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ESIPP – ESTUDOS INTEGRADOS DE PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA

FRANCIELE MICHELON

Psicopatologia
Psicanalítica
FORMAS DE SER E SOFRER NA
CONTEMPORANEIDADE
Psicopatologia Psicanalítica

Nosso Cronograma
Aula 1: 04/01/2022 Apresentação, combinações.
Conceitos básicos de Psicopatologia e Psicanálise: O
paciente hoje - do que sofre?

Aula 2: 11/01/2022 Sofrimentos neuróticos

Aula 3: 18/01/2022 Sofrimentos não-neuróticos

Aula 4: 25/01/2022 Psicopatologia e atravessamentos: raciais, sociais e de


gênero.
Encerramento.
Curso de Férias ESIPP - Psicopatologia Psicanalítica
Franciele Michelon
Psicopatologia

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Franciele Michelon
Psicopatologia

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Franciele Michelon
O que é psicopatologia?

 A palavra psicopatologia, é composta por três palavras gregas:


- Psychê: psique, psiquismo, alma;
- Pathos: paixão, excesso, sofrimento;
- Logos: lógica, discurso, conhecimento.

 Psicopatologia seria, então, um discurso, um saber


sobre o sofrimento da mente.

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O que é psicopatologia?

Status
Grécia psicológico
Antiga: (XIX)
saber divino Exclusão (XVII)

Renascença Revolução Tratamento e


(XV) Francesa: eficácia
patologia
Exaltação X Moral médica
(XX)

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O que é psicopatologia?

E hoje? Como são os tratamentos?

 Como são os pacientes?

 De que sofrem? Como sofrem?


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Franciele Michelon
Nosso primeiro diagnóstico

 Conceito ampliado de saúde: é mais do que não ter doenças, diz


respeito ao bem estar social - direito à casa, trabalho e salário
dignos, alimentação, acesso à saúde, educação, informações,
uma vida segura (Sérgio Arouca).

 Então, nosso primeiro diagnóstico: Em que


país/estado/cidade/bairro/localidade essa pessoa vive/viveu?

 O ambiente também produz mais ou menos adoecimento.

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Estamira - documentário

 https://www.youtube.com/watch?v=-wHISEEXMh4&t=2s

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Estamira

 Estamira é uma mulher que sofre de transtornos mentais,


vive e trabalha, há mais de 20 anos, em um aterro sanitário.
Uma pessoa de olhar e expressão de quem já sofreu muito
ao longo da vida, que fala sozinha e ouve vozes.

 Sua história é marcada por violência e rupturas,


dentre elas: estupros, prostituição, traições vivenciadas em seus dois
casamentos, o distanciamento de sua filha mais nova, a
dependência alcoólica e o fato de ter morado na rua.
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Estamira

 “O delírio é a resposta possível à violência do sem-sentido; é


criação psíquica de um sentido para a experiência
emocional fora das significações oferecidas pela cultura”
(Minerbo, 2019, p. 25).

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Psicopatologia e Psicanálise

 A função e a importância da escuta: ouvir o outro nem sempre


é fácil; escutar do outro sobre o que nos é diferente ou muito
semelhante, escutar sobre a dor ou morte é, muitas vezes,
insuportável – “O infamiliar”, de Freud.

 Esse é o papel da psicanálise frente a psicopatologia: escutar


o sujeito em sua individualidade, mas também o que diz do
coletivo.

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Psicopatologia e Psicanálise

 Formas de sofrer ligadas a limitações, mais ou menos importantes


no uso do potencial e da criatividade psíquica, do acesso ao
prazer e da liberdade interna pra fazer escolhas verdadeiras e
significativas.

 Esta forma é diretamente ligada a cultura na qual cada


subjetividade se constitui e decorre de como cada um lê o mundo
e a si mesmo e como se organiza ou desorganiza a partir disso.

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Psicopatologia e Psicanálise

 Há dois caminhos para se abordar:

Como estrutura ou Como forma de


organização psíquica subjetividade: aqui
referida à há logo de saída a
metapsicologia:
presença do objeto
pulsões, angústia,
conflitos e como o enquanto outro que
ego organizou as pode facilitar ou
defesas são centrais. dificultar o processo
Curso de Férias ESIPP - Psicopatologia Psicanalítica de tornar-se sujeito.
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Psicopatologia e Psicanálise

 Ainda, podemos pensar em termos da constituição do


aparelho psíquico em dois eixos: narcísico e objetal.

 No neurótico, as principais dificuldades podem ser


encontradas no eixo objetal e nas estruturas não
neuróticas há mais problemas no eixo narcísico.

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Psicopatologia e Psicanálise

 E o que é um sintoma do ponto de vista psicanalítico?

 Na neurose, Freud oferece a definição de que é uma formação do


inconsciente produzida pelo retorno do recalcado. Mas o que foi
recalcado? Cenas da sexualidade infantil, resíduos e símbolos
mnêmicos de experiências traumáticas:

“Os histéricos sofrem de reminiscências”.

Freud (1914)

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Psicopatologia e Psicanálise

 No campo da não neurose, não cabe falar de retorno do


recalcado, pois as defesas utilizadas são outras e seu uso excessivo
causa mutilações no aparelho psíquico: limita, restringe e
empobrece a existência, marcada por sua repetição.

 Aqui estamos falando dos estados-limites, compulsões e adições,


distúrbios alimentares, patologias do vazio, do ato, somatizações,
perversões e psicose.

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Psicopatologia e Psicanálise

 Retornando ao documentário...Que realidade é essa?


As imagens aparecem como se fossem de um mundo
diferente, um mundo fora da realidade.

 Paisagens sem forma e sem contorno. Seria um retorno


do recalcado que se atualiza nas cenas do lixo?

 É o resto que retorna e que incomoda e o que nós


reconhecemos nesse resto como nosso?

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Psicopatologia e Psicanálise

 O método psicanalítico possibilitou descobrir a íntima relação entre


produtos patológicos e processos psíquicos da vida normal (sonho, lapsos,
chistes). Desse modo, a clínica psicanalítica anseia não apenas a
compreensão e tratamento do sujeito que padece, mas lidar com o mal-
estar que a vida na civilização impõe a todos.

 A teoria psicanalítica aponta que a diferença entre a vida psíquica das


pessoas ditas normais, dos neuróticos e dos psicóticos não é assim tão
demarcada.

Por que?

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Psicopatologia e Psicanálise

 Porque todos nós passamos pelas mesmas fases do desenvolvimento


psicossexual, todos nós precisamos lidar com as pulsões que, dentro de
nós, buscam a satisfação, cada um em seu ambiente.

 Autoerotismo – narcisismo – fase oral – fase anal – fase fálica


Complexo de Édipo – latência – genital.

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Psicopatologia e Psicanálise

 Além de reconhecermos o sintoma, é necessário identificar a


estrutura que determina o funcionamento do sujeito assim poderemos
supor o lugar e função do sintoma nessa trama.

 Ao contrário das diversas formas que o sintoma pode assumir, a


estrutura permanece constante. Então, o diagnóstico em psicanálise é
realizado baseado na estrutura do sujeito, e é essa identificação que vai
direcionar o tratamento.

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Estruturas Clínicas

 As estruturas em psicanálise, para Freud, organizam-se tendo


como marco o complexo de Édipo. Assim, as estruturas têm em
comum a frustração, a falta, o “NÃO”.

 Esquematicamente, podemos apontar três soluções diante da


angústia de castração e da dissolução do Édipo:

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Neurose, perversão e psicose – Freud

Neurose Perversão Psicose


Reconhece a castração. Reconhece e nega a Não reconhece a
Conflito entre id e ego: castração. castração.
O ego se mantém fiel ao A resolução do conflito se Conflito entre a realidade e
mundo externo e tenta dá desmentindo o que se o ego: o ego se deixa
controlar o id; vê. dominar pelo id e rompe
com o mundo externo;

Defesa: Recalcamento Defesa: Desmentida e Defesa: Recusa e Cisão.


Negação

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Estruturas em Freud

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Sofrimentos neuróticos

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Sofrimentos neuróticos

 O neurótico consegue entender que a realidade não se dobra ao


seu desejo e compreende também que, em muitos momentos ele
precisará adiar ou renunciar ao prazer. Ou ainda, buscar um
prazer alternativo. A realidade é fonte de conflito e sofrimento
para o neurótico, pois ele se vê obrigado a fazer renúncias e lutos.

 Processo secundário: Pulsionalidade ligada (afeto e


representação);

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Sofrimentos neuróticos

 Pulsões libidinais predominam sobre as agressivas;

 Predominam traços mnêmicos de gratificação;

 Triangulação/fantasias edípicas e interdição;

 Entende a complexidade do objeto “objeto


total”;

 Suporta conflitos, apesar da angústia.

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Sofrimentos neuróticos

 Principal angústia: de castração – perder o falo. Com isso, pode inclusive,


renunciar a própria potência e prazer possível;

 Em Inibição, sintoma e angústia (1926), Freud aponta que, da neurose


resultam diferentes negociações com a angústia de castração:

A inibição: elimina a O sintoma: elimina a


angústia pelo angústia por meio da
recalque excessivo realização parcial do
(resolve, mas a vida desejo, de forma
fica sem graça). indireta (resolve, mas
traz outro sofrimento).
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Sofrimentos neuróticos

 As inibições – forma de sofrimento mais característico da neurose -


aparecem com mais frequência na clínica (falar em público,
estudar, flertar, trabalhar, transar etc.). As tarefas se tornam
impossíveis porque o prazer que proporcionam está ligado a
fantasias sexuais / agressivas dirigidas às figuras edípicas, o que
produz angústia.

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Neuroses

 Como se dá a “escolha da neurose”? Por que uma pessoa adoece de


uma neurose e não de outra?

 O que ocorre na neurose é que o investimento pulsional nos objetos


edipianos produziu tanta angústia de castração que bloqueou o caminho
para a genitalidade e a pulsão é obrigada a regredir. Pra onde? Para os
pontos de fixação.
“Antes um prazer regredido do que nenhum prazer”.

Minerbo (2019)

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Neuroses

Autoerotismo Narcisismo Fase Oral Fase Anal Fase fálica

Complexo Edípico
Castração

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Neuroses: Histeria

 Fixação na fase fálica (+ edípico, pode ter características da fase oral, mais
imaturo);

 Intolerância a frustração, sedução, conversões, queixas e demandas


insaciáveis, dramaticidade, eternas vitimas, inconstância nas emoções.
Inibições sexuais;

 Existência de uma mãe que é próxima e ausente ao mesmo tempo e de um


pai frustrante e sedutor.

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Neuroses: Histeria

Para Freud:

Há o recalcamento, separa ideia e afeto

Pode haver o O afeto pode virar ansiedade


desaparecimento total do A ideia vai para o corpo:
afeto “la belle infiferance” conversão

Caso Dora (1905)

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Neuroses: Obsessiva

 Fixação na fase anal;

 Ambivalência e estado de dúvida (nunca sabe se vai agir por amor ou


por ódio), pensamento obsessivo: ruminação;

 Rigidez do superego;

 Pais obsessivos ou que se sentiram incapazes de criar um filho perfeito.

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Neuroses: Obsessiva

Para Freud:

Há o recalcamento, separa ideia e afeto

Recalca o afeto hostil: O afeto pode retornar em foram de


Formação reativa autorrecriminação

Caso Homem dos Ratos (1909)

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Neuroses: Fóbica

 Temor excessivo, presença de uma circunstância (objeto, local) bem


determinada; é a angústia de castração deslocada para outro objeto;

 Fobia da fobia: medo de sentir medo;

 Tem menos vivências/experiências porque vai se empobrecendo pelo


temor;

 Pode ter havido relação simbiótica com a mãe.

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Neuroses: Obsessiva

Para Freud:

Há o recalcamento, separa ideia e afeto

Recalca a ideia: desaparece O afeto vira medo


da consciência e troca o
objeto 2ª fase: fuga

Caso Pequeno Hans (1909)

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Não neuroses

Autoerotismo Narcisismo Fase Oral Fase Anal Fase fálica

Complexo Edípico
Castração

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Sofrimentos não neuróticos

 Maior problema no eixo narcísico, de constituição do eu. O processo


estancou em algum momento do processo de separação do objeto
primário;

 Objeto de necessidade e não tolera a complexidade deste (posição


esquizoparanóide – Klein, cisão;

 As pulsões se organizam em fantasias arcaicas em que a triangulação é


tão ameaçadora que não pode ser vivenciada.

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Sofrimentos não neuróticos

 Assim também apresenta falhas em perceber a realidade;

 Os traços mnêmicos são, ao mesmo tempo, bons e maus: a


gratificação veio misturada com a dor;

 Pulsionalidade não ligada: é descarregada no próprio eu, seja


psíquico ou corporal;

 Dificuldades na sublimação: atividades pseudossublimatórias.

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Sofrimentos não neuróticos

Não tolera a angústia e as principais são:

Angústia de aniquilamento, Angústia de separação ou


fragmentação e esvaziamento intrusão

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Sofrimentos não neuróticos

Exemplos de patologias não neuróticas:

 Psicoses, perversões, melancolia, estados-limites,


compulsões e adições, distúrbios alimentares,
patologias do vazio, do ato, somatizações, perversões
e psicose.

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 Psicoses: processo deteriorante das
funções do ego, a tal ponto que haja,
em graus variados, algum sério prejuízo
do contato com a realidade
(esquizofrenias, por exemplo);

Sofrimentos não  Borderline: pacientes fronteiriços,


neuróticos conservam um juízo crítico da
realidade, mas pode haver transtornos
em relação a própria identidade
(estranheza de si), ansiedade difusa e
sensação crônica de vazio, relações
caóticas e conturbadas, medo intenso
do abandono.

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 Perversão: autores freudianos afirmam
que o conceito deve designar
unicamente desvios da pulsão sexual
(sadismo, masoquismo, fetichismo,
voyerismo, pedofilia, incesto);

Sofrimentos não Outras linhas apontam outros desvios


neuróticos que não os unicamente sexuais, como:
- Perversões morais e sociais:
psicopatia, por exemplo;
- Perversões alimentares: bulimia,
anorexia.

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 Somatizações: o que não pode ser
colocado em palavras se manifesta no
corpo, mas, diferente da conversão na
histeria, não há uma sentido do
sintoma, um simbolismo, é uma
descarga pulsional no corpo;

Sofrimentos não  Melancolia: identificação com o objeto


perdido ou que abandona: “A sombra
neuróticos do objeto recai sobre o ego”; neurose
narcísica em que o luto pelas perdas
não pode ser elaborado, de maneira
que se instala uma repetição do
mesmo. Conflito entre o ego e o
superego.

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Sofrimentos não neuróticos

 O superego:

 Na neurose falamos mais do superego freudiano: herdeiro do complexo de édipo, se


identifica com o superego dos pais e com os preceitos da cultura. Inclui a formação de ideais
a serem atingidos pelo ego para merecer o amor do superego (o ideal de ego). No
neurótico, esse ideal é formado por representações possíveis.

 Já na não neurose, podemos supor um superego da teoria kleiniana, um superego mais


arcaico, que surge em torno dos 9 meses. Este se origina da interação do próprio sadismo da
criança e as falhas de continência e outras inadequações do objeto primário. No ideal de
ego não neurótico, há uma busca pela perfeição narcísica, condição para ser amado pelas
figuras parentais, que continua vida a fora.
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Sofrimentos não
neuróticos
 É possível agradar o superego
neurótico: é só renunciar àquilo que ele
condena. No entanto, não é possível
agradar o superego não neurótico, pois ele
condena a própria existência do sujeito;

 O superego edipiano é um chato e o


arcaico é um sádico e louco.

(Minerbo, 2019)

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Franciele Michelon
Sofrimentos não neuróticos

 Como saber na clínica se um material está ligado a conteúdos não


neuróticos?

- Dor psíquica, vergonha, humilhação, ódio a si mesmo ou ao objeto são


questões ligadas a sofrimentos mais narcísicos; de olho nas angústias
(medo de morrer ou de enlouquecer), depressões nas quais vive a si
mesmo como indigno de amor; mania na qual o sujeito vive a si mesmo
como ego ideal.

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Franciele Michelon
Tabela livro “Neurose e não neurose’,
Minerbo (2019)

NEUROSE NÃO NEUROSE


Eu bem constituído, funções egóicas Eu mal constituído e falha nas funções
também egóicas
Separação sujeito-objeto efetuada Separação não se completou
Angústia de castração Angústias de aniquilamento,
fragmentação, intrusão, separação
Racalque Cisão, negação, idealização, Id.
projetiva
Objeto erótico (diversos) Objeto de necessidade (único)
Pulsionalidade ligada - elaboração Pulsionalidade não ligada - atuações
Predomínio de pulsões libinais Pulsões agressivas
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Tabela livro “Neurose e não neurose’,
Minerbo (2019)

NEUROSE NÃO NEUROSE

Lógica depressiva Lógica esquizoparanóide


Relações triangulares Terceiro não é tolerado / relações duais
Simbolização, solidão bem tolerada Falhas
Inibições e angústia no campo do prazer e Adições, vazio, atuações, violência,
agressividade compulsões
Depressões neuróticas Depressões narcísicas

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Atravessamentos culturais

 Freud (1921) em Psicologia de grupo e análise do ego fala que o


contraste entre psicologia social/de grupo e individual perde nitidez
quando examinada de perto.

 Cada indivíduo partilha de numerosas mentes grupais – as de sua


raça, classe, credo, nacionalidade etc. Não é possível, portanto separar a
psicanálise das questões sociais e culturais.

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Franciele Michelon
Racismo

 Para Djamila Ribeiro (2019), ao falarmos de racismo, é preciso realizar um


debate estrutural, de acordo com a totalidade histórico-social que o
produz, demonstrando que a disparidade nas relações raciais nem
sempre é explícita. Ao contrário, o racismo apresenta-se
predominantemente de maneira invisível, e o seu caráter metamórfico faz
com que ele se desloque através dos diversos segmentos da sociedade,
impedindo de ser denunciado.

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Franciele Michelon
Racismo

 Silvio Almeida (2019)


compreende o racismo
estrutural como a reprodução
sistêmica de diferentes meios de
violência e opressão, incutidas
na organização social sob
forma de desigualdade política,
econômica, familiar e jurídica.

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Racismo

 Como seres humanos, lidamos com vários traumas advindos da


sexualidade, das fases do desenvolvimento psicossexual, mas para os
negros, o racismo e suas consequências somam-se a esses traumas.

 Na trama edípica do sujeito negro há ainda este quarto elemento, o


racismo. Além da força do desejo incestuoso e parricida, a família negra
carrega consigo a força dessa destrutividade que transcende a
intersubjetividade entre pais e filhos. Aqui, não se herdam apenas
características pessoais desses pais, mas também tudo que teve efeito
determinante sobre eles próprios, as exigências da situação social e as
tradições da raça que descendem.

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Franciele Michelon
Racismo

 O racismo está a serviço da mutilação das identidades negras, e da


superestimação das identidades brancas, elevando-as à posição de
ideal de ego, conforme Neusa Souza Santos (1983).

 Como se constrói o ideal de ego do negro? Dentro da perspectiva do


racismo estrutural, a autora aponta o quanto o ideal de ego do negro é
branco: modelo a ser seguido a partir dos valores da cultura - bem-
sucedido, bonito, inteligente, rico, poderoso - o branco se impõe como
ideal inalcançável, uma possibilidade impossível, a qual engendra no
negro uma ferida narcísica por não cumprir este ideal.

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Racismo

 Sendo assim, a pergunta é: o ideal do


ego tem cor?

 Sua majestade, o bebê é o bebê


Johnson, branco, loiro e de olhos azuis.

 Ser negro é um vir a ser, e o sujeito não


pode ser “Eu”, tendo sempre que ser
outro.

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Gênero

 https://www.youtube.com/watc
h?v=oApVL7p7cE8

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Gênero

 Freud parte já no início, nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, pelos
supostos desvios da sexualidade e isso sendo a regra, a regra é desviante. Neste ensaio,
Freud subverte os esquemas explicativos tradicionais ao afirmar que as perversões
cuidadosamente catalogadas assombram o espírito de todos os homens – inclusive
daqueles que as catalogaram – podendo ser observadas desde os primeiros anos da
infância: “a criança é um perverso polimorfo”.

 Freud rompe com o “estilo psiquiátrico de raciocínio”, ao sustentar que na disposição às


perversões encontramos o humano e o original, isto é, o núcleo mais profundo do sujeito:
[...] há sem dúvida algo inato na base das perversões, mas esse algo é inato em todos os
seres humanos (FREUD, 1905).

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Gênero

 Assim, ele contesta a opinião científica vigente de que as perversões e a


homossexualidade resultariam de uma degenerência e propõe buscar as
origens na primeira infância.

 Parte dos conceitos de pulsão sexual e libido e os seus objetos (quem / o


que) e o alvo sexual (meta / finalidade).

 Portanto, a pulsão se satisfaz de várias formas, porque na infância já foi


assim.

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Gênero

 A “escolha sexual” para Freud também é bastante complexa, pois


responde a dinâmicas inconscientes, que envolvem vários fatores, tais
como o caráter triangular da situação edípica, a bissexualidade
constitucional de cada indivíduo e a ambivalência inerente às
identificações.

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Gênero

 Temos, ainda, famílias nucleares, conflitivas edípicas e escolhas de objeto


organizadas pela família nuclear, mas não temos mais apenas isso.

 Hoje precisamos ir além, não mais patologizando e deslegitimando outras


configurações familiares para que possamos revisitar, repensar e elaborar
certos conceitos, diante de novos movimentos da clínica e da cultura. A
negação da sexualidade infantil faz com que o sujeito também negue a
capacidade de lidar com outras diferenças, que são as diferentes
posições em relação às sexualidades.

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LGBTQIAP+
Sigla
Lésbicas Mulheres cis ou trans, que sentem atração afetiva e/ou sexual por outras
mulheres cis ou trans
Gays Homens cis ou trans, que sentem atração afetiva e/ou sexual por outros homens,
cis ou trans
Bissexuais Pessoais cis ou trans que sentem atração afetiva e/ou sexual por mais de um
gênero
Transexuais, Identidade de gênero: se identificam com um gênero diferente do que lhes foi
travestis e designado no nascimento
transgêneros
Queer Pessoas que enxergam sua sexualidade e gênero dentro de um espectro vasto
de possibilidades
Intersexuais Pessoas cujo desenvolvimento sexual corporal não se encaixa na forma binária
Assexuais Pessoas que não sentem atração sexual por outras pessoas, mas podem sentir
atração afetiva
Pansexuais Atração sexual independente de identidade de gênero ou sexo
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Gênero

+: Engloba todas as demais


letras da sigla completa e Cisgênero: pessoa que se
ainda deixa espaços, o identifica com o gênero
que se faz necessário, pois que lhe foi designado ao
nem todas as pessoas se nascer.
encaixam nesses conceitos.

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Filmes e Livros Utilizados nas aulas

 Documentário Estamira
 Filme O Fabuloso destino de Amelie Poulain
 Livro Uma duas – Eliane Brum
 Livro O avesso da Pele - Jeferson Tenório

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Referências

 Almeida, S. (2019). Racismo estrutural. São Paulo: Pólen.

 Castiel, S. V. (2016). De qual sexualidade falamos? In M. M. K. Macedo & Colaboradores (Eds.). Neurose: leituras psicanalíticas (pp. 73-82). Porto
Alegre, Brasil: ediPUCRS.

 Ceccarelli, P. R. (2017). Psicanálise, sexo e gênero. Estudos de psicanálise, 48, p. 135-146.

 Dockhorne, C. N. B. F., Macedo, M. K. M. (2016). Pulsão: entrelaçamentos entre sujeito, vida e morte. In M. M. K. Macedo & Colaboradores
(Eds.). Neurose: leituras psicanalíticas (pp. 83-112). Porto Alegre, Brasil: ediPUCRS.

 Freud, S. (1996). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7, pp.117-231). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. (Original publicado em 1905).

 Freud, S. (1996). Neurose e psicose (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud (Vol. 19, pp.167-173). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. (Original publicado em 1924).

 Freud, S. (1996). A perda da realidade na neurose e psicose (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp.205-211). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. (Original publicado em 1924).

Curso de Férias ESIPP - Psicopatologia Psicanalítica


Franciele Michelon
Referências

 Freud, S. (1996). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 12, pp.233-244). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. (Original
publicado em 1911).

 Freud, S. (1996). Sobre o narcisismo: uma introdução (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 14, pp.75-108). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. (Original publicado em 1914).

 Freud, S. (1996). Repressão (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud (Vol. 14, pp.145-162). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. (Original publicado em 1915a).

 Freud, S. (1996). Os instintos e suas vicissitudes (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 14, pp.115-144). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. (Original publicado em 1915b).

 Freud, S. (1996). Inibição, sintoma e angústia (J. Salomão, Trad.). In J. Salomão (Ed.), Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp.205-211). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. (Original publicado em 1926).

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Franciele Michelon
Referências

 Juhas, T. R., Santos, N. O. (2011). Ainda em cartaz, “Estamira”: a psicanálise nas telas do cinema. Estudos de Psicanálise, 36, 157-164.

 Klein, M. (1991). Notas sobre alguns mecanismos esquizóides. In. E. M. Rocha, L. P. Chaves & Colaboradores (Eds), Inveja e Gratidão
e outros trabalhos (Vol. 3, pp. 17-43), Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1946).

 Minerbo, M. (2019). Neurose e não neurose. São Paulo, Brasil, Editora Blucher.

 Paim Filho, I. A. (2021) Racismo: por uma psicanálise aplicada. Porto Alegre: Artes e ecos.

 Ribeiro, D. (2019). Pequeno manual antirracista. São Paulo: Cia das Letras.

 Santos, N. (1983) Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Eitora Zahar.

 Zimerman, D. (1999). Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre, Brasil: Artmed.

 Zimerman, D. (2004). Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre, Brasil: Artmed.

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Franciele Michelon
ESIPP – Estudos integrados de Psicoterapia Psicanalítica
Fone: 51 99191-2190

Franciele Michelon
Psicóloga (CRP 07/23460), Psicoterapeuta Psicanalítica,
Membro efetivo do ESIPP
Fone: 51 98051-0141

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