico sofre as influências
sócio-culturais, a esquizofrenia não. A doença é a mesma, mas os doentes
são diferentes. O conhecimento da esquizofrenia continua habitando a
“terra de ninguém” dentro das ciências, mesclando-se ai, as da natureza
e do espírito. A esquizofrenia é formada de uma pluridimensionalidade
etiológica e nela coexistem fatores hereditários, constitucionais,
biológicos, psicológicos e sociais. Dos fatores sociais, destacam-se as
interações entre família e paciente, suas classes sociais (ambiente) e
distúrbios psiquiátricos, a influência das instituições psiquiátricas, a
ligação entre fatores estressantes com eventos psíquicos e/ ou com

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doenças em geral e os estudos transculturais (desvios de regras, vistos


como doença mental). Percebe-se que a esquizofrenia é simultaneamente
doença e reação. Somente a patologia cerebral assume características
próprias, considerando o distúrbio mental como transtorno cerebral-
orgânico ou funcional. A personalidade reage diferentemente a esta
cerebropatia diferindo nestes termos da pneumopatia, hepatopatia e
cardiopatia, tendo reflexos próprios. Toda vivência do esquizofrênico é
pessoal, não podendo ser explicada sem conexão com sua historicidade
organizadora existencial. A doença tem sua causalidade e se explica
através dos conhecimentos biológicos, científicos e naturais
simultaneamente ao quadro cínico esquizofrênico, aspectos nosológicos
e nativos; logo torna-se impossível a caracterização patognomônica da
doença e do doente. Os sintomas da esquizofrenia encontram-se em
qualquer distúrbio cerebral, porém seu curso e evolução próprios
individualizam a esquizofrenia. Em qualquer tempo ou parte do mundo,
o homem poderá adoecer de esquizofrenia, porém esta terá sempre
matizes variados segundo influências do ambiente onde viverá este
homem esquizofrênico. Não encontramos com a frequência antiga, na
Europa e na América, os catatônicos, mas eles são ainda frequentes na
Índia. As esquizofrenias histeriformes, abundantes na Idade Média, são
raras na Idade Atômica. A variação morfogênica dos quadros
psiquiátricos na evolução social ocorre pela interação entre psiquiatria e
sociedade. Isto não acontece em outras especialidades, justificando nelas
a doença permanecer de forma constante.
Conclui-se, portanto, que indistintamente, todos os aspectos etiológicos
da esquizofrenia e não só os sociais, devem ser vistos interligados,
mesclados, e não em posição litigiosa; aprofundando-se em cada um
deles sem estabelecer prevalências. Só assim poderemos, algum dia,
contestar a famosa sentença de P. Abély, o iconoclasta da doença
esquizofrênica, de que a “Esquizofrenia encontra- se em uma ilha
maravilhosa, inabitável, da geografia psiquiátrica”.

DISCIPLINA 4: INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE


4.1-Conceito geral
Ninguém melhor do que o homem, que sozinho descobriu tudo o que
sabemos hoje sobre uma ciência, que tendo sofrido uns poucos
acréscimos e algumas correções de curso é a mesma: Psicanálise, vez que
ninguém, de qualquer ramo de Psicologia, conseguiu, de modo racional e
final, demolir a grande obra que já completou 100 anos de bons serviços
prestados à humanidade.
A PSICANÁLISE É...

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É um procedimento para a investigação de processos mentais que, de


outra forma, são, praticamente, inacessíveis;
É um método baseado nessa investigação para o tratamento de distúrbios
neuróticos;
É uma série de concepções psicológicas adquiridas por esse meio e que
se somam umas às outras, para formarem, progressivamente, uma nova
disciplina científica.
O Psicanalista é um profissional clínico que pratica a Psicanálise em
consultórios, em hospitais, empregando a metodologia e a técnica dos
princípios da psicanálise.
O Psicanalista é o profissional que aplica os princípios, os postulados, as
técnicas e os métodos da Psicanálise no tratamento ou na prevenção de
distúrbios psíquicos de natureza inconsciente, tais como:
Perturbações caracterológicas, estados neuróticos, inadaptações,
timidez, impulsividade, sentimento de culpa, desgosto obsedante,
escrúpulo excessivo, distrações desagradáveis, dúvidas persistentes,
fobias, obsessões, neurastenias, neuroses de fracasso etc.
A Psicanálise é a ciência do inconsciente, é conhecida também como
ciência arte, é a forma de tratamento de todas as neuroses e da
problemática humana, através do processo de livre associação,
interpretação de sonhos, resistência e dos conflitos internos.
A Psicanálise surgiu dentro da Medicina como uma tentativa de curar os
sintomas histéricos por meio psicológico.
A Psicanálise não é uma subespecialidade da psiquiatria, também não é
especialização médica. São ciências afins, completamente definida e
cuidando da parte do psiquismo que não se confunde.
A Psicanálise é considerada como a Teoria da Personalidade. A
Psicanálise com seus métodos:
•Técnica;
•Objetivo;
•Princípios.
A Psicanálise é uma técnica, um método de investigação que consistem
em descobrir o significado inconsciente das palavras, das ações e das
produções imaginárias:
•Sonhos
•Fantasias
•Delírios de um indivíduo baseado na associação livre.

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A Psicanálise é um conjunto de princípios determinantes com fatores de


eliminação de sintomas.
A Psicanálise é análise, métodos de tratamento criados por Freud.
Métodos das desordens mentais e emocionais que constituem a
estrutura das neuroses como toda problemática de vida,conflitos
internos,perturbações e transtornos.
A Psicanálise é investigação psicológica que tem por fim lhe trazer a luz
da consciência, os sentimentos obscuros ou recalcados.
A Psicanálise é o estudo de uma obra de arte.
A Psicanálise é o método de tratamento de doenças de origens psíquicas,
tendo por base sua investigação.
A Psicanálise é um método de psíquico-terapia fundamentado na
investigação e especificado pela a interpretação da resistência, da
transferência e do desejo.
A Psicanálise é um conjunto de teoria psicológica e psicopatológica,
sistematizando aos dados introduzidos pelo método e técnica de
Psicanálise Clínica de observação, investigação de tratamento.

O objetivo da psicanálise
Não pretende e não tem por objetivo modificar o homem. O objetivo da
psicanálise é transformar o inconsciente em consciente (trazer o paciente
de volta para o seu mundo real); há pessoas que tomando consciência
dos seus motivos, dos seus conflitos consigo mesmo, poderá se quiser,
ter a sua vida transformada e modificada.
Segundo Freud, a Psicanálise é um método de:
Processos mentais, quase inacessíveis por outros meios.
Uma técnica baseada na investigação, no tratamento de distúrbios
neuróticos e transtorno de personalidade.
Um conjunto de informações psicológicas que trata de todas as
neuroses.
Considerações iniciais. Se há alguma coisa, que se destaca, no exercício
das nossas atividades num consultório, é o conceito que estabelece que
não há como se separar o conhecimento prático do teórico, uma vez que
a mente inconsciente do analista e a do paciente, são os recursos
mais importantes de que se dispõem para terapia.
Por isso mesmo não há como se negar que haja, na prática psicanalista,
todo um trabalho intelectual a ser desenvolvido com os dados que se
houver levantado, mais temperado com a empatia, que,
dicionaristicamente, se define como sendo a apreciação emocional dos

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sentimentos alheios ou a abstração da própria vida-interior, para aceitar


um conteúdo psíquico diferente.
Empatia é apreciação emocional (afetiva) dos sentimentos alheios, ou a
abstração da própria vida anterior, para aceitar um conteúdo psíquico
diferente.
Não sendo assim, não haverá uma visão de conjunto do paciente, nem
reconstruções de seguimentos mais amplos da vida dele, pois o máximo
de que se disporá, será de um acúmulo de introvisões por parte do
paciente e do psicanalista.
Por outro lado, pode haver erros numa posição oposta, que seria a do
analista que formulasse teorias precipitadamente, por estar trabalhando
com dado insuficientes. Teríamos então algo como um exercício
meramente intelectual, vindo de um analista que tenha tomado por
norma evitar o envolvimento com seus pacientes e que, por isso mesmo,
se robotizam, transformando-se em verdadeiros arquivos de dados e
quando muito, em produtores automáticos de informações, que, por sua
vez, serão reduzidas à interpretações.
Se há algo que não se pode, nunca, esquecer, é o fato que a Psicanálise
exige muitíssimo do analista, pois ele tem de ouvir todo material que o
paciente reduza, com muita atenção, ao mesmo tempo em que se permite
que suas lembranças associativas, suas fantasias se formem de maneira
inteiramente livre, em quanto ele se põe a escutar. Mas isso não pode
desligá-lo de uma realidade: ambos são seres humanos, dotados de
sentimentos inalienáveis, sendo que alguns deles, por especial
conformação, podem e devem ser utilizados numa sessão psicanalítica
em benefício do avanço da compreensão da situação que levou alguém ao
consultório. A empatia é um desses sentimentos.

Um pouco de história
Como foi que Sigmund Freud começou tudo? Na verdade, foi com um
consultório, uma cadeira, um divã e uma atitude de interesse pelo
problema do paciente, que ele começou a evoluir, partindo,
exclusivamente de observações pessoais. Ele que era um médico
neurologista em Viena, especialista em doenças nervosas, que na
continuação do seu esquema, ele se deu conta de que podia descobrir
muito mais de que, até então, pudera presumir, já que, na verdade, a
chave de tudo estava no ouvir o inconsciente, embora, a esse tempo,
houvesse, ainda, muito de intuição.
A partir desse convencimento, tudo foi feito com o objetivo de formular
um processo terapêutico. E o que é um processo terapêutico? Ora um
processo terapêutico é uma série de inter- relacionamento de fatos, que,
no caso, teriam de ser psíquicos, os quais, apropriadamente instigados

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por processos técnicos, ensejariam efeitos terapêuticos. Como processos


terapêuticos temos a ab-reação, a compreensão interna, o resgate das
lembranças antigas.

Para chegar a uma conclusão, resolveu ele estudar com psiquiatra


francês, Charcot, que usava a hipnose no tratamento das histerias.
Um ano depois, juntou-se a Breuer, que levava seus pacientes à catarse,
solicitando deles que falassem dos seus sintomas. De suas observações,
a esse tempo Freud deduziu que, na base da histeria, o que havia eram
conflitos sexuais e que a hipnose era um método muito pobre para se
alcançar a cura dos vitimados pelas doenças no nível psíquico,
convicções essas, que levou Breuer a separar-se de Freud.
Munidos dessas experiências, começa ele, então, a formular os métodos
da associação livre (dizer, sem qualquer censura, o quer que venha à
mente) e a interpretação dos sonhos, como instrumentos técnicos de
tratamento.
Ao final do seu esforço, temos hoje, que Psicanálise é uma forma especial
de terapia, embasada numa extensa teoria acerca de estrutura da
personalidade (tanto normal, quanto patológica), que admite que as
principais forças psicodinâmicas se originam, muito especialmente, da
parte inconsciente da mente.
No primeiro de seus trabalhos, Sigmund Freud apresentou a significação
simbólica da expressão projeção, em relação aos conflitos, como sendo
um mecanismo de defesa dos doentes mentais, que acabou sendo
também aplicada aos normais, pois se constatou que estes se valem do
mesmo mecanismo.
O sentido geral da palavra Psicanálise (ou seja, análise psicológica), é o
mesmo que identificação de motivos inconscientes e pré-conscientes uma
teoria desenvolvida para ser usada como um recurso terapêutico, mas
que, logo em seguida, passou a ser uma obra completa em si mesma,
uma nova psicologia, apta para uma cabal interpretação do ser humano.
Na Psicanálise encontramos a distinção de três sistemas ou instâncias
da personalidade humana: o Id, o Ego e o Superego.
O Id, que é o sistema original da personalidade, compreende todos os
componentes psicológicos presentes no nascimento, incluindo-se, aí, os
instintos, exprime o que haja de impessoal, involuntário, e inconsciente,
nas forças mais profundas que governam a vida: é a própria
preponderância das necessidades, as quais caracterizam por não atender
nunca ao princípio da realidade, mais sim única e exclusivamente, o do
prazer, não tomando, também, conhecimento, nem do tempo nem das
razões causais ou lógicas.

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É o Id a fonte e o reservatório de toda a energia psíquica que anima a


operação dos outros dois sistemas (Ego e Superego), que por sua vez se
origina dos processos físicos.
Seu modo característico de funcionamento (do Id), dá-se via processo
primário do pensamento, ou seja: procura a resposta direta e imediata
ante um estímulo instintivo, sem distinguir entre realidade e a fantasia.
Instalando-se, entre tanto, uma impossibilidade, o Id encontra, nos
indivíduos sadios, uma saída nos sonhos e nos mentalmente enfermos,
nas alucinações.
É o Id é quem vai gerar os dois outros sistemas da personalidade, que
são o Ego e o Superego.
O Ego, é a parte executiva da personalidade e que compreende as partes
consciente da personalidade (com quanto haja no Ego partes inscientes),
venha se desenvolver por meio da diferenciação das capacidades
psíquicas em contato com as realidades exteriores. Sua atividade é, em
parte, consciente (percepção externa e interna, processos intelectuais) e
em parte pré-consciente e também inconsciente.
Sua estrutura é dominada pelo princípio da realidade, que é o fator que
se incube do ajustamento ao ambiente e da solução dos conflitos entre o
organismo e a realidade.
É o Ego, mediador entre o Id e o mundo exterior, tento que se haver,
também como o Superego, com as lembranças de toda ordem e com as
necessidades físicas do corpo. Opera de acordo com o princípio da
realidade, cujo o objetivo é a avaliação da situação, pelo que pode vir a
adiar a satisfação de uma necessidade, até que um método satisfatório
seja encontrado.
A estrutura do Ego é dominada pelo princípio da realidade, que é o fator
que se incube do ajustamento ao ambiente e da solução dos conflitos
entre o organismo e a realidade. Seu modo característico de
funcionamento dá-se via processo secundário do pensamento, o que
significa dizer que busca satisfazer os impulsos do Id, mas agindo,
sempre através de meios indiretos e frequentemente demorados, em
função do fato de estar avaliando as condições determinadas pela
realidade ambiental. Este tipo de pensamento é verbal e se caracteriza
pela lógica e pela objetividade. E o pensamento do indivíduo maduro.
O Superego é uma integração das forças sociais repressivas que o
indivíduo encontra no decurso do seu desenvolvimento. Sua atividade se
evidencia nos conflitos com o Ego, por afetos relacionados com a
moralidade e muito principalmente, com a culpabilidade. É formado pela
identificação da criança do genitor do mesmo sexo, o que se dá ao
solucionar-se o conflito edipiano, momento em que a criança integra à
sua personalidade aquilo que crê sejam os princípios básicos e ideais dos

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seus pais. É nesse momento, que se desenvolve um autocontrole, que


será o substituto do controle parental.
Possui o Superego duas partes:
1.a que se baseia nos fatos ou coisas que sofreram desaprovação e
punição, ao tempo da infância, pela ação dos pais e/ ou de outros que
intervieram na educação inicial;
2.O chamado Ego Ideal, que representa os fatos ou coisas que receberam
calorosa aprovação, recompensas, por parte dos pais ou por outras
pessoas. A satisfação do Ego Ideal, provoca intensos sentimentos de bem
estar e de orgulho.
O Superego é o representante internalizado daquilo que o indivíduo
considera ser basicamente certo ou errado. Ou seja: é a proporção moral
da personalidade. Freud nos ensinou que o Id todo e partes do Superego
e do Ego, são inconscientes.

Notícias históricas sobre publicações


Seu trabalho de pesquisas e observações levou um vasto número de
complexas teorias acerca da personalidade, em que empenhou e muitas
vezes alterou, a partir de 1890, até sua morte que ocorreu em 1939.
Com seus estudos, Freud acabou por estabelecer que as suposições
básicas da psicanálise que são:
O determinismo, ou causalidade psíquica e a teoria do inconsciente.
O conceito do determinismo psíquico admite que cada evento psíquico é
determinado pelos eventos que o precederam, do mesmo modo que todos
os eventos físicos tem determinantes causais. Quanto ao processo mental
inconsciente, descobriu Freud o tremendo papel vital que por ele exercido
na conduta e nos processos do pensamento humano, não obstante
parecer que outras causas estejam atuando, ou que os fenômenos
observados sejam sem sentido.
Usando uma figuração, Freud comparou a mente a um iceberg, cuja
porção menor que aparece sobre a superfície da água, é semelhante ao
que nos é consciente, enquanto que a parte maior, aquela que é submersa
(4/5), representa a região do inconsciente.
Quando se fala de Psicanálise, fala-se de uma teoria que pode ser
classificada como uma teoria psicodinâmicas da personalidade, vez que
nela se busca explicar a natureza e o desenvolvimento da personalidade,
dando-se ênfase na importância das motivações, dos afetos e de outras
forças internas. É uma teoria que presume que o desenvolvimento da
personalidade só se desencadeia, quando o conjunto dos conflitos

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psicológicos são resolvidos, sabendo-se que todos eles, tem suas raízes
no início da infância e que são absolutamente inconscientes. É desse
tempo esta declaração:
É por demais fácil esquecer que, via de regra, um sonho é somente um
pensamento como qualquer outro, possibilitado pelo afrouxamento da
censura e pela intensificação inconsciente e distorcido pela ação da
própria censura elaboração inconsciente.
Fala-se, também, de uma coisa que o seu criador definiu dizendo que
psicanálise é o nome:
1.De um procedimento para investigação de processos mentais, que, de
outra forma, são inacessíveis;
2.De um método baseado nessa investigação para o tratamento de
distúrbio neuróticos e;
3.De uma série de concepções psicológicas adquiridas por este meio e que
se somam umas às outras, para formarem, progressivamente, uma nova
disciplina científica.
Fala-se de uma disciplina fundada por Sigmund Freud, em que se
distinguem três níveis:
1.Um método de investigação que consiste em evidenciar o significado
inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias de um
indivíduo. Um método baseado principalmente nas associações livres;
2.Um método psicoterápico, especificado pela acurada interpretação da
resistência, da transferência e do desejo e;
3.Um conjunto de teorias psicológicas e psicopatológicas em que são
sistematizados os dados introduzidos pelo método psicanalítico de
investigação e de tratamento.

Neurose
A palavra neurose é muito antiga: segundo alguns autores, foi um termo
criado por um médico escocês, Dr. William Cullen, que o introduziu num
tratado médico, que foi publicado em 1777, sob o título geral First lines
of. the Practice of. Physics, sendo que, numa segunda parte de sua obra,
a quem, titulou de Neurosis or. Nervous Diseases é que aparece a palavra
que Freud veio a consagrar em suas descobertas.
Aliás, foi em cima das descobertas clínicas resultantes dos estudos das
neuroses, que foi formulada toda a teoria psicanalítica.
Freud nos ensinou e nós, os psicanalistas, temos comprovado nos nossos
consultórios, que as neuroses se baseiam no conflito neurótico.

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É o conflito neurótico que provoca a obstrução da descarga dos impulsos


instituais que ocorrem no estado em que estejam reprimidos. Assim
sendo, o Ego vai ficando cada vez mais capacitado para administrar as
tensões sempre crescente, o que acaba resultando na sua total sujeição.
Mas acontecem as descargas involuntárias.
Suas primeiras pesquisas positivas foram desenvolvidas no campo das
recordações, ficando demonstrado que vezes há em que conseguem
aflorar à consciência lembranças muito antigas, que poderiam ser
consideradas como perdidas. A partir disso, ficamos então sabendo que
se muitos episódios, muito especialmente os acontecidos nos primórdios
de nossas vidas, não nos voltam à consciência, não será porquê os
tenhamos perdido, mas porquê, de alguma forma, não se adequam à -
vida atual, ou entre eles e a sua recuperação, está firmemente implantado
um obstáculo qualquer, nesse ponto Freud foi muito eficiente, pois
descobriu o meio de se acessar às recordações mais arcaicas, ensinando
a nós seus seguidores e aos seus detratores, que as lembranças infantis
se conservam no inconsciente e que de lá podem ser trazidas, na vida
adulta, ao exterior, mediante procedimentos analíticos, valendo-se o
analista de sonhos, erros de linguagem, atos falhados e de um imenso
número de manifestação absolutamente inconscientes ao analisando.
Nos seus trabalhos, ele comprovou que o inconsciente se forma desde o
primeiro momento da vida extrauterina e que na primeira infância, os
impulsos instintivos se orientam, as vezes, como violência, para o
primeiro indivíduo capaz de satisfazê-los, resultando este fenômeno, no
que se poderia comprar com um forte enlaçamento, sendo que o intenso
ímpeto deste direcionamento, nos anos que se seguem, acabam por
determinar que ocorram conflitos relacionados com outros impulsos e do
mesmo modo, com outras tendências.
Dessa comprovada teoria, temos que se os primeiros impulsos sexuais
não podem se manifestar às claras, adotam o mascaramento, com o que
o indivíduo engana a si mesmo, com o ocultamente que se instala,
fazendo com que tudo o que se massacrou, se torne inconsciente. Só o
processo não se encerra por aí, pois tudo o que se tornou inconsciente
continua operante, como operantes também são todos os esquemas
implantados em forma de defesa, conquanto sejam, também estes,
absolutamente inconscientes.
Quando me impus a tarefa de trazer à luz o que os seres humanos
guardam dentro de si, não pelo poder compulsivo da hipnose, mas
observando o que eles dizem e mostram, pensei que a tarefa fosse mais
difícil do que realmente se mostrou ser. Aquele que tem olhos para ver e
ouvir, pode convencer-se de que nenhum mortal pode guardar um
segredo. Estando seus lábios silenciosos, fala ele com as pontas dos
dedos, traindo-se por todos os poros.

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Assim a tarefa de tornar consciente os mais escondidos recessos da


mente se tornam perfeitamente factível.
Os objetivos terapêuticos da Psicanálise compreendem a reconstrução ou
uma modificação importante dos padrões de personalidade e defesas
básicas do paciente, bem como o alivio dos sintomas.
Para obtenção desses objetivos, os primeiros psicanalistas esforçavam-se
para alcançar o assim chamado material do Id, e , as primeiras
experiências da vida com os impulsos básicos (sexuais e agressivos),
memórias reprimidas (amnésia infantil) como são as memórias da cena
original, que é ter presente uma visão de relacionamentos sexuais dos
pais, etc.
A moderna Psicanálise esta muito mais envolvida com a psicologia do
Ego, que é uma compreensão da estrutura do caráter básico do indivíduo
e dos mecanismos de defesa mais frequentemente por ele empregados,
quando da manipulação das ansiedades.
Em qualquer uma dessas formas de Psicanálise, deve haver um interesse
considerável em relação aos fatos do passado, devido às marcantes
influências na vida emocional atual do paciente.
Como resumo das ideias regentes dos seus seguidores podemos
apresentar as seguintes teses gerais:
1.Há que se estudar as leis e os determinantes da personalidade (normal
e anormal) e elaborar-se os métodos de tratamento para as desordens
das personalidades;
2.Os motivos inconscientes, as lembranças, os medos, os conflitos e as
frustrações, são aspectos importantes da personalidade. Trazer esses
fenômenos à consciência é uma terapia crucial para as desordens da
personalidade;
3.A personalidade é formada durante a primeira infância. A exploração
das lembranças dos primeiros cinco anos de vidas é essencial ao
tratamento;
4.A forma mais apropriada de se estudar a personalidade é dentro do
contexto de um relacionamento íntimo e prolongado entre paciente e
analista. Durante o transcurso dessa associação, os pacientes relatam
pensamentos, sentimentos, lembranças, fantasias e sonhos, enquanto o
profissional analisa e interpreta o material e observa o comportamento
do paciente.
Na verdade, a teoria Psicanalítica criou uma revolução na concepção e no
tratamento dos problemas afetivos, gerando, entre os acadêmicos, um
grande interesse pela motivação inconsciente, pela personalidade, pelo
comportamento anormal e pelo desenvolvimento infantil.

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Do que até agora foi exposto, podemos ter uma boa ideia do quanto de
alterações no trato do ser humano, Freud, com suas teorias acabou por
impor. Contudo convém que nos detenhamos ainda nas suas ideias, para
que, mergulhando nelas, saiamos impregnados da única metodologia que
pode, realmente, solucionar a problemática daquele que está mal em
vários graus, por trazer, no seu íntimo, um grave conflito, absolutamente
inconsciente, entre o seu Ego e o seu Id a causar uma compacta
obstrução ante uma indispensável descarga instintual, que é o neurótico.
Neurótico é quem porta um conflito inconsciente entre o Ego e o Id,
conflito este, que, por sua vez, segue obstruindo as descargas instituais.
Freud, quando o lemos, parece que o ouvimos, tal é a sua expressividade
e foi por isso mesmo que tomamos o título que colocamos neste tópico: é
que queremos que suas ideias se mantenham presentes como se
estivessem sendo ditas ao pé do ouvido, isto para que, realmente,
venhamos a ser Psicanalistas.
Quando ele tratava de seus pacientes, sua busca se concentrava nos
insights, o que ensejava a compreensão daquelas personalidades. Com o
mesmo cuidado, ele as observava, sendo assim que acabou por formular
todo um grande conjunto teórico a que chamou de Psicanálise, que
explicava o quanto de normalidade e podia haver num analisando.
Introdução à teoria topográfica, ou Freud e a sua conceituação de
inconsciente
Nada mais freudiano do que o conceito de inconsciente, que é,
primordialmente, uma noção tópica e dinâmica, surgida na experiência
do tratamento, aonde se pode ver que o psiquismo não é restrito ao
consciente e que determinados conteúdos só são alcançáveis depois de
superados certas resistências: revelou, também, que a vida psíquica era
"cheia de pensamentos eficientes, porém absolutamente inconscientes e
que era destes que emanavam os sintomas".
O tratamento levou, também, a suportar a existência de grupos psíquicos
separados e de um modo mais geral, a admitir o inconsciente, como um
lugar psíquico particular que há que ser concebido não como uma
segunda consciência, mas como um sistema e como tal, possuindo
conteúdos, mecanismos e talvez, uma energia específica.
Vejamos, então os conteúdos referidos:
Quando Freud, em 1915, escreveu o artigo O Inconsciente (Duas
Unbewusste), aos conteúdos, deu a ele, o nome de representante da
pulsão. Explicou, também que a pulsão, que se localiza entre o psíquico
e o somático, está muito aquém da posição entre consciente e
inconsciente e que por um lado, nunca poderá vir a se tornar objetivo da
consciência e por outro, só se apresenta no inconsciente, por meio de
seus representantes.

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A isso deve ser acrescentado que um dos primeiros modelos teóricos


freudianos, define o aparelho psíquico como uma verdadeira sucessão de
inscrições de sinais, que é uma ideia que vai ser retomada e discutida em
trabalhos posteriores.
As representações inconscientes, são dispostas em fantasias, histórias
imaginárias em que a pulsão se fixa e que podemos conceber como
verdadeiras encenações do desejo.
A maior parte dos textos freudianos anteriores à segunda tópica,
assimilam o inconsciente recalcado. Há que se notar que tal assimilação
não deixa de ter restrições. Além disso, vários textos reservam um lugar
para os conteúdos filogenéticos (os não adquiridos pelo indivíduo), que
acabariam por constituir o núcleo do inconsciente.
Essa ideia se completa na noção de fantasias originárias, como esquemas
pré-individuais, os quais vem acrescentar informações às experiências
sexuais infantis do indivíduo.
Acresçamos ainda, que pelas suas observações, Freud constatou que nas
pessoas são conscientes apenas uma pequena parte de seus
pensamentos, recordações, sentimentos e desejos, havendo muitos que
são pré- conscientes , ou seja, que estão situados um pouco abaixo do
nível de percepção, mas que são facilmente recuperáveis, convivendo com
uma imensurável maioria, que o é absolutamente inconsciente.
Com o passar do tempo, ele concluiu que este material inconsciente entra
na consciência de forma disfarçada, pelo que aparece em sonhos, em
lapsos de linguagem, em parapraxias, enganos, acidentes e durante a
livre associação de ideias, que é um método em que o analisando fala a
respeito do que lhe vem à mente, sem ter por qualquer censura ou
coordenação, que, por sua vez, resulta num material que o analista
relacionará com o que dispuser acerca do comportamento do indivíduo
de suas memórias, seus sonhos, erros e acertos no transcurso da vida.
Ao acento dado por Freud na formulação de suas teorias, recai sobre o
inconsciente: lendo-o vemos seu permanente enfoque sobre os aspectos
inconscientes da personalidade. Assim em sua opinião, os impulsos
componentes da personalidade, as lembranças das experiências do início
da infância e os dolorosos conflitos psicológicos, tendem, todos, a serem
conscientes.
O inconsciente, conforme escreveu Numberg, nos é revelado por seus
conteúdos e pelo seu modo de funcionamento.
Quando desejos originários de um conflito intrapsíquico são muito
intensos e inacessíveis à consciência, podem ele geral sintomas
neuróticos.

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Tornando-se, entretanto, via tratamento psicanalítico, perfeitamente


conscientes, os sintomas a que deram origem desapareceram: é apenas
quando são inconsciente, que os desejos podem ser, então, patogênicos.
Resumindo, podemos dizer que Freud estabeleceu que a teoria
topográfica que reflete, em grande parte, a sua experiência ao analisar
neurótico e que, em decorrência desta experiência, a sua teoria retrata a
mente humana em geral, dividida em três sistemas distintos, função,
entretanto, dá acessibilidade à consciência.
Dito isso, podemos, agora trabalhar mais a Teoria e assim teremos:
1.Somatório da energia mental investida num processo ou representação,
é chamada de a sua catexização;
2.Aspecto do funcionamento mental que se relaciona com a energia
mental empenhada em determinado fenômeno psíquico, é chamada de o
aspecto econômico (ou seja, quantitativo) desse fenômeno e;
3.Tendo sido a energia mental definida como originário dos impulsos
instintivos e desencadeadora da atividade mental, podemos, então,
presumir que a gratificação, instintiva, resulta em uma descarga de
energia mental e qualquer tipo de atividade psíquica, costuma fazer-se
acompanhar de transferência ou de um fluxo de energia mental.
4.6-Topografia da personalidade
A divisão topográfica da Personalidade compreende o Consciente, o Pré-
consciente e o Inconsciente.
O consciente inclui as porções da vida mental a que o indivíduo tem
acesso de forma imediata. Inclui, também, a maior parte, mais não a
totalidade, do Ego.
Pré-consciente inclui as partes da vida mental que podem ser trazidas ao
consciente após um esforço da concentração da atenção. Compreende,
principalmente o Ego.
O Inconsciente é desconhecido para o indivíduo, conquanto parte do seu
conteúdo possa, às vezes, passar para a pré- consciência e daí virem a se
manifestar no consciente.

O sistema Ics
Já ficou dito que o sistema Ics se caracteriza pelo fato de serem os seus
elementos:
1.Inacessíveis à consciência;
2.Caracterizados por uma determinada maneira de funcionar que se
denomina processo primário (no processo primário, a energia psíquica se

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escoa livremente, passando sem barreiras, de uma representação para


outra, em função dos mecanismos de deslocamento e de condensação,
reinvestindo-se nas representações ligadas às vivências de satisfação
constitutivas do desejo);
3.Pela natureza não verbal dos seus resíduos anêmicos;
4.Pelo fato de ser incapaz de outra forma de mentalização além do desejo,
ou seja: pelo fato de operar conformidade com o princípio do prazer;
5.Por sua relação com a vida instintiva e;
6.Por seu caráter infantil, se deve juntar, para ser ressaltar pela
repetição, que os seus conteúdos são de grande significação na
determinação da conduta e do pensamento.

Os conteúdos do Inconsciente são de grande significação na


determinação da conduta e do pensamento. Técnicas especiais foram
elaboradas com o propósito de provocar jogo das forças mentais,
modificações de tal sorte que aquilo que em outras circunstâncias
suscitaria desprazer, pode, numa determinada ocasião, resultar em
prazer. Sempre que um mecanismo dessa natureza entra em
funcionamento, a repressão de um representante instintivo, que, em
outras circunstâncias, seria repelido, vê-se, então, removida. Contudo a
repressão é, apenas temporariamente removida não tardando muito o
seu restabelecimento.
Nota importante:
Fechar-se-ia uma apreciação completa da Teoria Topográfica se a partir
daqui se tratasse dos sistemas Pcs e Cs, contudo o que nos importa, no
âmbito desta apostila, é a visão de Sigmund Freud acerca do
inconsciente, pelo que não distenderemos sobre o tema, lembrando
entretanto, que se Freud, acabou por rejeitar certos aspectos da teoria
Topográfica (o que levou a concepção da Teoria estrutural, ele jamais
negou os princípios que descobriu e lapidou, por serem regentes dos
sistemas que determinam que sejamos do jeito que somos).

A personalidade e a sua dinâmica


A energia psíquica, de que, mais acima, já se falou, aparece,
subjetivamente, nas manifestações de força e de entusiasmo. É universal
e indiscutivelmente reconhecida, ma é, também intraduzível em termos
fisiológicos. Constitui-se numa hipotética força propulsora, responsável
por todas as ações psicológicas.

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No interior da personalidade, encontram-se, em plena atividade, os


instintos e a ansiedade.
Vejamos: Os instintos emanam, todos, do Id e basicamente, dispomos de
dois: o sexual e o agressivo:
1. Sexual (libido, instinto de vida), compreende o conjunto de energias
instintivas que produzem a gratificação individual e a perpetuação da
espécie. Sua parte principal está relacionada ao impulso sexual, que tem
suas fontes nas zonas erógenas do corpo (genital, oral e anal), cujo
estímulo ou manipulação pode produzir sensações agradáveis. Temos
como derivado desse instinto, o afeto, o amor, o desejo de reprodução, a
necessidade de nos associarmos a outras pessoas, a criatividade no
trabalho, a prática das artes etc.
2. Agressivo: compreende todas as forças destrutivas e hostis da psique
humana e seus derivados compreendem o impulso de autoafirmação, a
ambição, a competição, o desejo de vencer e o impulso para triunfar.
3. A ansiedade: sob condições normais, a ansiedade previne contra um
perigo iminente, pois ao ser despertada motiva a pessoa a se por em
condições de luta ou fuga.
Há três tipos de ansiedade:
1. A real: que é o medo de perigos reais do mundo exterior, assim é que,
ao sentirmos o cheiro de fumaça, tememos o fogo.
2. A neurótica: que é o medo de que os instintos escapem do controle,
obrigando a pessoa a fazer algo que não a leve a punição. É o caso do
indivíduo que odiando um chefe, tema que por meio de seus atos
transpareça o ódio, o que poderia resultar na sua demissão do emprego.
3. A moralística: que é o medo do Superego, que sente o indivíduo quando
faz algo que fira o seu código moral. Pode acontecer que a ansiedade
neurótica se torne em ansiedade livremente-flutuante. Isso ocorre
quando os sentimentos ansiosos que emanam de um conflito específico
se expandem para uma série de situações aparentemente neutras ou
irrelevantes, de tal modo que o indivíduo não consegue explicar qualquer
ligação entre os sentimentos ansioso e quaisquer outras situações
específicas.
A personalidade e o seu desenvolvimento
Falando-se de forma bem sintética, podemos dizer que a personalidade
se desenvolve em resposta a três principais fontes de tensão:
1.Processos fisiológicos do crescimento;
2.Frustações externas aos impulsos e;
3.Conflitos internos entre forças dinâmicas.

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Tais fontes constituem as ameaças ao Ego infantil, contra o qual a


criança tem de desenvolver os meios necessários para alcançar a redução
destas tensões que se caracterizam por serem recorrentes, o que, ao final,
resultam no processo de desenvolvimento da personalidade.
Não sendo o período edipiano satisfatoriamente resolvido, podem ocorrer
algumas variações de alterações afetivas:
1.A excessiva identificação com o genitor de sexo oposto, pode estar
associada ao desenvolvimento de características femininas
(homossexuais) no menino, ou o mesmo nas meninas.
2.O medo do genitor do sexo oposto, pode prejudicar a capacidade
individual em lidar com pessoas deste sexo.
Um estágio edipiano parcialmente solucionado, pode resultar num
superego mal formado ou mesmo deficiente, o qual pode vir a ser
determinante de alterações sociopáticas do caráter e das neuroses.
Até onde se sabe, parece que mesmo as psicoses, podem provir de
problemas edipianos precoces.
Causas de uma solução não satisfatória do estágio edipiano:
1.Acesso ao período edipiano com conflitos na fase oral, ou anal, ou fálica,
que são do período pré-edipiano, trazendo para período novo, alguém sem
energia suficiente para enfrentar as novas circunstâncias;
2.A ausência de um dos genitores (sem, também, haver um substituto à
altura), devido a divórcio ou qualquer outro tipo de separação;
3.Severa psicopatologia da parte de um dos genitores, dos tipos, por
exemplo, ser um deles excessivamente sedutor, ou cruel, ou ameaçador,
ou daquele os que vivem a rejeitar, ou inconsistente, ou inseguro, ou em
constantes transformações, ou frio etc.
4.Severos defeitos no Superego, como um pai efeminado, poderão vir a
ser determinante de uma confusa identificação com tal genitor, que pode
resultar numa formação superegoica instável, inconsistente e não
razoável.
Adolescência final e adulto jovem:
Neste período, a partir dos 16 - 18 anos e pelo resto da vida, podem ser
observados os chamados pontos de fixação, que são correspondentes às
fases não solucionadas, ou pelo mesmos não satisfatoriamente
solucionadas, que determinam a existência de um indivíduo adulto, que
passa um quadro de
imaturidade em algumas áreas do seu caráter, de sua identificação
sexual, de seu equilíbrio afetivo, suas tendências a regredir ante
relacionamento estável, suas eleições sexuais (não somente as

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homossexuais em qualquer grau) e pelas evidentes indicações de eclosão


de um comportamento neurótico.
4.9- Fixação e regressão
No tópico anterior há referências a estes pontos, que, por serem
importantes, merecem comentários.
As dificuldades que podem conduzir ao quadro de fixação, são,
geralmente, desencadeadas por:
Quanto à regressão, define-se como um retorno à uma conduta
característica de uma fase anterior (mas não, necessariamente, a
imediatamente anterior), ante um eventual enfrentamento de uma
situação estrelante. Seria o caso de um menino, já pelos seus 6, 7 anos,
treinado com sucesso nos hábitos higiênicos, voltar a urinar na cama, ou
nas calças, o que marcaria uma regressão à fase anal.
O interessante, porém, é que o simples fato de haver uma regressão,
significa que há um ponto de fixação, no mínimo parcial, que levou o
menino a regredir ao anal, especificamente e não ao oral, por exemplo.
Para explicar o quadro de regressão, Freud apresentou uma analogia
bastante didática:
Suponhamos que um exército avance, dispondo de uma tropa composta
por um bom número de soldados. A medida que avance, vai conquistando
cidades e para dominá-las, o comandante vai deixando parcelas da tropa
em cada ponto que capturou. O número de soldados ocupantes da
posição variará em função da maior ou menor dificuldade encontrada na
conquista da cidade. Assim, quanto maior a oposição, maior será o
número de soldados que deixará para trás (em termos psicanalíticos,
estão aí os pontos de fixação).
O fato, porém, é que mesmo sendo um sucesso o avanço, por ser coroado
de êxitos, ao chegar ao fim da campanha, a tropa inicial já estará
bastante desfalcada, pelo que, ante uma eventual batalha em que tenha
inesperadamente de se empenhar, quando já parecia que todos os seus
problemas haviam terminado, o comandante não terá alternativa, senão
recuar (em termos psicanalítico está aí a regressão) e recuar para onde
deixou um maior número de soldados, que por sua vez, será sempre o
lugar que conquistou em função de grandes dificuldades com que se
deparou.
Em termos psicanalíticos, a tropa corresponde à energia psíquica que se
despende no enfrentamento das situações que possam significar
dificuldades.

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A psicanálise: a frequência e a duração


É usual requerer a psicanálise, que sejam realizadas no mínimo uma e
até cinco sessões por semana, com a duração de 50 minutos cada uma,
em que o objetivo é o conhecimento da estrutura do Ego, com o fim de se
alcançar a sua plena soberania e não, apenas, eliminar-se os sintomas.

Começa, então uma exploração meticulosa de todas as fases do


desenvolvimento do paciente, sabendo o analista, que qualquer que seja
o estado em que se apresente o paciente, aliciará as resistências,
justamente em nível do Ego, ante às eventuais modificações das defesas
estabelecidas, quer sejam mais ou menos esgotantes, indesejáveis ou
mesmo ineficazes: o fato é que todas se tornaram habituais do Ego e por
isso mesmo de difícil remoção.
É a psicanálise um procedimento caro e demorado. Aliás, sobre custos,
Meninger, um Psicanalista lido no mundo inteiro, nos diz: “Quando
dinheiro se constitui num problema, a Psicanálise não é o tratamento
indicado.”
O uso do divã
Na maioria das vezes, as sessões são conduzidas com o paciente deitado
num divã, ficando o analista sentado de tal modo que fique fora das vistas
do paciente, uma vez que se quer levá-lo, completamente desligado da
lógica e da censura, à livre expressão de material associativo, de
fantasias, de divagações, de descrições de cenas de qualquer época, de
pensamentos do momento, de sonhos antigos ou atuais, de sentimentos
recorrentes ou não: qualquer material que flua, vindo de alguém que se
encontra confortavelmente instalado e inteiramente relaxado.
O divã tem que ser confortável e suficientemente largo para acomodar
todo tipo de paciente, o divã deve ser reforçado para suportar o peso dos
pacientes com obesidade.
Esclarecendo que o divã não é um sofá, é um elemento básico na
representação da análise.
Para Freud, o paciente ao se deitar no divã, ele está se entregando ao
processo analítico.
Freud usava o divã, pois percebia que era mais confortável para os
pacientes, havia um maior relaxamento muscular...
O divã representa um útero materno, ou seja, acolhe o sujeito, promove
relaxamento, protege e permite seu crescimento emocional.
No divã , não há julgamentos, é um local neutro, onde pode ser dito
qualquer coisa e o paciente não será julgado.

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Associação livre
A REGRA BÁSICA, áurea, fundamental para uma frutuosa análise, é a
associação livre, que é um processo que começa depois de concluídas as
entrevistas preliminares: é a oportunidade que se oferece ao paciente de
livremente, sem qualquer constrangimento, venha a dizer o quer que lhe
venha à mente, sabendo que, num consultório psicanalítico, tudo é
segredo e nada é pecado, nem mentira, nem despropósito. Não há o mau,
não há o indelicado, não há o envergonhoso, não há o trivial: tudo é bom,
tudo é significativo, tudo é segredo, tudo é muito importante e por isso
mesmo, o quer que seja exteriorizado, será tomado como indicador dos
derivados do inconsciente, que são como peças de um quebra-cabeças
que, como se fossem sobrenadantes, se põem ao alcance do analista,
vindo, ao tempo próprio, estabelecer a devidas conexões, por sua vez,
ensejará que o paciente integre novas posturas ante o mundo que o cerca.
É o melhor meio pelo qual podemos aprender acerca do inconsciente do
indivíduo: fora dele não há Psicanálise!
A Associação Livre, enseja que o analista avalie a capacidade do paciente
em trabalhar na situação analítica, e determina o quanto ele, nas suas
funções egóicas, dispõe de suficiente elasticidade para oscilar entre as
funções mais regressivas do Ego e as mais maduras, que são aquelas que
o levarão à compreensão das intervenções analíticas, respondendo a
perguntas diretas e retornando à realidade, ao final da sessão.
Geralmente o paciente associa durante todo o transcurso da sessão, mas
pode acontecer que ele relate sonhos e outros incidentes do dia a dia, ou
do seu passado. Uma das características da sessão psicanalítica é
justamente essa, a de incluir associações quando apresenta sonhos ou
quaisquer outras experiências.
A resistência interfere no Ego raciona e tem de ser analisada antes que
qualquer outro trabalho psicanalítico possa ser feito. (Greenson, 1967).
Por se falar em resistência, convém que se traga para cá, uma sua
conceituação. Esta está sendo transcrita do vocábulo da Psicanálise de
autoria de Laplanche e Pontalis (Imago, p.458);

Chama-se resistência a tudo o que, nos atos e palavras do analisando,


durante o tratamento psicanalítico, se opõe ao acesso ao seu
inconsciente.
Por extensão, Freud falou de resistência à Psicanálise, para designar uma
atitude de oposição à suas descobertas, na medida em que elas revelavam

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os desejos inconscientes e submetiam o homem a um "vexame


psicológico".
Acrescentamos:
Por trás de cada sintoma neurótico há um conflito entre desejos sexuais
e forças repressivas e esse mesmo conflito se torna responsável pela
resistência que invariavelmente surge no consultório e que se constitui
na fonte principal de problemas que o analista há que enfrentar.

O sonho
Não quereis assumir a responsabilidade pelos vossos sonhos! Pois sabeis
que não há nada mais vosso do que os vossos sonhos.
Sim, não há obra mais vossa! Tudo no sonho, a substância, a forma, a
duração, o ator, a plateia, enfim, tudo nessa comédia representa a vossa
pessoa!
H. Nunberg (princípios da Psicanálise; Atheneu; p.7). diz:
“É imperativa a compreensão do sonho, se quisermos chegar a um
entendimento da vida mental do ser humano.” Na verdade, o que o levou
a dizer tal frase, que é perfeita em termos psicanalíticos, foi o fato de
Freud haver descoberto que os sonhos se constituem no caminho de
acesso mais direto ao inconsciente humano, uma vez que ocorre quando
a mente, como acontece durante a vigília, não está de prontidão,
ensejando, assim, que material inconsciente aflore à superfície.
Assim, o sonho é uma externalização de um processo interno, vez que é
a realização de um desejo reprimido (Freud), pelo que dizemos que, em
todo sonho, os desejos reprimidos ou se realizam ou tentam se realizar,
mas sob um disfarce onírico, sendo, muitas vezes de natureza sexual ou
ambiosa, prevalecendo, entretanto, nos sonhos dos adultos, os temas
sexuais.
Mas há, também, os sonhos infantis, que pela sua simplicidade, são
muito diferentes dos sonhos dos adultos, por serem, dizemos, mais
diretos: trazem uma correspondência imediata, sem disfarces, com os
seus desejos reprimidos, pelo que não têm a importância dos sonhos dos
adultos, conquanto nas clínicas especializadas em psicanálise infantil,
eles sejam considerados.
Os sonhos mais simples são os das crianças, na medida em que as suas
atividades psíquicas são, certamente, menos complicadas que as dos
adultos.
Freud dizia:
“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente.”

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E acrescentemos, ainda, para se ter uma ideia da importância dos sonhos


na Psicanálise, o que Freud disse quando completou seu trabalho acerca
do tema:
A teoria dos sonhos ocupa um lugar peculiar na história da Psicanálise.
Tal teoria representa um ponto de transição. Com ela, a análise passou
de um método psicoterápico, à categoria de psicologia das profundezas
da natureza humana.
A teoria dos sonhos de Sigmund Freud sugere que os sonhos representam
desejos inconscientes , pensamentos, realização de desejos e motivações.
Ana Costa, em seu livro Sonhos, disse o seguinte:
“Pode-se perceber que sonho e inconsciente são dois conceitos
estreitamente ligados na teoria freudiana. De fato, considera-se que a
fundação da psicanálise deu-se com a publicação dos textos de Freud
em 1900. O autor denominou “formações do inconsciente” o que dele
surgia como seus representantes mais diretos: além dos sonhos, os atos
falhos e os chistes. E deu ao sonho um estatuto especial, considerando-
o “via régia para o inconsciente”.
O trabalho psíquico na formação do sonho, divide-se em duas operações:
a produção dos pensamentos do sonho e a sua transformação em
conteúdo manifesto do sonho.
Desses ensinamentos tiramos que há um...
Trabalho do sonho, que, na realidade, é um conjunto de operações que
transformam os materiais do sonho (estímulo corporais, restos diurnos,
pensamentos do sonho), num produto: o sonho manifesto.

Os mecanismos de defesa
Foi este o nome que Freud adotou para apresentar os diferentes tipos de
manifestações que as defesas do Ego podem apresentar, já que este não
se defronte só com as pressões e solicitações do Id e do Superego, pois,
aos dois se juntam o mundo exterior e as lembranças do passado.
Quando o Ego está consciente das condições reinantes, consegue ele.
sair-se bem das situações, sendo lógico, objetivo e racional., mas quando
se desencadeiam situações que possam vir a provocar sentimentos de
culpa ou ansiedade, o Ego perde as três qualidades citadas. É quando a
ansiedade sinal de defesa, com o fim de proteger o Ego contra uma dor
psíquica iminente.
Há vários mecanismos de defesa, sendo alguns mais eficientes do que
outros. Há os que exigem menos dispêndio de energia para funcionar a
contento. Outros há que são menos satisfatórios, mas todos requerem
gastos de energia psíquica.

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A Repressão: É a operação psíquica que pretende fazer desaparecer, da


consciência, impulsos ameaçadores, sentimentos, desejos, ou seja,
conteúdos desagradáveis ou inoportunos.
A Racionalização: É uma forma de substituir, por boas razões, uma
determinada conduta que exija explicações, de um modo geral, da parte
de quem a adota. Os Psicanalistas, em tom jocoso, dizem que
racionalização é uma mentira inconsciente que se põe no lugar de algo
que se reprimiu ...
A Sublimação: É o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em
que canaliza os impulsos libidinais para uma postura socialmente útil e
aceitável.
A Projeção: Manifesta-se quando o Ego não aceita reconhecer um impulso
inaceitável de Id e o atribui a outra pessoa. É o caso do menino que
gostaria de roubar frutas do vizinho sem, entretanto, ter coragem para
tanto, e diz que soube que um menino, na mesma rua, esteve tentando
pular o muro do vizinho.
O Deslocamento: É um processo psíquico, através do qual o todo é
representado por uma parte ou vice-versa. Também pode ser uma ideia
representada por uma outra, que, emocionalmente, esteja associada à
ela, esse mecanismo não tem qualquer compromisso com a lógica. É o
caso de alguém que tendo tido uma experiência desagradável com um
policial, reaja, desdenhosamente, em relação a todos os policiais.
É muito corrente nos sonhos, onde uma coisa representa outra. Também
se manifesta na Transferência, fazendo com que o indivíduo apresente
sentimentos em relação a uma pessoa, que na verdade, lhe representa
uma outra do seu passado.
A Identificação: É o processo psíquico, por meio do qual um indivíduo
assimila um aspecto, uma característica de outro e se transforma, total
ou parcialmente, apresentando-se conforme o modelo desse outro.
A Regressão: É o processo psíquico em que o Ego recua, fugindo de
situações conflitivas atuais, para um estágio anterior. É o caso de alguém
que depois de repetidas frustações na área sexual, regrida, para obter
satisfações, à fase oral, passando a comer em excesso.
Isolamento: É um processo psíquico típico da neurose obsessiva, que
consiste em isolar um comportamento ou um pensamentos, de tal
maneira, que as suas ligações com os outros pensamentos, ou com o
autoconhecimento, ficam absolutamente interrompidas, já que foram (os
pensamentos, os comportamento), completamente excluídos do
consciente.

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Formação Reativa: É o processo psíquico que se caracteriza pela adoção


de uma atitude de sentido oposto a um desejo que tenha sido recalcado,
constituindo-se, então, numa reação contra ele. Uma outra definição: é o
processo psíquico, por meio do qual um impulso indesejável é mantido
inconsciente, por conta de uma forte adesão ao seu contrário.
A Substituição: Processo pelo qual um objeto valorizado emocionalmente,
mas que não pode ser possuído, é inconscientemente substituído por
outro, que geralmente se assemelha ao proibido. É uma forma de
deslocamento.
A Fantasia: É um processo psíquico em que o indivíduo concebe uma
situação em sua mente, que satisfaz uma necessidade ou desejo, que não
pode ser, na vida real, satisfeito.
A Compensação: É o processo pelo qual o indivíduo se compensa por
alguma deficiência, pela imagem que tem de si próprio, por meio de um
outro aspecto que o caracterize, que ele, então, passa a considerar como
um trunfo.

Teoria psicanalítica
Se há empreitada que realmente não é fácil realizar é analisar, ou melhor,
psicanalisar, vez que o exercício de tal atividade exige que desenvolvamos
a capacidade de sermos, simultaneamente, analistas e terapeutas, somos
analistas quando desmontamos, componente por componente, o
conjunto que é o paciente que se senta na nossa frente. Somos
terapeutas, quando, integralmente, respondemos às expectativas daquele
ser que nos buscou no consultório, com queixas que podem variar entre
um "Não consigo arranjar um namorado!", passando por "Estou sentindo
um medo, não sei de que!", até um vastíssimo sentimento de culpa por
ter concordado com o desligamento de todo um equipamento que
mantinha, respirando, alguém num quadro de morte cerebral. Há um
problema inicial que surge quando se faz psicanálise, mas que, na
verdade, não é dos mais graves: acontece, em quase 100% das vezes, que
o nosso paciente nos busca, trazendo, na ponta da língua, um
autodiagnóstico, residindo o problema, no fato de que é a nós que
compete o diagnóstico, que se delineará quando tivermos identificado a
patologia. Resume-se a situação dizendo-se que o paciente chega
buscando uma cura, enquanto nós o abordamos buscando uma doença...
Há aqueles que sugerem terapias, indicando aconselhamentos, hipnose,
relaxações. Quando isso acontece, há que se ser firme nas sondagens
(ensaios) referentes à capacidade de associar, de aceitar as
interpretações, com o fim de, com diplomacia e habilidade, patentear que
há uma fundamentação técnica nos nossos procedimentos e que, em
nenhum momento, prevalecerá, no consultório, o princípio do bom senso.

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Uma forma muito proveitosa de se começar uma análise, é desde os


primeiros momentos, formular-se perguntas que levem o paciente uma
introspecção, mas com respostas que não se limitem a um sim ou a um
não. Este tipo de abordagem tem a vantagem de trazer, ao paciente, a
ideia de prosseguimento no tratamento, vez que a introspecção o leva a
focalizar-se no meio em que vive e a ver-se agindo e reagindo.
Para tanto, não nos é lícito cobrar, respostas ricas e sim formular-se
perguntas que gerem respostas esclarecedoras. A propósito, nunca nos
esqueçamos que todo paciente tem, durante quase todo o tempo, apenas
um "assunto: as pessoas com quem se relaciona, ou aquelas com quem
deixou de se relacionar, daí a importância de levá-lo ao foco em si mesmo,
que é o princípio do autoconhecimento, do Nosce te ipsum, cujo
vislumbre, via de regra, é decisivo para a opção pela psicanálise.
Podemos dividir a Psicanálise em três momentos: o do início, o do meio e
o do término. O inicial é aquele em que as nossas interpretações,
provindas das questões introspectivas, despertam no paciente cogitações
acerca do como será na próxima sessão? E a instalação de um processo
que pode ser chamado de processo da continuidade da psicanálise, que
é filho de introspecção. O do meio é marcado pelo surgimento da
transferência, muito especialmente, quando o analista é o alvo do
fenômeno. O momento do término é aquele em que se evidenciam
marcantes alterações indicadoras de cura, referida à queixa inicial. É um
momento que quase nunca é comemorado pelo paciente, vez que ele,
simultaneamente à consolidação da cura, começa ainda que
inconscientemente, a viver um quadro de separação. É aí que se
recapitula a patologia identificada e todo o trabalho em que ambos se
empenharam para neutralizá-la, confirmando-se, destarte, a cura.
O Diagnóstico
Este é um tema que é, também introdutório, constituindo-se, por outro
lado numa grande preocupação para o profissional de Psicanálise, uma
vez que, é o diagnóstico o fator que preside a abordagem, estabelecendo
a linha condutora durante toda a sequência terapêutica a ser adotada.
SF falou disso, para, em seguida, destacar a problemática referente à
fixação do diagnóstico na nossa arte, pois a situação do diagnóstico na
nossa arte, pois a situação dentro do consultório só se configura após um
certo tempo de tratamento.
Quando temos alguém, sob nossos cuidados, não podemos, por conta das
características especiais da Psicanálise, estabelecer os dois objetivos
clássicos: primeiro determinar a natureza do mal que mina o paciente
que está sentado diante de nós e em segundo, localizar, no quadro
nosológico, os componentes incidentes da doença.

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Fundamentalmente o que fazemos, é ouvir, mas mesmo nessa atividade,


aparece um fator embaraçante: o paciente, que sistematicamente, só vai
falar das pessoas a quem conhece, sempre nos apresenta uma história
preenche de fantasias, romances e agravamentos, que tumultuam o
quadro, mas é o que se tem e o que se pode usar ... para determinar a
escolha do tratamento, o que nos faz concluir que, entre nós, o
diagnóstico é algo que virá após um tempo de análise, que é todo um
procedimento que acaba por expor as pessoas a novos aspectos de suas
vidas, para o que doses de empatia, de tolerância, são ministradas
inclusive no transcurso do período de sondagem.
Ante as dificuldades, só nos resta, enquanto não dispomos de dados para
o estabelecimento de um diagnóstico, formularmos
um prognóstico, que nos servirá para caminharmos rumo à solução da
problemática que nos tenha sido confiada.
O problema é que mesmo se aceitando a constatação das dificuldades,
permanece a necessidade de se chegar a uma conclusão o mais rápido
que se possa, para se alcançar a cura, aliando-se, a isso, a compressão
de que qualquer interferência terapêutica há que ser adiada em nome da
prudência e mesmo da ética profissional. Para se tranquilizar, convém
que o Analista tenha diante de si este comentário de SF:
"Essa experiência preliminar já constitui, no entanto, o início de uma
análise que deve se conformar às regras que a regem; a única diferença
pode ser a de o psicanalista deixar falar, sobretudo o paciente, sem
comentar sua fala além do absolutamente necessário para o
prosseguimento do seu relato." (O início do Tratamento, in A Técnica
Psicanalítica.).

Como Freud Chegou À Associação Livre


Tem-se como marco do início da Psicanálise a publicação dos Estudos
sobre Histeria (1893-1895). Neles vemos Freud se esforçando por
identificar o como fazer, isto é, fixar-se num processo terapêutico no
tratamento dos que, ao tempo, eram classificados como histéricos. Era o
tempo, então, de se estabelecer a abordagem, que por conta das
continuadas experimentações no consultório, somadas a um agudo
senso de observação, o conduziram, com êxito, à formulação da
Psicanálise, que, na verdade, é obra de um homem só. Quando começou,
Freud (em 1882) já se ligara a Breuer e prosseguindo com seus estudos,
passou por Charcot (hipnose), para, a partir de 1885, valer-se de vários
métodos em voga naqueles dias, como o eram a estimulação elétrica, a
hidroterapia, as massagens etc. O problema é que os resultados eram, ao

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ver de Freud, absolutamente insatisfatórios, pelo que adotou, em 1887,


cheio de esperança, a hipnose, que só vai abandonar em 1896.
O sintoma histérico de cada indivíduo desaparecia, imediata e
permanentemente, quando conseguíamos trazer à tona, a lembrança do
fato que provocara tal sintoma, fazendo surgir o afeto correspondente e
quando o paciente descrevia o fato mais detalhadamente possível,
conseguindo verbalizar o afeto. Freud, 1893.
Temos, então, que a este tempo, tinham, Breuer e Freud, a convicção de
que somente via ab-reação, o paciente poderia chegar à um momento
perfeitamente catártico e assim se livrar do sintoma histérico, vez que as
experiências determinantes do quadro, sob condições normais, se
mantinham ausentes da memória do paciente, alcançando-se o acesso a
elas, unicamente via hipnose.
Era um tempo em que se cria que as ideias patogênicas instalavam-se
com intensidade em função de uma negação de esvaziamento por meio
de um processo que pudesse ser considerado normal. Tinha-se que os
afetos se encontravam estrangulados, pelo que a descarga deles, tiraria
a força da lembrança patogênica, determinando, consequentemente, o
desaparecimento dos sintomas: era a catarse curativa. Mais tarde,
porém, Freud vai perceber que a ab-reação como forma de terapia, era
simplesmente sintomática e não causal. Mas é só no caso Dora (publicado
em 1905, mas escrito em 1901) que ele declara que toda a técnica
Psicanalítica fora reformulada, pois já não mais, apenas, e esclarecia os
sintomas e quanto a hipnose, esta apenas encobria as resistências,
obstruindo a visão que o analista necessitava para a compreensão das
forças psíquicas. É desse tempo a afirmativa que estabelece que o
trabalho terapêutico consiste em superar as resistências, desmanchar as
repressões, oportunizando assim, o preenchimento dos vazios da
memória.
Tomando-se os dados disponíveis, podemos dizer que Freud descobriu a
Associação Livre entre 1892 e 1896, sendo que quando se lê o caso Emmy
von N. (Breuer e Freud 1893/95), encontra-se referências ao método. Mas
o momento histórico dá-se mesmo quando do tratamento de Elizabeth
von R., que é a paciente que, num momento inesperado, critica Freud por
a estar pressionando e interrompendo o fluxo de seus pensamentos, ante
o que, Freud, percebe que ali estava a solução perfeita para a análise dos
pacientes: deixar fluir: começa ali a descoberta da Associação Livre!
Mais tarde Freud explicou que abandonara a hipnose e a sugestão, vez
que sob seus efeitos, não acontecia um alargamento da consciência, que
fornecesse ao analista as lembranças patogênicas, enquanto que a
Associação Livre se mostrara amplamente satisfatória para este fim, por
ensejar a entrada dos pensamentos involuntários do paciente na situação
terapêutica.

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Objetivo Da Psicanálise
A Psicanálise não pretende ou não tem por objetivo modificar o homem.
Isto talvez seja tarefa de outra ciência, talvez da religião. O objetivo da
Psicanálise é tornar o inconsciente consciente. A pessoa tomando
consciência dos seus motivos interiores poderá se quiser, ter a sua vida
modificada.
Bases para as teorias psicanalistas
São três as afirmações feitas por Freud, as quais podem ser consideradas
as bases da Teoria Psicanalítica:
a- O processo de esquecimento, em vez de ser puramente passivo e
resultado da simples usura ou desgaste das recordações, é um processo
ativo, devido a intensidade tanto maior quanto mais inúteis ou
prejudiciais sejam para o bem- estar individual. E tal força é a mesma
que se opõe à evocação espontânea ou artificial das recordações,
exercendo, a todo momento, uma repressão deste.
b-Os acontecimentos atuaram como traumatismo mental (choques
mentais), surgindo como agentes das perturbações psiconeuróticas, são
exceção de ordem sexual, e estão ligados sempre a algum desejo que,
sendo incompatível com as normas sociais e morais, foram reprimidos e
rechaçados da consciência, depois de uma luta mais ou menos intensa
(conflito mental).
c-Nos casos de psiconeuroses puramente, e, singularmente nos casos de
histeria, os desejos causadores dos sintomas mórbidos, foram reprimidos
em época passada do desenvolvimento psíquico individual, isto é, na
infância. É justamente tal repressão o motivo do esquecimento, apesar
de já se encontrar bem desenvolvida, nesta época, a memória.
Teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud
Somente em 1921, cerca de 30 anos depois de suas primeiras publicações
sobre a Psicanálise, foi que Freud propôs uma teoria geral da estrutura e
função da mente:
ID - De acordo com o conceito freudiano de estrutura da personalidade,
o ID é o comportamento arcaico e inconsciente de energias mentais que
dinamiza o comportamento humano. Do Id promana os impulsos cegos e
impessoais devotados à gratificação direta ou indireta, mas tanto quanto
possível imediata, do instinto sexual (libido),- estreitamente vinculado às
necessidades primárias das pessoas (comer e não ter fome). O Id,
portanto, é o verdadeiro inconsciente ou a parte mais profunda psique.
Ignora o mundo exterior, com quem não está cm contato, e o objeto único
de seus interesses é o corpo, sendo suas relações com ele dominadas
unicamente pelo princípio do prazer. Freud descreveu ainda a hegemonia
total dos instintos do prazer nas fases primitivas do desenvolvimento

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mental, em decorrência direta do fato de as duas atividades básicas da


criança pequena - mamar e defecar - terem provocado a sexualização
(libidinização) da base e do ânus, zonas erógenas. Ulteriormente Freud
ampliaria, com algumas modificações, esta sua primeira teoria (Para
Além do Princípio do Prazer) e a libido deixaria de identificar-se
exclusivamente com o instinto sexual e o princípio do prazer para se Eros,
o instinto da vida e de autopreservação, no qual o componente sexual
estava logicamente incluído.
O ID, devido a sua qualidade impessoal é um reservatório de impulsos
caóticos, instintivos, não harmonizados ainda entre si ou com os fatos da
realidade externa. O ID é um nome coletivo para os impulsos biológicos
primitivos.
EGO - De acordo com Freud, o ego constitui o componente intermediário
das energias mentais (entre o Id, inconsciente, e o superego, ego ideal ou
consciência). Exerce o controle das experiências conscientes e regula as
ações entre pessoa e o meio ocupado, portanto, a posição de um centro
de referência para todas as atividades psicológicas e qualidades
egocêntricas. É através do ego que aprendemos tudo sobre a realidade
externa e orientamos o comportamento no sentido de evitar os estados
dolorosos, as ansiedades e punições. O Ego é um mecanismo que tem
duas superfícies preceptivas, uma dirigida para o interior, para os
impulsos e necessidades instintivas, e outra dirigida para a realidade
externa, através da percepção sensória. A função integradora do ego é
comparar a percepção interna com os resultados da percepção sensória
e harmonizar as necessidades subjetivas com as circunstâncias externas,
de modo que seja possível uma satisfação máxima. Além da função
integradora, o ego tem a função executiva que depende do seu controle
do comportamento motor voluntário. O EGO é o agente do princípio da
estabilidade. Freud diz que a função do ego é manter o volume da
excitação do organismo em nível constante.
O EGO trabalha seletivamente na sua recepção das percepções e também
na autorização que dá a que os impulsos ganhem motilidade; opera como
aparelho inibidor, o qual controla, por esta função inibidora, a posição
do organismo no mundo exterior. Ego é a parte ou função da
personalidade que estabelece um relacionamento com o mundo em que
vivemos.
SUPEREGO - Na estrutura teórica da personalidade, descrita por Freud,
o Superego é a mais recente formação ou componente do sistema de
energias mentais e foi correlacionado com o declínio e dissolução do
complexo de Édipo.
Disse Freud: "O efeito geral amplo da fase sexual governada pelo
complexo de Édipo pode, por conseguinte, admitir-se que seja a formação
de um precipitado no ego ... Esta modificação do ego mantém sua posição

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especial, e contrasta com os outros constituintes do ego sob a forma de


superego".
O superego é o representante de uma natureza superior no eu, atuando
no sentido de evitar punições por transgressões morais ou fomentar
ideais moralmente aceitos. Assim, tanto pode reprimir e criticar ideias,
impulsos e sentimentos inconscientes que afetam o comportamento
moral e judicativo da personalidade (atividade que se dá, comumente o
nome de consciência) como pode apoiar a realização de um natureza
superior (ego ideal).
Uma vez estabelecido, o superego decide quais impulsos ou necessidades
serão permitidos e quais reprimidos.
A satisfação das exigências do superego não só alivia, como traz
sentimentos definidos de prazer e segurança do mesmo tipo que as
crianças experimentam a partir de provisões experimentam a partir de
provisões externas de amor. Em certo sentido a constituição do superego
é duplicata da constituição do ego; um segundo ego, um "super" ego,
forma-se, então, limitado, é verdade, às esferas da ameaça e da promessa,
da punição e da recompensa. As funções do superego são as que mais
depressa aparecem quando um paciente, tendo experimentado uma
perda do muno objetivo, tenta recuperá-lo sem ter capacidade plena para
tanto.
O homem apesar de apresentar imagem de um ser adequado, carrega, na
verdade, e na maioria quando analisado, um grau de ineficiência psíquico
comportamental exuberante. Um homem, no entanto, é mais que o seu
corpo, mais que o seu emprego mais que sua posição social. Estes são
apenas aspectos através dos quais eles se expressam. A totalidade destas
expressões é o reflexo exterior daquela estrutura interna que chamamos,
um tanto vagamente, de personalidade. Os instintos, impulsos, as
emoções, as relações entre o eu como o centro das experiências psíquicas
e o mundo exterior são pontos cruciais na vida do homem, enquanto o
homem, ser pensante, ser ativo e ser participativo.
O que estaremos vendo, portanto, reflete exatamente, o que citamos
acima, ou seja, a relação existente entre o ID, o EGO, e o SUPEREGO
(assunto desenvolvido por Freud na teoria do desenvolvimento
psicosexual), anomalias da sexualidade, tipos de neuroses, sonhos etc ...
Não estamos fechando o assunto neste trabalho, ao contrário, alargamos
mais as possibilidades para que tantas outras pesquisas sejam feitas na
intenção de se conhecer mais ainda o que julgamos desconhecido ou um
tanto vago. Na estrutura teórica da personalidade, descrita por Freud o
superego é a mais recente formação ou componente do sistema de
energias mentais e foi correlacionado com o declínio e dissolução do
complexo de Édipo. A noção de superego foi inspirada nos estudos de

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introjeção pela criança dos eventos em seu meio vital e suas relações com
o desenvolvimento de uma instituição moral a partir do ego. O superego
é o representante de uma natureza superior no eu (Freud), atuando no
sentido de evitar punições por transgressões ou fomentar ideias
moralmente aceitas. Assim, tanto pode reprimir e criticar as ideias,
impulsos e sentimentos inconsciente que afetam o comportamento moral
e judicativo da personalidade (atividade essa a que se dá usualmente o
nome de consciência) como pode apoiar a realização de uma natureza
superior (Ego-ideal). Assim, os três componentes básicos do sistema
encontram-se permanentemente empenhadas numa interação que é uma
batalha constante: o Id em busca de sua satisfação irracional; o ego
procurando ajustar as exigências e impulsos do Id ao mundo da realidade
e o superego tentando reprimir ou apoiar o impulso que for moral e
socialmente reprovável ou louvável. Escreveu Freud: "o superego não é
apenas o depositário das anteriores opções objetais e representa também
uma enérgica formação de reação contra essas opções. Sua relação com
o ego não se limita ao preceito: "você deve ser tal e tal (ego ideal)"mas
também abrande a proibição: "você não deve ser como tal (consciência)".
Fases do desenvolvimento da personalidade
Padrões de personalidade que se caracterizam pelos hábitos, atitudes e
valores formados durante os estágios de desenvolvimento infantil.
Distinguem-se três tipos, isto é, fase oral, fase anal e a fase fálica.
l-FASE ORAL
É a fase que se reflete as experiências infantis durante o estágio oral da
libido. As tendências caracterológicas para a prepotência, domínio sobre
os outros, veracidade, cobiça e inveja estão radicadas no impulso
primitivo da criança para incorporar oralmente a mãe (objeto total) ou o
seio materno (objeto parcial). O otimismo é também considerado um
produto psicogênico de uma amamentação abundante e sem restrições.
Observando uma criança, poderíamos dizer que ela se interessa por
alimentos em função de sua libido oral, mas não é bem assim, vez que,
mesmo saciado, ele põe tudo o que alcança na boca; suga sua própria
língua; chupa os dedos e até os artelhos, parando de chorar quando lhe
dão uma chupeta. Logo após nascer, mantém-se a criança inteiramente
alheia ao mundo exterior, revelando suas sensações por meio de choro,
sossego, risos encontrando prazer apenas no seio materno ou no seu
próprio corpo, sem saber ainda como localizar estes elementos. É por isso
mesmo que o seio, que lhe causa tanto prazer, é entendido como parte do
seu ego. E, também, por isso mesmo que dizemos que esta superposição
seio-ego, que descreve uma ausência de objeto, é a imagem perfeita do
narcisismo. A seguir começa a criança a perceber que as repetidas
experiências alívio lhes foram fornecidas por meio do seio, o que é
determinante para que ela possa

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entender que há algo fora dela, estabelecendo uma diferença mais ou


menos definida entre os mundos interno e externo. Como resultante do
instinto de autopreservação, o indivíduo é levado a contatos prazerosos
com o mundo exterior e como resultado da união entre libido e o ego,
estes instintos se tornam carregados de energia sexual desde o princípio,
devendo vir a se dirigir ao mundo exterior em busca de gratificação O
fato, porém, é que como para a criança pequena ainda não existe uma
separação muito bem definida entre ela mesma e o mundo exterior, a
libido permanece legada ao ego. Entretanto, chega o momento em que ele
se dá conta que nem sempre lhe é oferecido o seio em caso de desconforto:
é o contacto com a privação, com que ela acaba se familiarizando,
levando-a reter a libido, que produz sensações de tensão e de desprazer,
que a levam a deixar a posição narcisista e dirigir-se a um objeto no
mundo exterior, premido pela necessidade de alimento. Aí começa algo
interessante: tendo-se em vista que nem toda a quantidade de libido
armazenada no ego, poderá se satisfazer com os alimentos, a libido
excedente passa a se tornar independente das satisfações com a nutrição.
Começa, então, o desenvolvimento de outras necessidades libidinais: o
tocar, o ver, o ouvir a mãe, o que representam "descolamento" da libido
em relação ao ego, determinando uma desassociação da libido com a
alimentação. É quando a criança, já muscularmente mais desenvolvida,
pega objetos. Mas ela continua a sugar tudo o que pode, mas quando lhe
aparecem os dentes, ela morde e machuca o seio, quadro que
descrevemos como uma tendência à incorporação por devorá- lo. Na fase
oral, este momento é chamado de "canibalística".
Mas isto logo se atenua, porquanto a vontade de devorar passa apenas a
ser esboçada.
Há, também, uma outra circunstância que empurra a criança para
outros objetos: é o fato de ser ela um ser desamparado, necessitando de
cuidados para sobreviver. Além disso, enquanto é cuidada, ela
experimenta vários estímulos, entrando em contacto com quem dela
cuida, quem lhe dá amor. Esse amor vem a ser retribuído através do ato
de ato de se achegar, pois ela sente anseio pela mãe, ou por quem exerce
o seu papel, que, correspondendo, perceberá evidentes sinais de
felicidade.
Atentando para tudo o que aqui se disse, podemos perceber um caminho
levando a libido aos objetos:
A dupla função de muitos órgãos, que ensejam haver, simultaneamente,
a satisfação de uma necessidade fisiológica e a de um instinto parcial da
zona erógena correspondente e o fato de ser a criança um ser
desamparado, que se vê obrigada a se dirigir à pessoa que tenha se
responsabilizado por ela.

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Laplanche e Pontalis, no Vocabulário da Psicanálise, nos ensinam:


"Primeira fase da evolução libidinal, em que o prazer sexual está
predominantemente legado à excitação da cavidade bucal e dos lábios. A
atividade de nutrição fornece as significações eletivas pelas quais se
exprime e se organiza a relação de objeto; por exemplo, a relação de amor
com a mãe será marcada pelas relações seguintes: comer e ser comido.
Abraham propôs subdividir-se esta fase em duas atividades diferentes:
sucção (fase oral precoce) e mordedura (fase oral- sádica)”.

2- FASE ANAL
É a fase que reflete as experiências infantis durante a aprendizagem do
controle da defecação. As tendências caracterológicas para a validade,
desconfiança, ambição e generosidade, sem amor estão associadas ao
prazer da evacuação anal; as tendências para a meticulosidade,
parcimônia, amor a ordem ao método, obstinação e avareza estão
radicadas na retenção anal; das fezes, sendo prazeres ambivalentes
(evacuar pode significar, para a criança, expelir um mau objeto interno
ou oferecer a mãe um bom objeto interno; reter as fezes pode significar a
conservação de um bom objeto interno ou o temor de oferecer a mãe um
mau objeto interno que a envenene ou a destrua), tais tendências podem-
se combinar no tipo de personalidade anal. Quando excessivamente
acentuada, a personalidade anal pode resultar de uma fixação infantil,
em virtude de a criança não ter sido capaz de conciliar os prazeres anais
com as exigências sociais (por exemplo, o trono de toalete, a disciplina da
higiene pessoal).É no transcurso do surgimento e da instalação da
agressividade, que a zona anal se torna muito ativa. Nela a criança passa
a obter prazer pela estimulação da agressividade, e nela a zona anal se
torna muito ativa e a criança passa a obter prazer pela estimulação da
membrana mucosa retal e das partes imediatamente adjacentes,
passando a ser, a função do ânus preponderantemente prazerosa, tanto
quanto o era a entrada no trato digestivo. É quando começam as
manobras de retenção das fezes, ou frequentes evacuações, que
estimulam a mucosa retal e a região glútea, o que resulta em prazer. É a
fase do desenvolvimento da libido, em que a evacuação e a tendência

à agressão se encontram saturadas de impulsos sexuais: é a fase


denominada de sádico-anal, que chega até aos 2-3 (+-) anos de idade.
Esta fase, pela desimportância dos órgãos genitais, é chamada de pré-
genital da organização da libido.
No Vocabulário da Psicanálise, temos: "Para Freud, a segunda fase da
evolução libidinal, que pode ser situada aproximadamente entre os dois
e quatro anos; é caracterizada por uma organização da libido sob o

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primado da zona erógena anal. A relação de objeto está impregnada de


significações ligadas à função de defecação (expulsão-retenção) e ao valor
simbólico das fezes. Vemos aqui afirmar-se o sadomasoquismo em
relação com o desenvolvimento do domínio da musculatura”.
O treinamento precoce ou rigoroso demais com relação ao uso do vaso
sanitário, pode levar a criança a se tornar uma personalidade anal-
retentiva. As pessoas que passam por treinamento precoce ou rigoroso
demais com relação ao uso do vaso sanitário na infância, se tornam
Controladoras, dominadoras, econômicos demais ou avarentos, rígidos
com relação ao dinheiro e suas posses, pontual, pessoas que odeiam
bagunça, tem obsessão por organização e são teimosos.
Se a criança passou por um regime liberal de treinamento do banheiro
durante o estágio anal , pode levar a criança a se tornar uma
personalidade anal-expulsiva. Pessoas fixadas nessa fase são:
organizadas, pontual, negligentes consigo mesmo, com tendências
masoquistas, tem facilidade de amar e odiar, tem satisfação em falar mal
dos outros.

3- FASE FÁLICA
É a fase que reflete as experiências infantis marcadas pelo interesse e
sentimentos associados ao pênis (para a mulher, o símbolo equivalente).
As tendências caracterológicas para a ostentação, generosa ou
benemerente, narcisismo, camaradagem, afiliação e atividades lúdicas
(jogos, competições esportivas, etc.) estão associadas à primazia fálica.
São estes os três padrões básicos de personalidades originadas nos
estágios pré-genitais do desenvolvimento psicossexual. À fase culminante
do desenvolvimento sexual, em que a pessoa contém relações
verdadeiramente afetivas com o parceiro sexual, corresponde, na
caracterologia adulta, a personalidade genital, que é a síntese dos
impulsos psicossexuais medidos não só pela potência fisiológica mas
também pela capacidade do amor em termos adultos.
É o padrão equilibrado e maduro - personalidade adulta. É no período da
amamentação que começa a excitabilidade dos órgãos genitais como zona
erógena, obtendo, a criança, prazer na masturbação infantil. Entretanto,
somente após a superação das fases oral e sádico-anal e que os genitais
se tornam importantes, assumindo o comando como zona sexual, em
detrimento das outras, agora ultrapassadas.
Contudo, após a puberdade, percebe-se expressões do tocar, abraçar e
beijar, que aparecem no prazer prévio, que são remanescentes da fase
oral. Nesta fase não ocorre orgasmo como entre os adultos, vez que não
há produção de fluido seminal, nem a consequente ejaculação. Assim, a

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gratificação é obtida através substância mucosa pelas glândulas urtrais


e, nas meninas, nas secreções vaginais. Somente aí pelo terceiro ano de
vida, é que órgão sexual se torna central na atividade sexual da criança
e isso vai durar ate aí pelos cinco/ seis anos: é a fase fálica e foi esta fase
que S F chamou de organização genital infantil Voltemos ao Vocabulário:
"Fase de organização infantil da libido que vem depois das fases oral e
sádica-anal e se caracteriza por uma unificação das pulses parciais sob
o primado dos órgãos genitais; mas, o que não será mais o caso na
organização genital pubertária, a criança, de sexo masculino ou feminino,
só conhece nesta fase um único órgão genital, o órgão masculino e a
oposição dos sexos é equivalente à oposição fálico-castrado. A fase fálica
corresponde ao momento culminante e ao declínio do complexo de Édipo;
o complexo de castração é aqui predominante. "

Estrutura da Psique 1ª tópica


O Inconsciente (Ics)
Tomando como adjetivo, corresponde ao que não é encontrado presente
no campo da consciência. Já no sentido tópico, é usado para designar
um dos sistemas definidos por SF no conjunto de sua teoria a respeito do
aparelho psíquico, constituindo-se de conteúdos recalcados, aos quais é
vedado o acesso ao sistema Pcs-Cs, por intermédio da repressão.
Em resumo, as características são:
1 - Os conteúdos são representantes das pulsões, que, por sua vez, são
regidos pelos mecanismos do processo primário (condensação e
deslocamento);
2- Atuando sobre estes representantes, há uma grande carga de energia
pulsional, que os induz a retornar à consciência (sistema Pcs-Cs), só o
conseguindo, entretanto, após as formações de compromisso e depois de
terem sido submetidos às transformações impostas pela censura;
3- São os desejos da infância que se fixam no Ics.

O PRÉ-CONSCIENTE (Pcs)
Tomando como adjetivo, qualifica o que tendo saído da consciência atual,
• sem, contudo, se tornar inconsciente. Já como substantivo, qualifica
um sistema diverso do sistema Ics, pois todo o seu material ausente do
consciente, permanece acessível de uma forma não-atualizada.
O CONSCIENTE (Cs)

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Definindo, segundo os ensinamentos de SF, consciente será a qualidade


atual caracterizadora das percepções externas e internas.
Ao lado da visão acima, há outra, em outro nível; o Consciente é parte de
um sistema denominado de Pcs-Cs (percepção- consciência). Nele não
ocorre a inscrição de qualquer traço durável das excitações, enquanto no
Ics isto acontece sob a forma de traços mnésicos, que, na verdade, são o
próprio Inconsciente e o Pré-consciente.
Sob o aspecto tópico, tem-se que o sistema Pcs-Cs se situa na periferia
do aparelho psíquico, apto a receber todas as informações (sensações),
tanto interiores, quanto exteriores.
AS INSTÂNCIAS
Ativas, dentro de cada um de nós, encontram-se três instâncias de suma
importância, que são o Ego, o Superego e o Id, em que o Ego é pré-
consciente, o Superego consciente com componentes inconscientes e pré-
conscientes q o Id insciente.
Cada um desses substantivos corresponde a um grupo, ou estrutura, em
que o Ego se define como sendo o conjunto de funções ligadas às relações
do indivíduo com o mundo exterior. O Superego engloba as legislação
moral a que nos subordinamos e o Id é composto dos representantes
psíquicos dos instintos, que são presentes desde o nascimento, do mesmo
modo que é verdade que, durante bom tempo, nos primórdios da infância,
será o Id que preencherá tudo o que se entende por aparelho psíquico,
até o momento em que comece uma diferenciação que acabe por
constituir o Ego, para, mais tarde, aí pelos cinco/seis anos, a
diferenciação, produza um Superego, que só vai se cristalizar entre
osdez/onze anos.
Temos, então, que o Ego provém do Id, num processo de diferenciação e
que pode ser definido como uma agência representante da realidade
circunstante, destinado ao domínio progressivo dos instintos^ pelo que
se empenha em fazer prevalecer o princípio da realidade sobre o princípio
do prazer, que é característico dold.
O Superego (vulgarmente chamado de consciência), tem as funções ( 1 )
de censor em relação ao Ego e é, segundo SF, o responsável pelo
envolvimento da consciência moral, da auto- observação, da formação
dos ideais e (2) de protetor e de salvador, conforme aprendemos no que
nos ensinou o nosso mestre maior:
"O Superego exerce a mesma ação protetora e salvadora anteriormente
exercida pelos pais".

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ANOMALIAS DA SEXUALIDADE
O comportamento na esfera sexual que se desvia do normal, mas não é
necessário considerado patológico. O termo para as anomalias
patológicas (quer sejam socialmente condenáveis ou não) é perversão e
por vezes, inversão. Alguns autores preferem a terminologia
sexopatologia.

De acordo com a wikipedia Parafilia “é um padrão de comportamento


sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra
na cópula, mas em alguma outra atividade.”
As parafilias mais conhecidas:
FETICHISMO No fetichismo o objeto do amor deixa de ser o homem ou a
mulher, passa a ser um objeto inanimado ou uma coisa. Só nisso
encontra o prazer sexual.
EXIBICIONISMO O exibicionismo é o desejo incontrolável de expor na
presença do sexo feminino, os órgãos sexuais; normalmente se
masturbam em presença de outrem. A mulher, encontra certo prazer
sádico em usar roupas sumárias (mini- saias, decotes usados, etc., para
provocar ao macho)
EXIBICIONISTA VERBAL É o que faz propaganda ou alarde sobre o
tamanho do seu órgão genital.
NECROFILÍA A necrofilia é a compulsão (desejos incontroláveis) de ter
relações sexuais com cadáveres devido a uma atração irresistível
principalmente com mulheres recentemente sepultadas, não importando
a idade. Não conseguem resistir a seus impulsos.
MASOQUISMO São anomalias caracterizadas pelo desejo de ser
maltratado (a) como prévia condição de gratificação sexual. A flagelação
estimulante pode ser infligida por si próprio ou pelo parceiro (a), levando-
os ao orgasmo (prazer atingido). A dor constitui a única condição de
satisfação sexual.
SADOMASOQUISMO O sadomasoquismo é a tendência para o sadismo e
o masoquismo simultaneamente.
INFANTILISMO É a preferência incontrolável para a prática sexual com
parceiros de muito menos idade.
GERONTOFILISMO É a preferência por parceiros bem mais idosos.
NINFOMANIA A ninfomania é a paixão intensa, de caráter mórbido. A
mulher não se satisfaz sexualmente com um só homem. Chega a sangrar
seus órgãos genitais, e não encontra o prazer satisfatório no final.

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NARCISISMO É o prazer com a admiração do próprio corpo ou imagem.


O impulso sexual não se transfere para outras pessoas.
HOMOSSEXUALISMO O homossexual é aquele ou aquela que tem
impulsos sexuais voltados para pessoas do mesmo sexo.
PEDOFILIA É a atração sexual que o adulto tem por crianças. Deseja ter
relações sexuais e as violentas (ocorre até com muitos pais pedófilos).
PEDOLATRIA A pedolatria é o indivíduo que só encontra estímulo na
concentração de seus impulsos sexuais em pés femininos, quando são
anatômicamente perfeitos, caso contrário, não conseguem a ereção
peruana para o prazer sexual.
ONANISMO (MASTURBAÇÃO) É a atitude da pessoa friccionar o seu
membro sexual, afim de alcançar determinada satisfação. Não somente o
rapaz pode ser vítima da masturbação ou do onanismo (termo técnico),
como também a mulher pode intentar nesta prática. Traz desgaste mental
e físico, pela canalização excessiva de suas energias; debilita
mentalmente, trazendo impotência em raciocinar, vergonha após o ato,
e, dependência. O habituado em masturbação, jamais se completará com
um parceiro ou parceira.
VOYEURISMO É uma desordem sexual que consiste na observação de
uma pessoa no ato de se despir, nua ou realizando atos sexuais.

COMPLEXO DE ÉDIPO
Sigmund Freud observou, através das recordações de neuróticos e das
interpretações dos sonhos que a criança, em determinada idade, passa a
estar sexualmente interessada, de modo regular, no genitor do sexo
oposto ao seu, desenvolvendo-se o sentimento de rivalidade e
o desejo de afastar o genitor do mesmo sexo. Freud conclui estar em
presença de um fenômeno universal que ocorre entre os três e cinco anos
de idade, e acreditou, por algum tempo, que todas as neuroses tinham
origens nessa situação, que, de fato, as neuroses não podiam originar-se
em experiências ocorridas em período anterior àquele. O mito de herói
grego que perpetra o parricídio (assassina o pai) e vive em relações
incestuosas com a mãe, crime de tão terríveis consequências que Édipo
quis expiá-los provocando a própria cegueira, parecia provar a tese
freudiana de que os impulsos incestuosos se encontram presentes em
todas as crianças de modo velado e desfigurado: assim o código secreto
do mito (aquilo que Jung chamaria o mitologema) corroborava os estudos
de Freud que assim escrevia na interpretação dos sonhos: "o destino do
rei Édipo comove-nos ainda hoje porque também poderia ter sido o nosso,
porque um oráculo fez recair sobre nós, antes do nosso nascimento, a
própria maldição que sobre ele tombara.” Talvez estivéssemos todos

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destinados a dirigir os nossos primeiros impulsos sexuais para a nossa


própria mãe, os nossos primeiros impulsos de ódio e resistência para o
nosso pai. E os nossos sonhos convencem de que de fato, estávamos. O
rei Édipo, que assassina o seu pai Laio e desposa a sua mãe Jocasta, não
é outra coisa senão a efetivação de um desejo da nossa infância. Mas nós,
mais felizes do que ele na medida em que não nos convertemos em
psiconeuróticos, conseguimos, desde a infância, afastar de nossa mãe os
impulsos sexuais e esquecer o ciúme em relação ao pai. O aspecto
problemático do complexo de Édipo teria, para Freud, a seguinte causa:
o menino, por exemplo, aprende em breve que o interesse sexual pela
mãe não é tabu mas, ao mesmo tempo, passa a considerar o pai um rival
e sente hostilidade em relação, a ele. Mas também ama o pai e isso
ocasiona que sentimentos de ódio constituam uma fonte de desgosto e
aflição. Além disso por causa de seus sentimentos hostis para com o pai
e sentimentos sexuais em relação à mãe, a criança espera ser punida e a
punição que se enquadra ao crime de castração. Algo semelhante se
passa com a menina (complexo de electra), que coloca o pai no centro do
interesse erótico, mas, no caso dela, o medo da castração desempenha
papel reduzido, visto que não possui pênis, que possa ser amputado.
Esse remoto interesse sexual nos pais, pensou Freud, era a fonte de
fantasias neuróticas dos adultos, relativas à sedução na infância. As
fantasias eram a manifestação de um desejo de gratificação dos
interesses edipais sem culpa. Na realidade Freud verificou haver mais
implicações na história da neurose do que do complexo de Édipo . Havia
provas crescentes de que algumas condições tinham início em idade
ainda mais recuada o que levou o estudo daquilo que Freud designou pro
estágios pré genitais da libido. O complexo de Édipo, embora aceito por
todos os colaboradores de Freud, provaria as primeiras divergências
quanto a seus fatores formativos, isto é, quanto à teoria defendida por
Freud de que o complexo de Édipo e as neuroses adultas resultantes
tinham explicação exclusivamente sexual (daí, o pansexualismo
Freudiano, ou seja: toda neurose tem por etiologia problemas sexuais mal
resolvidos ou simplesmente reprimidos. Adler, o primeiro desviacionista,
não rejeitou a ideia de que os impulsos sexuais pudessem estar na raiz
da neurose mas disse que, na pessoa em busca de um sentimento de
superioridade, o ato sexual e um dos que estão envolvidos e nada mais
significa senão a luta de duas pessoas para exercer domínio uma sobre a
outra. O complexo de Édipo é uma tentativa da criança pequena para
subjugar a mãe e lutar vitoriosamente com o pai.
A dedicação erótica é um expediente para manter-se agarrada aos pais,
por uma questão de insegurança (complexo de inferioridade). Jung
desviou-se de Freud ao formular uma teoria da libido em que o fato sexual
era apenas uma forma da libido primordial - uma energia psíquica que
atribuiu o significado de uma força vital. E complexo de Édipo é encarada
como um símbolo dos laços infantis com os pais, é certo, mas negando

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Jung que a sexualidade fosse fator de importância decisiva na infância.


Considerou esse período dominado pelos fatores de nutrição e
crescimento. A mãe seria o primeiro objeto de amor, mas o interesse da
criança por ela não é sexual: a mãe representa, sem a fornecedora de
alimento, o ser nutriente. Por outras palavras, a primeira dedicação da
criança não se relacionam o sexo, mas com a autopreservação. A mais
recente interpretação do complexo de Édipo foi formulada por Erich
Fromm: o esforço da criança para libertar-se de sua dependência infantil
e tornar-se indivíduo. O aspecto sexual pode ser importante, mas não é,
em qualquer caso, a causa da luta de Édipo com pai. A verdadeira causa,
que omito procurou descrever (Édipo não mata o pai por rivalidade pela
posse da mãe e sim porque lhe estava impedindo a passagem numa
estrada, desconhecido nessa altura que Laio fosse seu pai), é a luta do
indivíduo numa sociedade patriarcal e autoritária que, deseja modera-lhe
a vida de acordo com os desejos dela.
No Vocabulário da Psicanálise, vamos encontrar a seguinte definição
sobre o complexo de Édipo:
"Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente
em ralação aos pais.” Sob a forma dita positiva, apresenta-se como na
história de Édipo-Rei: desejo de morte do rival, que
é o personagem do mesmo sexo e desejo sexual pelo personagem do sexo
oposto. Sob a forma negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo
progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento pelo progenitor do sexo
oposto. Na realidade, essas duas formas se encontram em graus diversos
na forma completa do Complexo de Édipo e vivido entre os três e cinco
anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período de
latência. E revivido na puberdade e é superado, com maior ou menor
êxito, num tipo especial de escolha do objeto.
O Complexo de Édipo desempenha papel fundamental na estruturação
na personalidade e na orientação do desejo humano. Para os
Psicanalistas ele é o principal eixo de referência da psicopatologia; para
cada tipo patológico eles procuram determinar as formas particulares da
sua posição e da sua solução.
Se o sujeito reconhece a castração, ele será neurótico.
Se o sujeito não reconhece a castração, ele será psicótico.
Se o sujeito reconhece a castração, mas a nega, ele será perverso.
A antropologia psicanalítica procura encontrar a estrutura triangular do
Complexo de Édipo, afirmando a sua universalidade nas culturas mais
diversas e não apenas naquelas em que predomina a família conjugal."
INSIGHT

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O insight é o poder ou o ato de penetrar numa situação. Ato de aprender


a natureza interna das coisas ou de perceber intuitivamente.
Profundidade de discernimento se for o caso de traduzir o termo inglês
por uma só palavra, a mais próxima será introvisão.
CLEPTOMANIA
A cleptomania é o impulso essencialmente psicopatológico para a prática
de furtos.

COMPULSÃO
Ato de forçar uma pessoa a agir contrariamente ao seu desejo. Estado da
pessoa que foi constrangida contra sua vontade. Motivo que impele a
pessoa a agir contra a sua vontade. Motivo que impele a pessoa a agir
contra a sua inclinação. A compulsão pode ser externa ou interna e
subjetiva.

NEUROSES
Esse termo, que data da segunda metade do século XVIII, significa
originalmente uma doença dos nervos, depois mais tarde no século XIX,
foi utilizada para descrever "distúrbios funcionais", isto é, doença que se
acreditava serem devidas a distúrbios funcionais do sistema nervoso que
não se faziam acompanhar por mudanças estruturais. Desde que Freud
descobriu que uma das neuroses, a histeria, constituía um distúrbio da
personalidade e não dos nervos, o termo foi empregado para descrever
exatamente os distúrbios mentais que não são doenças do sistema
nervoso. Freud define a neurose como a expressão de um conflito entre
os desejos do nosso inconsciente
A teoria clássica distingue os seguintes tipos de neuroses:
PSICONEUROSES
Devido as causas passadas e explicáveis apenas em função da
personalidade e história da vida do paciente (anamnese). Existem três
tipos de psiconeuroses: a histeria de conversão, a histeria de angústia
(fobia) e a neurose obsessiva.
NEUROSES ATUAIS
Devido as causas atuais e explicáveis em função dos hábitos do paciente.
Em seus primeiros trabalhos, Freud fazia distinção entre psiconeuroses
e neuroses atuais, as primeiras devendo- se a conflitos psicológicos e
acontecimentos passados e as últimas sendo as consequências

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fisiológicas de distúrbios atuais no funcionamento sexual. Distinguiu-se


posteriormente duas formas de neurose atual: a neurastenia, resultados
de excessos sexuais, e neurose de angústia,resultado de estimulação
sexual não-aliviada.
NEUROSES TRAUMÁTICAS Devido a choques. É uma doença
psiquiátrica que os sintomas se desenvolvem pouco após alguma
experiência traumática, inesperada, chocante.
Não são explicáveis como resultado físico de dano ao cérebro ou a
qualquer outra parte do corpo. Incluem ações estereopadas ou "acessos",
nos quais partes do evento traumático são repetidas, e/ou sonhos
estereotipados, que repetem a experiência. Difere das outras neuroses
porque seus sintomas, inclusive os sonhos traumáticos, não são
acessíveis à interpretação. Não possui significado consciente. As
neuroses traumáticas curam-se espontaneamente, ou tornam- se
crônicas, ou transformam-se em psiconeurose. A última hipótese só tem
probabilidade de ocorrer se os sintomas se mostrarem vantajosos; por
exemplo, concederem ao paciente direito a uma pensão, no caso de um
militar pois incapacita para o serviço ativo.
NEUROSE NARCÍSICA São neuroses nas quais o paciente é incapaz de
formar transferência.
NEUROSE DE CARÁTER São as neuroses nas quais os sintomas são
traços de caráter ou caracterológicos.
NEUROSES DE ÓRGÃO OU ORGANEUROSES Termo raramente
utilizado para designar doenças psicossomática.
NEUROSES INFANTIS Termo refere-se da infância. A teoria clássica
supõe que todas as neuroses da vida adulta foram precedidas por outra
na infância.
NEUROSE DE TRANSFERÊNCIA OU TRANSFERENCIAL
É a neurose em que o paciente é capaz de transferência. Ou o interesse
obsessivo pelo analista que o paciente desenvolve durante o curso do
tratamento psicanalítico. nota: uma neurose de angústia ou de ansiedade
é qualquer neurose em que a ansiedade é o sintoma principal, ou uma
das neuroses atuais.
HIPOMANIA Termo psiquiátrico para designar o estado de pessoas que
apresentam, em forma branda, a exultação e a aceleração psicomotora
da mania. A diferenciação entre a hipomania e a vitalidade exuberante e
infatigável depende de se demonstrar que o paciente utiliza defesas
maníacas contra a depressão.
HISTERIA l- termo diagnóstico médico para designar doenças
caracterizadas:

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(a) pela presença de sintomas físicos;


(b) pela ausência de sinais físicos ou de qualquer prova de patologia física;
(c) por um comportamento que sugere que os sintomas desempenham
alguma função patológica. A noção de histeria deriva dos antigos gregos,
que aplicavam o termo apenas a doenças de mulheres explicadas como
devidas ao mau funcionamento do útero (hysteron). Segundo
determinada teoria, o útero constituía órgão móvel, capaz de
movimentar-se pelo corpo e pressionar outros órgãos; de acordo com
outra, a abstinência sexual conduzira à inanição do útero ou a retenção
de espíritos animais não utilizados, que saíam para fora do útero,
provocando a perturbação de outros órgãos. Um dos efeitos da
psicanálise foi demolir as teorias uterinas de causação da histeria,
enquanto retinha a ideia de, que de certa maneira, ela se vincula à
sexualidade.
A teoria clássica distingue entre duas formas de histeria:
A histeria conversão, corresponde ao conceito médico tradicional, e a
histeria de angústia, hoje mais comumente conhecida como fobia.
A histeria ocupa lugar importante na história da psicanálise, já que esta
começou com a publicação dos estudos sobre a histeria (1895), Freud e
Breuer, livros em que os sintomas histéricos são explicados como
resultado de lembranças reprimidas e da conversão de ideias em
sintomas físicos. Embora ambos esses conceitos sobrevivam na teoria
psicanalítica, nenhum analista contemporâneo sustentaria que eles
fornecem uma explicação adequada da histeria. Um fato curioso, para o
qual Wisdom chamou a atenção, é que Freud jamais formulou
definitivamente seus pontos de vista sobre a histeria, e que extremamente
difícil descobrir qual seja a teoria clássica dessa doença. Existe, contudo,
tendências a supor que essa teoria afirma que o ponto de FIXAÇÃO
histérico ocorre durante a fase edipiana e que seus mecanismos de
DEFESA característicos são a repressão e a dissociação. Melanie Klein
também silenciou sobre o tema da histeria, e o único adepto da teoria dos
objetos a interessar-se por ela foi Fairbairn, que denominou uma de suas
técnicas defensivas de "histérica" e sustentou que a origem da histeria
reside na posição esquizoide. Segundo Veith, a histeria é doença quase
extinta, que só ocorre entre "pessoas sem instrução, dos stratos sociais
inferiores", não influenciadas pela difusão das ideias psicanalíticas.
SONHOS Nós vivemos entre duas realidades: - a vida objetiva (realidade
externa, realidade propriamente dita) e a da vida subjetiva, isto é, da
nossa vida psíquica (realidade interna: a realidade que, em verdade
desejamos). A primeira é sempre agressiva e representa, por isso, o
desprazer.

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Para que exista um equilíbrio entre essas duas realidades, a natureza nos
deu a faculdade de sonhar. Através dos sonhos nós vivemos, então, a
nossa vida. Através deles realizamos todos os nossos desejos. Assim, já
podemos definir os sonhos como uma função psíquica encarregada de
compensar, de suavizar, de substituir mesmo uma realidade, que nos é
hostil, por outra, totalmente diferente, onde um novo mundo se
descortina diante da alma e onde todas as nossas ações parecem
absurdas, juntamente por que as mais censuráveis, na sociedade em que
vivemos, gozam enquanto dormimos, de uma espécie de liberdade
condicional, quando se expandem nos sonhos.
INSTINTOS SEXUAIS: Já temos que os instintos sexuais são os que a
Psicanálise classifica como instintos de vida, convindo, então, que
acrescentemos que eles possuem (1) uma fonte, (2) uma meta e (3) um
objeto.
Mas retomemos, antes, a finalidade do instinto: "... é a sua satisfação,
ou, com mais precisão, o ato de descarga muito

específico que faz cessar a condição física de excitação, e assim produzir


a satisfação". Quanto ao "... objeto de um instinto, é aquele instrumento
pelo qual, ou mediante qual, o instinto consegue atingir a sua finalidade.
A fonte de um instinto é o estado químico-físico, que faz que um estímulo
sensorial produza excitação."
Estas conceituações podem variar de autor para autor, mas o que aí
temos assinado por Fenichel, preenche muitas das exigências de grande
parte dos Psicanalistas. As discordâncias surgem em decorrência de algo
que se sua fora do âmbito de nossa arte, pois nós só manuseamos os
instintos depois da obtenção de uma resposta dada pela fisiologia, que
por sua vez, não preenche todas as nossas expectativas.
Quanto a meta, ouçamos o que nos diz o Vocabulário de Psicanálise (p.
281): "Atividade impelida pela pulsão (instinto), que leva a uma resolução
da tensão interna e é sustentada e orientada por fantasias." O objeto,
segundo nossos melhores autores, é visto sob dois aspectos (há um
terceiro, o filosófico, de que podemos nos abstrair):
1.Enquanto correlacionado com o instinto, é aquilo em que e por que o
instinto busca atingir a satisfação (meta), que pode ser um objeto real ou
fantasmático.
2.Relacionado com o amor (ou com o ódio), a variação, referido o número
acima, é uma relação da totalidade de uma pessoa com um objeto tomado
(pessoa, ideal, entidade etc), também, de maneira total.
Quanto ao mais, os instintos trazem em si a força que os impele e excita.
É, também, sempre ativo, quer a meta seja ativa, quer seja passiva.

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Assim, inclusive o feminino, que, como meta, é ativo, quanto à atração


do ser masculino, que é uma postura que poderia sugerir passividade. A
meta, ou a finalidade de um instinto, é alcançar a gratificação por
intermédio de uma ação adequada.
"É manifesto o caráter sexual das perversões. Quando se cede aos
impulsos patológicos, obtém-se o orgasmo".
"Nas perversões, a sexualidade infantil substitui a sexualidade adulta.
Alguma coisa deve ser repulsiva nesta e alguma coisa particularmente
sedutora naquela. Mas este último fator varia, ao passo que aquele é
constante; é sempre o complexo de castração que interfere na capacidade
de desfrutar sexualidade genital plena. Na realidade, as diferenças que
existem entre o complexo de castração masculino e o feminino,
correspondem às diferenças existentes entre as perversões masculinas e
femininas."
“A neurose é o negativo da perversão, ou seja, aquilo que uma pessoa
neurótica reprime e pode gratificar somente simbolicamente através de
sintomas, o paciente com perversão a expressa diretamente em sua
conduta sexual.”
Freud entende de forma ampla que, perversão é tudo aquilo que na
sexualidade não visa a reprodução, não visa o padrão pênis-vagina
atribuído à fase adulta genital.
(2) Fenichel em Teoria Psicanalítica da Neuroses. P.305/307:
"Há quem pense que os pervertidos estão desfrutando algum tipo de
prazer sexual mais intenso do que as pessoas normais. Não é verdade: a
descarga deles só se faz possível depois que se removem os obstáculos ou
se encontram distorções, daí ser, necessariamente, incompleta. São,
como diz Freud, “pobres diabos que tem de pagar o preço alto pelo seu
limitado prazer.” A opinião adversa talvez resulte do fato de que os
pervertidos, embora experimentando menos gozo do que as pessoas
normais, experimentam, em certo sentido, mais prazer do que os
neuróticos, cujos desejos sexuais infantis reprimidos não são
gratificados. Os neuróticos, que tem desejos perversos reprimidos,
invejam, às vezes, os pervertidos, os quais exprimem abertamente os
desejos perversos." (2)

Sob condições normais, o objeto do instinto sexual é o sexo oposto é a


meta o contacto genital, a menos que haja desvios. Assim, o homossexual
prefere um igual. O sádico amarrará e chicoteará sua parceira. O pedófilo
preferirá um infante. O praticante da bestialidade elegerá um animal.
Há o caso da meta sexual ser obtida sem a união genital, porém com
descarga de fluidos sexuais, em indivíduos do sexo oposto, através da

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102

estimulação de partes do corpo, que não a genitália, com abraços, beijos


etc. Contudo, respeitados alguns limites, um desvia da meta sexual final
não pode ser considerada anormal e sim uma atividade preliminar ou
prazer prévio, com a finalidade de aumentar o prazer final. Caso o prazer
prévio se torne o fim exclusivo de atividade sexual, teremos então uma
perversão.
Resumindo, uma perversão resultará da separação entre o objeto e a
meta sexual.
As genitálias constituem-se nos órgãos contrais da sexualidade e a
satisfação sexual específica é obtida via sua estimulação. Não obstante,
as perversões demonstram que a mesma meta (com descarga genital),
pode ser alcançada através da estimulação de partes outras do corpo.
Isto é: há outros órgãos que se relacionam com os genitais, dispondo,
além da função biológica característica, uma função sexual,
representando o papel de zonas erógenas, nos quais surgem impulsos
sexuais, que podem ser gratificados via estimulação adequada. Há,
também, as zonas erógenas ditas preferenciais, que são: membrana da
mucosa da boca, os olhos, membrana da mucosa do reto e as excitações
desencadeadas em tais zonas, ou nos respectivos órgãos, recebem o nome
de instintos parciais ou componentes.
Não é incomum observar-se uma combinação entre perversões e
neuroses, resultante da fixação pré-genital comum, combinando-se com
as neuroses obsessivas e as psicoses, podendo acontecer as três
seguintes possibilidades:
1.a perversão e a neurose se desenvolvem lado a lado;
2.estabelecida primariamente uma perversão, é ela complicada por uma
neurose;
3.estabelecida primariamente uma neurose, soma-se a ela uma
perversão. (Fenichel).
No Vocabulário da Psicanálise (Laplanche e Pontalis), encontramos na
página 341 o seguinte:
"Desvio em relação ao ato sexual "normal", definido este como coito que
visa a obtenção do orgasmo por penetração genital, com uma pessoa do
sexo oposto.
Diz-se que houve perversão quando o orgasmo foi obtido com outros
objetos sexuais (homossexualidade, pedofilia, bestialidade etc.) ou por
outras zonas corporais (coito anal, p. ex.) e quando o orgasmo é
subordinado deforma imperiosa a certas condições extrínsecas
(fetichismo, travestismo, voveurismo e exibicionismo, sadomasoquismo);
estas podem mesmo proporcionar, por si sós, o prazer sexual. De forma

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103

mais englobante, designa-se por perversão o conjunto de comportamento


psicossexual que acompanha tais atipias na obtenção do prazer sexual."
AS DOZE FUNÇÕES EGOIGAS (DO EGO), SEGUNDO BELLAK,
JUNTAMENTE COM SEUS COLABORADORES.

A REALIDADE: O TESTE. Objetiva-se num teste de realidade a verificação


da capacidade do indivíduo perceber a diferença entre as ideias e as
percepções, ou seja: discernir os estímulos internos dos externos.
Verificando-se, paralelamente, a exatidão da percepção a orientação no
tempo e no espaço a adequada interpretação de fatos externos e a
exatidão da realidade externa.
A REALIDADE: O SENTIDO. Tem-se por sentido de realidade a sensação
de adequação individual do funcionamento do próprio corpo, bem como
de comportamento, incluindo-se, no mesmo grau de importância, o nível
de autoestima e a convicção do próprio espaço em relação aos demais
indivíduos e ao mundo exterior.
RELAÇÕES OBJETAIS O que se deseja saber é:
Os termos gerais dos relacionamentos do indivíduo com os outros,
enfatizando-se a repetição de padrões anteriores, para resolver os
eventuais problemas de adaptação ante novos relacionamentos, e ainda,
se, ante situações frustrantes, evoca ele, lembranças agradáveis
relacionadas com outras pessoas.
JUÍZO (OU JULGAMENTO). Nesta função avalia-se a capacidade do
indivíduo de antecipar as consequências dos diversos comportamentos
adotados, seja sob a ótica social, seja em relação aos ditames legais. De
igual interesse, é a adequação social, adequação do comportamento aos
juízos externados. Acessoriamente observa-se o grau de veemência
adotado para referir-se às consequências.

IMPULSOS, AFETOS E INSTINTOS: REGULAÇÃO.


As perguntas a serem postas são:
a)quanto consegue o indivíduo adiar e controlar impulsos, afetos e
instintos? ;
b)como é que ele direciona a expressão dos seus impulsos, afetos e
instintos?
•Avalia-se a importância dos três fatores por meio dos sonhos,
associações livres, fantasias, observações etc.

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104

•Sendo a regulação, uma função do ego, torna-se indispensável conhecer-


se os mecanismos adotados para a obtenção do dimensionamento, bem
como os graus de tolerância às frustrações decorrentes, tendo-se
presente que ele pode se dar via ideação, expressão afetiva e/ou
comportamento manifesto.

O PENSAMENTO: SEUS PROCESSOS


Há que se ter presente que o pensamento se fundamenta nas seguintes
funções: atenção, concentração, antecipação, memória, linguagem e
formação conceptual, incluindo-se o grau em que se organiza e se orienta,
em conformidade com os padrões de realidade. E indispensável, também,
avaliar-se o quanto de ilusório e de autista aparece, além da presteza com
que se manifestam os processos associativos.
O FUNCIONAMENTO AUTÓNOMO

Na prática, avalia-se o funcionamento autônomo propondo-se uma


pergunta: em que grau se contabiliza os prejuízos que atinjam a
aprendizagem, a audição, o funcionamento motor, a intenção, a
linguagem, a memória, a capacitação para completar uma atividade
programada e a manutenção da continuidade de um comportamento?
AS DEFESAS: O FUNCIONAMENTO
Neste caso, as perguntas são: a) quanto de influência exercem as defesas
sobre a ideação, o afeto e o comportamento? e b) quão eficazes são as
defesas ante os estressores, o que, aliás, se infere a partir do quantum se
detecta de depressão, ansiedade e de outros afetos disfóricos?
REGRESSÃO ADAPTATIVA
Quer-se saber da capacidade de fazer aportar material pré- consciente na
consciência, que então reorganizado, pode proporcionar um aumento no
potencial adaptativo, ensejando uma produção rica quando da
exteriorização do pensamento.
Quando se cogita de regressão, há que se considerar que o paciente,
portador de algum desajustamento, logo descobre que passou a receber
um tratamento diferenciado do usual, já que se propõe a ouvi-lo com
igual atenção, sem críticas, sugestões, opiniões, sejam quais sejam as
palavras que aleatoriamente queira dizer, ou então histórias, recordações
ou fatos que queira e/ou seja estimulado a narrar. É claro que no
transcurso do processo, experienciará ele momentos de satisfação e de
frustração, quando do aparecimento de desejos primaríssimos

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105

inconscientes, o que se inclui no quadro da regressão. O Psicanalista


atento ver-se-á, de saída, ante uma história de fachada, que, aos poucos,
vai se esmaecendo, até que apareçam os níveis inferiores de que nos
falam Meningger & Holzman (1973) in Teoria e Técnica Psicanalítica
(Zahar) citando S. Rado:
REGRESSÃO
"Estou coincidentemente encantado por poder cooperar com o doutor e
usar esta oportunidade para descobrir como melhor usar os meus
potenciais. " Ou então ... "Tenho problemas que não consegui resolver
sozinho, pelo que vou cooperar com o doutor para aprender as soluções."
Ou então ... "Não sei o que faça, mas quero descobrir. Quem sabe por
meio da Psicanálise eu o consiga? "
Ou então ... "Estou em desespero e quero do doutor qualquer ajuda que
possa me oferecer para alcançar alivio. "
É a chamada regressão psíquica, que é um processo caracterizado pelo
retomo da atividade psíquica a uma forma de atuação mais anterior, mais
simples e por isso mesmo inferior, mais simples e por isso mesmo inferior.
Há três tipos de regressão: tópica, cronológica e formal.
A tópica trata do movimento de descenso: é uma forma de retrocesso à
etapas já ultrapassadas do seu desenvolvimento; a cronológica descreve
uma experiência atual reativa a uma outra do passado, em que o
indivíduo reage hoje, como reagiu naqueles dias. A forma refere-se ao
pensamento quando se torna arcaico nos momentos de sua expressão.
FUNÇÃO SINTÉTICO-INTEGRADORA
A capacitação sintético-integradora se infere dos seguintes fatores: a) a
capacidade de integrar os variados aspectos dos fatos psíquicos e
comportamentais; b) a capacidade de integrar e de conciliar diferenças
em afetos, atitudes, autorrepresentações, comportamentos e valores; c) o
grau de manutenção da continuidade comportamental, que é
asseguradora da condição necessária para o completamento de
atividades programadas e d) o grau de manutenção, tanto da
estabilidade, quanto do nível de organização, mesmo quando influências
externas, repentinamente, se tomam estressantes.

O DOMÍNIO-COMPETÊNCIA
DOMÍNIO-COMPETÊNCIA é avaliado considerando-se o que se infere dos
sentimentos de adequação manifestos e conscientes, ou seja: a maneira
como o indivíduo age e o que ele pode realizar com eficácia.
LIMITE DE ESTÍMULOS

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Considerando-se os estímulos das variadas modalidades sensoriais,


levantar-se a consciência, o limiar e a sensibilidade apresentados pelo
indivíduo, bem como os limites estabelecidos em relação aos variados
níveis de estimulação sensorial, visando-se quantificar a extensão dos
prejuízos ou dos retraimentos provocados, bem como dos mecanismos de
defesa e de manejo adotados.

A PSICANÁLISE:
Freud disse que Psicanálise é:
(1) um método de processos mentais, quase inacessíveis por outros
meios;
(2) uma técnica (baseada nessa investigação) usada no tratamento de
distúrbios neuróticos;
(3) um conjunto de informações psicológicas obtidas por essa via e que
se vem constituindo, gradativamente, em uma nova disciplina científica.
A Psicanálise pretende tornar consciente aquilo que é inconsciente e
facilitar a descarga afetiva.
Ou...
Revelar os conflitos inconscientes, por meio da associação livre e sonhos,
analisando e interpretando as defesas, as resistências, as tensões e
estimulando e interpretando as transferências, além de reestruturar os
mecanismos de defesa, visando o manejo mais eficaz dos impulsos do
Inconsciente.
Na Psicanálise há duas hipóteses fundamentais: o determinismo (ou
causalidade psíquica): eventos que determinaram eventos e a teoria do
inconsciente, que é o determinante vital da conduta e processos do
pensamento.
No VOCABULÁRIO DA PSICANÁLISE de Laplanche Pontalis, lemos que
instinto é "...um esquema de comportamento herdade, próprio de uma
espécie animal que pouco varia de um indivíduo para o outro e que se
desenrola segundo uma sequência temporal, pouco suscetível de
alterações e que parece corresponder a uma finalidade," Uma definição
que não sendo de autoria de SF (que foi vago sobre o assunto), é muito
bem ajustada às realidades das espécies e nos serve para os fins dos
nossos estudos. Um dos problemas do estudo dos instintos é o fato de se
situarem entre os campos biológico e o psicológico. O outro problema é a
constatação da existência de uma grande quantidade deles.
A isto, temos, ainda, de aduzir que o instinto, enquanto fenómeno
biológico, possui representantes psíquicos (impulsos, tendências, desejos

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107

e fantasias inconscientes afetivamente interligados), sendo que, somente


por intermédio destes é que podemos discernir a natureza deles.
Escrevendo sobre o assunto, autores há que os dividem em dois grandes
grupos: os instintos sexuais ou de vida e os destrutivos ou de morte,
acrescentando que há um princípio governando a vida instintiva: o
princípio da realidade, opondo- se ao princípio do prazer-desprazer.
Tomemos alguém faminto e sem dinheiro: uma alternativa seria furtar.
Mas o fato é que somente uma minoria assim procede, enquanto que a
maioria, em função de um temor em relação às leis, ou da esperança de
uma outra solução, renuncia à ilegalidade, levando, portanto, a um nível
de importância, no mesmo nível de importância da urgência de se
alimentar, o respeito pela lei e/ou a esperança.
Temos aqui, um exemplo de motivos racionais, levando um indivíduo a
considerar as circunstâncias reais ante a meta colimada, a comparar o
prazer inerente à satisfação com o rigor das sanções e adiar gratificação.
Isso é agir de acordo com o princípio da realidade, pois se trata de alguém
em condições de resistir ao desprazer e de, antecipadamente, avaliar as
consequências de um ato, vez que suas ações se desenvolvem de acordo
com o princípio da realidade.
Quanto ao princípio do prazer-desprazer, este se encontra à serviço dos
instintos, ou seja, do Id. O nome deste princípio decorre do fato de ser
sabido que um instinto desencadeia tensões que são prazerosas e
desprazerosas, simultaneamente, o que se aplica ao instinto sexual, por
exemplo. Sabemos que um indivíduo em estado de reação, tem sensações
prazerosas e dolorosas, o que é agravado a medida do aumento da tensão
correspondente o que acaba exigindo uma urgente descarga, que é
seguida da libertação das sensações dolorosas e de relaxação.
Mas há, também, a compulsão de repetição, que é oposto ao princípio da
realidade, que também conduz ao esgotamento das energias instintivas,
mas com uma finalização diferente do princípio do prazer-desprazer, já
que leva exclusivamente ao repouso, enquanto que este tende a evitar a
dor e alcançar o prazer. O que os une é o fato de serem, ambos, os
regentes da vida instintiva. É interessante notar que onde aparecem em
forma pura, apresentam-se independentes um do outro e buscam
finalidades que se excluem mutuamente. Assim se um indivíduo guiado
pelo princípio do prazer-desprazer, estará sempre perseguindo novas
sensações, empenhando-se em novas experiências e se dedicando às
novidades. Já um que se submeta à compulsão da repetição, vive em
função de experiências anteriores: é um conservador empedernido, que
só consegue resolver num estado de repouso absoluto.
Agora já podemos dizer que os instintos controlados pelo princípio do
prazer-desprazer, são os instintos de vida (os sexuais), que ultrapassam
os limites da atração física e alcançam o amor-Eros, enquanto que os

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relacionados com compulsão de repetição não se dedicam ao crescimento


na busca, tendendo, antes, ao repouso, cuja máxima expressão é o
suicídio e é por isso mesmo que são chamados de instintos destrutivos
ou instintos da morte.
"A teoria dos instintos é, por assim dizer, a nossa mitologia.
Instintos são entidades míticas, magnificentes em suas indefinições.
No nosso trabalho não podemos, nem por um momento, desviar a nossa
atenção deles, mesmo porque nós, jamais, poderemos estar seguros de
que os estejamos vendo com a devida clareza!" (3)
O PSICANALISTA E SEU TRABALHO:
Dizemos que o oficio do Psicanalista é interpretar, uma vez que ele busca
capacitar o Ego para a resolução dos seus conflitos e assim reduzir a
necessidade de Mecanismos de Defesa e Consequentemente do gasto de
energia psíquica para a manutenção dessas defesas. O analista não se
valerá apoio direto, sugestões ou conselhos. Usará uma postura polida e
firme, porém empática, visando objetivamente o Ego, vez que ele, o Ego,
tem acesso direto ao Id, ao Superego e ao mundo exterior. (Greenson).
Ademais, em cumprimento ao preconizado por SF, o Analista se fixará no
analisando num estado de atenção flutuante, ou seja: ouvindo sem
privilegiar qualquer aspecto do material. Ou melhor: sem focalizar sua
atenção, vez que, o seu objetivo é descobrir as conexões inconscientes.
(3) SF em carta (1897) a Fiess.
Compete ao Psicanalista prevenir, além de curar, sendo ambas as
funções interligadas e inseparáveis. A respeito do nosso oficio, SF disse
que "A tarefa do Psicanalista consiste em converter um possível conflito
futuro em conflito presente."

O PROCESSO PSICANALÍTICO
1- O QUE É?
Embora lidando com uma palavra aparentemente simples, quando
contextualizamos a mesma à Psicanálise observamos que começa ser
objeto de polemica. Entretanto, vamos nos prender a significação mais
simples, embora encontremos mesmo assim uma possível dificuldade,
quando se trata de sua semelhança com Situação Analítica. Por enquanto
consideremos Processo como sinônimo de Situação Analítica.
Pretendendo definir Processo Psicanalítico, podemos dizer que o
tratamento psicanalítico tem um sítio, um lugar, e esse lugar é
encontrado dentro da Situação Analítica. O processo é então o conjunto
de fases sucessivas dentro da situação como um todo. E, em particular,

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a Situação fica sendo "a configuração total das relações interpessoais que
se desenvolve entre o Psicanalista e seu paciente".
Podemos criar conceito mais simples ainda, se dissermos que o Processo
inclui todos os procedimentos havidos entre Psicanalista e paciente a
escolha do primeiro até a RNT (reação terapêutica negativa) que o
paciente experimenta quando de fato seu tratamento já está encerrado.
2- ANALISABILIDADE
Segundo os Didatas mais famosos, toda vez que não existir uma contra
indicação específica e irrecusável, a Psicanálise é indicada.
Entretanto, falando das contra indicações, podemos relacionar as de
natureza familiar, religiosa, amizade etc.. Mas, seriam todos os paciente
analisáveis? Seriam todos os pacientes analisáveis por quaisquer
Psicanalista? Há enfermidades do universo psíquico que não são
analisáveis?
Outras perguntas poderiam ser levantadas, contudo, tentaremos
responder estas que nos parecem mais prementes. Seriam todos os
pacientes analisáveis?
Embora do ponto de vista etiológico, da natureza da enfermidade o sejam,
há pacientes que não preenchem os requisitos para tal. E nesse caso, até
os fatores inteligência, cultura, universo religioso, em outras, etc, podem
contraindicar. Nesse caso o paciente não produzirá o suficiente par ao
processo de interpretação ou não acompanhará o raciocínio sempre
avançado do Psicanalista. Um outro fator que não podemos descartar é a
idade. Seriam todos pacientes analisáveis por quaisquer Psicanalista?
Quando estivermos diante de um paciente analisável, precisamos ainda
considerar a possibilidade do tal não ser analisável por nós. Há sempre a
incidência de fenomenologia que pode contraindicar. Por exemplo: A
contratransferência Negativa Imediata. Além deste fator, pode o paciente
apresentar uma postura e características de personalidade desfavoráveis
à constituição do Par Analítico. Isto exige muito cuidado na fase das
entrevistas. Há enfermidade do psiquismo que não são analisáveis?
Certamente, todos as enfermidades psicogênicas, em princípio, não
oferecem condições. É claro que estamos agora lidando com o conceito
de estrutural. Entretanto, há certos casos de esquizofrenia que parecem
responder a uma análise profunda. Diante dessas considerações, uma
outra pergunta se levantará: Quais são os pacientes tributários da
psicanálise? Os Neuróticos. Só existe um tratamento eficaz para as
neuroses - Psicanálise. O tratamento psiquiátrico para as neuroses é
apenas sintomático. É como tirar a febre de alguém com infecção.
Entretanto incluímos neste roteiro um capítulo sobre Psicanálise e
Paciente Psiquiátrico.

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Por outro lado, temos ainda duas outras questões a considerar nesta
parte:
•A Psicanálise pode contribuir para os pacientes não indicados? Sim. A
Psicanálise cura as neuroses, ajuda aos psicóticos e não agrava
quaisquer enfermidades;
•Os Psicanalistas têm que ser rigorosos na questão da analisabilidade?
Em princípio sim. Pelo menos nos acasos de contraindicação familiar, de
amizade etc. Contudo não será fácil recusar um paciente, especialmente
se lavarmos em conta as necessidades financeiras e a natureza sacerdotal
de que nossa profissão se reveste. Não deve, contudo, forçar uma
situação que saiba ser improdutiva.
Vamos dar, ainda que resumidamente, os critérios da Dra. Zetzel de
analisabilidade:
•A capacidade de manter a confiança básica em ausência de uma
gratificação imediata;
•A capacidade de manter a discriminação entre o objeto e o self na
ausência do objeto necessitado;
•A capacidade potencial de admitir as limitações da realidade.
Finalizando, teremos sempre bastante dificuldade com os pacientes que
tendem a desenvolver prematuramente uma intensa transferência erótica
desde as entrevistas face a face.
O PAR ANALÍTICO
A figura do Par Analítico (e não casal) surge em decorrência da
analisabilidade. Se os requisitos para a situação analítica não forem
atendidos, certamente que paciente e psicanalista formarão uma dupla
de estranhos. Queremos afastar desde já a ideia de que o Par Analítico
engloba aspectos transferenciais. Não engloba, mas predispões ao
surgimento da mesma. E se não ocorrer a transferência, o trabalho será
inútil, não haverá cura. Assim, para entender o mesmo, temos que
considerar se um determinado paciente vai responder melhor a um
analista do que a outro, ou que um analista pode tratar melhor uns
pacientes do que outros. Par Analítico, é, portanto, o melhor analista para
determinado paciente e paciente adequado para determinado analista.
Vale ainda considerar que essa figura não surge com imediatismo, sendo
necessário um tempo determinado de contato para se ter uma ideia de
sua medida. Isto torna fundamental as entrevistas.

Passos do processo psicanalítico:


1- O AMBIENTE

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111

Do ponto de vista metodológico, ambiente não faz parte do processo.


Entretanto, se precisamos dele para tal, não podemos ignorar a sua
importância. E claro que existe ambiente e ambiente. Também sabemos
que as pessoas se sentem melhor em função de certas disposições, cores
etc.. Assim, pensemos um pouco sobre um ambiente adequado para a
prática psicanalítica - Disposição de um Consultório ou Gabinete:
-A sala não deve ser pequena em demasia;
-Deve possuir os móveis apenas necessários;
-Não deve ter decoração com o fim de embelezar;
-Não deve ter nas paredes nada que chame a atenção;
-Deve ser ambiente de pouca claridade;
-A cortina deve ser de cor neutra;
-Deve-se evitar enfeitas sobre a mesa ou coisas que pareçam ostentação;
-Se tiver estante, nela devem ter apenas livros;
-Deve ser ambiente afastado de ruídos sistemáticos;
-A limpeza e disposição dos móveis e demais pertences devem ser
rigorosa;
-O Divã deve ser confortável e suficiente largo para acomodar quaisquer
pacientes;
- A cadeira do analista deve estar disposta por detrás do divã, de maneira
que o analista não seja visto pelo paciente enquanto livremente associa;
-Não deve ter telefone nem campainha que soe dentro dessa sala, etc.;
-Deve existir uma antessala levemente decorada.
O ambiente deve oferecer ao paciente oportunidade de bem estar. Ele
deve ter a sensação de que aquele local é o mais agradável possível para
os 50 (cinquenta) minutos a quem tem direito.
2- ANAMNESE
Em Psicanálise, anamnese não é entrevista. Reservamos para a
entrevista um caráter formal de oportunidade para termos uma visão
anímica do paciente.
A anamnese é o primeiro, ou segundo contato com o paciente. E a ocasião
em que o paciente chega ou é trazido, e neste caso já temos uma forte
contraindicação para a análise. O ideal é que o paciente venha de livre e
espontânea vontade. Se bem que as vezes necessite de apoio, do
encorajamento de alguém, da família ou não.

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112

Na anamnese, primeiramente ouvimos as razões de nossa procura, e, em


certos casos já podemos refugar um paciente neste estágio, se
constatarmos tratar-se de psicótico, de alguém que já conhecemos, já
tivemos algum tipo de negócio com o mesmo, enfim.
Mas, como proceder na anamnese? Fazer a ficha do paciente. Esta ficha
deve ter:
-Nome completo;
-Data de nascimento;
-Filiação;
-Estado civil;
-Nível cultural;
-Condição sócio-econômica;
-Condição sócio-econômica e cultural da família (pais);
-Número de irmãos;
-Relação com os irmão;
-Desempenho escolar;
-Como se relaciona na sociedade;
-Religião e como pratica essa religião;
-Grau de conhecimento da psicanálise;
-Enfermidades que possui;
-Enfermidade que padeceu, inclusive as doenças próprias da infância;
-Lesões provocadas por enfermidades;
-Acidentes que padeceu;
-Cirurgias que padeceu;
-Quantidade de amigos;
-Hábitos;
-Passatempo preferido;
-Medos, etc.
De posse dessas informações e outras que poderão ser obtidas com as
respostas a certas perguntas do chamado "Interrogatório forçado", o
psicanalista terá uma visão da analisabilidade e das possibilidades de
formação do par analítico bem como das condições econômicas que darão
sustentação ao processo.

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113

Na anamnese, o Psicanalista não deve prometer nada, além de sua boa


vontade para com o caso, mas deixando claro que tudo vai depender do
processo de entrevista. Não podemos garantir cura, nem mesmo se
poderemos continuar com o caso, se bem que isto é mais teórico do que
prático.
Pela anamnese, o médico estabelece contato inicial e importante com o
doente. Uma anamnese fiel e clara é sempre necessária para o
diagnóstico correto. Para que se tenha ideia de importância da anamnese,
lembramos que em diversas circunstâncias, é ela o único elemento com
que contamos para o diagnóstico. Uma anamnese de boa qualidade é, no
mínimo, a metade do caminho a ser percorrido para o diagnóstico. A
anamnese tradicional compreende duas etapas:
1.Identificação
2.História Clínica

2.1. IDENTIFICAÇÃO NOME:


Escreva-o sempre por extenso e completo. Para fins de apresentação
casos com ilustração visual ou em publicações escritas o nome do
paciente deve ser registrado apenas pelas iniciais. Em sessões com
plateia reduzida poder-se-á referir o nome do paciente. Este
procedimento intenta reforçar a posição do paciente como ser humano e
não apenas como símbolo de curiosidade médica.
IDADE: Importância ligada a frequência de certas moléstias. Ex.: o infarto
do miocárdio é mais frequente acima dos 40 anos, a febre reumática é
mais comum entre os 5 e 15 anos.
SEXO: Algumas doenças são mais comuns nos homens que nas
mulheres. Ex.: a gota é mais comum no homem, o lúpus eritematoso
disseminado é mais comum na mulher.
COR: Algumas enfermidades predominam nos negros, com, por exemplo,
a anemia falciforme. Em situações especiais o conceito de tribo deve ser
lembrado. Ex.: o câncer-hepático e sua prevalência nos negros da tribo
Bantu.
2.2. HISTÓRIA CLÍNICA É a história da doença narrada pelo próprio
doente, sempre que possível, ou por intermédio de um responsável, no
caso de crianças, débeis mentais ou doentes impossibilitados de falar,
fato que deverá ser anotado. A colheita da história clínica poderá ser
efetuada de dois modos:

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Anamnese livre. Quando o doente conta por si mesmo a história da


própria doença. Anamnese dirigida. Quando o profissional, querendo se
informar a respeito de certos fatos, dirige ao doente perguntas
específicas. Ex.; "alguma vez escarrou sangue?" ou "A sua dor abdominal
tem alguma relação com a ingestão de bebidas alcoólicas?", etc... A
anamnese (livre ou dirigida) pressupõe espontaneidade, podendo ser, no
máximo, orientada, nunca sugerida. As perguntas formuladas serão
simples, acessíveis e de acordo com o nível educacional e cultural de cada
doente. Assim, por exemplo, perguntaremos a um paciente de baixo nível
social e intelectual - "... já botou alguma lombriga?" ao invés de "... já
eliminou áscaris alguma vez?" "... tem alguém na família com pressão
alta?" ao invés de "... alguém sofre de hipertensão na família?", e assim
por diante, para que as perguntas sejam sempre inteligíveis para o
paciente.

A história clínica clássica compreende:


1. Queixa principal (Q.P.)
2. História da doença atual (H.D.A.)
3. História patológica pregressa (H.P.P.)
4. História fisiológica (H. FIS.)
5. História familial (H. Faz.)
6. História familiar (H. Far.)
7. História social (H. S.)

Queixa principal (Q.P) - Motivo ou motivos principais pelos quais o


paciente procura o médico. Deve ser anotada com as próprias palavras
do doente, evitando-se, naturalmente, transcrever expressões porventura
grosseiras. Exemplo: "soltura". "Dor na barriga". "Canseira e inchação
das pernas". "Pressão alta". "Fraqueza, anemia e vômitos".
Não é recomendável fazer longas listas de queixas principais. Caso
existam várias queixas, apurar as mais significativas. Registrar, no
máximo, três queixas principais.
História da doença atual (H. D. A.) - Nesta fase, as informações prestadas
devem ser transcritas preferentemente em termos técnicos (médicos). Es.:
"... a dor de barriga é acompanhada de falta de ar e inchação dos pés"- "a
dor abdominal é acompanhada de dispneia e edema dos pés". Em certas
ocasiões, será licito transcrever para a história da doença atual as
palavras leigas, especialmente se elas se referirem a um sintoma
permanentemente enfatizado pelo paciente. Ex.: "... Dr., esta minha dor

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115

sempre foi do tipo "manhoso", desde o início da doença". Nessa situação


emprega-se o vocábulo latino sic entre parênteses, logo após o relato do
paciente. Ex.: "... minha barriga parece ter chocalho no seu interior (sic)".
A história da doença atual deve ser colhida e transcrita seguindo o
seguinte roteiro:
1.Época e modo do início da doença.
2.Modo de evolução da doença e tratamentos efetuados.
3.Intercorrência de outros sintomas.
4.Queixas atuais.
Sintomas - São as queixas do paciente relativas a suas(s) doenças(s). São
dados subjetivos. Ex.: "Dor de cabeça". "Dor nas pernas". "Digestão
difícil". "Formigamento nos dedos".
Sinais - Tudo aquilo que podemos verificar no paciente, através dos
nossos sentidos. São dados objetivos. Ex.: "Úlcera na região maleolar
externa". "Ginecomastia bilateral". "Tumor no epigástrio". "Urina
sanguinolenta".
Análise de um sintoma - "Qualquer sintoma deve ser pesquisado com
profundidade e transcrito para a ficha de observação clínica.
Ao analisar um sintoma utiliza o seguinte roteiro:
1.Época do aparecimento à duração total.
2.Modo de aparecimento - súbito ou gradual.
3.Fatores desencadeardes, agravantes ou atenuantes na época inicial do
aparecimento - emoções, esforços físicos, alimentação, posições,
gestações, drogas e outros.
4.Caráter e aparecimento - Qualidade do sintoma.
5.Localização e irradiação - (em caso de dor).
6.Intensidade - Forte, fraco, moderado, insuportável, etc.
7.Características - Contínuo, paroxístico surdo, rítmico.
8.Curso do sintoma - Evolução com episódio único, ataques recorrentes
agudos, ocorrência diária, ocorrência periódica (semanal, mensal, anual,
etc.).
9.Análise atual - Melhora, piora, estacionário. 10.Efeitos e tipo da
terapêutica.
Síndrome - Associação de sinais e sintomas evoluindo em conjunto,
provocada por mecanismos vários, e dependente de causas diversas.

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Exemplos: síndrome de hipertensão: porta, cuja etiologia pode ser:


cirrose hepática, fibrose hepática esquistossomótica, trombose da veia
porta, etc. Síndrome disabsortiva, podendo ser devida a: pancreatite
crónica, enterite regional, doença de Whipple, tuberculose intestinal, etc.
Síndrome edematosa, cujas causas podem ser: insuficiência cardíaca,
glomerulonefrite aguda, estados hipoproteinêmicos, etc. História
patológica pregressa (H. P. P.) - É a observação de estados mórbidos
passados.
Pesquisar, de rotina, os seguintes fatos:
1.Infecções, infestações, doenças de generativas e outras.
2.Alergias - Asma, eczemas, urticária, alergias medicamentosas e
alimentares, doença do soro. Intervenções cirúrgicas - Tipo, época,
complicações e resultados.
3.Traumatismos
4.Medicamentos - Uso de anti-hipertensivos, diuréticos, antibióticos,
psicotrópicos,...
5.Doenças psíquicas - aparecimento, evolução e tratamentos.
6.Doenças psíquicas - Aparecimentos, evolução e tratamentos
História fisiológica (H. Fis.) - referente às condições de nascimento (parto
eutócico, distócico, retirada a rórceps e outros acidentes),...
História familial (H. fal.X - Relativa aos ascendentes e descendentes.
Muitas doenças têm caráter hereditário.
História familiar (H. Far.) - A história familiar se refere às pessoas e
outros seres que convivem com o doente, podendo ser da mesma árvore
genealógica ou não.
História social (H. S.) - Avaliação das condições de habitação, higiene
(alimentação).
Revisão de regiões, aparelhos e sistemas - Realizada por intermédio da
anamnese dirigida. Indagar sobre os sintomas e sinais mais frequentes a
cada um deles. Mandamentos da Anamnese:
1.Nunca manifeste surpresa ou formule julgamento a respeito do relato
da história de seu paciente. Você é um colecionador de informações, não
um juiz.
2.Expresse sempre interesse a respeito dos problemas dos pacientes. Os
problemas das pessoas são a base de sua profissão.
3.Lembre-se que não há melhor recurso para "medir" um sintoma do que
história cuidadosa.

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4.Tente "assemelhar-se" ao seu paciente


5.Não acredite em tudo que ouve. Os pacientes esquecem, podem
deliberadamente suprir informações (muitas vezes por medo), podem,
inconscientemente, reprimir declarações e, às vezes, falsificar dados
(muitas vezes por propósitos de compensação, insegurança).
6.Evite quanto puder os "por quês"? - estes podem representar um desfio
à competência das pessoas. Pergunta como "por que o Sr. Parou de tomar
a medicação"? - pode ser interpretada como hostilidade, enquanto outra
mais neutra e aberta como - "diga-me as razoes pelas quais o Sr. Não fez
uso da medicação?" - permite a manutenção da empatia e maior
possibilidade de informação verdadeira.
7.Não julgue o tratamento prévio efetuado por outro profissional. É
posição segura, pois nem você nem o paciente têm informações precisas
para fazer um julgamento.
8.Certifique-se de que suas palavras e as do paciente tenham o mesmo
significado. Você, por exemplo, sabe que nem todos os tumores são
malignos -saberá o paciente? Mantenha um diálogo claro e inteligível.

2.3. RELACIONAMENTO PSICANALÍSTA - PACIENTE


Naturalmente, é da maior importância a capacidade do psicanalista em
relacionar-se bem com seu paciente. Conquistando-lhe a confiança e
levando-o a. ver que está interessado em verdadeiramente em
compreendê-lo e ajudá-lo, o psicanalista conseguirá uma "aliança
terapêutica" com o paciente, o que, por si só, já preconiza a possibilidade
de um tratamento mais eficaz e que realmente beneficie o doente.
Eventualmente, indivíduos considerados emocionalmente ajustados,
tornam-se, durante uma enfermidade, irritadiços, rebeldes e ansiosos,
situação que costuma ceder com a cura do doença.
A informação ao doente sobre o seu estado real deve levar em conta as
condições psíquicas individuais e de realidade objetiva. As enfermidades
de curso inexorável podem ser, em situações especiais, comunicadas ao
próprio paciente. Nestes casos, no entanto, o médico deve sempre entrar
em contato com o familiar que lhe pareça mais equilibrado, a fim de
colocá- lo a par da verdadeira situação e assim trabalharem
conjuntamente para maiores benefícios do paciente. É aconselhável a
precaução na comunicação do prognóstico, mesmo nos casos em que
haja uma convicção pessoal ou estatística a respeito da provável evolução
da doença.

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3- ENTREVISTA
Já dissemos que em Psicanálise, a anamnese não é entrevista. Entrevista
é um termo reservado para algum encontro de tipo especial, não para
contatos regulares. Trata-se, portanto, do que se faz antes de empreender
um tratamento psicanalítico. Sua finalidade é, do modo mais amplo que
na anamnese, decidir se a pessoa que consulta deve realizar um
tratamento psicanalítico ou de outra natureza. Também nela se terá uma
visão profunda das contraindicações.
Na entrevista devemos facilitar ao entrevistado a livre expressão de seus
processos mentais, o que nunca se consegue com um enquadre formal
de perguntas e respostas, embora durante a mesma possamos submeter
algumas perguntas ou pedir que o futuro paciente fale sobre algo
específico.
Algumas considerações resumidas sobre a entrevista:
. Tanto melhor será o campo da entrevista quanto menos participe o
entrevistador;
É comum observarmos pacientes com forte dose de ansiedade e/ou
angústia já na entrevista;
. analisado deve ser informado que a entrevista tem a finalidade de
responder a uma consulta sobre sua análise mental e seus problemas,
para ver se necessita de tratamento;
. A entrevista se realiza sempre face a face e o uso do divã está
formalmente afastado;
. A entrevista não se baseia nas regras de livre Associação, embora já se
inicie uma espécie de ensaio da mesma;

-Psicanalista deve influenciar com atitudes não verbais;


Psicanalista deve anotar ao máximo, de modo elegante e não acintoso,
tudo que interesse à decisão quanto a analisabilidade;
Psicanalista não deve interpretar nem fazer, diagnóstico durante a
entrevista. Suas palavras devem induzir apenas;
Psicanalista não deve recorrer a procedimentos que evitem a ansiedade,
como o apoio ou a sugestão, e tampouco resolvê-la com o instrumento
específico da interpretação;

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No fim de cada entrevista já predomina a angústia de separação, que


será fortalecida no curso da análise;
A entrevista deve ter tempo limitado, como duas, três ou mais sessões,
não deve ser arrastada indefinidamente;
Deve ser distinta do processo de Psicanálise formal, de maneira que o
paciente saiba onde terminou uma e começou a outra; A entrevista
informa sobre fatos fundamentais, não como objeto de análise, mas como
para definir se será ou não possível o trabalho de análise;
Na entrevista, também o paciente poderá chegar a conclusão de que esse
Psicanalista não lhe é indicada, sem contudo abrir mão do tratamento
com um outro (é comum pacientes que vão de analista, até encontrar um
indiciado, embora isso já possa ser estudo como uma busca de um
profissional que satisfaça suas fantasias à priori), etc.

4- O CONTRATO ANALÍTICO:
Vamos tomar um termo das relações civis para designar certo
procedimento necessário à prática psicanalítica. Antes de definirmos o
Contrato psicanalítico, precisamos entender que uma das estratégias da
Entrevista é preparar o futuro paciente para subscrever o metafórico
Contrato Psicanalítico. Esta expressão deve ficar circunscrita ao jargão
dos psicanalistas, sem conotações legais.
Mas, o que é?
É um acordo sobre as bases ou as condições do tratamento.
"Vale a pena assinalar, ..., que o contrato psicanalítico não só implica
direitos e obrigações, mas também riscos, os riscos inerentes a todo o
empreendimento humano".
O Contrato Psicanalítico poderá ser democrático ou autoritário. Aquele é
o que tem em conta as necessidades do tratamento e as harmoniza com
o interesse e a comodidade de ambas as partes (paciente e analista).
Lembremos que a cada obrigação do analisado corresponde
simetricamente uma do analista. No contrato autoritário, temos a busca
da conveniência do analista antes que preservar o desenvolvimento da
tarefa. Há também um tipo menos comum, que é o demagógico, em que
o psicanalista satisfaz o paciente em prejuízo do processo.
Surge, naturalmente, a pergunta: Quando deve ser formalizado o
Contrato Psicanalítico? Na fase inicial das entrevistas. Pode mesmo ser
alinhavado durante as entrevistas, entretanto, deve haver um momento
em que se trate apenas dele. Um momento quando o paciente se veja de

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frente com obrigações definidas, com algo que ele terá que respeitar, uma
vez que pretende a cura, o seu bem estar.
4.1. Generalidades sobre o Contrato Psicanalítico:
-Não é um documento formal, escrito;
.Deve incluir os elementos tradicionais, que veremos, bem como a
possibilidade de sua alteração;
.Deve prever uma certa flexibilidade que não comprometa o andamento
do processo nem do tratamento;
.Deve frisar bem a responsabilidade do Psicanalista;
.Deve esclarecer que tudo que o paciente faça, não faça, falte etc., será
objeto de interpretação etc.

4.2. Principais itens do Contrato Psicanalítico:


A questão das anotações. Devemos informar ao paciente que temos o
direito de anotar elementos colhidos da Livre Associação que
consideramos necessários para interpretações futuras ou para dirimir
dúvidas quando de resistências contumazes apresentadas pelo paciente.
Mas é preciso constar que as anotações não são obrigatoriedade, uma vez
que há psicanalistas que simplesmente não anotam nada.
Aconselhamos, contudo, que todos anotem determinadas coisas, porque
a pura e simples postura audível, por melhor que seja a memória do
Psicanalista, poderá provocar uma sensação de inutilidade das suas
palavras, com acentuado descrédito pelo nosso trabalho.
4.3. USO DO DIVÃ: (ANEXO I)
O divã não é um sofá, onde o paciente senta se quiser. Trata- se de um
instrumento do nosso trabalho. Entretanto, não devemos impor ao
paciente como algo obrigatório, com pena de nosso Contrato torna-se
auditório o que deve ser evitado. Devemos, isto sim, esclarecer quanto a
sua utilidade, o seu emprego histórico desde o mestre, Freud.
Qual a razão do Divã? Freud o concebeu para possibilitar o maior
relaxamento possível ao paciente enquanto fala. Ele tem por objetivo tirar
o paciente da rotina de atividades musculares, diminuir as tensões,
afastar as responsabilidades com equilíbrio e outras que consomem
bastante energia. O divã é

fundamental também porque permite ao psicanalista se posicionar em


relação a ele de modo a ficar menos exposto, diminuindo assim a carga
transferência e o constrangimento dos olhares insinuativos, que são

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responsáveis pela contratransferência fenômeno que pode ameaçar todo


o trabalho.
No contrato deve ficar claro que o divã é para o Psicanalista como a
cadeira do equipo de um dentista, e tantas outras. Sem o divã, fazemos
vários tipos de psicoterapias, menos psicanálise.
4.4. INTERCÂMBIO DE TEMPO E DINHEIRO
O dinheiro da psicanálise tem uma função económica por excelência.
Pode parecer absurdo esta afirmação, uma vez que dinheiro é sempre
fator económico. Só que termos económico em psicanálise tem outro
significado. É uma carga de valores que domina uma relação. O dinheiro
tem aqui importância diferente dos demais atendimentos médicos ou
paramédicos. É tanto assim que empregamos o nome sessão em vez de
consulta. Além do mais, o paciente de psicanálise gasta muito mais e
durante muito tempo, do modo como não despende recursos quaisquer
outros pacientes, excetuando os casos de internação e cirurgias.
Deve ficar claro que o paciente precisa do analista para resolver os seus
problemas e este tem um preço e uma competência que lhe coloca ao
dispor. O Psicanalista deve ser rígido na questão dos honorários, não
atendendo de graça, sob nenhuma hipótese. E por que? Quem não pode
pagar pela análise também não será beneficiado por ela. Sem falar nos

complexos que seriam plasmados, dentre eles o de inferioridade, o de


devedor eterno etc..
O Psicanalista informará que aqueles 50 (cinquenta) minutos lhe
pertence (ao paciente) e deve pagar por eles.
Quanto a questão do valor (axiologia), é inversamente proporcional aos
problemas enfrentados e às dificuldades deles advindos. No contrato, o
Psicanalista deve fixar o seu preço, o modo de pagamento, podendo ser
por sessão, semanal ou mensal, sendo este o preferido. Podemos também
ter preços diferenciados, de acordo com as condições do paciente e a
quantidade de sessões semanais. Entretanto, que nunca um paciente
saiba o quanto os demais estão pagamento. Não devemos ter uma tabela
de preços afixada.
Finalizando, o Psicanalista não deve dar a mínima para as alegações
financeira do paciente, ter pena, ou mesmo trocar ideias sobre tais
problemas. Quanto a isto, ouvimos, como a qualquer outro problema.
Não nos esqueçamos de que tudo deve ser interpretado.
4.5. FREQUÊNCIA E DURAÇÃO DAS SESSÕES:
Freud psicanalisava com cinco (05) sessões semanais, dando folga
apenas nos fins de semana e feriados. Com o passar do tempo as

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condições econômicas e do próprio tempo que se dispõe têm mudado. Nos


últimos anos temos encontrado uma situação intermediária que satisfaz
- três sessões por semana. Mesmo assim é muito difícil encontrar quem
possa arcar com tamanha despesa. E por causa desses complicadores,
tem-se optado por duas sessões e, não havendo outra maneira, uma
sessão.
Mas seria isto um barateamento da Psicanálise? Não. É uma adaptação
da ciência de Freud aos tempos bicudos que vivemos. Mas, não
enganemos os nossos pacientes - é muito difícil trabalhar assim. A
Psicanálise acaba virando uma psicoterapia comum, com pequeno
alcance material reprimido.
O que fazer? O Psicanalista precisa, ao menos neste caso, forçar um
pouco para que o paciente entenda a necessidade de uma frequência
mais amiúde, pelo menos duas vezes por semana, mesmo que isto
sacrifique suas economias e obrigue uma mudança radical nas suas
contas pessoais. Quanto a duração das sessões, é igualmente histórico e
comprovado que um período de cinquenta minutos é adequado. E tempo
suficiente para o paciente relaxar e começar a falar. Não devemos
diminuir o tempo com a desculpa de abaixar o preço.
Vale a pena tomar cuidado com certas correntes modernas de psicanálise
que pregam a possibilidade de gasto de tempo menor. Os Lacanianos têm
imaginado sessões de até cinco
(05) minutos, o que é um absurdo.
4.6. TEMPO PROVÁVEL DE UM TRATAMENTO PSICANALÍTICO:
Embora haja psicoterapia rápidas, algumas até com fundamentação
psicanalítica, vale lembrar que psicanálise não se preocupa com o fator
tempo. Não podemos submeter ao tempo fatores ponderáveis e que
dependerão de circunstâncias mil para virem à tona. O próprio processo
psicanalítico está sujeito ao vai-e-vem que cada caso determina. Além
disso, existe o problema potencial da relação: neurose- profundidade -
consequência - personalidade - questões do par analítico — intensidade
da transferência — complicação da contratransferência - inteligência do
paciente - idade RTN etc. Tudo isto acena para a impossibilidade de
fixação de prazos. Contudo, a experiência tem mostrado que, em média,
um tratamento completo dura cerca de cinco anos. Pode ir até dez anos.
Em alguns casos é interminável.
Quando falamos na possibilidade de uma análise interminável, quase
sempre causamos um bom susto. Mas não é difícil argumentar. Basta
lembrar que muita enfermidade somática são mais ou menos assim:
Cardiopatias, diabetes, neuropatias, reumatismo etc., tem que ser
tratadas a vida toda. Não há cura do ponto de vista do banimento da
enfermidade do organismo. Sem falar nos casos renais crônicos que

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obrigam o paciente a hemodiálise três vezes por semana, permanecendo


ali cerca de quatro horas. E ninguém desiste por causa disto.
4.7. FÉRIAS
O Psicanalista deve contratar também o seu período de descanso
semanal, aos feriados e anual. Estas férias devem atender também as
necessidades de descanso financeiro do paciente quanto de um período
de cessação de trabalho, que funciona bem para realimentar as
esperanças e fortalecer a transferência, quando for o caso.
Podemos optar por trinta dias corridos ou dois períodos de quinze dias.
Entretanto, esses períodos devem ser fixados de antemão. Muito
raramente se f admite alteração nessa cláusula. Trabalhar direto, "nem
morta". E contraindicado por todos os motivos.

4.8. REGRA DA LIVRE ASSOCIAÇÃO:


Nos contratos fixamos também que o nosso trabalho tem uma
metodologia rígida, não por uma questão de intransigência, mas de
princípio, de doutrina. A regra áurea é livre Associação de Ideias.
Psicanálise é isto. Fora dessa regra o que existe é método catártico, apoio,
papoterapia, condutoterapia, menos Psicanálise. Nosso objetivo, o da
Psicanálise, é tomar o inconsciente, o Id, consciente. Pretendemos e
conseguimos trazer todo recalcado no Id para a superfície, para o
consciente, para o Ego. Uma vez à tona, interpretamos e o próprio
paciente se dará conta dos problemas, suas causas e aprenderá conviver
com os tais, e, se for o caso, promoverá a catarse.
Naturalmente que o paciente não se envolverá tão facilmente assim. Leva
algum tempo para entender e conseguir falar o que vai passando pela
mente. Durante bom tempo ele vai tentar dialogar com psicanalista, o
que evitamos, com o silêncio absoluto.
Será necessária uma ligeira palestra do psicanalista ensinando ao
paciente o que é Livre Associação. Pode ser recomendável que se dê
alguma coisa a respeito para o paciente ler. Podemos fazer certos
exercícios que introduzam no método etc. De qualquer maneira,
tratamento psicanalítico não é um papo em dias e horas e local marcados.
4.9. PAGAMENTO DAS FALTAS:
Embora este critério não seja exclusivo da psicanálise, tem para nós uma
importância capital. O paciente às vezes foge das sessões por motivos
conscientes ou inconscientes. De qualquer maneira tais motivos são
resistência. Mesmo quando diz que não tinha dinheiro, razão pelo que
optamos pelo pagamento mensal, para evitar esta desculpa.

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Deve ficar claro que a sessão agendada é dele e ele paga, quer compareça
ou não. Isto aumenta a responsabilidade do tratamento.
Devemos ser rígidos nesta cláusula dado à fenomenologia presente e
intensa. Não devemos entender também o aumento inesperado de
sessões semanais, fora do que se contratou, a não ser por motivos bem
claros e discutidos, pois pode se tratar de necessidade transferencial que
não deve ser alimentada ou fortalecida. O processo deve ter a necessária
rigidez, porque tudo é tratamento.
4.10. MUDANÇA DE HORÁRIOS:
É bastante comum ser solicitado em pacientes fóbicos, ansiosos ou
limítrofes (especialmente esquizofrênicos). Não deve ser de tudo proibida
nem incentivada. Damos bom exemplo quando subordinamos toda nossa
vida aos compromissos da psicanálise. Se o psicanalista hoje e amanhã
troca o horário das sessões por motivos fúteis, é claro que o paciente vai
se sentir no direito, e isto nos é adverso.
4.11. O MATERIAL ONÍRICO:
Psicanalista que se preza não pode fugir dos sonhos nem possuir deles
ideia mística, fantástica, sobrenatural, religiosa ou banal. O sonho é o
melhor material que a mente fornece. No sonho as informações são
completas e livres de bloqueios. Vêm, contudo, revestidas de simbolismo
aparentemente intransponíveis.
O que fazer com os sonhos? Interpretá-los à luz da técnica Freudiana,
fartamente estudada. Não se interpreta sonhos sob a ótica astrologia, ou
do jogo do bicho. CUIDADO! Lembremos também que os sonhos são
reconhecidos até mesmo na Bíblia como material merecedor de crédito.
Todo sonho é satisfação de uma necessidade. E claro, que não estamos
falando dos sonhos proféticos, mas daqueles produzidos pelo
inconsciente para romper a barreira do superego, das censuras.
4.12. REGRA DE ABSTINÊNCIA:
Por abstinência entendemos o não envolvimento do psicanalista com os
afetos ou os problemas do paciente. E claro que existe a
contratransferência que cada analista terá que trabalhar, embora não
ocorra com a mesma intensidade com todos os pacientes, e nem mesmo
durante toda a nossa vida.
CUIDADO! E de Freud esta máxima: "se quisermos que alguém nos abra
o coração, devemos começar por abrir o nosso". Ela serve para tudo,
menos para a prática psicanalítica. A primeira vista poderia parecer justo
que o psicanalista permitisse, da parte do paciente, a visão de seus
próprios defeitos e de seus próprios conflitos anímicos, abrindo a sua vida
íntima aos olhos do analisado. Mas esse modo de proceder não carreta

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nenhuma vantagem ao tratamento, pelo contrário. Incapacita o paciente


no sentido de vencer as suas resistências profundas, provocando-lhe,
cada vez mais e mais, uma curiosidade insaciável, chegando mesmo a
encontrar na análise do psicanalista encantos e atrativos bem mais
interessantes que a sua própria análise. Sem falar no fato de que o
analista informaria sobre sua contratransferência, seus afetos pelo
paciente.
Nessa linha de raciocínio, também o psicanalista não se interessa pelo
paciente. Não existimos para satisfazer o paciente. Não temos como
satisfazer e não nos deve interessar, nem mesmo como é que o paciente
o conseguirá.
5. POSTURA DO PSICANALISTA
O Psicanalista não deve provocar distanciamento com a máscara de
semideus ou super-homem. Deve ser uma figura natural, que inspire
confiança e não provoque especulação além das fenomenológicas
naturais.
O Psicanalista deve vestir-se bem, sem ostentação. Não deve usar roupas
anacrônicas nem modismo demasiado. Deve, contudo, ser uma pessoa
agradável, quer pela indumentária, quer pela higiene geral. Precisa ouvir
sem manifestar susto com o conteúdo comunicado. Não pode manifestar
escrúpulos nem qualquer espécie de julgamento.
Na recepção do paciente, deve estender-lhe a mão para um bom dia, boa
tarde ou boa noite, sem exageros. Nada de beijinhos ou tapinhas -essas
coisas serão interpretadas pelo paciente como afetividade e favorecerá ou
fortalecerá a transferência. Quando o paciente falar algum gracejo,
devemos rir de leve. Se não o fizermos provocaremos o constrangimento
inibitório. Não devemos ir às gargalhadas com o paciente -o paciente é
que está em análise, não nós. Não podemos dar ao paciente a ideia de
que a sessão nos interessa de modo pessoal, que nos sentimos bem com
ela etc.
E quando de encontros fora do consultório? Cumprimentamos, sem fazer
qualquer referência a condição de paciente e psicanalista. Não devemos
apresentar o paciente a outros como tal. Não devemos "nos abrir", nem
mesmo nesta situação. Paciente é paciente, em qualquer lugar que esteja.

4.25-LIVRE ASSOCIAÇÃO
Podemos dizer que é caudal de ideias que se relacionam entre si e que
são verbalizadas sem preocupação lógica ou estilo.

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A Livre Associação é parte fundamental do processo Psicanalítico. Sem


ela não existe Psicanálise, porém monólogo ou diálogo. O processo
Psicanalítico não consiste em um paciente falando o que consegue
lembrar ou simplesmente ocupando os ouvidos do analista. Na Livre
Associação fala-se do que cem naturalmente à cabeça e não daquilo que
procuramos no material anamnésico.
Podemos afirmar que leva algum tempo para que um paciente Associar
Livremente. Quando no muito, começa falando desembaraçadamente, o
que não é o mesmo. Para a Livre Associação, é fundamental o uso do
Divã. Ali o paciente, encontra uma posição de conforto que favorece essa
manifestação do inconsciente mais naturalmente. Lembremos que todo
material recalcado ao inconsciente está ali como que colado, arraigado.
Não é fácil desprendê-lo. Certas condições mínimas são necessárias. A
mais eficiente, é aquela em que o indivíduo é convidado para falar em
uma posição que normalmente não utiliza para tal, e sim para dormir.
Há uma predisposição mental ao relaxamento próprio do sono e a
capacidade de verbalizar.
l- O processo: É indiferente o tipo de material que se tenha, que o paciente
apresente: Pode ser a história do analisado, as recordações infantis ou
mesmo a história da enfermidade.
Não é um interrogatório nem um diálogo travado entre Psicanalista e
paciente. Algumas vezes fazemos perguntas, mas não sistematicamente.
Aliás, procedemos melhor, quando as nossas perguntas induzem uma
compreensão e praticamente não exige resposta.
A Psicanálise visa sondar o inconsciente para trazer à tona da consciência
as ideias que aí se acham recalcadas e libertá-las através da
compreensão. É verdade que tal libertação é, de certa forma, um pouco
de aplicação do método catártico. Outrossim, quem traz à tona tais ideias
latentes, é o paciente, não o analista. O Psicanalista não é escafandrista,
um mergulhador. No máximo atua dando cordas à imaginação.
O paciente escolhe o ponto de partida de sua conversação, entretanto,
cabe ao Psicanalista perceber se sua conversa não passa de "um contar
do dia a dia ". Às vezes o paciente fala muito exatamente para não falar
o pouco que deve. A conversa funciona muitas vezes como bloqueio,
resistência. Desse modo, o psicanalista pode alertar sobre a
improdutividade do material verbalizado, mas isto com muito cuidado.
Devemos ensinar que o paciente deve falar o que apareça, sem esforço de
recordação na mente, e não falar por falar.
O paciente não deve raciocinar sobre o que está dizendo, quando ocorre
o raciocínio, o que há de fato é uma seleção, como se o paciente pudesse
definir o que é importante e o que não é. Na base dessa seleção, é
encontrada a resistência.

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Uns dizem "Lembrei de algo, mas isso não é importante, não tem nada a
ver ". E é exatamente aí que temos que trabalhar e fazê-lo entender a
presença de uma resistência, de um bloqueio.
O paciente não deve se preocupar com o que está dizendo. Deve agir como
que estando a "pensar em voz alta". Transmite todas as ideias que forem
surgindo, mesmo que sejam agressivas, pareçam vergonhosas, banais,
conflito com os seus costumes. Aliás, uma das coisas mais responsáveis
pelo recalque é exatamente o "pensar de um modo de falar de outro ". Isto
é cometido pelos padrões culturais e pela hipocrisia das religiões etc.
Sintetizando: "Coloque-se diante do Psicanalista como um passageiro
olhando da janela de um trem, em velocidade, e, vá narrando o que se
passa na tela a sua imaginação". (Dr. Gastão Pereira da Silva)
2- Exemplo de Livre Associação: Uma aula sobre como trazer à tona as
ideias recalcadas. O conteúdo que incluímos sob este título foi extraído
do livro de J. Ralph, "Conhece-te pela Psicanálise".
"Vou ensinar ao aluno como se deve pescar. E não só como pescar, mas
também, o lugar bom para uma boa pescaria.
Mas não se trata de peixes; trata-se de pescar ideias. Não as alheias, mas
as suas próprias ideias verdade que, sob certas condições, precisamos
pescar as ideias dos outros; mas, comumente não há necessidade disso.
Há muitos indivíduos, com efeito, que com a maior sofreguidão, nos
oferecem as suas, graciosamente, sob a forma de convicções e de
preconceitos. A média dos indivíduos, recusa-se a admitir qualquer
associação com sua última atitude mental; e com que energia procuram
demonstrar que suas ideias são próprias, espontâneas e desinteressadas.
Não, o que pretendo agora é ensiná-lo a pescar as próprias ideias.
Naturalmente, elas lhe interessam muito. Mas vai uma grande distância
entre interessar-se por uma coisa e possuí-la e gozá-la integralmente.
De nada nos vale uma ótima coisa, que precisamos muito e pela qual
muito nos interessamos, se não podemos utilizá-la justamente, quando
e como queremos. E se não podemos fazer, é porque a coisa não nos
pertence de fato, e, se por acaso a consideramos nossa, somos,
positivamente, vítimas de uma ilusão.
Nesta pescaria, que empreendemos juntos, vamos adotar um anzol
mental. Será uma pesca extremamente prática e de grande proveito para
a sua personalidade. Quero ensiná-lo a trazer à consciência (de medo a
que se possam confrontar) as ideias responsáveis pelo seu
temperamento: as boas e más, as fortes e as fracas. Nas profundezas do
inconsciente há um grande sortimento de ideias e lembranças que a gente
supões serem próprias, originais; na realidade, a natureza e as

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tendências do procedimento consciente são condicionadas por esses


elementos mentais submersos.

Poucas, entretanto, são as pessoas que têm a noção exata se suas


próprias reservas mentais; ou uma noção inteligente dos alicerces
inconscientes sobre as soterradas (ideias). E, quando afluem, escolhemos
as que são utilizáveis, rejeitando as restantes para as profundidades do
espírito.
O nosso equilíbrio mental depende do critério de seleção: se o critério na
escolha é bom, será o nosso benefício; se mal, o nosso bem-estar sofrerá
os prejuízos resultantes. Há, ainda, uma outra maneira de pensar, a que
devemos referir, de passagem: é o sonho acordado, o devaneio. É um
modo de pensar que não dá vantagens ao indivíduo na luta pela vida.
Com efeito, a atenção, em vez de se dirigir, intencionalmente, a um objeto
mental definido, é atraída, nesse caso, pelas ideias desejos. Representa
um esforço para alcançar uma via imaginária e que não se consegue na
vida real. Sendo um meio de se fugir às realidade da vida, constitui uma
espécie de ópio mental, que devemos, portanto, evitar a todo o custo.
O que o aluno vai conhecer agora é uma outra atitude mental, onde a
atenção não é, nem dirigida, nem atraída, mas assiste, como um
espectador passivo, ao desfile das ideias que, sob certas condições,
aparecem no horizonte da consciência. Essa atitude é conhecida,
tecnicamente, sob o nome de livre Associação de Ideias.
Na Livre Associação as ideias fluem e se sucedem sem intervenção
consciente, sejam agradáveis ou desagradáveis, importantes ou não, na
aparência. O que não significa que basta levantar a tampa do caldeirão
do inconsciente para que transborde uma variada procissão de ideias e,
com isso, se obtenha um resultado proveitoso. Não. O resultado pode ser
inteiramente outro.
Sabemos que toda ideia que surge na consciência tem suas raízes nas
profundidades do espírito; e sabemos, também, que se pudéssemos
seguir essas raízes desde a consciência até as suas origens no
inconsciente, haveríamos de chegar à origem dessa ideias, isto é, às
lembranças soterradas de que ele não é mais do que a expressão.
Tomemos uma determinada ideia; coloquemo-la, como se fosse uma isca,
na consciência; abstenhamo-nos de qualquer análise consciente;
afastemos toda a crítica, todo juízo, toda a coordenação, enfim, toda e
qualquer forma de intervenção consciente; deixemos que outras ideias
venham juntar-se à primeira, que faz o papel de isca, apenas por uma
associação puramente simpática, que entre elas possa existir. Vamos
obter, assim, uma Livre Associação de Ideias. Nesse processo, a ideia que
ocupa em um determinado momento o campo da consciência, liberta,

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atraindo-a para si, a ideia imediata, exclusivamente em virtude de uma


associação simpática que as une. Não entra no processo nenhuma
interferência intelectual.
O pensamento consciente, ao contrário, é um processo essencialmente
de seleção; somos nós que atraímos as ideias para a consciência e, então,
depois de analisá-las, julgá-las, retemos as que nos convém e rejeitamos
as que não nos interessam.
Para se obter uma boa associação de ideias é necessário afastar
completamente esses esforços intelectuais e assumir, perante a
consciência, a atitude de simples espectador do que vai acontecer. Deve-
se assistir à procissão de ideias sem interpor nenhuma influência
intelectual.
Essa atitude mental não é difícil de se obter. É antes uma questão de
habilidade. E, uma vez, conseguida, basta um pouco de prática para
repeti-la, sempre que se entender ser útil e necessária.
Lembre-se sempre que, nenhuma ideia penetra na consciência por ação
do acaso.
Toda ideia que, mesmo que seja por um tempo mínimo, ocupa o centro
da consciência, aí não entrou por acaso. Ou foi empurrada pelas
influências subjacentes, ou foi atraída pelas condições de superfície.
Se, como no exemplo da ideia de isca, nos abstivermos de qualquer
influência intelectual sobre ela, vai se operar uma associação livre de
ideias, constituída das lembranças que são as suas próprias raízes; e
deixando que essas associações se realizem livremente, nem fluxo
ininterrupto e contínuo, a consciência há de reconhecer, por fim, a
lembrança exata que constitui a sua origem. Na Livre Associação, a ideia
estimulador (isca), que se encontra na consciência está presa, nos laços
bem definidos, a um conjunto de lembranças localizados em algum ponto
da vasta região do inconsciente; e se pudéssemos seguir a linha de
associações que une entre si, estes dois fatores, haveríamos de conhecer,
rápida e nitidamente, a influência que as memórias soterradas exercem
sobre a nossa conduta consciente. E isso porque teríamos assim
conseguido ligar o efeito a causa."

Resumindo:
A Livre Associação de Ideias é a VIA RÉGIA que conduz à compreensão
do processo pelo qual a conduta é encontrada pelo espírito inconsciente;
se o método for bem aplicado, pode- se, mesmo, reconstruir a
personalidade consciente, abrindo-se aos nossos olhos perspectivas de
maravilhosas possibilidades.

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4 - Questionário para atuação do Psicanalista:


Obs.: Os presentes questionários oferecem perguntas que o Psicanalista
pode empregar nos mais variados momentos do seu trabalho. Algumas
perguntas podem ser formuladas na anamnese, outras no curso da
entrevista e outras quando de flagrantes resistências percebidas no
paciente. Entretanto, é melhor não utilizá-las, do que empregá-las mal.
CUIDADO!
a) Relação Edipiana:
1- De que se lembra você em relação ao corpo de sua mãe?
2- Recorda você alguma coisa das partes sexuais de sua mãe?
3- Foi você alguma vez impressionado com algum detalhe do corpo de
sua mãe?
4- Quais são as lembranças mais antigas que você tem de sua mãe?
5- Era sua mãe carinhosa ou severa? 6- Sua mãe o castigou alguma
vez?
7- Em que consistia o castigo?
8- Que espécie de carícias você recebia de sua mãe?

9- Você a admirava? I -Você a viu alguma vez enferma? II - Você a viu


morta?
12- Você tocou alguma vez nas suas partes sexuais, nos seus seios, ou
alguma outra parte do seu corpo?
13- Viu você alguma vez o contato sexual entre seu pai e sua mãe?
14- Você a viu alguma vez urinando ou defecando? 15-Tinha a sua mãe
aspecto atrativo?
16-Ama você sua mãe? Por que? 17-Você a temeu alguma vez?
18- Ela o assustava quando o olhava?
19- Desejou você alguma vez a sua mãe?
NOTA: no caso de se tratar de um paciente do sexo feminino, todas estas
perguntas devem ser dirigidas ao pai.
b) Relação com criança:
1-Interessa-se você pelas partes sexuais das crianças? 2-Em que
consistem as suas atividades sexuais?
3- Que pensa você da micção ou da defecação?

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4- Acredita que as crianças devem ser castigadas? 5-Gosta de


crianças? Por que?
6- Quais foram os momentos mais felizes que você passou entre elas?
7- Deseja Ter filhos? Por que?
8- Gostaria de Ter um menino ou uma menina?
9- Deseja você que este se pareça com algum membro de sua família?
Por que?

c) Relação com animais:


1- Gosta de animais? Por que?
2- Eles o assustam?
3- Teve alguma vez medo de ser devorado por animais? 4- Foi mordido
por algum? Quantas vezes?
5- Gosta de torturar ou ferir animais?
6- Viu alguma vez o coito de algum animal?
7- Que efeito produz em você os úberos de uma vaca?
8- Comparou alguma vez as partes sexuais de algum animal com as
suas? 9- Viu nascer algum animal?
10- Sabe você o que isto significa?
11- Teve você alguma fantasia ou intento sexual com algum animal?
12- Sonha com animal?
13- Qual é o animal que lhe causa aversão?
14- Já pensou alguma vez que não devemos matar nem comer os
animais?
d) Relação com o próprio corpo:
1- Que pensa você do seu físico?
2- Acha-se efeminado (ou masculinizado)?
3- Qual é para você a parte mais importante do corpo? 4- Qual é a
parte do corpo que você tem mais perfeita? 5- Tem medo de sofrer golpes
nas partes sexuais?

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6- Acredita que a masturbação é um mal?


7- Que acha você das partes sexuais do sexo oposto? 8- Envergonha-
se de ser surpreendido nu? Por quê?
e) Relação com as funções do próprio corpo:
1- Quando se masturbou pela primeira vez?
2- Em que circunstância?
3- Realizou a masturbação espontaneamente? ou lhe disseram que o
fizesse?
4- Como se realizou? Usou as mãos? A realizou por outros meios?
5- Em que pensava ou pensa durante a masturbação?
6- Por que se masturba?
7- Como se sente, uma vez realizada a masturbação?

8- Você foi criado com mamadeira ou com seio?


9- Lembra-se como mamava?
10-Recorda-se de Ter visto alguém mamar?
11-Que impressão lhe produz o seio feminino?
f) Relações amorosa:
1- Que é amor?
2- Qual é o tipo de pessoa preferida?
3- Seria você capaz de persistir em uma atitude amorosa ser ter
satisfação sexual?
4- Gosta em geral das pessoas a quem julga superiores, iguais ou
inferiores a você?
5- Que pensa você das chamadas perversões sexuais? 6-Que pensa
você do ciúme?
g) Situação de família:
1- Foi você criado pela sua mãe, por algum parente ou por
estranhos?
2- Teve você companheiros de infância? 3-Quais eram os brinquedos
escolhidos? 4- Em que colégio esteve?
Quais as lembranças que traz desse tempo? Era interno ou externo?

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5- Que livro você lia quando era pequeno?


6- Que classe de divertimentos você preferia?
7- Qual é a pessoa que exerce maior autoridade sobre você em sua
família?
8- Quais eram as suas ideias religiosas? Quais são agora?

h) Sobre a morte:
1- Pensa você constantemente na morte?
2- Qual é a ideia que lhe ocorre quando pensa nela?
3- Tem você medo da morte, de morrer ou de ser morto?
4- Desejou alguma vez morrer ou de ser morto? Quando e como?
5- Chegou você a pensar no suicídio? Que processo seria preferível?
6- Estabelece você alguma relação entre o amor e a morte? 7- Como
imagina você a vida depois da morte?
8- Tem medo de ver um cadáver?
9- Já pensou na morte de pessoas queridas? 10- Desejou a morte de
algumas delas?
11- Pensou em matar alguém? 12- Já matou animais? Quais?
13- Que espécie de morte comove mais a você?
14- Rápida, lenta?
Essas perguntas podem ser ampliadas, melhoradas e até modificadas
ligeiramente.

IV - ALIANÇA TERAPÊUTICA:
Na primeira parte deste estudo abordamos o chamado Par analítico.
Vimos na ocasião que o par analítico constitui a combinação do melhor
Psicanalista para determinado paciente, e vice-versa. Na sequência e
combinação de fatores, em decorrência deste par, surge a transferência e
a contratransferência que estudaremos dentro em pouco.
Antes, porém, aparece este delicado assunto, a Aliança, por muitos
confundida com transferência. Mas, não confundamos - a transferência
ocupa urna parte definida do universo psicanalítico. Nem tudo que ocorre
na situação analítica é transferência. Temos, contudo, que reconhecer

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que a linha divisória entre a Aliança Terapêutica e a Transferência é


muito tênue.
Como defini-la? Segundo Zetzel, Aliança Terapêutica é uma espécie de
transferência racional. Essa transferência racional se caracteriza,
sobretudo, por não ter o aspecto de neurose, o que chamamos de neurose
de transferência. A diferença está na intensidade, racionalidade,
consciência de que os afetos que surgem não são frutos de paixão, mas
do relacionamento. Por outro lado, a transferência se reveste da
irracionalidade, envolvimento afetivo que não permite ao paciente
distinguir os níveis de sentimentos.
Podemos situar melhor a Aliança Terapêutica em relação a Transferência,
do seguinte modo: A Aliança Terapêutica é

favorável, colaboradora do processo, enquanto que a transferência,


embora fundamental para a cura, em princípio opera negativamente,
tende a atrapalhar. Aparece como embaraço que deve ser interpretado,
caso contrário inviabilizado o tratamento, isto se perpetualizar.
A experiência tem nos ensinado também outra coisa: a Aliança
Terapêutica não necessita de interpretação, nem teríamos como fazê-lo.
Precisamos confessar, entretanto, que a diferença entre a neurose de
transferência e a aliança não é absoluta. É mais uma diferença de
compreensão do paciente do que de natureza de sentimentos. Em suma,
o que o paciente sente, em ambos os casos, é a mesma coisa. Mas a
posição pessoal do paciente difere.
Outra situação interessante, é que na transferência, a luta do
psicanalista é para interpretá-la, afastá-la, dando lugar a possibilidade
da instalação da dinâmica interpretativa. Na aliança terapêutica ocorre
exatamente o contrário: o Psicanalista a reforça. Ele precisa da
manutenção desse clima para sustentar a confiabilidade.
Finalizando, diríamos que o ideal da transferência é que se transforme
ou evolua para a Aliança Terapêutica. Uma coisa não se encontrará ao
mesmo tempo em um paciente: Outra coisa se discute: Pode existir
Aliança Terapêutica sem o processo inicial da transferência?
Aspectos da clínica psicanalítica
• Transferência
• Contratransferência
• Ato falho
• Resistência

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V- TRANSFERÊNCIA
Definição: Atitudes, sentimentos e fantasias que um paciente
experimenta, na situação analítica, em relação ao seu Psicanalista,
muitas das quais emergem, de modo aparentemente irracional, de suas
próprias necessidades inconscientes e conflitos, em vez de circunstâncias
reais de suas relações com o analista. Assim, o paciente atribui,
inconscientemente, características de seu pai, mãe, irmãos etc. ao
analista, enquanto este representará qualquer dessas pessoas em relação
ao paciente.
A teoria da transferência é uma das maiores contribuições de Freud à
ciência e também o pilar do trabalho psicanalítico. A transferência
precisa ser entendida com um falso enlace, que tem, em princípio, dois
objetivos, ambos inconscientes:
a) satisfazer as necessidades propriamente inconscientes,
confundindo a pessoa do Psicanalista com as pessoas que faltaram ou
faltam na vida do paciente.
b) Evitar a subida do mundo inconsciente ao consciente, funcionando
desse modo como resistência, como dissimulação, com o fim de
direcionar as energias mentais para um lado que embarque a
manifestação do universo inconsciente.
Em ambos os casos, "a transferência que se destina a ser maior obstáculo
para a Psicanálise, se converte em seu auxiliar mais precioso, quando se
consegue detectar em cada caso (e manifestação) e traduzi-la para o
enfermo".
Em qualquer caso, a transferência jamais poderá ser entendida como
uma fraqueza de caráter, como "safadeza" do paciente, mas como algo
inevitável às pessoas mais sérias. É sempre um problema da
personalidade no que diz respeito às neuroses, carências etc. As pessoas
que sufocam as manifestações transferenciais, o que consegue é plasmar
mais uma carência, fortalecendo assim o patrimônio neurótico.

Não nos esqueçamos também que a transferência não é fenômeno


exclusivo das relações psicanalíticas, mas presente em todo trabalho
relacional. E é pior nas outras profissões e contatos, porque os envolvidos
não tem o conhecimento cientifico do que está ocorrendo, tomando, de
acordo com o lado, como oportunidade de satisfação. A confusão que
segue será sem precedentes nessas vidas.
Existem três tipos de transferência na terapia:
• Transferência positiva
• Transferência negativa

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• Transferência sexualizada

Transferência positiva - Ocorre quando estão presentes em maior


intensidade, os afetos amistosos, agradáveis e afetuosos como carinho,
amizade. Nela ocorrem sentimentos: bons, positivos, de amizade,
carinho, bondade etc..
Transferência negativa- Ocorre quando o que impera, é a agressividade e
a hostilidade do paciente em relação ao analista. Nela ocorrem
sentimentos de: ódio, desprezo, amargura, ira, inveja, hostilidade,
desconfiança, desdém, aversão, censura, ressentimento, desgosto,
aborrecimento etc...

Transferência sexualizada- Ocorre quando o analisando, se sente atraído


pelo psicanalista. Também é conhecida como transferência erótica. Nela
ocorrem: sentimentos sexuais, romantismo, sensualidade, adoração etc..
VI - CONTRATRANSFERÊNCIA
Definição: As atitudes, sentimentos e fantasias que o psicanalista
experimenta, muitas das quais provém, aparentemente de modo
irracional, de suas próprias necessidades e conflitos psíquicos e não de
circunstâncias reais de suas relações com o paciente.
(Laplanche e Pontalis) define dessa forma:
“Conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando
e, mais particularmente, à transferência deste.”
A Contratransferência pode ser, como deduzimos da definição,
consequência de carência do Psicanalista, de problemas não resolvidos
desse profissional. Pode também ser consequência da situação
psicanalítica em si. Nesse caso, é, "uma resposta emocional do
Psicanalista aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da
influência do analisado sobre os sentimentos inconscientes do
profissional" (Etchegoyen).
Se na transferência temos que estar atentos para interpretá-la, de igual
maneira, precisamos estar atentos aos nossos sentimentos e sempre
dispostos a auto interpretação, com pena de ficarmos vendidos no
relacionamento e impedidos de trabalhar em benefício do paciente.
Quando falamos na Aliança Terapêutica, que deve ser uma evolução da
transferência, a própria transferência racional, de certa forma
postulamos o mesmo para a contratransferência. Nesse caso, quando nos
interpretamos, quando identificamos os motivos dessa afetividade etc.,

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transformamos esse sentimento intenso no correspondente a Aliança


Terapêutica, que chamamos descendente. Essa Aliança Terapêutica
Descendente, que vem do Psicanalista, é igualmente um importante
instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente, sem
interdependência a nível de sentimento.
As contratransferências, são um fenômeno que pode ocorrer na terapia.
Na terapia os pacientes experimentam a transferência, e os psicanalistas
podem viver a contratransferência.
Durante a sessão de terapia, os sentimentos do psicanalista em relação
ao que o paciente está relatando, pode trazer atualização das vivências
antigas do analista.
Existe 2 tipos de contratransferência:
Contratransferência erotizada- Aqui o analista tem uma necessidade de
controle e poder sobre o paciente.
Contratransferência somatizada- Essa, decorre de uma resposta corporal
ao que o paciente transfere.
VII-RESISTÊNCIA:
É a oposição a qualquer tentativa de revelação de um conteúdo
inconsciente. A maior ou menor intensidade da luta travada pelo paciente
contra o analista, que ameaça pôr a descoberta desse conteúdo oculto,
constitui sempre uma medida de força repressora, isto é, da resistência.
Definindo de uma forma mais simplificada, são obstáculos que se
impõem ao tratamento psicanalítico. Freud já dizia que o objetivo da
análise é o descascar a cebola. O afeto reprimido/recalcado é o centro da
cebola, as resistências, são as camadas da cebola.

Temos como grande objetivo da resistência, manter a neurose. A razão


desse procedimento inconsciente reside no mal-estar que a revelação da
neurose ocasiona. O paciente, também inconscientemente, opta pelo
desprazer de manutenção do recalque, com o qual já está acostumado.

Tipos de Resistência:

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a) Resistência consciente - é a retenção internacional de informações


por parte de um paciente, causada pela vergonha, medo de rejeição,
temor de perder a consideração do analista. Aceita-se que, subentendida
na resistência consciente, haja sempre motivos inconscientes. São
conhecidas como resistência de transferência, é a resistência contra a
transferência negativa ou sexual. O paciente percebe que pode haver uma
transferência negativa, e então foge, para não destruir a sua relação com
o setting.
b) Resistência inconsciente - aquela produzida pelo inconsciente de
modo defensivo, sem que o paciente perceba. Tão somente atua ou deixa
de atuar. O tipo mais conhecido é denominado atos falhos (falhados).

Generalidades sobre resistências:


01. Os atos falhos ou lapsos- são os esquecidos, os cortes, as
"evitações" que o inconsciente pratica com uma intenção definida.
Aparece nos erros de leitura, de escrita, nas trocas de nomes, empregos
de palavrões em momentos de solenidade e até discursos e sermões;
02. A própria transferência- é um tipo de resistência, porque visa
cercear o processo e redirecionar os contatos;
03. Resistência é tudo aquilo que impede que o sujeito transfira o
material reprimido para o consciente;
04. A Resistência pode se manifestar no paciente que fala muito,
colocando o seu dia a dia para servir de manto sobre o seu passado;
05. A resistência pode ser encontrada no silêncio. Em todo caso precisa
ser interpretada;
06. A crítica a todo comentário do analista é sempre uma resistência;
07. Também a aceitação de tudo que o profissional fale pode ser
resistência, na medida em que limita o avanço do mesmo, é a cortesia
que protege a necessidade de reviver seus conflitos instintivos.
VI - OS MECANISMOS DE DEFESA:
Em alguns casos, os mecanismos de defesa podem ser interpretados
como resistências. Também podem ser tratados como mecanismos de
adaptação do Ego. São atuações que visam dar um tratamento
sintomático aos complexos e aos deslizes, quando a consciência se sente
desequilibrada.

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IX - ANGÚSTIA DA SEPARAÇÃO:
Fenômeno que percebemos, em alguns casos, desde as entrevistas, onde
o paciente apresenta uma sensação de abandono, quando o seu tempo
vai terminando, como se estivesse para perder algo muito caro. Na
angústia de Separação, é diretamente proporcional à transferência e à
Aliança Terapêutica. No caso de pacientes com forte resistência, que
retardam ao máximo a instalação desses fenômenos, também se notará
uma frieza, um corte de cordão umbilical indolor.
Em caso de pacientes psicótico, não tributários da psicanálise, junto aos
quais se esteja praticando uma psicoterapia de fundamentação
psicanalítica, notaremos que a angústia de separação, pode incluir certos
tipos agressivos de evite. Pode também o paciente insistir em continuar,
ter surtos na saída, simular insegurança, quadros fóbicos etc.
X - INTERPRETAÇÃO:
A interpretação é o instrumento mais nobre da psicoterapia. Entendemos
por interpretação, o método de deduzir o que o paciente tem em sua alma
e lhe comunicamos. A interpretação, é, portanto, a aplicação da
racionalidade ao material que nos é oferecida através da Livre Associação.
E quando o psicanalista entende e junta os fatos, montando o quebra-
cabeça com o material mnésico apresentado.
A interpretação se dá sobre coisas lógicas apresentadas pelo paciente
que, entretanto, não se vê com lógica alguma quando fala. Entretanto,
em fase do arrazoado do psicanalista, há a compreensão, a clareza. E,
com o passar do tempo, a medida que o tempo de análise aumenta, o
paciente já vai percebendo, e em algumas vezes se antecipa à
interpretação. Mas nesse caso, algumas vezes erra. Quando o paciente se
antecipa na interpretação, o que temos, nem sempre é insight, mas a
inveja do psicanalista e a tentativa de tomar o seu lugar. Na
interpretação, o psicanalista precisa ser curto e educado. Não deve se
estender em uma palestra longa, que dê lugar a divagações. Sempre que
possível deverá interpretar com linguagem indagativa. Fazendo
perguntas que induzem uma resposta. Esse caso é aparentemente
melhor, porque o paciente fica com a sensação de ter concluído a respeito.
Tem mais facilidade de aceitar que se tivesse recebido uma ideia pronta.
Na interpretação, o Psicanalista tem um aliado, o insight. Este termo tem
em psicanálise, uma significação maior do que a terminológica. O insight
acontece no paciente, e será proporcional à inteligência dele e a
disposição ou vontade de descobrir a sua verdade. Depende também de
uma boa aliança terapêutica. Nele o paciente vê claramente, em um
momento, toda a verdade da interpretação. Normalmente o insight,
desencadeia uma aceleração no processo associativo, em alguns casos

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fazendo o paciente calar, parar por algum tempo, desfrutar das memórias
ligadas à verdade da interpretação.
XI - ETAPAS DA ANÁLISE:
Quando dizemos que há etapas, o que queremos dizer é que na evolução
do processo psicanalítico, há momentos característicos, definidos,
distintos de outros, momentos com uma dinâmica especial que os
distingue. Aliás, tudo nesta vida tem princípio, meio e fim.

Vejamos as três etapas clássicas da análise:


- Primeira etapa, a abertura da análise: Vai da primeira sessão
(anamnese) até mais ou menos uns três meses, quando estamos com
contrato de duas a três sessões semanais. Nessa fase temos os ajustes
necessários, o início da transferência etc;
-Segunda etapa, o mesmo que etapa média: É a menos típica e mais
longa e criativa. Começa quando o analisando compreendeu e aceitou as
regras do jogo, como livre Associação, interpretação, ambiente permissivo
etc.. Prolonga-se por um tempo variável até que a enfermidade originária
(ou sua réplica, a neurose de transferência) haja desaparecido ou tenha
se modificado substancialmente;
- Terceira etapa, o término da análise: Não prolonga muito tempo. Deve
durar, contudo, o suficiente para que a reação Terapêutica Negativa
(RTN) seja vencida, para que a angústia de separação definitiva, seja
igualmente interpretada e assumida.
Como vemos, a análise, que vem de resolver problemas, no fim, por causa
do intenso e duradouro relacionamento, acaba se tornando um problema,
entretanto, o tal não será enfermidade e tem caráter gratificante.
Em alguns casos, Freud mesmo já o considerou, nos deparamos com o
caso de análise interminável, sem que o paciente seja um psicótico. São
pessoas que, embora tenham os problemas resolvidos, não conseguem
suficiente força e independência. O mais comum é que sejam pessoas
submetidas a uma intensa carga de neuroses atuais, neuroses estas que,
com o tempo e complexidade da vida vão aumentando. Algumas pessoas
precisam de apoio, uma espécie de muleta, tornando a análise
interminável.
XII - VICISSITUDE DO PROCESSO PSICANALÍTICO:
Toda ciência, bem como todo relacionamento apresenta suas dificuldades
naturais. Precisamos estar conscientes que há fatores que dificultam
sobremaneira a análise: Idade avançada, condições econômicas,
religiosidade, inteligência de menos.

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Por outro lado, a inteligência de mais também pode dificultar. Entre as


principais vicissitudes, temos:
01. Insight - tanto a sua ausência, nos “desinteligentes” (popularmente
conhecidos como burros), quando a sua fartura, podem atrapalhar. Além
do mais, em termos de interpretação, quantas vezes o paciente vê uma
coisa e o psicanalista vê outra;
02. Elaboração - é o tempo que o paciente gasta para se organizar e
reagir à postura do Psicanalista. É o conjunto de fatores que diz que o
paciente assumiu a sua condição de, compreender o papel do profissional
e pratica as partes que lhe acabe;
03. Acting-out -Pode-se dizer que se trata de uma ação fora da situação
analítica ou que tem por objetivo afastar o paciente ou o Psicanalista de
seu suporte. Mas para simplificar, é quando o paciente faz uma coisa em
vez da outra. Exemplo: Ana teve um pai alcoólatra e ela sempre detestou
o pai por esse motivo, na fase adulta, Ana começa a atrair homens
alcoólatras. Começa a vir à tona na vida adulta, tudo o que foi introjetado
em Ana quando criança, conscientemente Ana não quer repetir isso em
sua vida, essa ação de repetição é o Acting-out.

A PSICANÁLISE NÃO É APENAS UM TRATAMENTO


Além de ser "um processo terapêutico, a situação analítica é, também,
um peculiar método de investigação sobre o funcionamento da mente
humana. Os conteúdos do inconsciente emergem na sessão de análise
através da livre associação de ideias proposta ao paciente. A
interpretação de seus sonhos, atos falhos, condutas e afetos constituem
outros elementos desse método; mas é, sobretudo, a maneira como tudo
isso se expressa na relação entre paciente e analista que será o objeto
vivo e presente da observação psicanalítica”. Os dados obtidos por esse
método permitiram construir um conjunto de teorias psicológicas e
psicopatológicas, dando à Psicanálise um lugar de destaque como ramo
das ciências humanas. Hoje em dia não é mais possível compreender
qualquer evento oriundo da ação do homem sem levar em conta os
fundamentos da teoria psicanalítica. Sua influência enriqueceu a ciência
médica e todas as áreas ligadas à promoção da saúde. Teve um papel
decisivo nas modernas teorias pedagógicas, na psicologia infantil e nos
métodos educacionais. Seus postulados tornaram-se indispensáveis a
outras áreas do conhecimento como a antropologia, a sociologia, a
história e a filosofia. As obras artísticas e literárias revelaram uma nova
dimensão após a abordagem psicanalítica. Aliás, é notável a afinidade da
Psicanálise com a literatura, a arte e suas ramificações; desde a refinada
utilização da linguagem escrita, musical, ou plástica, passando pela

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produção cinematográfica, até os meios mais imediatos de comunicação


de massas como a televisão, em todos há sempre algum ponto de contato
com o referencial psicanalítico.

A Psicanálise, portanto, não se restringe à condição de tratamento,


apesar de essa continuar sendo sua principal função, mantendo-a como
ciência viva ao longo de um século.
IPA (ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA INTERNACIONAL)
O reconhecimento e sucesso crescente de suas ideias não foram, apenas,
motivos de regozijo para Freud.
Ele pressentia os abusos que poderiam ser cometidos em nome da
Psicanálise assim que ela se difundisse largamente. Com o intuito de
prevenir esse mau uso, os pioneiros decidiram fundar, em 1910, um
organismo que coordenasse o movimento psicanalítico mundial. Seu
objetivo seria estabelecer os preceitos éticos e de rigor científico para a
prática da Psicanálise, bem como zelar pela manutenção de padrões
básicos para a formação de analistas. Sendo assim, a Associação
Psicanalítica Internacional surgiu com a função primordial de garantir a
qualificação de seus membros. Para tanto, a IPA coordena, atualmente
46 sociedades, componentes e 8 Grupos de Estudos, espalhadas em 32
países; seu quadro associativo conta, até agora, com aproximadamente
10.000 membros. Além disso, por tratar-se de uma agremiação científica,
estimula o avanço e a difusão do conhecimento psicanalítico. O
intercâmbio entre seus membros é mantido sistematicamente através da
circulação de um Boletim e, a cada dois anos, pela realização de um
Congresso Internacional de Psicanálise e uma Conferência de Analistas
Ditadas.
DISCIPLINA 5: PSICANÁLISE DOS SONHOS CONCEITO GERAL

Concepção freudiana: Sonho é "um produto da atividade do inconsciente


e que tem sempre um sentido intencional, a saber: a realização ou; a
tentativa de realização, mais ou menos dissimulada, de uma tendência
reprimida".
Sonho é produzido com os pensamentos, dados e experiências que são
recalcados para o inconsciente, e que os fazem os automaticamente, mas
que agridem o psiquismo. O sonho, portanto, é algo que, por força do
superego, não deve acontecer no pensamento chamado consciente. A
censura não o permitiria. O sonho é, portanto, a "estrada real do
psiquismo". Freud entende que o Psicanalista, partindo da informação
que lhe presta o paciente (conteúdo onírico manifesto), chegará a obter o
conteúdo latente ou "ideias do sonho". Este trabalho torna-se

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desnecessário nos chamados "sonhos infantis", em que coincidem ambos


os conteúdos e o sonho é, evidentemente, uma satisfação de desejos (tal
é o caso do rapaz que indo dormir sem jantar, sonha que come saborosos
manjares, ou o menino que, na noite de Natal, sonha que está ganhando
brinquedos, etc.). Mas não devemos confundir "sonhos infantis com
sonhos de crianças. A maioria dos sonhos das crianças são infantis,
alguns não. Certa quantidade de sonhos de adultos também são infantis.
É uma questão de natureza.do sonho e não de faixa etária.

Os sonhos de adultos normalmente são:


a) Coerentes, porém, curiosos, surpreendentes e chocantes (o
paciente sonha que um touro investiu contra o irmão, por exemplo);
b) Incoerentes, em que, além do aspecto estranho da realidade de
suas imagens, existe a falta da ilação (dedução) entre estas.
Nesses casos, dir-se-ia que o paciente se submerge em um mundo
alucinante de sucessos fantásticos, alguns dos quais permanecem presos
às suas recordações e outros se desvanecem com rapidez tal, que apenas
é possível fixá-los logo após o despertar. Estes sonhos, a que se liga com
frequência um elemento de angústia, eram considerados, antes de Freud,
como produto de uma disfunção cerebral de origem tóxica ou circulatória
(os chamados pesadelos). Tanto Freud quanto os demais estudiosos do
assunto, os consideram "reveladores das forças que atuam nas camadas
profundas do ser individual".
Às deformações produzidas diretamente pela censura onírica, juntam-se
as que posteriori, se originam da consciência, virtude do denominado
"processo de elaboração secundária", não sendo raro que cheguem,
aqueles sonhos, a ser prontamente esquecidos por completo.

PROCESSOS FUNDAMENTAIS DA ELABORAÇÃO DO SONHO


1. Condensação: Neste caso, se encontra também as produções do
pensamento do homem primitivo (arquétipos) e nas obras artísticas dos
pintores surrealistas, onde uma mesma imagem representa diversos
conteúdos latentes e se acha, assim, sobre determinada em seu
significado. A condensação tem, às vezes, lugar por incorporação de
elementos ou detalhes de outros conteúdos mentais à imagem central,
obtendo-se, assim, uma figura que se assemelha às fotografias
compostas de Galton.
Não é raro, por exemplo, que uma mesma pessoa onírica ofereça traços
que recordem sucessivamente os de vários parentes ou amigos. Freud

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designa estas imagens com o qualificativo de "Sammelpersonem", ou seja,


"pessoas conjuntas". O mesmo processo é observado com os nomes,
dando lugar a curiosos neologismos que recordam os da esquizofrenia.
Um paciente de Freud sonhou chamar-se Norekdal. Verificou-se, pelo
método da análise, que havia condensado os dois nomes de Nora e Ekdal
(dois personagens de um drama de Ibsen, cuja situação afetiva teria
relação com a sua).
2.Deslocamento: O deslocamento faz com que, em determinadas
circunstâncias, recaia em um elemento onírico aparentemente neutro e
insignificante a representação e o sentido de outras imagens importantes,
que se acham ligadas a ele por fortuitas relações associativas. No
deslocamento a imagem menos interessante do conteúdo manifesto
passa a ser portadora da ideia central do conteúdo latente, como nos
contos policiais, em que o autor do crime é sempre aquele de que menos
suspeitamos.
As imagens representativas correspondentes a vivências recentes, ainda
não sedimentadas, são as que melhor se prestam para servir de
substitutos a imagens que veiculam as cargas afetivas mais potentes e
estáveis da personalidade. Por isso, é comum que interfiram nos sonhos
grande número dessas "recordações recentes da vida diária", que
aparentemente não tem significação, mas são os expoentes do significado
onírico latente.

3.Dramatização: É o terceiro fator que intervém na elaboração dos


sonhos, de acordo com a teoria freudiana. Em virtude desta dramatização
ou "encarnação", o sonho adquire um aspecto teatral; para ele convergem
em um curto período de tempo o presente, passado e o futuro. Todas as
ideias e representações adquirem uma expressão visual (artificial) e se
ligam com truques inteiramente comparáveis aos da arte cénica,
sobretudo da arte cinematográfica muda. Alexander afirmou que os
sonhos são bastante semelhantes aos "desenhos animados', onde "tout
est possible".
A conjunção dos três fatores mencionados dá o caráter "simbólico-
esotérico" do sonho. Destes processos, resulta a chamada simbolização
onírica, que dá ao sonho um sentido esotérico.

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LISTA DAS SIMBOLOGIAS SEGUNDO FREUD, EM TRAUMDEUTUNG


(Interpretação De Sonhos)

1.Personagens reais representam normalmente os pais do sonhador,


sendo que este aparece quase sempre como príncipe ou princesa;
2.Às vezes, os pais são representados por homens ou mulheres célebres;
3.Todos os objetos longos ou pontiagudo: facas, punhais, lima de unha
etc., representam o órgão sexual masculino;
4.Os estojos, caixas, estufas, correspondem ao corpo feminino, como
também as cavernas, barcos e toda sorte de recipientes;
5.As habitações são, quase sempre, mulheres. Uma habitação fechada
ou aberta nem precisa ser explicada;
6.O sonho de fugir através de várias habitações, representa a pessoa num
harém ou num lugar de prostituição;
7.Se a pessoa sonha com duas habitações, que antes era uma, seu sonho
está relacionado com a investigação sexual infantil, quando o menino
supõe que o órgão sexual feminino se confundia com o ânus - teoria
infantil da cloaca;

8. Os degraus de uma escada, subindo ou descendo, são símbolos do


ato sexual;
9.As paredes e muros lisos pelos quais subimos, e as fachadas das casas
pelas quais descemos, às vezes com grande angústia, correspondem a
corpos humanos em posição ereta e reproduzem, no sonho,
provavelmente, a lembrança infantil de subir pelas pernas dos pais;
10. Os muros lisos são homens;
11. As mesas postas para refeição e as tábuas são igualmente
mulheres;
12. A madeira parece-se, em geral, um símbolo de matéria feminina,
sendo a mesa e a cama o que objetivamente constitui o matrimônio;

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13. Um ato de glutonaria pode ter o significado anterior, também;


14. O chapéu feminino ou um agasalho, aparecem com frequência
como símbolos genitais femininos;
15. A gravata é um símbolo peruano, tanto pelo fato de ser armada na
frente e ser utensílio característico do homem, quanto porque pode ser
escolhida à vontade, coisa que a natureza não nos permite fazer com
membro simbolizado;
16. Todas as complicadas maquinarias e aparelhos que surgem no
sonho são, provavelmente, órgãos genitais e, quase sempre, masculinos.
As ferramentas também aparecem com este significado;

17. As paisagens, sobretudo as que mostram pontes ou montanhas


cheias de bosques, podem ser interpretadas como símbolos de órgãos
genitais femininos;
18. Os meninos pequenos devem ser símbolo de órgão sexual
masculino.
19. Brincar com crianças pequenas, dar-lhes golpes, acariciá- las, etc.,
são, frequentemente, representações oníricas da masturbação;
20. A calvície, cortar os cabelos, a extração ou a queda de um dente e
a decapitação, são utilizados para representar simbolicamente a
castração, cujo complexo tem importante papel na psicologia de muitas
mulheres;
21. Quando um dos símbolos usuais do pênis aparecem mutilados em
sonho, devemos interpretar como medo preventivo de castração;
22. A imagem onírica da lagartixa, também significa castração, pelo
fato da cauda desse animal crescer depois de ter sido cortada;
23. Animais pequenos e parasitas representam os irmãozinhos que
vieram perturbar, com o seu nascimento, a hegemonia do primogênio;
24. Animais empregados na mitologia e no folclore são símbolos de
órgãos genitais, tais como coelho, peixe, caracol, rato, sobretudo a
serpente, são símbolos de pênis; Sonhar que tem o corpo invadido de
parasitas, é símbolo de gravidez; Aviões, foguetes, armas de guerra, são
símbolos penianos;
25. A direita e a esquerda, devem ser interpretados no sentido ético. O
caminho da direita significa o que se deve seguir, etc.;

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26.O caminho esquerdo, várias vezes, significa o da homossexualidade,


do incesto, das perversões sexuais.
É claro que os elementos alinhados são, fundamentalmente, sexuais,
como não poderia deixar de ser, uma vez que Freud trabalha o
Pansexualismo por excelência. Entretanto, nem todos os sonhos são
sexuais. Todos, contudo, pretendem a satisfação de um desejo.

NORMAS QUE FACILITAM A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS


1.Os sonhos são sempre precipitados por fatos da véspera. São os
chamados "restos do dia".
2.Os sonhos traduzem sempre uma preocupação do presente
dramatizado sobre elementos mnésicos (Referente à memória) do
passado;
3.A relação de causa e efeito entre dois fatos permanece, geralmente,
expressa no processo onírico pela sucessão cronológica das imagens
representativas daquele, ou por sua contiguidade espacial;

4.Uma mesma série de imagens oníricas pode representar ou simbolizar


um fato e seu contrário (antítese), isto é, a ação positiva e a negativa.
Assim, quando em sonhos vemos uma pessoa morrer, esse fato pode
significar tanto nosso desejo de que ela morra, quanto o desejo de que ela
não morra;
5.As relações de analogia entre dois fatos ou processos representam,
geralmente no sonho, mediante o aparecimento de algum elemento que
resulte comum a ambos por via associativa. O fato de que alguma pessoa
tenha, por exemplo, algum detalhe em suas vestes, que em realidade
corresponda a de outra, deve ser interpretado, segundo esta norma, como
uma alusão à analogia que existe entre pessoas, de acordo com o critério
do que sonha. Consequentemente, é possível que todos os atos que
realiza a pessoa sonhada correspondam ao que nós desejaríamos ver
predicados, na realidade, pela pessoa a qual corresponde o referido
detalhe da veste;
6.O estado de dúvida ou de luta subconsciente de dois desejos é
simbolizado no sonho, geralmente, pela exposição sucessiva de dois
acontecimentos contrários ou de suas soluções opostas. Assim, é
bastante frequente que sonhamos, por exemplo, que fazemos uma viagem

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em companhia de uma determinada pessoa e que depois continuamos tal


viagem em companhia de outrem;
7.Os sonhos de angústia ou sonhos maus, nos quais o paciente desperta
de modo brusco, acometido por uma grande opressão ou mal estar, são
os que costumam ser de mais difícil interpretação e oferecem um
deslocamento mais manifesto de seus elementos. Será, portanto, muito
útil, não começar sua exploração psicanalítica sem ter o material dos
sonhos que precederam àqueles ou que os seguiram. Estes sonhos devem
se produzir quando o sonhador vive uma situação violenta. Seu conteúdo
latente encontra-se, geralmente, constituído por tendências francamente
antimorais e delituosas: desejo de morte, incestuosas, etc.;
8.Nunca devemos aventurar uma explicação geral da intenção de um
sonho sem ter obtido a confirmação de cada um dos detalhes em que a
baseamos, graças às restantes provas psicanalíticas. Sob o ponto de
vista, é cem vezes preferível deixar em suspenso uma interpretação
onírica, que fazê-la prematuramente, arrastando-nos, assim, por
caminhos que desorientarão e nos levarão ao erro;
9.Antes de tentarmos a interpretação, precisamos fazer perguntas
procurando permitir que o paciente relacione o conteúdo manifesto com
coisas e lugares que ele lembre;
10.Devemos pedir que o paciente associe as coisas do conteúdo manifesto
com fatos que aconteceram, tanto de sua vida quanto da sociedade em
geral

PRINCÍPIOS GERAIS SOBRE OS SONHOS


Freud considerava que sua Teoria dos Sonhos, e mesmo o seu livro
"Interpretação de Sonho", continha a mais valiosa de todas as
descobertas que tivera a sorte de fazer. Freud tinha perfeitamente razão
em valorizar tanto o seu trabalho sobre os sonhos. Em nenhum outro
fenômeno, da vida psíquica norma os processos inconscientes da mente
são revelados de forma tão clara e acessível ao estudo. Os sonhos são,
verdadeiramente, uma estrada real que leva aos recessos inconscientes
da mente. No entanto, isto não esgota as razões que se tornam
importantes e valiosos para o psicanalista. O fato é que o estudo dos
sonhos não proporciona simplesmente a compreensão dos processos e
conteúdos mentais inconscientes em geral. Revela, principalmente, os
conteúdos mentais que foram reprimidos ou, de qualquer forma, vez que
a parte do Id, cujo acesso à consciência foi barrado, é precisamente a que
está envolvida nos processos patogênicos que originam as neuroses e,
talvez, também as psicoses. É fácil compreender que esta característica
dos sonhos constitua mais uma razão, muito importante, para o lugar
especial que o estudo dos sonhos ocupa na Psicanálise.

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A teoria psicanalítica dos sonhos pode ser formulada da seguinte


maneira:
1.A experiência subjetiva que aparece na consciência durante o sono e
que, após o despertar, chamamos de sonho, é apenas o resultado final de
uma atividade mental inconsciente durante esse processo fisiológico que,
por sua natureza ou intensidade, ameaça interferir com o próprio sonho.
Ao invés de acordar, a pessoa sonha;
2.Chamamos de sonho manifesto, a experiência consciente, durante o
sono, que a pessoa pode ou não recordar depois de despertar. Seus vários
elementos são designados como conteúdo manifesto do sonho;
3.Os pensamentos e desejos inconscientes que ameaçam acordar a
pessoa são denominados conteúdos latente do sonho;
4.As operações mentais inconscientes por meio das quais o conteúdo
latente do sonho transforma em sonho manifesto, damos o nome de
elaboração do sonho, também chamada dramatização.
Conteúdo latente: Obviamente, o conteúdo latente é a parte mais
importante do sonho. Toda a significação, desejos, problemas, neuroses
e até predisposições psicóticas estão nesta parte. Assim, o conteúdo
latente do sonho é dividido em três predisposições psicóticas estão nesta
parte. Assim, o conteúdo latente do sonho é dividido em três categorias
principais:
1.A primeira compreende as impressões sensoriais noturnas, as quais
invadem continuamente os órgãos sensoriais daquele que dorme; às
vezes algumas participam da iniciação de um sonho e, neste caso,
formam parte do conteúdo latente desse sonho. Todos nós já
experimentamos essas sensações: o som de um despertador, sede, fome,
urgência em urinar ou defecar, dor de um ferimento ou de um processo
mórbido devida à má posição de alguma parte do corpo, calor ou frio
desconfortáveis, tudo pode ser introduzido no sonho, tomando- se parte
do conteúdo latente;
2.A segunda categoria do conteúdo latente do sonho compreende
pensamentos e ideias relacionados às atividades e preocupações da vida
normal, em estado de vigília, daquele que sonha, e que permanecem
inconscientemente ativos em sua mente durante o sono. Por causa de
sua atividade contínua, tendem a acordar a pessoa, do mesmo modo que
o fazem os estímulos sensoriais. Se a pessoa sonha ao invés de acordar,
esses pensamentos e ideias atuam como parte do conteúdo latente do
sonho;
3.A terceira categoria compreende um ou vários impulsos do Id que, ao
menos em sua forma infantil original, são banidos pelas defesas do Ego
e da consciência ou da gratificação direta durante o estado de vigília. Esta

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é a parte do Id que Freud chamou de "reprimida" em sua monografia


sobre a hipótese estrutural do aparelho psíquico, em 1923, embora mais
tarde adotasse o ponto de vista, agora geralmente aceito pelos
Psicanalistas, de que a repressão não é a única defesa que o Ego emprega
contra os impulsos do Id inadmissíveis à consciência.

Generalidades sobre Princípios do Sonho


1.No que se refere aos sonhos da última parte da infância e da vida
adultas, o conteúdo latente tem duas origens: uma no presente e a outra
no passado;
2.A parte essencial do conteúdo latente é a que provém do Id reprimido.
E a parte que contribui com a maior parcela de energia psíquica
necessária ao sonho é que, sem essa participação, não pode haver sonho;
3.O conteúdo latente é inconsciente, enquanto o conteúdo manifesto é
consciente;
4.O processo de sonhar é, em essência, um processo de satisfação de um
impulso do Id com uma fantasia;
5.No sonho, o disfarce e a distorção são de tal monte, que o aspecto de
satisfação do desejo do sonho é manifesto é, por assim dizer,
irreconhecível. Apresenta-se como uma miscelânea de fragmentos sem
relação aparente que parece não ter qualquer sentido e muito menos
representar a realização de um desejo;
6.No sonho, um anseio latente pode, assim, apresentar-se como uma
repugnância manifesta, ou vice-versa. O ódio pode manifesta-se como
amor, a tristeza como alegria, e assim por diante. É o que chamamos de
"antítese";
7.Na teoria estrutural, o sonho é, no seu aspecto manifesto (conteúdo
manifesto), uma alucinação.
PRINCÍPIOS PARA A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
1)A oniromancia é uma ciência, e uma ciência para ser conhecida,
necessita de estudos acurados;
2)Há a oniromancia que pretende oferecer chaves para os sonhos, de
modo que se possa deles se beneficiar para fins Ictéricos. Não é esse o
caminho, positivamente, seguido pela Psicanálise para explicar os sonhos
e seus mistérios;
3)A Psicanálise encara os sonhos como fenômenos psíquicos, mas
perfeitamente determinados, trazendo-nos, por isso, para um dos
capítulos mais importantes da Psicologia;

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4)É o próprio analisado quem vai nos dizer o que o seu próprio sonho
significa, com as informações que nos fornecerá;
5)É sempre mais fácil interpretar os nossos sonhos (desde que
apliquemos a técnica) do que os sonhos alheios. Mas, também neste caso,
precisamos considerar todos os elementos do sonho e nos deter sobre
cada um deles, iniciando o trabalho interpretativo quando recordamos os
sonhos que tivemos;
6)Nos sonhos alheios, procederemos de igual modo, isto é, indagaremos
ao analisado quais as lembranças que lhe veem à mente ao recordar os
sonhos. Precisamos indagar tanto sobre as lembranças associadas
quanto sobre lembranças de fatos da véspera (restos do dia);
7)Se analisarmos os nossos próprios sonhos, devemos tomar o firme
propósito de não ceder um passo ao influxo de nossa autocrítica. A
resistência, tão presente na Livre Associação, também se intromete nas
lembranças relativas ao sonho, (quando não na lembrança do próprio
sonho) bem como se encarrega de provocar desvios de apreensão, para
que entendamos o sonho. O que foi elaborado para burlar o Superego,
certamente se encarregará de distrair o Ego;
8)A interpretação do sonho se realiza através de uma resistência que visa
impedir a perfeição da análise, tal qual acontece com a aplicação direta
do método freudiano;
9)Como em geral acontece, as ideias que o indivíduo encobre, ou que a
crítica reprime, são justamente, sempre e sem exceção, as mais preciosas
e as mais importantes e decisivas à análise;
10)Para uma perfeita interpretação, verificamos que um determinado
elemento do sonho deve lembrar, por exemplo, um fato recente; ou que
na véspera do sonho houve "isto" ou mais "aquilo". Estes "elementos
achados" unem-se, depois, a acontecimentos mais longínquos e, às vezes,
a épocas remotas;
11)Uma vez decomposto o sonho em seus elementos, enlaçaremos uns
com os outros e termos, assim, o sentido total, ou melhor, a decifração
procurada;
12)A função do sonho é, entre outras, a de afastar todas as nossas
preocupações desagradáveis, todas as fontes de excitação que nos são
prejudiciais e que perturbariam o nosso repouso, para transformá-los em
motivos agradáveis e prazerosos;
13)O sonho é o fiel guardião da nossa saúde psíquica, da nossa alegria
de viver, uma vez que a vida não passa, em essência, de uma contínua
procura de prazer, contrariada pela realidade - Teoria do Princípio do
Prazer;

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14)Quanto mais impura é a vida de um indivíduo, mais puros serão os


seus sonhos. Inversamente, mais impuros serão os sonhos quanto mais
pura for a vida;
15)Os recalques sexuais, os desejos condenados pela consciência
despertam ou menos afeto a formação moral, ou mesmo a ideia falsa que
se faz de tais assuntos, são provocadores dos sonhos complicados e
temidos;
16)O sonho é uma atividade mental que, à semelhança de um guarda
noturno que, não podendo lutar sozinho, mete o apito na boca e pede
socorra;
17)Em nenhum caso, os sonhos podem ser vistos como perturbadores do
sono. A eles devemos o nosso verdadeiro repouso quando dormimos;
18)Não existe sono sem sonho e que quando pensamos não haver
sonhado, ainda assim é ao sonho que devemos o repouso. O que acontece
é que só lembramos dos sonhos mais intensos, que nos forçaram a
acordar, ou daqueles que aconteceram segundos antes de acordarmos;
19) Os sonhos são esquecidos, em princípio, quando o indivíduo não tem
nenhum interesse em guardá-los;
20)Os sonhos são tão esquecidos ou "esquecíveis", quanto mais do fundo
do inconsciente eles surgem;
21)As pessoas que "não sonham", quando analisadas, apresentam
recalques afetivos profundos;
22)Quando uma pessoa, efetivamente, não sonha, é porque possui
problemas estruturais graves, ou seja, são psicóticas, e, por isso, não
analisáveis;
23)Os sonhos não se limitam a refletir acontecimentos vividos. Vão muito
mais além. Aproveitam-se deles para dizerem alguma coisa importante.
E isto está no sentido oculto que apresentam;
24)Freud diz que em todo sonho existem certos e determinados elementos
que se enlaçam com os acontecimentos do dia imediatamente anterior. O
dia anterior deve constituir sempre o ponto de partida para uma
interpretação;
25)Os elementos oníricos, oriundos de acontecimentos, ocorridos na
véspera do sonho, são tão fáceis de pesquisar que dispensam por si
mesmo maiores explanações e detalhes;
26)Conhecer, analisar e tratar de uma neurose através dos sonhos
escapa ao conhecimento especulativo que se possa ter na oniromancia,
para cair no terreno psicoterápico propriamente dito;

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27)Só o Psicanalista adestrado é capaz de liderar com o material


neurótico e dele tirar resultados úteis e indispensáveis à terapêutica
psicanalítica, o que não deve ser objeto de aventureiros, principalmente
em termos de sonhos;
28)Os sonhos dos neuróticos, aparentemente, em nada diferem dos
outro. Têm as mesmas características. Mas só na aparência. Bem
examinados, porém, símbolos e alusões possuem um caráter, por assim
dizer, permanente, revelando repressões inconscientes de natureza
sexual específica, que só o exemplo de alguns deles pode esclarecer. Em
princípio, tais sonhos são repetitivos, são ideias fixas, que volta e meia,
estão presentes;
29)Os sonhos, isoladamente, não autorizam o Psicanalista a fazer
diagnóstico e menos ainda a instituir um tratamento. Só em mãos
bastante destras, tomam-se, eles, capazes de oferecer índices proveitosos
e de revelar alguma coisa mais que a simples análise de um sonho
comum;
30)Os sonhos acordados são um fenômeno com uma elaboração um
pouco diferente dos sonhos comuns;
31)Os sonhos acordados surgem por meio de representações, que
fantasiamos à nossa maneira, segundo o curso que damos às nossas
fantasias;
32)Os sonhos acordados são tão mais freqüentes quanto maior for o grau
de egoísmo humano, da ambição, da necessidade de domínio e dos
desejos eróticos, quase sempre insatisfeitos;
33)Nos sonhos acordados, encontramos a matéria prima da qual se
utilizam os poetas para realizarem as suas produções;
34)Não confundir "devaneios comandados" com sonhos acordados;
35)No "sonho acordado" , o concurso da vontade tem atuação mínima.
Não é uma espécie de fuga, o que ocorre nos devaneios;
36)Se o material "sonhado", neste caso, não preencher os requisitos de
sonho nem de devaneio, o que temos são alucinações.
SONHOS INTERPRETADOS

Nesta parte, vamos considerar sonhos narrados e interpretados por


Freud, Gastão e por nós. Citaremos as pessoas por letras ou números,
indiscriminadamente.
1. "Um indivíduo sonha que sobe uma montanha, da qual avista um
amplo panorama". Sem ajuda do analisado seria impossível uma
interpretação cartada. Teoria esse indivíduo subido uma montanha na

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véspera do sonho? Nada disso. Com o auxílio das recordações do


analisado, verificou-se que ele, anteriormente, havia procurado um
amigo, editor de uma revista, que circulava até mesmo pelos recantos
mais longínquos do mundo. O que revela (pensamento latente) o desejo
que o analisado tinha de identificar-se com aquela revista, capaz de se
relacionar com o universo que rodeia.

2. "Um indivíduo sonha que, estando aguardando uma consulta na sala


de espera do consultório, vê abrir a porta e desta sair um médico (que
identifica perfeitamente), aproximar-se e lhe pedir um fósforo para
acender o seu cigarro. O nosso cliente, no entanto, ao invés de lhe dar
fósforos, tira do bolso uma maçã e oferece ao referido clínico, que a
recusa”.
O conteúdo manifesto é perfeitamente conhecido. Até mesmo o hábito do
clínico solicitar fósforo àquele cliente era corriqueiro. Mas a alusão à
maçã é pura concepção onírica e constitui o conteúdo latente, porque
quer revelar alguma coisa que não está positivamente no conteúdo
manifesto. O símbolo foi descoberto facilmente, pois o paciente vinha se
submetendo a análise e demonstrando ser portador de complexos de
natureza homossexuais, aos quais reagia, não desejando, portanto, que
os mesmos fossem revelados. Acontece que o tal médico que aparece no
sonho, trabalhava em um consultório cuja sala de espera era igual à do
Psicanalista. O paciente, então, a nível inconsciente, admitia que o
Psicanalista e o clínico tivessem trocado impressões sobre ele. E,
naturalmente, e da situação analítica que o paciente desconfia. No caso,
o que ocorreu foi o seguinte: Ao pedido do fósforo, que pode ter sido
interpretado como símbolo peniano, ele ofereceu uma maçã, outro
símbolo, mas no caso, de genitália feminina, fruto proibido.
3."Vários membros de uma família estão reunidos em torno de uma mesa,
a qual tem uma forma particular".
O que faz pensar no conteúdo latente é justamente a forma particular da
mesa. Ela deve encobrir um sentido oculto, que escapa no conteúdo
manifesto. A propósito da mesa, recorda o analisado haver visto um
móvel semelhante em casa de uma outra família, sua conhecida. Esta
ocorrência enlaça-se, desde logo, à ideia de que. Nesta última família, não
eram cordiais as relações entre pai e filho. O analisado confessa que se
dá o mesmo entre ele e o pai. Assim, pois, a introdução da mesa, no
sonho, revela o paralelo existente entre as duas famílias.
4."O ambiente é de terror, F. vai ser atirado-entre as feras, como um
cristão, na presença de Nero. Tigres e leões terríveis investem contra ele.
Mas nisto, aparece um enorme lobo, vestindo um fraque. Este é o animal

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escolhido para devorar F. que, ao ver o lobo vestido de fraque, não tem
medo de enfrentá-lo".
Na análise, verificou-se que o fraque substituía a figura de um professor,
protetor de F. O ambiente de terror referia-se aos exames que F. tinha
que se submeter numa faculdade, presididos por um certo lente que ele
achava que o perseguia, simbolizado n sonho por Nero. As outras feras
eram os outros examinadores, mas dos quais já não tinha medo por
causa da intervenção daquele professor que o protegia.
5."F. está em um campo, absolutamente árido, vazio, sem elevações, sem
verduras, sem nada".
Para que fosse possível a interpretação, empregou-se o processo da livre
associação. Assim, o campo lembra prado, prado lembra planura,
planura lembra chapada... A essa altura, F. se recorda perfeitamente do
campo árido, vazio, sem elevações, sem verduras, sem nada e...
imediatamente esse canário do sonho que, a princípio, não lhe inspirava
nada, transporta-o para o sertão, onde estivera, e então se toma
perfeitamente compreensível o fragmento que, à primeira vista parecia
completamente inapreciável.
6."O menino F. sonha que abriu uma geladeira e comeu o pudim que a
mãe havia guardado ali".
Em verdade, F. pedira um pedaço do pudim que sua mãe preparara para
o dia seguinte, data do seu aniversário. Ela se recusara a partir o doce
na véspera e, assim, satisfazer o pedido do filho. Este, no entanto, não se
conformando, come, vingado, o pudim inteiro no sonho que teve naquele
mesmo dia. Observamos o que sonho não só realizou o desejo da criança,
como também o ampliou, pois F. não se limita só a saborear um simples
pedaço, mas come o pudim inteiro. Trata- se de um sonho infantil,
desprovido de simbolismos. É direto.

7."F. vai à fazenda do pai, muito distante da cidade em que mora, no seu
próprio automóvel de brinquedo". —Na véspera, o pai de F., que tinha um
automóvel confortável, nega-se a levar o filho à sua fazenda, apesar deste
bater o pé e haver ficado em casa chorando... Quando dorme e sonha, o
garoto vê o desejo amplamente satisfeito.
8."F. está num cinema com "ele". O rapaz vai se chegando cada vez mais
para perto dela, até que toca nas suas mãos. Nisto, as pessoas que estão
próximas mudam de lugar e F. tem a sensação de que está só. "Ele" vai
agora abraçá-la (naturalmente, beijá-la) e ela começa então a sentir um
terrível mal-estar. A cena que está na tela é a cena infalível do beijo. F.
sente-se sufocada e a aflição aumenta cada vez mais. Um medo secreto a

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invade. Mas agora "ele" quer mesmo o beijá-la. Porém, F., num supremo
esforço, repele a atitude sensual do rapaz".
Este fragmento reflete a desconfiança de F. pelo seu namorado. Mas toda
a sua trama é a de não poder entregar-se a ele, independente da citada
desconfiança, pois a análise da alma de F. mostra um temperamento
ardente, todavia preso ao preconceito. Não fosse isto, F. se entregaria,
pois um segundo fragmento deste sonho confirma a análise. Vejamos: "Ao
se afastar dele, F. sente-se desmaiar. Agora vai caindo... caindo no vácuo,
enquanto mãos a apertam e um corpo se une ao seu, esfregando-se no
seu...F. quer livrar-se, mas não consegue... Todo seu corpo treme... Uma
sensação estranha invade a sua alma... Continua caindo, caindo...
Finalmente, aflita, acordo". Analisemos algumas alusões para
esclarecermos melhor o pensamento:
a)"Sente-se desmaiar" - luta íntima entre o preconceito e o desejo. Se a
consciência não a acusasse, F. se entregaria;
b)"F. vai agora caindo no vácuo" - Pode ser fuga do preconceito para u
lugar onde D. pudesse satisfazer o instinto, um lugar vazio, desprovido
de censura;
c)"Cair no vácuo" - Seria, também, cair num espaço imaginário, não
ocupado por alguma coisa e que a elaboração onírica aproveita como um
local que não fosse visto por ninguém. Ali, estão, F. se entregaria ao amor,
ao seu prazer erótico;
d)A aflição que acompanha o senhor parece fazer referência ao onanismo.
9."F. vai visitar uma pessoa cujas condições políticas não estão de acordo
com o seu pensamento. A pessoa não se encontra em casa. Enquanto F.
a espera, olha pela janela e vê grandes e belos cardumes de peixes
coloridos voando sob um céu sereno e azul".
F. tivera, na véspera desse sonho, certa conversa com um amigo, na qual
comparara os aviões aos peixes, acrescentando que Santos Dumont
talvez houvesse morrido de desgosto, pois havia destinado a sua
descoberta à beleza da vida e não à guerra.
10."Paciente l com pessoa 2 (noivo), deitados no chão de um cemitério,
desejando saírem dali. Pessoa X. deitada numa rede, e este era chefe de
torcida de um time famoso, pede que eles permaneçam um pouco mais e
sintam o prazer de estarem deitados ali. O cemitério era do tamanho
exato do consultório do analista e não tinha nada, nenhuma sepultura.
Mas era cemitério".
Este sonho mostra que as relações da paciente com o seu noivo são
conhecidas do analista, que está presente, na rede, sendo permissivo.
Sabemos que é o analista porque o tal chefe de torcida tem algo em

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comum com a paciente (ambos torcem pelo mesmo time). O Psicanalista


tem a profissão da mesma área da paciente.
11."Paciente F. sonha que estava pescando em um rio em frente a sua
casa, onde não tem rio algum. Pega dois peixes menores e um bem
grande. Fica a mostrar, orgulhoso, os peixes que havia fisgado".

O paciente tem complexo de castração e trauma por ter um pênis que


considera pequeno. Faz de tudo para que ninguém veja ou imagine sua
dimensão. Deseja, entretanto, pela presença do exibicionismo,
mostrando um grande membro (o que faz com o peixe grande). Os dois
peixes pequenos são os testículos.
12."F. vai com o ex-namorado e sua esposa a um restaurante. Desejam
jantar, mas não tem mesa, só cadeiras. Procura juntar as cadeiras, mas
não consegue providenciar o meio adequado. No sonho, ela estava
apaixonada pelo ex-namorado e não conseguia distinguir a fisionomia da
esposa do rapaz".
Trata-se de um sonho que denuncia a transferência pelo Psicanalista. A
paixão aí é clara. O fato de não se visionar a fisionomia da esposa é que
ela não conhece a mulher do Psicanalista. A mesa que não existe é a
cama, símbolo, que ela não via possibilidade. A fome, então, nem se fala
o que é ...
NORMAS DE FREUD PARA INTERPRETAÇÕES
I-Início do trabalho com Sonhos:
1. Abordagem: É muito cômodo esquecer que, via de regra, um sonho é
simplesmente um pensamento como qualquer outro, possibilitado por
um relaxamento da censura e pelo reforço do inconsciente e distorcido
pela atuação da censura e pela revisão do inconsciente". No trato com o
material e as associações dos sonhos, são importantes as regras gerais
aplicáveis a todo material fornecido pelo paciente. É essencial que o
terapeuta mantenha sua atenção suspensa, ouvindo passivamente e não
tente concentrar-se sobre qualquer elemento ou associação em
particular. "O terapeuta não coloca seus poderes de reflexão em ação".
Freud aplicou suas próprias associações aos sonhos de seus pacientes,
a fim de ajudar na compreensão do que eles diziam;
a) Freud sintetizou, assim, a orientação geral ao terapeuta para o
momento de escutar o material dos sonhos: Não nos devemos preocupar
com o que o sonho parece dizer-nos, se ele é inteligível ou absurdo, claro
ou confuso, já que o que estamos buscando pode não ser o material
consciente;

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b) Devemos restringir nossa tarefa a evocar as ideias substantivas


para cada elemento, não devemos refletir sobre elas nem ponderar se
contém algo relevante, e não devemos ficar preocupados como o quanto
elas divergem do elemento onírico;
c) Devemos aguardar até que o material inconsciente oculto, que
estamos procurando, venha à tona por si mesmo.
A tarefa dos terapeutas é a de ajudar o paciente a trazer à tona as
associações com os vários elementos do sonho, facilitar seu fluxo por
meio de estímulos, de perguntas apropriadas e pelo trato com as
resistências e transferências do paciente;
Quando um paciente expõe um sonho pela primeira vez, o terapeuta tem
a oportunidade de indagar acerca do conhecimento que o paciente tem
sobre os sonhos;
Às vezes, os pacientes tendem a relatar seus sonhos de maneira sumária,
omitindo muitos detalhes e complexidades da história do sonho
manifesto;
Se o paciente nada conhece acerca de sonhos, o sonho por ele recordado
(isto é, o sonho manifesto) é como um quebra- cabeça, um enigma ou
uma mensagem codificada;

Sugestões técnicas de Freud para lidar com o conteúdo manifesto:


a) Pode-se proceder de forma cronológica e levar o sonhador a trazer
à baila suas associações com os elementos do sonho, na ordem em que
esses elementos ocorrerem no seu relato do sonho. Este é o método
clássico, original que (eu) ainda considero como o melhor quando se estão
analisando os próprios sonhos: "Porque não começamos pelo começo?";
b) Pode-se começar pelo trabalho de interpretação a partir de algum
elemento específico que se escolhe no meio do sonho. Por exemplo, pode-
se escolher a parte mais impressionante ou a que revele a maior clareza
ou intensidade sensorial. O exemplo freudiano de escolher um elemento
que seja especialmente impressionante, claro ou nítido, fornece um outro
ponto de partida útil para as associações, já que esses elementos são, em
geral, muito mais definidos.
Devemos, contudo, advertir ao terapeuta que, em algumas ocasiões,
sentimentos muito intensos estão ligados a elementos especialmente
claros ou nítidos do sonho.

Daí, temendo que o tratamento venha a ser pior do que a doença, a


ansiedade do paciente pode ocasionar-lhe um aumento da resistência e

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causar uma interrupção na terapia antes mesmo que ela tenha


começado;
c) Pode-se começar a partir de algumas palavras ditas no sonho, na
expectativa de que possam levar à recordação de algumas palavras
pronunciadas na vida desperta. Visto que as falas num sonho,
frequentemente se referem, com modificações, a algo que foi dito, ouvido
ou lido no dia do sonho, isto é, no dia anterior ao sonho. Elas constituem
em excelente ponto de partida para a investigação analítica;
d) Pode-se principiar deixando de lado o conteúdo manifesto e, ao
invés disso, perguntar ao sonhador quais os fatos do dia anterior que se
acham associados, em sua mente, com o sonho que ele acabou de
descrever. O fundamento para isso é que "em todo sonho é possível
descobrir-se em ponto de contato com as experiências do dia anterior”.
Na verdade, mesmo a referência mais trivial, uma vez que tenha sido
introduzida no sonho de algum modo, é importante pelo fato de constituir
um ponto de partida para uma cadeia de associações contendo
informações específicas.
Caso o paciente, ao discutir seus sonhos, omita, coincidentemente e por
um período muito extenso, qualquer referência a resíduos do dia ou aos
estímulos do dia do sonho, o terapeuta deve considerar a possibilidade
de o paciente estar suprimindo alguma coisa importante da realidade e
deve, então, tentar compreender por que está se refreando. Os sonhos
têm seu ponto de partida na vida desperta e atuam sobre o material dela
derivado.
A capacidade de enxergar um elemento do sonho manifesto que se refira
à sessão de analise anterior representa grande ajuda na terapia.
São de especial importância no material residual do dia, durante os
estágios iniciais da terapia, as primeiras manifestações de preocupação,
hesitação e ansiedade acerca do início do tratamento, e o material de
transferência relativo aos sentimentos do paciente a respeito do
terapeuta;
e) Se é muito difícil acompanhar o primeiro relato de um sonho que
(nos) é feito por um paciente, pedimos que ele repita o seu relato. Ao fazê-
lo, ele raramente usa as mesmas palavras. Mas as partes do sonho que
ele descreve com termos diferentes, se nos revelam, por esse fato, como
o ponto fraco do disfarce do sonho... Nossa solicitação ao paciente, para
que repita seu relato do sonho, o adverte de que nós estávamos propondo
um esforço especial a fim de solucioná-lo. Só à pressão da resistência,
portanto, ele se apressa em cobrir os pontos fracos do disfarce do sonho,
substituindo algumas expressões que ameaçam delatar seu sentido por
outras menos reveladoras. Desse modo, ele desperta a nossa atenção
para a palavra que tenha suprimido. Quando se pede ao sonhador para

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repetir um sonho assim, ele omite, visivelmente, uma das partes. Sob tais
circunstâncias, é fácil despertar a atenção do sonhador para a omissão e
então tentar descobrir por que ele omitiu aquela passagem em particular.
Pedir a um paciente para repetir a descrição de um sonho, e então
chamar a sua atenção para as partes que haja omitido, pode fazê-lo
sentir-se alvo de crítica por parte do terapeuta, ou pior ainda, pode levá-
lo a pensar que foi ludibriado, ou manobrado, a fim de revelar algo que
desejava ocultar. Seria, então, aconselhável para o terapeuta lidar com
aquilo que o paciente tenha relatado, ao invés de voltar-se para as
omissões;
f) Ocorre com muita frequência que um fragmento de um sonho seja
omitido e acrescentado posteriormente como um adendo. Isto deve ser
encarado como uma tentativa de esquecer aquele trecho. A experiência
revela ser encarado como uma tentativa de esquecer aquele trecho. A
experiência revela ser essa passagem, em particular, a mais importante;
houve, suponhamos uma resistência maior no processo usado para
comunicá-la do que no tocante às outras partes do sonho. Não é raro
acontecer que, no meio do trabalho de interpretação, uma parte omitida
do sonho venha à luz, e é descrita como se tivesse sido esquecida até
aquele momento. A parte de um sonho, aquela que tenha sido esquecida
e tirada do esquecimento dessa forma é, invariavelmente, a parte mais
importante; ela sempre se acha no caminho mais curto para a solução do
sonho e foi, por esse motivo, mais exposta a resistência do que qualquer
outra parte. E é bem provável que esse fosse o único motivo para ser
esquecida, isto é, por ter sido, uma vez mais, suprimida.
Quando um fragmento de sonho é recordado dessa maneira, as outras
partes do sonho podem ser, temporariamente, desconsideradas, e a
atenção enfocada nessa parte. Às vezes, o paciente recorda o fragmento
reprimido no final da sessão de análise, quando não há mais tempo para
debatê-lo, ou após a mesma já ter sido concluída. Existem, é claro,
aqueles pacientes que, de modo característico, poupam material
importante para o final da sessão de análise, momento quando não há
mais tempo de examiná-lo:
1.Se o sonhador já está familiarizado com a técnica da interpretação,
evite dar-lhe quaisquer instruções e deixe-o decidir com que associações
ele deverá principiar.
É importante ter em mente a existência de uma continuidade entre o
sonho relatado e todas as associações do paciente no decurso de uma
dada sessão. O paciente pode relatar um sonho junto a diversos outros
materiais e tudo está relacionado de algum modo. O terapeuta deve ter
em mente, ainda, que muitos sonhos que são evocados durante as
análises são introduzíveis, ainda que não deem mostras da grande
resistência que existe.

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2.A anotação do Sonho:


Quando o paciente indagar sobre sua utilidade, podemos dizer- lhe que
isso é inútil. A resistência da qual ele extraiu a preservação do texto do
sonho, será, então, deslocada pra suas associações e tornarão o sonho
manifesto inacessível para a interpretação. Em vista desses fatos, não
nos surpreenderemos se outro aumento da resistência suprimir
totalmente as associações e reduzir, assim, à nada a interpretação do
sonho.
É bom lembrar, ainda, que sonhos em demasia podem ser um modo de
manifestação de resistência, impedindo, assim, que seja dado tempo ao
inconsciente para abrir com o que é realmente importante. É, para alguns
sonhadores, um usual tipo de máscara. Outra coisa, é que devemos
lembrar que estamos procurando analisar o paciente e não o sonho do
paciente.
II - Considerações Gerais:
Ao lidar com sonhos, o terapeuta deve ter sempre em mente tudo o que
se desenrola durante a sessão na qual se relata o sonho, o que sabe
acerca do paciente por meio das sessões anteriores, e - principalmente -
qual o material que foi abordado na sessão imediatamente anterior.
Deve-se, de um modo geral, acautelar-se contra a demonstração de um
interesse muito especial na interpretação de sonhos, ou despertará no
paciente a ideia de que o trabalho de análise não avançaria se ele não
trouxesse à tona nenhum sonho; pois por outro lado existe um risco de
que a resistência do paciente se volta para a produção dos sonhos, como
já vimos, com uma consequente cessação dos mesmos, de outro modo,
como já se tem podido observar. O paciente deve ser levado a acreditar
que, pelo contrário, a análise, invariavelmente, encontra material para
prosseguimento, não importando se ele traz à baila sonhos ou qual a dose
de atenção que é dedicada a eles.
Os sonhos são importantes e, quando relatados pelo paciente e
devidamente entendidos, proporcionam um "excelente caminho para o
inconsciente". Entretanto, uma busca demasiadamente ansiosa das
associações do paciente com os vários elementos do sonho, pode inibir
as associações espontâneas do paciente e criar um clima de teste entre
professor e aluno.
O analista deve entender logo de início, que nenhum sonho pode ser
completamente analisado do decurso de qualquer sessão.
O analista deve acostumar-se, também, ao fato de que um sonho pode,
ainda, ter muitos significados.
Freud diz, também, que a dose de interpretação que se pode obter numa
sessão deve ser considerada suficiente e não vista como uma perda, se o

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conteúdo do sonho não for plenamente desvendado. As produções mais


recentes devem ser observadas e não há razão para embaraços por
negligenciar as mais antigas, mesmo sonhos não desvendados
totalmente.
Generalidades:
1. Freud assinala que, se não se assimila ou compreende todo o
material de um sonho, ele reaparecerá em outros sonhos, no dia seguinte
ou pouco depois, quer nas associações do paciente ou em outros sonhos
que tratem essencialmente do mesmo tema. Ele escreve: "Ocorre com
frequência, portanto, que a melhor forma de completar a interpretação
de um sonho seja deixá-lo de lado e dedicar a atenção a um novo sonho,
que pode conter o mesmo material, possivelmente numa forma mais
acessível".
2. Em geral, a abordagem da exploração dos sonhos segue os
princípios básicos da terapia. O terapeuta atua, de modo contínuo,
através das várias camadas de material a partir da superfície. Ele passa
do material menos reprimido para o mais reprimido, ou para o material
menos egossintônico (é um termo que se refere a comportamentos,
valores e sentimentos que estão em harmonia com ou aceitáveis para as
necessidades e objetivos do ego;
3. Segundo Freud, "se os sonhos, como um todo, se tornam muito
difusos e extensos, deve-se desde o início desistir, tacitamente, de
decifrá-los";
4. Tem sido o demonstrado, por pesquisadores do sono e do sonho
(Dement e Fisher) que todas as pessoas sonham regularmente durante
todo o seu período de sono. Por isso dizemos que o "sonho é o guardião
do sono";
5. Pode haver uma relação entre os chamados bons sonhadores e as
pessoas que tendem a ser mais imaginativas e criativas. Isto certamente
parecia aplicar-se a Freud;
6. Alguns analistas, reconhecendo que a análise dos sonhos está
relacionada com o problema geral da viabilidade da análise, têm dúvidas
sobre se o paciente que nunca expandem ao invés de se aprofundarem.
"Quanto mais longa e sinuosa é a cadeia de associações mais forte se
torna a resistência".
Falando de resistência, Freud assinalou cinco tipos presentes também
nos sonhos. Diz ele: "O Ego é a fonte de três deles, diferentes cada um
em sua natureza. Esses três (incluem) resistência de repressão,
resistência de transferência e vantagem da doença. O quarto tipo,
originando-se do Id, é a resistência que necessita superar obstáculos. O

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quinto tipo, surgido no Superego, parece originar-se do sentimento de


culpa ou desejo de punição";

A análise da resistência, geralmente, provoca uma melhora da aliança de


trabalho, e é frequentemente, acompanhada por uma mudança na
"pressão da resistência".

III - Sonhos Iniciais e Antigos:


Segundo Freud, os sonhos iniciais numa análise podem ser denominados
"simples". Os tais podem ocorrer também, mais tarde, numa análise,
podendo ser trabalhados e estar fundamentados em todo material
patogênico do caso, até então ignorado, quer pelo psicanalista, quer pelo
paciente (assim chamados "sonhos-roteiros" e "sonhos biográficos"), e
equivalem, às vezes, a uma tradução, para a linguagem do sonho, do
conteúdo inteiro da neurose. A plena interpretação de um sonho, assim,
coincidirá com o acabamento de toda a análise. Se for feita uma anotação
do mesmo, no início, poderá ser possível entendê-lo no final, muitos
meses depois.

1. Quanto mais o paciente tiver aprendido sobre a prática da


interpretação de sonhos, mais obscuros se tomam seus sonhos
posteriores. Todo o conhecimento adquirido acerca de sonhos serve,
também, para colar em guarda o processo de construção do sonho;
2. Alguns analistas acham que os terapeutas deveriam desistir de
qualquer interpretação de sonhos até que a aliança terapêutica esteja, e
bem consolidada, em grande parte porque os sonhos iniciais são
ingênuos, revelam muitas coisas, ou são muito complexos;
3. Sejam quais forem os comentários ou as interpretações feitas pelo
terapeuta, devem basear-se no verdadeiro nível de compreensão do
paciente. Devem ser dirigidos ao Ego, repousando numa linguagem
simples e objetiva, e devem abordar, primeiramente, o material
superficial;
4. O terapeuta pode optar por adiar o exame do material do sonho até
que a terapia tenha progredido. Mas certas coisas, quando mencionadas
pelo sonho, devem ser exposta e debatidas no momento em que este é
relatados;
5. Para os pacientes tímidos ou para os que não entendem
plenamente, por motivo de transferência, deve ficar claro em sua terapia

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eles têm todas as oportunidades de discutir todos os seus pensamentos,


hesitações, ansiedades, dúvidas e sentimentos negativos.

IV - Considerações específicas sobre os elementos do sonho:


Quanto a quaisquer elementos do sonho manifesto (conteúdo manifesto),
o terapeuta deve decidir:
1. Se ele deve ser entendido num sentido positivo ou negativo (como
uma relação anti- ética);

2. Se deve ser interpretado historicamente (como uma


lembrança);
3. Se deve ser interpretado simbolicamente;
4. Se a sua interpretação dependerá do modo como
é anunciado.

TRATEMOS CADA UM DESSES ASPECTOS:


1. A relação Antitética:
Um elemento do sonho pode "representar seu oposto tão facilmente como
a si mesmo". Os "sonhos se sentem à vontade ... para representar
qualquer, elemento pelo seu oposto de desejo; de modo que não há
nenhum meio de se decidir à primeira vista se algum elemento que
admita um oposto está presente nas ideias oníricas como positivo ou
negativo".
Freud registra que o oposto de "molhado" e "água" pode ser, facilmente
"fogo" e "incêndio";
O uso da reversão constitui uma conveniente defesa contra o
reconhecimento de impulsos acerca dos quais o sonhador se sente
culpada, ou de impulsos assustadores ou estranhos ao Ego do sonhador.
Por exemplo: Uma mulher sonhou que seu marido a deixara por outra. O
sonho referia-se a seu próprio desejo e conflito quanto a trocar seu
marido por outros homens;
Em certos casos, o material sexual pode encobrir impulsos agressivos e
o inverso também pode ocorrer; A linguagem do sono é essencialmente
primitiva, ela costuma utilizar elementos semelhantes, cujo significado
preciso somente pode ser entendido no contexto das associações.
2. O Ponto de Vista Histórico: "Cada sonho está ligado, em seu
contexto manifesto, a experiências recentes e, em seu conteúdo latente a

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experiências antigas"; Já que o conteúdo manifesto de todo sonho


contém, pelo menos, alusão ao dia do sonho (resíduos do dia), podemos
abordar o sonho estudando esse material de superfície; Deste o início de
uma análise, o material onírico pode revelar problemas que o paciente
não tenha mencionado ainda e que não esteja preparado para lidar na
ocasião;
É comum, pacientes sonharem invertido, projetando uma preocupação
com possíveis críticas do analista. Quando, num sonho, houver
expressão de agressividade, ela pode estar associada a algum estágio do
desenvolvimento libidinoso; Quando o material está próximo da
superfície, ou quando o paciente é sensível à sua própria dinâmica, a
intervenção do terapeuta não é necessária, já que o paciente pode
fornecer as conexões por si mesmo e entender o que está relatando; O
fato de o paciente dizer ao analista que contou à sua mulher um sonho
é, em sim, uma associação com o sonho. Revela, essencialmente, que o
sonho de algum modo versava sobre a esposa do paciente;
O comportamento do paciente no divã do analista, o que ele faz com as
mãos, etc., tudo isso são expressões motoras subjacentes às
manifestações verbais e devem ser atentamente observadas;
O paciente pode protelar o pagamento de suas consultas, chegar alguns
minutos atrasados para a sessão, cancelar ou "esquecer" uma entrevista,
errar a rua ou o número do edifício do analista, etc. Esse procedimento
denominado "acting out" deriva da dinâmica do paciente e expressa, de
modo dramático, conflitos que são relatados num sonho;
Às vezes, o acting out é uma tentativa de se defender de impulsos fortes,
como é o caso de um paciente que levou várias garrafas de uísque escocês
para o seu analista como presente de Natal. Então, narrou um sonho no
qual estava envolvido num duelo de sabre contra um adversário
mascarado. Seu presente servira para afastar e apaziguar o analista (o
adversário mascarado) que, em seu sonho, ele desejara golpear com um
sabre;
Freud observou que a experiência real da dor não ocorre no sonho, a
menos que uma sensação real de dor esteja presente. Isto ocorre com
dores de dente, crises de vesícula biliar, cálculos renais, úlceras, dores
de parto, etc.

V - Simbolismo:
O temo simbolismo se refere, em seu sentido mais amplo, à significação
metafórica ou alegórica de um termo, uma ideia ou um objeto. Pode ser
uma alusão a algo. Por exemplo, a bandeira representando um país, uma
igreja representando uma religião, um prédio público significando o

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governo ou uma agência do governo. O uso de símbolos num sentido


metafórico costuma ser muito idiossincrático. O mesmo símbolo pode ter
significados diferentes, não só em culturas diferentes, mas também para
pessoas diferentes, e até para a mesma pessoa em diferentes ocasiões.
No trabalho de análise, o temo simbolismo refere-se a uma relação bem
mais restrita, embora extremamente importante, de assuntos que tratam,
principalmente, dos aspectos mais íntimos da vida. Os símbolos são
absolutamente "padronizados" e, em geral, significam a mesma coisa em
culturas diferentes, para pessoas diferentes, e para a mesma pessoa em
diferentes ocasiões.
Freud adverte, severamente, contra a superestimarão da importância dos
símbolos na interpretação dos sonhos. Ele enfatiza que as associações do
paciente com o elemento onírico merecem preferência em todos os casos,
enquanto que a tradução de elementos dentro de seu possível significado
simbólico deve ser usada somente como um "método auxiliar". O
resultado é uma "técnica combinada, que de lado repousa nas
associações do sonhador e do outro preenche as lacunas com o
conhecimento de símbolos do intérprete"; recomenda muita cautela "a
fim de impedir qualquer acusação de arbitrariedade na interpretação do
sonho", e aconselha que se tenha em mente, já que os símbolos
costumam ter múltiplos significados, que a "interpretação correia só pode
ser alcançada, em cada ocasião, segundo o contexto".
Às vezes, o uso de um símbolo sexual num sonho pronuncia o surgimento
de material declaradamente sexual nas sessões posteriores.
Alguns símbolos específicos:
a) Casamento - É simbolizado pela loteria, "um estado de felicidade
de curta duração". Um casal, por "dois cavalos". É muitas vezes
simbolizado por uma casa. A destruição uma casa, no sonho, refere-se à
destruição de um casamento por divórcio, novo casamento ou a morte de
um dos cônjuges. Se o sonhador se encontra na casa de outrem, ele pode
estar expressando o desejo de se casar com outra pessoa.
b) Família - Os pais são simbolizados por pessoas de suma
autoridade: Imperador e Imperatriz, Rei e Rainha, czar e czarina,
presidente e primeira dama, governador e esposa, prefeito e esposa;
pessoas de grande status ou fama, etc.
O "trono" na expressão "sentar-se no trono" refere-se ao vaso sanitário.
Nessas pessoas, a caracterização do casal de reis, em seus respectivos
tronos, pode ser uma expressão do grande escárnio e desdém para com
seus pais que é dissimulado ao colocá-los numa posição elevada. Isto
deriva da antiga visão ambivalente do sonhador a respeito dos pais.

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A escolha de figuras aviltantes para representar os pais, expressa os


sentimentos negativos da pessoa para com eles
Os fantasmas, figurados como elementos oníricos, podem representar
figura femininas em camisolas brancas, mas se deve obter informações
específicas, pois a referência também pode ligar-se a algum livro, peça
teatral, filme ou programa de TV, ou talvez a alguém realmente já falecido.
Além disso, a caracterização de um fantasma pode referir-se a desejos de
matar voltados contra um dos pais.
Às vezes, a presença de um homem e de uma mulher negros no conteúdo
manifesto do sonho representa a paixão, em geral ou mais
especificamente, dos pais do sonhador em sua atividade sexual noturna
(ato da escuridão), isto é, relações sexuais. As conotações agressivas aqui
podem referir-se, então, à concepção infantil do coito dos pais como
sendo um ato violento. A figura "negra" nos sonhos pode referir-se,
também, ao analista, sobre cuja vida pessoal o paciente acha- se "no
escuro".
O pai também pode ser representado pelo sol. Freud assinala que um pai
temido é representado por um animal de rapina, um cão ou um cavalo
selvagem. Um touro enraivecido pode simbolizar a força masculina.
A mãe pode ser representada por uma figura investida de autoridade e
altamente estimada (uma professora, uma madre superiora, uma
diretora de colégio, uma atriz). Às vezes, a figura materna é simbolizada
pela lua, pelo mar ou por um tablado ou uma escrivaninha. Objetos
pesados referem-se à mãe grávida. A mãe pode ser simbolizada, também,
por alguma figura feminina com traços assustadores, malévolos,
bissexuais ou sádicos: uma feiticeira ou alguma deusa mitológica. Pode,
também, ser representada por uma igreja, uma casa ou uma construção
arquitetônica.

O próprio sonhador pode ser simbolizado como um príncipe ou uma


princesa, ou pode aparecer como uma criança. Um passarinho também
pode ser o símbolo de uma criança. Às vezes, o sonhador aparece como
ele mesmo, mas o ambiente em que se encontra é amplo, indicando,
assim, que a cena do sonho alude alguma coisa de sua infância, isto é,
quando era pequeno.
Nos sonhos, os insetos nocivos representam bebês. A irmã é representada
por uma freira ou por um rio. Um irmão, por monge ou confrade.
c) A figura humana como um todo: "A única representação típica -
normal - da figura humana como um todo é uma casa".
Quando o sonhador se vê dentro da casa, isso pode referir-se à "casa" do
corpo materno (fantasia da vida intrauterina) ou à casa da pessoa, ou

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seja, sua ideia ou concepção do interior das cavidades de seu próprio


corpo. Com grande frequência, uma casa ou edifício grande assinala a
data dos acontecimentos aos quais o sonho se refere, localizando-os na
infância do indivíduo, quando ele era pequeno e as pessoas a sua volta
pareciam gigantescas.
Casas com anexos, podem referir-se a braços ou pernas, aos seios ou aos
órgãos genitais. O porão e a adega, geralmente, se referem aos órgãos
genitais, tanto como aos impulsos ou tendências "baixos" da pessoa.
Num sonho, pode ocorrer que nos encontremos descendo pela fachada
de uma casa, apreciando isso num momento e assustando-nos no
seguinte. As casas com paredes lisas são homens; aquelas com saliências
e sacadas às quais podemos nos agarrar são mulheres. Paredes lisas,
pelas quais o sonhador sobe as fachadas das casas que ele desce - muitas
vezes com grande ansiedade - correspondem a corpos humanos de pé e
estão, provavelmente, repetindo no sonho, reminiscências do ato infantil
de alçar-se até seus pais ou sua babá.
Mesas, mesas postas para a refeição e tábuas, também representam
mulheres - sem dúvidas por antítese, já que nos símbolos os contornos
de seus corpos são eliminados.
Também os materiais são símbolos femininos: madeira, papel e objetos
feitos com eles como: mesa e livros.
Mesas postas para uma refeição costumam referir-se aos seios maternos.
Pode ser interpretada, também, como uma cama. As cadeiras também
são bem adequadas para representar o corpo humano: têm pernas,
costas, um assento e braços. O assento da cadeira pode referir-se,
também, ao colo, especialmente o materno.
Generalidades:
1. A data de algum veículo costuma servir para expressar
aproximadamente o ano em que algum evento ocorreu. O tamanho do
carro, especialmente se é representado como grande pode revelar também
a idade da pessoa quando tal fato aconteceu.
2. Roupas uniformes são um substituto para a nudez ou formas do
físico.
3. "Lá embaixo", nos sonhos costumam relacionar-se com os órgãos
genitais; "lá em cima", ao contrário, liga-se ao rosto, boca ou seios. Às
vezes, essa representação deve ser considerada por um ponto de vista
metafórico: o "lá embaixo" refere-se a "instintos baixos" (com a
sensualidade) e o "lá em cima" a seus opostos (o amor num sentido
platônico, espiritual ou intelectual).

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VI - Símbolos sexuais:
Freud observa que "a esmagadora maioria dos símbolos nos sonhos são
sexuais", é muito mais comum que os órgãos genitais sejam simbolizados
do que apareçam como são na realidade.
ÓRGÃOS GENITAIS MASCULINO
Generalidades:
1. Existem provavelmente mais símbolos de órgão
masculino do que todos os outros símbolos somados;
2. Para os genitais masculinos, como um todo, o número sagrado 3
(três) tem significação simbólica;
3. Objetos que se assemelham à forma do órgão, coisas longas e
eretas;
4. Cedros, objetos elevados e altos ou edifícios, torres de igrejas,
monumentos, mirantes, todos aparecem como símbolos genitais
masculinos;
5. Objetos com junção penetrativa, como armas de qualquer espécie:
facas, punhais, espadas, lanças, sabres, armas de fogo. Também
agulhas, bisturis, curetas e outros instrumentos cortantes capazes de
penetração para procedimentos médicos ou cirúrgicos são importantes
símbolos de órgãos genital masculino;
6. Objetos que expelem líquidos, como torneiras, regadores ou fontes.
Seguindo por pipetas, seringas, clisteres e até extintores de incêndio são
incluídos;
7. Objetos que podem ser alongados, como as lâmpadas que pendem
do teto e o batom extensível. Telescópios e antenas de automóveis são
igualmente conhecidos;
8. Objetos alongados que são seguros pelas mãos, entre eles: lápis,
canetas, martelos e outros. Os que têm algum tipo de tampa como a
caneta, pode significar o pênis incircunciso ou o clitóris;
9. As lixas de unas, possivelmente porque se esfregam para cima e
para baixo, também se conhece como símbolo específico;
10. As máquinas, com seu mecanismo potente, assemelham- se ao
mecanismo também potente do aparelho genital;
11. Vários instrumentos musicais podem ser incluídos, além de
secadores de cabelos, etc.;
12. Objetos que se elevam contra a gravidade, como: balões, foguetes,
papagaios e pássaros. A cegonha mostra-se especialmente adequada
para representar o órgão masculino, com as pernas e pescoços longos e

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o mito de que traz os bebês. A andorinha, embora possa representar o


pênis, pode também ser associada à comida ou à felação;
13. Répteis e peixes e o famoso símbolo da serpente. As serpentes, por
não possuírem pernas, são símbolos femininos, por serem totalmente
castradas;
14. A serpente, quando enroscada, pode significar grandes fezes,
excretadas, às vezes, pelo paciente, mas também por outra pessoa;
15. Quando os órgãos sexuais aparecem num sonho, eles podem
representar o próprio sonhador. Isto se dá de acordo com o princípio de
que a parte pode representar o todo. Às vezes, o uso de um pênis,
simbolizando a pessoa, é um meio de expressar uma visão
grosseiramente pejorativa do indivíduo;
16. Plantas, como o "trevo de quatro folhas", assinala Freud, "assumiu
o lugar do de três folhas, que é realmente adequado como um símbolo. O
cogumelo é um indubitável símbolo do pênis: existem cogumelos (fungos)
que devem o seu nome científico à sua inconfundível semelhança com o
órgão sexual masculino, como é o caso do Phallus impudicus;
17. Embora o terapeuta, raramente, tenha dificuldade em reconhecer
qualquer dos símbolos que apresentamos, em linhas gerais, como
representativos do órgão masculino, na prática clínica permanece a
pergunta acerca do que fazer com o reconhecimento.

ÓRGÃOS GENITAIS FEMININO


Generalidades:
1. A simbolização dos órgãos genitais femininos pode ser dividida em
símbolos que se referem à genitália externa, as partes diretamente
visíveis, e símbolos referentes à genitália interna, as partes que não são
visíveis;
2. Os pelos púbicos das mulheres são simbolizados com mais
frequência por peles, casacos de peles, bosques, arbustos, florestas,
moitas ou grupos de árvores;
3. A barba ou o rosto de um homem barbado pode, muitas vezes,
significar a genitália externa;
4. Características naturais de uma paisagem, portas, portões, são
símbolos da fenda genital;

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5. Números e nomes, como a letra "O" ou o número "O" (zero), referem-


se à vagina. O número 8 refere-se à genitália feminina, como "gatinha",
"doce", "pote de mel";
6. Animais. Freud sustenta que caracóis e mexilhões "são
inegavelmente símbolos femininos";
7. O gato é um símbolo comum para o órgão genital feminino, até para
as pessoas de língua portuguesa - é que em inglês, na linguagem vulgar,
é chamado de "pussy" (mimi), que é vagina. Entretanto, somente as
associações do paciente podem comprovar o significado de um símbolo
usado no sonho. Como já vimos, os órgãos genitais podem aparecer
significando o inverso;

8. Jóias e estojos de joias são símbolos femininos. Entretanto, se a


ideia for de "joia de família", a significação é masculina; Adereços de todo
tipo podem simbolizar a genitália exterior feminina; Outras partes do
corpo, como a boca, é um substituto para o orifício genital;
9. Á ferradura, também copia a configuração do orifício genital
feminino. Também já se notou a "coroa" como símbolo de vagina;
10. A genitália interna, como demais órgãos acessórios, útero, por
exemplo, são simbolizados por objetos encerrando um espaço vazio:
covas, cavidades, buracos, vasos, garrafas, caixas, baús, estojos, cofres,
bolsos, embora os tais possam ter, também, significação genérica; .
11. Alguns símbolos, segundo Freud, têm mais ligação com o útero do
que com a genitália externa: armários, fogões quartos.
Menstruação:
1.Tanto sonhadores homens quanto mulheres podem sonhar com
elementos ligados, diretamente, ao sangue ou cor vermelha; vinho,
morangos, framboesas, groselha. A cereja pode significar defloramento;
Nádegas e seios:
2.Os seios devem ser examinados em conjunto com os órgãos genitais, e
esses, a exemplo das nádegas do corpo feminino, são representados por
maçãs, peras, e frutas em geral;
3.Doces ou alimentos adocicados representam, habitualmente, carícias
ou prazeres sexuais gratificantes;
4.As irmãs simbolizam os seios e os irmãos, as nádegas, Já que os seios
e as nádegas têm em comum o fato de serem hemisféricos e
protuberantes, é possível, para o sonho, usar os seios para simbolizar as
nádegas e vice-versa. Símbolos sexuais obscuros:

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5.Chapéus - Tanto é masculino como feminino. Com significado


masculino, ode ser retirado ou perdido, já que o indivíduo sente que pode,
também, ser retirado (medo da castração), o sentido simbólico do chapéu,
como masculino pode ser facilmente determinado pela descrição do
chapéu no conteúdo manifesto, ou pelas associações do sonhador,
6. Roupas íntimas e roupas brancas em geral, são consideradas por
Freud, símbolos femininos, geralmente, a peça de roupa no sonho refere-
se, diretamente, ao corpo da pessoa que a usa;
7.Sapatos e chinelos, representam órgãos femininos, mas há que se
observar os detalhes fornecidos sobre os calçados;
8.Flores, símbolos femininos. Não esqueçamos que as flores são, na
verdade, a genitália das plantas;
9. O abacaxi se refere ao seio agressivo, nocivo, mesquinho e espinhento.
Aquele que nega o leite, a banana, por causa de sua aparência, deve ser
considerada de natureza fálica;
10.Diminutivos - O "pequeno", muitas vezes, aparece como bebê ou
pênis;
11. Planos, mapas, gráficos e diagramas, representam o corpo
humano, os órgãos genitais. No caso de neologismos ininteligíveis, cabe
colocá-los junto dos componentes de significado sexual;
12.Bagagem - Às vezes, é a carga de pecado, que oprime. Pois significa
útero, no qual se carrega o feto, bagagem também pode significar encargo
de família.
Masturbação:
1. É indicada por todos os tipos de brincadeiras, incluindo tocar
piano, deslizar ou escorregar, desfolhar um galho;
2. A queda ou extração de um dente - significando castração, como
um castigo pela masturbação. Isto decorre das alusões à Pena de Talião
(olho por olho, dente por dente).
Relações Sexuais:
1. Atividades rítmicas, tais como dançar, cavalgar e escalar devem ser
consideradas;

2. Experiências violentas, como ser atropelado. Atividades manuais.


Ameaçar com armas, ser machucado, surrado torturado, baleado,
crucificado, assassinado, etc. Tanto podem aludir à sadomasoquismo ou
o contrário;

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3. Degraus, escadas ou escadarias, ou, conforme o caso, subir ou


descer por elas, são representações do ato sexual, a porta estreita e as
escadas altas e íngremes representam relações;
4.As atividades derivadas da agricultura, como a fertilização e a
semeadura; Micção num recipiente;
5. Uma mesa, especialmente se coberta com uma toalha
branca, costuma aludir a uma cama e à atividade sexual.
VII - Símbolos com vários sentidos- Equivalentes Psíquicos ou
Inconscientes:
Secreções: As secreções do corpo humano como: "muco, lágrimas, urina,
sêmen, etc., podem substituir umas às outras em sonhos"; Micção pode
ser expressa, também, como lençóis, em face da expressão "formou-se
um verdadeiro lençol d'água"; Há conexão, também, entre ouro e fezes;
As fezes podem ser também simbolizadas por ovos; O dinheiro pode ser
equiparado ao amor, ou ao pagamento para fazer sexo com uma
prostituta.
Aranhas: a presença, em sonho, de uma aranha é um símbolo da mãe,
mas da mãe fálica, que receamos; As aranhas, em sonhos, não se referem
apenas às ansiedades do sonhador acerca de si mesmo, mas podem
aludir, também, a uma enorme quantidade de ideias acerca do que a mãe
do sonhador possa ter feito ao pai deste, especialmente se esse pai era
um homem passivo, enfermo ou já falecido; Á teia da aranha representa
os pelos púbicos, enquanto que um único fio simboliza o órgão genital
masculino. Pontes: Representa o órgão genital masculino, que lia, une
pai e mãe no ato sexual; Pode também significar o cruzamento do outro
mundo (o estado fetal, o útero) para este mundo (a vida).

Fogo e Incêndio: A chama é sempre o órgão genital masculino e a lareira


é o correspondente feminino. O impulso de urinar sobre uma fogueira
tem características homossexuais;
Natação: Pessoas que têm sonhos frequentes como ato de nadar e que
sentem grande satisfação em abrir caminho através das ondas, etc. na
infância, via de regra, costuma urinar na ama e estão repetindo, em
sonhos, um prazer ao qual há muito aprenderam a renunciar;
Déjà-Vu - Em alguns sonhos, com paisagens rurais ou outras
localidades, a ênfase é colocada, no próprio sonho, sobre uma impressão
de certeza de já se ter estado ali antes. As ocorrências de déjà-vu em
sonhos têm um significado especial. Esses lugares são, invariavelmente,
os órgãos sexuais da mãe do sonhador; hão há, na verdade, nenhum
lugar sobre o qual se possa assegurar, com tal convicção, que já se esteve
antes.

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Símbolos de castração: "trabalho do sonho" faz uso da calvície, do corte


do cabelos da queda de dentes e da decapitação; Os sonhos que versam
sobre o corte de cabelo como castração, são comuns no trabalho de
análise, especialmente porque a posição do analista, atrás do paciente
deitado no divã, facilita sua representação como um barbeiro ou
cabeleireiro em vias de fazer algo com o "cabelo" do paciente; Os sonhos
envolvendo a guilhotina, são simbolizações especialmente nítidas de
castração e costumam ser acompanhadas por grande ansiedade; O
aparecimento, em sonhos, de lagartos - animais cujo rabo, se é cortado
cresce de novo - tem a mesma significação;
Símbolos de gravidez: Ser acometido de verminose, de peste, de infecção
ou até de câncer (ou um tumor de qualquer tipo), são símbolos oníricos
da gravidez; O canguru ou o gambá, com suas bolsas marsupiais, são
usados com frequência em sonhos para simbolizar a gravidez; Animais
de grande porte também podem ser utilizados para expressar a gravidez:
a vaca, o hipopótamo, o camelo (a corcova, ou as corcovas, representando
os seios) ou vários dos grandes animais pré- históricos.
Lactação - sonhos versando sobre o lactação, se referem, muitas vezes,
aos pensamentos da pessoa acerca da amamentação e os conflitos que a
cercam; Expressam a fantasia de que, como a mãe não tinha leite
suficiente ou nutritivo, a paciente não se desenvolvera o suficiente,
tomando- se menina. Nascimento, parto e vida intrauterina: O ato de
passar por espaços estreitos, ou de sair de um aposento de qualquer
espécie ou de uma massa líquida, muitas vezes acompanhado de
ansiedade, é um símbolo frequente do nascimento; Pode ser simbolizado
por alguém trazendo um presente, por um pássaro (cegonha), ou pela
chegada de um passageiro ou telegrama; Em muitos sonhos, o
nascimento é representado por uma referência envolvendo a presença de
água o paciente pode sonhar em mergulhar num lago ou numa piscina;
Sonhos que apresentam submarinos e a exploração do fundo do mar com
equipamentos de mergulho, etc., expressam as fantasias do sonhador a
respeito de sua própria existência intrauterina, com a oportunidade,
ainda, de ver o que se passa ao seu redor. Às vezes, essas fantasias se
referem à observação da cena primai de dentro do útero; Em vista da
facilidade com que as fantasias sobre a existência intrauterina podem
representar pensamentos sobre a vida após a morte, o analista deveria
sempre encarar a expressão das fantasias sobre o nascimento, em
sonhos, como uma possível indicação de ansiedade do paciente, acerca
de sua própria morte e/ou seus desejos de matar alguém.
Morte: Partir para uma viagem é um dos símbolos mais comuns e
comprovados da morte, especialmente quando seguido de ansiedade ou
excessiva expectativa; os sonhos de partida para uma viagem podem
referir-se, também, a uma viagem de lua- de-mel. Se as associações
conduzem ao tema da morte quando o material é sexual, o terapeuta deve

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considerar a possibilidade de o paciente estar exprimindo sua ansiedade


em que a satisfação de seus desejos sexuais provoque sua própria morte
ou a de seu (sua) parceiro(a). O emudecimento, no sonho, representa a
morte; esconder-se e não ser encontrado também;
Acentuada palidez: Os sonhos em que aparece a cor negra, onde haja
referência a vazio, escuridão, feiúra, destruição, desordem, deterioração,
excrementos secos de animais, sujeira (ou entrar na sujeira), podem,
também, simbolizar a morte; Todos os sonhos nos quais há uma
referência à morte, são extremamente importantes e devem ser
considerados com muita atenção. O terapeuta deve avaliar se tais sonhos
se referem a uma preocupação do paciente com a sua própria morte ou
desejo de matar ou, ainda, de morrer.
ATENÇÃO: Você pode estar diante de um homicida ou suicida em
potencial; Se o sonho expressa um desejo de matar (consciente ou
inconsciente) alguém, então as circunstâncias de tal desejo e o motivo
para o sentimento intenso devem ser decifrados; Às vezes, os sonhos que
contém elementos que simbolizam a morte, refletem a depressão do
paciente ou revelam ideias suicidas, antes que o paciente esteja
preparado para mencioná-las, espontaneamente, ao terapeuta;
Existem muitos temas frequentes nos sonhos de pacientes que desejam
suicidar-se. É comum haver referência ao desespero, a "sem saída",
indicando que os tais chegaram a um "beco sem saída" numa viagem.
Pode aparecer no sonho alguém que já morreu. Indicações de alguma
espécie de destruição ou sentimento de paz (fuga).

Considerações Finais e Gerais:


01. No tratamento, os sonhos representam, comumente, o
psicoterapeuta e/ ou a situação terapêutica. O terapeuta aparece
representado por alguém que se tem empenhado em prestar um serviço
ao paciente. A alusão pode ser lisonjeira ou pejorativa;
02. A maneira como o analista é representado, no "fio de história" do
sonho, é uma pista para a natureza da situação de transferência da
ocasião;
03. Às vezes, o analista pode ser dotado, no sonho, de atributos (físicos
ou caracterológicos) que exibam uma semelhança com o verdadeiro
analista, enquanto em outras oportunidades essas características são
evidentes projeções de outras figuras do passado do indivíduo, ou
representam aspectos da própria personalidade do paciente;
04. O paciente pode encontrar-se, em seu sonho, embarcando numa
viagem de exploração através de território desconhecido, significando o
processo de psicanálise;

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05. O ônibus é um símbolo especialmente interessante, pois conduz


muitos passageiros: os outros pacientes do analista, os colegas de
trabalho do paciente, membros de sua família adulta ou da infância;
06. O consultório do analista, disfarçado e modificado de vários modos
é um cenário frequente no conteúdo manifesto dos sonhos na terapia;
07. As referências aos honorários são especialmente frequentes no
início da análise, e também próximo ao dia do pagamento;
08. É axiomático dizer que todo sonho, de um modo ou de outro, liga-
se ao sonhador. "Os sonhos são completamente egoísticos";
09. A pessoa que desempenha o papel principal no sonho será sempre
reconhecida como o sonhador;
10. Ocorre também, com frequência, que o sonhador separe sua
neurose, sua personalidade doentia de se mesmo e a descreva como uma
pessoa independente. Assim, a parte doentia do sonhador pode ser
representada, no sonho, por uma pessoa que seja doente, idosa, louca,
deformada ou aleijada, ou como um mártir, santo ou figura semelhante
a Cristo. Alguns incluem o demônio nos sonhos, como, na verdade, sua
neurose;
11. Alguns pacientes sonham que se olham num espelho. Esses
sonhos podem referir-se ao reconhecimento, por parte do indivíduo, que
a análise é um meio de olhar para si mesmo e seus conflitos;
12. Algumas vezes, nos sonhos, os companheiros, referem- se aos da
infância ou da adolescência, com os quais o sonhador compartilhou
experiências que tem vergonha de discutir com o terapeuta;
13. Animais selvagens podem significar pessoas num estado de
exaltada sensualidade e, além disso, instintos ou paixões perversas;
14. Animais selvagens podem representar a libido, uma força temida
pelo Ego e combatida por meio da repreensão;
15. Um sonho é, em geral, mais pobre em afeto do que o material
psíquico de cuja manipulação ele resultou;
16. Embora as emoções possam ser suprimidas inteiramente no sonho,
elas podem aparecer imediatamente após. O paciente pode despertar
sentindo-se ansioso ou deprimido;
17. Quando procura entender um afeto no conteúdo manifesto de um
sonhador, o terapeuta deve, sempre, considerar a possibilidade de que
esse afeto possa, também, representar seu oposto. Alegria, humor e
tranquilidade se referem, às vezes, à tristeza, pesar e alvoroço. A tristeza
pode, por sua vez, ocultar algum prazer proibido;

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18. A pessoa que, no sonho, sente uma emoção que eu mesmo


experimento em meu sonho, é aquela que oculta o meu Ego;
19. Os sonhos de ejaculação podem ocorrer com ou sem orgasmo;
20. Às vezes, parece não haver nenhuma emoção no sonho, mas a
inibição de movimentos é simplesmente uma parte do conteúdo do sonho;
21. A inibição de movimentos, no sonho, indica o grau de conflito e
expressa a ideia de que nenhuma das soluções alternativas é
inteiramente satisfatória;
Nos sonhos, a hora do dia, com muita frequência, representa a idade do
sonhador em algum período específico da infância; A hora, num sonho,
pode representar, também, uma condensação de outros sentimentos e
desejos;
22. Os sonhos com expressões, como: "no alto" ou "em cima", podem
referir-se ao céu, a alguém que faleceu ou a alcançar o ápice do sucesso;
23. Direita e esquerda têm sentido ético em sonhos. O caminho da
direita sempre quer dizer o caminho da retidão, e o da esquerda o do erro;
24. Os elementos mais nítidos de um sonho são o ponto de partida das
mais numerosas linhas de pensamentos, etc;
25. Em muitos casos, os elementos cor obedece ao uso mais
tradicional: amarelo: covardia; verde: ciúme; vermelho: paixão ou sangue;
cinza: depressão; pardo: fezes; púrpura: nobreza;
26. O preto, em sonhos, costuma aludir à morte, mas pode referir-se,
ainda, a impulsos sexuais grosseiros ou agressivos;
27. A cor branca pode significar morte, mas também pode referir-se à
pureza ou à inocência;
28. Os números podem ter significação especial: há o caso de alguém
que sonhou com o número 34 ½ metade de 69;
O número 9, quase sempre, significa os meses de gestação;
Uma mulher sonhou com a seguinte fórmula: M/ W + 9 = B;
O número 5 pode referir-se aos dedos no ato da masturbação;
Nos sonhos, os números são arbitrários: nove pode significar nove dias,
ou meses, etc.;
29. As palavras pronunciadas no sonho são derivadas de palavras
realmente ditas, recordadas no material do sonho;
30. Um comentário dito num sonho, frequentemente, nada mais é que
uma alusão a uma ocasião na qual o comentário em questão foi feito;

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31. Às falas em sonhos, podem referir-se ao que o paciente tenha


ouvido, lido ou visto num anúncio, livro, jornal, revista, filme ou
programa de rádio ou TV;
32. Ocasionalmente, uma fala, no sonho, é uma distorção ou uma
reversão de um pensamento real durante o dia do sonho.

DISCIPLINA 5: PSICANÁLISE E COMPLEXO DE ÉDIPO

CONCEITO GERAL

O mito de Édipo
É conhecida a lenda e o mito de Édipo. Ele é a grande vítima de uma
maldição que tinha por objetivo punir Laio, seu pai, Rei de Tebas. Ele
vivera um amor proibido com Cresipo, o qual cometera suicídio, temendo
seu pai, o Rei Pélope. Este diante da morte do filho, amaldiçoa Laio e seus
descendentes.
Laio ouve do Oráculo de Apoio: "Se tiver um filho, será morto por ele e sua
mulher o esposará". Temendo a maldição, quando Jocasta dá à luz, este
poupa-lhe a vida e o entrega a um pastor que o leva ao Rei Pólilo, de
Corinto, sendo criado por ele como filho.
Anos mais tarde Édipo vem, a saber, que é adotivo e, angustiado,
consulta o Oráculo de Apoio, ouvindo dele: "matarás teu pai e casarás
com tua mãe". Desesperado com esta profecia, Édipo abandona o lar. Na
fuga, chega a uma encruzilhada e, num acidente, discute com o cocheiro.
E agredido pelo senhor, reage com grande violência, matando os dois.
Segue seu caminho, isto é, o seu destino.
Chegando a Tebas, Édipo, para entrar na cidade, tem que decifrar o
enigma da Esfinge, monstro que amedronta e mata as pessoas.
— "Qual é o animal que de manhã tem 4 pés, ao meio dia tem dois e
ao entardecer tem 3?" Responde Édipo:
— "O homem, que na infância se arrasta sobre os pés e mãos, na idade
adulta anda e na velhice recorre à ajuda de um bastão." Édipo decifra o
enigma da esfinge e esta, vencida, se atira do despenhadeiro, deixando
Tebas livre. Aclamado pelo povo, Édipo recebe por prêmio a mão da
rainha Jocasta e o trono. Nasce dessa união: Etéocles, Polinice, Ismênia
e Antígona.
Depois de anos de prosperidade, uma peste se abate sobre Tebas.
Consultado, o Oráculo de Apoio diz que o castigo é divino, pois a cidade
abriga o assassino de Laio. Édipo envia todas as pessoas do reino a
procurá-la, disposto a não poupar esforços para encontrá-lo e dar-lhe o

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merecido castigo. Por ironia do destino, Édipo tornou-se o investigador


do seu próprio crime, vivendo o herói trágico.
As peças de um quebra-cabeça vão se encaixando nesta investigação. O
mesmo emissário que trouxe a notícia da morte de seu pai, Rei de
Corinto, diz-lhe a verdade de sua origem: fora entregue ao Rei Pólipo por
ele mesmo, quando rejeitado pelo Rei de Tebas.
Édipo entra em desespero ao ver que se cumpriu a maldição: matou seu
pai, casou-se com sua mãe e agora só pode maldizer seus próprios filhos.
Jocasta tranca-se no quarto de onde vêm seus gritos de dor. Édipo, aos
prantos, força a porta e vê-se frente a uma cena terrível: a rainha
suicidara-se e seu corpo pendia inerte, enforcado. Édipo retira de seu
vestido os alfinetes de ouro e com eles vaza os próprios olhos.
Para punir-se vai para o exílio, cego e só, para pagar por seus crimes. A
auto investigação de Édipo levou-o a confrontar-se com um criminoso,
parricida e incestuoso. Fê-lo descobrir sua verdadeira identidade, a ver-
se numa revelação, que ele mesmo não pode suportar.
1.1-O Édipo de Freud
O tema que será desenvolvido na presente apostila, refere-se ao Édipo
freudiano. Para começar, algumas perguntas:
Édipo é o inocente, vítima da trama do destino que Freud usa para
mostrar a fragilidade humana?
Édipo representa o ser humano, que para escapar a um destino trágico,
vive num equívoco, sem saber de sua identidade?
Freud quer dizer que cada um de nós é um outro Édipo, na busca da
verdade de sua própria existência?
Como pré-resposta cumpre lembrar que Freud não apresenta uma
exposição sistemática do Complexo de Édipo, na formulação de sua teoria
psicanalítica. Através da análise de seus pacientes ele primeiro descobre
que as fantasias sexuais eram usadas para dissimular a vida sexual da
criança e sua atividade autoerótica.
O passo seguinte para a criação do Complexo de Édipo foi a 'autoanálise
de Freud, quando ele reconheceu em si o conflito de sentimentos gerados
pelo amor à mãe e os ciúmes do pai. Em carta a Fliess (15 de outubro de
1897) Freud escreve: "... a lenda grega capta uma compulsão que toda
criança reconhece

porque sente sua presença dentro de si mesmo. Cada pessoa na plateia,


um dia, em germe ou fantasia, foi exatamente um Édipo como esse, e
cada qual recua, horrorizado, diante da realização do sonho, aqui

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transposto para a realidade, com toda carga de recalcamento que separa


seu estado infantil do seu estado atual. " (Freud Edição Standard
Brasileira, vol. l, p. 30.)
Freud considera que esta é uma experiência que transcende a vivência
individual, sendo, portanto, um evento universal, no início de todas as
infâncias.
Assim fala Freud:
"Se Édipo Rei é capaz de comover um moderno leitor ou frequentador de
teatro não menos poderosamente do que comoveu os gregos de antanho, a
única explicação possível é que o efeito da tragédia grega não depende do
conflito entre o destino e a vontade humana, mas da natureza peculiar da
matéria, através da qual esse conflito se revela. Deve existir uma voz,
dentro de nós, que está preparada para reconhecer o poder coagente do
destino no Édipo Rei... E existe realmente um motivo no Édipo Rei que
explica o veredicto dessa voz íntima. Seu destino comove-nos, somente,
porque poderia ter sido o nosso, porque o oráculo fez recair sobre nós, antes
de nosso nascimento, apropria maldição que sobre ele tombara.”
(Idem, p. 28) O grande pensador sabe aproveitar toda a força dramática
/ trágica do teatro grego clássico. Há fatores ligados a Zeus ou ao destino,
acima da decisão humana. Existem imprintings ou marcas escritas que
acompanham o humano desde seu nascimento.
E prossegue Freud:
"Pode ser que estivéssemos todos destinados a dirigir nossos primeiros
impulsos vitais para nossa mãe, e nossos primeiros impulsos de ódio e
resistência para nosso pai; nossos sonhos nos convencem de que, de fato,
estávamos. O Rei Édipo, que assassinou seu pai Laio e desposou sua mãe
Jocasta, é nem mais nem menos do que um desejo-efetivação: a efetivação
do desejo de nossa infância. Mas nós, mais felizes do que ele, na medida
em que não nos tornamos psiconeuróticos, logramos* desde nossa
infância, afastar de nossa mãe os nossos impulsos sensuais e esquecer
nosso ciúme em relação a nosso pai. Repugna-nos a pessoa em quem esse
primitivo desejo de nossa infância se concretizou, com toda a força de
repressão que esses desejos desencadearam em nossas mentes, desde a
infância. "
Em seguida Freud desenvolve a ideia de culpa. Para ele todos nós
carregamos impulsos semelhantes aos de Édipo da lenda.
À medida que o poeta vem trazendo a culpa de Édipo para a luz por meio
de sua investigação, força-nos a ganhar consciência de nossos próprios
íntimos, nos quais os mesmos impulsos estão ainda latentes, embora se
encontrem suprimidos... Como Édipo, vivemos na ignorância dos desejos
que ofendem a moralidade, desejos que a natureza nos impôs e, depois

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de desvendados, talvez prefiramos desviar nossos olhares das cenas de


nossa infância. "
1.2 — Objetivos
O objetivo do presente estudo é permitir ao psicólogo e ao analista uma
compreensão básica do grande postulado de Freud. Simultaneamente
estabelecer alguns parâmetros que

permitam situar o Complexo de Édipo no conjunto da teoria freudiana da


psicanálise.
1.3 — Justificativa
As razões que justificam a escolha do tema são de caráter subjetivo e de
caráter objetivo. Pessoalmente, na vivência do atendimento clínico, são
inúmeras as situações em que os sentimentos íntimos do cliente
manifestam a correta formulação teórica de Freud.
Em termos objetivos cumpre alinhar como justificativas:
Na psicanálise freudiana o postulado do Complexo de Édipo ocupa uma
posição de relevo.
A repercussão desta ideia de Freud entre os teóricos da psicanálise foi
muito ampla e continua a crescer.
Não obstante a quantidade de estudos sobre o assunto na literatura
especializada, ainda são poucos os estudos brasileiros sobre o assunto,
razão esta que ajudou a nos decidir pelo tema.
1.4 — Metodologia
Trata-se de uma pesquisa exploratória, baseada na boa literatura
específica. Uma revisão bibliográfica, portanto, constituirá o necessário
ponto de partida. Na codificação do conteúdo e em seu aprofundamento
será aproveitada a experiência clínico-profissional da autora.
2.- O COMPLEXO — FREUD — PSICANÁLISE
2.1 — Surgimento do termo "complexo" Criada por Jung*, a palavra
complexo foi assumida por Freud. Este logo o desligou da ideia de
associação de termos como praticava Jung. Freud o deslocou para
explicação do mundo do inconsciente, sua grande criação.
Para Jung, complexo significa:
"Associação de ideias em torno de um conteúdo emocionalmente
carregado, os quais foram reprimidos, mas podem surgir na consciência,
sob múltiplos disfarces, para exercer importante influência no
comportamento e no pensamento do indivíduo”. (Aligemeines Zur

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Komplex-Theorie, 1934.) Este conceito foi integralmente aceito pela


psicanálise freudiana e passou a constituir um elemento central na teoria
da ansiedade e culpa neurótica. (Cabral, 1971.)
•Jung nunca perdoou o "roubo" de Freud. Separados desde 1913, Jung,
tempos depois, em 1934, ainda se i do colega.
Segundo Mucchielli (1976), nossos complexos estão lá, não se integram
no nosso eu. Guardam sua autonomia e estão sempre prontos a saltar
do passado/inconsciente para nosso presente/consciente, sem qualquer
consulta e sem qualquer autorização do nosso eu. A reação "complexal"
brota com a força de um bloco de granito. Equivale a um golpe ou uma
pedrada que o indivíduo só percebe quando se inibe em dada situação,
perde o autodomínio, falha e não reage como gostaria. Na concepção de
Jung o complexo seria uma "vida parasitária" (poderíamos dizer uma
"ameba"), uma consciência crispada em uma alma desconhecida, que
surge de repente, surpreende, abala ou mesmo derruba um ser humano.
Característica dos complexos é sua origem individual. Inscrevem-se na
história de cada um.
"...são acontecimentos do passado tais como foram vividos pela Eu, com
seus meios próprios e no estado geral onde se encontrava na época
considerada." (Mucchielli, 1976).
Trata-se, portanto de uma "realidade psicológica", não de uma realidade
material histórica, como dizia Freud na "Interpretação dos Sonhos"
(Traumdentung), em 1900.
Temos, assim, que os complexos são conglomerados ou "pacotes", com
um componente afetivo e semi-racionais, não localizados na consciência.
Todavia eles incomodam, "chateiam", provocam as defesas naturais do
eu pelo esquecimento, sublimação, negação e outros mecanismos de
defesa. Naturalmente nada disto ocorre no nível da consciência.
2.2 — O complexo de Édipo
Este é o complexo dos complexos e representou em Freud uma orientação
totalmente nova. Por ele descrito em 1903, O "Complexo de Édipo"
constitui um núcleo, um bloco de sentimentos específicos e de grande
influência na vida emocional das crianças entre 3 e 5 anos. Usando uma
linguagem simplificadora, podemos afirmar que esses sentimentos são de
dupla natureza. Tanto significam atração e admiração do filho pela mãe
e da filha pelo pai como também

inveja, hostilidade e até mesmo desejo de morte para o genitor do mesmo


sexo.

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183

Cada criança pode figurar de diferentes formas seu amor / desamor


particular, em função desses sentimentos edipianos. Essas reações se
situarão num contínuo desde um mero condicionamento, uma "tara"
psicomotora crônica ou não, até um grave defeito de caráter, podendo
chegar ao nível de doença psíquica", neurose ou psicose.
A natureza do complexo, na explicação freudiana, tem uma forma
positiva. O filho deseja matar o pai para esposar a mãe, consoante o
drama do Édipo-Rei, narrado por Sófocles. A filha deseja a eliminação da
mãe para casar-se com o próprio pai. É o "Complexo de Electra",
terminologia não freudiana*. Mas o complexo também se manifesta numa
versão "negativa". Aí se dá, inversamente, o amor pelo genitor do mesmo
sexo e ao genitor do sexo oposto ódio e inveja. Freud não receou
universalizar sua hipótese. Todo ser humano, de qualquer cultura,
constrói / estrutura a própria vida afetiva. A partir daí todos têm de
resolver seu complexo e ficam marcados pela forma como o fazem.
"Se recalcado, não-resolvido, o "complexo" cairá no inconsciente,
alimentará todas as perturbações patológicas da personalidade, todas as
aversões do eu e todos os outros "pequenos complexos " da vida cotidiana
que são seus desfechos. " (Mucchielii, 1976).
Para Freud, o Complexo de Édipo / Electra é um locus central do
inconsciente. Por que este nó edipiano, pleno de sentimentos violentos e
antagónicos, não se desfaz naturalmente? Aqui nos deparamos com a
ideia do sentimento de culpa, cuja adequada compreensão é fundamental
para a psicanálise. O desejo prestar (atenção neste significante!)
incestuoso e o desejo do assassínio estão plenos de culpabilidade e de
punição social. Culpa e angústia despertam também as proibições /
restrições familiares às manifestações de amor edípico. O termo angústia
(Angst, em alemão) para Freud é mais do que ansiedade. E o próprio
étimo da palavra o sugere, pois, em latim angústia é estreitamento /
sufocação. Assim, por volta dos 5 anos, o complexo recalcado, se enterra
no inconsciente da criança. Começa, aí, portanto, a fase de latência do
Complexo de Édipo. Ele ficará adormecido / incubado, governado pelo
superego e só voltará a manifestar- se na puberdade. Neste momento,
eclode, então, com toda força. A partir daí, o Complexo de Édipo vai
mostrar seu papel decisivo na orientação dos desejos sexuais do ser
humano.

2.3 — Complexo de castração


Da ideia / sentimento de culpabilidade, Freud deduz a existência do
Complexo de Castração, uma consequência do problema edipiano. A
partir de 1908 os dois complexos caminham juntos na teoria freudiana

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clássica. Não aplicamos, evidentemente, a esta associação argumentos


exclusivamente racionais, injustificáveis em psicanálise. À angústia da
culpabilidade, originada do Complexo de Édipo, se alia o Complexo de
Castração. Tudo decorre do medo de punição. O menino, possuidor de
desejos culposos teme ser castigado pelo pai. A menina, como não tem
mais pênis, atribui sua castração à punição materna.
Toda a construção freudiana se baseia na suposição de que, no período
dos 3 aos 5 anos, acontece a idade fálica.
"A unidade do complexo de castração nos 2 sexos só é concebível por um
fundamento comum. Ofalo-objeto da castração reveste-se de importância
igual para a menina e para o menino. A questão colocada é a mesma: ter
falo ou não ter. " (Vocabulário de Psicanálise, citado por Mucchielli,
1971).
É válido concordar com o fato de que entre 3 e 5 anos se dá a aceitação
do próprio sexo. Daí decorre uma provável autoafirmação interior. Mas
também se deve acrescentar a este interesse anatômico pelo sexo todo o
sistema de relações afetivas na constelação familiar, durante o período
dos sentimentos edipianos.
Na visão freudiana, Édipo / Castração é um pivô axial de toda a vida
humana. E o complexo dos complexos. A vida do ser humano está repleta
de outros escolhos / complexos de importância menor: de inferioridade,
de rejeição, de gata borralheira, etc. Como também de outros mais
"acadêmicos", como Complexo de Cronos, de Juno, de Caim, de Diana e
quejandos. Mas para Freud todos eles se reportam ao Complexo de Édipo,
quando não são manifestações escamoteadas do próprio. Nada
conseguirá a terapia que não apelar para as fontes primordiais do
inconsciente e descobrir como se deu sua evolução. Todas as fobias,
angústias, medos, ansiedades teriam a ver com o medo de castração,
ligado à culpabilidade edipiana.
Uma culpa original, quer na visão mosaica ou neo-mosaica estariam na
raiz da psicanálise freudiana? Independente das especulações possíveis
fica bem claro que o estudo do sentimento de culpa será uma diretriz
mais que oportuna. Foi este mesmo caminho que escolhemos para o
presente estudo.

2.4 — Complexo de Édipo e culpa humana: uma trajetória de estudo


Também o Complexo de Édipo, a invenção fundamental da Psicanálise
foi revelada, inicialmente, através do estudo dos sonhos. Como chegar
até lá sem violentar a progressividade da trajetória? Pois, para Freud,
esta trajetória foi longa e pontuada de ansiedade.

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O caminho do presente trabalho não deixa de ser arriscado. A pretensão


é refazer, em companhia de Freud, o caminho da criação da psicanálise,
sublinhando o sentimento de culpa. Freud foi um teorizador sui generis.
Fazia-se de cobaia das próprias ideias e se autoanalisava
permanentemente.
Sem falar na contribuição de seus próprios sonhos que ele capitalizou e
aproveitou em sua teoria.
Mas, o que se pretende para o estudo em causa, é a reconstituição
puramente pessoal dos passos de Freud. A pretensão é ver esta trajetória
sob uma hipótese — a ideia de culpa. Parece que Freud trilhou
exatamente este roteiro. E não trabalhou a culpa em abstrato, eis que foi
vítima da mesma. A morte do seu pai, pobre e perseguido não o
abandonou nos sonhos. O "Édipo Rei", foi também o "Édipo Jakob
Freud".Mas é conveniente retomar a trajetória dos sonhos, por onde tudo
começou.
2.5 — Sonhos — mitos — simbolismo
Seguindo esta pista será possível desvelar aspectos vários da psicanálise,
ainda que tudo depois necessite ser costurado. Falar em sonhos é falar
no simbólico. Freud induziu da experiência dos sonhos— os seus e os
alheios— uma nova dimensão do ser humano. Sobre a importância do
simbólico, o filósofo Ernst Cassirer, ampliando as ideias de Dilthey, tem
coragem de afirmar: "Razão é um termo muito pouco adequado para as
formas da vida cultural do homem em toda sua riqueza e variedade. Mas
todas estas formas são simbólicas. Portanto, em lugar de definir o homem
como um animal racional, deveríamos defini-lo, como um animal simbólico.
Deste modo, podemos designar sua diferença específica e podemos
compreender o novo caminho aberto ao homem: o da civilização. " (Cassirer,
1972.).
Já um moderno seguidor de Freud, Erich Fromm, é muito mais explícito,
a respeito. Começa por lamentar como, desde o racionalismo clássico,
passando pelo iluminismo e chegando ao positivismo do século passado:
"... o homem moderno considerou os muitos sonhos como produtos
indefinidos da imaginação humana, não possuindo qualquer sentido e
não merecendo ser tomados seriamente." (Fromm, apud Mullahy, 1978).
A seguir valoriza o trabalho de Freud e de todos aqueles que souberam
ler a linguagem simbólica, portanto a linguagem verdadeiramente
humana, na concepção defendida pelo filósofo Ernst Cassirer. "A razão
por que se desprezavam os mitos e sonhos estava na dificuldade em
compreender o idioma próprio dos mesmos, a linguagem simbólica na
qual as experiências sensoriais são utilizadas para exprimir experiências
íntimas, em que o mundo das coisas se converte num símbolo do mundo
do espírito. A linguagem simbólica é o único idioma comum de toda a

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raça humana, pois que todos os homens compartilham certas


experiências básicas e são capazes de as exprimir numa linguagem
pictórica, que não está confinada às fronteiras de qualquer cultura ou
idioma particular. " (Idem, ibidem)
Mas existe, segundo Fromm, um sadio retorno ao passado no sentido de
valorizar os símbolos quer para a sociedade quer para o indivíduo. E
ressalta a arte ou hermenêutica, como no caso a freudiana, de ler e
interpretar os símbolos.
"Todas as grandes culturas do passado consideram a linguagem simbólica
e, portanto, os sonhos e mitos, como altamente significativos e como
expressões de experiência universais e individuais; a compreensão de
símbolos converteu-se numa arte com importante função cultural. Mas, ao
passo que continuamos todos falando essa linguagem, em nossos sonhos,
esquecemos, entretanto, seu significado, para considerável detrimento de
nossa percepção do passado da raça humana e da profundidade de
nossas experiências." (Idem, ibidem).
Mas Freud foi muito mais longe. Buscou corporificar, em um edifício
doutrinário, os aspectos simbólicos do ser humano. Para melhor
localização do amplo e pulsante edifício intelectual do Mestre é
conveniente fazer uma análise geral desta construção.
Basicamente o caminho de Freud começa numa luta com a neurose /
histeria, fonte de sofrimento e, como ele logo observou, fonte também de
culpa. Deixando os detalhes, alguns importantíssimos, para um encaixe
posterior, assim se pode visualizar a construção do grande terapeuta.
Esta síntese se faz necessária para melhor situarmos a temática que
elegemos.
2.6 — Psicanálise: a construção é mais que o edifício
Trata-se de uma construção que Freud vai alicerçando e levantando aos
poucos. Podemos afirmar que ela se fundamenta um conjunto de
postulados.
1.A psicanálise surge com a proposta inicial de um método para
identificar as causas e propor medidas de cura das neuroses.
2.Freud, numa espetacular intuição, formula a tese do inconsciente
humano. Ai se acumulam os complexos (tumores psíquicos)
"desagradáveis", "inevitáveis", "irresistíveis" porque existe, a nível de
consciência um elemento avaliador chamado "censura" (superego).
3.Cabe à censura eliminar os complexos empurrando-os para o
inconsciente (o id.). Quando não o consegue, os complexos retornam da
zona pré-consciente e passam a condicionar muitos atos da vida
consciente que não podem ser compreendidos por uma análise
superficial. Freud é bom notar, aceita este determinismo.

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4.O consciente é então assaltado pelos erros, os atos falhos, os equívocos,


os atos reprováveis. Tudo isto toma o sentido de símbolos ou fantasmas
ou representações de complexos que, assim disfarçados, invadem a
consciência.
5.O psiquismo consciente (o ego) se forma, em grande parte, por esta rede
de complexos repelidos (recalcados) e novamente retomados.

6.A psicanálise enquanto terapia, ante o desafio de determinar as causas


das perturbações psíquicas em que consiste? Consiste exatamente em
estabelecer um vínculo de conservação com o paciente. (Ver o conceito de
transferência.) O analista deverá então proceder à análise dos gestos,
sonhos e também de todos os símbolos e sinais. Nesta análise, analista e
analisando vão procurar a verdadeira qualidade dos complexos. É normal
que o paciente os desconheça, pois os rechaça (recalca) habitualmente,
expulsando-os de sua consciência.
7.A cura completa advém da representação consciente pelo analisando
da causa verdadeira dos seus transtornos. Neste momento deve
acontecer a catarse, que supera o nível da censura.
8.Qual o sinal de que os complexos foram totalmente erradicados? O sinal
é quando a consciência pode vê-los sem censurá-los. Ou seja, quando
não são mais escorraçados para o inconsciente.
9.Mas a psicanálise já deixou de ser apenas método terapêutico
atualmente é vista por muitos pensadores como uma interpretação válida
e completa da vida psíquica. Outros vão além e consideram a psicanálise
como concepção geral do próprio homem e de toda a vida humana.
10.Esta interpretação totalizante se torna possível pela hipótese de que o
fator sexual é o fator predominante da vida humana.
11.A união do inconsciente com o sexual levou Freud a uma
interpretação não só das perturbações, mas também das

sublimações, ou seja, da própria vida espiritual do homem. Estes atos


espirituais elevados funcionam como repressões e negações dos atos
inferiores, chegando enfim à sua eliminação na consciência.
12.Há quem veja a psicanálise como uma teoria total do homem, uma
verdadeira concepção de ser humano. Trata-se de uma autêntica
interpretação filosófica.
13.Cumpre assinalar que a hipótese do pansexualismo (via libido) foi
progressivamente abandonada por Freud. Ele fez intervir outros fatores,

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como o "impulso de destruição", situado muito além do "princípio do


prazer."
De posse de um mapa geral freudiano fica mais exequível desenvolver o
projeto pretendido no presente estudo. Cumpre observar que a descrição
acima referida não seria unanimemente aceita. As ideias de Freud se
confundem com a própria história e peripécias de sua vida.
Afirma um seu comentarista:
"...a teoria freudiana, ainda tal como as outras teorias, possui uma
história; tem um princípio e uma evolução. Não é nosso propósito contar
aqui a história dessa evolução. Não obstante, podemos observar que, à
medida que prosseguia em suas investigações, através dos anos, Freud foi
obrigado, como seria de esperar, a modificar algumas de suas teorias, a
acrescentar outras e a alterar o significado de algumas das propostas, à
luz do todo. Qualquer das ideias próprias de Freud, como a do complexo
de Édipo, não pode ser adequadamente compreendida quando isolada.
Terá de ser entendida à luz de suas outras ideias sobre a evolução
humana". (Mullahy, 1978, p. 29.)
2.7 — Uma caminhada até o Complexo de Édipo
Muitos roteiros são possíveis. Parece conveniente acompanhar tanto
quanto possível a trajetória do próprio Freud. Isto implica, de saída,
valorizar o papel dos sonhos como ele próprio o fez. E, a partir daí,
observar um balizamento, distribuído em várias etapas:
1.A constatação da ideia de culpa;
2.Análise do "sentimento de culpa", como visto por Freud;
3.Forças masoquistas e reações terapêuticas negativas podem não ser
reconhecíveis e talvez fujam à regra geral que é o princípio do prazer;
4. Complexo de inferioridade, seu aspecto exótico e sua relação com
o sentimento de culpa;
5. Outras culpas ligadas à fatalidade, a "neurose de destino". Reações
terapêuticas negativas, pulsões de morte;
6. A trajetória do racionalismo ao simbolismo dos sonhos e à
concepção do inconsciente;
7. Como localizar a culpa no inconsciente.
Este é o mapeamento inicial. Depois veremos que a complexidade do
pensamento freudiano nos obrigará a outras incursões pelo mundo
sedutor da psicanálise.
FREUD COMEÇA PELO SENTIMENTO DE CULPA
3.1 — O ponto de partida

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Uma retomada do caminho bíblico, este parece ser o ponto de partida de


Freud. O Complexo de Édipo tem, na teoria psicanalítica freudiana, a
mesma força que possui o pecado original na religião mosaico-cristã. As
coincidências são muitas. A ideia de pecado está igualmente associada a
uma queda, um ato culposo. A história do pecado original vem narrada
em forma mítico-poética, característica da linguagem do 1° livro do
Pentateuco, o Gênesis. Trata-se de um ato individual, que ocorre num
momento de inocência. O Éden relembra a infância. Há um Superego
Divino, o próprio Javé. Há o componente sexual — já que Adão e Eva se
descobrem nus. Mas, essencialmente, existe a quebra de uma norma
proibida. Distingue-se, também, um apelo ao inconsciente, já que a culpa
nunca se apaga e sempre se transmite à geração seguinte. Ela macula as
gerações que estão nascendo, há milhares de anos, sujeitas ao evento /
mito gerador da culpa, mesmo inexistindo qualquer memória pessoal a
respeito.
Pela doutrina religiosa se explica a culpa. E a religião também poderá
servir-lhe de terapia. Pois já nasceu, há 2.000 anos, o Redentor que
expiou a queda primeira, com sua própria vida e instituiu a prática do
batismo. Este é sacramento / instrumento de caracterização dos que
passam a ser filhos de Deus, purificados da mácula original.
Todas as culpas e fracassos humanos têm a ver, na concepção freudiana,
com o Complexo de Édipo. Será uma interessante linha de pensamento,
refazer, em companhia de Freud, a trajetória da culpabilidade humana,
sua sistematização científica pela psicanálise e seu significado para as
pessoas e para a própria humanidade.
3.2 —Culpa — culpabilidade
Necessidade de castigo- “É válido afirmar que toda a psicanálise de Freud
nasce da constatação de que seus pacientes manifestavam
comportamentos sofridos de quem errou ou delinquiu. Ele registrou os
comportamentos das histéricas que ele assistia, dos deprimidos, dos
neuróticos obsessivos. Autoestima em baixa, resistência à cura, desprezo
pelos progressos pessoais alcançados, revelavam pessoas que se
consideravam obrigadas à punição. Freud criou a expressão "sentimento
inconsciente de culpa”. Não era uma boa expressão, embora tenha
persistido até nossos dias.
É curioso notar que o sentimento (psicológico) de culpa se assemelha à
ideia religiosa de pecado. Mas, neste caso, à exceção do pecado original,
o pecador tem ideia clara do preceito que descumpriu e do perdão (com
ou sem pena) que lhe é dado obter. Ou seja, tudo acontece no nível da
consciência.
Já a culpa psicológica, revela estado de tensão entre o ego e o superego.
São efeitos subjetivos, cuja etiologia o indivíduo não consegue analisar

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sozinho. Difícil encontrar um ser humano que não se sinta merecedor de


algum tipo de expiação*. O homem encontra mil motivos para culpar-se:
fracassos, atitudes de submissão, vergonha de si mesmo, audácias
descabidas, autopunições, medos, ansiedades, ambição pelo poder.
Todas são formas de colocar-se acima da justiça. É a manifestação do
próprio desejo (auto reprovado) de perfeição ou de felicidade.
Neste eixo se situa a chave da psicanálise. O homem se culpa por faltas
imaginárias que moram em sua memória. A primeira reação, reação
positiva de cura, é transferir a culpa para os ancestrais, os totens, os
demiurgos malvados e exorcizá-los. Enorme força catártica possuía o
simbolismo judaico da execração do bode expiatório, linchado e
empurrado para o deserto, para o desconhecido. Não teria sido o
inconsciente coletivo de JUNG uma outra saída, por ratear a culpa entre
todos os participantes de um grupo social?
Freud chegou a admitir que a expressão "necessidade de castigo" talvez
fosse mais adequada que "sentimento de culpa ".
Freud não advoga a existência da culpa original. Crê na inocência ética
da primeira infância*. A culpa nasce com a constituição do superego. O
que não elimina a hipótese de que o fenômeno da culpabilidade tenha
mais componentes culturais que psíquicos.
Não está descartada a hipótese de um superego masoquista, avesso a
propostas de cura por si mesmo, apoiado nas próprias forças. São
aqueles conhecidos e contundentes casos de fracasso de qualquer tipo de
psicanálise. O exemplo das compulsões — por drogas, sexo, comida, etc.,
— mostra o poder dessas forças irredutíveis que levam o indivíduo ao
sofrimento, à convicção da própria criminosidade e até à auto
aniquilação. Levam ainda, o que é paradoxal, a uma desconcertante
satisfação com a dor e suas circunstâncias. Trata-se neste último caso
do ego (masoquista) que quer ser surrado pelo superego ou que é
dependente de sádicos poderes / influências parentais exteriores.

3.3 — Culpa: como ela é vista pela psicanálise


Se o sentimento de culpa abre as portas à psicanálise, responde, em
contrapartida por questões que esta não conseguiu explicar. O
depoimento é do próprio Freud em Moisés e o Monoteísmo, "Análise
Terminável e Interminável":
Alias. Freud descurou, em sua teoria, do período infantil que decorre da
vida uterina até aos 3 anos. Ao que consta coube a Melaine Klein
preencher de forma competente este hiato, teorizando a respeito.
"Uma parte dessa força já foi por nós identificada, indubitavelmente com
justiça, como sentimento de culpa e necessidade de punição e foi por nós

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localizada na relação do ego com o superego. Mas essa é apenas uma parte
dela que, por assim dizer, está psiquicamente presa pelo superego e assim
se torna reconhecível; outras cotas da mesma força, quer presas, quer
livres, podem estar em ação em outros lugares não especificados. Se
tomarmos em consideração o quadro total formado pelos fenómenos de
masoquismo imanentes em tantas pessoas, a reação terapêutica negativa
e o sentimento de culpa encontrados em tantos neuróticos, não mais
poderemos aderir à crença de que os eventos mentais são governados
exclusivamente pelo desejo de prazer." (Freud, ESB, vol. XXIII, p. 276.)
É bom lembrar que se trata do Freud de 1937, já em traslado de Viena
para Londres. Como se vê, o sábio, na maturidade, tem a coragem de
submeter-se à autocrítica.
Mas convém prolongar um pouco a questão da culpabilidade como vista
pela psicanálise freudiana, não obstante a permanência de aspectos
obscuros. Perguntemos a Freud: como ele vê os sentimentos de
inferioridade? Que outra coisa seriam se não confissões de culpa?
Assim depõe o Mestre:
Aceitações serão sempre da ESB — Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Freud, publicadas pela IMAGO Editora durante a década
de 70. É conveniente relembrar que esta edição é acusada de
interpretações.
..."complexo de inferioridade" é um termo técnico quase nunca usado em
psicanálise. Para nós, ele não comporta o significado de algo simples
nem, muito menos, de algo elementar.
O sentimento de inferioridade possui fortes raízes eróticas. Uma criança
sente-se inferior quando verifica que não é amada, e o mesmo se passa
com o adulto. O único órgão corporal realmente considerado inferior é o
pênis atrofiado, o clitóris da menina. A parte principal do sentimento de
inferioridade, porém, deriva-se da relação do ego com o superego; assim,
como o sentimento de culpa, é expressão da tensão entre eles. Em
conjunto, é difícil separar o sentimento de inferioridade do sentimento de
culpa talvez seja correio considerar aquele coma o complemento erótico
do sentimento moral de inferioridade. " (ESB. Vol XXII, p. 85.)
Há mais. Em "Além do Princípio do Prazer" (capítulo 3°) Freud analisa
aqueles indivíduos que nunca traem, mas são sempre traídos. Aqueles
que inexoravelmente recebem como paga de seu altruísmo toda sorte de
ingratidões e ofensas. São pessoas perseguidas por uma fatalidade
exterior, uma "neurose de destino". Freud coloca a causalidade desses
fatalismos, no próprio inconsciente. Usa expressões inovadoras como
compulsão à repetição. (Diríamos, hoje, compulsão a um "script".) Mas
acrescenta outra palavra forte, defendendo uma característica
"demoníaca" nas pessoas.

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E quanto ao fenômeno da "terapia negativa", ou seja, do indivíduo que


agrava seus sintomas durante o tratamento, buscando até mesmo a saída
do suicídio? Sabemos como Lacan foi perseguido por essa praga do
cliente suicida. Freud apela para algo além dos conhecidos conflitos entre
ego e superego.
Em Análise Terminável e Interminável (vol. XXIII da E SB) mostra que as
reações terapêuticas negativas estão diretamente ligadas à pulsão da
morte. Há, pois, muito de misterioso ainda, no mundo da culpabilidade
ou do pecado, com que não sonha a sexualidade infantil.
3.4 — Do primeiro sonho ao Complexo de Édipo
A meta de chegada do presente ensaio é o "complexo dos complexos" — o
Complexo de Édipo. Ele mesmo se nutre do princípio de culpa e para a
psicanálise freudiana é um ponto chave que muito explica a conduta de
todo ser humano.
Ouçamos, a respeito, as palavras de um filósofo brasileiro.
"... a racionalidade industrialista foi levada às consequências mais
radicais, através da operacionalização cultural de um vínculo estreito entre
o rendimento econômico-produtivo individual e a sanção moral. O Fordismo
representou a expressão mais significativa do puritanismo industrial norte-
americano, onde a coação moral exige o sacrifício da autonomia individual
da força de trabalho industrial, em nome da realização do mais alto nível
de produtividade.
"Isto pressupõe uma "domesticação" de sua estrutura de pulsões
instintivas, através da subjeção "... a normas sempre novas, mais
complexas e rígidas..." (Bartholo, 1986, p. 31)
A volta ao simbólico, estabelecida por Freud, foi a seu modo, outra
revolução copernicana.
Através do simbolismo dos sonhos, Freud intui, instaura e constrói o
edifício do inconsciente. "Se fosse preciso concentrar numa palavra a
descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente o
inconsciente. " (Laplanche e Pantalis, 1970, p. 307)
Esta frase do Vocabulário de Psicanálise faz justiça à corajosa atitude
intelectual de Freud. Antes dele, trabalhar com sonhos recendia a
arcaísmo, a esconsos míticos e místicos, a retrocesso ao mundo do
mágico, do conto de fadas. O mito pode ser uma das formas de apreensão
da realidade, não sem valor científico, como o tem demonstrado à
saciedade a antropologia cultural.
"Enquanto processo vivo de compreensão da realidade, o mito surge como
verdade. Quando pensamos em verdade, é comum nos referirmos às
explicações racionais em que a coerência lógica é garantida pelo rigor da

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argumentação e da exigência de provas. Mas não é essa a verdade do


mito, que é verdade intuída, isto é, percebida de maneira espontânea,
sem exigência de comprovações. O critério de adesão do mito é a crença,
e não a evidência racional”. O mito é, portanto, uma intuição
compreensiva da realidade, é uma forma espontânea de o homem situar-
se no mundo. E as raízes do mito não se acham em explicações
exclusivamente racionais, mas na realidade vivida, portanto pré-
reflexiva, das emoções e da afetividade. " (Aranha, 1994, p. 55.)
Assim o compreendemos na modernidade. Não era tal a reação dos
acadêmicos racionalistas do fim do século passado. Freud teve intuições
de gênio que abriram novos horizontes para a compreensão do ser
humano. A primeira delas foi a descoberta do inconsciente. A partir daí,
tudo o mais, em seu pensamento inovador foi uma consequência
coerente.

Análise do complexo de édipo, à luz da psicanálise freudiana


4.1 — Partindo do inconsciente
Pela via do sonho e das reminiscências presentes na histeria, Freud chega
à constatação de um novo "topos", o inconsciente humano. Assim o
explica:
"O inconsciente abrange, por um lado, atos que são meramente latentes,
temporariamente inconscientes, mas que em nenhum outro aspecto
diferem dos atos conscientes e, caso se tornassem conscientes, estariam
propensos a sobressair num contraste mais grosseiro com o restante dos
processos conscientes. " (ESB, vol. XIV, p. 198)
Foi só em 1900, na "Interpretação dos Sonhos", que Freud chegou à plena
noção de inconsciente. É verdade que já o intuíra, desde 1893, quando
trabalhava a histeria, na companhia de Breuer. É também verdade que o
inconsciente freudiano de 1900 ainda será bastante aperfeiçoado, sempre
através dos caminhos franqueados pela análise dos sonhos.
O inconsciente para o grande pensador é apenas o topo que reúne tudo
o que não está na consciência. É, além disso, um campo dinâmico, um
sistema em ebulição com suas características próprias, avesso à
realidade, mas com uma lei própria: a do prazer-desprazer, sinais que
caracterizam o mundo obscuro dos desejos humanos.
O inconsciente não é jamais um vazio. Possui conteúdos fantásmicos,
cujo acesso ao mundo do consciente ou mesmo do pré-consciente foi
vetado pelo recalque. Os conteúdos do inconsciente só costumam
ascender à consciência, através de encenações, cuja emoção e afetividade
representam a forma de se manifestarem. O inconsciente é rico em

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histórias imaginárias que refletem pulsões proibidas, desejos pouco


nítidos, mas de notável influência no psiquismo.
Neste sub-reino de desejos, a energia do psiquismo está sempre fluindo,
ou energia livre que segue os devaneios do princípio do prazer ou as
associações / conexões impostas pelo princípio da realidade. Na
"Interpretação dos Sonhos II", Freud aproxima consciente e inconsciente
e assim descreve nossa aparelhagem psíquica.
"Não pode haver dúvida de que o aparelho psíquico só atingiu sua
perfeição atual após longo período de desenvolvimento. A fim de chegar a
um dispêndio mais eficaz da força psíquica, é necessário dar um alto à
regressão, antes que ela se torne complexa, de maneira que não avance
além da imagem mnemónica e seja capaz de buscar outros caminhos que,
finalmente, conduzem à desejada identidade perceptiva, que está sendo
estabelecida a partir do mundo externo". (ESB, vol. 5, p. 602.)
Freud não cai na tentação de buscar relações tópicas entre desejos e
anatomia humana. Nada impede de usarmos metáforas tais como "o
coração é a sede do amor". Nem todos resistiram a esta tentação. É o caso
de Wilhelm Reich com suas couraças e tudo o mais.
Só em 1915, na Metapsicologia, Freud se permite tratar de "lugares
psíquicos". Mas age com toda cautela.
"Desprezarei inteiramente o fato de que o mecanismo mental em que
estamos aqui interessados é-nos também conhecido sob a forma de
preparação anatômica e evitarei cuidadosamente a tentação de determinar
a localização psíquica por qualquer modo anatômico". (ESB, vol. V, p. 572).
Mas antes dessas afirmações Freud, ainda em 1899, já havia afirmado:
"Apenas revelarei que o padrão onírico é capaz da mais ampla aplicação;
que também a chave da histeria realmente se encontra nos sonhos". (ESB,
VOL.I.).
4.2 — Para além do onírico
Freud teve o descortino de basear seus construtos teóricos na "ciência
dos sonhos". Por outro lado, pode ter-se como um predestinado pois ele,
Freud sonhou, conforme descreveu, sonhos de muito valor pedagógico.
Deles soube extrair muitas consequências, submetendo-os a uma
autoanálise de notável perspicácia.
" ... os sonhos não podem reivindicar importância prática, mas seu valor
teórico como paradigma, é por outro lado, proporcionalmente maior.
Quem quer que tenha falhado em explicar a origem das imagens oníricas,
quase não pode esperar compreender as fobias, obsessões ou delírios, ou
fazer com que uma influência terapêutica se faça sentir sobre elas. "
(ESB, vol IV.)

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E complementa com autoridade, afirmando que "os sonhos têm


realmente um sentido e que um método científico de os interpretar é
possível”. Esta é a primeira grande afirmação de Freud sobre os sonhos.
Mas ele defende também a ideia de que, pela via dos sonhos, o homem
realiza desejos.

É claro que nem tudo nos sonhos funciona perfeitamente. Pode acontecer
também que, a nível de consciência, inconsciência e pré-consciente, os
efeitos do sonho sejam diferentes. Poderá haver satisfações em um nível
de consciência, ansiedade em outro nível.
Quanto à existência de culpa nos sonhos, o melhor é aproveitar e analisar
as experiências do próprio Freud. Ilustram, com perfeição, a ideia de
culpabilidade.
Posteriormente, Freud institui os conceitos de ego (consciente) e superego
(inconsciente controlador). Mas sempre se serviu dos sonhos para melhor
entender o psiquismo. Acumulando exemplos consegue estruturar os
dois conceitos de condensação* e deslocamento**. São esses que
explicam o mecanismo dos atos falhos, esquecimentos, "lapsus linguae".
Trata-se de atos repletos de ambiguidade, que atendem a desejos
reprimidos sem desafiar as forças restritivas.
Consequência dessa constatação é que a psicanálise tem um componente
determinista. Pois não há casualidade nos atos falhos. Eles acontecem
inevitavelmente no psiquismo.
*Processo que transfere um sentimento, emoção ou desejo de um grupo
de ideias para uma só ideia" (Cabral, 1971,. 79.) **“
... transferência de emoções ou fantasias do objeto a que estavam
originalmente associadas, para um substituto; transferência da libido de
uma forma de expressão para outra." (Cabral, 1971, p. 99) Outra
consequência é que toda a Patologia Psíquica pode ser considerada uma
consequência da interpretação onírica. É a terapia "em vigília", usando a
objetividade da mensagem dos sonhos. Freud o constatou,

comparando as paranoias e atos casuais aos mecanismos da elaboração


onírica.
"Temos a mesma situação: por caminhos incomuns e através de
associações externas, os pensamentos inconscientes encontram
expressão como modificações de outros pensamentos. As incongruências,
os absurdos, os erros de conteúdo do sonho, como resultado dos quais o
sonho quase não é reconhecido como um produto da atividade psíquica,
originam-se da mesma maneira, apesar de, na verdade, usarem os meios

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disponíveis com liberdade maior do que a dos erros comuns da nossa


vida cotidiana”. (ESB, vol. VII.).
4.3 — Outros princípios necessários
Estabelecida a importância da interpretação onírica como base para o
estudo da Psicopatologia, cumpre identificar outras noções que ajudarão
na trajetória até ao Complexo de Édipo. Foram selecionadas as noções
de:
1.Princípio do Prazer
2.Libido
3.Censura, Defesa e Recalque
4.Narcisismo e Psiconeuroses Narcísicas
5.Melancolia

4.3.1 — Princípio do Prazer


Segundo Freud, existe no comportamento do ser humano um objetivo
fundamental e que transparece no seu psiquismo. A

busca da excitação agradável e a evitação da dor. Este "princípio do


prazer" regularia todo o organismo humano. Mas o que se observa é que
a excitação do prazer tende a decrescer, enquanto a dor tende a aumentar
a soma dos estímulos.
"Freud admite não saber, em pormenor, como o prazer está relacionado
com o decréscimo de estimulação e a dor com seu recrudescimento. De
modo geral, os processos de prazer e dor estão relacionados com
alterações "econômicas” ou quantitativas de energia. A atividade sexual,
que, de acordo com Freud, é a experiência mais intensa de excitação
agradável, deixa poucas dúvidas sobre esse ponto. Freud explica o
princípio do prazer de outro modo, dizendo que qualquer processo
determinado se origina num desagradável estado de tensão e, por
conseguinte, determina para si próprio um rumo tal que sua conclusão
última coincide com um relaxamento dessa tensão”. (Beyond. The Pleasure
Principie — Hogarth Press Ltd., 1942 , p. l Apud Mullahy, 1978).
O estado de tensão, além de certo ponto, é doloroso e remete ao
sentimento de culpa. Já a descarga da tensão, como no orgasmo sexual,
libera sensação de prazer, mas pode ao mesmo tempo acompanhar-se
também do sentimento de culpa. Parece que, em face disso, o psiquismo
procura manter constante ou mesmo baixa sua quantidade de excitação.

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4.3.2 — Libido
A libido é tida como força despertadora do prazer. Ego e libido estão
relacionados com o passado mais longínquo do ser humano. Libido,
segundo Freud, está ligada às forças instintivas da vida sexual. Povos
que ambicionaram crescer e dominar foram levados a exercer uma
autonegação dos seus impulsos, sobretudo os excessos sexuais, para
preservar sua autoconservação*. Mais uma vez os tabus ligados à
contenção sexual se prestam a ocasiões de sentimento de culpa.
Em psicanálise o termo libido é hoje usado para:
*Através dos mandamentos, sob a liderança de Moisés, o povo judeu,
sublimou seus impulsos por razões religiosas, valorizou a família
monogâmica e marcou presença na história. Diferentemente das cerca de
10.000 culturas, que, segundo antropólogos, já desapareceram até hoje.
"Qualquer manifestação instintiva que tenda para a conservação da vida
(sinônimo Eros) em vez de morte (sinônimo Thanatos).,. até chegarmos
ao conceito genérico de energia vital" ... ... a definição inicial (de Freud)
já ganhou ressonância histórica: libido é a expressão direta ou indireta
de um desejo sexual". (Cabral, 1971, p. 223)

4.3.3 — Censura, defesa e recalque.


Censura ( Censur ) é uma força identificada por Sigmund Freud que
opera para separar a mente consciente da inconsciente.
Mas queríamos saber por que é contra quais tendências a censura é
exercida? Para essa pergunta que é de fundamental importância para a
inteligência solta e talvez até para a da vida humana em geral, é fácil
obter uma resposta lembrando a série de sofrimentos.
As tendências exercidas pela censura são aquelas que o sujeito reconhece
como suas na vida e com as quais concorda.
As tendências contra as quais a censura dos sonhos é dirigida
... são tendências repreensíveis e indecentes, do ponto de vista ético,
estético e social, e são coisas sobre as quais não ousamos pensar; ou no
qual pensamos apenas com horror. Esses desejos censurados, que
recebem uma expressão deformada à solta, são sobretudo manifestações
de egoísmo sem limites ou escrúpulos ...
Esses desejos censurados parecem emergir de um verdadeiro inferno ...
"(Freud, 1981).

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Em seus escritos, Freud parece colocar a censura sempre a nível do ego,


Lacunas, lapsus linguae, "espaços" em branco, são suas manifestações.
Às vezes, Freud inclui a censura no campo mais amplo da defesa. Mas ao
descrever a ideia de superego, Freud confia- lhe o papel de "consciência
moral", vigia implacável do ego. Mais uma vez e sempre presente, a ideia
de culpa. Neste caso, conflituosa.
Quanto à defesa: Trata-se de uma nítida proteção contra determinados
afetos / sentimentos de vergonha, humilhação, medo, remorso, etc. Em
1894 a noção /instinto / de mecanismo de defesa é assim proposta por
Freud.
"Conheço três mecanismos:
Primeiro, o da conversão dos afetos (histeria de conversão);
Segundo, o do deslocamento do afeto (obsessões);
Terceiro, o da transformação do afeto (neurose de angústia e melancolia)
" (ESB, VOL. l).
É bom que se ressalte, o termo angústia e o termo melancolia que referem
uma auto decepção. Culposa?
Tudo indica que assim deva ser entendida.
4.3.4 — Recalque — repressão
Vimos como, antes, Freud usava o termo defesa na mesma acepção e, às
vezes, recalcamento*. Na ESB aparece o termo repressão, "a repressão é
um mecanismo de defesa contra a ansiedade e a culpa, geradas por
impulsos sexuais ou agressivos; a repressão é realizada pela instituição
de censura do ego, ou superego; as atividades ou conteúdos mentais
reprimidos do consciente mantêm-se no inconsciente (id) e, não podendo
vencer o princípio da realidade, logram manifestar-se no consciente
através de representações simbólicas: sonhos, divagações, etc, que são as
únicas formas aceitáveis pelo ego”. (Cabral, 1971.).
Aparece novamente a ansiedade e a culpa, como elementos sempre
presentes ao psiquismo humano.
4.3.5 — Narcisismo e psiconeuroses narcísicas
No narcisismo (amor pela própria imagem) pode-se dizer que o ideal do
ego passa a competir com o superego. O narcisista permanece longo
tempo ou sempre em atividades autoeróticas na conquista de um objeto
amoroso que é ele mesmo.

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" O termo narcisismo deriva da descrição clínica, e fui escolhido para


designar os casos em que o indivíduo toma seu próprio corpo como objeto
sexual e o contempla com prazer, acaricia e beija até chegar a uma
satisfação completa neste momento. O narcisismo constitui uma perversão
que monopolizou toda a vida sexual do sujeito, cumprindo nele todas as
condições que o estudo geral das perversões nos revelou.
A investigação psicanalítica mais tarde revelou características desse
comportamento narcísico em pessoas que sofrem de outros distúrbios; por
exemplo, segundo Sadger, nos homossexuais, fazendo-nos, portanto,
suspeitar que também na evolução sexual regular do indivíduo ocorram
certos locais narcísicos da libido. Certas dificuldades na análise de
sujeitos neuróticos já nos impuseram essa suspeita, uma vez que uma das
condições que pareciam eventualmente limitar a ação psicanalítica era
justamente esse comportamento narcísico do paciente. Nesse sentido, o
egoísmo do instinto de preservação: egoísmo que justificadamente
atribuímos, até certo ponto, a todo ser vivo.” (Freud, 1981, p. 2208)
Freud também demonstra que é válida a tentativa de aplicar as hipóteses
da teoria da libido à demência precoce (Kraepelin) e à esquizofrenia
(Bleuler). De fato, estas duas categorias de enfermos manifestam delírio
de grandeza e a falta de todo interesse pelo mundo exterior.
A partir deste ponto, fica bem clara a ponte que estamos tentando
estabelecer para chegar ao Complexo de Édipo. Freud mostra que apesar
de tão grave a psiconeurose narcísica pode ser "um complemento
libidinoso" de um "egoísmo " que poderia "justificadamente " ser atribuído
a todo ser vivo.
Tudo isto mostra como a ansiedade da culpa se acha entranhada em todo
o psiquismo humano. Não é sem outro objetivo que vimos cumprindo esta
trajetória até aqui: identificar este núcleo de culpabilidade, culminando
no Complexo de Édipo. Pelo narcisismo o ser humano busca a sensação
de onipotência. O ego só se desenvolverá se for possível superar a
parafrenia narcísica. O ideal do ego (ou ego ideal?) passa a ser também o
ideal da família, de uma classe ou de toda a sociedade.
"A falta de satisfação que brota da não realização desse ideal libera a
libido homossexual, sendo esta transformada em sentimento de culpa
(ansiedade social). Originalmente este sentimento de culpa era o temor
de punição pelos pais, ou, mais corretamente, o medo de o ser por um
número indefinido de pessoas". (ESB, vol. XIV).
Isto significa que o narcisista tende a se isolar de todos. Já se trata de
anomalia muito grave. Esquizofrenia? Freud propõe o termo parafrenia
(designação genérica de um conjunto de problemas mentais que inclui a
demência precoce e a paranoia.), uma forma de demência. De qualquer
forma, a psicanálise nada poderia fazer por eles.

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4.3.6 — Melancolia
A melancolia pode ser incluída na continuação do tema narcisismo. A
partir do narcisismo e do "ideal de ego" surge um "agente crítico"
provocador da melancolia. Esta lembra a ansiedade do fracasso. O
melancólico tem um estado de ânimo derrotista, perde o interesse pelo
amor e sente inibição por qualquer tipo de atividade.
Freud aproxima a melancolia do luto. Neste a perda gira no nível da
consciência. Na melancolia não se tem consciência da dimensão da
perda. E pode transformar-se em estado permanente ou mania. O
melancólico pode identificar-se com seu eu narcisista. Daí brota o ódio
por si mesmo. Este sofrimento próprio tende a conduzir a uma
autossatisfação do tipo sádico. "A autotortura na melancolia, sem dúvida
agradável, significa, do mesmo modo que o fenômeno correspondente na
neurose obsessiva, uma satisfação das tendências do sadismo e do ódio
relacionadas a um objeto, que retornaram ao próprio ego do indivíduo
nas formas que vimos examinando. (...) A catexia erótica do melancólico
no tocante a seu objeto sofreu assim uma dupla vicissitude: parte dela
retrocedeu a identificação, mas a outra parte, sob a influência do conflito
devido à ambivalência, foi levada de volta à etapa de sadismo que se acha
próxima do conflito. " (ESB, vol. I, p. 284)
O próprio ego se abandona pelo fato de ser odiado pelo superego. O
melancólico passa a esperar do superego a mesma salvação que lhe viria
através do pai ou de alguma Entidade Protetora, como o próprio Destino.
Mas vê-se abandonado de todos e prefere morrer.
Se analisados em termos do Complexo de Édipo, o melancólico e o
enlutado se equivalem. Poderíamos pensar no Édipo Rei, se autopunindo
com os dois alfinetes de ouro que usou para cegar- se. E Freud quem o
ressalta "Aqui está novamente a mesma situação que fundamenta o
primeiro grande estado de ansiedade do nascimento e a ansiedade devida
à separação da mãe protetora”. (ESB, vol. XIX, p. 75)
4.4 — O sonho de Freud e o Complexo de Édipo Aí veio o sonho de
outubro de 1987. Como tudo é curioso! A entrada do onírico na sagrada
metodologia científica dá muito que pensar. Os poetas e artistas não se
surpreendem, pois esta metódica lhes é familiar há muito tempo.
Pois a embrionária psicanálise deve muito a um sonho de Freud.
Aconteceu a alguns dias antes do aniversário de morte de Jakob Freud,
seu pai. Deixemo-lo falar.
"Ser completamente honesto consigo mesmo é uma norma. Um único
pensamento de valor genérico revelou-se a mim. Verifiquei, também no meu
caso, o apaixonamento pela mãe e ciúmes do pai, e agora considero isso
como um evento universal do início da infância (...”).

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Sendo assim, podemos entender a força avassaladora de Oedipus Rex,


apesar de todas as objeções levantadas pela razão contra a sua
pressuposição do destino; e podemos entender porque os ulteriores
"dramas de destino" não tinham senão como fracassar lamentavelmente
(...). " (ESB, vol. I, p. 358.)
Da confissão de Freud se despreende como ele associa a consciência
humana ao sentimento de culpa. E um eufemismo erudito que o pregador
de esquina transforma em dogma religioso: todo homem é pecador. Seria
interessante, mas desnecessário, buscarmos as relações de culpa /
pecado de Sigmund Freud e Jakob Freud. Para sintetizar ouçamos um
especialista em Freud.
"Graças à auto-análise (...) Freud está em condições de seguir um caminho
original que nem é propriamente o da introspecção nem o do renegamento
mais ou menos incluído na assimilação”.
A compreensão analítica de seu próprio caso lhe ofereceu o meio de afinal
perceber o que ocorre na vida profunda de seus doentes; depois,
apoiando-se na abundância de provas clínicas que acumulou, estende
corajosamente essa lei a toda a humanidade. A partir daí a dupla
postulação do "Complexo de Édipo” (...) não é mais um fenômeno
acidental que se refere exclusivamente à patologia, é uma fatalidade, ou
mais exatamente, a fatalidade humana por excelência, que em toda parte
condiciona as próprias modalidades da vida. (Robert, 1989, p. 90.)
Para concluir basta assinalar que o Édipo faz parte das fantasias
culturais primitivas. São filogeneticamente transmitidas enquanto
sistemas que constroem a vida psíquica de todo homem? A sedução, a
castração, o ódio são patrimônio "do animal rationale"? Qualquer
semelhança com o pecado original não é mera coincidência.
CONCLUSÃO
Renunciando a uma metodologia preocupada com encadeamentos
lógicos, torna-se válido reunir considerações que nunca poderiam
equivaler a um "encerramento" ou "finalização". 1) Quando a partir de
1920, Freud introduziu a "pulsão de morte", um novo "compartimento"
surgiu em seu grande edifício. Ressalte-se a valorização da angústia,
agressividade e castração, o que se alinha na tese aqui defendida. 2) O
superego se torna mais cruel por força da "pulsão de morte". Logo surge
com mais força o sentimento de culpa, já que o superego castiga o ego
por aceitar os impulsos violentos e libidinosos do id. Cresce a angústia.
3) O sentimento de culpabilidade se origina do parricídio inicial. O
psiquismo individual o sanciona e amplia a ideia de culpabilidade com as
agressões registradas no superego. O conflito, enquanto em família, se
manifestará edipicamente. O mesmo processo que se referia inflige dor
ao objeto amado e daí decorre o sentimento de culpabilidade. Mas,

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curiosamente, o sentimento de culpa força a reparação, o que se


transforma em motivação para a produção e o desenvolvimento do poder
criador.
5) A teoria freudiana do despertar polemica no tocante ao Complexo
de Édipo feminino. Freud apresenta a "vergonha" como característica
feminina. Fala de um primeiro fator, o social. Ora o social/ moral/
reprovação atua pelas coerções do superego, que reflete normas sociais.
Mas o superego não é criação feminina. Logo elas são vítimas e não
autoras.
A outra razão da "vergonha" da mulher é sua deficiência genital. O que
se pode dizer é que na teoria freudiana só existe um órgão genital, o
masculino, tão poderoso que governa a psicanálise. O nó se situa na
transição do desejo sexual da menina pela mãe ao desejo sexual pelo pai.
E impossível ter um reflexo do Édipo masculino. Teóricos da escola
lacaniana

apontam que o desejo da mãe pelo pai orienta a filha para esse amor e ao
filho propõe um modelo com que se identificar. O que a mulher deseja, a
inveja peniana, enfim a definição da mulher em Freud se dá pela ausência
do pênis. Não existe a mulher e sim um não-homem.
6) Outra polemica é se existe de fato um sujeito anterior à sedução,
que não esteja conectado ao amor materno. A maioria dos psicanalistas
divide o desenvolvimento humano em fases, sendo que a existência da
criança precede ao amor à mãe*. Outros teóricos, afirmam que a criança
só o é pela preexistência do amor materno, mesmo em casos de
orfandade, abandono, etc. Haveria na concepção amor e desejo maternos,
impulso suficiente a dar a partida na vida psíquica da criança.
7) De qualquer forma, o amor recupera a alma humana do abismo.
Que o seja da barbárie, da loucura, da morte. A panaceia psicanalítica é
o amor edípico. Uma linha da sociobiologia, que tem certa penetração,
definiria o amor e o Complexo de Édipo como formas de sobrevivência e
perturbação do homem, frente aos desafios da natureza. Nesta linha a
culpabilidade cósmica teria outra dimensão.
8) Como pensamento final nenhuma frase de efeito se faz necessária.
Basta lembrar como a Psicanálise chamou o homem para o centro de
suas reflexões. Vem atendendo ao ideal socrático: só vale a pena ser
vivida uma vida que pode ser examinada.
*É a opinião esposada por Melanie Klein (1972).

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DISCIPLINA 6 FOBIAS (transtornos fóbico-ansiosos)


O medo é um sentimento comum a todas as espécies animais e serve
para proteger o indivíduo do perigo. Todos nós temos medo em algumas
situações nas quais o perigo é iminente.
A fobia pode ser definida como um medo irracional, diante de uma
situação ou objeto que não apresenta qualquer perigo para a pessoa. Com
isto, essa situação ou esse objeto são evitados a todo custo. Essa evitação
fóbica leva muito frequentemente a limitações importantes na vida
cotidiana da pessoa. As fobias são acompanhadas de ansiedade
importante e também frequentemente de depressão.
A pessoa com síndrome fóbica, apresenta medos intensos e irracionais,
medo de animais, de algumas situações ou até mesmo de objetos. Claro
que esse medo, é completamente desproporcional, pois os mesmos não
oferecem nenhum risco ou perigo a pessoa.
Exemplo: Ana tem fobia a borboletas, toda vez que ela vê uma borboleta,
ela foge imediatamente, se esconde da borboleta, pois teme um ataque
da mesma.
Os transtornos fóbico-ansiosos constituem um grupo de doenças mentais
onde a ansiedade é; ligada predominantemente a uma situação ou objeto.
Há três tipos principais de fobias:
1. Agorafobia: inclui medo de espaços abertos, da presença de
multidões, da dificuldade de escapar rapidamente para um local seguro
(em geral a própria casa). A pessoa pode ter medo de sair de casa, de
entrar em uma loja ou shopping, de lugares onde há; multidões, de viajar
sozinho. Muitas pessoas referem um medo aterrorizante de se sentirem
mal e serem abandonadas sem socorro em público. Muitas pessoas com
agorafobia apresentam também o transtorno de pânico.
2. Fobia social: neste caso a pessoa tem medo de se expor
a outras pessoas que se encontram em grupos pequenos. Isto pode
acontecer em reuniões, festas, restaurantes e outros locais. Muitas vezes
elas são restritas a uma situação, como por exemplo, comer ou falar em
público, assinar um cheque na presença de outras pessoas ou encontrar-
se com alguém do sexo oposto. Muitas pessoas apresentam também
baixa autoestima e medo de críticas. Usualmente a pessoa nessas
situações apresenta rubor na face, tremores, náuseas. Em casos
extremos pode isolar-se completamente do convívio social.
3. Fobias especificas (ou isoladas): como o próprio nome diz, são
fobias restritas a uma situação ou objeto altamente específicos, tais
como, animais inofensivos (zoofobia), altura (acrofobia), trovões e

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relâmpagos (astrofobia), voar, espaços fechados (claustrofobia), doenças


(nosofobia), dentista, sangue, entre outros. A incapacitação da pessoa no
dia a dia depende do tipo de fobia e de quão fácil é evitar a situação fóbica.
As fobias atingem cerca de 10% da população. Em geral surgem na
infância ou adolescência, persistindo na idade adulta se não são tratadas
adequadamente. Acometem mais frequentemente pessoas do sexo
feminino (com exceção da fobia social, que atinge igualmente homens e
mulheres). Depressão, uso de drogas e álcool podem ocorrer
frequentemente associados aos transtornos fóbicos-ansiosos.
O tratamento das fobias se faz com a associação de medicamentos e com
psicoterapia. Os medicamentos mais utilizados pertencem ao grupo dos
antidepressivos; os ansiolíticos também são frequentemente indicados. A
psicoterapia auxilia na compreensão de fatores que podem agravar ou
perpetuar os sintomas fóbicos.

Disciplina 7 -TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E


HIPERATIVIDADE

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é bem


conhecido como uma doença típica da infância. A criança apresenta falta
de persistência nas atividades que envolvem concentração, não completa
as tarefas, tem atividade excessiva e desorganizada. Pode ser também
impulsiva e imprudente, propensa a acidentes e frequentemente
apresenta problemas disciplinares por infração não premeditada de
regras. Até há poucos anos acreditava-se que o TDAH melhorava ou
desaparecia a medida que a criança tornava-se adulta. Sabe-se hoje, no
entanto que esse transtorno persiste em cerca de 30% a 50% dos adultos
que tiveram TDAH na infância. Em geral o transtorno é mais leve no
adulto do que na criança, mas mesmo assim pode prejudicar bastante o
cotidiano da pessoa.
A primeira condição para se fazer o diagnóstico de TDAH no adulto é
constatar que a pessoa teve essa doença na infância. A doença não se
inicia na idade adulta, trata-se da persistência da doença da criança no
adulto.
Os sintomas principais do TDAH no adulto são:
1. Déficit de atenção: a pessoa distrai-se com facilidade, comete erros
por distração no trabalho ou nas atividades que exigem concentração, é
desorganizada, "avoada", esquece compromissos assumidos, perde seus

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objetos ou não lembra onde os deixou, não presta atenção quando


alguém está falando consigo, "sonha acordado".
2. Hiperatividade motora: agitação ou inquietação constantes, a
pessoa não consegue ficar muito tempo parado, está sempre "a todo
vapor", se está sentado fica mexendo os dedos, os pés, não consegue
assistir TV ou um filme sem se levantar. Há uma movimentação excessiva
e desnecessária para o contexto.

Outros sintomas característicos são:


1. Labilidade afetiva: oscilações entre tristeza e euforia, "altos e
baixos", mudanças bruscas de humor.
2. Temperamento explosivo: "pavio curto", brigas e discussões por
motivos fúteis, perda de controle.
3. Hiperreatividade emocional: "fazer tempestade em copo d’água",
dificuldade de lidar com situações de pressão, de estresse, facilmente fica
estressado.
4. Desorganização: mesas desarrumadas no trabalho, perda de
documentos importantes, relatórios mal feitos,
5. Impulsividade: agir sem pensar, decisões são tomadas sem
pensar, rompem ou iniciam
relacionamentos/casamentos abruptamente, deixam empregos
subitamente.
As manifestações acima descritas devem ter duração de pelo menos 6
meses e ser suficientemente graves para prejudicar a vida cotidiana,
profissional ou familiar.
Além do comprometimento em diferentes áreas (social, profissional,
familiar) muito frequentemente essas pessoas fazem também abuso de
drogas (álcool, cocaína etc) e podem apresentar outros transtornos
mentais concomitantemente (depressão, ansiedade).
O tratamento é feito principalmente com medicamentos
(psicoestimulantes e antidepressivos) e psicoterapia.

Disciplina 8 -TRANSTORNO DE PÂNICO


Na mitologia grega, Pã é um deus dos pastores e rebanhos, representado
como divindade semi-humana: o rosto barbudo e enrugado, queixo
saliente, expressão animalesca, a testa é ornada por dois cornos; o corpo
é peludo e os membros inferiores são de bode, as patas são magras e

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nervosas. É dotado de muita agilidade, rápido na corrida, sabe


dissimular- se nas moitas, onde se esconde para espiar as Ninfas e
assustá-las. Diz-se também que surgia repentinamente na Ágora
ateniense, durante as assembleias, para aterrorizar as pessoas e
tumultuar as discussões. A palavra pânico deriva de Pã e representa um
medo infundado, susto ou pavor repentino.

Manifestações clínicas e diagnóstico atual


O transtorno do pânico (também chamado de ansiedade paroxística
episódica) é caracterizado pelos ataques recorrentes de ansiedade intensa
em circunstancias imprevisíveis. Além da ansiedade intensa (pânico) a
pessoa tem a sensação de morte iminente, de perda do controle de si
própria ou de ficar "louco". Essa ansiedade é acompanhada de vários
sintomas somáticos: palpitações, dor no peito, tontura, falta de ar,
vertigens, sudorese excessiva, sensação de estar "aéreo", sensação de
desmaio, formigamentos no corpo, ondas de calor e frio, náuseas e
outros. Em geral duram alguns minutos, raramente mais que uma hora.
Como os ataques de pânico são imprevisíveis a pessoa desenvolve o medo
de ter novos ataques, passando a tomar medidas "preventivas" para evitar
lugares ou situações que supõe, podem desencadear novas crises.
Desenvolve fobias que são denominadas de agorafobia; passa muitas
vezes a ter uma vida restrita, sendo incapaz de ficar sozinha ou de ir a
lugares públicos. Muitas vezes tem uma ansiedade persistente,
antecipatória.
O TP atinge cerca de 1 a 2 % da população, em geral inicia-se na
adolescência ou no adulto jovem, sendo mais frequente nas mulheres. É
frequente a ocorrência de prolapso da válvula mitral em pacientes com
transtorno de pânico. Algumas doenças físicas, como hipertireoidismo e
feocromocitoma, podem se manifestar com ataques de pânico. Pacientes
com TP podem desenvolver secundariamente quadros depressivos ou
mesmo de dependência de drogas ou álcool.
Suas causas são desconhecidas. Há fatores predisponentes e fatores
desencadeantes da doença. A hereditariedade parece ter um peso, na
medida que parentes de portadores de TP tem maior chance de
apresentar a doença. Alguns fatores psicológicos ligados à; primeira
infância, especialmente vivências de ansiedade de separação parecem
tornar os indivíduos vulneráveis. Em indivíduos predispostos é possível
desencadear ataques de pânico por meio de medicações (isoproterol,
lactato) demonstrando que eles são vulneráveis à doença. Por outro lado,
medicamentos que agem sobre a serotonina (neurotransmissor do
sistema nervoso) podem bloquear os ataques de pânico.
O TP pode ser desencadeado por fatores emocionais que levem a estresse,
por drogas (maconha, cocaína etc.) e por doenças físicas. Na maioria das

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vezes o TP se torna autônomo, passando a ocorrer independentemente de


fatores externos.
Muitos dos indivíduos que desenvolvem TP apresentam ansiedade,
insegurança, tensão, dificuldade para relaxar, preocupação excessiva,
mesmo antes de ter as crises. Essas características de personalidade
parecem torná-los mais vulneráveis à doença.
Muitos indivíduos desenvolvem agorafobia bastante limitante mesmo
tendo tido apenas um ataque de pânico. Outros continuam agorafóbicos
mesmo após terem as crises controladas com a medicação. Fica claro que
fatores psicológicos influem bastante no modo como essas pessoas lidam
com suas situações de ansiedade.

Abordagem terapêutica
O TP é uma doença onde fica clara a necessidade da integração entre as
abordagens farmacológica e psicoterápica no tratamento do paciente. Os
ataques de pânico podem ser controlados com medicamentos
antidepressivos em baixas doses. Já os sintomas fóbicos raramente
melhoram espontaneamente, mesmo após o controle das crises,
requerendo uma abordagem psicoterápica.
Os medicamentos antidepressivos, particularmente aqueles com ação
predominante no sistema serotoninérgico (alguns tricíclicos, como a
clomipramina, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina, como
p. ex. a fluoxetina, a paroxetina e os inibidores da monoamino-oxidase),
e os benzodiazepínicos (especialmente o alprazolam) propiciam melhora
rápida dos ataques de pânico, havendo supressão dos mesmos em
algumas semanas na maioria dos pacientes.
A evitação fóbica requer abordagem psicoterápica, para que o paciente se
sinta seguro para retornar a suas atividades cotidianas, sem as
limitações impostas pelo medo de ter novas crises. Aspectos relacionados
a psicodinâmica da personalidade serão aprofundados visando explorar
situações de conflito que possam ser desencadeadoras das crises. A
experiência assustadora de perda de controle sobre as próprias emoções
parece ser central nessas pessoas.
Muitos dos portadores de TP se descrevem como pessoas medrosas,
nervosas e tímidas na infância, passaram por experiências de desconforto
em relação a sentimentos agressivos, lidando mal com tais sentimentos
e referem que seus pais eram assustadores, críticos e controladores.
Tendo uma personalidade frágil, frequentemente tomada por vivências de
vazio e desamparo, necessitam de um outro para suprir tais funções. É
tarefa do psicoterapeuta auxiliar a pessoa a construir referencias
internas que possam promover melhor integração das vivências,
preenchendo o espaço vazio que tanto a angustia.

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Disciplina 9 - TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO


O transtorno obsessivo compulsivo (TOC) caracteriza-se por dois tipos de
manifestações: as obsessões ou ideias obsessivas e as compulsões ou
rituais compulsivos. As obsessões são ideias ou imagens que vem à mente
da pessoa independente de sua vontade repetidamente. Embora a pessoa
saiba que são ideias suas, sem sentido, não consegue evitar de pensá-
las. São frequentes ideias relacionadas a religião, sexo, duvidas,
contaminação, agressão (por exemplo, a pessoa tem ideias repetidas de
que suas mãos estão contaminadas por ter tocado em objetos "sujos"). As
compulsões são atos ou rituais que o indivíduo se vê obrigado a executar
para aliviar ou evitar as obsessões. Se a pessoa não executa o ato
compulsivo ela fica muito ansiosa. Os rituais são repetidos numerosas
vezes, apesar da sensação que a pessoa tem de que não fazem sentido.
Compulsões frequentes são lavar as mãos, verificar se a porta está
trancada ou a válvula do gás está fechada, questionar uma informação
repetidamente para ver se está correta, executar minuciosamente uma
série pré-programada de atos para evitar que aconteça algum mal a
alguém, contar ou falar silenciosamente. Tanto as obsessões como as
compulsões ocupam uma boa parte do tempo da pessoa, prejudicando
ou dificultando seu dia a dia.
“O sujeito neurótico obsessivo-compulsivos sofre muito, pois ele tem
restrição muito severa de liberdade. Pessoas com essa síndrome, vivem
uma pressão muito grande de uma obrigação e total submissão a
síndrome.”
Existe uma relação do neurótico obsessivo com a pulsão anal, as pessoas
que tem fixação na fase anal, geralmente desenvolvem (TOC), transtorno
obsessivo compulsivo.

As síndromes obsessivo-compulsivas se dividem em dois subtipos


básicos:

1. aquelas nas quais predominam as ideias obsessivas, ou seja,


pensamentos intrusivos e indesejados que provocam angústia.
2. aquelas nas quais predominam os atos e os comportamentos
compulsivos, ou seja, comportamentos repetitivos provenientes de
impulsos difíceis de resistir.
Exemplo: lavar as mãos mais de 20 vezes por dia.

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Como a própria pessoa reconhece que seus pensamentos ou atos são sem
sentido, ela procura disfarçar tais manifestações, evitando conversar
sobre esse assunto e relutando em procurar auxilio médico psiquiátrico.
O transtorno obsessivo compulsivo inicia em geral no fim da
adolescência, por volta dos 20 anos de idade e atinge cerca de 2 em cada
100 pessoas. A doença pode se manifestar em crianças também. Em geral
a doença evolui com períodos de melhora e piora; com o tratamento
adequado há um controle satisfatório dos sintomas, embora seja pouco
frequente a cura completa da doença. De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), a prevalência do TOC é de 2% no mundo
inteiro.
Muitos portadores de TOC apresentam também outros transtornos como:
fobia social, depressão, transtorno de pânico e alcoolismo. Alguns
transtornos mentais como a tricotilomania (arrancar pelos ou cabelos), o
distúrbio dimórfico do corpo (ideia fixa de que há um pequeno defeito no
corpo, em geral na face) e a síndrome de Tourette (síndrome dos tics)
parecem estar relacionados ao TOC.
Pesquisas recentes mostram que o TOC é uma doença do cérebro na qual
algumas áreas cerebrais apresentam um funcionamento excessivo. Sabe-
se também que o neurotransmissor serotonina está envolvido na
formação dos sintomas obsessivo-compulsivos. Acredita-se também que
as pessoas que tem uma predisposição para a doença, reagem
excessivamente ao estresse. Tal reação consiste nos pensamentos
obsessivos, que por sua vez geram mais estresse, criando assim um
círculo vicioso.
O tratamento do transtorno obsessivo compulsivo envolve a combinação
de medicamentos e psicoterapia. Os medicamentos utilizados são os
antidepressivos, em geral em doses elevadas e por tempo bastante
prolongado. A psicoterapia mais estudada é a terapia comportamental,
através da qual o paciente é estimulado a controlar seus pensamentos
obsessivos e rituais compulsivos. Outras formas de psicoterapia auxiliam
o paciente a lidar com as situações de ansiedade que agravam a doença.

Disciplina 10- AS DIFERENÇAS ENTRE PSIQUIATRA,


PSICÓLOGO E PSICANALISTA

Introdução
Há, frequentemente, uma dúvida frequente sobre as diferenças entre
psicólogo, psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta. Embora, estes
profissionais possam trabalhar em campos ligados à saúde mental e

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compartilhem da missão de atender pessoas que anseiam por mudanças


em relação ao que fazem, ao que sentem e ao que pensam, diferenças
importantes podem ser identificadas. Tais diferenças concentram-se na
formação do profissional, no modo de compreender o complexo fenômeno
do comportamento humano e, consequentemente, nos métodos de
intervenção.
O psiquiatra é um profissional com formação em Medicina e com
especialização em Psiquiatria. Após a faculdade, então, faz residência em
instituições de saúde mental, clínicas e hospitais psiquiátricos. Os
conhecimentos desta área e especialidade médica concentram-se nos
comportamentos que fogem à "normalidade". Desta forma, o médico
psiquiatra está preparado para lidar com os mais variados transtornos
mentais (depressão, psicoses, etc). Ele faz uso do sistema de diagnóstico
baseado em manuais como CID10 – Código Internacional de Doenças e
DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. E
a principal forma de intervenção utilizada por este profissional é a
prescrição de medicamentos como antidepressivos, ansiolíticos e outros
psicofármacos.

O psicólogo é um profissional que concluiu a graduação em Psicologia,


podendo atuar na área clínica, organizacional, educacional, esportiva e
outras. Pode, ainda, atuar com pesquisa em universidades, contribuindo
assim para descobertas sobre as variáveis relacionadas ao
comportamento humano, normal ou desviante, nos mais variados
contextos. Para atuar na área clínica, o psicólogo geralmente
complementa a sua formação com cursos (especialização, pós-graduação
stricto sensu e lato sensu); ele utiliza a psicoterapia, um conjunto de
técnicas e meios para analisar e intervir nos problemas emocionais,
comportamentais e/ou transtornos mentais. Na psicoterapia, o psicólogo,
através da mediação verbal, conduz o seu cliente a um processo em que
este se torna mais consciente das coisas que faz, pensa e sente no seu
dia-a-dia e busca proporcionar e ele a aprendizagem de novos
comportamentos para lidar com as suas dificuldades.
O psicólogo que trabalha com psicologia clínica é também chamado de
psicoterapeuta. Embora a psicoterapia derive de teorias psicológicas, o
psiquiatra com treinamento adicional e outros profissionais têm,
também, utilizado a psicoterapia e se identificado como psicoterapeutas.
Já o psicanalista é um profissional, que fez um curso de formação em
psicanálise e submete-se à Psicanálise, sendo ou não, credenciado por
uma Sociedade Psicanalista. Ele atende pessoas com demandas
análogas, àquelas apresentadas ao psicólogo e psiquiatra. Na Psicanálise,

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são utilizadas as teorias da personalidade e métodos de tratamento


introduzidos por Sigmund Freud.
Conclusão
Pesquisas citadas nas publicações da OMS – Organização Mundial de
Saúde e NIMH – National Institute of Mental Health (Instituto Nacional
de Saúde Mental dos EUA) têm apontado a combinação de psicofármacos
e psicoterapia (tratamento psicológico) como uma das formas em que as
pessoas mais se beneficiam quando carecem de intervenção para algum
transtorno mental. Assim, quando se busca o psiquiatra e ele faz o
encaminhamento para o psicólogo clínico, após a prescrição de um
medicamento, resultados mais rápidos podem ser obtidos. O mesmo pode
acontecer quando o psicólogo identificando um contexto/ momento
crítico pelo qual seu cliente está passando (p. ex. transtorno de estresse
pós- traumático após um acidente automobilístico) pode encaminhar seu
cliente para o psiquiatra no intuito de que ansiolíticos, antidepressivo ou
outros medicamentos possam ser prescritos.

DISCIPLINA 11: MEDICINA PSICOSSOMÁTICA CONCEITO GERAL

As expressões gregas somam e psique, designando o que poderíamos


entender como corpo e alma, foram pela primeira vez utilizadas pôr
Anaxágoras (500-428 AC.), que as considerou como partes distintas,
introduzindo uma concepção dualista do ser humano. Essa concepção
dualista foi referendada pôr Platão e predominou ao longo de quase dois
milênios, inclusive sob a influência religiosa de Santo Tomás de Aquino
e filosófica do pensamento cartesiano. Em que pesem a algumas tímidas
manifestações contrárias – ao longo dos séculos 16,17 e 18 – somente no
final do século passado “as influências do materialismo, do positivismo e
do neopositivismo”, chamaram atenção para unidade do homem.
O termo psicossomático introduzido pôr Heinholt em 1818 objetivava
definir sintomas, sinais clínicos ou doenças tidas como de original
mental.
Pôr este conceito, qualquer manifestação física cuja origem fosse a mente
ou o funcionamento mental seria psicossomática. Deste modo, o
reconhecimento de manifestações, como as ditas psicossomáticas,
começavam a criar uma especialidade que até hoje alguns médicos
aceitam de maneira prejudicial ao paciente e ao seu próprio trabalho
profissional.
Já na Grécia antiga, escolas médicas disputavam entre si a primazia de
atender melhor o paciente.
Havia aqueles que encaravam a medicina como responsável para tratar
a doença, ao passo que outros procuravam tratar o doente.

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Freud não emprega o termo “psicossomática”, a não ser numa carta


dirigida a Victor von Weizsaker em 1923. Embora reconhecendo a
existência de fatores psicógenos nas doenças, como ele tem ocasião de
sustentar nos trabalhos dos que se orientam nesta via – ainda que seu
entusiasmo por Groddeck tenha finalmente dado lugar a um certo
desprezo – Freud prefere que os psicanalistas se limitem ao estudo das
psiconeuroses, por motivos de aprendizado.
Esta posição moderada, ditada certamente pela prudência, não foi
compreendida, e muitos psicanalistas produziram sobre esta confusa
noção uma abundante literatura. Até a medicina moderna que,
entretanto, consumiu largamente a dicotomia introduzida por Descartes
entre pensamento e extensão (para onde é relegado o corpo), reconhece,
como disso dá testemunho essa vaga noção de terreno, a possibilidade
da interferência do psiquismo no determinismo de algumas doenças
orgânicas. Ninguém, aliás, contesta isso, desde a origem dos tempos, e
não se consegue senão reencontrar nesse debate os elementos que
repetem ao infinito a controvérsia entre Hipócrates e Galeno de Cos, cujo
estribilho pode-se resumir assim: deve-se falar do homem doente ou
somente da doença?
São maneiras diferentes de lidar com o paciente, com resultados também
diversos.
Os que procuravam tratar o doente e não a doença seriam, pôr assim
dizer, os correspondentes aos atuais defensores da ideia psicossomática.
A rigor, a divisão em escolas psicossomaticistas e não psicossomaticistas
é fruto de um equívoco e de uma postura inadequada de profissionais ou
das escolas que os formaram.
Convidamos a refletirmos sobre este assunto detalhadamente.
A Biologia poderia, em suma, ser definida como o estudo das
manifestações vitais em seu sentido mais amplo.
A medicina dentro de um conceito singelo poderia ser definida como a
Biologia do Homem ou dos animais, para incluir a medicina veterinária.
Ora, o ser humano, sem nenhuma dúvida, é dotado de aspectos psíquicos
e somáticos. Hoje, ninguém de sã consciência negaria que o homem é
psicossomático.
Ora, a medicina, tendo como objetivo o homem e se este seu objetivo é
um ser psicossomático, terá de ser psicossomática ou deixará de ser
medicina. Psicossomática não é nada moderno e nem especialidade.
Moderno não pode ser algo que já existia antes de Cristo.
Especialidade também não pode ser algo que abrange o ser humano em
qualquer circunstância.

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Assim, quando dizemos Medicina Psicossomática, não só cometemos


redundância, como ignoramos que toda atitude de um ser humano com
outro ser humano também, forçosamente, tem de ser psicossomática.
Deste modo, deveríamos dizer que odontologia, terapia ocupacional,
fisioterapia, educação física, sociologia, psicologia, indústria, comércio, o
dirigir ônibus e educação, etc., são forçosamente psicossomáticos.

A dimensão representada pôr esta economia parece explicável pelo fato


de dizer respeito a todos os seres vivos e pôr isso mesmo ir ao encontro
das preocupações atuais dos biólogos, imunologistas, biofísicos, que
procuram como últimos, a chegar a consciência de que nos seres
humanos a vida se desenvolve, se mantém e finalmente se extingue.
Abordar o problema geral, que podemos enunciar assim, “o que é que nos
permite continuar vivos, ou o que nos faz morrer e pôr que?”. Utilizando
do instrumento fundamental representado pela teoria psicanalítica. E
sublinhar a importância principal concedida ao papel reservado à
organização e ao funcionamento mental dos seres humanos em sua luta
para permanecer vivos.

1 - Patrick Valar (1996), relata no ensaio apresentado no “I Simpósio de


Psicanálise e Psicossomática”, no artigo “ Horizontes da psicossomática”
Bibliografia: MELLO, Adolpho Menezes – Psicossomática e Pediatria –
HEALTH, 1996

A doença de cada um “esboço cotidiano”


O conhecimento disponível até o momento atesta que, como lembra
Vegetti, a doença não pode ter uma concepção formal, e as razões mais
profundas do adoecer são as verdadeiras.
O fato de alguém adoecer da úlcera, e não de infarto, e de aquele outro
sofrer de asma brônquica, e não de reumatismo, pôr exemplo, tem sua
razão de ser ligada à confluência de fatores diversos, como o padrão
genético com que nasce, mas principalmente à natureza de seus conflitos
interiores e à forma como lida com eles, além da própria história de vida
que, do ponto de vista psíquico, envolvem cada um dos grandes grupos
de doenças. Agora, porém, parece interessante discutir de forma genérica
as razões que determinariam “a escolha da doença pôr parte daquele que
adoece”.
A primeira noção a considerar é a da existência, no organismo de todos
nós, de locais ou órgãos de menos resistência. Locus minoris resistentiae
foi a expressão latina utilizada pôr Fenichel para designar essa debilidade
e um órgão. Essa fraqueza relativa seria constitucional e genética e,
estando o organismo sob tensão – como de resto pode acontecer com

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qualquer material – é compreensível que ele se rompa no ponto mais


fraco. Essa possível diferença de constituição, obviamente, torna os
homens desiguais diante de toda a sorte de estímulos, sejam eles físicos,
psíquicos ou sociais, o que poderia estar na gênese das formas diversas
de adoecer. Essa possível fraqueza estrutural, no entanto, não explica
tudo. Há também, provavelmente, o valor simbólico do órgão e sua
relação com o conflito psíquico da pessoa. Melo Filho cita o caso de uma
pianista cujo prazer exclusivo consistia nessa ocupação, até que um
quadro de artrite, que se iniciou pelas mãos, privou-a da única paixão
que se permitia.
Alguns quadros digestivos parecem ter clara relação com seu significado
simbólico de “receber, reter e expelir” (expulsar algo ruim do corpo). Tal
significado simbólico do adoecer tem muito a ver com a incapacidade do
doente de expressar seus sentimentos e emoções. O sintoma físico seria
sempre um grito de socorro e uma tentativa de proclamar seu sofrimento.
Há quem proponha que, quando alguém adoece, está adoecendo para
alguém e pôr alguém.
O tipo da doença e a época da vida em que adoece tem muito a ver com
a história do indivíduo, as perdas e frustrações que sofreu e sofre e a sua
capacidade de lidar com elas. Perez lembra que o indivíduo tem um modo
de viver e, portanto, um modo de adoecer. Nessa mesma linha, acrescenta
Melo Filho: “a biografia de cada paciente explica as suas possibilidades
de adoecer”.
Quando falamos em história da vida da pessoa que adoece, estamos nos
referindo a dois aspectos principais: a natureza de seus conflitos
intrapsíquicos e sua forma de se adaptar ou lidar com eles, isto é, os
mecanismos de defesa de que lança mão, bem como as perdas e
frustrações que tenha sofrido e vinha sofrendo ao longo da vida e,
novamente, sua capacidade de aceitá-las e com elas conviver.
Com relação aos mecanismos de adaptação, já vimos quais são eles e de
que forma podem resultar em agressão ao corpo. Cumpre discutir aqui,
pois, o papel das perdas e frustrações.
Ambas são constantes na vida de todos nós, a tal ponto que, sem nenhum
pessimismo, poderíamos dizer que a vida se constitui numa sucessão de
perdas, a começar pelo próprio passar do tempo, que não tem retorno e
nos deixa cada vez mais próximos do fim inexorável. Além das pequenas
perdas do dia-a-dia, no entanto, há que considerar aquelas pessoas que,
em sua história de vida, foram atingidas pôr “infortúnios difíceis de
suportar” e, pôr conseguinte, no entender de Wall, correriam mais riscos
de sofrer doenças que aqueles que tiveram uma vida mais fácil: “terão,
em geral, uma saúde menos boa”.

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As frustrações e perdas pequenas, mas repetidas e constantes seriam


também causa de doenças. Estudos experimentais de Salye (pág.41)
demonstraram que estímulos emocionais crônicos (não necessariamente
de perda ou frustração) podem, exatamente como os estímulos crônicos
pôr infeções, intoxicações ou traumatismos físicos, causar doenças e
lesões ao corpo. Cabe lembrar que crônico, em medicina, pode ser
entendido como algo que ocorre ao longo do tempo. É preciso considerar,
contudo, o importante aspecto ligado à maneira do indivíduo de lidar com
essas perdas e frustrações, tanto as grandes quanto, sobretudo, as micro
perdas do cotidiano, tais como perder a hora, um propósito qualquer que
não se cumpre, um engarrafamento no trânsito ou a desatenção de
alguém que se estima. Parece claro – e todos podemos testemunhar isso
- , como lembra Dejours1, que “certos sujeitos se mostram muito frágeis
diante da excitação, seja ela qual for, e estão em estado de ser
traumatizados pôr um sim e pôr um não, enquanto outros se defendem
com uma eficiência digna de admiração”.
Como sumário deste artigo, parece-nos importante realçar os seguintes
pontos com relação aos múltiplos fatores envolvidos no adoecer:
1. Há casos em que a pessoa já nasce com a doença, isto é, o mal
congênito e, dessa maneira, todos os outros fatores não terão influência
ou, se tiverem, será apenas na maneira do indivíduo de aceitar ou lidar
com a doença, nada tendo a ver com sua gênese. Atente para o fato de
que nascer com uma doença é diferente do nascer com predisposição
hereditária para uma dada doença. Neste último caso, mesmo com a
predisposição genética, a doença só ocorrerá se outros fatores estiverem
presentes, no todo ou em parte.
Em presença das más condições ambientais, particularmente níveis
precários de higiene, alimentação e moradia, a possibilidade de adoecer
é muito grande, independentemente dos demais fatores. Até porque, nas
situações de miséria, o próprio psiquismo do indivíduo e suas condições
de amar a si mesmo e à vida ficam obviamente comprometidos.
2. Excetuando as condições acima, a hipótese que aceitamos para a
gênese das doenças é a seguinte: todos nós nascemos, pôr razões
genéticas, com um ou mais “ pontos fracos” no organismo, isto é, órgãos
mais vulneráveis a adoecer. Na dependência da personalidade e do
psiquismo do indivíduo, da existência de mecanismos de defesa do “eu”
insuficientes ou inadequados, a ocorrência de situações externas
conflitivas ou vivenciadas como perda ou frustração criará tensões
internas insuportáveis para o ego, que provocará a doença no(s) órgão(s)
vulnerável (eis).
Pode ocorrer que o órgão “escolhido” para adoecer não seja aquele
constitucionalmente mais vulnerável, porém o mais carregado de
símbolos, para aquela pessoa, naquela fase de sua vida.

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216

Há, pois, em todas as doenças, como fica claro na figura 1, uma


conjunção de causas externas e internas. As internas dizem respeito ao
padrão genético do indivíduo, a sua personalidade e a seu psiquismo e,
intimamente ligado a estes, o estágio de desenvolvimento em que estiver
na vida.
Atentemos ainda, e esta é a importante conclusão deste artigo, para o
fato de que, como pano de fundo dos argumentos que utilizamos para
explicar/justificar a necessidade de adoecer, esteve sempre a falta de
amor a si mesmo, a incapacidade de exteriorizar emoções, a necessidade
desesperada e vital de reconhecimento e da atenção do mundo exterior.
1 – Dejours, C: O corpo entre a Biologia e a Psicanálise. Artes
Médicas. P. Alegre, 1988
2 – Pontes, JF e cols.: “Curso de Medicina Psicossomática do Instituto
Brasileiro
de Estudos e Pesquisas de Gastroenterologia, IBEPEGE.
Bibliografia : SILVA, Marco Aurélio Dias – Quem Ama Não Adoece – Best
Seller, 1994

Desenvolvimento psicossomático
Poder-se-ia analisar este assunto levando-se em consideração os pontos
de referência de Freud, Melanie Klein, etc.; abordando-se aspectos
emocionais ou descrever, como é feito nos livros básicos de pediatria, as
diferentes idades em que aparecem fenômenos denunciadores de
maturidade neurológica, projetada no soma da criança, tais como sentar,
ficar de pé, andar, falar, etc.
Entretanto, decide-se deixar de lado tal tipo de exposição, porque
dificilmente alguém conseguiria expressar tão bem o desenvolvimento
emocional da criança, como fizeram os dois primeiros autores, enquanto
o segundo aspecto citado está bem caracterizado nos trabalhos de Gesel.
Tendo o exposto como ponto de partida e levando-se em consideração os
autores, procuraremos discutir o desenvolvimento do bebê dentro de um
contexto psicossomático, porém, representativo dos sinais clínicos
facilmente observáveis em consultórios e trazidos pelas mães. Isto
significa que as manifestações do bebê em sinais clínicos são capazes de
influenciar reações maternas que atuarão de novo no bebê.
Sabemos que a criança ao nascer, vive a fase dita oral e que, nos
primeiros meses de vida, tudo leva à boca, explorando esta área com
intensidade. É comum a mãe estar amamentando e o bebê virar a cabeça,
deixando o seio pelo fato da manta que o envolve tocar algum ponto

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217

próximo da boca. Isto é reflexo, normal, mas às vezes não entendido pôr
quem cuida do bebê. Um comportamento aludido pela mãe foi o seguinte:

O bebê levou a mão à cabeça e reflexamente agarrou o cabelo, puxando-


o com força.
Uma vez fechada a mão e puxando os fios de cabelo, a dor o fazia chorar
e o nenê não abria a mão para se livrar do problema.
É claro que ele só procederia assim quando o reflexo se esgotasse e isto
é normal.
É lógico que esta mãe se tornou ansiosa e aqui entra a tal ansiedade como
fenômeno. Voltemos à fase oral e continuemos a descrição dos fenômenos
a ela relacionados.
Sabe-se que desde a vida intrauterina os bebês chupam o dedo. Pode-se
até radiografá-los nesta atividade.
Ao nascer, a voracidade é tamanha que, levando a mão à boca, o faz com
ganância, produzindo estalos perceptíveis mesmo à distância.
Aqui há algo de que se precisa ter consciência para não se criarem
errôneas interpretações.
A primeira coisa que as pessoas pensam ao ver o bebê com os dedos na
boca é que ele vai viciar e depois crescer com os dentes tortos ou arcadas
deformadas.
É preciso elucidar que toda criança coloca o dedo na boca e que isto é
normal. Se o bebê é respeitado pôr quem cuida dele, e se sua relação com
a mãe for adequada, o comportamento de chupar os dedos desaparecerá
e será substituído pôr outro mais adequado.
A criança só ficaria chupando dedos no futuro, caso não passasse pôr
esta fase com liberdade, ou se sua relação com o ambiente não fosse
satisfatória.
Há algo mais que piora erros cometidos com o bebê que põe a mão na
boca. Esta alguma coisa que tanto interfere no desenvolvimento do bebê
chama-se chupeta.
Então a escola ensina simplesmente que o chupar dedos vicia e deforma
as arcadas das crianças.
Quem ensina isto, ignora que no desenvolvimento normal o bebê
rapidamente deixa tal comportamento e o substitui pôr outro mais
convincente para ele.
Aí começa o mercado a se movimentar para salvar as arcadas, que não
precisam ser salvas. Necessitamos que os pediatras, médicos e dentistas

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218

valorizassem a relação mãe-filho e fornecessem orientações às famílias


para melhorarem a qualidade de vida dos bebês. Como os meios de
comunicação vão a todo lugar, há mulheres preocupadas com as arcadas
dos filhos antes mesmo que eles nasçam. È óbvio que tais preocupações
aumentam de novo a ansiedade das mães e com isto piora a relação com
seus bebês.
Vejamos como ficam as coisas:
As mães olham para seus bebês e ao invés de vê-los e senti-los com seus
potenciais e com suas emoções, os observam medrosas de que ponham
os dedos na boca. Então, o rosto da mãe estampa medo e preocupação
quando poderia transparecer a tranquilidade, felicidade e sensação de
bem-estar.
Há outra coisa séria nisso tudo. Quando troco o dedo do bebê pela
chupeta, modifico sua percepção, pois é diferente chupar o dedo e
chupeta.
Ao sugar a mão, esta sente a boca e a boca também sente. Com o tempo,
o bebê percebe que as duas coisas pertencem à mesma pessoa.
Isto chama-se integração e é importante para o conhecimento que o bebê
precisa ter de si.
O prazer de sugar é sentido pela boca e pelo dedo.
O uso da chupeta não propicia estes aspectos psicossomáticos referidos.
Fica claro ainda que o levar a mão à boca, errando e acertando o alvo,
permite ao bebê desenvolver noções básicas de coordenação e notar a
produção de saliva, fenômeno que para ele é muito significativo.
Continuando, observamos que toda vez que o bebê leva a mão à boca, a
mãe tenta ajudá-lo pôr entender que deveria chupar só um dedo e não
vários, ou até mesmo a mão inteira. Neste ponto, arbitra-se o
comportamento do filho que de experiência criadora transforma-se em
sofrimento para ambos.
Frequentemente, ao ver os filhos sugando as mãos, as pessoas pensam
logo em fome e substituem o objeto da sucção, tirando os dedos e
colocando mamadeiras ou chupetas no lugar.
A frustração do bebê é enorme porque ele não queria coisa morta
(chupeta) e nem tinha fome. Assim rejeita a mamadeira, fica nervoso,
ansioso e com comportamento de choro pôr longo tempo.
Como nós só pensamos em comer, porque isto é imperioso numa
sociedade de consumo e o bebê não aceitou a mamadeira, ficando nervoso
o resto do dia, a conclusão é indubitável:
“Se não está com fome, está doente”

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219

Aí começam remédios para dor de barriga, ouvido, digestão, gases; o


choro congestiona o nariz e exige o descongestionamento, a garganta fica
vermelha e determina o uso de anti-inflamatórios e até mesmo de
antibióticos.
Para o consumismo, quanto mais forte, mais comida, quanto mais
comida, mais obesidade, mais prescrições dietéticas e remédios.
Na mesma linha de raciocínio, quanto mais doença, mais angústia e,
portanto, mais consumo de medicamentos e de alimentos.
Ora, com tanta ansiedade no ambiente, o que é mesmo de se admirar é
que nossos bebês sobrevivam!
É preciso que se saiba o porquê de tanta preocupação com os
sentimentos da mãe ou, o que é o mesmo, pôr que se fala tanto em desvios
de sentimentos.
Sabe-se que o rosto da mãe é o espelho onde o bebê se enxerga, e se
percebe.
Daí a conclusão de que as mães e os adultos, de modo geral, passam às
crianças não só o que falam, mas numa comunicação não verbalizada
transferem a elas amor, alegria, tristeza, medo, etc.
Desta forma, na mãe deprimida o bebê se espelha deprimido e a mãe
ansiosa o faz sentir-se com ansiedade, como já mencionamos linhas
atrás.
Nesta fase do bebê, bastante inicial da vida, começam grandes
dificuldades futuras e que nem de longe são suspeitadas. Assim, aqui
têm início problemas de sono, falta de apetite, autismos, psicoses, etc.
Mas, voltando à questão na boca, percebe-se que, num passo seguinte, o
bebê aprofunda a mão na cavidade oral, aumentando em consequência a
salivação pôr estímulo.
Todavia, não só a salivação preocupa, mas muito maior desconforto para
a mãe ocorre quando o bebê toca as regiões posteriores orais e faz ânsia
de vômito.
A ânsia surge e, o que era para o adulto algo mau, para ele é uma nova e
gostosa sensação.
Os pais precisam entender que quando a criança faz uma experiência
como esta, da ânsia e até mesmo do vômito, está vivendo sensações novas
e importantes para o seu desenvolvimento e que estas experiências
precisam ser respeitadas sob pena de prejudicar o bebê.
O prejuízo é grande porque, ao interferir, a mãe está se sentindo mal e
querendo que o bebê sinta o que ela sente (desprazer) e o filho está
sentindo o contrário (prazer). Ora, dá para perceber claramente que já

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220

aqui impedimos nossos bebês de sentirem e impomos a eles o que


queremos que eles sintam.
Continuando a observação, é comum encontrarmos o bebê fazendo
barulho com a boca, quer gargarejando ou emitindo sons como tá-tá-tá,
gu, gu, gu, gu-ru, etc.
Às vezes, a criança passa grandes intervalos de tempo emitindo sons, o
que preocupa a mãe. Aqui nada há a fazer, a não ser, não fazer nada. Isto
significa que o adulto deve permanecer tranquilo, falar docemente com
ele. Às vezes, a mãe o imita cheia de felicidade e ele fica feliz.
Nesta fase há algo que muitas vezes irrita a mãe pouco preparada.
O bebê faz “borbulhas” de saliva ou de leite ao mamar, acumulando o
alimento na boca para depois jogá-lo fora.
São experiências importantes para o desenvolvimento da criança que
devem ser aceitas e tratadas sem ansiedade.
Há de notar, e isto é básico, que a mãe não finja o que ela realmente está
sentindo. Assim, a mãe ansiosa, deprimida, derrotada, etc. passa tudo ao
filho que se sentirá do mesmo jeito.
Bibliografia : MELLO, Adolpho Menezes – Psicossomática e Pediatria –
HEALTH, 1996

O ser saudável em seu princípio I


Um dia o bebê está dentro de seu experimental, percebe algo que lhe
surge de repente e o impressiona sobremaneira.
Pode ser a mão que passa diante do rosto ou a sombra de algo que o
estimula. Ele sente curiosidade e quer conhecer. Nós nascemos
conhecendo e para conhecer. Este é o objetivo fundamental do homem.
Às vezes, o estímulo não é visual, mas, auditivo ou táctil. Em outras
oportunidades, a estimulação vem pelo cheiro.
È curioso observar um bebê no seu quarto, quieto e com pouca claridade.
Entra uma pessoa qualquer sem fazer barulho, não toca nele e nem
acende a luz. O bebê continua se comportando como se nada houvesse
mudado. Entra a mãe e procede da mesma maneira. O bebê, com a
presença da genitora, se agita e sorri feliz. O que houve? Pode-se
perguntar. O bebê reconheceu sua mãe pelo cheiro. Assustamos quando
ouvimos tal afirmativa mas esquecem de que o bezerro, no meio de 50
vacas, acha a mãe pelo sentido do olfato.
Além disso, há uma ligação entre bebê e mãe que permite a um e ao outro
se comunicarem sem os sentidos ou sinais convencionais. É uma

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221

comunicação que, ousaríamos dizer, se passa no plano das “energias”.


Aqui há projeções maciças de “energia” entre mãe e filho e vice-versa.
Já é conhecido o fato de mulheres que, tendo sono pesado, ao ter filho,
qualquer barulho produzido pôr estes as acordavam. Nos casos citados,
o fato das portas estarem fechadas e a distância entre mãe e filho não
permitirem qualquer percepção de barulhos pôr parte das mães nos
fazem perceber não serem os ruídos que as acordaram.
Precisamos, de uma vez pôr todas, convencermo-nos de que o bebê
precisa conhecer, necessita aprender e explorar e isto ele começa
realizando através dos sentidos e de identificações projetivas ligadas à
mãe e aos adultos com quem ele se relaciona.
Em relação ao físico, o bebê, como vimos no capítulo anterior, começou
experiências pelas mãos e a boca, mas não para pôr aí.
Quando a mão se movimenta diante dos olhos, ele se encanta e a procura.
Ela cai porque não há controle suficiente. Daí para frente, cada vez que
vê a mão, seu espírito está aguçado e o prazer de aprender e viver
aumenta. Paralelamente, o sistema nervoso amadurece e a mão pode
ficar no ar e ao alcance dos seus olhos.
Neste momento, fica encantado e a movimenta de um lado para outro.
Com a mão, os olhos se movimentam e além do prazer que isto lhe dá,
surge no campo visual a outra mão. Pode parecer estranha a afirmativa
de que movimentar os olhos dá prazer, mas não é. Cada setor do corpo
que o nenê sente, toca ou percebe, o estimula a conhecer e a ir em frente.
Estes prazeres de desvendar o próprio corpo é que servem de base para
o espírito da busca dos conhecimentos futuros.
Com as duas mãos descobertas, uma busca, toca e explora a outra. Com
o tempo se descobrem os braços e adquire-se a sensação de que as mãos
pertencem à mesma pessoa.
Daí para a frente, as mãos exploram o resto do corpo, tocando- o e
sentindo. Cada parte que se toca, sente e é sentida, tudo isso é muito
importante para que o cérebro perceba e integre todo o corpo como
unidade.
Isto é básico porque, com esta estação, o bebê não mais precisará de ser
“agregado pelos outros”, ele próprio sente-se capaz de se conter e não se
esparramar pelo espaço que descobre. Neste momento, se ele não puder
se integrar, ficará com o receio de que se desagregará, ou de que precisa
da mãe ou de qualquer objeto substituto para que a desintegração não
ocorra. Assim, fica claro que, nesta fase, qualquer atitude impedidora da
auto exploração fará com que o bebê tema continuar seu progresso e
passe a necessitar da mãe, da fralda, da chupeta, etc., para sentir coeso.

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222

Anteriormente, crianças imaturas, medrosas, etc. soavam que a mãe não


colocou limite para que elas amadurecessem. É claro que isto é verdade
e o filho mais tarde precisa de tais limites. Hoje, todavia, há consenso
que, nesta fase de auto exploração precoce (integração), o bebê pode se
tornar inseguro, fixado na não-integração, medroso e persecutório, se a
mãe não for suficientemente boa para permitir que se integre e não tenha
a sensação de “liquefazer-se” no espaço.
Quando o bebê percebe a sua unidade e adquire a certeza de que algo o
mantém coeso em todas as suas partes e sentimentos, torna-se seguro,
sente seus limites com o resto do mundo e pode crescer e explorar com
certa tranquilidade o universo exterior.
Voltando à continuidade da exploração corporal, vemos que o bebê
descobre os pés e os coloca na boca.
Isto dá prazer, mas também o faz sentir os pés, as pernas, as mãos e os
braços “flutuando no espaço”.
Além de olhar os quatro membros, ele os sente suspensos e este sentir é
outro prazer renovado.
Daqui a pouco outra descoberta: os genitais. Ele os toca e usufrui de dois
prazeres: o da descoberta e o prazer da estimulação.
Como ocorre com todas as descobertas, o bebê repete todas essas
experiências milhares de vezes, para depois passar ao aprendizado
seguinte.
Em relação aos genitais, as mães, muitas vezes não suportado a
exploração, interferem para evitá-las.
Aqui aparecem várias maneiras de se bloquear o prazer do bebê.
Há mães que, com medo de que o bebê puxe o seu pênis e o machuque,
acabam pôr segurar as suas mãos. Outras se dizem liberais e
disfarçadamente colocam a fralda para aliviar a angústia. Há mães que
dão as costas ao bebê e ignoram suas atitudes.
Ao vermos nosso nenê explorando qualquer parte do seu corpo, teremos
de olhar com o sentimento profundo de que o que faz é profundamente
belo e correto. Basicamente, manifesto a admiração e a poesia que
realiza, com o rosto descontraído e um sorriso nos lábios. Podemos ir até
mais além, pôr exemplo, dizendo:
- “Que lindo, que maravilha, que beleza, meu filhinho pesquisando o
seu corpinho!”
Isto dito baixinho, carinhosamente é realizado com profundo sentimento
de admiração, fará o bebê sentir vida e querer continuar vivendo.

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223

Temos certeza de que este bebê, contido pela mãe inicialmente, poderá
passar dessa contenção exterior para uma contenção interna, que
chamamos de sua força de vida, sem qualquer problema ou medo.
Ainda mais, partindo da não-integração para a auto exploração, não terá
necessidade de se manter coeso pôr forças externas e, portanto,
dispensará com o crescimento, naturalmente, as chupetas, o chupar
dedos e outras atitudes e objetos que lhe conferem segurança.
Na medida em que cresce, é claro que, enquanto se auto explora, também
percebe o mundo a sua volta e dirige toda a possível admiração para ele.
Assim, é comum ver um nenê de meses arregalar os olhos quando o carro,
onde está, passa pôr lugares claros e escuros alternadamente. Quem já
não viu uma criança, no seu primeiro ano de vida, olhando a sombra de
sua mão na parede ou a poeira do ar refletida na luz que entra no seu
quarto.
Nesta altura de nossa descrição, precisamos enfocar algo interessante
que, pôr incrível que pareça, suscita dúvidas e ansiedade nas mães.
A partir de alguns meses, o bebê emite sons. São comuns o ah gu, gu,
gu-ru, gr...Ah!!! e isto até que é bem aceito. Todavia, as mães temem que
a emissão de sons guturais irrite a garganta do bebê e o torne doente.
É claro que este medo é devolvido ao bebê pôr parte da mãe ansiosa.
Aqui, de novo, o que é prazer para o bebê tornou-se desprazer para a mãe
que a nível de “transferência” tenta controlar a vida e os sentimentos do
filho. Interessante como essas mães se sentem liberais e verbalizam a
ponta do iceberg, como se ela representasse o iceberg inteiro.
Gostaria que os pais entendessem que o afundamento do navio é
ocasionado pela grande parte do gelo submerso e invisível.
Vejam que a mãe é bombardeada em todos os seus sentimentos pelas
experiências do bebê que utiliza dos seus meios de comunicação
possíveis para expressar o que sente.
Uma fala uma língua que, se o outro quiser enquadrar dentro dos
parâmetros convencionais, o entendimento não será possível.
É o bebê “falando” e mãe tentando entender.
O outro quer impor suas condições convencionais e culturais e o primeiro
busca compreender, não para agradar alguém, mas simplesmente pelo
prazer de conhecer.
É a mãe “falando” e o bebê conhecendo a seu modo, sem ligar para a mãe.
Ou se reveste de imenso respeito pelo bebê ou a relação torna- se
impossível, prejudicial a ele.

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224

Fica claro que, se quisermos falar sobre este assunto até o fim, não
conseguiremos. Pôr isso e para terminar o capítulo, diríamos que essas
primeiras relações são básicas para a saúde do bebê e da família no
futuro.
No restante da evolução esta base vai sempre reaparecer, se foi bem
assentada, sob forma de saúde e se mal assentada, como estigma de
doença.
Bibliografia: MELLO, Adolpho Menezes – Psicossomática e Pediatria –
HEALTH, 1996

O ser saudável em seu princípio II


É claro que, enquanto se explora e até pôr isso mesmo, o bebê vai
amadurecendo o sistema nervoso e isto ocorre da cabeça para os pés.
Pôr isso a criança controla os olhos, o pescoço, para depois controlar o
tronco e finalmente os membros inferiores.
É preciso perceber que cada coisa nova aprendida faz com que a
experiência seja repetida até esgotar o desejo da repetição e aparecer nova
prova a ser cumprida.
Dentro deste esquema, o bebê consegue acompanhar objeto com os
olhos, virar o pescoço, ficar sentado e gosta muito disto. Depois que a
criança aprende a se virar na cama, a ficar de bruços e a sentar, não
gosta mais de voltar a posições já vividas, como pôr exemplo, deitar-se de
costas.
Ora, se isto não for compreendido, a mãe pode tomar mais fatos como
anormalidades e querer corrigir o filho. Como a criança vai reagir em
sentido contrário ao da mãe, gera-se ansiedade nesta e deteriora-se a
relação mãe-filho.
Queremos que se note o seguinte:
Uma coisa acharmos ruim com o nosso filho e até sentir raiva dele pôr
uma atitude que, apesar de nos irritar, sentimos como normal.
Outra coisa é a ansiedade que gera em nós a atitude do nosso filho que
não entendemos e sentimos como anormalidade.
No primeiro caso, podemos sentir a raiva e lidar com ela com amor, ao
passo que, no segundo caso, a ansiedade nos impede de agir com amor e
nos tira a oportunidade de lidar com a raiva subjacente gerada pela
situação criada no relacionamento.
No primeiro caso, o remorso posterior é pequeno e possível de lidar, ao
passo que, no segundo, tal remorso não pode ser lidado e ajuda a
aumentar a ansiedade que se reflete e deteriora mais uma relação.

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225

De início, quando o bebê já pode acompanhar pessoas com os olhos até


perdê-las de vista, ao não ter mais a mãe no seu campo visual, chora e a
quer de volta.
É interessante que, depois, aquilo que parecia sofrimento, torna-se
prazer e experiência.
Após algum tempo a mãe se afasta e há o choro. A mãe volta e ele sorri.
Neste momento, a mãe sumir e reaparecer torna-se jogo mágico dentro
do qual o bebê é o poderoso senhor que o realiza.
Nesta fase, a criança gosta de brincar e cobrir os olhos com a fralda e
retirá-la, porque nisto cria e recria a figura materna, após fazê-la
desaparecer. Também é comum ver o bebê abrindo e fechando os olhos
mil vezes, fazendo os objetos aparecerem e desaparecerem sob o seu
absoluto controle (ideia mágica).
Neste momento há necessidade de um cuidado especial que é o seguinte:
O bebê chora porque acordou e não viu a mãe, ou porque ela saiu de seu
campo visual. A mãe angustia-se e volta na velocidade do relâmpago.
Com o tempo, o choro torna-se o objeto mágico e controlador do prazer.
A mãe precisa ensinar, através do seu comportamento, ao bebê que não
precisa do choro para que ela volte, venha ou para que ele se sinta seguro.
Assim, ao choro ela pode responder com frases tipo: “filhinho!!! a mamãe
está aqui. Olha, fique calmo porque eu já vou”. Com o tempo, o bebê
associa a voz com o quarto e seus objetos e, ao acordar, sente-se seguro
sem precisar da sua presença imediata.
Cada mãe pode, à vontade, traçar seu roteiro de aproximação do bebê,
desde o momento que ele a solicite até chegar a ser alcançada pelo seu
campo visual.
Nos primeiros meses de vida há outros comportamentos que dão ao bebê
muito prazer, mas que, às vezes, a mãe pode não gostar ou não entender.
Durante o banho é comum o bebê bater as mãos e as pernas na água e
isso, de início, é sem querer e ocasional. Acontece que, com o tempo, ele
tem prazer nisso e o faz para usufruir desta deliciosa descoberta.
Então durante o banho a mãe se lava junto com o bebê. Se isso a irritar,
os dois vão acabar brigando. Desta forma, ao banhar o bebê, a mãe deve
se preparar para o grande brinquedo, criado pelo filho, que é brincar com
a água. Este preparo faz com que o banho se torne um grande prazer
para ambos. Aliás, este prazer, dele bater na água, é uma evolução do
que o bebê fazia quando se agitava, batendo pernas e braços contra o
colchão do seu berço e no seio do líquido amniótico.

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226

Lá o meio era ar e sólido (cama), aqui o meio é líquido, como na vida


intrauterina.
Neste período, há outro comportamento do filho que os pais precisam
entender.
No segundo semestre da vida, pôr volta de oito a nove meses, começa o
fenômeno de estranhar.
As pessoas chegam e então escondem o rosto, encostando-se no corpo da
mãe. Se insistirmos para que lhe olhem ou vão com o estranho, choram
com extrema infelicidade.
É claro que este comportamento é normal, passageiro e qualquer esforço
para alterá-lo prejudica a criança.
É pôr isso e pôr outros motivos que nunca se deve deixar o bebê dormir
e acordar sem a mãe ou conhecidos, em lugar estranho.
Este mesmo motivo faz com que as crianças pequenas chorem, não
durmam, quando viajam e ficam fora de suas casas, quer no ônibus, trem
ou nas casas que visitam, até que se adaptem. Nestas circunstâncias, a
criança pode apresentar nervosismo, insônia, anorexia, “diarreia”, etc.,
como expressões somáticas do quadro criado pelo ambiente ou pessoas
desconhecidas.
Aqueles que lidam com a criança e procuram educá-la, entendê-la e não
a dominar, sentem que, no fim do primeiro ano de vida e começo do
segundo, elas se tornam brincalhonas e extremamente ativas.
Tais comportamentos tornam-se evidentes em algumas situações
específicas, como as que se seguem:
A criança acaba de mamar e atira a mamadeira ao chão, escuta o barulho
e gosta. A mãe cata a mamadeira e a entrega de novo. De novo a
mamadeira é atirada ao chão. Novamente a mãe cata e a entrega ao bebê;
que outra vez a joga.
A mãe interpreta o fato como birra e teimosia e diz:
- “igualzinho à minha sogra, teimoso que nem ela!”
De verdade, o som produzido deu ao bebê o desejo de reproduzi-lo,
atirando os objetos até que se convença de que é capaz e passa para a
experiência seguinte.
Não há nenhuma birra, há prazer em se fazer algo.
Certo dia, dissemos a uma mãe queixosa que desse a mamadeira ao filho
numa sala com carpete. Ele terminou de mamar e atirou a mamadeira
que caindo, não produziu nenhum som. Então chorou, porque se sentiu
frustrado.

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227

Deu-se de novo a mamadeira a ele noutra sala. Ao atirá-la, o som


produzido o fez feliz e não determinou qualquer choro.
Ficou provado que era o som que motivava o prazer de produzi-lo e o
comportamento de atirar a mamadeira.
Neste mesmo período, o dinamismo do bebê e o seu desejo de brincar
ficam claros quando se vai trocá-lo.
Se ainda não anda, ao ser trocado, rola na cama e não deixa a mãe
realizar seu trabalho. Se já sabe andar ou engatinhar, corre para longe,
para que a mãe corra atrás. É um brinquedo e ele gosta dele tanto, que o
repete todos os dias.
Há prazer em escapar da mãe até mesmo para mostrar poder ou pela
graça de sentir a distância entre eles, mas ao ser pego e obrigado a se
submeter, sua onipotência é ameaçada e ele odeia tudo. Este ódio
manifesta-se pelo esperneio, gritos e, muitas vezes, pela tentativa de
agredir. Tudo isto tem de ser lidado de tal sorte que a onipotência do bebê
diminua, ou seja, a mãe faz o que tem de fazer, mas sem que permita ao
filho agredi-la fisicamente e sem que ela precise agredi-lo.
Neste impulso de crescimento, o bebê precisa cada vez mais de espaço.
Se não lhe oferecem espaço, o seu crescimento fica prejudicado.
Primeiro o berço e o colo, depois o chiqueirinho, que até pode ser usado.
No chiqueirinho o espaço aumenta e o bebê faz ginásticas de levantar e
sentar-se, desenvolvendo assim seus músculos. A seguir, vem o desejo
de sair dos limites das grades e começa a engatinhar e andar pela casa.
Com o tempo quer mexer em tudo. No segundo ano de vida ou daí para a
frente, adora pegar as roupas das gavetas ou as panelas dos armários e
brincar com estes utensílios, de maneira a obter o maior prazer do
mundo. Retira as roupas uma pôr uma e não as coloca de novo no lugar.
Depois aprende a colocá-las, mas o faz pegando um monte de peças de
uma só vez, enfiando-as no guarda-roupa de qualquer maneira; das
panelas retira sons, os mais estridentes possíveis, e depois deixa as peças
esparramadas pela cozinha. Tudo que vê, mexe, põe a mão. Muitas vezes,
pôr não ter coordenação, quebra objetos, outras vezes os quebra pôr
prazer e porque não entende ainda os valores convencionais.
Isto tudo é normal, mas pode ser lidado com certo grau de habilidade.
Nesta fase, seu filho precisa de um lugar adequado para ficar.
Não deve ficar na sala de televisão com os adultos, nem na cozinha com
quem trabalha, nem no quarto sozinho porque não gosta.

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228

Há necessidade de se ter tempo para os filhos. Pôr não termos tempo, é


que os deixamos em lugares impróprios, querendo educá-los
precocemente. Se a criança é colocada no lugar adequado, estas fases
passam e elas aprenderão as coisas com facilidade, quando aparecer o
raciocínio lógico.
Ocorre que quero ver televisão, enquanto minha mulher faz outra coisa;
então ponho o bebê com um dos dois, o que evidentemente está errado.
Não dá para se ocupar do bebê e de outras coisas ao mesmo tempo.
Poder-se-ia resumir dizendo que nossas casas necessitam de ordem, e
que dentro desta ordem enquadra-se o planejamento do espaço do bebê.
Para encerrar este capítulo, vamos nos reportar a dois fenômenos muito
interessantes para o bebê e que suscitam muita superstição. Referindo-
nos ao nascimento dos dentes e ao descobrimento do xixi e do cocô pôr
parte dele.
Há pessoas que acreditam que, ao nascerem dentes, o bebê apresenta
diarreia, febre, etc.
O que ocorre é o seguinte: Ao nascer o dente, a criança sente algo
estranho na boca, a que não está acostumada.
A partir daí e até que incorpore o dente ao seu esquema corporal, o “corpo
estranho” a incomoda e até mesmo a perturba. Deste modo, o bebê torna-
se irritado, mais nervoso, pode até enfiar mais a mão na boca e apresenta
certo aumento do número de evacuações, sem que isto se constitua em
diarreia.
A diarreia, segundo definição mais precisa, se constitui numa disfunção
intestinal com perdas de água, eletrólitos e de nutrientes. No caso do
aumento do número de evacuações associadas ao nascimento dos
dentes, não existe nenhuma destas características da diarreia e,
portanto, não há nada patológico.
O resumo da coisa é assim:
O dente nasce, para o bebê é um corpo estranho que o incomoda e que o
irrita.
Em decorrência desta irritação, o número de evacuações pode aumentar,
mas isto não é doença e não precisa de qualquer medicamento. A própria
adaptação do bebê à nova situação o faz passar normalmente pôr esta
fase.
Pôr outro lado, não é verdade que nascer dente ocasione febre ou que
coce ou doa.

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O melhor remédio para tudo isto é deixar o bebê resolver a situação


sozinho, recebendo apenas o remédio da nossa compreensão e do nosso
respeito.
A Segunda questão, que se refere ao xixi e ao cocô, quis lembrá-la, porque
é sabido que o bebê explora seu corpo e tudo que provém dele.
É comum e normal, portanto, que, ao descobrir fezes e urina, a criança,
pôr sadia curiosidade, brinque com elas.
Toda criança pega o cocô, o amassa, passa pelo corpo e até o coloca na
boca, sem o mínimo escrúpulo. Como não sabe nada que se relacione a
doenças, micróbios e higiene, delicia-se com o prazer de explorar e
conhecer algo sobre si, proveniente de si mesma.
Em relação ao xixi, quantas vezes vemos bebês batendo a mão nas poças
feitas no chão, ou bebendo-as até que o gosto não lhes agrade mais.
É óbvio que nestes casos compete aos pais evitarem que isto ocorra, sem
se escandalizarem com as tendências da criança em realizar tais fatos.
Evitam-se manipulações de fezes e urina de maneira tranquila, sem
exagero de sentimentos de repulsa e substituem-se com o tempo, o xixi e
o cocô pôr massas, água, tintas, etc., que dão à criança grande prazer e
boas possibilidades regressivas de lidar com seus desejos inconscientes.
Bibliografia: MELLO, Adolpho Menezes –Psicossomática e Pediatria –
HEALTH, 1996

“Futuros caminhos somáticos” - pré e pós-natal


A. Piontelli relata: a linha principal que une esta investigação, tanto o
psicanalítico como o de observação, é a de que há uma ligação sutil de
continuidade comportamental e psicológica se estendendo do feto ao bebê
e do bebê à criança. Resumindo brevemente, as continuidades no
comportamento pré e pós-natal nos fetos que observamos e nas crianças
pequenas que tratamos foram as seguintes.
Giulia foi um dos fetos menos ativos, suas principais atividades sendo
lamber a placenta, puxá-la algumas vezes delicadamente em sua direção,
e manter as mãos entre suas pernas; ela se mantinha em um estado
aparentemente tranquilo de unicidade com o ritmo da respiração de sua
mãe. Sua mãe disse: “Ela estava confortável demais La dentro” e, de fato,
seu nascimento fora um tanto demorado e muito traumático para sua
mãe, mas Giulia não pareceu ter ficado perturbada pôr ele, apesar de
toda a comoção em sua volta. Uma vez fora, ela inicialmente lambia mais
do que sugava o seio, do mesmo modo como havia lambido a placenta.
Mais tarde, com a ajuda de sua mãe e de sua avó, ela se comportava como
seu mundo pós-natal fosse um útero no qual tudo o que tinha a fazer era
comer e apreciar sua comida e outras fontes de gratificação sensual. Seu

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breai down foi precipitado pelo nascimento de seu irmão, prova inegável
de que alguém outro ocupara seu espaço pré e pós-natal, e grande parte
de seu tratamento comigo foi dedicado a ajudá-la a realizar um
nascimento psicológico e a diminuir a sua total dedicação à sensualidade
como único tema de sua vida.
Durante sua permanência no útero, Gianni ficava agarrado ao cordão
quase constantemente, ficando rigidamente imóvel, e precisou ser
resgatado pôr uma cesariana, tendo o obstetra comentado sobre a sua
“firme imobilidade”. Gianni continua obsessivamente rígido e se agarra a
rotinas e a pessoas da mesma maneira como se agarrava ao cordão.
É como se, já no útero, ele estivesse se mantendo coeso através daquilo
que Bick descreveu como “formação de uma Segunda pele” (Bick, 1968)1,
e continuou a fazê-lo.
Pina foi um feto audaz e ativo, que se imobilizou depois que um
deslocamento de placenta quase resultou em aborto. Ela continuou a ser
ativa e audaz, embora com uma considerável angústia claustrofóbica,
quase anoréxica, e medo de ser “levada embora pelas águas”.
O fato mais impressionante é que todos os gêmeos heterozigóticos
revelaram diferenças acentuadas nos comportamentos individuais e nos
padrões característicos de inter-relacionamento antes do nascimento,
padrões estes que se mantiveram depois do nascimento. Dividir o mesmo
ventre não pareceu afetar muito o temperamento básico de cada criança,
embora após o nascimento cada um revelasse sinais claros de ter sido
fortemente afetada pelo fato de ter compartilhado seu espaço com um
outro ser.
Enquanto feto Marco foi muito menos ativo e “extrovertido” do que sua
irmã gêmea Délia, e esta diferença se manteve durante a lactância e a
infância, apesar da preferência dos pais de Marco. Marco era maior que
Délia e nasceu primeiro, mas após o Nascimento Délia tomou a dianteira;
Délia continuou a ser uma criança alerta e interessada, enquanto Marco,
como sua mãe disse: “A única coisa que ele deseja na vida é dormir”.
Quanto pequenos, eles comumente colidiam ao passar pôr soleiras de
portas, e Délia, menor e mais ágil, costumava passar primeiro.
Lucas e Alice tinham temperamentos diferentes antes e depois do
nascimento, embora fossem gentis e afetuosos um com o outro tanto
antes como depois. Lucas era menor, mais ativo, foi o primeiro a nascer.
Eles se acariciavam mutualmente dentro do útero, do mesmo modo como
mais tarde, com um ano de idade, viriam a se acariciar, ficando cada um
de um lado da cortina. Aos quatro anos, Lucas estava tomando a
dianteira sobre Alice em suas tarefas escolares e seus contatos sociais.
Seu passado pré-natal está, no entanto, muito presentes neles. Lucas
brinca com carrinhos e faz o carro pequeno ganhar a corrida. Alice faz

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seus ursinhos se abraçarem e se acariciarem do mesmo modo como ela


e Lucas fizeram dentro do útero.
A continuidade pré e pós-natal mais impressionante para Marisa e
Beatriz foi que elas batiam uma na outra constantemente dentro do
ventre, e continuaram a fazê-lo no decorrer do seu primeiro ano de vida
e de sua primeira infância, com a amorosa acolhida pôr parte de sua mãe
e de sua avó da naturalidade de seu ciúme e de sua antipatia mútua.
Giorgio e Fabrízio tiveram uma experiência incomum dentro do útero já
que compartilharam não apenas do mesmo genoma, mas também da
mesma bolsa amniótica, de forma que estiveram interligados e
confundidos um com o outro no decorrer de toda a vida intrauterina.
Fabrízio geralmente era o primeiro a se mexer, sendo seguido um minuto
ou dois mais tarde pôr Giorgio, um padrão que continua evidente aso
quatro anos de idade. Giorgio e Fabrízio tiveram uma experiência pós-
natal muito estranha e negligenciada, sendo deixados a maior parte do
tempo em que estavam acordados sozinhos no escuro. Após um inicial
retardo da fala e de outros comportamentos, eles progrediram
notadamente quando foram para a escola maternal, mas cada um deles
tem uma expressão cruel e experimenta a gemealidade como uma
monstruosidade. Eles se odeiam, mas não podem ficar longe um do outro,
continuando entrelaçados.
Em um certo sentido, meus achados de pesquisa sobre a continuidade
entre a vida pré e pós-natal são óbvios, mas até hoje não são
universalmente aceitos, sobretudo, talvez, devido à falta de oportunidade,
até há bem pouco tempo, de se observar o feto. A maioria dos
psicanalistas e psicólogos, enquanto aceitam a ideia da hereditariedade
do temperamento, realmente parecem considerar que a vida mental do
bebê começa no nascimento. Muitos falam do “nascimento psicológico”
como se dando mais tarde, quando o bebê revela sinais rudimentares de
diferenciar self de objeto.
A “impressionante cesura do ato do nascimento”
Embora o nascimento acarrete uma mudança ambiental impressionante,
uma vez que a criança fica exposta pela primeira vez a um ambiente físico
radicalmente diferente e aos verdadeiros intercâmbios sociais e culturais,
isso não pareceu representar para as crianças observadas ou tratadas
uma completa mudança em si, mental ou emocional, a partir do estado
pré-natal. Poder-se-ia talvez pensar nisso como sendo uma espécie de
crescendo, o clímax do estado pré-natal, conduzindo para o estado pós-
natal, mas sem cortar os vínculos com os padrões pré-natais. O modo
como cada criança reagiu ao nascimento pareceu consistente com as
tendências individuais já bem definidas de seu passado. No entanto,
apesar da continuidade do comportamento pré e pós- natal, o nascimento
representou sempre um acontecimento extremamente importante,

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algumas vezes crucial. Traços disso puderam ser encontrados em muitos


comportamentos pós- natais, particularmente no caso de crianças para
as quais o nascimento tinha sido especialmente traumático.
A respeito do “sofrer de reminiscências” (Breuer e Freud-1893)
Tanto para as crianças observadas antes e depois do nascimento, como
para aquelas tratadas psicanaliticamente, sugerem que, embora pareça
pouco provável que as crianças se “lembrem” de suas experiências dentro
do ventre e de seus nascimentos, tais experiências são constantemente
revividas e reelaboradas à medida que elas crescem e se desenvolvem.
Isto ficou especialmente claro nos gêmeos; nas suas constantes
referências à falta de espaço e aperto, bem como nas suas preferências
pôr jogos relacionados com pares e duplas, eles parecem estar para
sempre ligados pelo fato de terem uma vez estado juntos como par dentro
de um espaço demasiadamente estreito.
Em sua claustrofobia e quase anorexia, Pina reviveu a sua imobilidade e
presumível tensão aguda e medo após a ameaça de aborto, e o seu alívio
ao sair de casa parecia repetir o seu alívio, descrito pelo obstetra que fez
seu parto, de se encontrar fora do útero. Gianni vê o mundo como um
lugar tão perigoso quanto o útero, em que precisa sempre encontrar algo
em que se segurar.
Mas é sobretudo com Giulia que se pode tentar estabelecer ligações mais
significativas com um passado que eu conhecia pôr meio dos exames
ultrassonográficos. A intensa glutonice que caracterizava o aqui-agora de
sua relação transferencial comigo, e o modo como me tratava como uma
espécie de background placentário prazeroso, parecem reedições das
imagens reais de seu passado pré-natal. Somente agora temos como
observar não apenas seu comportamento, mas também algo a respeito
dos sentimentos associados com ele. Embora estes sejam sentimentos
comuns, eles parecem comunicar algo a respeito de seu passado.
No caso das crianças pequenas tratadas psicanaliticamente, não
pudemos contar com imagens ultrassonográficas para compará-las com
seu comportamento pós-natal, mas também aqui pode-se ver ligações
entre o comportamento das crianças nas sessões e seu comportamento
pré-natal conforme descrito pôr seus pais. Não é provável que elas
pudessem recordar consciente ou coerentemente os acontecimentos de
seu passado, mas pareciam no mínimo, impactes de “reprimir” ou
“esquecer” algumas das sensações a este pertencentes, e este fato parece
ter prejudicado o seu movimento para frente em direção à vida. A maioria
destas crianças parecia, de fato, estar presa a uma reedição fatídica de
um passado incongruente. As consequências de tal aprisionamento no
passado ficavam tristemente evidentes nas suas frequentemente terríveis

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condições. Isolamento, concretude, aniquilamento do aparelho


preceptivo, são algumas das manifestações mais importantes tanto em
suas vidas diárias quanto nas sessões.
O comportamento frenético de Tilda na sessão, parecia indicar que ela
percebia uma sala como uma espécie de ventre persecutório repleto de
excessiva animação e estímulos demasiadamente variados. Apenas aos
poucos o útero adquiriu para ela uma qualidade mais benigna, e ela levou
exatamente nove meses até que finalmente pudesse “nascer”. Tina-Vera,
em seu constante enrolar-se com o cordão da cortina de minha sala,
revelava muitos dos significados complexos que a sua experiência pré-
natal e seu nascimento, com o cordão apertadamente enrolado em volta
de seu pescoço, possam ter tido para ela. Infelizmente, ela e Tilda
parecem continuar muito presas ao seu passado.
A flexibilidade de Thomas diante de todos os ataques horrivelmente
perversos aos quais foi submetido tanto antes quanto depois do
nascimento, parece claramente refletida em sua capacidade de aproveitar
o máximo do pouco que eu e a vida podemos lhe oferecer agora. Mas ele
não pode “esquecer” todas as agulhas e sondas que tentaram
reiteradamente abortá-lo. Peter anda pôr toda parte vestindo um
“paraquedas” caso venha a cair como caiu do ventre de sua mãe, incapaz
de contê-lo, e ele agora parece determinado em não se deixar pegar de
surpresa, mantendo um controle quase que premonitório e constante do
seu ambiente.
Tanto Peter quanto Thomas pareciam apreender o útero como um lugar
perigoso totalmente inadequado para oferecer-lhes qualquer forma de
segurança ou contenção física. Também eles precisaram de meses para
elaborar algumas das angústias relacionadas com seu passado distante.
Embora “ventres” parecem ser considerados como espaços seguros,
muitas das emoções pertencentes aparentemente à sua vida pré-natal
estão agora indissoluvelmente ligadas ao seu modo habitual de se
relacionar com a vida.
Diferentemente de Peter e Thomas, para Alexandre o ventre parecia ser
uma espécie de paraíso perdido onde ele podia desfrutar de uma
liberdade infinita dos demasiadamente variados estímulos deste mundo,
e liberdade também das leis da gravidade, do calor/frio, e prazer/dor que
regem a vida depois do nascimento. Ele queria uma vida imutável em
casa e nas sessões, assim como havia desejado uma música repetitiva e
sonora, quando esteve no útero.

Quando começa a vida mental e emocional


A maioria considera que a vida mental da criança começa ao nascer ou
algum tempo depois. Tendo em vista que comportamentos com

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características individuais se desenvolvem bem antes do nascimento,


pode-se assumir que alguma autoconsciência rudimentar esteja presente
antes do nascimento? Se tais experiências, incluindo algum tipo de
consciência de prazer e dor, dependem de um grau significativo de função
cerebral, elas não podem estar presentes em nenhum momento de todo
o primeiro trimestre – isto é, treze semanas (Grobstein, 1988). O feto
cobre um período de enorme mudança pôr quaisquer critérios que o
observemos. Biologicamente falando, até mesmo o período embrionário é
agora subdividido para incluir um estágio pré-embrionário, e nunca mais
na vida pós-natal acontecerá tanto em termos de crescimento e
desenvolvimento como durante os nove meses cruciais da gravidez.
É possível que alguma forma rudimentar de diferenciação self- outro
comece no útero? Obviamente, observar fetos através de ultrassom pode
informar-nos a respeito de como os fetos se comportam, e não a respeito
do que eles podem ou não podem sentir ou pensar. Isto provavelmente
nós nunca viremos a saber. Se, no entanto, se considera o
comportamento como uma expressão ou um precursor de algum tipo de
sentimento ou pensamento, pode-se tentar formular certas especulações
de natureza hipotética.
O movimento espontâneo parece difícil de ser entendido se não se invocar
algum tipo de fonte de ativação interna. As imagens ultrassonográficas
nos revelam o emergir de comportamento independente já na Sexta ou
sétima semana. Tudo isto levanta a questão referente à volição
independente e possível sensitividade, propriedades associadas com
individualidade psíquica, e portanto, com o início de uma possível
diferenciação “eu-não-eu” de fato podem alcançar o feto cada vez que ele
se mexe, através de um feedback proprioceptivo de sua estrutura
muscular. Estas sensações podem alcançá-lo vindas de fora, através das
variadas estimulações sensoriais filtradas ou derivadas do ambiente
intrauterino. Elas podem alcançá-lo provindo do seu próprio corpo
através de estímulos interoceptivos e sinestésicos, e assim pôr diante. A
partir do momento em que o feto começa a ter experiências sensoriais (e
estas, correspondem em tempo com o início da motricidade), ele parece
revelar preferências e reações altamente individuais. Portanto, o feto
parece já estar funcionando numa base de prazer-desprazer, em uma
mínima e mera noção de ser, que tem sido chamada de “sensibilidade”,
parece estar presente, se bem que talvez numa forma mínima. O fato de
que padrões de comportamento característicos são estabelecidos tão cedo
e evoluem progressivamente, mas sem perder sua forma característica,
me sugere que pode muito bem ser que envolvam alguma forma muito
rudimentar de diferenciação “eu-não- eu”.
Pode-se estabelecer normas psicológicas de vida fetal ?

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Será certamente preciso realizar muito mais pesquisas antes que se


possa estabelecer normas de comportamento e desenvolvimento fetal,
não apenas para movimentos físicos, mas
também para um possível desenvolvimento psicológico “normal” durante
a vida fetal. Até agora foram apenas estabelecidas etapas
comportamentais, motoras e sensoriais. Mas parece possível que certas
formações patológicas e defensivas possam começar a se desenvolver no
útero, às vezes estas formações resultam claramente de traumas uterinos
espontâneos ou induzidos, como no caso de Pina (onde quase houve um
aborto), Tina-Vera (duas voltas do cordão enrolado apertadamente em
seu pescoço), Peter (constantemente ameaçado de ser abortado) e
Thomas (tentativa de aborto). Pôr outro lado, não podemos ter certeza dos
fatores envolvidos na sensualidade pré-natal de Giulia, na procura de
Marco de uma “impossível paz inanimada”, ou na rígida contenção de
Gianni de si mesmo, embora a sua imobilidade possa ter sido uma
resposta às condições uterinas decorrentes da angústia de sua mãe.
Muita observação teria que ser feita para se estabelecer normas
psicológicas de comportamento fetal, mas me parece possível que
comportamentos tais como enclausuramento autístico, adesividade
(Gianni), e sentimentos de fusão (Giulia) possam não ser condições
normais a serem encontradas na vida fetal comum, mas podem
representar, mesmo neste estágio tão inicial da vida, fenômenos
defensivos patológicos; talvez pôr exemplo Giulia, na sua unicidade
fusional com o ambiente intrauterino, possa já estar resistindo a, ou
encobrindo, algum tipo nebuloso de realização de sensações “eu-não-eu”.
Uma patologia complexa tal como o autismo poderia assim estar
profundamente enraizada no passado pré-natal da criança. Todos os
entendimentos de autismo que consideram originando-se apenas em
fatores pós-natais e ambientais, podem ser pôr demais simplistas ao
ignorar todas as complexidades da vida pré-natal.

Natureza e ambiente
Apesar de considerarmos relevante a interação do herdado com o
ambiente, a maioria de nós tende a ver o indivíduo como moldado
basicamente pôr forças e impulsos intrínsecos ou pôr forças parentais, e
falando de modo geral, forças ambientais.

Com excessiva frequência, temos tendência a considerar “genético” tudo


o que é pré-natal, e, pôr conseguinte, não damos espaço a todos os
variados elementos e estímulos pertencentes ao ambiente intrauterino,
que está longe de ser neutro.

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Dentro do útero, no entanto, o feto está sujeito a uma quase constante e


variada estimulação e, pôr conseguinte, o inato e o adquirido estão de
fato se misturando todo o tempo desde o início. A dicotomia entre forças
genéticas e ambientais parece ser pôr demais artificial e simplista, se
aplicada de uma maneira que exclui uma ou outra.
Estas observações têm ensinado a olharmos tanto para a situação de
observação como para a terapêutica, com uma mente muito mais aberta.
Tivéssemos recebido uma criança como Giulia para atendimento e
subsequente tratamento, sem saber nada a respeito de seu passado pré-
natal, teríamos perguntado provavelmente se a sua constante busca de
prazer sensual e de comida, comprovada pôr sua obesidade e pôr seus
ares de prostituta, poderia ser um fenômeno compensatório devido à falta
de um vínculo emocional com sua mãe. Ou então teríamos perguntado
se seus problemas poderiam ser devidos à inveja ou rivalidade em relação
à sua mãe, ou a uma falta genérica de continência que ela poderia ter
sofrido nos primeiros meses de sua vida pós-natal. A excepcional
oportunidade de observar Giulia desde seus dias pré-natais acrescentou
uma dimensão extra e maior complexidade à tentativa de explicar os
fenômenos observados em sua vida posterior.
Se tivéssemos encontrado uma criança como Pina antes de ter realizado
esta pesquisa, pensa-se teria subestimado o efeito contínuo do trauma
uterino. Em função da atitude colaboradora de sua mãe, penso que eu
teria podido atribuir a claustrofobia e a anorexia de Pina a algum tipo de
fator hereditário – e, de fato, se formos considerar sua intrepidez como
pelo menos sendo em parte genética, ela bem podia ter tido um papel no
trauma uterino.
Assim, estas observações nos ensinam a olhar as situações terapêuticas
pôr uma ótica muito menos simplista, dando-nos conta que
comportamentos que parecem “obviamente” explicáveis em termos de
fatores atuais podem ter raízes diversas e mais complexas.
As emoções da mãe afetam o feto ?
Estas observações não se destinavam a responder a esta pergunta, mas
duas observações são relevantes. No caso do Marco e Délia, como descrito
acima, a mãe teve um episódio temporário quase psicótico durante sua
gravidez, mas nenhum efeito pode ser percebido no comportamento dos
gêmeos.
No caso de Gianni, parece possível que a ansiedade da mãe – tanto sua
ansiedade caracterológica quanto sua ansiedade aguda a respeito da
posição da placenta – possa ter afetado o ambiente uterino e, pôr
conseguinte, Gianni. A ansiedade da mãe tanto quanto as drogas
tocolíticas e outros distúrbios dentro do útero podem ter determinado a
súbita imobilidade de Pina depois da ameaça de aborto. Na falta de

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imagens ultrassonográficas, naturalmente não sabemos exatamente que


reações teve Peter quando ainda no ventre.
Certamente o efeito das emoções maternas sobre o feto merece estudos
outros e mais sistemáticos. Hipoteticamente, algum fator bioquímico
pode estar envolvido no caso de emoções maternas, e que é possível que
apenas emoções muito fortes e de relativa longa duração afetem o feto.

O ambiente pós-natal e padrões pré-natais de comportamento


Nesta pesquisa não fizemos nenhuma tentativa de comparar ou avaliar a
importância relativa dos ambientes e experiências pós e pré-natais.
A mãe e a avó de Giulia reforçaram muito e acolheram as suas tendências
pré-natais referentes à sensualidade e constante anseio pôr um
Background placentário sempre disponível. Tanto sua mãe quanto sua
avó, embora bem intencionadas, pareciam acolher suas tendências ao
providenciar constantes fontes de prazer sensual e alimentação contínua.
A atmosfera abrigada de seu mundo familiar também parecia reforçar as
tendências originais de Grulha em não querer “sair” no nascimento.
As mães de Gianni e dos gêmeos Marco e Délia, ofereceram apoio de tipo
tal que permitiu que as tendências de seus filhos continuassem, sem nem
as acolher ou agir contra. A mãe de Gianni notou sua rigidez, mas não
considerou que fosse algo em que ela precisasse prestar-lhe ajuda. Ela a
considerou como sendo sua natureza inata e achou-a muito limitadora;

ficou aliviada de poder retornar ao seu trabalho, e Gianni melhorou


bastante quando ficou aos cuidados de uma empregada. Os pais de
Marco observaram suas tendências para se retrair e as qualidades
extrovertidas de Délia; eles preferiam Marco, e de alguma maneira não
aprovavam Délia, mas não pareciam fazer esforço algum para alterar a
orientação de qualquer das duas crianças.
Pina foi evidentemente ajudada a superar muitos terrores pertencentes
ao seu passado pela compreensão de sua mãe muito observadora (e de
sua avó). Contrariamente aos seus planos originais, sua mãe esperou até
a primavera antes de cogitar retornar ao trabalho, e estava sempre muito
atente para acalmar Pina e confortá-la, sempre que seus receios de cair
ou suas angústias claustrofóbicas pareciam dominá-la.
A mãe de Lucas e Alice reconheceu o caráter diferente de seus gêmeos e
disse explicitamente (e o revelou em seu comportamento) que ambos
eram adoráveis, como de fato eram. De modo semelhante, a mãe e a avó
de Marisa e Beatriz permitiram a cada gêmea, e a seu irmão mais velho,

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serem como eram, com muita tolerância em relação à agressividade


mútua das gêmeas.
Em contraste, o ambiente pós-natal de Giorgio e Fabrízio parece ter
introduzido em suas vidas novas formas de experiência patológica. Não
apenas seus pais não os ajudaram a estabelecer identidades mais
separadas, mas também parecem ter criados problemas patológicos
adicionais para eles. Quando os gêmeos, em seu episódio febril, não
conseguiam distinguir a noite do dia, era fácil lembrar dos primeiros
tempos em que o seu quarto ficava em completa

escuridão a qualquer hora do dia. Quando a sua mãe comenta que eles
agora se odeiam e, no entanto, não conseguem viver um sem o outro,
podemos nos perguntar quanto de sua dependência mútua pode ter sido
alimentada pelo fato de que eles ficavam sempre sozinhos no quarto e pôr
conseguinte cada um podia somente socorrer ao outro, de forma que eles
tiveram que depender um do outro até mesmo para aprender a andar e a
falar.
Muitos dos pais das crianças pequenas também pareciam estar lá para
ajudar. Embora Peter pudesse ter sido considerado como uma criança
“normal” pôr muitos padrões, sua mãe sensível ficou preocupada com o
efeito de seu desprezo pôr ela e pôr mulheres em geral, bem como seu
esforço constante em exercer algum tipo de controle, pudessem ter em
sua vida futura. A mãe de Alexandre, após notar suas reações frenéticas,
quando ainda no seu ventre, a qualquer música dissonante, e mais tarde
preocupada com sua tendência a acidentar-se, o trouxe para tratamento
tão logo pôde, e tinha uma atitude de muito apoio. Embora suas filhas
lhes retribuíssem muito pouco, tanto os pais de Tina-Vera quanto os de
Tilda pareciam prontos a fazer qualquer coisa para ajudá-las.
Infelizmente, as condições destas crianças pareciam estar, desde o
nascimento, além da possibilidade de qualquer ajuda que os pais
pudessem dar. Somente os pais de Thomas haviam criado experiências
traumáticas para ele antes e depois de seu nascimento, mas a atitude
posterior da mãe para com ele melhorou consideravelmente.
1– Bick, E. (1964) ‘Notes on Infant Observation in psycho- analytic
training’,
International Journal of Psycho-Analysis 45: 558-66
2– Breuer, J. e Freud, S. (1893) Studies on Hysteria, Standard Edition of
the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (SE) 2.
Bibliografia : PIONTELLI, Alessandra – De Feto a Criança – Imago, 1995

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Organização pulsional e psicossomática

A partir da conceituação e que o fenômeno psicossomático é resultado de


uma falha na inscrição pulsional, não se colocando portanto nos limites
do inconsciente com o sistema consciente-pré-consciente, lugar do
recalcado, mas no limite do indispensável, constata-se que o bebê
apresenta a situação estrutural mais vulnerável para somatizações,
sendo estas o único quadro psicopatológico a ele imputável, pois sem
representações não há psicose e sem a clivagem da primeira tópica não
há terreno para as neuroses.
Essa constatação é reforçada pelo fato de que atualmente o bebê é
concebido como dotado de um vazio representacional, diferente das
primeiras concepções sobre o infantil primitivo na psicanálise, que foram
influenciadas pelas posições kleinianas.
Essas concepções dotavam o bebê de um psiquismo complexo, ricos em
fantasias e impulsos opostos, com sentimento de culpa e atitudes
reparadoras. Embora tenham desempenhado um papel muito importante
para a psicanálise da criança, a partir de Spitz1 e Winnicott2, apenas
para citar alguns, predomina a noção de que o aparelho psíquico se
desenvolve a partir de um estado inicial indiferenciado, passando pôr
estruturações sucessivas de processos psicológicos, que emergem dos
protótipos fisiológicos (Spitz, 1979). Em consequência, a relação mãe-
filho e o psiquismo dos pais também são enfatizados no processo de
constituição do sujeito psíquico.
Essas afirmações colocam no cenário inicial da organização pulsional os
conceitos de “apoio” e de relação de objeto, ambos abordados pôr Freud
para estabelecer o conceito de pulsão (Freud, 1915).
Contribuem também para as novas concepções sobre o bebê os trabalhos
que estudam o seu “equipamento de base” (Cramer, 1987), os quais
evidenciam que o bebê não se encontra num estado narcísico e autista,
rompido apenas pelos desequilíbrios fisiológicos, geradores de excitações
endossomáticas. Hoje, sabemos que o bebê nasce com grandes
capacidades perceptivas e motoras, voltado para estímulos externos, do
meio ambiente, havendo uma discriminação importante para os
estímulos da interação com o outro da maternagem. Marty (1993) usa a
denominação de “mosaico primordial” para essa estrutura,
considerando-a um conjunto de funções, inicialmente desarticuladas,
mas que passam pôr um processo de ligações recíprocas criando novas
estruturas, sucessivamente, e originando estruturas mais complexas. A
noção de “equipamento base”, já citada, é desenvolvida pôr Cramer
(1987), que analisa essa complexa organização do bebê, destacando que
seu papel fundamental é capacitá-lo para a interação com o “outro da
maternagem”. Infante escreve sobre a importância do conceito de “outro

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na maternagem” destacando aí dois aspectos: primeiro, que a


maternagem é uma função mais ampla que a mãe real, podendo ser
exercida pôr outras pessoas; segundo, para diferenciar esse “outro” do
“OUTRO”, com maiúscula, a linguagem.
Assim, as funções perceptivas, tais como a audição, a visão, o
reconhecimento cinestésico e as funções motoras, tais como sucção,
apreensão, choro, movimentos oculares e expressões faciais são
orientadas para a interação. Colocam o bebê como um parceiro ativo da
mesma, evidenciando, desde os primeiros momentos, a marca da
infiltração pulsional. Em síntese, hoje o bebê é concebido como uma
estrutura bem menos mentalizada, porém muito mais interativa, o que
resulta em uma báscula da sua estrutura para fora, ou para a interação
com o outro.
Essa situação vem consubstanciar a afirmação anterior, no sentido de
colocar o bebê como altamente vulnerável para as somatizações, o que é
amplamente constatado na experiência pediátrica.
A organização pulsional, em suas etapas durante o processo do
desenvolvimento da criança, vai ocupar um papel fundamental nas
vicissitudes dessa vulnerabilidade. No bebê, portanto, as excitações
provenientes das urgências somáticas e das experiências interativas
invadem o seu ainda precário e embrionário aparelho psíquico, não tendo
aí como serem escoadas para as estruturas psíquicas, de representações;
vão circular de volta para o somático, sobrecarregando-o, podendo dar
origem a distúrbios de variados graus de gravidade. Freud enfatizou esse
aspecto do infantil humano, embora não o articulando às somatizações,
ao afirmar que para o bebê “as situações de insatisfação são geradoras
de estímulos de grandes magnitudes, sem encontrar um aproveitamento
psíquico que as domine, nem derivações, irão determinar estados de
perturbação econômica” (Freud, 1925, p.2863).
A evolução desse vazio representacional está conjugada a três processos:
a intensidade das excitações, a descarga nos sistemas somáticos e a
pára-excitação. Essa é a situação inicial que desencadeará o processo de
organização pulsional na sua primeira etapa, dando origem aos primeiros
processos psíquicos, como veremos adiante.
A pára-excitação é o aspecto principal dessa primeira etapa e é dado pela
maternagem, compondo-se de um aspecto objetivo, representado pela
eficiência no atendimento às urgências físicas e psíquicas do bebê e de
um aspecto subjetivo, na medida em que a mãe, ou o “outro da
maternagem”, supõe um sujeito no bebê que grita, dando um significado
aos gritos e suas demandas a partir de seus próprios referenciais
subjetivos e inconscientes. Aqui fica enfatizado o caráter fantasmático da
interação, atribuindo à pára-excitação um aspecto intersubjetivo
(Cramer, 1987). As representações psíquicas inscritas nos sistemas

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mnêmicos do bebê, que vão constituindo seu aparelho psíquico, resultam


desse campo intersubjetivo, sendo profundamente configuradas pôr ele,
consubstanciando as marcas identificatórias dessa etapa.

O desconforto e a tensão vão sendo mais suportadas na medida em que


a memória significante das experiências de satisfação, ou a inscrição
mnêmica das mesmas, é acionada, dando conta de uma “realização
alucinatória do desejo” e originando a experiência psíquica do vazio,
protótipo da angústia.
Nessa etapa está operando o que Freud chamou de recalque originário,
nas bordas do mental com o somático. As polaridades necessidade-
satisfação, tensão-descarga, implicadas no princípio do prazer, são os
elementos que compõem essa dinâmica mental.
Os protótipos de um processo regressivo de realização alucinatória,
descritos para a função onírica em A interpretação dos Sonhos (Freud,
1900), estão presentes, mas aqui os “restos diurnos” são representados
pelas inscrições das experiências de satisfação e da interação, marcadas
fortemente pela subjetividade do outro da maternagem. A chave para
entender os distúrbios dessa etapa está na observação da maternagem e
na escuta dos sujeitos nela envolvidos.
Para Freud, os conteúdos do recalque originário são representantes da
pulsão, constituídos de imagens ou de algo dos objetos, que se inscrevem
nos sistemas mnêmicos; reduzem-se ao imaginário e sobretudo ao
imaginário visual, pôr oposição à representação das palavras, que é
característica do sistema pré-consciente – consciente. Ainda sobre o
recalque imaginário, podemos afirmar que “para aquém do simbólico, da
linguagem, situa-se o imaginário. Aquém do imaginário, situa- se a
excitação, o impensável: a pulsão (Garcia-Roza. 1995, p. 162).
Articulando o conceito de recalque originário com os conhecimentos
sobre o equipamento da base do bebê e da interação fantasmática,
concluímos que os representantes psíquicos da pulsão são constituídos
de um imaginário, não só visual, mas de todas as inscrições psíquicas
implicadas nesses processos. Além disso, como já assinalado, esses
processos são fortemente marcados pela subjetividade do “outro da
maternagem”.
Nesse mesmo sentido, MacDougall (1991) cria a noção “de um corpo para
dois”, abordando o estado de fusão do psiquismo nessa etapa, e Aulagnier
(1979) a noção de “pictograma”, abordando as inscrições psíquicas
implicadas na interação fantasmática. Dessa forma, encontraremos na
estrutura da maternagem o sentido para os distúrbios do bebê. Em
relação ao trabalho psicoterapêutico com adultos, essas noções se
cristalizam em técnicas como a da continência e a do “empréstimo de

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uma representação”, que é usada temporariamente para tamponar um


vazio, gerador de somatizações.
A organização estrutural dessa fase resulta na primeira clivagem do
aparelho psíquico, dando origem ao seu modelo mais simples: de um
lado, o impensável, o somático traduzido em excitações; e do outro, os
primeiros representantes psíquicos, imagéticos da pulsão.
A pioneira e importante observação de Spitz (1979) sobre a diminuição
da intensidade das cólicas do primeiro trimestre, dos distúrbios do sono
e da irritabilidade dos bebês, quando aparece o sorriso social, pode ser
uma evidência do efeito de para-excitação sobre as urgências instintivas,
quando estas são submetidas ao apoio das representações inscritas nos
sistemas mnêmicos.
O bebê, ao sorrir diante de qualquer rosto humano, revela que é capaz de
associar as experiências de satisfação a uma imagem – representação.
Esse é um mecanismo de deslocamento, pois uma parte da excitação é
investida numa representação, que em vez de circular no terreno
somático, passa a circular no terreno psíquico, agora um campo
pulsional. Se pôr um lado o bebê pode agora suportar melhor a ausência
materna, pôr outro a ausência cria esse campo imaginário fundamental
para a constituição do psíquico. Vemos que tanto a presença como a
ausência do outro da maternagem é importante, o que relativiza as
preocupações com as separações objetais. Retomaremos essa questão
adiante.
Outro ponto a ser enfocado nessa etapa é o aparecimento do
autoerotismo, que irá marcar a clivagem entre necessidade física e o
prazer libidinal, infiltrado pela fantasia, sendo uma formação psíquica
próxima ao sorriso social. No autoerotismo a excitação é investida em
uma parte do corpo, que com o apoio do imaginário poderá ser um
substituto do objeto. O autoerotismo, tem uma função calmante, sinaliza
a presença do imaginário e já revela uma característica importante da
pulsão, que é a de se deslocar de um objeto para outro.
Os elementos que compõem a organização do bebê no final desta etapa
são, em resumo, os seguintes: o outro de maternagem e sua
subjetividade, o processo primário, a realização alucinatória, o
autoerotismo e a descarga nos sistemas somáticos. A realização
alucinatória, como demonstrou Spitz (1979), é um eficiente mecanismo
para aliviar a violência dos impulsos, fato confirmado também pela
raridade dos fenômenos psicossomáticos nos psicóticos e autistas, que
representam uma massiva presença desse mecanismo mental.
A mãe que alterna a presença e a ausência, sendo apenas
suficientemente boa, como afirmou Winnicott (1978), facilitará o
deslocamento da organização pulsional para a próxima etapa. Pôr outro

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lado, a mãe totalmente presente ou ausente, sobretudo em termos de seu


investimento no bebê e não no sentido real da presença e da ausência,
cria situações em que ocorrem desorganizações, fixações e regressões
nessa organização pulsional.
Marty (1993) aponta para os processos de regressão, fixação e
desorganização na origem dos fenômenos psicossomáticos, colocando
que as regressões são articuladas com doenças reversíveis e as
desorganizações são articuladas a doenças evolutivas; portanto, mais
graves.
A partir de uma perspectiva dos movimentos na organização pulsional,
podemos afirmar que os movimentos progressivos são expressão de
pulsão de vida, e os movimentos regressivos e, principalmente, a
desorganização implicam a pulsão de morte.
A experiência clínica com crianças é rica em exemplos que confirmam
essas colocações conceituais, deixando evidente a associação dos
movimentos na organização pulsional com características da relação
objetal, nos seus aspectos agressivos e libidinais. Assim, o bebê ante a
um vazio relacional ou ante a uma relação instável ou, ainda, perante
uma relação agressiva apresenta “distúrbios do sono” e “merecismo”. O
distúrbio de sono é resultado de uma falha na realização alucinatória,
que deixa de funcionar como “guardiã do sono”. O “merecismo”, pôr sua
vez, revela uma falha nos investimentos autoeróticos, que em função de
uma falha de infiltração fantasmática desliza para um caráter autista,
repetitivo e destrutivo, próprios da pulsão de morte.
Melanie Klein (1978) contribuiu para essa questão quando afirma que a
experiência dolorosa e frustrante mobiliza a pulsão de morte na criança,
com seus componentes destrutivos; pôr outro lado, a experiência
prazerosa mobiliza a pulsão de vida, com seus componentes
estruturantes.
Ao conceituar pulsão de vida, Freud (1920) afirma que a mesma tem dois
componentes: os da auto-observação, voltados para o próprio sujeito,
participando do narcisismo primário; e os componentes sexuais, voltados
para a relação objetal.
Assim, podemos afirmar que nessa etapa da organização pulsional a
clivagem entre as duas pulsões irá se relacionar com as características
da maternagem. A báscula para o lado da pulsão de morte está implicada
nas desordens psicossomáticas, conforme Kreisler (1987) assinalou.
A leitura temporal desses conceitos, na perspectiva do infantil
psicanalítico, coloca-os no âmbito da psicossomática do adulto, a partir
da noção de que os fenômenos psicossomáticos se relacionariam com
essas etapas da organização pulsional, ou com essas instâncias do

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aparelho psíquico, implicando esses movimentos a estrutura psíquica do


sujeito.
A próxima etapa da organização pulsional está situada cronologicamente
no segundo semestre de vida e pode ser marcada pelo aparecimento da
fobia, das reações de estranhamento e das evitações. O bebê não
responde mais com um sorriso a aproximação de um estranho, mas
manifesta uma angústia, um evitamento ou uma forte reação fóbica.
Spitz (1979) dá a esse comportamento o nome de “organizador”, sendo o
segundo organizador, pois o primeiro seria o “sorriso social”, já abordado.
Embora mereça uma discussão longa, explicitamos que aqui estamos
considerando esses comportamentos como marcadores de etapas da
organização pulsional, enfatizando o seu valor na clínica da
psicossomática da criança, sendo, portanto, vistos como efeito da
estrutura e não como organizadores da mesma.
Winnicott (1978) também contribuiu para a identificação dessa mudança
estrutural quando descreve a hesitação do bebê na “situação
estabelecida”, técnica por ele criada para poder observar bebês muito
jovens na interação lúdica. Nessa “situação”, os bebês eram desafiados a
interagir com objetos oferecidos pôr um estranho. Winnicott, a partir
dessa técnica que passou a ser utilizada também nas terapias conjuntas
pais- bebês (Ranña, 1991), observa que a criança de oito meses não
apanha imediatamente os objetos oferecidos e resolve “considerar a
situação”, emergindo uma hesitação, um conflito. No mesmo sentido, o
sorriso, que era dirigido indiscriminadamente para qualquer pessoa,
passa a ser reservado para os conhecidos e diante do estranho emerge a
evitação ou a fobia.
Algo passa a operar sobre os impulsos. Esse algo é o “princípio da
realidade”. Emerge a capacidade de adiar a obtenção de prazer em função
de aspectos da realidade, aspectos que revelam uma outra posição
subjetiva da criança. A tensão- descarga da primeira etapa agora assume
uma outra estrutura, a do conflito, com angústia mentalizada e uma
fobia. Essas afirmações apontam para uma nova clivagem no aparelho
psíquico do bebê que já esboça as instâncias da tópica adulta.
Spitz (1979) concorda que o estranhamento seja resultado de uma
mudança subjetiva, afirmando que o bebê passa a perceber a ausência
materna. A alucinação, mecanismo usado na primeira etapa para
tamponar essa ausência, perde sua força, sendo deslocada para a
formação dos sonhos, que para operar necessita do processo regressivo
do sono, ou seja, necessita de um corte na realidade externa, que é feito
pelo adormecimento. É interessante observar que nos casos de desmaios
ou de perda de fôlego, diante do conflito ou da angústia, é exatamente
esse mecanismo que opera. O sujeito adormece para sonhar e sonhando
vai dar um destino para a angústia. Déjours (1988) também discute esses

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mecanismos quando analisa o papel do sonho no equilíbrio


psicossomático, pois o mesmo, nos moldes do sorriso social, representa
um destino psíquico para as excitações.
Voltando para o nosso ponto anterior, o bebê, para se manter acordado e
organizar psiquicamente a angústia diante da ausência materna, lança
mão de uma formação fóbica. A fobia pode ser colocada como um
mecanismo psíquico da ordem da condensação, que, como veremos
adiante, tem um papel importante para a organização pulsional e,
consequentemente, para o equilíbrio psicossomático. Aqui vamos deixar
marcado o aspecto que parece ser, como já afirmado, fundamental para
a psicossomática, que é relacionado com o papel da fobia no sentido de
capturar a excitação no aparelho psíquico, em contrapartida dos
sistemas somáticos.
Seguindo adiante nesse processo de organização pulsional, já em pleno
segundo ano de vida, outra contribuição importante é dada pôr Freud, ao
observar o bebê brincando com o carretel, amarrado a um fio. O bebê
atirava o carretel para fora do berço e depois o recolhia até aparecer
novamente no seu campo visual. Quando atirava, o bebê emitia um som
“FORT” e quando recuperava o carretel visualmente, emitia o som “DA”.
Freud, além de talvez inaugurar a disciplina de observação de bebês, que
será posteriormente valorizada pôr outros autores, principalmente no
contexto das terapias conjuntas pais-bebês (Kreisler, 1981), aponta para
um aspecto que marca um novo passo na organização pulsional. O bebê
não demonstrava sofrimento com o afastamento materno e nesse jogo o
momento mais marcado pelo afeto era a recuperação do carretel. Freud
(1920) entendeu que o jogo representava as idas e voltas da mãe, e no
gesto de atirar o bebê investia sua raiva pelo afastamento e no gesto de
recuperar o carretel, a alegria, pelo seu retorno. A falta do objeto é
substituída pôr uma representação, o jogo; nela, o bebê desloca-se da
posição passiva para uma posição ativa de dono da situação. Garcia-
Roza (1995) afirma que Freud vê, nesse jogo, um duplo “afastamento”
processado pelo aparelho psíquico: da mãe para o carretel e do carretel
para a linguagem, ou seja, do real para o imaginário e do imaginário para
o simbólico. Com essas colocações, subentende-se que Freud via nesse
jogo uma representação da alternância presença-ausência da mãe, o que
também foi colocado pôr Spitz (1979), a respeito da fobia e do sorriso
social, porém com um ponto a mais, que reside no fato de emergir a
linguagem. A linguagem cria nova forma de registro das representações
que, além de imaginárias, passam a ter um registro simbólico, o que
amplia os sistemas de representação. A pulsão agora pode ser absorvida
no aparelho psíquico no registro metonímico e metafórico.
O duplo afastamento assinalado acima pôr Freud pode ser ampliado
numa série, seguindo a noção de Gurfinkel (1996) sobre as “séries
sintomáticas e o grau de simbolização”, que será a seguinte: o “choro”

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passa para a alucinação do sorriso indiscriminado depois; para a fobia e


para o jogo (o acting); e, finalmente, para a linguagem. Nos extremos
dessa série encontramos, talvez, num lado, “o mais além do imaginário”:
o impensável e, no outro, o simbólico. No plano do impensável estão as
somatizações, que, como veremos, também podem ser colocadas numa
série que apresenta primeiro os distúrbios funcionais, depois as doenças
com lesões anátomo- patológicas.
Duas observações colaboram para confirmar esse pressuposto. A
primeira é a clássica observação de Kreisler analisada pôr Fain (1981),
na qual apontam a ausência da fobia primária em crianças asmáticas.
Afirmam esses autores que os bebês asmáticos vivem uma relação com a
mãe caraterizada pôr uma presença massiva e um superinvestimento da
função materna, que impede o bebê de subjetivar a ausência materna,
fixando-o na primeira etapa da organização pulsional. Essa fixação

resulta em uma sobrecarga sobre as funções fisiológicas, principalmente


as da respiração. Tudo se passa como se reação de estranhamento fosse
vivida no somático e não no psíquico, daí a asma. O bebê não apresenta
mecanismos fóbicos de defesa psíquica.
Segundo relatos de Lídia R. F. Castro, Kreisler, M. Frain e Solé
detectaram que o asmático sofre a influência de dois tipos relacionais:
1)Introdução prematura de uma terceira pessoa na relação mãe/filho.
Esse é o caso de crianças cuja guarda é dividida entre adultos que
disputam o amor e os cuidados da criança entre eles, expondo
prematuramente a criança a uma situação triangular.
2)Superproteção materna. As mães não toleram dividir seus bebês com
ninguém. Não encontram, também, em suas vidas, nada que lhes dê
maior prazer que o contato com o filho. Nesses casos, há um fantasma,
pôr parte da mãe, do retorno da criança para o útero. O pai é excluído
complemente dessa relação.
Articulando o desenvolvimento ontogenético do funcionamento psíquico
da criança com o tipo de relação mãe/filho, Kreisler, Frain e Soulé
concluíram que a asma há uma fixação no primeiro ponto organizador de
Sptiz (1983), no qual não há, ainda como vimos, uma diferenciação entre
o familiar e o estranho.
No primeiro tipo de circunstância acima citado – o de disputa de guarda
– a rivalidade entre duas pessoas pelo amor do bebê acaba induzindo-o a
optar pôr uma delas. Ou seja, sobrecarregam uma função de
diferenciação numa época de desenvolvimento em que essa diferenciação
ainda não foi estabelecida. Dessa forma, há uma sobrecarga nesse
primeiro ponto organizador, dificultando o acesso ao segundo.

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247

No segundo caso – o da mãe super protetora – ela, pôr acesso de cuidados,


não possibilitou ao filho sentir sua falta. A mãe está presente o tempo
todo, física ou mentalmente. O bebê, então, não terá como projetar no
estranho as sensações ruins advindas do cuidado com a mãe, uma vez
que não as teve. Há, portanto, nesse caso, uma fixação também no
primeiro ponto organizador de Sptiz (1988)3, embora pôr razões distintas
do caso anterior.
É em virtude dessa fixação no primeiro ponto organizador que muitas
características da personalidade alérgica, descrita pôr Marty (1958),
serão explicadas. O modo de ser do alérgico dito essencial é caracterizado
pelo contato fácil com o estranho, numa relação espontânea e direta com
o outro. Além disso, há uma grande facilidade de intercambiar um objeto
afetivo pôr outro, uma vez que estes não são diferenciáveis entre si. No
discurso dessas personalidades, detecta-se uma confusão pronominal,
indicativa de diferenciação entre pessoas. Os outros são, em síntese,
sentidos imediatamente como bons, substitutos da mãe sempre
gratificante.
Vejamos, agora, em que contexto teórico surgiu Le nouvel enfant du
desordre psychossomatique, de L. Kreisler (1986- Paris)4.
Essa obra nasceu após os desdobramentos teóricos das teorias de Marty.
A influência desse autor as faz sentir em toda essa obra. A subdivisão
dos capítulos, para citar em exemplo, não se dá mais pôr distúrbios
funcionais ou doenças orgânicas, mas conforme estruturas de
personalidade que são mais propensas à somatização.
Outra diferença fundamental dessa obra em comparação com A criança
e seu corpo5 reside nos tipos de patologias estudadas. Enquanto na
última os estudos dizem respeito quase exclusivamente aos problemas
do bebê, em Le nouvel enfant serão estudadas as patologias mais pesadas
de bebês e/ou criança mais velhas, tanto pela intensidade da repetição
dos problemas emocionais, quanto pela organicidade funcional.
A evolução dos estudos sobre a infância fez com que os distúrbios
funcionais estudados em A criança e seu corpo fossem vistos de uma
nova óptica. Depois desse período, as ideias evoluíram. Kreisler conclui
que os distúrbios funcionais traduzem a vertente conflitual da patologia
precoce.
Assim, tomando o exemplo da asma mencionado anteriormente, o que
verificamos, utilizando-nos dos conceitos mais bem desenvolvidos
posteriormente, é que nesse tipo de distúrbio há um excesso de cuidados
ou, então, conflitos advindos destes.
A ideia de que os cuidados maternos têm impacto em nível fisiológico e
físico (desenvolvida pôr Sptiz) ganhará força em Le nouvel enfant.

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Segundo Kreisler (1986), há dois fenômenos que podem tanto romper um


equilíbrio psíquico quanto marcar uma estrutura de personalidade: o
excesso de excitações ou falta delas. Nos dois”. Estes dois mecanismos
são: a depressão branca e o excesso de excitações. Vejamos como são,
sucintamente, cada um desses mecanismos:
• Depressão branca: é a junção de dois conceitos teóricos advindos de
duas diferentes teorias, a de Marty6 – de depressão essencial – e a de
Spitz – de depressão anaclítica.
As características do bebê que se encontra nesse estado são muito
semelhantes às descritas pôr Spitz (1946) com depressão anaclítica.
Esses dois tipos de depressão pressupõe uma relação anterior boa com a
mãe que foi perdida. A diferença está em que, enquanto para Spitz essa
perda consiste na ausência concreta da mãe, para Kreisler há a perda de
um tipo de vínculo. A mãe, na depressão branca, pode continuar
fisicamente presente no contato com o filho. Mentalmente, contudo,
encontra-se afastada, ausente, tendo que elaborar alguma situação
traumática (luto, depressões, etc.). Nesse caso, o bebê ressente-se da
mudança ocorrida nos cuidados e na forma com que sua mãe o trata.
Trata-se daquilo que A. Green (1983) chamou de síndrome da mãe morta.
A semelhança entre o conceito de depressão branca e o de depressão
essencial descrita pôr Marty é que ambas podem romper um equilíbrio
psicossomático até então sem problemas. A diferença fundamental deriva
do momento no desenvolvimento mental em que elas ocorrem. No bebê,
a duração prolongada desse período poderá marcar uma estrutura de
personalidade, como a neurose de comportamento, pôr exemplo. Se a
duração for curta, ela pode predispor às somatizações passageiras, tais
como descritas pôr Marty, sem necessariamente interferir na constituição
do funcionamento da primeira tópica.
Excesso de excitações: ocasionando, como vimos, pôr uma falha de
processos de maternagem, quando a mãe não desempenha bem seu
papel de “pára - excitação”.
Kreisler (1986) partirá da ideia central de que uma concepção afetiva
plena, equilibrada e estável tem lugar essencial nas defesas, que se
opõem às desordens psicossomáticas.
Essa concepção deriva do conceito da mentalização desenvolvido pôr
Marty7. Esse conceito é fundamental e foi em torno dele que Marty fez
toda uma reclassificação que Kreisler desenvolve, reformula e aplica,
salientamos mais uma vez, à criança. Para ele, existem estruturas de
personalidade (embora ainda em formulação), cujas modalidades de
funcionamento mental predispõem o paciente a somatizações. É nesse
sentido que Kreisler desenvolverá a noção de estruturas vulneráveis à
somatização.

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Mas voltemos ao estudo da asma que propusemos, exemplificando,


através dele, alguns dos conceitos teóricos de Le nouvel enfant. Neste
livro, há um estudo dedicado exclusivamente à asma.
Inicialmente, tentou-se estabelecer se haveria uma estrutura de
personalidade asmática. Verificou-se que a asma pode ocorre nas mais
diferentes estruturas de personalidade: nas neuroses mentais, nas
neuroses de comportamentos e nas graves inorganizações estruturais
(estrutura descrita pôr Kreisler).
Porém, em um terço dos casos de asma estudados, há um tipo essencial.
É nessa estrutura que vamos encontrar os dois tipos de circunstâncias
relacionadas descritas em A criança e seu corpo.
Em Le nouvel enfant, a estrutura de personalidade alérgica essencial é
compreendida dentro das chamadas estruturas vulneráveis à
somatização. A vulnerabilidade para a doença advém, nesse caso, de
alguns problemas fundamentais na estruturação psíquica, que são:

Uma falta de diferenciação no tipo de apego que os alérgicos essenciais


desenvolvem: ela é anônima e igual para qualquer pessoa (não diferencia
o familiar do estranho);
Um bloqueio nos processos de separação – individual’, que acarretam
dependência do indivíduo em relação ao meio. O alérgico essencial
depara-se com forte necessidade de afeto, e sua falta de autonomia
impede-o de buscar resolvê- la;
• As situações conflituais, que são evitadas tanto anulando a própria
agressividade do sujeito, quanto negando-a nos demais. Além disso, há
uma substituição rápida e instantânea de um objeto de apego pôr outro.
Kreisler (1986) explicita assim a vulnerabilidade do alérgico essencial:
O essencial de economia psicossomática na personalidade alérgica
essencial é a utilização excessiva do deslocamento como modalidade
defensiva. Ela é portadora de uma grande vulnerabilidade, que é
facilmente transbordada pelos acontecimentos reais ou vividos como tais
que digam respeito a tais sistemas: situações de rivalidade, separações,
conflitos conjugais entre os pais, luto... Além disso, as crises ou
sucessões de crises agravam a dependência.
A estrutura alérgica essencial é um dos exemplos das estruturas
vulneráveis, que utilizamos a título de ilustração. A personalidade
psicossomática da criança asmática é de uma grande diversidade. Os
quadros mais sérios de asma, com risco de morte e paradas respiratórias,
fazem parte, pôr exemplo, das estruturas de descompensação do tipo da
depressão. As circunstâncias patogênicas geradoras desses tipos de

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250

asma grave são: condições de carência afetiva, familiares, situações


sociais desfavoráveis acentuadas pelas frustrações. Nesse caso, esse
quadro de asma pertence às patologias derivadas da falta de cuidados
maternos.
A psicossomática da criança nasce, portanto, da confluência dos
conhecimentos extraídos de três fontes distintas: da psicossomática do
adulto (indispensável para compreender a da criança); do tratamento de
bebês e crianças com distúrbios funcionais e/ou doenças orgânicas; e
das demais teorias do desenvolvimento infantil, principalmente as de
Spitz.
Estudos de Kreisler (1991) publicados mais recentemente nas revistas de
psicossomática ilustram outros ângulos sob os quais as estruturas
alérgicas essenciais podem ser estudados:
Interação mãe e filho, caracterizada pela distorção. Principalmente para
os bebês asmáticos, há um entrave no processo de
separação/individuação. Há um tipo de interação simbiótica.
Pré – disposição hereditária: Kreisler levanta a possibilidade de haver
dupla tendência, ao mesmo tempo imunológico e psicológica. Há uma
dupla constituída pôr dados imunológicos e mentais que contribui para
a constituição da alergia essencial;
Existência de núcleos psicossomáticos originais: o estudo das alergias da
criança é útil na compreensão do estudo das alergias do adulto e vice-
versa. Essas estruturas têm uma continuidade entre a infância e a vida
adulta, demonstrando, assim, a importância da criança na compreensão
do adulto. As possibilidades de intervenção práticas nos distúrbios
psicossomáticos são variáveis, dependendo das circunstâncias e dos
contextos em que se inscrevem.

Vejamos alguns exemplos de como essa teoria pode


beneficiar o trabalho clínico com crianças:
•Quanto ao bebê asmático: R. Debray (1988)8 trata-os nas psicoterapias
conjuntas mães/bebês. Aqui, é pressuposto que a economia
psicossomática do bebê está inscrita na economia materna. As
interpretações visam esclarecer os motivos que levam a mãe a criar o
vínculo simbiótico com o filho. Na psicoterapia com o bebê, interage-se
com alguns brinquedos, dando ênfase aos que dizem respeito à
diferenciação eu/outro: o espelho, o dentro e fora num armário e uma
boneca dentro da outra. Com a mãe, trabalha-se como no tratamento de
adultos, levando-se em conta a teoria da psicossomática;
•Quanto à criança mais velha: a terapia é comparável a uma análise. O
objetivo é, contudo, diferente. Visa constituir o melhor equilíbrio possível,

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251

nos diferentes níveis da atividade e do funcionamento mental, reduzindo


os riscos posteriores de somatização;
•Em clínicas – escolas: em casos de atendimento com intervenções breves
em clínica – escola, que crianças cheguem encaminhadas em razão de
outras queixas, atrás das quais detecta-se um problema alérgico. Um
exemplo comum é o da criança não querer, pôr exemplo, ir para à escola
em virtude de não conseguir separar-se da mãe, problema presente, em
grande número de casos, de crianças alérgicas. Nestes casos, muitas
vezes, apenas um esclarecimento das razões que levam a criança a não
querer frequentar a escola naquele momento, paralelamente a
esclarecimentos com a mãe sobre o modo como seu funcionamento
psíquico está contribuindo para a exacerbação do problema, é suficiente
para modificar a situação de crise.
•Processos judiciais: para aqueles que já lidaram com problemas de
disputas judiciais, nos quais as mães evitam que os pais vejam os filhos,
descobrem-se que este mecanismo é muitas vezes derivado de um
mecanismo anterior ao processo judicial e do divórcio. Na realidade, tais
mães, mesmo ainda quando casadas, não deixava o pai interagir com o
filho. Quando se exclui o pai de uma relação com a criança, não
possibilitando a formação de uma situação triangular. Aqui, a
compreensão da real motivação que leva a mãe ao conflito das visitas com
o pai pode auxiliar numa melhor resolução da questão, tanto elucidando-
a para a mãe quanto, nos casos com prognósticos menos favoráveis,
levando a identificação das causas ao magistrado e instrumentalizando-
o para sua decisão.

Essas são, em síntese, algumas considerações para compreensão da


psicossomática da criança e de alguns de seus alcances teóricos e
clínicos.
A Segunda observação é tirada da experiência com a psicoterapia de
bebês com merecismo, ou seja, com ruminação repetitiva. O merecismo
ocorre em associação a um vazio relacional ou uma relação agressiva.
Quando essas relações são modificadas pela terapia, os bebês passam a
apresentar um jogo, parecido com o do carretel, descrito anteriormente,
mas com uma infiltração pela agressividade. Esse acting posteriormente
se articula com outros jogos de conteúdos violentos. Em seguida,
aparecem verbalizações, também agressivas. Esses deslocamentos
sucessivos acompanham-se de uma remissão do merecismo. Assim, o
investimento visceral, patológico, desloca-se para a ação e, depois, para
a linguagem.

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252

A experiência clínica é rica em exemplos desses deslocamentos em série,


que podem se dar no eixo metonímico, às vezes representando apenas
troca de um sintoma pôr outro. Pôr exemplo, o “merecismo” é trocado pôr
um “mega colón”. Essas trocas foram denominadas pôr Kreisler (1981)
de “sucessão sindrômica”. Nem sempre envolvem uma mudança de
qualidade na mentalização ou uma evolução organizacional. Já no eixo
metafórico os deslocamentos ocorrem, geralmente, com evolução
estrutural. Pôr exemplo, o merecismo desloca para um jogo, no qual o
bebê atira para fora do campo visual os objetos, fazendo-o com
agressividade e, posteriormente, traz para a linguagem o sintoma através
de um desenho ou uma formação verbal. Quando o deslocamento ocorre
no eixo metafórico, os sintomas somáticos podem apresentar uma
remissão, como já assinalado, sendo importantíssimo para o trabalho
psicoterapêutico.
Outra noção importante pode ser tirada da clínica nos casos de anorexia,
que também costumam ocorrer nessa etapa da organização pulsional. A
recusa sistemática e compulsiva do alimento implica, segundo Fain
(1981), uma formação

sintomática da ordem da condensação, pois ao recusar o alimento o bebê


condensa moções pulsionais decorrentes de uma maternagem agressiva,
ou intrusiva, dando uma forma neurótica para sentimentos que seriam
voltados para figuras parentais, evitando um enfrentamento direto com
os mesmos. Emerge então uma estrutura marcada pela recusa, que pode
inclusive infiltrar outros setores do funcionamento mental. Um deles,
bastante conhecido e apontado pôr outros autores, é a “recusa” pela
aprendizagem na idade escolar. Essa estrutura, conforme colocações de
Debray (1988), evita uma desorganização mais profunda e funciona como
um estancamento no movimento regressivo da pulsão.
Esses movimentos progressivos e regressivos da organização pulsional
apresentam, portanto, essa característica, muito importante para a
clínica psicossomática, pois através de uma estruturação sintomática
pode ficar parada em um ponto; o grau de simbolização do aparelho
psíquico irá determinar o nível da regressão, evitando desorganizações
mais profundas. Essas afirmações vão no mesmo sentido das de
Gurfinkel (1996), já citadas.
A terceira etapa da organização pulsional é marcada pela função paterna
e pela posição predominante da linguagem nos processos psíquicos. A
função paterna vai impedir que a mãe e bebê se fixem numa relação dual
e imaginariamente completa. O pai institui a “falta”, interdita o “incesto”
e nomeia a criança na sua identidade sexual.

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253

A simbolização da falta instala a linguagem e a angústia da castração,


nova forma da angústia da ausência materna, ou da fobia primária. O
vazio da primeira etapa, que passou a ser subjetivado como ausência na
segunda etapa, agora é nomeado como falta. A falta é constitutiva e cria
o sentimento do desejo.
A clivagem do aparelho psíquico já responde às tópicas freudianas, pré-
edípicas e edípicas. A sintomatologia dessa etapa incide sobre os
processos de identificação com as figuras parentais e sobre os
sentimentos agressivos desencadeados pelas interdições.
Os distúrbios funcionais, envolvendo as organizações disciplinares das
funções excretoras, ou seja, a encoprese (é uma condição caracterizada
pelo vazamento de fezes na roupa interior da criança que, na maioria das
vezes, acontece de forma involuntária e sem que a criança perceba.), o
megacólon ( é um transtorno intestinal caracterizado por dilatação
anormal do intestino grosso, definida em um adulto como mais de 12cm
de diâmetro no ceco, maior que 8cm no cólon ascendente ou descendente
ou 6,5cm no cólon sigmoideo ou reto) e a enurese, passam a ser as séries
sintomáticas típicas dessa etapa, juntamente com as psicopatologias
mentalizadas. Observa-se que, quando o sujeito se encontra bem-
colocado, topologicamente, nessa etapa, os sintomas neuróticos passam
a predominar, havendo menor probabilidade de formações sintomáticas
com somatizações graves. Essa afirmação pode ter um valor relativo em
função de que os deslocamentos na organização pulsional podem não se
efetuar em bloco e pontos da estrutura podem ser fixados, explicando a
ocorrência de somatizações em estruturas neuróticas.
1-Spitz, R.A 1955 ‘A note on the Extrapolation of
Ethological Findings’, International
Journal of Psycho-Analysis 36: 162-5.
2-Winnicott, D.W. (1958) Collected Papers: Through
Pediatrics to Psycho-Analysis, Londres: Tavistock
3-Spitz, R. O primeiro ano de vida, Porto Alegre, Artes Médicas, 1988
4-Kreisler, L. Le nouvel du désordre psychossomatique, Paris, Dunot,
1992
5-Kreisler, L: Fain M; Soulé, M. A criança e seu corpo, Riode Janeiro,
Zahar, 1981
6–Marty, P, La depression essentielle Rev. Franç. Psychan.,
1968, 33, 3, 395-603
7– Marty, P. La relation objectale allergique, Rev. Franç. Psychan, 1958,
12, 1, 5-29 8 – Debray, R. Bebês/mães em revolta, Porto Alegre,

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254

Artes Médicas, 1988 Bibliografia : RANÑA, Wagner / CASTRO, Lídia R.


Folgueira

PSICOSSOMA I–Psicossomática Psicanalítica – Casa do Psicólogo,


1997
Artigo apresentado no “I Simpósio de Psicanálise e Psicossomática”
DESENVOLVIMENTO ORGÂNICO
(Entre os gregos) médicos ilustres dizem a um paciente, que chega com
os olhos enfermos, que não podem apenas curar os seus olhos, mas que
desejam curar os seus olhos, a cabeça deve ser tratada; e então dizem
novamente que pensar em que se curar apenas a cabeça, sem curar
também o resto do corpo, é o cúmulo da insensatez. E, assim, utilizam
esses métodos no corpo inteiro e tentam tratar simultaneamente o todo
e suas partes.
(Entretanto, os médicos da Trácia censuram esses procedimentos
dizendo que, até onde sabem, eles estão corretos), mas que você não deve
tentar curar os olhos sem curar a cabeça, ou curar a cabeça sem curar
os olhos, nem deve tentar curar o corpo sem curar a alma e esta é a razão
pôr que a cura de tantas doenças é desconhecida para os médicos da
Hélade, porque eles ignoram o todo, que também deve ser estudado, pois
partes não podem ficar bem a não ser que o todo esteja bem.
Platão (Charmides) – (in LeShan, 1992)
Não há certamente nenhum exagero em afirmar que há muito o homem
tenta estabelecer as causas das doenças. A rigor, desde a antiguidade
remota, oriental e ocidental, muitos escritos tentam estabelecer as
causas do câncer e, nessa busca, muitos autores observaram que há uma
relação entre estados emocionais e predisposição para doenças
orgânicas.
Assim, encontramos nos escritos de Hipócrates a afirmação de que o
estado de saúde era evidência de que o indivíduo tinha atingido um
estado de harmonia entre suas instâncias internas, bem como destas
com o meio ambiente. Desse ponto de vista, manter-se saudável é uma
questão de reconhecer esse equilíbrio e respeitá-lo através de viver
segundo as leis da natureza. Hipócrates afirmava também que o que quer
que aconteça na mente afeta o corpo. Galeno, no segundo século da era
cristã, observava que mulheres deprimidas tinham mais tendência ao
câncer do que aquelas de natureza mais animada e bem-dispostas. No
entanto, esses caminhos da medicina seriam eclipsados pelo grande
desenvolvimento tecnológico surgido a partir do modelo cartesiano de
pensamento. Descartes (1596-1650) postulou teoria na qual considerava
o indivíduo formado basicamente pôr duas partes distintas: a rés

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cogitans e a rés estensa. A primeira considerava uma abstração etérea do


que chamamos de mente de segunda, concreta, que é o corpo. Assim,
desenvolveu um modelo dicotômico de pensamento que se foi espraiando
pôr todo o mundo ocidental, influenciando as ciências, dentre elas a
medicina, de forma que, para se conhecer o todo, passava-se a estudar
as suas partes.
Sem dúvida, o caminho era eficiente. Novas teorias e descobertas
confirmavam a eficácia desse modelo de pensamento. Podemos, como
exemplo, citar a Teoria da Etiologia Específica, que propunha que para
cada patologia havia uma causa específica. Para confirmar esse caminho,
os trabalhos de Pasteur e Koch se constituíram em contribuição
importante, à medida que estes pesquisadores foram identificando os
elementos causais de algumas patologias como o antrax, a raiva e a
tuberculose. O advento de terapêuticas específicas – o Salvarsan para o
tratamento da sífilis, no início da década de 1910; o advento da insulina
na década de 20, da sulfa na década de 30, da penicilina na década de
40; e, na década de 50, o surgimento dos neulépticos, que punham sob
controle algumas doenças mentais, também contribuiu para a tendência
atual de convergir o foco da observação para o órgão doente em sua mais
estreita intimidade.
O avanço tecnológico decorrente foi pondo gradualmente a serviço do
médico toda uma parafernália que permitiu gradualmente maior precisão
dos diagnósticos, levando a que mais facilmente, como afirma Chiozza
(1995)1, digamos do quê e como os pacientes adoecem em lugar de
dizermos pôr que adoecem.
Estamos assinalando aqui importante consequência desse sistema, que
é a perda da visão do indivíduo como um todo e o distanciamento entre
médico e doente. Um evento que pode ser considerado como simbólico do
início desse afastamento do médico e de seu paciente foi a invenção do
estetoscópio pôr Laennec em 1819. Esse aparelho de ausculta se interpôs
entre médico e doente. Daí pôr diante, muito raramente o médico voltou
a encostar seu ouvido no tórax do doente. Melhorou a técnica de coleta
de dados médicos, mas modificou-se o efeito tranquilizador do toque
humano, o que Lewis Thomas descreve como “o mais antigo e eficiente
ato médico” (Locke, 1987)2.

Nessa busca tecnicista do diagnóstico, passou-se a perscrutar mais os


órgãos e a se dar menos atenção ao paciente e à sua história. Aqui,
história entendida não apenas do ponto de vista médico clássico, ou seja,
do ponto de vista de coleta de dados anamnésicos ligados à queixa clínica
e à evolução da doença, mas à história de vida do paciente, com todos os
eventos importantes que possam caracterizar episódios traumáticos,
além de sua maneira peculiar de lidar com os eventos de sua existência.

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Os doentes, antes dos progressos do século XX, eram provavelmente mais


ouvidos pôr seus médicos e, talvez, com mais atenção e cuidado. Esses
médicos assinalavam frequentemente fatores emocionais ligados a
perdas importantes ou estados de desesperança que ocorriam antes do
aparecimento do câncer.
Ao longo do século XX, a medicina foi convergindo seu foco para a doença
e para o órgão doente em sua profunda intimidade, mas isso levou a
descobertas que obrigaram a uma revisão conceitual no que diz respeito
a admitir a influência de aspectos emocionais na manutenção do binômio
saúde/doença.
Já no fim do século passado, em que era clara a influência cartesiana na
medicina, Freud, em seus Estudos sobre a histeria, propôs um retorno a
uma visão mais integrada do ser. Freud demonstrou que as paralisias
histéricas eram destituídas de um substrato neurológico, não restando
dúvidas de que seus trabalhos apontam na direção de uma visão mais
integrada do homem, mostrando que acontecimentos da esfera psíquica
causavam consequências orgânicas.
A questão do adoecer físico entendido como uma quebra da harmonia
entre múltiplas instâncias do ser continuava a preocupar muitos
pesquisadores. Walter Cannon, fisiologista da Faculdade de Medicina da
Universidade de Harvard, trabalhando nas décadas de 1930 e 1940,
tentou descobrir que elementos mantinham a harmonia do organismo.
Ao sistema de equilíbrio do corpo, Cannon chamou de homeostase. Um
dos elementos que participam de forma importante da homeostase é o
sistema imunológico.
Cabem aqui algumas considerações bastante rápidas a respeito do
funcionamento desse sistema pela importância que hoje se sabe que ele
tem na manutenção da saúde ou no surgimento de muitas doenças,
dentre elas o câncer.
Uma das características do sistema imunológico é o de poder identificar
que proteínas pertencem ao organismo e quais as que são elementos
estranhos a ele e que precisam, portanto, serem eliminadas. O sistema
imunológico é dotado de uma memória bioquímica que o habilita a
distinguir algo em torno de
10 milhões de microrganismos estranhos ao corpo. Embora experiências
in vitro demonstrem que elementos do sistema imunológico funcionam
autonomamente, uma vez no organismo, mantém uma estreita relação
em outros sistemas, podendo ter seu funcionamento influenciado pôr
alterações emocionais. Os estudos a respeito do sistema imunológico
avançam de forma significativa. Em meados de nosso século, pôr
exemplo, Eldnan e Portes descobriram a estrutura molecular de um
anticorpo e pôr isso receberam o Prêmio Nobel. O conhecimento do

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257

sistema imunológico tem sido um importante na compreensão da


homeostase.

Seguido a tendência cartesiana, o desenvolvimento das pesquisas levou


ao delineamento de uma nova especialidade: a imunologia. Foram
observados novos fenômenos, e os pesquisadores perceberam que havia
uma interação entre o sistema nervoso e o sistema
imunológico. A imunologia passou a ser a neuroimunologia. O
aprofundamento dos estudos indicou uma participação de fenômenos
psíquicos na função imunológica. Estabeleceu-se, então, nova ampliação,
e a neuroimunologia passou a ser a psiconeuroimunologia. Dessa forma,
através do notável avanço tecnológico e embasado pelo conhecimento
científico atual, houve um reencontro com o pensamento médico que,
desde a antiguidade, foi defendido pôr inúmeros autores e que propunha
uma visão abrangente do homem; que este fosse visto não sob a
dicotomia mente e corpo, mas como um todo mente/corpo (Carvalho,
1994)3.
São muitos os exemplos dessa tendência retomada. Muitos autores,
trabalhando em várias áreas da saúde, têm dado contribuições em
diversas linhas de pensamento. Podemos citar alguns deles. Cannon, nos
idos 1935, afirmava que homeostase era algo mais do que o sistema
nervoso e que as reações bioquímicas funcionavam em harmonia. Esse
autor afirmava que experiências normais da vida, como a puberdade, a
adolescência, trabalhos árduos, fadiga, a monotonia do cotidiano podem
causar impressões físicas no corpo. Ele afirmava que na realidade, toda
gama de doenças humanas pode ser estudada deste ponto de vista.
Nessa mesma época, final dos anos 30, Franz Alexander, em Chicago,
Estados Unidos, afirmava que muitos distúrbios crônicos não são
causados pôr fatores externos, químicos, mecânicos ou microbiológicos,
mas pôr estresse funcional que atua durante a vida cotidiana do
organismo em sua luta pela existência. Alexander criou uma nova
disciplina, a medicina psicossomática, que assumia a antiga crença de
que a mente tem um importante papel na manutenção da saúde física.
Segundo Alexander, a medicina psicossomática partiu de algumas
descobertas como as de Cannon: muitas das funções orgânicas eram
controladas pelo sistema nervoso central (SNC) e que este recebe a
influência de uma instância central reguladora que, conforme Locke
(1986) é chamada de personalidade.
Pesquisas que vêm sendo desenvolvidas sobretudo a partir da última
década, têm sugerido uma inter-relação entre o SNC e o sistema
imunológico, havendo uma intercomunicação entre estes dois sistemas
em ambos os sentidos, ou seja, do SNC para o sistema imunológico e do

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sistema imunológico para o SNC, participando desse processo também


aspectos psicológicos. Vários trabalhos apontam em direção à
possibilidade de que interações psiconeuroimunológicas podem ser um
dos mecanismos biológicos que sustentam as correlações entre aspectos
psicológicos e o câncer.
Segundo Bovbjerg (1991)4, o SNC pode usar como caminhos para regular
a atividade Os sistema imunológico, dentre outros, a inervação
autonômica do órgãos linfóides, além das clássicas respostas
neurotransmissores, neuropeptícos e hormônios. Foram descobertas
também funções imunomoduladoras de muitos hormônios e
neuropeptídeos, como é o caso dos opiáceos endógenos.
Há evidências de que há vias aferentes entre o sistema imunológico e o
SNC. Em animais, o estímulo do sistema imunológico pôr injeções de
antígenos causa alterações em níveis de neurotransmissores em regiões
localizadas do cérebro. Postula-se que isso ocorre porque os leucócitos
produzem vários hormônios peptídicos, dentre eles o ACTH e encefalinas,
que antes se acreditava ser incumbência exclusiva do sistema
neuroendócrino. Especula-se que uma das funções do sistema
imunológico seria, então, a de um órgão sensorial que informaria o SNC
da presença de elementos estranhos ao organismo, como vírus e
bactérias. Pensa-se que a regulação dos sistemas fisiológicos é feita
através de três estratégias de controle automático: feedback, feedforward
e controle adaptativo.
Um exemplo de feedback nos é fornecido pôr Basedovsy (1991) e
colaboradores, que mostraram que a estimulação de monócitos induz a
secreção de interleucina-1, o que resulta no aumento dos níveis de ACTH,
que, pôr sua vez, aumenta o nível de corticosteróides e que, agora faz com
que se reduzam os níveis de interleucina-1. Exemplos de feedforward têm
sido obtidos através dos estudos clássicos de condicionamento em
animais. Obtiveram-se aumentos condicionados ou diminuição
condicionada de uma grande variedade de respostas imunológicas
através de estímulos ambientais.

As evidências trazidas pelos sistemas de feedback e feedforward nos


levam a pensar que o SNC regula a atividade do sistema imunológico. Se
assim é, não há como não pensar na possibilidade de que fatores
psicológicos podem exercer efeitos sobre os processos de controle e,
então, alterar o sistema imunológico. De fato, pesquisadores que têm se
debruçado sobre esse assunto mostram claras evidências de que estados
psicológicos como depressão e ansiedade podem alterar o funcionamento
do sistema imunológico.

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259

Sabe-se hoje, portanto, que a medicina não mais descobre causas únicas
para as patologias, como s pensou no final do século passado e até
meados deste século. Tem sido descoberta apenas condições necessárias,
mas não suficientes para que a enfermidade adquira seu aspecto e
localização que podem então caracterizá-la naquele momento. Assim, “o
achado de uma causa não nos exime da tarefa de investigar no terreno
dos significados inconscientes, do mesmo modo que o achado de um
motivo psicologicamente compreensível não nos exime da investigação
das causas eficientes através das quais o transtorno se realiza como uma
transformação de configuração dos órgãos e suas funções. Em lugar de
serem incompatíveis, ambas as interpretações da enfermidade podem ser
contempladas como as duas faces de uma mesma moeda”, conforme nos
afirma Chiozza (1995, p. 16)1. No início de nosso século, surgiram alguns
trabalhos de orientação psicodinâmica, como o de Elida Evans, que em
1926, em seu livro A psycholocal study of cancer (apud Simonton, 1987),
relatou, a partir do acompanhamento de cem pacientes de câncer, ter
percebido que muitos destes haviam, pouco antes do aparecimento da
doença, perdido um ente querido ou uma

função social. Evans concluíra que tais pessoas haviam investido muito
na sua identidade em um objeto ou papel individual ao invés de
desenvolver sua própria identidade. Quando perdiam esse objeto ou
função, tais pacientes entravam em contato com eles mesmos, sem terem
recursos internos para isso. Foi a partir de 1950 que começaram a surgir
muitos trabalhos de orientação psicossomática estudando a estrutura de
personalidade dos pacientes com câncer.
Esse assunto tem despertado o interesse de muitos pesquisadores
mesmo em áreas estranhas ao referencial psicossomático. À medida que
se sofisticaram as técnicas de pesquisa, os estudos passaram a incluir
fatores de risco e prevenção; a evolução da doença e tratamentos; os
estudos dos doentes que sobreviveram muito tempo e o luto.
Embora o referencial que aqui se propõe seja o da psicossomática, parece
que cabem alguns breves comentários a respeito de alguns estudos
realizados com outros referenciais teóricos, mas que podem nos subsidiar
nesta exposição. Esses estudos identificam fatores de risco psicossocial
para o surgimento do câncer, dentre os quais o estresse, traços de
personalidade e hábitos pessoais.
O conceito de estresse* foi formulado nos anos 20 deste século pôr Hans
Selye, químico de origem austro-húngaro, que trabalhava na
Universidade de McGill, Montreal< Canadá. Selye, trabalhando com
animais de laboratório, percebeu que quando estes eram submetidos a
situações hostis, das quais não podiam se defender, apresentavam
diversas alterações orgânicas, como o esgotamento de algumas glândulas

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260

e importantes alterações da homeostase. Eram alterações severas


quando analisadas em profundidade, embora nem sempre a aparência
dos animais denunciasse os graves danos havidos. Esse importante
achado de Selye abriu caminho para muitos estudos que permitiram um
conhecimento mais aprofundado dos mecanismos de adoecimento
orgânico a partir de situações psíquicas.

*O estresse
Derivada da palavra inglesa stress, o termo era originalmente empregado
em física, no sentido de traduzir o grau de deformidade sofrido pôr um
material quando submetido a um esforço, ou tensão. Em 1936 Hans
Selye introduziu a expressão no jargão médico e biológico, expressando o
esforço de adaptação dos mamíferos para enfrentar situações que o
organismo perceba como ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio
interior.
Para a adequada compreensão do papel que, ao longo dos próximos
capítulos, se atribuirá ao estresse, às emoções e aos conflitos psíquicos
na gênese das doenças, alguns aspectos fundamentais do estresse – como
originalmente proposto pôr Selye – precisam ser aqui discutidos.
Em primeiro lugar, cabe lembrar que os seres vivos assim permanecem –
isto é, com vida – enquanto conseguirem manter um estado de equilíbrio
interior chamado pôr Cannon de homeostase. Segundo tal concepção,
qualquer percebida pelo organismo nesse status quo seria sentida como
ameaça a sua vida – enquanto sistema organizado – e desencadearia toda
uma situação de alarme e preparação para fazer face ao perigo.
À percepção dessa ameaça, o cérebro emitiria ordens para a mobilização
de defesas e o sistema simpático seria ativado, com a consequente
descarga de catecolaminas no sangue. Imagine-se, para facilitar a
compreensão, a situação hipotética de um rato perseguido pôr um gato.
Ao dar-se conta do perigo, todo o organismo do rato, em resposta à
descarga adrenérgica ordenada pelo cérebro através do simpático,
prepara-se para fazer face à ameaça: o coração “bate” mais rápido e mais
forte, de forma que mais sangue (energia) seja fornecido aos músculos; a
respiração se acelera e, consequentemente, mais oxigênio é disponível;
as pupilas dos olhos se dilatam, e assim o animal enxerga melhor; os
pêlos se eriçam na esperança (vã no caso) de apresentar aspecto
assustador ao inimigo. Todas essas alterações caracterizam o estresse,
ou a tensão a que o organismo do rato está submetido naquele momento
de perigo.

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261

Ocorreu nele o que podemos chamar de “reação geral de alarme”,


aproximadamente similar à azáfama e movimentação que ocorreria em
um quartel, pôr exemplo, se soasse o alarme antiaéreo. Percebam que
toda a tensão gerada no organismo do animal encontrará um
desaguadouro na utilização de seus músculos, isto é, na realização de
algum tipo de atividade física, visto que o rato: ou fugirá (mais provável
no exemplo dado) ou enfrentará o agressor. Percebam ainda que, em
qualquer das duas hipóteses, ele terá utilizado os músculos que
obedecem a sua vontade: o das patas e das mandíbulas, que são
músculos ditos “estriados” (pôr conter estrias).
Uma das importantes características do estresse é ser uniforme e
inespecífico. Isto é, a preparação do organismo será idêntica para
qualquer tipo de ameaça ou agressão, independente da natureza ou do
grau de perigo que represente.
Na verdade, a ocorrência do estresse não requer necessariamente que
haja perigo real, mas apenas uma súbita mudança, ou ameaça de
mudança, no estado de equilíbrio. Desse modo, até uma boa notícia pode
ser causa de estresse.
No caso dos seres humanos, o processo de estresse é basicamente o
mesmo verificado nos outros animais (inclusive no rato do exemplo), com
duas grandes diferenças: em primeiro lugar, as ameaças do mundo
externo ao “eu” do indivíduo são de múltiplas origens e em sua percepção
há um forte componente subjetivo – isto é, o componente imaginário,
provindo do interior da pessoa, é muito mais significativo. Em segundo
lugar, e não menos importante, a descarga da tensão gerada pela
sensação de perigo ocorre principalmente sobre a musculatura que não
depende de sua vontade: a chamada musculatura lisa (isto é, sem estrias)
que é justamente o tipo de musculatura responsável pela movimentação
do estômago, dos intestinos, das artérias e do coração. (Neste último, o
músculo não é do tipo liso mas, como nesse tipo, tampouco obedece ao
consciente da pessoa.)
Tal como fizemos no caso do rato, imagine-se a situação de um
empregado que recebe, ou está em via de receber, uma violenta “bronca”
do patrão. Seu organismo fica sob tensão e se prepara, da mesma forma
que ocorre com o rato do exemplo anterior, para enfrentar a situação que
vê e sente como ameaçadora e perigosa. Ou seja, todo o seu corpo se
apresta para duas reações naturais de qualquer animal diante do perigo:
agressão ou fuga.
A grande diferença é que esse empregado não sairá correndo, nem
agredirá fisicamente (salvo uma ou outra exceção) seu patrão, a despeito
do enorme desejo de fazê- lo. A consequência consistirá em que venham
a sofrer essa descarga – ou, em outras palavras, funcionem como “órgãos

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262

de choque” – justamente aqueles órgãos acima citados: estômago,


intestinos, artérias, coração, etc. Com a repetição desse mecanismo ao
longo da vida (nas mais diversas situações) a pessoa adquirirá gastrite,
úlcera, mau funcionamento do intestino, “pressão alta” e infarto do
miocárdio. Nas artérias – vasos sanguíneos que conduzem o sangue rico
em oxigênio do coração para o resto do corpo, ao contrário das veias, que
trazem sangue com pouco oxigênio do corpo para o coração - ,também
regidas pôr musculatura lisa, a constante tensão gerada pela ação das
catecolaminas acabará pôr “ferir” sua parede interna, possibilitando o
depósito de placas de gordura (chamadas ateromas) que finalmente as
obstruirão.

O potencial nocivo, ou causador de doenças, criado pelas situações


estressantes dependerá do tipo e da intensidade do estresse, mas,
provavelmente, dependerá sobretudo de sua repetição e duração ao longo
da vida e da forma como cada uma lida com ele.
Quanto ao tipo, pode-se didaticamente agrupar as fontes de estresse nos
três “compartimentos” em que se insere a vida de uma pessoa, embora
evidentemente as coisas não sejam tão simples e não se passem como se
tratássemos de divisões estanques. Esses compartimentos são: a família,
o trabalho e o ambiente em que vive a pessoa. O último caso corresponde
ao chamado estresse “social” ou “ambiental”, no qual se incluíram os
problemas com vizinhos, com o vendedor ou profissional que lhe presta
serviços, as discussões no trânsito, etc. Incluem-se ainda no estresse
ambiental a sensação de insegurança física vigente em nossas cidades e
até as incertezas na área da instável economia do país.
As situações estressantes relacionadas à família e ao trabalho são as
mais graves, não só pela natureza e multiplicidade das facetas que
encerram, mas principalmente pôr configurar, na maioria das vezes, uma
fonte permanente de tensão ao longo da vida. Ou seja, configuram
situações de estresse crônico e duradouro. Convidamos o leitor a dar uma
olhada na escala de Holmes-Rahe (Tabela 1), que se propõe a “medir” o
estresse gerado pôr diversos acontecimentos da vida. Notem a frequência
com que comparecem e a elevada pontuação que merecem os
acontecimentos, bons e/ou maus, relacionados à família e ao trabalho.
Segundo os autores da tabela, quem, nos últimos12 (ou, para outros, 24)
meses, somar mais de 300 pontos, terá 79% de chances de contrair
alguma doença grave em breve. Se a pontuação se situar entre 151 e 299,
tais chances são de 51%; abaixo de 151, as chances de adoecer
gravemente seriam pequenas. É óbvio que saúde não é matemática, e o
estresse não pode ser “medido” nem quantificado de forma precisa. Sendo
assim, essa escala, genérica como é, tem utilidade apenas como um

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referencial e tem origem na verdadeira compulsão de nossa sociedade


moderna a tudo quantificar e traduzir em números.
No que diz respeito ao câncer, os estudos em animais têm se mostrado
contraditórios. Há, no entanto, um dado que parece se confirmar.
Estresse em animais provavelmente influem no crescimento de tumores,
mas não no surgimento do câncer.
Com relação às pesquisas feitas com animais, interessantes estudos
realizados em ratos revelaram que os sujeitos do experimento que podiam
controlar os choques elétricos aos quais eram submetidos não
desenvolveram os tumores que lhes tinham sido inoculados. Aqueles
animais que, em função de dispositivos da experiência, não podiam
controlar os choques, entravam em estado de desespero seguido de
prostração, tendo aumentado o crescimento dos tumores. Esse
experimento deu origem ao “modelo de desamparo”. Transposto para a
espécie humana, o desamparo é considerado pôr alguns autores como
um dos elementos que pode influenciar o desenvolvimento do câncer.
A habilidade do indivíduo em lidar com o estresse parece ser de
importância nesse modelo. Assim, os aspectos subjetivos de um
determinado estressor para um determinado indivíduo passam a ser mais
importantes do que os aspectos objetivos do estresse.
Trabalhos de psicanalistas preocupados com o doente somático e de
psicossomatistas que vêm trabalhando sob a ótica psicanalítica
proporcionam maior compreensão psicodinâmica dos processos
inconscientes envolvidos no adoecimento físico. Vamos comentar alguns
aspectos da visão de psicanalistas como Joyce McDougall5 ou
psicossomatistas como Pierre Marty6, que, a partir dos trabalhos de
Alexander, acrescentaram conhecimentos clareadores a essas áreas,
facilitando a compreensão desses pacientes e o estabelecimento de
estratégias de abordagem dos mesmos.
Marty (1988)6 afirma que o homem é psicossomático pôr definição.
Confirma com essa sua declaração o que foi sendo delineado, desde os
autores da antiguidade: a existência da indissolúvel unidade
mente/corpo. Pensa também que a divisão mente e corpo pode ser
construir num problema, já que dificulta a compreensão do que ocorre
com o homem de uma forma mais integrada. Ele propõe também que se
considerem os movimentos psíquicos e somáticos, bem como as relações
entre esses movimentos. As observações de pacientes e reflexões a
respeito do observado permitiram que fossem se descortinando aspectos
do funcionamento inconsciente e da repercussão desse funcionamento
sobre a esfera orgânica. Dentre as várias afecções que têm sido estudadas
pelos autores da escola de Marty está o câncer. Para maior compreensão
desses estudos, parece-nos necessário passar em revista alguns
conceitos básicos desenvolvidos pôr aqueles autores.

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264

Tais pesquisadores trabalharam baseados na hipótese de que os


pacientes psicossomáticos apresentam uma construção incompleta ou
um funcionamento atípico do aparelho psíquico, construção ou
funcionamento que eram diferentes dos chamados neuróticos mentais. É
a partir do processo de mentalização que se desenvolvem os distúrbios
de funcionamento do aparelho psíquico. O conceito de mentalização foi
desenvolvido pela escola de Marty entre 1970 e 1975 e tomou a primeira
tópica de Freud como base. É em sua primeira tópica que Freud
conceitualizou o pré consciente, instância em que se manifestam as
representações e as articulações que estas mantêm entre si.
As representações começam a se formar a partir da relação que o bebê
tem com sua mãe. Posteriormente, as representações vão organizar a
relação que o indivíduo tem com o mundo e, mais adiante vão permitir a
relação do indivíduo consigo mesmo pôr meio de um processo reflexivo
que permite que se estabeleça o contato com o seu mundo interno.
Muitos são os autores que têm assinalado que os pacientes com câncer
têm dificuldade em expressar suas emoções, principalmente aquelas
agressivas e hostis. Temos observado no trabalho com esses pacientes
que grande parte chega mesmo a desconhecer essas emoções. São
pessoas que não têm acesso a seu mundo interno, não identificam
sentimentos e emoções e, como consequência, não conseguem também
nomeá-los. A esse fenômeno, psicossomatistas de Boston

deram o nome de alexitimia, expressão vinda do grego ( a= sem; lexis=


palavra; thymos= coração, afetividade). Ainda com referência a essa
questão, podemos observar em muitos pacientes de câncer que, quando
perguntados a respeito do que sentem, usam o nome de outro sentimento
que não aquele que realmente sua linguagem corporal,
aliada ao desencadeante da situação, mostra ser o sentimento
verdadeiro. As representações, evocações das primeiras percepções do
bebê, são acompanhadas de sensações essas que dão uma tonalidade
afetiva própria às representações.
A relação mãe/criança é de importância capital na formação do mundo
simbólico da criança. A mãe que tem um bom relacionamento com seu
bebê vai ajudá-lo a caminhar no processo de estruturação de seu
psiquismo, no qual começa a diferenciar seu próprio corpo do corpo
materno. O início da vida psíquica tem como característica experiências
de fusão e como tal as fantasias pôr parte do bebê de que há um corpo
único (e podemos pensar que também um único psiquismo). Mãe e bebê
seriam vivenciados como sendo um único ser e, portanto, indivisível.
McDougall (1991)5 afirma: “o prolongamento imaginário dessa
experiência vai não somente representar um papel essencial na vida

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265

psíquica do recém-nascido, mas também reger seu funcionamento


somatopsíquico. Tudo aquilo que ameaça destruir a ilusão da indistinção
entre o próprio corpo e o corpo materno lança o bebê numa busca
desesperada de reencontrar o paraíso perdido intrauterino. Assim, os
gritos do bebê e seus sinais de sofrimento impelem a mãe a responder
intuitivamente a essa demanda urgente, trazendo um alívio ao seu
lactente e recriando essa ilusão do Um: ela emprega o seu calor, o ritmo,
a proximidade protetora do seu corpo e a música de sua voz para
conseguir isso. Pôr sua capacidade de manter essa ilusão, ela
proporciona ao seu bebê a possibilidade de integrar uma imagem interior
essencial do ambiente maternal, que tem pôr consequência o reconforto
ou a simples possibilidade de se entregar tranquilamente ao sono”.
A boa relação mãe/filho, que leva também em conta a necessidade que o
bebê tem que se separar, vai ajudá-lo a estabelecer uma diferenciação
progressiva na estruturação do seu psiquismo, de forma que comece a
distinguir aquilo que é de seu próprio corpo daquilo que é sua primeira
representação do mundo externo, oriunda da experiência funcional com
a mãe. Ao mesmo tempo que isso ocorre, começa também a se estabelecer
na mente da criança a diferenciação entre o que é psíquico e o que é
somático. E é nesse constante movimento de fusão e separação, com
novos instantes de fusão sempre que houver situações de sofrimento
seguidas novamente de separação, que o bebê vai estabelecendo seu
mundo de representações.
É nessa fase que a criança investe em alguns objetos a função de
substituir ilusoriamente a mãe (uma fralda, um paninho e, um pouco
mais tarde, o ursinho), podendo, com isso, estar tranquila. Um pouco
mais adiante, começa a surgir a possibilidade da linguagem, quando
então ela passa a dar nomes aos objetos; geralmente, a primeira palavra
a ser balbuciada é “mãe”, evocando então, afetivamente, tudo o que ela
representa como proteção, agora mesmo na sua ausência. Nessa fase do
desenvolvimento do bebê, estabele-se as representações das coisas que
são oriundas das experiências sensório-perceptivas. As representações
de coisas são pouco mobilizáveis pelo aparelho psíquico e não participam
de forma significativa do processo de associação de ideias.
As representações de palavras, estas sim, constituem o elemento
fundamental das associações de ideias. A representação de palavras tem
origem na percepção que a criança tem a linguagem dos outros. No início,
a representação de palavras é semelhante à representação de coisa, mas,
ao longo do desenvolvimento do indivíduo, vai mudando de qualidade,
adquirindo significados mais elaborados e permitindo que se instale a
comunicação simbólica.
Se, em decorrência de alguma vicissitude no desenvolvimento da criança,
houver uma perturbação desse processo, ficará comprometida sua
capacidade de “integrar e reconhecer, como seus, o seu corpo, os seus

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266

pensamentos e seus afetos” (McDougall, 1991, p. 36)5. A vicissitude pode


estar ligada a aspectos da mãe. Sendo esta, pôr exemplo, possuidora de
pensamentos carregados de afetos penosos e intoleráveis, estes podem
fazer com que seu filho tenha pensamentos proibidos ou mesmo fortuitos.
Mães com dificuldade de aceitar os movimentos de separação de seus
bebês podem dificultar também o desenvolvimento das representações.
Há outros caminhos que podem também levar a perturbações das
representações, como crianças com maior sensibilidade: mães com
problemas que façam com que se rompa a comunicação entre ela e seu
bebê, quando ela deixa de perceber o que o bebê lhe comunica e aí impõe
a ele suas próprias ideias e desejos; mães que não conseguem proteger
seus bebês de superestimulação traumática ou os submetem a uma sub-
estimulação podem levá-los a não ser capazes de distinguir as
representações de si das do outro e, como decorrência, leva a uma
confusão em relação aos contornos de seu corpo.
Segundo Marty (1988)6, um indivíduo que tenha tido a oportunidade de
passar pôr um longo amadurecimento de seu aparelho psíquico e que,
além de usar mecanismos de defesa como condensações e
deslocamentos, é capaz de mobilizar representações pré - conscientes nos
vários níveis de desenvolvimento de forma que possa elaborar os lutos e
que, quando em regressões, se fixa em fases que situam à frente do
narcisismo primário, tem toda a chance de superar os efeitos
desorganizadores dos traumatismos antes que eles atinjam a esfera
somática.
Se o desenvolvimento do psiquismo não se cumpre plenamente, podemos
ter a preponderância das características sensório - motoras, o que daria
um aspecto operatório ao psiquismo. A partir dessa observação, foi
definida pela escola de Marty o conceito de “pensamento operatório”, que
tem como características ser consciente e não ter ligações significativas
com movimentos representativos. O pensamento operatório nem sempre
permite a exteriorização da agressividade e revela empobrecimento na
organização do ego.
O pensamento operatório limita a capacidade do indivíduo de manter
atividades fantasmáticas e oníricas que permitam a integração de tensões
pulsionais. Sabe-se que as tensões pulsionais, quando não podem ser
integradas e, portanto, elaboradas, acabam pôr construir um fator
importante na desorganização somática, contribuindo para o
adoecimento físico.
Outros conceitos também foram desenvolvidos pela escola de Marty como
o de “depressão essencial” e o de “desorganização progressiva”.
Depressão essencial foi um termo criado em 1966 para designar a
depressão psicossomática. Esta se caracteriza pôr um “rebaixamento do
tônus libidinal sem qualquer contrapartida econômica positiva” (Marty,
1993 p. 19)7. A depressão essencial tem a sua sintomatologia

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267

caracterizada pela falta. A dinâmica mental está amplamente diminuída,


não apresentando o quadro colorido das outras depressões. Marty (1993)
afirma que “sem a contrapartida libidinal, portanto, como a
desorganização e a fragmentação ultrapassam sem dúvida o domínio
mental, o fenômeno é comparável ao da morte, onde a energia mental se
perde sem compensação (...) sem dúvida leva mais certamente à morte.
O instinto de morte é o senhor da depressão essencial. O tempo passado
na depressão é cada vez mais nefasto aos sujeitos. A depressão essencial
é um indicador da desorganização em que se encontra o indivíduo
quando todas as suas defesas mentais já sucumbiram. Ela constitui um
importante sinal de alarme que alerta para o alto risco de adoecimento
físico e tem várias características próprias que facilitam o diagnóstico
diferencial com outras depressões. Como já foi mencionado acima, é uma
depressão que não apresenta o forte colorido das outras depressões,
sendo, portanto, pouco intensa. Diferentemente dos estados de luto, nela
estão ausentes os sentimentos de falta. Não aparecem rememorações ou
saudades. Estão ausentes os sentimentos de autoacusação como na
depressão melancólica e também os de inferioridade e fraqueza. Há perda
dos interesses habituais, há perda dos projetos de futuro e o
comportamento fica automatizado. Ela pode ser breve e seguida de uma
doença pouco grave. Se a depressão essencial se prolonga, pode atingir
severamente o corpo. Geralmente, está presente também uma alteração
de qualidade da linguagem, que fica mais pobre, com perdas de
metáforas, de imagens, de criatividade. A linguagem, além de passar a
apresentar um conteúdo mais concreto, apresenta também uma fala
mais fatual e atual. O discurso passa a ter pobremente descritivo,
desvitalizado e preso à cronologia dos fatos. Os sonhos frequentemente
estão ausentes, podendo aparecer, no entanto, de forma também
empobrecida e pouco elaborada.
Outro conceito importante desenvolvido pela escola de Marty é o de
“desorganização progressiva”, que é definida como a destruição da
organização libidinal de um indivíduo; o movimento de desorganização,
assim progressiva, geralmente desemboca numa somatização. A
regressão que se fixa em algumas das fases do desenvolvimento permite
uma reorganização do indivíduo. Qualquer das fases a que se fixe o
indivíduo no processo de regressão age como um patamar de organização
e, quando isso ocorre, estabelece-se um elemento auxiliar de cura.
É ainda Marty (1993) quem afirma que as representações podem sofrer
perturbações que dizem respeito à qualidade e à qualidade, segundo os
indivíduos e segundo o momento de vida em que se encontra determinada
pessoa. Dessa forma, pode parecer que as representações estão ausentes,
reduzidas em sua quantidade. É como se as experiências sensórias-
perceptivas não tenham resultado na formação de representações. Podem
também estar prejudicadas em sua qualidade, ou seja, as representações
de palavras não se desenvolveram de forma a ampliar o seu valor

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268

simbólico. Mantém-se uma pobreza de significados, bem como da


capacidade associativa do indivíduo. Essas pessoas caracterizam-se pela
ação, dada a limitação da capacidade de pensar. A partir dessa
característica, Marty (1993) conceituou o que chama de “neurose mal
mentalizada”.
Marty (1990)8 considera também mais duas categorias: as “neuroses bem
- mentalizadas” e as “neuroses de mentalização incerta”. A primeira
ocorre em indivíduos que passaram pôr um processo de boa
mentalização, sendo possuidores de grande qualidade de representações,
com boas articulações entre elas, e, ao longo do processo de
desenvolvimento, foram sendo gradualmente enriquecidas de valores
afetivos e simbólicos. Elas apresentam diferenças em relação às neuroses
mentais descritas pôr Freud, já que têm sintomatologia “menos
organizada e menos constante, mostrando-se polimorfa, associando-se
aos sintomas mentais, traços de caráter e traços de comportamento. A
Segunda categoria, a das neuroses de mentalização e outros momentos
de má mentalização, com todos os aspectos que esta categoria apresenta.
As deficiências do sistema de representação do indivíduo trazem como
consequência a dificuldade de escoamento adequado das excitações
instintivas e pulsionais, sendo essa insuficiência de escoamento a
responsável pelas somatizações, segundo já mencionado anteriormente.

As afirmações de Marty e colaboradores são concordantes com a de


muitos outros autores, desde a antiguidade até nossos dias. De acordo
com Marty (1990)8, mais do que as perdas em si (perda de entes queridos,
perda de liberdade, de ilusões ou de projetos, e também perdas de
funções em que haja um investimento afetivo e mesmo em virtude do
envelhecimento), a maneira pela qual o indivíduo lida com elas pode ter
efeito destruidor. Marty (1990)8 ainda acrescenta que, “quando as
excitações pós-traumáticas se mostram importantes e que, pôr outro
lado, o sistema de representações mostrar-se indispensável assistimos
frequentemente à eclosão de afecções evolutivas graves: canceres e
doenças autoimunes, pôr exemplo”
Pesquisa desenvolvida pôr estudiosos franceses (Jasmin et al., 1990)9
tenta estabelecer evidências de que há ligação entre fatores psicológicos
e o risco de câncer de mama. Esses pesquisadores usaram método duplo
– cego e pesquisaram 77 mulheres com idade entre 35 e 65 anos. Foi um
estudo restrito a tumores de mama que, suspeita-se, tenha sua etiologia
e seu desenvolvimento influenciados pôr hormônios cuja regulação, pôr
sua vez, é afetada pôr fatores psicológicos.
Todas as pacientes da pesquisa eram portadoras de algum tumor de
mama, sem que fosse levado em conta, num primeiro momento, o

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269

diagnóstico de malignidade. Todas as que permaneceram na pesquisa


foram submetidas previamente a uma avaliação psicossomática pôr meio
de uma entrevista adequada.
A avaliação psicossomática feita durante a entrevista levou em conta a
estrutura mental fundamental de cada paciente, seu funcionamento
mental habitual, a sintomatologia recente e demais dados anamnésicos.
Os psicossomatistas que entrevistaram as pacientes distribuíram-nas em
dois grupos: um de alto risco de câncer de mama e outro de baixo risco.
Só então essas pacientes foram submetidas à mamografia e a exames
citológicos e a todos os dados submetidos a estudo estatístico adequado.
Marty e colaboradores estabeleceram uma correlação positiva
significativa entre risco de câncer de mama e prognóstico psicossomático.
A pesquisa revelou também que nenhuma das mulheres com quadro de
neurose bem-mentalizada teve diagnóstico de malignidade,
diferentemente do grupo com diagnóstico de neurose malmentalizada, no
qual estavam todos os casos diagnosticados de câncer de mama.
Dentre as características mentais pesquisadas, as que se mostraram
estatisticamente importantes como elementos de risco relativo para
câncer de mama eram angústia difusa, excessiva autoestima, lutos
antigos ou recentes não resolvidos.
Nas neuroses mal mentalizadas ou nas neuroses de mentalização incerta,
o déficit funcional do pré-consciente dificulta a elaboração dos afetos do
psiquismo, criando a possibilidade de uma depressão essencial que pode
caminhar para uma desorganização progressiva do psiquismo e, se o
processo continuar, pode evoluir para uma desorganização somática com
o consequente surgimento de uma doença física, como pôr exemplo, o
câncer.
Embora tenhamos apresentado aqui alguns comentários sobre o
adoecimento de câncer, em parte já apresentados em outro lugar
(Carvalho, 1994)3, tendo pôr base os autores do Instituto de
Psicossomática de Paris, não podemos deixar de referir que muitos outros
autores têm abordado o mesmo tema de diversos pontos de vista.
1-Chiozza, L.A Un lugar para el encuentro entre medicina y psicoanálisis.
Buenos Aires, Alianza, 1995.
2- Locke, S.; Colligan, D. The healer within. Nova York, 1987.
3- Carvalho, V.A Personalidade e Câncer. In: Carvalho, M.M.M.J., (org.)
Introdução à psiconcologia. Campinas, Editorial Psy, 1994.
4- Bovbjerg, D. H. Psychoneuroimunology implications for oncology.
Cancer, 67(Suppl.): 828-32, 1991.

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270

5– Mac Dougall, J. Teatros do corpo: o psicossoma em psicanálise. São


Paulo Martins Fontes, 1991
6 – Marty, P. Disposition mentales de la première enfance et ancers
de l’age
adulte. In: Seminário de psicossomática, Barcelona, Espanha, 11 jun.
1988
7– Marty, P. A psicossomática do adulto, São Paulo, Artes Médicas, 1993
8– Marty, P. A noção da mentalização, seu interesse em psicossomática.
Sabor,Iugoslávia, 1990. [Palestra].
9– Jasmin,C.; LÊ, M. G.; Marty, P.; Herzberg, R. Evidence for a link
between certain psychological factors and the risk of breast cancer in a
case control study. Ann. Oncol., 1990
Bibliografia : CARVALHO, Vicente Augusto

PSICOSSOMA I – Psicossomática Psicanalítica – Casa do Psicólogo,1997


Artigo apresentado no “I Simpósio de Psicanálise
e Psicossomática”

Os distúrbios psicossomáticos a partir de freud


Quando nós decidimos a dar atenção primordial ao que se passa com
uma pessoa na esfera da psique, o enigma que constitui o aparecimento
inopinado de distúrbios somáticos no mesmo indivíduo pode acarretar no
observador diferentes atitudes. Uma delas consistiria em dizer que se
trata de manifestações não pertencentes à sua alçada, e portando sem
interesse para si, podendo ser compreendida como um procedimento
bastante coerente do ponto de vista científico e, nessa perspectiva, uma
outra consistente no procedimento inverso, voltado para a compreensão
e até para a redução dos sintomas somáticos. Estes poderiam apresentar-
se talvez marcados pela fantasia de onipotência, na qual o controle –
mesmo relativo – do que se desenrola no cenário mental deveria ser
acompanhado pôr igual controle, no que concerne às manifestações na
esfera corporal, aí incluindo-se, pois, o aparecimento das doenças.
Sem dúvida, poderíamos considerar que o reconhecimento de sintomas
ditos “psicossomáticos” atesta uma espécie de compromisso mais ou
menos extenso, conforme o caso, visando delimitar uma zona em que as
interações entre psique e soma poderiam chegar a quadros
sintomatológicos complexos, dando lugar a afecções somáticas precisas.
Parece que, de certo modo, é a esse tipo de compromisso que chegou o
ramo especializado da medicina, constituído pela psicossomática.

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271

Entretanto, se nesse campo nos reportamos às posições de Freud,


chegaremos a uma constatação aparentemente muito distante de
qualquer forma de compromisso. Lembremos, com efeito, que foi num
texto de 1895 que Freud deu ênfase ao que se chamarão distúrbios
somáticos, opacos, destituídos de significado, ligados a uma neurose
atual ou uma neurose traumática, e sintomas psiconeuróticos de tipo
histérico (dos quais a paralisia histérica constituirá um dos melhores
exemplos) e que, originando-se em uma neurose mental, são mantidos
como tais somente pela força do recalcamento. Eles irão desaparecer,
pois, como que magicamente quando o sentido oculto for revelado pela
extinção daquele mecanismo de defesa. Trata-se aí de uma distinção
capital no que diz respeito à natureza do sintoma somático, se poderia
dizer, que ligado ao recalcamento, em outro caso, e submetido à aparente
magia de uma interpretação correta.
O fato dessa distinção ter sido, de certa forma, esquecida pelos discípulos
de Freud enquanto este ainda era vivo se explicaria em grande parte pela
coexistência possível nos indivíduos humanos de uma sintomatologia
histérica de valor conversivo, que se aliaria a distúrbios somáticos mais
ou menos transitórios ou instalados de acordo com a época da vida. É o
que transparece do exame do caso de “Dora” tratado pôr Freud e
publicado em 1905 nas Cinco psicanálises (p.8)1, com o subtítulo
“Fragmento de uma análise de histeria”. Caso retomado pôr P. Marty, M.
de M’Uzan e Ch. David em 19672 no programa do Simpósio de
Psicossomática intitulado “O caso Dora e o ponto de vista
psicossomático”. De fato, verifica-se – pelos vários sintomas somáticos
apresentados pôr Dora – que enquanto certos distúrbios se mostram
indiscutivelmente ligados a uma conversão histérica (tosse, crises de
afonia), outros (enxaqueca, astenia) pareceriam mais puramente
somáticos, não sendo mantidos pela força do recalcamento. Isso leva os
autores a falar da “existência de uma polissintomatologia em Dora”
indicando “uma multiplicidade de mecanismos etiopatogênicos: fatores
puramente orgânicos, mecanismos próprios das neuroses atuais,
identificações histéricas e alérgicas...”
Em resumo, esse polimorfismo, possível de confirmar com base nos
distúrbios somáticos, em certos sujeitos seria responsável pôr uma parte
das extrapolações abusivas feitas pôr certos psicanalistas, a despeito das
posições prudentes de Freud.
No que lhe diz respeito, - lembremos que, excetuando os trabalhos sobre
as neuroses atuais, - Freud centrou-se exclusivamente nos processos
psíquicos, deixando de lado os distúrbios somáticos propriamente ditos,
quando não lhe pareciam entrar no quadro da conversão histérica, e isto
apesar de ter feito intervir fatores explicativos de natureza especulativa
tais como: complacência somática, diferenças quantitativas de libido

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272

herdadas, fatores ligados à constituição ou à predisposição. Entretanto,


a noção de sintoma somático opaco, destituído de significado, nunca
abandonou Freud ao longo de seus trabalhos. Citamos como exemplo o
que diz sobre o assunto em 1916 na conferência n.º 24 “O nervosismo
comum” em A introdução à psicanálise 3:
“Os Sintomas das neuroses atuais, cabeça pesada, sensações dolorosas,
irritação de um órgão, enfraquecimento ou interrupção de uma função, não
têm nenhum “sentido”, nenhum significado psíquico. Esses sintomas são
corporais, não apenas em suas manifestações (é o caso dos sintomas
histéricos, pôr exemplo), mas também quanto aos processos que os
produzem e que se desenvolvem sem a menor participação de qualquer dos
mecanismos psíquicos complicados conhecidos pôr nós” .

Entre os discípulos de Freud, Paul Federn foi o primeiro, em 1913, a se


interessar pelos sintomas somáticos, tendo apresentado uma
comunicação á Sociedade Psicanalítica de Viena sobre um paciente
asmático. Em seguida Groddeck (1923)4 a tomar uma posição de certo
modo extrema ao escrever:
“A doença do coração nos fala de amor e de sua repressão, a úlcera péptica
decorre do que está no fundo da alma (pois foi no ventre que o id colocou
a alma), o câncer do útero evoca os pecados contra os deveres da
maternidade e da devassidão arrependida, assim como a sífilis os
pecados de uma moral sexual rígida... É o id que resolve se os ossos vão
se quebrar quando alguém cai”.
É fácil compreender que diante de tais asserções, marcadas pela
onipotência do inconsciente, as reações do mundo médico tenham sido
extremamente negativas, tanto mais que os resultados terapêuticos
obtidos pelos psicanalistas que subscreviam a essas teses não eram, e
nem de longe, puramente negativos. Os trabalhos de Angel Garma (1957),
na Argentina de fato parecem inserir-se nessa linhagem, com a utilização
de interpretações de tipo Kleiniano, visando diretamente a sintomatologia
somática que é então tratada como se fosse uma sintomatologia mental.
O fato de tais interpretações poderem propiciar uma melhora, e até a
sedação do distúrbio somático – com Garma tratava-se principalmente
de uma patologia de úlcera gástrica – parece- nos que possa ser
compreendido de outra maneira do que como consequência de uma
interpretação considerada pertinente. De fato, não é a construção
interpretativa que se propõe ao paciente relacionado à gênese ou à
evolução somática de seu sintoma que nos parece conduzir de maneira
direta ao desaparecido do sintoma conversivo histérico, mas muito mais
as modificações que se produzirão na economia psicossomática geral do

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273

paciente, através de caminhos complexos, em função da atenção global


de que é objeto ao longo do tratamento psicoterápico, sendo a
interpretação mágica, afinal, apenas um dos elementos de um conjunto
de inúmeros variáveis.
De resto, a ampliação extremada das interpretações psicanalíticas de um
lugar em que são cabíveis para outro onde não o são, levará Franz
Alexander a uma crítica procedente e fecunda. Assim, escreve:
“A extensão da teoria da conversão histérica a todas as reações
psicossomáticas foi um exemplo típico de erro produzido frequentemente
na história das ciências: a da aplicação acrítica de conceitos de um campo
onde são válidas a um outro não o são”.
Alexander e seus colaboradores descreveram a existência de “tipos
específicos de conflitos” (specific patterns o conflitcts) que estariam na
origem de certo número de afecções somáticas como as úlceras
duodenais, colites, hipertensão, asma brônquica, dermites de origem
nervosa, artrite reumatóide, hipertiroidial. Para que o distúrbio
psicossomático apareça, é preciso que se reúna um tríplice conjunto de
fatores:
•um tipo específico de conflito;
•uma predisposição especial do corpo do sujeito chamada fator somática
X;
•uma situação atual de conflito;

É afirmar uma concepção totalmente dinâmica quando ao que preside à


instauração de um distúrbio somático, pois a noção de conflito está em
primeiro plano; mas é dizer também que a noção de “terreno” ou
complacência somático – para conservar a expressão de Freud, aí
intervém igualmente. O aspecto de certa forma dúplice que toma aqui a
noção de conflito parece particularmente interessante: à situação de
conflito atual (na qual podemos observar uma espécie de referência à
noção de

neurose atual de Freud) se junta a de sensibilidade própria, a


predisposição somática e a reativação ou a sobrecarga da situação atual
de vida, que irá nascer a doença somática. A insistência de Alexander em
reconhecer a importância das diferenças individuais é expressa no que
escreve:
“Pode ser estabelecido com certeza que a importância dos fatores
emocionais varia de caso para caso dentro da mesma categoria
diagnostica. Em consequência, o procedimento terapêutico pode ser

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274

também altamente individual, a maioria dos casos requer uma


coordenação judiciosa dos diferentes métodos somáticos e
psicoterapêuticos”.
A focalização sobre a especificidade individual de cada caso é combatida
pôr Flanders dunbar, aluna e antiga analisanda de Alexander, a qual
passa a descrever perfis psicológicos (personnality profils), que estariam
associados a um tipo especial de doença somática: doenças cardíacas,
úlcera, alergia, diabete, tuberculose, câncer, etc.
Perfis psicológicos associados a um tipo especial de doença somática, um
tema:
Referencial dos diabéticos
- Hereditariedade;
- Estado de saúde anterior;
- Vida familiar;
- Atitudes fora de casa;
- Comportamento individual;
- Reação à doença;

“Há uma grande proporção de crianças ‘problemáticas’ entre os


diabéticos e um ciúme acirrado em relação a irmãos e irmãs.”
E ainda:
“Um número surpreendente desses pacientes fala de divórcio e separação
sem jamais passar a vias de fato. Sua frequente repulsa ao ato sexual faz
com que muitos homens permaneçam solteiros e que os casados tenham
poucos filhos. As mulheres, muitas vezes frígidas, se queixam com
frequência de serem excessivamente solicitadas ao sexo pelo marido.”
Na rubrica comportamento individual, observava-se:
“Em geral pouco precavidos quanto à saúde, acusam os outros pôr seus
possíveis distúrbios. Têm tendência a evitar os esportes competitivos e a
procurar um trabalho em que esperam não encontrar demasiada
competição. Diferem e adiam decisões procurando eximir-se de
responsabilidade para com os outros se isso acarretar consequências
nefastas.”

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275

Se não nos parece útil multiplicar os exemplos nem dar pôr extenso as
páginas que tratam do perfil psicológico dos diabéticos, é porque essa
abordagem de tipo fenomenológico globalizante (mas que não é destituída
de referências à moral puritana anglo-saxônica da época) só nos parece
suscitar no leitor sentimentos ambivalentes. Estes nos parecem ter
apenas como equivalente a própria ambivalência do autor que,
entregando-se a vastas generalizações, exprime uma ressalva, ao insistir
no fato de que não se enquadram as pessoas tomadas individualmente!
Os exemplos clínicos parecem passíveis de suscitar a mesma reserva, se
bem que Flanders Dunbar seja capaz de sensibilidade e precisão em suas
observações.
Com G. Engel e seus colaboradores (1955- 1960), a ênfase é posta na
noção de perda do objeto ( real ou imaginária ) e nos sentimentos de perda
da ajuda e da esperança, que a acompanham como elementos
desencadeantes da doença. É o que a língua inglesa pode exprimir em
uma síntese surpreendente pôr meio da dupla expressão: giving up/given
up e helplesness/hopelessness.
Essa abordagem encontrou confirmação nos trabalhos estatísticos feitos
nos Estados Unidos, os quais revelam um aumento significativo da taxa
de mortalidade no ambiente próximo de um sujeito, no ano seguinte ao
de seu falecimento.
A. Mitscherlich (1965) desenvolve, pôr sua vez, a teoria de uma defesa
bifásica: as perturbações psicossomáticas aparecem quando os pacientes
portadores de distúrbios neuróticos não são mais capazes de enfrentar
uma perda de objeto, real ou imaginária, utilizando mecanismos de
defesa neuróticos. È a teoria da ressomatização dos afetos elaborada pôr
Max Schur (1955).
Em suma, para esses autores que, desde Alexander, constituem uma fase
mais científica de trabalhos feitos pôr psicanalistas a propósito de
pacientes com distúrbios somáticos, parece que esses distúrbios sejam
compreensíveis a partir do mesmo modelo que rege o conflito
intrapsíquico, podendo os doentes psicossomáticos parecer, via de regra,
portadores de neuroses particularmente severas.
Nesse caso, estaríamos tomando – se bem que de forma diferente – a
perspectiva antiga especialmente defendida pôr J.
C.Heinroth, primeiro ao introduzir, em 1818, a expressão
“psicossomática” para designar os distúrbios somáticos nos quais a
origem psíquimica seria determinante. Perspectiva que foi rapidamente
combatida pôr F. Jacobi com o termo “somato- psíquico”, buscando pôr
a ênfase na origem puramente somática dos distúrbios, os quais podiam
acarretar, mas apenas secundariamente, repercussões psíquicas.

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Aparentemente essa dupla abordagem pode ainda ser válida para


numerosos psiquiatras e psicanalistas contemporâneos, como atestam A.
Haynal e W. Pasini no recente Abregé de
médicine psychoso-matique no qual descrevem “as reações somato-
psíquicas” ligadas às repercussões de distúrbios somáticos crônicos
sobre a organização psíquica dos doentes, falando também de “doença
multifatorial com somatização dos problemas psíquicos, como no caso
das doenças somáticas mais importantes.”
Parece ser essa uma posição muito próxima à dos médicos que praticam
a medicina psicossomática – termo introduzido pôr Felix Deutsch em
1922 -; posição que destaca e confirma – parece-nos – a dicotomia entre
a psique e o soma, pois torna a considerar os fatores psíquicos como
hipotéticos na origem de certas doenças, dando primazia à dimensão
psíquica, e sendo a predominância de fatores somáticos indiscutível para
outras doenças.
Sem dúvida, tentativas como a de M. Balint (1960) e grupos de discussão
de médicos, que se constituíram a partir de seus trabalhos, procuram
reduzir essa dicotomia, pois a ênfase é posta na relação estabelecida
entre o médico e o paciente; relação que com frequência parece ter um
papel determinante quando à melhora do estado somático do doente. Mas
essa opção, que parece obter êxitos, terapêuticos, nem pôr isso se apoia
em uma teoria psicossomática solidamente alicerçada, diferentemente
dos trabalhos atuais, como o ponto de vista psicossomático definido pôr
Pierre Marty, ou ainda dos trabalhos dos alemães Th. E J. Van Uexkull
(1966).
Esses autores tratam de uma teoria das unidades funcionais ou
circulares que, combinadas com o conceito de estresse, têm a vantagem
de ser uma real teoria psicossomática, incluindo as dimensões somática
e psíquica. O organismo ligado a seu ambiente constitui uma unidade
funcional. Esta será variável de pessoa para pessoa, pois o organismo
utiliza os dados da percepção e da ação para formar seu meio ou sua
realidade específica. Defrontando com uma situação de estresse ( os
autores se referem à teoria do estresse de H. Selye (1956)- (pág.45), o
organismo pode reagir com a ativação de programas inatos
(constitucionais) ou adquiridos ( imunológicos, pôr exemplo ) e até com a
falência dos programas de que dispõe, quando se trata de experiências
passadas com base no aprendizado ou na comunicação e que podem
revelar-se inadequadas ou incompatíveis com a

situação presente. A resposta frente a essa “situação de crise”, em que se


trata de compreender e utilizar os significados, envolverá

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necessariamente e de forma inseparável, em variados níveis de organismo


e integração, os aspectos somáticos e psíquicos do sujeito. A capacidade
de criar novos programas graças à imaginação e a certa capacidade de
antecipação poderá permitir ao indivíduo humano enfrentar a situação
sem maiores sobressaltos. Se ao contrário isso for impossível, o
organismo responderá com uma reação de alarme, podendo, no caso de
esgotamento, terminar em aparecimento de doenças e mesmo em morte.

1 – 1905, Cinq psychanalyses, Paris, P.U.F., 1970.


2 – Marty, P.; M’Uzan, M. e David, C. 1968, le Cas Dora et le point de
vue
psychosomatique, Revue française de psychanalyse, 32, 679-714
3 – 1916, la Nervosité commune, in Introduction à la
psychanalyse, Paris, Payot,
“Petite bibliothèque Payot”, 1972, p.356-369
4 – 1923, le Livre du Ça, Paris, Gallimard, “Tel”, 1973.

Bibliografia : DEBRAY, Rosine – O Equilíbrio Psicossomático


– Casa do Psicólogo, 1995

REGRESSÃO E ALGUNS DESTINOS

A complexa relação entre psicanálise e psicossomática suscita, de saída,


uma série de questões que tocam no “fundamento” e na delimitação
desses dois territórios: a psicanálise, com um século de existência e com
uma história rica e conturbada, e a psicossomática, tomada como uma

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psicossomática psicanalítica, ganhando uma forma e uma consistência


crescente e sendo cada vez mais alvo de atenção nos nossos meios. As
doenças e distúrbios orgânicos podem ser tomados como “sintomas” a
serem abordados pôr um “tratamento pelo psíquico”? Ao procedermos
assim, estamos ainda em psicanálise ou nos afastamos dela? Será a
psicossomática um novo campo do saber que se distingue nitidamente
da psicanálise, ou podemos considerá-la uma extensão ou um
desenvolvimento da mesma? Buscaremos, aqui, apontar algumas
direções sobre o assunto.
Não podemos dissociar, nem em psicanálise e nem em psicossomática, a
técnica psicoterápica, a teoria sobre os processos mentais e
psicossomáticos, a psicopatologia e o próprio processo de pesquisa. É
inconcebível falar em uma técnica – uma maneira de proceder no
tratamento – que não esteja estreitamente ligada ao modo como
compreendemos e concebemos os fenômenos em causa. Assim, não
cremos que quando lidamos com distúrbios orgânicos estamos
simplesmente aplicando uma nova técnica complementar e

diferente da técnica clássica. Cremos, sim, que há uma ampliação de todo


o campo de investigação que inclui teoria e concepções gerais e que atinge
também, naturalmente, o fazer do psicoterapeuta; essa ampliação não
significa um simples adendo a um corpo teórico já construído e imutável,
mas implica um rearranjo que nos coloca a tarefa de revisar todo o corpo
teórico para verificar o que se conserva e o que nele se transforma. E
mais: deve-se considerar também o que estava nele latente, embrionário
ou presente nas entrelinhas e que agora se explicita, desabrocha e se
esclarece a partir do estudo de novos fenômenos.
Em relação à psicossomática, mais especificamente, temos um paradoxo
interessante. O estudo dos fatores psíquicos presentes no adoecer
somático nos coloca diante da tarefa de rever a clássica dissociação entre
mente e corpo que está presente na nossa tradição filosófica e científica.
Diante de uma problemática tão vasta, optamos pôr um recorte que visa
abordar o que da teoria do aparelho psíquico apresentada em A
interpretação dos sonhos1 pode ser resgatada para o campo da
psicossomática. Nesse recorte, daremos ênfase especial ao conceito de
regressão, pôr considerá-lo, pôr um lado, um dos pilares fundamentais
da armação metapsicológica criada pôr Freud para dar conta dos
fenômenos psíquicos pôr ele observados e, pôr outro, uma ferramenta
teórica bastante útil no que se refere à compreensão dos fenômenos
psicossomáticos. Poderíamos dizer, até, que a história da evolução desse
conceito – desde a formulação inicial de Freud, passando pelas suas
transformações no interior da própria obra freudiana, até a sua utilização
de maneiras diferentes pôr alguns analistas que o

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seguiram – nos ensina algo importante sobre a evolução da investigação


psicanalítica: esta conduziu à necessidade de um alargamento teórico-
clínico que implicou o estudo, compreensão dinâmica e tratamento de
formas clínicas diferentes daquelas que eram objeto inicial da análise, a
saber, as neuroses de transferência .Dentre estas formas, incluem-se não
só os quadros de somatização, mas também muitos outros, tais como a
perversão, a psicose, os casos-limite, as toxicomanias e outras adições
etc.
A psicossomática está, aparentemente, construída sobre o problema de
representabilidade no funcionamento psíquico. É esse princípio que deve
ser questionado a partir do trabalho com as doenças orgânicas: no caso
das somatizações, é justamente o processo de representação que falha.
O que do modelo freudiano escapa a essa primazia do simbólico e pode
ser localizado como elemento precursor de um pensamento
psicossomático? Como se vê, a proposta é uma pesquisa daquilo que está
inicialmente à margem do pensamento oficial, os “restos não-resolvidos”
do primeiro modelo freudiano do aparelho psíquico, e que já anunciam
os problemas e limites desse modelo.

A noção de regressão está no centro do primeiro modelo apresentado pôr


Freud. Na parte “B” do capítulo VII de A interpretação dos sonhos, Freud
dedica-se a demonstrar que no processo de formação do sonho se dá uma
regressão. Os pensamentos latentes sofrem um processo de elaboração
segundo uma lógica muito distante daquela do pensamento da

vigília; eles são objeto de deslocamento, condensação e de uma tendência


à figurabilidade que transforma os pensamentos verbais em uma
linguagem plástica, figurada e rica em potencial metafórico: trata-se do
processo primário. A elaboração onírica implica, portanto, uma regressão
no modo de funcionamento mental que abarca o aspecto “formal” do
sonho. Ao mesmo tempo, na análise do conteúdo do sonho, revela-se um
material que tem como fonte o infantil recalcado; o infantil refere-se ao
reavivamento de marcas, lembranças e fantasias construídas e
originadas em um tempo “pré-histórico” da vida do sujeito, e o recalcado
conduz à formulação da hipótese de um lugar virtual no qual esse infantil
está alojado: o sistema inconsciente. Assim, temos também o aspecto
temporal e tópico da regressão, que vêm complementar o primeiro. Na
verdade, o aspecto da regressão primeiramente enfocado pôr Freud é o

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tópico, já que ele propõe que no sonho se dá um fluxo regressivo das


excitações no interior do aparelho psíquico – contrariamente ao fluxo
progressivo no estado de vigília – que parte do polo motor, passa pelas
marcas mnêmicas do sistema inconsciente e atinge o polo perceptivo com
a experiência alucinatória do sonho.
Ora, esse modelo da regressão refere-se a um processo psíquico-
representativo, ou seja: a forma primitiva da expressão onírica é ainda
representacional, ainda que não- verbal, e o infantil recalcado implica
marcas mnêmicas que são, afinal, elementos primitivos do pensamento.
Enquanto processo psíquico, ele não concerniria ao âmbito somático.
Trata-se, então, de um conceito que não se presta à psicossomática?
Vamos assinalar alguns aspectos que podem servir de subsídio para uma
interpretação diferente.

11.1 A pulsão como conceito-limite

Antes de prosseguir na discussão do problema da regressão, vamos


comentar brevemente o conceito freudiano de pulsão. Construído a partir
dos estudos da sexualidade humana, esse conceito fundamental nos faz
lembrar o tempo todo a base somática sobre a qual se assenta a
psicossexualidade humana. Enquanto conceito-limite entre o somático e
o psíquico, a pulsão implica uma força constante, uma quantidade de
excitação que, pôr sua origem interna em fontes somáticas, coloca ao
psiquismo atarefa contínua de buscar os meios de processá-la, derivá-la,
transformá-la; em suma, proporcionar a ela um destino.
A concepção freudiana da primeira teoria das pulsões, que propõe a
existência de dois e apenas dois grupos de pulsões – as pulsões sexuais
e as de autoconservação – ganha importância para o nosso tema se nos
recordarmos da noção de apoio. O universo auto conservativo refere-se,

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pôr um lado, às ideias de necessidade e de sobrevivência do indivíduo e,


pôr outro, ao corporal e ao somático. A vinculação entre autoconservação
e corpo biológico não é direta e simples, e está sujeita a um
questionamento que varia com a interpretação que se faça da
conceitualização freudiana. Tem- se dado muita ênfase ao fato de que o
corpo que a psicanálise trata é o corpo erógeno, e de que a fonte da pulsão
(sexual)

não é, a rigor, a zona corporal erógena, mas a própria função vital


(instinto); de maneira semelhante, o alvo da pulsão sexual não seria o ato
que implica um “fazer” com um objeto material (sugar, chupar, engolir),
mas uma operação psíquica apenas análoga a ele (introjetar, incorporar
metaforicamente um objeto psíquico), ou seja, um deslocamento do alvo
do instinto: a pulsão seria a perversão do instinto e, enquanto tal, estaria
em um registro em absoluto heterogêneo ao daquele (Laplanche, 1985).
Pode-se pensar, no entanto, que não há razão plausível – a não ser a
vigência de um tabu – para não tocarmos no fato de que as pulsões de
autoconservação se referem à existência biológica do indivíduo, e que pôr
um apoio sobre esse universo nascem a sexualidade e a vida psíquica
humana. O tabu que me referi tem a desvantagem de não nos permitir
pensarmos com liberdade no possível “trânsito” recíproco – seria uma
forma de “transferência”? – entre os dois grandes grupos de pulsões. O
alargamento do campo de investigação que essa “liberdade” propicia é o
que permitiu alguns desenvolvimentos que outorgaram à necessidade o
caráter de um conceito de grande poder operacional na clínica das
situações “não- neuróticas”. Esse é o caso evidente de Winnicott, mas
também podemos identificar um movimento análogo em Aulagnier
(1985)2, que nos chama a atenção para a importância de considerarmos
a “necessidade de prazer” como uma questão de sobrevivência psíquica
que está aquém do “a mais” próprio da contingência do objeto e do
universo do desejo.
As pulsões sexuais aparecem inicialmente apoiadas nas funções auto
conservativas; logo, porém, encontram um rumo próprio, inicialmente no
autoerotismo, mas também pela

construção de um universo imaginativo e de uma relação com os objetos


e com o mundo que muito se distancia das determinações biológicas de
um suposto instinto stricto sensu. Ora, a referência às funções auto
conservativas não deve, pôr isso, ser esquecida ou suprimida; não
podemos supor a possibilidade de um retorno da sexualidade ao universo
somático, em uma espécie de movimento regressivo ? Ao falar dos
distúrbios da visão nos casos de histeria, Freud supõe a interferência da

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pulsão sexual sobre a função auto conservativa, uma vez que qualquer
órgão ou parte do corpo é passível de servir zona erógena (Concepção
psicanalítica das perturbações psicogênicas da visão, 1910); mas, além
do mecanismo de conversão, não poderíamos levantar também o
problema da somatizações – naturalmente, dentro de quadro conceitual
já modificado – nas quais seria subjacente um mecanismo que implica
uma transformação do âmbito do desejo para o da necessidade, pôr um
processo regressivo ?
Essa transformação está presente também em outras formações clínicas,
como, pôr exemplo, na toxicomania. Nas adições, conforme já foi
apontado pôr diversos autores, encontra-se uma peculiar distorção da
lógica pulsional na qual, pôr uma estranha metamorfose, as
características mais básicas da pulsão sofrem uma alteração substancial.
Essa “perversão da pulsão” se dá em duas linhas principais: primeiro,
pôr uma fixação exacerbada ao objeto, à moda do fetichismo, transgride-
se a lei da contingência do objeto para a satisfação da pulsão; e, em
segundo lugar, ocorre uma transgressão que busca recolocar todo o
universo do desejo – “eu quero a droga para o meu deleite” – no nível da
necessidade – “eu preciso da droga para a minha sobrevivência”
(Gurfinkel, 1986). A

dependência física e a síndrome de abstinência são apenas os sinais mais


evidentes dessa metamorfose. Ora, tal observação nos faz considerar a
necessidade de incluir o problema das somatizações no âmbito de uma
“clínica ampliada” que se dedique ao estudo de diversos quadros
psicopatológicos que se afastam das neuroses de transferência, no
sentido clássico (McDougall, 1994, 1991)3 . Poderíamos até nomear esse
campo como “além do paradigma das neuroses”, pôr referência à obra de
1920, que significou uma virada conceitual fundamental no pensamento
de Freud e teve ecos importantes no que se refere ao estudo desses novos
fenômenos clínicos.
Utilizar o conceito de regressão para descrever as somatizações é
simplesmente juntar um enigma ao outro – é mais fácil quebrar duas
nozes batendo uma contra a outra do que separadamente – e também
tomar esse conceito mais dentro do espírito que o anima do que pôr sua
utilização original. Nossa proposta seria, pois, transformar um tabu em
enigma.
Freud (1900, 1981), ao descrever os complexos mecanismos que estão na
origem do sonho e dos sintomas psiconeuróticos
– o recalcamento, a regressão, a relação entre os processos primário e
secundário – faz questão de enfatizar que não devemos esquecer a
importância da sexualidade como fonte das formações do inconsciente.

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Daí a necessidade de estudarmos a teoria dos sonhos em conjunto com


a teoria da sexualidade. Ora, se negligenciarmos a importância da pulsão
enquanto conceito-limite entre o somático e o psíquico, corremos o risco
de tomar o funcionamento mental como uma atividade independente e
alienada da base somática da qual se originou e na qual está apoiada.

11.2 Regressão na análise e alguns destinos

Retornemos, pois, a Freud. Queremos assinalar agora, mesmo que de


maneira sucinta, alguns aspectos do seu pensamento que podem ser
resgatados de maneira frutífera para o nosso tema, e que são elementos
que já apontavam, de maneira latente, para a necessidade da ampliação
a que nos referimos. Nosso ponto de referência é o modelo do aparelho
psíquico apresentado em A interpretação dos sonhos.
Em primeiro lugar, destacamos os chamados “sonhos de comodidade”,
aproximados pôr Freud dos sonhos de criança. O que os caracteriza é a
sua simplicidade, a ausência da elaboração onírica, e a expressão quase
direta, não- deformada, de suas ideias latentes; esses sonhos de adultos
seriam justamente aqueles em que faltam a referência ao infantil sexual
recalcado, ou seja, eles seriam a expressão mais direta do desejo atual.
Ora, o tratamento dado pôr Freud a esses sonhos no capítulo III do livro
dos sonhos entra em franca contradição com o princípio de que em todo
sonho há necessariamente um desejo inconsciente – infantil recalcado –
que se associa aos restos diurnos ou ao desejo atual. Como compreender
essa contradição? Podemos recolocar o problema em termos do quê
determina a ausência total ou parcial da elaboração onírica – trabalho do
sonho – em determinadas situações: trata-se simplesmente da não
necessidade de deformação ou, também, de alguma deficiência no
funcionamento mental que interfere no caminho que vai do desejo
inconsciente até a sua manifestação no sonho manifesto? Nesse caso, o
problema se localiza nas dificuldades de expressão, processamento e
derivação da excitação pulsional.
Diversos analistas, dentre os quais devemos destacar Marty4,
acentuaram o fato de que a pobreza da vida onírica pode ser um índice
decisivo de uma deficiência mais ou menos permanente nos processos de
simbolização, o que implica uma propensão mais ou menos estrutural

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para a somatização, condicionada pela fraqueza, ineficiência ou ausência


de defesas psíquicas; se o sonho é a via régia no estudo do inconsciente,
o trabalho do sonho pode ser tomado como um instrumento precioso de
pesquisa sobre o pré-consciente e sobre suas falhas de simbolização. Se
Freud partiu do pressuposto de um aparelho psíquico constituído e
razoavelmente intacto na vida adulta – pelo menos até introduzir
tardiamente na sua obra o conceito de “dissociação do Eu” – podemos
levantar hoje o problema que ocorre quando esse “aparelho” falha, seja
pôr uma “falha básica” constitutiva, seja pôr movimentos dinâmicos que
determinam um “mau funcionamento temporário. O curioso é que, se os
sonhos de comodidade realizam desejos oriundos das pulsões de auto-
observação, é justamente a deficiência nos processos de simbolização que
abre uma brecha pela qual a excitação psíquica pode refluir para o âmbito
do soma.
Em segundo lugar, ressaltamos o problema do sonho da angústia,
relacionado à interrupção do sono e à função do sonhar. Aqui atingimos
a questão crucial da relação do sonho com o sono, ou do sonhar com o
dormir. O sonho de angústia que provoca o despertar é justamente aquele
em que o afeto de desprazer vivido pelo Eu diante do desejo sexual
expresso no sonho não pôde ser contornado, o aparelho psíquico falhou
no processo de deformação, e o afeto, não-susceptível de ser metabolizado
pelo processo primário como ocorre com as representações, transforma-
se em angústia. Ora, se o despertar implica um fracasso da função do
sonhar, retornamos ao problema levantado anteriormente, a saber: o que
determina as falhas na elaboração onírica? O sonho, como guardião do
sono, é também possibilitador de uma existência psicossomática
equilibrada, já que o dormir é uma atividade vital para a saúde do
organismo. O desejo do Eu de dormir é, na verdade, uma necessidade
relacionada com as funções vitais, já que o Eu não é nada mais do que o
representante da autoconservação do indivíduo (Freud denomina as
pulsões de autoconservação de “pulsões do Eu”).
Após insistir na origem necessariamente sexual da angústia
desencadeada pôr esse tipo de sonhos, Freud ressalta que a teoria do
sonho de angústia pertence à psicologia das neuroses. Bem, a
transformação de uma excitação sexual incapaz de derivação psíquica em
angústia é justamente o ponto nodal do que Freud denominou neurose
atual! Como se sabe, esse tipo de neurose pode ser tomada como
protótipo das estruturas clínicas caracterizadas pela somatização, e o
estudo da neurose de angústia e suas vizinhas – neurastenia e
hipocondria – deve ser passagem obrigatória para quem se interessa pela
psicossomática. A angústia é justamente a formação sintomática que
mais pode ser localizada na fronteira entre o somático e o psíquico, e o
aspecto “atual” da etiologia das “neuroses simples” nos remete ao atual
próprio dos sonhos de comodidade; nesse sentido, atual e auto
conservativo se contrapõem a infantil e psicossexual.

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Em terceiro lugar, chamamos a atenção para os elementos acrescentados


à teoria do sonho pôr Freud com o surgimento do conceito de narcisismo
(Freud, 1915)5. Freud assimila o processo regressivo da formação do
sonho a uma retração narcísica que caracteriza o adormecimento: a libido
reflui ao Eu, em uma experiência de “encapsulamento” que todos
necessitamos viver diariamente. O modelo utilizado para expressar essa
forma de regressão narcísica é a existência intrauterina; o sujeito que
dorme é como o embrião no seu ovo. Ora, essa regressão está distante de
uma regressão puramente psíquica, e alude muito mais a um estado
psicossomático de não-perturbação. Se o sonho implica uma realização
alucinatória do desejo, o dormir implica o silêncio da atividade psíquica,
uma pausa do viver no mundo. Assim, o sonho enquanto guardião do
sono procura dar conta da excitação residual que tende a impedir a
regressão narcísica, para que tal excitação se torne inócua: já que não
pode ser totalmente eliminada, que pelo menos seja neutralizada. O que
podemos observar é que o estudo do dormir, complementar ao do sonhar,
mostra-nos a impossibilidade de construir uma teoria do sonho que se
limite ao estritamente psíquico; se assim fizéssemos, estaríamos
operando uma dissociação que trata a atividade mental como separada e
independente, conforme nos adverte Winnicott. Os distúrbios do sono
talvez sejam o protótipo de toda perturbação psicossomática, já que neles
se verifica como uma falência das funções psíquicas atinge as funções
vitais.
Finalmente, é imprescindível dirigirmos nossa atenção para a revolução
no pensamento freudiano, que significou a introdução, em 1920, do
conceito de pulsão de morte. O sonho não é mais necessariamente uma
realização do desejo; o princípio do prazer deixa de ser o soberano
absoluto da vida mental. Há uma função arcaica do psiquismo que se
manifesta nas situações-limite de traumatismo violento e que busca,
através dos processos de ligação, dar vazão a um excesso de excitação
que sobrepõe o limite do tolerável e processável pelo psiquismo em
condições normais. Nesses casos, a realização alucinatória do desejo é
posta em segundo plano diante das exigências do “estado de emergência”.
Além do princípio do prazer, a simbolização é um “a mais” que chega
sempre atrasado. Está aberto o campo de estudo para aquilo que
ultrapassa a capacidade de trabalho do aparelho psíquico e que,
potencialmente, pode atingir o soma. Qual é o sistema defensivo que o
psique-soma lança mão nos casos de traumatismo intenso?
Em outra direção, a teoria da pulsão de morte recoloca a problemática da
regressão em um plano mais geral que inclui a existência biológica. A
pulsão busca, como meta final, uma regressão ao estado anterior que é,
em última instância, o estado inorgânico. Aqui Freud introduz um
enigma e uma ‘pedra no sapato’ a quem procura fundar a sua disciplina
exorcizando qualquer referência à biologia e ao apoio do pulsional sobre

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o somático. Em que direção aponta a desorganização psicossomática


senão à do estado inorgânico? A solução final da pulsão de morte-desejo
de não-desejo – não é, ao mesmo tempo, uma eliminação do trabalho do
sonho descrito pôr Freud na psicologia dos processos oníricos?
Novamente, estamos no campo do fracasso dos processos de
simbolização; com a teoria da pulsão de morte, temos um rico material
metapsicológico para retrabalhar essa problemática.

Em uma das Novas conferências introdutórias, de 1932, Freud se dedica


a uma revisão da teoria dos sonhos. Após uma cuidadosa reexposição
das conclusões apresentadas no texto de 1900, põe em questão a sua
tese principal: o sonho é uma realização de desejos? O problema em foco
são os sonhos que aparentemente contradizem tal proposição. Se,
inicialmente, combate tal tentativa de refutação com argumentos
clássicos – “com a divisão entre sonhos optativos, sonhos de angústia e
sonhos punitivos” – em seguida reconhece os limites de sua tese principal
no caso dos sonhos traumáticos. Neles, há uma regressão – segundo suas
próprias palavras – a um acontecimento traumático muito penoso, sem que
se possa reconhecer qualquer realização de desejo; “Em um juízo, não
devemos fugir de confessar que neste caso falha a função do sonho”.
A modificação que Freud (1932)6 propõe é de que o sonho é uma tentativa
de realização de desejos que, não obstante, pode falhar. “Em
determinadas circunstâncias, o sonho pode não conseguir – ou o faz
muito imperfeitamente – atingir o seu propósito, ou tem que abandoná-
lo; a fixação inconsciente a um trauma parece ser o principal desses
impedimentos da função do sonho. O sujeito sonha porque o relaxamento
noturno da cesura deixa entrar em atividade o impulso emergente da
fixação traumática; mas falha a função de sua elaboração onírica, que
pretendia transformar as marcas mnêmicas do acontecimento
traumático em realização de desejo. Nessas circunstâncias surge a
insônia; o sujeito renuncia dormir pôr medo do fracasso da função
onírica”. O princípio do prazer é nocauteado, ele falha quando se dá uma
regressão à fixação inconsciente de um trauma ou, poderíamos agora
acrescentar, quando se presentifica uma “falha básica” concernente a
acontecimentos ambientais que romperam a barreira do sistema
defensivo de para-excitações (conforme modelo da vesícula em Além do
princípio do prazer).
Aqui estão em jogo alguns dos pontos anteriormente mencionados: a
falha da elaboração onírica e a problemática da insônia, à maneira dos
sonhos de angústia, assim como a retomada do traumatismo a partir da
proposição da pulsão de morte. A questão do narcisismo pode ser
depreendida justamente no desmoronamento das defesas de um Eu
impotente e na ferida que daí decorre; a questão da regressão ao soma,
conforme propomos a partir dos sonhos de comodidade, é um passo

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287

adiante que precisaríamos acrescentar. Ora, o que observamos aqui é


como a teoria do sonho sofre transformações – uma revisão – que estão
evidentemente determinadas pela evolução teórico-clínica do trabalho de
Freud: esta passou pelo estudo da psicose e pela introdução dos
conceitos de narcisismo, pelos impasses e limitações das análises e a
formulação da pulsão de morte e, nos dois casos, pela lenta e progressiva
construção de uma metapsicologia que incluísse a possibilidade de
compreender o que hoje chamamos de “limites da simbolização”. Nesse
processo, reconhecemos na regressão uma noção que esteve bastante
presente como pano de fundo, mesmo que tenha sido explicitamente
trabalhada nos termos aqui propostos.
À maneira de síntese, podemos formular a ideia de uma série de
“formações sintomáticas” segundo o grau de simbolização nelas
implicado. Trata-se de um modo tosco de esquematizar uma realidade
complexa e multifacetada. Em uma ponta da série se encontra o sonho
e, na outra, a somatização. O modelo do sonho traumático e a teoria da
angústia nos proporcionam os meios para preencher, de modo mais ou
menos provisório e esquemático, os elos intermediários dessa cadeia. A
ação, que em uma formulação inicial é tomada como oposta à
representação, encontra-se agora em um lugar intermediário, mesmo
porque a repetição transferencial é justamente uma operação privilegiada
em que se dá uma ação que representa. A repetição compulsiva – sinal e
efeito da pulsão de morte – tende a esvaziar o sentido da ação pôr seu
caráter evacuativo e nirvânico e, nesse sentido, encontra-se um passo
adiante na direção da somatização. O sonho traumático guarda um
potencial simbolizante justamente pôr ser um sonho, ainda que nele se
evidencie a falha básica do princípio do prazer.
A angústia, “formação sintomática” tão dificilmente tematizável, ocupa
também algum lugar intermediário nessa série do sonho ao soma. Ela é
ao mesmo tempo sinal e efeito da falha na elaboração onírica, que conduz
à interrupção do sono; podemos compreendê-la, em relação ao sonho
traumático, como um “corpo estranho” (quisto) de acúmulo de energia
não derivável, cuja impossibilidade de dissolução abre o caminho para a
compulsão repetitiva. A teoria da angústia vem, pois, complementar e até
certo ponto pôr em xeque a psicologia dos processos oníricos proposta
em A interpretação dos sonhos; nessa revisão, encontramo-nos
curiosamente diante da teoria do trauma psíquico que foi abandonada e
posteriormente retomada pôr Freud em outros termos. Sonho “de desejo”,
repetição na transferência, sonho traumático, angústia, compulsão à
repetição – incluindo o acting – ação pura e somatização: eis aqui uma
fórmula simples, uma “série” de formações heterogêneas a ser tomada de
modo não-linear. Poderíamos continuar nessa linha de pensamento
buscando encontrar o “lugar” de outros fenômenos clínicos; dentre eles,
cabe destacar as formações de caráter.

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O que aqui propomos é um modelo a ser submetido à verificação, mesmo


porque o essencial do enigma permanece de pé: como se dão o trânsito e
a transformação entre essas diversas formações? O que esse modelo
metapsicológico – fantasia científica – nos permite é pensar os fluxos
progressivos e regressivos em um funcionamento psicossomático,
buscando assim compreender seu equilíbrio, suas organizações, suas
falhas e desorganizações; uma de suas vantagens é considerar as
“formações sintomáticas” no plano de um funcionamento geral do
Psicossoma, como complemento e contraponto à tendência de considerar
prioritariamente as estruturas (personalidade somatizante, estrutura
aditiva, caso-limite, psiconeurose, etc.). O único ponto de apoio que
temos é o princípio econômico de Freud, segundo o qual há uma
quantidade de energia ou de excitação – neste caso, psicossomática – que
circula no psique-soma.
Ao destacar os quatro elementos do pensamento Freudiano – o sonho de
comodidade, o sonho de angústia, a retração narcísica do sono e o
conceito de pulsão de morte – buscamos apontar alguns caminhos que,
no nosso entender, devemos seguir para promover uma ampliação do
campo com vistas a nele incluir o problema da psicossomática. Com esta
ampliação, a psicanálise certamente não sai ilesa; ela se transforma, se
enriquece e é, em certo sentido, colocada em xeque. A psicossomática,
pôr seu lado, encontra uma base sólida a partir da qual pode se
desenvolver, evitando ao mesmo tempo reproduzir o mesmo erro que
busca corrigir: a dissociação entre psique e soma. Procurando ressaltar,
também, como o conceito de regressão, se tomado de maneira ampliada
e levando em conta todo o seu potencial heurístico, é uma ferramenta
essencial para o estudo do fenômeno psicossomático.

1– Freud, S. (1900) La interpretación de los sueños. Obras completas.


Madrid, Biblioteca Nueva [OC-BN], 1981.
2– Aulagnier, P. Os destinos do prazer. Rio de Janeiro, Imago, 1985
3– Mc Dougall, J. Teatros do corpo. São Paulo, Martins Fontes, 1991.
Cap. VI: Afetos: dispersão e desafetação.
4– Marty, P. Los movimentos individuales de vida y de muerte.
Barcelona,Toray, 1984.
5– Freud, S. (1915) Adicion metapsicologica a la teoria de los sueños
6– Freud, S. (1932) Nuevas lecciones introductorias al psicoanálisis. op.
cit.

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Bibliografia : GURFINKEL, Decio

PSICOSSOMA I – Psicossomática Psicanalítica – Casa do Psicólogo, 1997


Artigo apresentado no “I Simpósio de Psicanálise e
Psicossomática”
A INVESTIGAÇÃO
A investigação psicossomática de um paciente reveste-se da mesma
importância que a investigação médica ou psicanalítica: deve estabelecer
um diagnóstico, do qual decorre a terapêutica que propõe.
Diferentemente da investigação médica atual, às vezes longa, repetida e
com frequência completada pôr exames paramédicos e laboratoriais,
exigindo diversos deslocamentos do paciente, ela é extemporânea e
apenas excepcionalmente se apoia em testes psicológicos.
Diferentemente também da investigação psicanalítica, ela dá conta do
duplo aspecto, psíquico e somático, da economia do paciente.
A obra L’investigation psychosomatique1 de 1963 continha, em si mesma
ou em potencial, o espírito da psicossomática atual. Essa obra salientava
a importância da investigação, para que se evidenciasse uma série de
personalidades relativamente novas no campo analítico: os pacientes
somáticos. A partir dos ensinamentos de Freud, adotando o espírito da
pesquisa freudiana, a psicossomática se punha à procura de um saber
adaptado a seu objeto. A partir de 1963, a teoria psicossomática ganhou
corpo, particularmente graças ao enriquecimento conceitual fornecido
pelas próprias investigações.

Uma investigação psicossomática dá conta, de fato, de um conjunto. Ela


não somente aprecia a evolução de um indivíduo, o paciente, como
também testemunha o saber teórico, clínico, e a arte prática do outro
parceiro do confronto: o investigador. Ela representa frequentemente um
primeiro passo terapêutico. É, para aqueles que aceitam ouvir e ver além
de seus conhecimentos, uma experiência de pesquisa renovada sem
cessar. Direta ou indiretamente transmitida, a investigação constitui
uma base de discussão e de ensinamento da psicossomática.

12.1 A relação
O investigador nada sabe de um paciente que encontra pela primeira vez.
E vai ter que saber muito. Como deverá proceder para conduzir a longa

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busca de investigação, obrigatoriamente ativa em alguns momentos, sem


perturbar os ritmos naturais do paciente (ritmos de elaboração mental,
de expressões físicas, de permutas), os únicos que cuidam em princípio
de suas defesas e que evitam uma crise, talvez perigosa da doença
somática eventual?
O investigador ainda ignora como vai proceder quando conhecer melhor
o paciente. Assim, fica especialmente atento, nos primeiros minutos da
entrevista, ao hábito, às vestimentas, à mímica, aos movimentos, à
postura e, é claro às primeiras palavras de seu parceiro. Também evita
falar em primeiro lugar e sobretudo interrogar. Entretanto, encoraja a
fala do paciente de maneira neutra através de “Sim?”, de mímica, de
gestos que significam sua abertura. Com efeito, deve se deixar levar
durante um tempo pelo ritmo do outro, pelo ritmo que o outro adota e
modula de acordo com os conteúdos de seu discurso. As ações e reações
do paciente lhe indicam progressivamente, deste modo, a melhor maneira
de intervir ou de se calar. Uma atitude sistematicamente muda do
investigador pode ser tão nociva para o paciente quanto uma atitude de
intervenções para outro. Mal distribuídas em um mesmo sujeito, as duas
posições podem se revelar igualmente nefastas. Cada uma delas pode,
com efeito, desencadear um afluxo de excitações não elaboráveis
mentalmente, mal exprimíveis muscularmente. As excitações correm
então o risco de transferir seus efeitos para um setor somático silencioso
no momento.
Considerando todos os sinais que recebe e através de uma conduta
afetiva cuja benevolência se adapta às necessidades (raramente aos
desejos) do paciente, o investigador desempenha seu papel inicial, papel
que, às vezes, poderá abandonar em seguida, ao menos parcialmente.
Algumas investigações são evidentemente mais fáceis de conduzir do que
outras, que chegam a esgotar o médico. De qualquer maneira, um
investigador sabe, antes de mais nada, que um paciente, fugidio ou
direto, amigável ou agressivo, não inventa nada para ele. As lacunas, os
silêncios, as insuficiências, as inadequações e adaptações de diversas
ordens sempre reproduzem o aspecto de um confronto anterior do sujeito
(conforme a organização de sua personalidade, em diferentes idades) com
situações fundamentais ou ocasionais de sua vida, que se deverá
descobrir. Na expectativa, através de múltiplas identificações recíprocas,
é com consciência desse estado de fato que o investigador desprende seu
status daquele do paciente. Assim, as informações que procura não
ganharão corpo senão através da relação, pela relação.
12.2 A tarefa do investigador
Cabe a ele adquirir, nas condições que acabamos de considerar, a soma
de informações necessárias para determinar ao menos a primeira forma
de terapêutica.

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As perguntas que se faz o investigador e que determinam toda sua


concepção da economia, do dinamismo e das tópicas psicossomáticas
podem ser assim resumidas: como o paciente está organizado,
mentalmente em primeiro lugar (noção de estrutura) ? Como funcionou
e funciona habitualmente e menos habitualmente em sua vida íntima e
relacional (noção de particularidades habituais principais)? A que
referências de sua vida anterior (de sua primeira infância e de sua
infância sobretudo) as evoluções das patologias somáticas passadas,
recentes ou atuais podem remeter? Permanece uma última questão, que
frequentemente será considerada apenas após o final da investigação: pôr
que este tipo ou estes tipos de doenças somáticas, neste sujeito?
Os pacientes que consultam não estão em condições de responder a tais
perguntas. Assim, o investigador, vigilantes antes de tudo, adota a
seguinte estratégia: deixar o paciente andar sozinho o máximo possível,
evitar as rupturas de seu ritmo relacional, aproveitar os elos associativos
(anamnese associativa) que se apresentam, reconduzir aquele que se
perde aos problemas centrais, não fazer perguntas demasiado complexas,
do estilo das anteriores, a não ser no final da investigação. De acordo com
os pacientes, alguns desses diferentes termos prevalecem naturalmente
sobre outros.
A maneira de falar do paciente informa rapidamente:
-Sobre seu hábito, ou não, de se comunicar, assim como seus níveis
verbal e cultural;
-Sobre a qualidade de sua relação. Demasiado franca, despejando
diretamente conteúdos afetivos, a relação verbal indica uma ausência de
defesas neuróticas. Defensiva, ela procura ocultar conflitos (que situa
também). Os traços de caráter com frequência se anunciam no estilo do
discurso e nos tons da voz. As defesas intelectuais facilmente são lidas;
-Sobre a qualidade de sua organização pré-consciente, de acordo com as
associações espontâneas (cujos níveis são retidos);

-Sobre a presença subjacente do inconsciente (lapso, indecisão ou


suspensão do verbo, pôr exemplo).
Sobre sua exclusão: o fatual e o atual estão em primeiro plano e os fatos
anteriores relatados em um estilo direto, que não testemunha uma
disposição dramática, mas uma pobreza associativa;
-Sobre o lugar ocupado pela doença: considerável, negligenciáveis, objeto
de denegação ou de recusa às vezes;

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-Sobre o valor objetal da doença, afetivamente investida (preenchendo um


vazio objetal ou substituindo “de modo útil” um objeto desaparecido, mas
eventual marca hipocondríaca também).

12.3 A expressão corporal


A expressão da motricidade em primeiro lugar e suas variações,
elementos mais ou menos inconscientes, mas consideráveis, da
apreensão corrente de qualquer relação, fornece, já se sabe, inúmeras
informações ao observador. Alguns sujeitos neuróticos, graças ao
trabalho mental, fazem com que tudo de sua afetividade e de seus
conflitos passe para mecanismos de defesa observáveis no discurso. Em
outros (neuróticos mal mentalizados, neuróticos de comportamento), ao
contrário, tudo passa para atividades físicas ou expressões corporais.
Para a maioria, elaboração mental e expressões corporais andam juntas,
desigualmente repartidas no tempo, segundo a intensidade das
excitações. O investigador, atento aos sistemas privilegiados dos sujeitos,
aprecia seus movimentos, suas alternâncias, suas reciprocidades, bem
como sua evolução no decorrer da entrevista.

A hipertonia muscular é particularmente legível. Mostra-se como o sinal


mais imediatamente sensível dos transbordamentos do aparelho mental
pelas emoções. Uma significativa tonicidade da postura (axial e
periférica), da gestualidade, da mímica, dá conta de início da tensão
interna do sujeito. À medida de seus conflitos habituais reativados pela
consulta, ainda não expressos (agressividade diretamente muscular de
tipo primário colocando a elaboração mental em curto-circuito), ela
acompanha frequentemente uma ansiedade difusa (agressividade
psíquica contida) que reconhecerá mais tarde, talvez, seu objeto. É
acompanhada de tremores, sobretudo das mãos; opõe-se a uma
facilidade relacional que trai quando esta última é falsa.
Também se descobrem, além da motricidade, manifestações ditas vago-
simpáticas, que testemunham os mesmos excessos de excitações. Os
risos e os choros revelam-se em geral de fácil interpretação. A mímica de
fantasia era objeto de um estudo particularmente justificado em
L’investigation psychosomatique de 1963. A mímica de fantasia indica a
existência ou, pelo menos, a tentativa de uma elaboração mental.

Estando sua relação com o paciente progressivamente instalada, já


estando informado, devido à vigilância do status, ao menos atual, sobre
este, o investigador, cujos conhecimentos e arte clínica vão poder se

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desenvolver, vai recolher, mais ativamente se for preciso, as informações


necessárias. Deve agora conhecer da melhor maneira: as qualidades
fundamentais, habituais e atuais, da organização e do funcionamento
mental; as relações temporais entre mudanças ocorridas no setor mental
e a evolução da doença somática; a natureza dos traumatismos (situações
ou acontecimentos) que fizeram o habitus mental do sujeito variar
(passagem do habitual ao atual); a relação entre a natureza e o peso dos
traumatismos em questão e a organização da personalidade em seu
desenvolvimento anterior. De fato, é o essencial da vida interior e
relacional do paciente que deverá ser descoberto progressivamente.

12.4 A estrutura fundamental


A estrutura fundamental resulta, esquematicamente, primeiro da
qualidade psíquica segundo a organização dos dois sistemas tópicos
freudianos, a seguir das relações complexas entre o funcionamento
mental e os comportamentos. As diversas proposições são
complementares. Uma organização do Ego de acordo com a Segunda
tópica (neuroses mentais e neuroses bem mentalizadas) implica uma
organização satisfatória do Pré-consciente da primeira tópica, ao mesmo
tempo que exclui a prevalência do comportamento. A ausência de um
Superego pós-edipiano, ao contrário, assinala a fragilidade do Ego, assim
como os riscos de uma má mentalização e da prevalência do
comportamento (neuroses mal mentalizadas e neuroses do
comportamento). Dificuldades clínicas diferenciais apresentam-se. As
mais significativas são: distinguir a ferida narcísica causada pôr uma
perda de objeto de um complexo de castração, distinguir as ofensas
narcísicas ou a vergonha (muitas vezes intituladas de “culpabilidade”
pelos próprios pacientes) de uma culpabilidade pós-edipiana, distinguir
o Superego pós-edipiano dos imperativos de outras origens, distinguir
enfim as atividades comportamentais de aparência edipiana daquelas de
uma organização genital da fase edipiana.
As qualidades do Pré-consciente (espessura das camadas de
representações, ligações entre representações, permanência do
funcionamento) bem como a comunicação entre Inconsciente e Pré-
consciente que a isto se relaciona são, definitivamente, as melhores
garantias de uma organização mental, senão defensiva face aos conflitos,
pelo menos adaptada à elaboração dos conflitos e aberta à relação (à
eventual relação psicoterápica, pôr exemplo, que aqui interessa
particularmente). O conjunto dessas características aparece através das
associações (que o investigador pode provocar agora, até mesmo ele
próprio estabelecer abertamente, dos sonhos espontaneamente descritos

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ou solicitados (seu conteúdo, sua textura), dos produtos imediatos de


recalcamentos (lapsos, pôr exemplo), do simbolismo das representações.
12.5- Particularidades habituais, características atuais
Diferentemente da estrutura fundamental considerada como inamovível
na idade adulta, aqui se trata, portanto, de variáveis para um mesmo
indivíduo.
A avaliação sintomática mostra-se particularmente delicada em
psicossomática, à medida que, para apreender as transformações
ocorridas paralelamente à doença, as características atuais devem ser
comparadas às particularidades habituais. Com efeito, estas últimas não
são automaticamente evidentes para o investigador, que dedica, pois, sua
atenção às marcas mais precisas e mais amplas (elas se entrelaçam nas
outras) da economia habitual e atual do paciente, como também a seus
movimentos, que se referem em particular:
-À sintomatologia neurótica, de caráter, de comportamento. Semiologia
das angústias, das fobias, das depressões, da agressividade, da
culpabilidade;
-Aos investimentos ativos e passivos e aos contra investimentos, internos
(lugar da doença, aceitação ou não das regressões, entre outros) e
externos (familiares, profissionais, sociais). A determinação dos lugares e
dos momentos mostra-se frequentemente frutífera e reveladora;

-À atividade sexual e suas qualidades (essencialmente orgástica,


complexa, sublimada, perversa);
-À economia mental (que repousa em uma estrutura que ela define):
insuficiência fundamental do aparelho psíquico, com facilidade de
desorganizações, irregularidades do funcionamento mental
(transbordamentos momentâneos das possibilidades de elaboração pôr
excesso de excitações ou repressão de representações), regressões,
desorganizações no decorrer de depressões essenciais.
12.6 Os traumatismos
A descoberta dos traumatismos que foram a origem das doenças
somáticas e particularmente da doença atual constitui uma fase rica da
investigação. Essa fase é, às vezes, isolada porque se trata de uma busca
sistemática do investigador. Em outros casos, ela se dispersa, tanto ao
sabor das associações prudentes do terapeuta.

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Os traumatismos permanecem nos quadros econômicos individuais que


estabelecemos anteriormente. Oriundos de uma excitação excessiva dos
instintos ou pulsões que a organização psicossomática dos sujeitos não
pode encarar, os traumatismos se definem pela quantidade de
desorganização que produzem e não pela qualidade do acontecimento ou
da situação que os produzem. Assim, um traumatismo decorre da relação
entre a excitação e a defesa psicossomática do sujeito em questão.
Percebe-se, nestas condições, que a descoberta dos traumatismos que
levaram às desorganizações mais ou menos significativas dos pacientes
representa uma fase privilegiada da investigação, no sentido de que
finalmente revela: a sensibilidade dos sujeitos a certos tipos de
acontecimentos ou situações; seus níveis de excitabilidade, isto é, no
setor mental, seus investimentos, seus desejos, suas defesas e seus
conflitos profundos (despertados pelos acontecimentos); as fraquezas de
suas organizações (e, através disso mesmo, suas organizações) mentais e
somáticas. No setor do comportamento não elaborado psiquicamente
(neurose mal mentalizadas e de comportamento), não se trata muito de
conflitos internos. O traumatismo corresponde à dura perda (todavia
difícil de descobrir às vezes) de um objeto (pessoa, organização conjugal,
profissional ou de amizade, pôr exemplo) diretamente investido enquanto
presença real.
Os traumatismos sofridos pelo sujeito durante a investigação (paciente
mal recomendado, quadro imposto, evocação dolorosa de traumatismos
anteriores, inabilidades do investigador, pôr exemplo) causam ao
investigador o mesmo problema de apreciação das excitações e das
defesas particulares do sujeito, com a vantagem, entretanto, de uma
possibilidade imediata da dosagem das excitações e das pára- excitações.
As pára-excitações não podem naturalmente intervir senão no sentido de
um reforço ao menos passageiro das defesas habituais do paciente. A
iniciativa de um deslocamento provisório da situação perigosa do sujeito
para uma posição mais calma, mais “operatória”; a explanação de seu
próprio exemplo de sensibilidade e de reações, continuam a ser, em todo
caso, sistemas de intervenções pára-excitantes quase sempre ao alcance
do terapeuta.
Sempre é necessário fiscalizar de modo particular o final de uma
investigação.
Qualquer uma das excitações anteriores, mais ou menos dissimulada,
pode de fato permanecer ou ressurgir após o tratamento. Além disso, o
investigador, interlocutor de peso, vai desaparecer. A perda do objeto que
representou far-se-á sentir diferentemente, conforme a estrutura dos
sujeitos, mas a frequência originará um momento depressivo. O médico
sabe, em geral, como o paciente vai poder negociar – ou não – essa
depressão. Submetendo o paciente à proximidade da separação, tomará
então, enquanto houver tempo, as últimas medidas para-excitantes. A

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essas se acrescentará quase sempre a abertura terapêutica, nova


esperança pôr vezes considerável, tranquilizadora e antidepressiva. Não
se deve, contudo, exagerar os riscos traumáticos de uma investigação
cujo conjunto, via de regra, acalma os pacientes.

12.7 Os antecedentes
O interesse pelas origens mais ou menos distantes e pela evolução, na
vida do paciente, de qualquer elemento de sua organização constitutiva,
dinâmica ou econômica, é permanente. Pode dar lugar a uma busca
sistemática, a propósito de períodos ou de momentos relativamente
recentes, ou mais antigos, da idade adulta, da adolescência, da
puberdade, do período de latência, da infância ou da primeira infância:
períodos ou momentos relativos, a maioria das vezes, ou a fatos de ordem
“traumática” (acontecimentos familiares, pôr exemplo), ou a fenômenos
naturais do desenvolvimento (de ordem edipiana inicial, ou da
puberdade, pôr exemplo) relacionados a certas idades determinadas pelo
investigador.
Assim, a atenção recai ao menos:
-Quanto à estrutura, sobre o desenvolvimento organizador do Pré-
consciente e de seus pontos de partida inconscientes: relações com a
mãe, desde a gravidez até um ano, nos setores de excitações e para-
excitações, conforme as funções em ponta evolutiva; separações; mães
substitutas; figura paterna; frequência e idades das mudanças de
situação; acontecimentos que favorecem ou desfavorecem as
organizações da sensório-motricidade, das linguagens e, globalmente, de
todas as ligações internas e externas habituais.

-Quanto às particularidades habituais, sobre as idades de aparecimento


dos sintomas e sobre as motivações perceptíveis dos sistemas de defesa:
as idades críticas do desenvolvimento sugerem pôr si sós adaptações
definitivas. As marcas neuróticas mentais (angústias, sintomas clássicos)
remetem às fases da evolução libidinal. As marcas caracteriais, com
frequência relacionadas a uma insuficiência das defesas mentais, mas
igualmente ativadas pela evolução libidinal, remetem ao mesmo tempo a
acontecimentos, a situações, a encontros familiares ou outros.
-Quanto à organização econômica e dinâmica atual da vida: sobre a
organização mental progressiva e o aparecimento das defesas de diversas
ordens, sobre a sucessão dos investimentos (em todos os sentidos da

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palavra), dos contra investimentos e dos sobre investimentos e sobre as


motivações que se podem perceber destes.
-Quanto à patologia somática, sobre as diversas afecções a partir da
primeira infância, sobre sua natureza, sobre seu parentesco ou não com
a afecção atual, sobre o processo de seu surgimento, sobre sua evolução,
suas complicações, sobre sua correspondência no tempo com outros
acontecimentos.
A exploração, ocasional ou mais sistemática dos diferentes estados da
família antiga e atual, da escolaridade, da evolução da sexualidade, da
profissão e de sua história, das distrações e dos diversos interesses de
qualquer época, revela na maior parte das vezes indícios que permitem
provocar associações reveladoras. Essas associações do paciente, a
propósito de lembranças ricas de seu inconsciente, informam sobre as
atmosferas afetivas do passado, finalmente mais confiáveis que as
próprias lembranças. O entrelaçamento de dois tipos de informações: de
um lado, associações do sujeito a propósito de lembranças e, de outro,
testemunhos de fatos de natureza diversa encaixando as lembranças em
lugares e momentos relativamente definidos, dá ao investigador, sem
dúvida, um sentimento mais ou menos adequado dos acontecimentos
considerados.

Em um esquema técnico, pode-se dizer que a atitude do investigador


consiste sucessivamente: em determinar os lugares e idades dos fatos
alegados; em encaixar (em fixar provisoriamente) o paciente nesses
lugares, idades e fatos; em provocar, em momentos posteriores,
associações a seu respeito; em remontar, enfim, o tempo, na perspectiva
de contra desenvolvimento que convém.
12.8 Limites, dificuldades, armadilhas da investigação
Beirar o essencial vital de um indivíduo em menos de duas horas de uma
investigação parece às vezes um desafio. De qualquer modo, para que o
psicoterapeuta posterior, ele próprio ou um outro, não fique desorientado
pôr um paciente que não corresponde ao tipo inicialmente examinado ou
que lhe foi transmitido, é necessário conhecer os limites, as dificuldades
e as armadilhas da investigação.
As dificuldades da investigação revelam-se sobretudo de ordem
semiológica. Já citamos exemplos significativos concernentes à
apreciação do nível do funcionamento mental, dos equilíbrios entre a
mentalização e os comportamentos, da qualidade essencial das defesas
aparentes, da castração, do édipo, do Superego, da culpabilidade (a
distinguir das feridas narcísicas). Sem dúvida, é na avaliação dos

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diversos tipos de depressões, de angústias, de sadomasoquismos, e na


determinação da continuidade ou não do funcionamento mental que
ainda se corre o risco de cometer o maior número de erros.
Quanto às depressões, deve-se saber distinguir, na atualidade, uma
depressão essencial de uma depressão sintomática (mentalizada), saber
determinar a permanência e a antiguidade de uma depressão sintomática
latente, saber medir a qualidade das depressões anteriores (uma
depressão essencial recente, mesmo de longa duração, pode ter
desaparecido no momento da consulta, enquanto que uma doença grave
prossegue seu curso).
Quanto às angústias, difusas ou objetais, às vezes dos dois tipos, sabe-
se que vão da expressão de uma aflição do bebê (a regressão a esse estado
é frequente em certos sujeitos) até o “sinal de alarme das angústias
objetais acompanhando a agressividade edipiana.
Quanto aos sadomasoquismos, narcisos, relacionais, morais, mentais ou
de comportamento, convém considerar seu valor econômico com ligação
erótica ou sem ligação (do tipo das neuroses de destino) onde se observa
a ausência de uma integração de satisfações passivas, onde os riscos
somáticos são graves.
Para determinar as descontinuidades do funcionamento mental, além
das noções de depressões essenciais anteriores ou de cefalalgias
marcadas, a dificuldade é grande. Pode-se determinar alguns momentos
de descontinuidade durante a própria investigação e descobrir, às vezes,
sua origem: organização mental frágil, interrompida à menor variação
afetiva ou ruptura do ritmo da relação; inibição, evitação ou repressão
das representações, sobretudo eróticas ou agressivas. Disso se deduz,
empiricamente, de acordo com o contexto, que pode ocorrer
habitualmente, há mais ou menos tempo, a mesma coisa.
As armadilhas da investigação encontram-se antes de mais nada na
apreciação do nível de funcionamento mental do paciente. Alguns
investigadores têm horror ao vazio mental, mesmo parcial, do outro;
outros procuram a qualquer preço. Todas as projeções são então
possíveis. Entre as inúmeras fontes de erros, a sedução, às vezes
primeiramente unilateral, depois frequentemente recíproca, figura em
primeiro plano. O contrário, a rejeição, também existe.
Um dos maiores enganos provém da melhora transitória do
funcionamento mental do paciente durante a investigação, verdadeiro
revigoramento que se deve à presença atenta, até mesmo excitante, do
terapeuta.
O fenômeno revelaria dois aspectos de uma duvidosa onipotência do
investigador: a própria satisfação mais ou menos consciente deste, e
também a do paciente que se sente renascer. Ainda que depois pouco

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299

reste, no paciente, de sua ressurreição mental (porém se abriu sem


dúvida uma perspectiva neste sentido), o terapeuta corre o risco de se
decidir cedo demais pôr uma facilidade terapêutica. Passada para o
futuro terapeuta, essa facilidade apenas aparente vai finalmente
desorientá-lo.
Um bom meio para não cair nas armadilhas de uma investigação e
transmitir eventualmente ao terapeuta dados mais seguros, é aplicar
rapidamente a classificação psicossomática ao sujeito que se acaba de
examinar (os testemunhos da consulta revelam-se então muito úteis).
Porque fragmentários, parcelares (o que se pode, pôr outro lado,
justamente reprovar), seus títulos e sua ordem retificando com
frequência a opinião espontânea do terapeuta, remetem-no a uma
realidade semiológica pôr vezes mais severa que a de sua afetividade. Isto
é particularmente perceptível nos check-up com valor preventivo que
podem ser provocados.
A investigação psicossomática realiza-se, no fundo, em uma série de
representações psicoafetivas do terapeuta, a propósito do paciente que
tem diante de si. Essas representações se constituem no mesmo
momento a partir de uma identificação com o sujeito e a partir de
associações próprias. O investigador, que permanentemente elabora suas
impressões, procura progressivamente delimitar, ao mesmo tempo, no
paciente: suas dimensões tópicas mentais (qualidade e nível evolutivo
máximo do funcionamento); suas dimensões dinâmicas mentais (pulsões,
elaboração, conflitos, defesas); suas dimensões dinâmicas de expressão
corporal; o equilíbrio econômico que liga entre si as dimensões anteriores.
A relatividade de tal equilíbrio econômico encontra-se assim diretamente
percebida pelo investigador, que, a cada vez, verifica as bases de seu
sentimento, através de novas informações espontâneas ou pôr ele
provocadas.
Aquém de seus conhecimentos da teoria psicossomática, as qualidades
de empatia e as possibilidades – necessárias à elaboração – de
desengajamento da empatia, são, pois, como na psicanálise,
indispensáveis no investigador.
A síntese finalmente econômica dos dados tópicos mentais, dinâmicas
mentais e de expressões, tiradas da investigação, representa o
diagnóstico do especialista em psicossomática. Esse diagnóstico, que
carrega um valor prognóstico, revela-se próprio, à medida que o paciente
é capaz de ver seu estado melhorar consideravelmente, às vezes, através
de um psicoterapeuta que o faça encontrar ou reencontrar a plenitude e
o equilíbrio de sua vida libidinal.
1 – Marty, P.; M’Uzan, M e David Ch. (1963), L’Investigation
psychosomatique, Paris Presses Universitaires de Françe, 264 p.

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300

Bibliografia: MARTY, Pierre – A Psicossomática do Adulto – Artes


Médicas, 1993

Clínica e prática terapêutica

A prática psicossomática apenas se exerce no leito do hospital, ou na


casa do paciente, quando este não pode ser transportado. O melhor é que
o paciente venha pôr seus próprios meios ou seja levado ao lugar onde
atende o especialista em psicossomática. As investigações e as
psicoterapias armam armadilhas clínicas suficientes, semiológicas em
particular, e técnicas, para que a isso se acrescentem as incertezas
afetivas ou as atitudes sistemáticas de defesa que, na maioria das vezes,
as situações excepcionais de encontro acarretam diante do médico.
A síntese finalmente econômica dos dados tópicos mentais, dinâmicas
mentais e de expressões, tiradas da investigação, representa o
diagnóstico do especialista em psicossomática. Esse diagnóstico, que
carrega um valor prognóstico, revela-se próprio, à medida que o paciente
é capaz de ver seu estado melhorar consideravelmente, às vezes, através
de um psicoterapeuta que o faça encontrar ou reencontrar a plenitude e
o equilíbrio de sua vida libidinal. Embora uma grande descoberta
diagnóstica não é uma certeza, não é apenas um encontro, é um caminho
a ser percorrido pôr toda a singularidade inerente a qualquer ser
humano, que a torna único em sua forma de ser e agir. A busca da certeza
nos deixa presos e tolhidos, enquanto a possibilidade de conhecer gera o
vira-se, no qual nos encontramos enquanto sujeito, sob condições
impostas pela vida. Ao procurar a certeza o homem acaba encontrando a
morte, única certeza em sua condição de objeto participante da infinita
rede que o envolve, ou ainda o suficiente para que possam saber que o
EU não é senhor em sua própria casa, como diz Freud, e que a
consciência, tão privilegiada nada mais é do que uma pequena fração da
completude do sujeito.

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301

Sem a noção do funcionamento do consciente é muito difícil compreender


as formações estruturais do sintoma psíquico, para que possa pelo menos
orientar o paciente e encaminhá-lo devidamente, para um tratamento
que não o reduza a um sintoma, tratado dissimuladamente. Devem-se
dar condições ao paciente a partir de uma boa orientação, de começar a
reconhecer seus sintomas em sua origem inconsciente, para dessa forma
restabelecer seu desenvolvimento pessoal, obstruído e paralisado pelas
circunstâncias.
13.1 As psicoterapias
As psicoterapias psicossomáticas são instituídas para auxiliar os sujeitos
a estabelecer ou restabelecer o melhor funcionamento possível de seu
psiquismo. Elas se dirigem, com efeito, a pacientes cujo
hipofuncionamento mental, localizado ou geral, bem diferente de um caso
para outro, se apresenta de maneira passageira ou crônica.
13.2 Psicoterapia Individual
A psicoterapia individual realiza-se de hábito frente à frente. Apesar do
acanhamento que o efeito de se encontrar objeto direto de atenção pode
criar no paciente, a situação lhe dá meios de defesa consideráveis: ele
pode perceber as atitudes, as ações e as reações do terapeuta, pode fazer
gestos facilmente e mudar de postura. O face à face permite ao terapeuta,
pôr outro lado, possibilidades de intervenções não verbais sob forma de
expressões, de excitações ou de para- excitações gestuais ou mímicas.
Quando ele próprio não procedeu à investigação psicossomática do
paciente, médico ou não, interroga-se mais ou menos, conforme seu grau
de experiência, sobre a tarefa a ser realizada. Qualquer que seja o respeito
que dedica ao investigador que o precedeu e que lhe confiou o paciente,
o psicoterapeuta deve, em primeiro lugar, examinar novamente este
último.
Cada psicoterapeuta levanta problemas novos a todos os terapeutas.
Contudo, os jovens especialistas, saídos mais ou menos recentemente da
atividade psicanalítica, correm o risco de nem mesmo ter ideia da
necessária flexibilidade de adaptação que contrasta com um certo rigor,
clássico, de sua tarefa habitual. Trata-se aqui de acompanhar o paciente
ao menos durante um tempo, fiscalizar as eventualidades qualitativas de
seu funcionamento mental para modificar, se for preciso, sua própria
atitude, não contar obrigatoriamente com uma transferência, não pensar
sempre na interiorização mental dos conflitos, levar em conta às vezes a
doença somática.
Médicos ou não, os psicoterapeutas ficam frequentemente
impressionados, no início, com o cuidado dos pacientes somáticos graves.

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302

De qualquer modo, os médicos correm o risco de serem demasiados


tranquilos ou demasiados inquietos, em razão dos esquemas médicos que
os retêm e os embaraçam em seu trabalho. Outras vezes, também correm
o risco de perderem a esperança, enquanto participam – sem abandonar
absolutamente seus conhecimentos – de novas pesquisas, ao menos na
perspectiva terapêutica. Os não-médicos podem ficar desorientados pela
esperança de uma afecção somática, cuja natureza profunda e evolução
habitual lhe são estranhas, como pela existência eventual de terapêuticas
médicas associadas. Também podem negligenciar uma certa vigilância de
seus pacientes, sem apelar suficientemente. Como e quando for preciso,
para o saber de seus colegas ou correspondentes médicos.
A psicoterapia individual repousa permanentemente sobre a qualidade,
pôr outro lado variável, da relação do paciente com o terapeuta e
representa, para este último, obrigações de fiscalização, de
acompanhamento e de intervenções de diversas ordens.
Na prática, as psicoterapias individuais dos pacientes somáticos
efetuam-se tanto em instituições quanto em consultórios particulares.
Sem regulamento institucional que determine isto, os tratamentos
podem, portanto, ser gratuitos ou cobrar honorários. Geralmente, os
problemas levantados pela gratuidade revelam-se em psicossomática
menos sensíveis do que na psicanálise.
De qualquer maneira, deve-se considerar primeiramente, aqui como em
outras situações, o peso da demanda do paciente, amplamente composto
em princípio, aqui, pelo peso da doença somática. Mas esse princípio nem
sempre corresponde à realidade, longe disso.
As psicoterapias dos pacientes somáticos efetuam-se no mais das vezes
ao ritmo de uma sessão pôr semana. Essa medida, arbitrária pelo fato de
não corresponder à variedade dos casos tratados, justifica-se pela
necessidade de horários definidos para todos. Duas sessões pôr semana
é demais, na maioria dos casos. Com efeito, convém considerar a
dificuldade, para numerosos pacientes, de suportar a intrusão do
psicoterapeuta e assimilar o efeito terapêutico e, simultaneamente, a
capacidade, para o terapeuta, de suportar os múltiplos pacientes
desprovidos fundamental ou ocasionalmente de faculdades relacionais
atraentes.
Quarenta e cinco minutos representam a duração normal das sessões.
Reduzir essa duração dependerá da facilidade e da ineficácia, de fato, a
cada vez é necessário um certo tempo antes que um terapeuta chegue a
conhecer realmente o estado das funções mentais do sujeito, par saber
como intervir. Em meia hora, com frequência apenas se marca presença
e se desembaraça então dos lugares profundos de comunicação. Pôr
outro lado, é durante uma sessão, ao final de algumas semanas, de
alguns meses, que se revelam enfim no paciente novas possibilidades

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303

mentais, até mesmo um renascimento psíquico. Como responder à


evolução de um sujeito que, pôr exemplo, um dia, no meio de uma sessão,
apresenta de maneira inesperada um sonho, como lhe mostrar o
interesse desse sonho, levá-lo a descobrir a existência de sua vida
inconsciente e de seu funcionamento mental, quando se previu meia hora
somente de sessão sob o pretexto de que esse paciente seria ou se
encontra demasiado enfadonho ou extenuante ?
Às vezes se é levado, em certos períodos do tratamento, no início deste e,
em algumas passagens difíceis, a ver os pacientes com mais frequência
para delimitar melhor seu estado ou suas modificações, a vê-los também
com menos frequência no final, para prolongar o período de “desmame”.
O “desmame” dos pacientes somáticos, de cuja existência ou
permanência do funcionamento mental se duvida, é sempre delicado. Ele
é, de antemão, uma das causas do ritmo lento dos tratamentos. Uma
grande frequência das sessões vai obrigar a diminuições sucessivas de
seu número, a separações renovadas do objeto que se tornou privilegiado,
o terapeuta.
13.3 A vigilância do paciente
A vigilância do paciente pode ser comparada com o que seria uma
investigação passiva contínua. Ela informa o terapeuta em todos os
momentos e permanece capaz de orientar diferentemente sua linha de
conduta. A vigilância é exercida sobre a economia e sobre a dinâmica do
paciente (mudança e andamento dos instintos e pulsões), em sua vida
exterior, assim como durante as sessões de psicoterapia. Consiste em
uma atenção constante, sem provocação ou displicência, e em uma
frequente determinação pôr parte do terapeuta das fontes de excitações,
dos sistemas de pára-excitação do sujeito, das regressões que utiliza e
dos efeitos desorganizadores que sofre, enfim, da evolução desses
fenômenos e de suas inter- relações no decorrer de toda a psicoterapia.
Alguns erros iniciais de avaliação, pôr vezes decorrentes das armadilhas
da investigação, desaparecem progressivamente. Com as expressões
corporais que observa e graças às informações que lhe são transmitidas
verbalmente, de maneira direta ou indireta, com o sistema de relação de
seu paciente, cujo conjunto e movimentos particulares se lhe tornam
familiares, o terapeuta analisa regularmente a natureza e as variações
dos conflitos, dos comportamentos, do funcionamento mental e do estado
somático do paciente. Assim, fiscaliza sem cessar seu próprio trabalho.
O terapeuta determina pouco a pouco, primeiramente para si mesmo, o
teor dos conflitos (permanece atento às suas mudanças de forma) que,
animando ou desanimando o paciente, viraram frequentemente, tanto
anteriormente quanto recentemente, somatizações: traumatismos
relacionados a acontecimentos ou situações das quais o paciente mais
ou menos participou (ferida e culpabilidade); conflitos de realidade

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304

(progressão eventual do grau de interiorização mental); conflitos de idade


em relação a modificações fisiológicas (superação e meios utilizados para
fazê-lo); conflitos internos de tipo neurótico; conflitos atuais agudos ou
latentes; conflitos antigos (memorizações verbais sucessivas) latentes ou
avivados; conflitos novos também, externos ou internos, em relação com
a psicoterapia.
No nível dos comportamentos, o terapeuta fiscaliza sempre
particularmente sua ligação e sua dissociação em relação ao
funcionamento mental do paciente. Também aprecia sua natureza ativa
(às vezes patológica: hiperatividades de esgotamento libidinal,
hiperatividades sexuais ou agressivas, agitações hipomaníacas, verbais,
etc.) ou passiva (regressão, repouso, mas também falso masoquismo do
tipo daquele das neuroses de destino, pôr exemplo), a relação do tempo
decorrido entre uns e outros, assim como o peso da afetividade investida
em cada um deles.
O terapeuta considera os comportamentos em conexão, necessária ou
não, com as doenças somáticas e se interessa, especialmente no decorrer
das doenças ou durante acidentes metabólicos, pela energética elementar
do paciente, desde a alimentação até o consumo, principalmente
muscular.
As variações qualitativas e quantitativas das manifestações de
comportamento constituem permanentemente importantes pontos de
referência.
No trabalho psicoterápico, o terapeuta vê sua ambição limitada, às vezes
(neuroses de comportamento, neuroses mal mentalizadas) e, no entanto,
a riqueza e a disponibilidade do funcionamento mental representam
sempre um ideal em direção ao qual o terapeuta faz seu paciente tender.
Assim, ele dá uma atenção constante aos dois níveis principais dos
bloqueios possíveis desse funcionamento: o do acesso das pulsões às
representações, nos numerosos casos de isolamento do Inconsciente
(depressão essencial), o do acesso das representações e dos pensamentos
latentes à consciência (inibições, evitações, repressões).
A modificação das características de pensamento primeiramente
observadas, a retomada dos sistemas psíquicos anteriores à doença, a
aquisição eventual de novos funcionamentos permite situar em cada
instante o estado mental do paciente.
Ao contrário, como é comum no decorrer de uma psicanálise, a retomada
de sistemas mentais antigos (algumas vezes patológicos), agora
anteriores à doença somática, é frequentemente um bom augúrio,
durante uma psicoterapia psicossomática.

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305

Com efeito, em numerosos casos, os perigos somáticos estão próximos e


o paciente encontra-se sem possibilidades de ligações representativas.
Considera-se então como convenientes:
-Sob o ângulo da objetalização, as passagens da depressão essencial às
sintomatologias depressivas, as das angústias difusas (estados de aflição)
às angústias objetais, as das fobias de ambientes às fobias de objeto, as
das feridas narcísicas e dos sentimentos de vergonha à culpabilidade, do
mesmo modo que se considera favoravelmente o aparecimento de um
complexo de castração e, evidentemente, de um complexo edipiano.
-Sob o ângulo instintivo-pulsional, as passagens dos comportamentos de
descarga às condutas mentalmente relacionadas, as retomadas mais ou
menos manifestas de uma sexualidade (ostentando às vezes, no início,
uma forma homossexual pré-genital) ou de uma agressividade face a
objetos externos ou ao próprio terapeuta (que, sobretudo, não deve se
defender dela mas, ao contrário, salientá-la) e, naturalmente, a retomada
de desejos sob forma algumas vezes larvar.

-Sob o ângulo do esclarecimento dos conflitos, as tentativas, auxiliadas


pelo terapeuta, de verbalização dos elementos traumáticos e conflituais;
após, a interiorização dos conflitos (passagens de representações
rudes de coisas a representações de palavras manipuláveis e analisáveis);
em seguida, tanto quanto possível, a representação dos desejos e das
defesas internas sob as formas maiores dos complexos de castração e de
Édipo – o habitual da psicanálise clássica – a verbalização dos
traumatismos e dos conflitos da infância, particularmente importantes
em psicossomática, tendo também aqui seus limites.
A fiscalização do funcionamento mental efetua-se finalmente através das
associações de representações e de pensamento cuja existência,
multiplicação, qualidade, riqueza (recuperando o valor simbólico das
palavras) e regularidade são sem cessar observadas no conjunto esperado
dos movimentos progressivos do paciente, movimentos entre os quais a
aceitação das regressões ocupa uma grande parte. Em último lugar, é o
investimento pelo sujeito de seu próprio pensamento que, nos melhores
casos, coroa o trabalho terapêutico.
Um dos meios de direcionar o paciente para o investimento de seu
pensamento é interessá-lo ampla e repetidamente pôr sua atividade
onírica, até que este atinja uma forma, uma qualidade e um ritmo
convenientes. Os sonhos representam, de fato, especialmente para a
psicossomática, os testemunhos: pôr sua presença (não isoladamente do
inconsciente), de uma atividade mental do paciente, fora de sua relação
direta com o terapeuta; pôr sua comunicação, do estado dessa relação

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306

(demonstrando ao menos uma certa confiança ou confiança afirmada –


relação de base ou transferencial); pôr seu conteúdo, da qualidade (da
mais operatória ou “crua” ou pobre, à mais simbólica) dos sistemas de
representações e dos agrupamentos de seus diferentes níveis evolutivos;
pelas associações de que os sonhos são objeto, do grau das ligações em
todo o funcionamento mental; pôr sua sucessão (desigual), das variações
(progresso, estagnação ou recuo) da economia psíquica.
Dois textos sobre os sonhos dos pacientes somáticos justificaram nosso
propósito:
No primeiro, de ordem mais geral, uma espécie de escala de valores
encontra-se exposta. Recomendava-se uma necessária prudência
técnica. Convém organizar a existência dos sonhos neles próprios, para
mantê-los algumas vezes como testemunhos, noutras, como precursores
de um funcionamento mental reencontrado ou novo, e não barrar o
caminho à evolução da atividade psíquica com intervenções e sobretudo
com interpretações traumatizantes (riscos de reavivar uma
desorganização anterior, pela manipulação de conteúdos conflituais
inelaboráveis em certos momentos ou em certos sujeitos). Às vezes, deve-
se, mostrando os benefícios que o par paciente-terapeuta tira disso,
encorajar os pacientes e felicitá-los (durante um tempo) pôr sua produção
onírica.
O segundo texto, especificamente consagrado aos doentes somáticos,
discutia, primeiramente, nos pacientes mal organizados ou
desorganizados mentalmente, questões clínicas e teóricas levantadas pôr:
ausência de sonhos, sonhos operatórios, sonhos repetitivos, sonhos
“crus”.
Em cada caso eram considerados a evolução dos sonhos em suas relações
com a evolução das doenças somáticas, bem como os problemas de
técnica terapêutica correspondentes.
A fiscalização do estado somático dos pacientes efetua-se geralmente,
como as outras, em surdina. Ela reúne as informações dadas pelo sujeito,
excepcionalmente com as que, nos casos graves, vêm de terceiros. Não
permite intervenções diretas a não ser em caso de riscos imediatos. A
demonstração dos possíveis riscos revela-se necessária quando o
paciente se encontra abertamente em situações perigosas ou se
abandona a elas ( em casos em que o Ego-ideal é potente ou nos casos
semelhantes às neuroses de destino, pôr exemplo). A demanda,
formulada ao sujeito, de uma fiscalização médica clássica imediata pode
então ocorrer.
Em 1980, consideramos alguns problemas gerais que se apresentam à
psicossomática e a seus terapeutas, acerca dos tratamentos médicos
conjuntos dos pacientes. Alguns desses tratamentos são necessários,

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307

outros, desigualmente úteis. A maioria deles requer reajustes de suas


dosagens, tanto no sentido de aumento quanto no de diminuição, até
mesmo suspensão progressiva, à medida das variações do equilíbrio
psicossomático dos pacientes no decorrer das psicoterapias. Hoje,
confrontamo-nos de modo particular com os antidepressivos receitados,
parece, facilmente. Ao mesmo tempo que se avalia seu sofrimento,
convém não aniquilar sistematicamente as expressões depressivas dos
sujeitos, último recurso dos deprimidos para não ficar totalmente
isolados afetivamente e para conservar uma vida relacional, sobretudo
aquela de que necessitam as psicoterapias.
13.4 As intervenções
Já consideramos, no quadro da fiscalização, algumas intervenções
liminares do terapeuta. As intervenções psicoterápicas são, de fato,
destinadas, erguendo as barreiras existentes, a animar, a ampliar e a
enriquecer o funcionamento mental do paciente até o nível mais
desenvolvido possível. Esse projeto, que passa pelo canal da manutenção
e da organização progressiva da relação do terapeuta com o paciente
deve, para se realizar, evitar que o terapeuta crie obstáculos ao avanço
(às vezes de importância vital) do sujeito. Poder-se-ia definir o papel de
organização progressiva da relação entre o terapeuta e o paciente.
A função materna prevalece – pelo menos pôr precaução – no início de
inúmeras terapias. Prevalece pôr muito tempo com os

pacientes desorganizados (depressão essencial) e quase sempre com


aqueles que são mal organizados mentalmente (neuroses de
comportamento e neuroses mal mentalizadas, casos somáticos mais ou
menos evolutivos e frequentemente graves). As intervenções e
interpretações de estilo psicanalítico prevalecem em geral, ao cabo de um
tempo diferentemente longo, nos pacientes bem mentalizados (objetos de
regressões) e particularmente naqueles que apresentam traços
neuróticos de caráter (casos somáticos com frequência reversíveis,
também de ordem regressiva) ou, nos finais de tratamentos, nos
pacientes que recuperaram um bom funcionamento psíquico após uma
desorganização.
De qualquer maneira, um especialista deve esperar pôr mudanças, até
mesmo pôr reviravoltas da organização de seus pacientes e, sem se
precipitar jamais ele mesmo em mudanças de sua atitude, dispor de toda
a escala de suas posições de acordo com a relação presente do paciente
com ele. Isto desde a depressão, as angústias difusas, uma inércia afetiva
relacional, todas primárias (como a violência mais ou menos contida), que
necessitam um acompanhamento de tipo maternal, até uma eventual
transferência que necessitasse da interpretação.

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308

13.5 A função maternal


A função maternal, que repousa sobre as possibilidades maternais do
terapeuta homem ou mulher consiste, ao contrário de uma
responsabilização diretiva, em um acompanhamento sobretudo, mas não
exclusivamente, verbal que margeia, segue ou precede de perto os
estados e os movimentos do sujeito.
Da natureza desigual do parceiro ressaltam diferenças marcadas entre a
função da mãe face ao bebê (tomado como exemplo inicial) e a função
maternal do terapeuta. No exercício de sua função maternal, cujo êxito
depende de sua aptidão a uma identificação renovada com o paciente (de
sua qualidade de empatia), o terapeuta dispõe da situação face à face,
que lhe permite mímicas, atitudes, gestos, capazes de constituir
intervenções mínimas facilmente apreendidas pelo paciente na maioria
das vezes. Ele dispõe principalmente de sua fala (cujo sentido se lê
também em seu rosto) e, sem julgamentos de valor ou se servindo de
alguns deles apenas esboçados, comenta suas próprias palavras e
ações...como comenta o que seu paciente lhe conta sobre o que se passa
durante as sessões ou fora delas (nos dois casos, como uma mãe faz).
Essa relação descritiva aparentemente igualitária (o terapeuta não expõe,
é claro, tudo o que pensa) e as correlações eventuais que cada um pode
fazer das declarações do outro são capazes de assegurar as primeiras
bases de uma proximidade bilateralmente identificatória.
Nestas condições, o terapeuta, dando-se conta das projeções primárias
do paciente e respeitando-as, pode se propor (incitação dissimulada)
como exemplo de uma conduta ao mesmo tempo paralela à do paciente
e, entretanto, bem diferente dela (disso podem resultar traços mnésicos
no mínimo superficiais e provisórios); ele não se propõe sobretudo como
modelo. Oferecendo assim seus próprios sistemas elementares de
sensibilidade, de comportamentos e de representações (eventualmente de
defesas rudimentares), progressivamente desempenha o papel das
funções fragilizadas (primeiramente expressivas de instintos às vezes
violentos) no sujeito, abandonando esse papel assim que perceber os
primeiros sinais de independência, a revivescência das funções em
questão.
A função maternal do psicoterapeuta – ou até mesmo do especialista em
psicossomática – não é acompanhada, de ordinário (fora das relaxações),
de nenhuma aproximação física particular com o paciente.

13.6 Intervenções pouco interpretativas

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O terapeuta percebe sem seus próprios afetos as linguagens do paciente.


Ele lhes dá, em seus próprios termos, uma significação que remete ao
paciente, sob forma de intervenções diversamente explicativas. Pôr essa
razão, as intervenções contêm sempre uma certa dose de interpretação.
Todavia, há uma grande distância entre as intervenções descritivas e
iniciativas da função maternal e as interpretações de tipo psicanalítico.
As intervenções terapêuticas distanciam-se daquelas do início da função
maternal quando, após uma desorganização, o paciente tiver recuperado
uma parte de seu funcionamento psíquico libidinal – mesmo regressivo –
(em oposição ao funcionamento operatório), ou quando apresentar de
saída tal funcionamento. Ele dá então testemunho de representações pré-
conscientes oriundas de afetos, perceptivas senão figurativas, mas de
qualquer maneira sujeitas à elaboração, assim como de identificações e
de interiorizações objetais mais ou menos superficiais. A reserva mental
de tipo anal secundária do paciente, os mecanismos de introjeção e de
projeção, mantidos até a existência de uma transferência, permitem
verdadeiras interpretações justamente ditas “na transferência”, mas, na
maioria das vezes, afastamo-nos então do tratamento dos estados ou
crises somáticas de grandes riscos vitais. O conjunto dos fenômenos
atinentes merece um exame.
Para chegar ao cerne da questão, devemos citar Catharine Parat1 que,
com as úteis referências freudianas, trata nossos problemas terapêuticos
no quadro analítico.”...O efeito terapêutico encontra-se ligado a dois
elementos relacionais, a transferência e a relação (que se pode chamar
também de ‘transferência de base’)...”É supérfluo definir aqui a
transferência e as resistências pela transferência e à transferência cuja
análise hic et nunc constitui o próprio corpo da técnica analítica...a
relação corresponde ao investimento pelo paciente da pessoa do analista,
investimento marcado pôr confiança...Esse investimento baseia-se em
elementos subjetivos, projetivos..., elo espontâneo, inter-humano, de
tonalidade positiva, que deriva dos primeiros vínculos e se enriquece com
vivências secundárias, e também em elementos objetivos percebidos pelo
paciente desde os primeiros contatos, imprecisos ou sutis...Na situação
analítica mais clássica, a relação pode se tornar evidente apenas no final
do tratamento, quando as projeções transferenciais desapareceram,
mostrando a corrente inter-relacional. Se a situação sofá-poltrona facilita
a transferência, a situação face à face descobre mais depressa a relação...
“As psicoterapias de pacientes atingidos pôr afecções somáticas
inscrevem-se entre aquelas onde a relação ocupa um lugar primordial.
Com efeito, trata-se primeiramente aqui de auxiliar para o
restabelecimento de um equilíbrio homeostático. Os meios utilizados têm
de pôr objetivo uma reorganização tópica (no sentido da primeira e
Segunda tópicas freudianas), que se encontra habitual ou
temporariamente deficiente. Considerando a ação desorganizada da

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310

interpretação transferencial clássica, sua utilização encontra-se reduzida


em detrimento da manutenção, até mesmo da cultura de uma relação.”
Deixemos de lado os problemas referentes à transferência, amplamente
discutidos em outros textos, para retomar o objetivo, os meios e os modos
de aplicação das intervenções pouco interpretativas. Essas se dirigem,
portanto, ou aos sujeitos insuficientemente mentalizados, inaptos a
atingir uma posição transferencial, ou aos sujeitos no decorrer de
reorganização mental, ou àqueles cuja organização mental permanece
incerta e que não atingem senão fugidiamente essa posição. Neste último
caso, de irregularidades agudas e repetidas do funcionamento psíquico
onde, de repente, a relação do paciente, evidentemente transferencial,
acompanha um período de plena mentalização infelizmente sem futuro,
o terapeuta desconfia bastante tempo antes de interpretar “na
transferência”, em razão dos riscos de precipitar a desorganização de um
nível que parecia atingido.

O objetivo das intervenções pouco interpretativas é assim, antes de


qualquer análise profunda (a do conflito edipiano, pôr exemplo), fazer
com que desapareçam os estados de aflição e as depressões essenciais,
geradoras e mantenedoras de doenças somáticas frequentemente graves,
organizando ou reorganizando da melhor maneira, até uma
disponibilidade regular e durável, se possível, o aparelho psíquico mau,
medíocre ou incerto dos pacientes.
Os meios dessa ambição, cuja distância se mede com frequência e que
passam pela animação da relação paciente- terapeuta (e das relações
externas do paciente). Trata-se, entre outras coisas, de não encerrar o
sujeito no sistema atual da relação (maternal ou de base, pôr exemplo),
nem de aí se encerrar a si mesmo. Os meios passam também pela
manutenção do funcionamento psíquico existente e pôr sua abertura a
um desenvolvimento mais amplo. Auxiliando o paciente a verbalizar,
considera-se: a solução progressiva dos conflitos; sua colocação em
evidência; em seguida, sua interiorização mais realizável em termos de
castração e de Édipo, no que diz respeito ao essencial. Também se
considera o reequilíbrio dos investimentos (narcísicos, objetais, eróticos,
agressivos, sublimatórios) segundo as necessidades, os desejos e as
capacidades do paciente, graças ao sentimento que este último adquire
de sua economia pessoal e da organização possível desta (princípios de
prazer e da realidade).
Os modos de intervenção do psicoterapeuta consistem eventualmente:
em fazer perguntas ao paciente para saber mais dele; em responder às
perguntas para que o paciente saiba o que se faz com ele; em ensinar ao
paciente, com intenção narcisante (sem ultrapassar, a cada vez, seus
desejos imediatos de saber), os mecanismos globais da psicoterapia, que

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procuram fazer com que se conheça mais; em fazer o sujeito tomar


consciência de seus funcionamentos mentais, de comportamento,
somáticos também e, para fazê-lo, em explicar até mesmo didaticamente,
sem temer demonstrar posições intelectuais.
As tentativas de fazer o sujeito tomar consciência de seus
funcionamentos mentais não têm, pôr vezes, nenhum risco; em outras,
estão cheias de armadilhas. Parecem não ter riscos: quando se
desenvolvem os movimentos gerais da primeira tópica (Ics, Pcs, Cs), bem
como os de recalcamento, servindo- se de exemplos imediatos fornecidos
pelo paciente; quando se demonstra a violência universal do Id, o lugar
limitado que é melhor reservar a suas expressões de comportamento e a
ampla porção desejável a suas elaborações mentais, a frequência de uma
ambivalência dos sentimentos dos sentimentos, as formas extremas das
angústias, as funções globais do Ego, o valor das instâncias temporizadas
e moderadoras (pára-excitações) diante das necessidades ou das
exigências, com frequência primeiramente exteriores, depois interiores;
quando se explica e se ilustra com as próprias produções do sujeito a
formação da representações e a circulação associativa destas pôr ocasião
de afetos; quando se interessa o paciente pôr suas atividades oníricas
cujos diferentes mecanismos são desmontados; quando se expõe, sempre
com exemplos provenientes do sujeito, os diferentes sistemas de
imitação, de identificação e de interiorização dos diversos níveis que se
pode perceber.
As tentativas de fazer o sujeito tomar consciência de outros fenômenos
psíquicos tornam-se às vezes perigosas: quando se recupera a forma
conflitual do nível mais ou menos interiorizado que desencadeou
anteriormente uma desorganização psicossomática, quando se
descobrem as projeções, quando se colocam em jogo as posições
caracteriais, pôr exemplo. Nestes casos, convém sobretudo agir com “a
prudência do desarmamento de uma mina”, não forçando a liberdade do
paciente para afastar os problemas em questão, deixando-o em sua
deriva e se retirando da tentativa inicialmente engajada.
Outros modos de intervenção: utilizar métodos comparativos entre o
paciente e o próprio terapeuta, métodos que favoreçam as identificações
e, além das interiorizações, as introjeções e as idealizações (mantidas
entretanto em um nível exato); explorar os interesses comuns da ordem
das sublimações artísticas, artesanais, profissionais, sociais pôr
exemplo, permutando um e outro, conforme a competência, as técnicas,
suas precisões seu valor na economia de cada um; justificar tanto as
regressões quanto as progressões, salientando os benefícios desses
movimentos, explicar também a razão das retomadas sintomáticas;
encorajar frequentemente as transferências laterais, marcando, no
entanto, ao final de um tempo, seu nível e seu valor de adaptação ao
paciente (sabe- se que, em certos casos, é um investimento lateral ao do

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terapeuta que, desenvolvido convenientemente, com a retirada deste,


permite a interrupção – às vezes pôr muito tempo, até mesmo
definitivamente- da psicoterapia); encorajar da mesma maneira os
benefícios narcísicos secundários, sem hesitar em ressaltar todavia, se
for preciso, o alcance algumas vezes anulador destes.
Digamos, sobre às intervenções não analíticas, que estas podem dizer
respeito ao estado somático dos pacientes. Pode- se com frequência
explicar, com os meios de que dispõe simultaneamente o terapeuta e o
paciente, em que consiste a doença, sua evolução e seu desenvolvimento
habituais, assim como as ambições do tratamento psicoterápico. Uma
intenção precisa do terapeuta é circunscrever a doença para constituí-la
em objeto representável, que figura entra as outras representações do
sujeito. Pode-se também interessar o paciente pelas relações de seus
processos psíquicos e de seus processos somáticos, tanto acerca do
desencadeamento, das recaídas ou das estagnações da doença quanto a
cerca das melhoras de seu estado. Deve-se salientar particularmente as
marcas de reversibilidade da afecção e sua motivação, quando uma
melhora se delineia.

13.7 Incidentes e acidentes do tratamento psicoterápico


Numerosos acontecimentos mais ou menos imprevistos, que podem
ocorrer ao longo da psicoterapia, foram anteriormente considerados.
Assim, vamos apenas agrupá-los e esquematizá-los:
As quedas de nível do funcionamento mental alertam o psicoterapeuta.
Elas são, com efeito, capazes de desencadear novas manifestações
somáticas, às vezes relativamente benignas (crises da doença habitual
reversível, pôr exemplo).
Outras, mais ameaçadoras (aparecimento de uma nova patologia ou
retomada de uma afecção evolutiva, pôr exemplo). Com as doenças
reversíveis, não é raro que a doença somática se manifeste sob forma de
uma crise, antes mesmo que uma variação do funcionamento mental
tenha podido ser percebida.
O que importa, antes de mais nada, é encontrar a causa das modificações
mentais ou somáticas que se produziram. A exploração efetua-se em dois
setores. O da sobrevinda de acontecimentos traumatizantes novos
exteriores à terapêutica, o mais das vezes: mudança na organização
familiar ou social, inoportunidade de parceiros novos, inabilidades,
equívocos ou reviravoltas (mais ou menos interpretadas) na atitude de
um interlocutor (inclusive médico) habitual. O da sobrevinda de conflitos
no próprio interior da psicoterapia, em relação a inabilidades do

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terapeuta: seja em razão de excesso ou de insuficiência de excitações ou


de pára-excitações, seja em razão de uma negligência de atitudes de
contra relação ou de contratransferência, seja no enleamento de uma
psicoterapia de rotina.
O alerta dado pôr uma queda de nível do funcionamento mental ou pôr
novas manifestações somáticas do paciente permite ao terapeuta, na
maior parte do tempo, dirigir melhor a caminhada terapêutica. Contudo,
e desta vez sem que o terapeuta possa apreciar suas motivações
profundas, rupturas inopinadas dos tratamentos podem ocorrer quando
estes já estão amplamente engajados. Elas podem responder às
sobrecargas conflituais anteriormente evocadas.
Em uma outra ordem de ideias e de sentimentos, há, entretanto,
fatalidades, às quais o terapeuta quase não pode se opor. Estas provêm,
na maioria das vezes,: ou da evolução, subjacente a seu trabalho e mais
ou menos silenciosa, de uma doença evolutiva que, pela autonomia de
seu desenvolvimento (canceres, pôr exemplo), pôde escapar à hierarquia
funcional da ordem psicossomática habitual; ou da manutenção de uma
pressão conflitual exterior demasiado grande ou do acúmulo dos conflitos
de realidade dos quais o paciente não pode se libertar, mesmo com a
ajuda psicoterápica; ou da ruptura (perda de parentes próximos ou
mudança de disposições administrativas, pôr exemplo) de uma
assistência familiar ou social necessária aos pacientes em um estado
crítico. Para nunca se desencorajarem, os psicoterapeutas devem
conhecer a existência das tais fatalidades.
A cura espontânea (com frequência indiretamente relatada) de certos
pacientes, mesmos graves, serve de objeto de estudo (se possível de
ordem econômica) aos terapeutas. A remissão dos sintomas, no decorrer
das psicoterapias, desperta a atenção do terapeuta e quando o paciente
não se aproveita disso para romper (muitas vezes ele se enganaria ao
fazê-lo), aviva sua fiscalização do mesmo modo que os outros incidentes
e acidentes do tratamento.
13.8 Situações particulares e excepcionais

A prática psicoterápica realiza-se na maioria das vezes face à face no


lugar (institucional ou particular) onde trabalha o psicoterapeuta. Estes
podem, entretanto ser obrigados a adotar certas medidas particulares,
menores ou maiores, que rompem com seu exercício habitual.
Trocas de cartas ou contatos telefônicos, regulares (antecipadamente
determinados) ou irregulares (ao sabor dos pacientes que geralmente não

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abusam disso) permitem manter uma certa relação frequentemente


necessária com os pacientes graves.
Em outras circunstâncias, pacientes ausentam-se de suas sessões
durante longo tempo, hospitalizados pôr causa de uma crise de sua
doença ou pôr causa do aparecimento de uma afecção intercorrente. O
terapeuta desloca-se então para que a psicoterapia não seja totalmente
interrompida.
Alguns terapeutas trabalham em emergências médicas ou cirúrgicas.
Acham-se confrontados com pacientes que acabam de passar pôr crises
penosas, na véspera ou no dia que se segue intervenções sérias, pacientes
frequentemente desorientados, às vezes em estado de choque, até mesmo
pré-comatoso. Seu trabalho, na linha geral que desenvolvemos, repousa
em uma sensibilidade de percepção e de interpretação dos sinais (e de
suas variações) que traduzem a situação afetiva, as necessidades e os
desejos dos pacientes (conforme a função maternal) e proporciona
intervenções precisas. O auxílio dos especialistas em psicossomática aos
pacientes de urgência (e às emergências correspondentes) revela-se
indispensável em vista dos resultados positivos, até mesmo inesperados,
que pode proporcionar.
O relaxamento – Em um texto inédito, Carmem Colsy observa: “O
relaxamento tornou-se há vários anos uma noção à qual frequentemente
se apela em uma linguagem corrente...Utilizado pôr Ambroise Paré no
século XVI, o verbo relaxar desapareceu do vocabulário médico e, como
muitos outros termos, retornou, sob forma de substantivo, dos países
anglo-saxões, com o sentido de repouso que lhe conferimos atualmente.

Vejamos agora uma recente conferência de Gisèle de M’Uzan2 e citemos


algumas passagens:
“... Se todos os métodos de relaxamento agora existentes se assemelham
à técnica de Schultz, eles se enriquecem singularmente com Julian de
Ajuriaguerra e sua equipe, nos anos 50-60, fazendo da experiência tônica
um elemento da relação com outrem. Foi sobre essa abordagem que
baseei minha experiência, na qual a redescoberta pelo sujeito de seu
próprio corpo inclui uma relação significativa com o terapeuta... O
relaxamento torna-se assim um relaxamento psicoterápico engajando um
processo que aciona toda uma dinâmica relacional... Uma formação
analítica clássica (do terapeuta) é praticamente necessária, mesmo que a
técnica se refira o mais das vezes a casos que não podem ser abordados
diretamente pela psicanálise ou pôr uma psicoterapia analítica...
Considerando a particular sensibilidade do paciente somático às
excitações, reduzi-las tanto quanto possível, é uma necessidade. As

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próprias condições do tratamento de relaxamento reagem a isso. Do


mesmo modo, a atitude do terapeuta deve responder a essa exigência,
não sendo nem demasiado neutra, nem demasiado frustrante, nem
demasiado intrusiva... No que concerne às afecções somáticas com graves
alterações biológicas, minha técnica é utilizada de modo a permitir uma
regressão profunda, na qual sujeito-objeto ficam confundidos, dando
preferência às intervenções que englobam a própria corporalidade do
paciente... Em geral e em todos esses casos, esses tratamentos
desenvolvem-se amplamente sobre um plano infra verbal, tendo o
paciente que manter contato com o objeto idealizado em uma relação a-
conflitual. É claro que os conflitos nunca estão ausentes... evito, tanto
quanto possível, a negativação da relação contra transferencial. Com esse
intuito, eu me organizo para que toda a negatividade seja projetada ou
colocada fora da relação terapêutica, servindo-me, se for preciso, de
transferências laterais... Quando o engajamento na terapia se torna mais
profundo, não se deve hesitar em puxar tudo para a transferência... O
silêncio, a penumbra, a posição deitada e também o toque quando do
controle, a mobilização dos membros, o ritmo da respiração, do coração,
constitui fatores de regressão específicos do relaxamento, já que se
dirigem ao processo de organização do esquema corporal... É talvez
justamente através do conhecimento do valor do toque do terapeuta sobre
o paciente que se produzirá o fenômeno de base que vai instalar uma
certa qualidade de aceitação ou de rejeição do terapeuta... As instruções
do tratamento situam-se primeiramente no nível fisiológico. A busca do
relaxamento é então fundamental... O importante é que essa busca... dê
ao paciente a possibilidade de tomar consciência de suas modificações
tônicas...
“ A autora considera então os tipos extremos de evolução dos pacientes e
das modalidades técnicas que se adaptam a eles: “... Não há substituição
de uma modalidade pôr outra mas (pode se instaurar) uma alternância
entre dois tipos de funcionamento, um onde uma redução transferencial
é possível e outro onde é necessário retornar com o paciente à pura busca
do repouso... Assim, (o paciente) fará uso do relaxamento, enquanto não
tiver adquirido a riqueza fantasmática e as possibilidades de elaboração
(mental) suficientes... Quando a mentalização não se opera (neuroses de
comportamento, pôr exemplo) ... convém se ater geralmente aos
resultados positivos... do repouso...“G. de M’Uzan determina a seguir
alguns aspectos da técnica: evitação do recurso à sugestão, modalidades
do final das sessões, do final do tratamento, “desmame”, conselhos aos
pacientes “... para adquirir uma autonomia maior (a fim de que) a
responsabilização não seja excessiva... para introduzir no (no exterior) os
exercícios em outras posições mais habituais: sentado, em pé, só,
acompanhado, em todas as situações ativas da vida... O controle cessa
assim que o paciente toma ele próprio consciência de seu relaxamento
global.

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Finalmente, ela salienta as indicações nos pacientes somáticos: “... Se


concebermos facilmente a utilização do relaxamento no que é dominado
pôr uma sintomatologia que afeta a sensório-motricidade, a experiência
nos ensinou que mesmo quando a limitação à consideração dos problemas
tônicos e musculares é exigida, atingimos outros níveis; humorais em
particular... quanto mais a circulação entre as diferentes partes do
aparelho psíquico se encontrar barrada, mais o relaxamento psicanalítico
será uma indicação preferencial na escolha terapêutica”.
Adotamos as ideias de G. de M’Uzan2 e pensamos que um tratamento de
relaxamento é desejável para os especialistas em psicossomática, tanto
para si mesmos quanto para sua prática.

1–Parat C. (1966), L’organisation génitale du stade


oedipien, in Revue française de psychanalyse, 167, 31, nº 5, p. 743-812.
2– M’Uzan G. de (1981), Relaxation et psychanalyse, in Revue française
de Psychanalyse, XLV, nº 2, p. 379-390
Bibliografia : MARTY, Pierre – A Psicossomática do Adulto – Artes
Médicas, 1993
CONCLUSÃO
Do início desta reflexão até agora, tendo pôr referência o texto utilizado,
o percurso foi sempre o de analisar como um indivíduo se comporta em
relação à vida e seus atributos favoráveis ou desfavoráveis ao alcance da
felicidade, as maneiras peculiares como ele pode driblar as dificuldades
que se lhe apresentam (e que dependem fundamentalmente de suas
características psíquicas peculiares) e, paralelamente, em

que o fato de ele viver em comunidade e tentar construir uma civilização


que o sustente e o direcione paradoxalmente dificulta a busca dessa
felicidade. A impressionante atualidade das reflexões de Freud, mais de
meio século depois, só pode ser explicada se pudermos perceber que,
antes de mais nada, a essência de tudo o que aparece no texto reside no
humano e seus paradoxos, para além dos conceitos psicossomáticos,
mas extremamente bem consubstanciado pôr eles. Vivemos em meio a
uma pandemia que, pôr si, só pode existir se existirmos e nos
relacionarmos intimamente. E que surge alguns anos após uma explosão
em busca da liberação de instintos básicos, de conquistas imediatas de
prazer; que surge concomitantemente a uma generalização da violência,
que se expande para o cotidiano da cada um, mormente àqueles que
vivem aglomerados nas grandes metrópoles que, pela característica que

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têm de aglomerar um número imenso de pessoas tão diferentes entre si


em um mesmo “espaço social”, expõe mais abertamente os paradoxos da
vida humana. Não é difícil, desse ponto de vista, imaginar a ocorrência
de uma doença que aparece inicialmente em grupos socialmente
marginalizados, como uma reprodução simbólica do desejo da sociedade
em se livrar daquilo que nunca quis que existisse, mas que, pôr ser
humano, nunca deixou de existir. Todas as sociedades em todas as
épocas tiveram de conviver com pessoas ou grupos, maiores ou menores,
contra os quais têm de lutar para impor as regras do momento, ou dos
quais se escondem de tal forma que parecem eles os marginalizados,
tamanha exuberância do desejo que carregam diante da medíocre
máscara social do correto e do aceito pôr uma ou outra “seita” política,
racial, econômica e, principalmente, intelectual.
Esta foi a proposta desta monografia e nesta conclusão, ... é um contínuo
princípio, ... pela magnitude do ser humano, e tudo recomeça...
Trato Gastrintestinal1 – Bom exemplo de transtorno psicossomático que
a psicanálise interpreta como resultado físico de uma atitude
inconsciente é a úlcera péptica, tal qual a vê o trabalho de pesquisa feito
pelo Chicago Psychoanalytic Institute.
As pessoas que têm atitude exigente receptivo-oral, cronicamente
frustrada, e que a reprimiram, manifestando com frequência
comportamento muito ativo do tipo da formação reativa, mostram,
inconscientemente, “fome de amor” permanente; para ser mais exato,
pode-se até dizer que “têm fome das provisões narcísicas necessárias”, a
palavra “fome” sendo de empregar-se, neste contexto, literalmente. Esta
fome permanente faz que procedam como procede quem está realmente
esfomeado. A mucosa gástrica começa a secretar, do mesmo modo que
no caso de quem está esperando comida, sem que esta secreção tenha
qualquer outra significação psíquica específica. A hipersecreção crônica
é a causa imediata da úlcera; e esta é a consequência fisiológica
incidental de uma atitude psicogênica; não é satisfação disfarçada de
instinto reprimido.
Pode-se questionar a validez desta etiologia para todos os casos de úlcera.
É possível que as alterações funcionais resultante em certos casos, do
erotismo oral reprimido, se originem, em outras situações, de causas
puramente somáticas.
É fácil compreender que uma colite resulte de impulsos anais
inconscientes, continuamente atuantes, do mesmo modo que a secreção
do suco gástrico é produzida pôr exigências orais inconscientes. Colite
desta ordem é consequência da pressão eliminativa e retentiva que
cronicamente atua sobre o organismo, assim como uma úlcera pode
seguir-se a pressão receptiva crônica. O próprio conflito entre tendências
eliminativas e retentivas pode determinar-se de várias formas: representa

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simples conflito entre excitação sexual (anal) e o medo; ou representam


as fezes objetos introjetados que a pessoa quer tanto conservar quanto
eliminar.
As crianças que gostam de prolongar a defecação (pelo prazer da retenção
ou pelo medo) vêm a desenvolver, mais tarde, constipação; a retenção,
voluntária de início, tornou-se sintoma psicossomático. A persistência de
uma constipação tem de influenciar a musculatura lisa do trato
intestinal. Um cólon espástico, ou seja, a propensão a reagir a vários
estímulos com constipação, ou diarreia, ou uma coisa e outra, tanto pode
ser equivalente da ansiedade quanto sinal de que o paciente se fixou na
fase anal do seu desenvolvimento libidinal. Seja qual for o estímulo que
tenha iniciado a excitação, a execução é intestinal. Também pode ser
sintoma de agressividade permanente e reprimida; às vezes, vingança de
frustrações orais. Assim, pois, em estrato mais profundo, a diarreia
exprimirá generosidade ou disposição para o sacrifício; ou refletirá
fantasias que dizem respeito a objetos internalizados.
Na neurastenia, a constipação é um dos sintomas característicos,
consequente ao fato de que a “retenção”, caracteriza o estado de
represamento, básico da neurastenia. Também entre os sintomas
psicossomáticos, se veem com frequência sintomas de retenção. Os
sintomas psicossomáticos são também, contudo, “descargas de
emergência”. Uns tantos são compromissos entre retenção e eliminação;
há casos de colite espástica em que a constipação e a diarreia alternam.
Certos tipos de defecação patológica revelam angústia de castração,
deslocada para a esfera anal.
Alexander partiu da relação entre a úlcera e a colite para sugerir a ideia
de que seria possível compreender em sua índole específica as neuroses
em geral e os transtornos psicossomáticos em particular medindo a
participação relativa das três direções básicas segundo as quais atuam
as tendências do organismo para o mundo exterior; recepção, eliminação,
retenção. Chamou análise vetorial a investigação da participação relativa
destes três fatores em determinado fenômeno. O seu ponto de vista é útil,
pôr exemplo, quando se estuda a etiologia diferencial de úlcera e colite.
“A dimensão representada pela economia psicossomática, parece
explicável pelo fato de dizer respeito a todos os seres vivos e pôr isso
mesmo ir ao encontro das preocupações atuais dos biólogos,
imunologistas e biofísicos”.
Abordar o problema geral, que podemos enunciar assim, “ o que é que
nos permite continuar vivos, ou o que nos faz morrer e pôr que?”.
É a luta contínua do ser humano, pesquisas, achados, deduções e
conclusões; um assunto inesgotável ... O ser humano!

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319

1- Fenichel, Otto “Teoria Psicanalítica das Neuroses”, Cap. 13 pág.


229-230

DISCIPLINA 12 DEPRESSÃO (Transtorno depressivo)


A tristeza é dos sentimentos humanos o mais doloroso. Todos nós
tomamos contacto com ela em algum momento de nossas vidas. A tristeza
passageira, a "fossa" ou "baixo-astral", fazem parte da vida, e são
superados após algum tempo. O luto, após a perda de um ente querido,
manifesta-se por um sentimento de tristeza e vazio e também é superado
com o correr do tempo. Devem-se distinguir a tristeza e o luto normais
da depressão.
A depressão é uma doença, como outra doença qualquer, que se
caracteriza por uma tristeza profunda e duradoura, além de outros
sintomas e que dispõe hoje de tratamentos modernos para alívio do
sofrimento que acarreta. A depressão é uma doença bastante comum. A
cada ano, uma em cada vinte pessoas apresenta depressão. As chances
de alguém ter uma depressão ao longo da vida são de cerca de 15%. Ela
se manifesta mais frequentemente no adulto, embora possa

ocorrer em qualquer faixa de idade, da criança ao idoso. É mais frequente


nas mulheres do que nos homens.
A depressão é um transtorno mental frequente. Em todo o mundo,
estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades,
sofram com esse transtorno.
É muito importante que as pessoas saibam perceber a depressão para
poder procurar ajuda especializada e tratamento. A pessoa sente uma
tristeza intensa, que não consegue vencer. Ela pode achar que isso é uma
"fraqueza de caráter" e tem vergonha de pedir ajuda, ou então não sabe
que se trata de uma doença como outra qualquer, passível de tratamento
com grandes chances de sucesso. Nessa situação é muito importante que
os familiares ou amigos próximos tomem a decisão de levá-la ao médico,
seja o clínico ou médico da família, seja o psiquiatra. Este fará uma
avaliação minuciosa do quadro, orientando na realização de eventuais
exames laboratoriais, bem como no tratamento.
Os principais sintomas da depressão são: tristeza profunda e duradoura
(em geral mais que duas semanas), perda do interesse ou prazer em
atividades que antes eram apreciadas, sensação de vazio, falta de energia,
apatia, desânimo, falta de vontade para realizar tarefas, perda da
esperança, pensamentos negativos, pessimistas, de culpa ou
autodesvalorização. Além desses, a pessoa pode ter dificuldade para
concentrar-se, não dorme bem, tem perda do apetite, ansiedade e queixas

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320

físicas vagas (desconforto gástrico, dor de cabeça, entre outras). Em casos


mais graves podem ocorrer ideias de morte e suicídio, havendo até
pessoas que tentam o suicídio. A depressão é frequentemente uma
doença recorrente, a pessoa tem episódios de depressão que se repetem
de tempos em tempos.
A causa da depressão não é conhecida. Sabe-se que vários fatores
biológicos e psicológicos podem contribuir para seu aparecimento. Em
algumas pessoas a hereditariedade tem um peso importante, outros
parentes também apresentam depressão. Com muita frequência a
depressão começa após alguma situação de estresse ou conflito e depois
persiste, mesmo após a superação da dificuldade. As pesquisas mostram
que na depressão há um desequilíbrio químico no cérebro, com alterações
de neurotransmissores (substâncias que fazem a comunicação entre as
células nervosas) principalmente da noradrenalina e da serotonina. A
descoberta destas alterações permitiu o desenvolvimento de
medicamentos específicos para o tratamento da depressão: os
medicamentos antidepressivos.
O tratamento da depressão se faz atualmente com a combinação do
medicamento antidepressivo com a psicoterapia. Esses medicamentos
permitem uma recuperação gradual da depressão (em geral em algumas
semanas) além de proteger a pessoa de novas crises depressivas. Por isto
muitas pessoas precisam tomá-los por longos períodos de tempo, as vezes
por toda a vida. Como os medicamentos demoram algum tempo para agir,
é importante não desanimar; nesse período o apoio e a compreensão dos
familiares são fundamentais.
A abordagem psicoterápica concomitante ao uso de medicamentos
permite que o tratamento de depressão seja mais efetivo. A razão para a
utilização das duas formas de tratamento está na sua
complementaridade A depressão, qualquer que seja sua origem, acarreta
na pessoa deprimida uma série de alterações em suas relações com as
pessoas que a cercam, em suas atividades e fundamentalmente, na forma
de expressão afetiva que possui. A dinâmica de suas emoções encontra-
se prejudicada. É nesses aspectos que a psicoterapia pode auxiliá-lo.
Leva a pessoa a reflexões sobre seu funcionamento dinâmico de suas
emoções, possibilitando assim a reconstituição de seu modo de ser, que
se encontra circunstancialmente alterado.

TIPOS MAIS COMUNS DE DEPRESSÃO

▪ Depressão clássica ou maior, transtorno depressivo maior

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321

▪ Transtorno depressivo persistente


▪ Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor
▪ Transtorno afetivo sazonal
▪ Depressão pós-parto
▪ Depressão psicótica

DISCIPLINA 13 DEPRESSÃO NO IDOSO


Não faz muito tempo. Dizia que o Brasil era um "país jovem",
boa parte de sua população tinha menos de 30 anos de idade. No entanto,
uma rápida mudança vem ocorrendo nos últimos anos, tanto no Brasil,
como no mundo em geral. O número de idosos (pessoas acima de 65 anos
de idade, a chamada terceira idade) vem crescendo rapidamente na
população. No Brasil havia cerca de 10 milhões em 1990.
De acordo com o IBGE, pessoas com idades entre 60 e 64 anos
representam a faixa etária com maior proporção (11,1%), entre os 11,2
milhões de brasileiros diagnosticados com a doença e este índice vem
aumentando com o passar dos anos.
Entre as principais doenças mentais que atingem os idosos está a
depressão. É uma doença frequente em todas as fases da vida,
estimando-se que cerca de 15% dos idosos apresentem alguns sintomas
depressivos e cerca de 2% tenham depressão grave. Esses números são
ainda maiores entre os idosos internados em asilos ou hospitais.
Depressão não é apenas uma tristeza passageira, diante de um fato
adverso da vida. A pessoa apresenta uma tristeza profunda e duradoura,
acompanhada de desânimo, apatia, desinteresse, impossibilidade de
desfrutar dos prazeres da vida. Não se interessa pelas atividades diárias,
não dorme bem, não tem apetite, muitas vezes tem queixas vagas como

fadiga, dores nas costas ou na cabeça. Aparecem pensamentos "ruins",


como ideias de culpa, inutilidade, desesperança; nos casos mais graves
podem ocorrer ideias de suicídio.
As causas da depressão são desconhecidas. Acredita-se que vários
fatores - biológicos, psicológicos e sociais - atuando concomitantemente
levem à doença. Fatores biológicos, como a presença de depressão em
outros membros da família podem ser considerados predisponentes,
enquanto fatores psicológicos e sociais, por exemplo, perda de um ente
querido, perda de suporte social, podem desencadear um episódio de
depressão. Sabe-se que na depressão há alterações no equilíbrio dos

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322

sistemas químicos do cérebro, principalmente nos neurotransmissores


noradrenalina e serotonina.
O reconhecimento da depressão no idoso muitas vezes é difícil.
Preconceitos em relação à velhice e às doenças mentais dificultam o
acesso dos pacientes a um tratamento adequado. Existe a ideia bastante
arraigada de que a depressão é um fato "normal" na velhice. Não é! O
idoso não precisa ser necessariamente triste. Quando alguém fica
desanimado e triste por algumas semanas é preciso levá-lo a um
psiquiatra, para uma avaliação especializada, pois pode estar sofrendo
de depressão. Muitas pessoas ainda ficam constrangidas de procurar o
psiquiatra, diante da ideia de terem uma doença mental. Por causa
desses preconceitos, estima-se que cerca de metade dos pacientes
deprimidos fiquem sem diagnóstico e tratamento adequados.
A depressão é uma doença como outra qualquer, cujo tratamento tem
sofrido avanços significativos nos últimos anos. Medicamentos
antidepressivos, que atuam nos neurotransmissores permitem uma
recuperação do equilíbrio químico do cérebro, com a melhora dos
sintomas da depressão. Essa recuperação demora algumas semanas,

durante as quais o apoio dos familiares é também fundamental. O


acompanhamento psicoterápico permite uma complementação do
tratamento medicamentoso, propiciando a recuperação da qualidade de
vida do idoso.

DISCIPLINA 14 ESQUIZOFRENIA
A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se manifesta
na adolescência ou início da idade adulta. Sua frequência na população
em geral é da ordem de 1 para cada 100 pessoas, havendo cerca de 40
casos novos para cada 100.000 habitantes por ano. No Brasil estima-se
que há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos; a cada ano cerca de
50.000 pessoas manifestam a doença pela primeira vez. Ela atinge em
igual proporção homens e mulheres, em geral inicia-se mais cedo no
homem, por volta dos 20-25 anos de idade, e na mulher, por volta dos
25-30 anos.

Quais os sintomas?
A esquizofrenia apresenta várias manifestações, afetando diversas áreas
do funcionamento psíquico. Os principais sintomas são:
1.delírios: são ideias falsas, das quais o paciente tem convicção absoluta.
Por exemplo, ele se acha perseguido ou observado por câmeras
escondidas, acredita que os vizinhos ou as pessoas que passam na rua
querem lhe fazer mal.

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2.alucinações: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As


alucinações mais comuns na esquizofrenia são as auditivas,

em forma de vozes. O paciente ouve vozes que falam sobre ele, ou que
acompanham suas atividades com comentários. Muitas vezes essas vozes
dão ordens de como agir em determinada circunstância. Outras formas
de alucinação, como visuais, táteis ou olfativas podem ocorrer também
na esquizofrenia.
3.alterações do pensamento: as ideias podem se tornar confusas,
desorganizadas ou desconexas, tornando o discurso do paciente difícil de
compreender. Muitas vezes o paciente tem a convicção de que seus
pensamentos podem ser lidos por outras pessoas, ou que pensamentos
são roubados de sua mente ou inseridos nela.
4.alterações da afetividade: muitos pacientes tem uma perda da
capacidade de reagir emocionalmente às circunstancias, ficando
indiferente e sem expressão afetiva. Outras vezes o paciente apresenta
reações afetivas que são incongruentes, inadequadas em relação ao
contexto em que se encontra. Torna-se pueril e se comporta de modo
excêntrico ou indiferente ao ambiente que o cerca.
5.diminuição da motivação: o paciente perde a vontade, fica desanimado
e apático, não sendo mais capaz de enfrentar as tarefas do dia a dia.
Quase não conversa, fica isolado e retraído socialmente.
Outros sintomas, como dificuldade de concentração, alterações da
motricidade, desconfiança excessiva, indiferença, podem aparecer na
esquizofrenia. Dependendo da maneira como os sintomas se agrupam, é
possível caracterizar os diferentes subtipos da doença. A esquizofrenia
evolui geralmente em episódios agudos onde aparecem os vários
sintomas acima descritos, principalmente delírios e alucinações,
intercalados por períodos de remissão, com poucos sintomas manifestos.

Qual é a causa da esquizofrenia?


Não se sabe quais são as causas da esquizofrenia. A hereditariedade tem
uma importância relativa, sabe-se que parentes de primeiro grau de um
esquizofrênico têm chance maior de desenvolver a doença do que as
pessoas em geral. Por outro lado, não se sabe o modo de transmissão
genética da esquizofrenia. Fatores ambientais (p. ex., complicações da
gravidez e do parto, infecções, entre outros) que possam alterar o

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desenvolvimento do sistema nervoso no período de gestação parecem ter


importância na doença. Estudos feitos com métodos modernos de
imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética
mostram que alguns pacientes tem pequenas alterações cerebrais, com
diminuição discreta do tamanho de algumas áreas do cérebro. Alterações
bioquímicas dos neurotransmissores cerebrais, particularmente da
dopamina, parecem estar implicadas na doença.

Como se diagnostica a esquizofrenia?


O diagnóstico da esquizofrenia é feito pelo especialista a partir das
manifestações da doença. Não há nenhum tipo de exame de laboratório
(exame de sangue, raio X, tomografia, eletroencefalograma etc.) que
permita confirmar o diagnóstico da doença. Muitas vezes o clínico solicita
exames, mas estes servem apenas para excluir outras doenças que
podem apresentar manifestações semelhantes à esquizofrenia.

Como se trata a esquizofrenia?


O tratamento da esquizofrenia visa ao controle dos sintomas e a
reintegração do paciente. O tratamento da esquizofrenia requer duas
abordagens: medicamentosa e psicossocial. O tratamento
medicamentoso é feito com remédios chamados antipsicóticos ou
neurolépticos. Eles são utilizados na fase aguda da doença para aliviar
os sintomas psicóticos, e também nos períodos entre as crises, para
prevenir novas recaídas. A maioria dos pacientes precisa utilizar a
medicação ininterruptamente para não ter novas crises. Assim o paciente
deve submeter-se a avaliações médicas periódicas; o médico procura
manter a medicação na menor dose possível para evitar recaídas e evitar
eventuais efeitos colaterais. As abordagens psicossociais são necessárias
para promover a reintegração do paciente à família e à sociedade. Devido
ao fato de que alguns sintomas (principalmente apatia, desinteresse,
isolamento social e outros) podem persistir mesmo após as crises, é
necessário um planejamento individualizado de reabilitação do paciente.
Os pacientes necessitam em geral de psicoterapia, terapia ocupacional, e
outros procedimentos que visem ajudá-lo a lidar com mais facilidade com
as dificuldades do dia a dia.
Como os familiares podem colaborar com o paciente?
Os familiares são aliados importantíssimos no tratamento e na
reintegração do paciente. É importante que estejam orientados quanto à
doença esquizofrenia para que possam compreender os sintomas e as
atitudes do paciente, evitando interpretações errôneas. As atitudes
inadequadas dos familiares podem muitas vezes colaborar para a piora
clínica do mesmo. O impacto inicial da notícia de que alguém da família
tem esquizofrenia é bastante doloroso. Como a esquizofrenia é uma
doença pouco conhecida e sujeita a muita desinformação as pessoas se
sentem perplexas e confusas. Frequentemente, diante das atitudes

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excêntricas dos pacientes, os familiares reagem também com atitudes


inadequadas, perpetuando um círculo vicioso difícil de ser rompido.
Atitudes hostis, críticas e superproteção prejudicam o paciente, apoio e
compreensão são necessários para que ele possa ter uma vida
independente e conviva satisfatoriamente com a doença.

Disciplina 15 FOBIAS (transtornos fóbico-ansiosos)


O medo é um sentimento comum a todas as espécies animais e serve
para proteger o indivíduo do perigo. Todos nós temos medo em algumas
situações nas quais o perigo é iminente.
A fobia pode ser definida como um medo irracional, diante de uma
situação ou objeto que não apresenta qualquer perigo para a pessoa. Com
isto, essa situação ou esse objeto são evitados a todo custo. Essa evitação
fóbica leva muito frequentemente a limitações importantes na vida
cotidiana da pessoa. As fobias são acompanhadas de ansiedade
importante e também frequentemente de depressão.
Os transtornos fóbico-ansiosos constituem um grupo de doenças mentais
onde a ansiedade é; ligada predominantemente a uma situação ou objeto.
Há três tipos principais de fobia:
1.Agorafobia: inclui medo de espaços abertos, da presença de multidões,
da dificuldade de escapar rapidamente para um local seguro (em geral a
própria casa). A pessoa pode ter medo de sair de casa, de entrar em uma
loja ou shopping, de lugares onde há; multidões, de viajar sozinho.
Muitas pessoas referem um medo aterrorizante de se sentirem mal e
serem abandonadas sem socorro em público. Muitas pessoas com
agorafobia apresentam também o transtorno de pânico.

2.Fobia social: neste caso a pessoa tem medo de se expor a outras


pessoas que se encontram em grupos pequenos. Isto pode acontecer em
reuniões, festas, restaurantes e outros locais. Muitas vezes elas são
restritas a uma situação, como por exemplo, comer ou falar em público,
assinar um cheque na presença de outras pessoas ou encontrar-se com
alguém do sexo oposto. Muitas pessoas apresentam também baixa
autoestima e medo de críticas. Usualmente a pessoa nessas situações
apresenta rubor na face, tremores, náuseas. Em casos extremos pode
isolar-se completamente do convívio social.

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3.Fobias especificas (ou isoladas): como o próprio nome diz,


são fobias restritas a uma situação ou objeto altamente específicos, tais
como, animais inofensivos (zoofobia), altura (acrofobia), trovões e
relâmpagos (astrofobia), voar, espaços fechados (claustrofobia), doenças
(nosofobia), dentista, sangue, entre outros. A incapacitação da pessoa no
dia a dia depende do tipo de fobia e de quão fácil é evitar a situação fóbica.
As fobias atingem cerca de 10% da população. Em geral surgem na
infância ou adolescência, persistindo na idade adulta se não são tratadas
adequadamente. Acometem mais frequentemente pessoas do sexo
feminino (com exceção da fobia social, que atinge igualmente homens e
mulheres). Depressão, uso de drogas e álcool podem ocorrer
frequentemente associados aos transtornos fóbico-ansiosos.
O tratamento das fobias se faz com a associação de medicamentos com
psicoterapia. Os medicamentos mais utilizados pertencem ao grupo dos
antidepressivos; os ansiolíticos também são frequentemente indicados. A
psicoterapia auxilia na compreensão de fatores que podem agravar ou
perpetuar os sintomas fóbicos.

Disciplina 16 ALCOOLISMO

O uso de bebidas alcoólicas é tão antigo quanto a própria Humanidade.


Beber moderada e esporadicamente faz parte dos hábitos de diversas
sociedades. Determinar o limite entre o beber social, o uso abusivo ou
nocivo de álcool e o alcoolismo (síndrome de dependência do álcool) é por
vezes difícil, pois esses limites são tênues, variam de pessoa para pessoa
e de cultura para cultura.
Estima-se que cerca de 10% das mulheres e 20% dos homens façam uso
abusivo do álcool; 5% das mulheres e 10% dos homens apresentam a
síndrome de dependência do álcool ou alcoolismo. Sabe-se também que
o álcool está relacionado a 50% dos casos de morte em acidentes
automobilísticos, 50% dos homicídios e 25% dos suicídios.
Frequentemente pessoas portadoras de outras doenças mentais (p. ex.,
ansiedade, pânico, fobias, depressão) apresentam também problemas
relacionados ao uso de álcool.
Para compreender melhor os problemas relacionados ao alcoolismo são
importantes saber de algumas definições:
Intoxicação aguda: é a condição que ocorre após a ingestão de bebidas
alcoólicas. É conhecida com os mais variados nomes: embriaguez,
bebedeira e outros tantos. O grau de intoxicação depende do tipo e da
quantidade de bebida ingerida, da condição física da pessoa, da rapidez

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da ingestão, se a pessoa está ou não em jejum. As alterações do


comportamento

observadas na pessoa alcoolizada se relacionam ao nível de álcool no


sangue (este é medido com aparelhos como p. ex. o "bafômetro").
Uso nocivo ou abusivo: Caracteriza-se por uma ingestão de bebida
alcoólica que causa algum tipo de prejuízo para a pessoa. Pode ser físico,
mental, familiar, profissional ou social.
Síndrome de dependência: Nesta situação a bebida alcoólica se torna
uma prioridade para o indivíduo, em detrimento de outras atividades
cotidianas. Caracteriza-se por um desejo descontrolado, irresistível de
consumir bebidas alcoólicas. A pessoa também perde o controle do
consumo, bebendo quantidades exageradas e frequentemente. Se o
consumo diminuir ou interromper subitamente aparecem sintomas
físicos e psíquicos de abstinência, ou seja, da falta do álcool. A síndrome
de abstinência caracteriza-se por tremores, sudorese, aumento da
pulsação, náuseas, insônia, agitação, ansiedade; em casos mais graves
podem ocorrer convulsões e o delirium tremens (além dos sintomas
descritos, a pessoa fica confusa, começa a ter alucinações, em geral
'visões' de bichos nas paredes ou andando pelo corpo). Com o consumo
continuo do álcool desenvolve-se a tolerância, caracterizada pela
necessidade de consumir doses crescentes de bebida alcoólica para
obtenção de efeitos que originalmente eram obtidos com doses mais
baixas. Há um abandono progressivo de interesses, atividades ou
prazeres, ficando a vida cada vez mais concentrada na bebida. A maior
parte do tempo da pessoa é ocupada com a busca, o consumo da bebida
ou a recuperação de seus efeitos. A pessoa continua bebendo apesar das
evidencias claras dos prejuízos físicos, psicológicos, familiares e sociais
que vem sofrendo.

Detecção
Alguns questionários práticos foram desenvolvidos para ajudar a levantar
a suspeita de problemas com o álcool. O mais simples deles é conhecido
como CAGE (sigla em inglês, que se refere a palavras das perguntas que
são formuladas) e foi desenvolvido por Mayfield e colaboradores (Mayfield,
D.; McLeod, G.; and Hall, P. The CAGE questionnaire: Validation of a new
alcoholism instrument. American Journal of Psychiatry 131:1121-1123,
1974).
Consiste de quatro perguntas:
1.Você já tentou diminuir ou cortar ("Cut down") a bebida?
2.Você já ficou incomodado ou irritado ("Annoyed") com outros porque
criticaram seu jeito de beber?

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3.Você já se sentiu culpado ("Guilty") por causa do seu jeito de beber?


4.Você já teve que beber para aliviar os nervos ou reduzir os efeitos de
uma ressaca ("Eye-opener")?
Se pelo menos uma resposta a essas perguntas for afirmativa ("sim") há
suspeita de problemas com o álcool. Duas ou mais respostas afirmativas
é indicativo de problemas com o álcool.
Outro questionário é conhecido como Brief-MAST (Teste de Detecção de
Alcoolismo de Michigan, versão breve) desenvolvido por Pokorny e
colaboradores (Pokorny AD; Miller BA; Kaplan HB. The Brief MAST: A
shortened version of the Michigan Alcoholism Screening Test. American
Journal of Psychiatry 129(3): 342-345, 1972). Consiste de 10 perguntas,
com respostas "sim" ou "não", que recebem pontuação:
1.Você se considera uma pessoa que bebe de modo
normal? (Sim=0, Não=2)
2.Seus amigos ou parentes acham que você bebe de modo normal?
(Sim=0, Não=2)
3.Você já foi a algum encontro dos Alcoólicos Anônimos (AA)? (Sim=5,
Não=0)

4.Você já perdeu amigos/amigas ou namorado/namorada por causa da


bebida? (Sim=2, Não=0)
5.Você já teve problemas no trabalho/emprego por causa da bebida?
(Sim=2, Não=0)
6.Você já abandonou suas obrigações, sua família ou seu trabalho por 2
ou mais dias em seguida por causa da bebida? (Sim=2, Não=0)
7.Você já teve delirium tremens, tremores, ouviu vozes, viu coisas que
não estavam lá depois de beber muito? (Sim=2, Não=0)
8.Você já procurou algum tipo de ajuda por causa da bebida? (Sim=5,
Não=)
9.Você já foi hospitalizado por causa da bebida? (Sim=5, Não=0)
10.Você já esteve preso ou foi multado por dirigir embriagado? (Sim=2,
Não=0)
Se a soma dos pontos for menor ou igual a 3 não há problema com
bebidas alcoólicas, se for 4 é sugestiva de alcoolismo e se for igual ou
maior que 5 indica alcoolismo.

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Consequências físicas do alcoolismo


O uso excessivo de bebidas alcoólicas pode afetar praticamente todos os
órgãos e sistemas do organismo. O aparelho gastrintestinal é
particularmente atingido. Podem ocorrer gastrites, ulceras, inflamação
do esôfago, pancreatite; as lesões no fígado podem levar à cirrose. Outros
aparelhos atingidos são o cardiocirculatório (podendo ocorrer pressão
alta, infarto do miocárdio), o sistema nervoso (epilepsia, lesões em nervos
periféricos) e o geniturinário (impotência). Podem ocorrer também
doenças devido a deficiências de vitaminas e alterações no sangue. O uso
de álcool por mulheres grávidas pode levar a malformações no feto com
retardo mental, malformações no coração, membros, crânio e face
(síndrome fetal do álcool).

Consequências psíquicas do alcoolismo


A embriaguez ou intoxicação aguda pelo álcool é bem conhecida. A pessoa
pode ficar agitada, falante, eufórica, com incoordenação motora, rubor
facial. Por vezes o quadro de embriaguez é acompanhado de um
esquecimento dos fatos ocorridos durante a embriaguez ("blackout").
Algumas pessoas ficam embriagadas com doses muito pequenas de
bebidas alcoólicas - este quadro é denominado intoxicação patológica ou
idiossincrática.
Na síndrome de dependência ocorre o uso exagerado, continuo de álcool
por muito tempo. Há um desejo intenso de beber e necessidade de beber
quantidades cada vez maiores para obter o mesmo efeito (tolerância). As
atividades da pessoa giram em torno da obtenção de bebidas, ocorrem
prejuízos nas demais atividades, como falta ao trabalho, queda do
rendimento no trabalho e convívio familiar.
Outra característica da síndrome de dependência é a síndrome de
abstinência. Ocorre em geral com a interrupção ou redução abrupta da
quantidade de bebida ingerida. A síndrome de abstinência caracteriza-se
por tremores, sudorese, aumento da pulsação, insônia, náusea ou
vomito, ansiedade e agitação. Quando se torna mais grave surgem ainda
as alucinações, em geral na forma de "visões" de animais ou fios na
parede ou no ar ou da sensação de formigamento ou de bichos andando
pelo corpo da pessoa. Este quadro é chamado de delirium tremens e é
ainda acompanhado de febre, convulsões e confusão mental (a pessoa
não consegue conversar direito, confunde objetos e pessoas, não sabe
informar sobre datas ou local onde se encontra). O delirium tremens é
um quadro grave e necessita de tratamento hospitalar.
Com frequência, após um delirium tremens, a pessoa desenvolve um
quadro caracterizado por esquecimento de fatos que ocorreram
recentemente. É denominado amnésia induzida pelo álcool ou síndrome
de Korsakoff.

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Tratamento
O tratamento do alcoolismo é bastante complexo e depende do tipo de
quadro que o paciente apresenta. Em termos genéricos, o primeiro passo
é evidentemente a conscientização do problema e a interrupção total do
uso de bebidas alcoólicas (abstinência). A chamada "desintoxicação" pode
ser feita em casa ou, em casos mais graves, em hospital, mas sempre sob
cuidado médico. Nesse período é feita também a avaliação e o tratamento
dos danos físicos e mentais decorrentes do álcool.
Após a recuperação inicial, segue-se a manutenção da abstinência. A
maioria dos trabalhos mostra que a abstinência deve ser total e completa.
Uma "bebidinha" de vez em quando abre caminho novamente para a
dependência na grande maioria dos casos. Assim é preciso muito esforço
e muito apoio para que a pessoa fique distante das bebidas alcoólicas e
de outros produtos que contem álcool.
Há alguns medicamentos que podem ajudar a manter a abstinência, os
quais devem ser prescritos e seu uso acompanhado pelo médico. O mais
conhecido deles é o dissulfiram. Este medicamento deve ser tomado
diariamente; ele provoca uma reação extremamente desagradável se a
pessoa que o está utilizando ingere mesmo pequenas quantidades de
álcool. Com isto cria-se uma aversão ao uso do álcool. Outros
medicamentos, entre eles o naltrexone, diminuem a vontade de beber e
podem contribuir na recuperação.

A psicoterapia desempenha papel fundamental na recuperação. Procurar


buscar com o paciente os motivos que o levam a beber e auxiliar na
resolução dos conflitos permitem a construção de uma personalidade
mais madura, capaz de lidar com as adversidades sem precisar se
refugiar na bebida.
Os grupos de autoajuda (Alcoólicos Anônimos e outros) também são
muito importantes na recuperação.

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AVISO LEGAL
Essa apostila foi produzida pela Sociedade Internacional de
Psicanálise de São Paulo.
O conteúdo desse PDF, é protegido por direitos autorais Lei nº
9.610 (Lei de Direitos Autorais ou LDA)

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