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INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS


INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

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Núcleo de Educação a Distância
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO


Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu-
ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
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importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-


rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professora: Carine Metz


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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

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Esta unidade analisará os principais conceitos que são utiliza-
dos na Psicanálise. São apresentados fundamentos relacionados à me-
tapsicologia a partir das obras de Sigmund Freud. Objetivou-se, neste
estudo, investigar o contexto que materializa a origem da formação do
aparelho psíquico, suas transformações e repercussões teóricas diante
da construção de um modelo teórico capaz de compreender o fenôme-
no onírico enquanto um fenômeno do inconsciente. A pesquisa realiza-
da possui um caráter bibliográfico com revisão sistemática da literatu-
ra, principalmente das obras de Freud. Os resultados visam elucidar o
entendimento do aparelho psíquico, o sofrimento do sujeito e de que
maneira ocorre a construção da psicose, da neurose e da perversão.
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

Psicanálise. Freud. Aparelho Psíquico.

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Apresentação do Módulo ______________________________________ 10

CAPÍTULO 01
CONCEITOS E ORIGEM DA PSICANÁLISE

A Teoria Psicanalítica Freudiana _______________________________ 11

Introdução aos Fundamentos da Psicanálise ____________________ 14

Recapitulando ________________________________________________ 27

CAPÍTULO 02
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS E MECANISMO DE DEFESA

A Interpretação dos Sonhos ____________________________________ 34

Recapitulando _________________________________________________ 48

CAPÍTULO 03
A CULTURA – PSICOSE, NEUROSE E PERVERSÃO
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

Psicanálise, Cultura e Civilização ______________________________ 53

Estruturas Clínicas _____________________________________________ 55

Recapitulando __________________________________________________ 68

Fechando a Unidade ____________________________________________ 72

Referências _____________________________________________________ 75

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Freud desenvolveu a teoria do inconsciente que é constituída
por desejos e pulsões, ou seja, são conteúdos reprimidos pelo sujeito. É
possível afirmar que um dos momentos mais marcantes da Psicanálise,
é a elaboração das teorias do aparelho psíquico. São elas que fornecem
a possibilidade de entendimento dos modos de manifestação do conflito
e também desempenham uma associação de representações. Trata-se
da tentativa de situar, na discussão da teoria psicanalítica, o fato de que
não se trata apenas de interpretar o funcionamento psíquico do sujeito,
mas, sim, aquilo que é reprimido, recordado, elaborado e repetido.
Diante das relações estabelecidas entre os processos de ordem
primária e secundária, Freud desenvolve em sua obra sobre os sonhos
a ideia de que, durante a atividade onírica, as excitações circulam pelo
aparelho psíquico em sentido "regressivo”, ou seja, ela seria responsável
pelo registro dos traços da memória no interior do aparelho psíquico.
Nessa lógica, num primeiro momento, será falado sobre o fun-
cionamento do inconsciente, cujos conteúdos só podem ser alcançados
pela consciência, por ser submetido às censuras e transformações im-
postas pelos sistemas pré-consciente e consciente.
A concepção de inconsciente adquire sentido no que escapa e
falha aos humanos, seres de linguagem, isso porque o inconsciente é
um conceito forjado e se apresenta naquilo que invalida a sequência ló-
gica dos pensamentos cotidianos como mensagens cifradas contrárias
à intenção do indivíduo.
É importante refletir que a Psicanálise, apesar de derivar da
ciência, propõe uma ruptura com as determinações científicas e estabe-
lece sua especificidade, uma epistemologia particular, própria da experi-
ência analítica, que é tão válida e importante quanto a ciência empírica.
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CONCEITOS E ORIGEM DA
PSICANÁLISE

PROMINAS
A TEORIA PSICANALÍTICA FREUDIANA PROMINAS
- GRUPO

Sigmund Schlomo Freud nasceu em 06 de maio de 1856, na


- GRUPO

pequena cidade de Freiberg, seu pai era comerciante de lã e já tinha


À PSICANÁLISE

dois filhos do primeiro casamento. De uma nova união nasceram sete


À PSICANÁLISE

filhos, sendo Freud o mais velho dos irmãos. Quando tinha dois anos, a
família decidiu se mudar para Lípsia, na Alemanha, e em seguida para
INTRODUÇÃO

Viena, por causa dos problemas financeiros.


INTRODUÇÃO

Desde criança, Freud recebia dos pais “atenção especial” em


relação aos seus irmãos. Ele sempre foi muito estudioso, tirava excelen-
tes notas, estudava línguas estrangeiras por conta própria e sua mãe o
chamava de “meu Sig de ouro”.
Aos 17 anos, Freud ingressou no curso de Medicina da Univer-
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sidade de Viena. Foi aluno de destaque durante os anos de faculdade e
trabalhou num laboratório de neurofisiologia que era dirigido por Ernest
Brucke.
A curiosidade de Brucke não foi simplesmente em descobrir as
estruturas dos órgãos ou células particulares, mas, sim, a importância das
funções. Mediante grande interesse pelas descobertas, Freud teve o de-
sejo pelo estudo da anatomia e histologia do cérebro humano. Através da
influência de Brucke, ele recebeu uma bolsa para estudar em outro país.
Neste desafio, passou a trabalhar com Charcot, um psiquiatra
francês e diretor de hospício que realizava tratamento para as histerias.
Ele fazia sessões de hipnose abertas a outros estudiosos, nas quais
eram provocados os sintomas dos pacientes. Ele utilizava a hipnose
para acessar o inconsciente, cujas emoções e lembranças não podiam
ser acessadas pelo consciente.
O conhecimento dos sintomas histéricos apresentava um cor-
po do paciente ocupando um lugar de agente do discurso (JUNIOR,
2009). A histeria era vista pela medicina como algo inexplicável. Tal di-
ficuldade decorria da inviabilidade de obtenção de uma resposta que
justificasse sua causa. Freud considera que o sujeito histérico buscava
escapar continuamente do mundo real sendo, muitas vezes, sustentado
pela fantasia do imaginário.
Os sintomas da histeria eram descritos como semelhantes aos
da gagueira, tiques faciais, certa rigidez pelo corpo ou também situações
de desmaios, amnésias, incapacidade de engolir e dormência. Surgindo,
em alguns casos, sintomas de extrema ansiedade, em que a pessoa não
conseguia controlar as emoções ou ações e comportamentos. Contudo, os
exames médicos não conseguiam localizar a causa orgânica dos sintomas
e, por vezes, acusavam bruscamente os pacientes de estarem “fingindo”.
Freud formou-se em 1881 e em seguida estudou Psiquiatria;
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mas, ao terminar o curso, não estava satisfeito com os conhecimentos


que adquiriu durante a graduação para esclarecimento das dúvidas que
tinha sobre o funcionamento da mente humana. Ingressou como aspi-
rante no Hospital Geral, onde foi promovido a médico interno. Nessa
época, trabalhou com Meynert em diversos departamentos e também
se dedicou à pesquisa científica, realizando estudos sobre os efeitos
terapêuticos da cocaína. No período em que esteve trabalhando como
médico auxiliar, Freud publicou várias observações referentes às enfer-
midades orgânicas do sistema nervoso.
Em 1886, Freud retornou para Viena e seu principal instrumen-
to de trabalho foi a hipnose. As observações sobre os usos terapêuticos
dessa técnica convenceram de que havia o envolvimento do incons-
ciente. Ele a usava como explicação que a dor poderia estar associada
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a um excesso de excitação nervosa e o prazer poderia ser visto como
um resultado da descarga dessa excitação.
Foi com as discussões dos casos clínicos com Breuer que sur-
giram as ideias para a publicação dos primeiros artigos sobre a psicaná-
lise. Juntos, eles escreveram sobre o mecanismo psíquico dos fenôme-
nos histéricos (1893) e publicaram estudos sobre a histeria (1895), onde
relatam a prática da autohipnose. Dentro das várias obras publicadas,
uma paciente se destacaria e entraria para a história: o caso de Anna O.
Nesse caso, ela apresentava vários sintomas clássicos da his-
teria como: paralisia com contratura muscular, inibições e dificuldades
de pensamento. A sintomatologia iniciou-se num período em que cuida-
va do seu pai que estava enfermo. Em seu estado de vigília, Anna não
era capaz de indicar a origem dos sintomas, mas, através da hipnose,
ela relatava cada um deles. Breuer apresentou como hipótese que as
vivências estariam ligadas ao passado.
O método de tratamento consistia na chamada "cura pela fala"
ou "cura catártica". Tal movimento foi denominado como método catárti-
co, um tratamento que possibilita a liberação dos afetos e emoções que
estão ligados aos acontecimentos traumáticos que, de alguma maneira,
não foram enunciados durante o momento da vivência desagradável.
Essa técnica submetia os pacientes a um procedimento tera-
pêutico, permitindo ao sujeito evocar e até reviver os acontecimentos
traumáticos e realizar uma descarga emocional dos afetos que estariam
ligados ao trauma. Freud começa a reformular outras hipóteses do en-
tendimento para o tratamento das histerias.

No início de sua experimentação, o método catártico estava estreitamente


ligado à hipnose. O hipnotismo, no entanto, deixou de ser usado por Freud
como processo destinado a provocar diretamente a supressão do sintoma
e passou a ser utilizado para induzir a rememoração. Por meio do método INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

catártico, percebeu a possibilidade de reintroduzir no campo da consciência


experiências subjacentes aos sintomas e deu início às suas investigações
psicanalíticas (BURSZTYN, 2008, p. 2).

Inicialmente, os médicos desprezavam as interpretações pu-


ramente psicológicas e desqualificavam qualquer outra tentativa de tra-
tamento. Muitos acreditavam que todo e qualquer distúrbio psíquico só
poderia ser satisfatoriamente descrito a partir de fatos anatomofisiológi-
cos, não havendo espaço para qualquer explicação de tipo psicológico.
Nessa perspectiva, a medicina não levava a sério os distúrbios mentais
que os pacientes de hospitais e clínicas psiquiátricas apresentavam.
Também não acreditavam na ideia de que, conversando com o
paciente, era possível alcançar algum equilíbrio. Nesse contexto, Freud
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revolucionou a ciência e criou uma teoria que impactou a sociedade. A
partir das descobertas sobre o psiquismo humano, ele inaugura um cam-
po epistêmico para possibilitar o entendimento dos sintomas no sujeito.
Freud iniciou sua prática na clínica atendendo pessoas que so-
friam de histeria, investigou o psiquismo e descobriu que a maioria dos
problemas acontecia através de situações reprimidas do inconsciente.
A partir de suas pesquisas surge a Psicanálise, uma teoria desenvolvida
através da dimensão de tornar consciente o inconsciente que é regido
pela simbolização. A Psicanálise caracteriza-se pela interpretação, bus-
cando o significado oculto daquilo que é manifesto por meio de ações,
palavras ou situações imaginárias.
A história da Psicanálise está relacionada ao surgimento da
nova ciência, dotada de recursos próprios para analisar a mente hu-
mana. Naquela época, as pessoas com transtornos psicológicos, eram
classificadas como loucas, um modo rápido de relegar ou repensar um
tratamento. Contudo, a história da psicanálise traz como evidência o
quanto a cultura da medicina estava totalmente equivocada.

INTRODUÇÃO AOS FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE

A psicanálise tem como premissa o estudo da mente e dos seus


processos que estão além das questões biológicas e fisiológicas. Ela é
um método utilizado na psicoterapia para trabalhar questões da persona-
lidade do sujeito em relação a emoções e comportamentos, ou seja, são
explorados os impulsos que estão escondidos no inconsciente.
A história da psicanálise está relacionada com a figura de seu
precursor, Sigmund Freud (1856-1939). De acordo com Freud, grande
parte das questões psíquicas estão no inconsciente.
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Quando, em nossa primeira entrevista, eu perguntava a meus pacientes se re-


cordavam do que tinha originalmente ocasionado a o sintoma em questão, em
alguns casos eles diziam não saber nada a esse respeito, enquanto, em outros,
traziam à baila algo que descreviam como uma lembrança obscura e não con-
seguiam prosseguir. Eu me tornava insistente – quando lhes asseguravam que
eles efetivamente sabiam, que aquilo lhes viria a mente – então, nos primeiros
casos, algo de fato lhes ocorria, e nos outros a lembrança avançava mais um
pouco. Depois disso eu ficava ainda mais insistente: dizia aos pacientes que se
deitassem e fechassem deliberadamente os olhos a fim de se “concentrarem”
– o que tinha pelo menos alguma semelhança a hipnose. Verifiquei então que,
sem nenhuma hipnose, surgiram novas lembranças que recuavam ainda mais
no passado e que provavelmente se relacionavam com nosso tema. Experiên-
cias como essas me fizeram pensar que seria de fato possível trazer à luz, por
mera insistência, os grupos patogênicos, de representações que, afinal de con-

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tas, por certo estavam presentes. (FREUD,1996 (1900), p. 282).

Todos os desejos, lembranças e instintos reprimidos estariam


no inconsciente e, através do método da associação, o psicólogo, con-
seguiria analisar e encontrar os motivos de determinadas neuroses ou
a explicação de certos comportamentos. O trabalho da psicanálise é
tornar consciente esses traços da memória e reviver as emoções que
foram dissociadas desses aspectos remotos.
Em 1896, foi utilizado pela primeira vez o termo “psicanálise”, ten-
do como fragmento o discurso do sujeito para captar os conteúdos latentes,
observando os significados e as implicações presentes na fala do pacien-
te. Por outro lado, Freud conceitua o campo da Psicanálise defendendo a
importância de novas observações e eventuais mudanças, tanto na teoria
quanto na técnica. A psicanálise é o nome utilizado para a investigação dos
processos mentais, que muitas vezes são inacessíveis. Trata-se de um
método para auxiliar o sujeito a decifrar, a alcançar autoconhecimento ou
até mesmo a resolver questões que estão lhe trazendo sofrimento.

O termo “psicanálise”, por sua vez, alude unicamente àquela modalidade


de tratamento que se restringe aos referenciais e fundamentos da ciência
psicanalítica tal como ela foi legada por Freud, isto é, o terapeuta trabalha
essencialmente com a noção dos princípios e leis que regem o inconsciente
dinâmico, e a prática clínica conserva uma obediência aos requisitos psi-
canalíticos básicos, tais como a instituição e a manutenção de um setting
adequado, uma atenção prioritária na existência de um campo analítico, com
as respectivas resistências, transferências, contratransferência, além de uma
continuada atividade interpretativa (ZIMERMAN, 1999, p.32).

Grande parte das publicações das obras do método psicanalí-


tico foi baseada nas experiências pessoais de Freud. O termo “psicaná-
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lise” se refere a uma teoria diante da prática de um profissional, carac-
terizada por um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento da
vida psíquica e a interpretação do conteúdo que está oculto.
A psicanálise é uma técnica aplicada pelo analista que utiliza
como instrumento sua atenção na fala do sujeito. Através da fala, ocor-
re a exploração do inconsciente, visto que, é dessa maneira que será
interpretado o conteúdo verbalizado. Todo sentimento reprimido está
ligado às vivências traumáticas do passado e, por meio da fala, temos a
oportunidade de nos conectarmos com as lembranças recalcadas que
produzem os sintomas. O sujeito recordará, repetirá e elaborará até o
momento em que se apropriará da verdade de seu desejo e da capaci-
dade de exprimi-lo (FREUD, 1915/1996).
De acordo com o pai da Psicanálise, a atenção flutuante seria
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uma definição da associação livre. O psicanalista que mantém uma es-
cuta flutuante também deixa seu inconsciente associar livremente e não
realiza tentativas de selecionar trechos do discurso do sujeito. Ele soli-
cita que seja falado tudo, mesmo que sejam pensamentos irrelevantes
ou sem sentido. Freud refere-se que,

Assim como o paciente deve relatar tudo o que sua auto-observação possa
detectar, e impedir todas as objeções lógicas e afetivas que procuram indu-
zi-lo a fazer uma seleção dentre elas, também o médico deve colocar-se em
posição de fazer uso de tudo o que lhe o que lhe é dito para fins de interpre-
tação e identificar o material inconsciente oculto, sem substituir sua própria
censura pela seleção de que o paciente abriu mão. Para melhor formulá-lo:
ele deve voltar seu próprio inconsciente, como um órgão receptor, na direção
do inconsciente transmissor do paciente (1996 (1900), p. 129).

A associação livre tem como finalidade fazer com que o pacien-


te fale qualquer conteúdo, com ou sem sentido, mesmo que de natureza
constrangedora. Freud estabeleceu uma das maneiras como o sujeito
deveria se comunicar, como também definiu a forma como o terapeuta
deveria conduzir a escuta.
À medida que avança em suas formulações teóricas, Freud foi
reconstruindo e modificando as concepções técnicas, de forma a ga-
rantir a validade da Psicanálise como método terapêutico. Outro ponto
importante seria a Psicanálise ter como conceito a noção do aparelho
psíquico, cujas operações constitutivas são regidas por certas leis que
devem valer para todos os sujeitos.
A concepção freudiana do aparelho psíquico se distingue de
qualquer outro por conter duas características. Em primeiro lugar, de-
vido ao destaque dado ao registro de memória – a memória é incons-
ciente – e, em segundo lugar, porque concebeu o aparato psíquico se
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formando na frente de outro aparelho. Em 1900, esse aparato é consti-


tuído por sistemas pré-conscientes, conscientes e inconscientes.
Outra observação importante diz respeito ao seu funcionamen-
to. Para esse aparelho funcionar, é preciso algo mais: articulando os
três aparelhos (neural, linguagem e memória), Freud forjou o aparelho
psíquico como um aparelho de excitação retardada (drives) que o afe-
tam (de dentro e fora). Essas excitações capturadas seriam vistas como
traços mnêmicos, a fim de evitar que a descarga seja realizada de forma
direta. Nessa perspectiva, seria um aparato que carrega uma realidade
psíquica – a realidade do inconsciente – e que opera na relação com
outro aparelho, tendo por função a busca da satisfação.
O aparelho psíquico se define como uma organização psíquica
dividida em instâncias. Essas instâncias ou sistemas estão interligadas
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entre si, mas possuem funções distintas. A partir desse conceito, Freud
apresentou dois modelos: a divisão topográfica e a divisão estrutural da
mente. Segundo Laplanche & Pontalis (2001), a hipótese de aparelho
psíquico seria uma expressão que ressalta as características da teoria
freudiana atribuída à psique.
A partir da conjunção desses fatores, Freud realizou uma di-
visão do aparelho psíquico em três aspectos: o tópico, o dinâmico e o
econômico. Freud define especificamente metapsicologia como a defi-
nição do psiquismo sob estas três dimensões, que levam em considera-
ção as diferentes forças que nele circulam.

Ponto de Vista Tópico, Dinâmico e Econômico

O ponto de vista tópico permite conhecer o funcionamento


psíquico supondo lugares metafóricos. Conforme Laplanche e Pontalis
(2001), a diferenciação do aparelho psíquico ocorre em instâncias ou
sistemas dotados de especificidades particulares que estão relaciona-
das a uma determinada ordem.
Já o ponto de vista dinâmico, teria ligação com a compreen-
são do anímico pelo viés do movimento, se baseando na ideia de que
a mente, com diferentes forças que a atravessam, é a sede do conflito
entre eles. Para diminuir ou eliminar o desprazer ocasionado por esses
conflitos, o aparelho mental utiliza diversos mecanismos, sendo a re-
pressão o protótipo. Por meio da repressão, o aparelho mental muda a
localização topográfica dos representantes ideativos dos instintos. As-
sim, ele se protege dos aspectos dolorosos ou desagradáveis de seus
desejos conflitantes. A análise da dinâmica de como os conflitos men-
tais são processados é, portanto, um componente essencial na prática
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
da psicanálise e da metapsicologia, que tenta descrevê-los.
O ponto de vista econômico, considera os processos psíquicos
pelo viés da circulação e distribuição da energia de origem pulsional em
termos de mobilidade e nas variações de intensidade. Essas forças pri-
márias podem se opor umas às outras, combinarem-se e formar alianças
complexas entre si. Elas são tentativas das descrições dessas interações
de forças e suas variações nas intensidades. Freud entende esta perspec-
tiva econômica como a “que visa acompanhar o destino das quantidades
de excitação e busca, ao menos aproximadamente, estimar as magnitudes
dessas quantidades” (2006 [1915], p. 32). E acrescenta: “ao abordarmos
os processos psíquicos levando em conta seu desencadeamento, bem
como os acúmulos e diminuição de tensão, estamos introduzindo em nos-
so trabalho um ponto de vista econômico” (Freud, 2006 [1920], p. 135). Ele
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creditava na relação entre os aspectos econômico, tópico e dinâmico.

A Primeira Tópica do Aparelho Psíquico

Em 1900, no livro “A interpretação dos sonhos”, é apresentada


a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento da persona-
lidade. Freud formula a concepção de aparelho psíquico seguindo uma
topografia constituída por lugares que são representações metafóricas,
empregando a primeira formulação teórica do aparelho psíquico, de-
nominada primeira tópica, cuja elaboração se utilizou vastamente de
seus conhecimentos adquiridos sobre as neuroses. Trata-se de uma
descrição tópica fundamentalmente sistemática, na qual os sistemas
são chamados de inconsciente, pré-consciente e consciente.
Inicialmente, apresentam-se duas hipóteses sobre o incons-
ciente: na primeira, Freud tenta evidenciar que ele é indispensável para
o avanço da investigação psicológica; já na segunda, mostra a impor-
tância de adotar um método de inferência para que seja realizada a
interpretação. Mediante as relações estabelecidas entre os processos
de ordem primária e secundária, coloca que as excitações circulam pelo
aparelho psíquico, propondo a existência de uma ação regressiva res-
ponsável pelo registro dos traços em seu interior.

Temos tratado os processos psíquicos como algo que possa prescindir do


conhecimento dado pela consciência, existindo independentemente de tal
consciência (...). Se não nos deixarmos desconcertar por tal fato, segue-se
desse pressuposto que a consciência não proporciona nem conhecimento
completo, nem seguro dos processos neurônicos; cabe considerá-los em pri-
meiro lugar e em toda a extensão como inconscientes e cabe inferi-los como
as outras coisas naturais (FREUD, 1996 (1900), p. 187).
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

O funcionamento psíquico do inconsciente tem como tarefa ar-


mazenar os instintos e desejos. São elementos que, ao serem trazidos
para a consciência, provocam grande descarga emocional. Os desejos
inconscientes tendem-se a uma realização, restabelecendo os sinais
ligados às primeiras vivências de satisfação, através do processo pri-
mário (LAPLANCHE & PONTALIS, 2001).
O acesso ao inconsciente é constituído por forças da resistên-
cia, exigindo por parte do terapeuta, certo esforço para neutralizá-las.
Através da hipnose, permitia-se que o sujeito colocasse, em palavras,
certo número de lembranças esquecidas associadas ao sintoma. Sa-
bemos hoje que os resultados terapêuticos alcançados por meio de
métodos sugestivos não atingem certos objetivos, tornando o desejo
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inconsciente ainda mais inacessível.
De certa maneira, podemos pensar que o inconsciente é regido
pela simbolização. Outro trabalho importante que o inconsciente exerce é
o do recalque, que consiste numa defesa em reprimir a ideia para o aces-
so da consciência. Para Freud, as representações que estão recalcadas
serão manifestadas e determinadas pelo inconsciente através dos sonhos,
atos falhos, erros involuntários ao escrever ou falar e através dos sintomas.
É importante ressaltar que, além do inconsciente como objeto
da psicanálise, os conceitos de pulsão e de corpo erógeno elabora-
dos por Freud romperam com o dualismo cartesiano de corpo e mente,
e evidenciaram a primazia da organização sexual na história psíquica
do sujeito. Foi a importante descoberta do pacto entre histeria e sexu-
alidade o ponto de partida da investigação freudiana. A revelação de
fantasias inconscientes carregadas de pulsão cria um campo inédito da
experiência psíquica considerada em sua individualidade.

Esta concepção de sujeito, fundada no sentido e na história, foi a condição de


possibilidade para a construção do conceito de inconsciente. Pela mediação
deste conceito, pôde-se sustentar não apenas a significação completa dos
sintomas neuróticos, como também se deslocou o registro psíquico no qual a
indagação do sentido se realizaria. Com efeito, a pesquisa freudiana passou
a centrar a busca da significação no registro da linguagem e não no registro
da consciência, ou seja, o sentido dos sintomas estaria ausente do campo
da consciência, mas se inscreveria no psiquismo inconsciente e se revelaria
pela fala. (BIRMAN, 1994, p.34).

Representa uma estrutura com influência direta das pulsões e dos


instintos, tendo a função de manter as memórias que, por algum motivo,
estariam “apagadas” da consciência. O inconsciente é algo amplo, às ve-
zes confuso e misterioso, envolvendo o mundo dos sonhos e da realidade. INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
Freud postula que uma barreira de recalque é o elemento estrutural que
mantém retidas no inconsciente ideias e representações. Assim, uma das
importantes funções seria justamente a de manter o equilíbrio psíquico. Os
sintomas neuróticos seriam, dessa forma, resultantes do aparecimento ou
retorno do material recalcado mediante outras representações.
A atividade inconsciente, se encarrega de tudo o que fazemos
sem esforço perceptível, como andar na rua ou escovar os dentes. Por
causa disso, o aparelho psíquico comporta-se de forma ativa, sendo
capaz de exercer os efeitos sobre a consciência. É nesses termos que
Freud apresenta o inconsciente, compreendendo que a elaboração im-
plica modificações que ocultam o desejo realizado no sonho e altera-
ções mediante uma determinada realidade objetiva. Um conceito utiliza-
do para a compreensão dos comportamentos e emoções ocasionados
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ao longo da vida, muitas vezes, reunindo todos os conteúdos traumáti-
cos e os transformando em mecanismos de defesa.
Diante dessa lógica, o inconsciente é a parte mais arcaica do
aparelho psíquico. Segundo Freud, encontramos nele os elementos que
não são acessíveis à consciência. Além disso, ele funciona como um
depósito de repressões secundárias, que emergem ao consciente atra-
vés dos sonhos.
A noção de consciência é o processamento da experiência dos
estímulos cotidianos externos que são recebidos pelo organismo. Al-
guns fenômenos não poderiam estar situados somente no plano cons-
ciente. Podemos descrevê-la como alguma coisa transitória, incapaz
para si mesma de reter dados ou manter foco por muito tempo. Esses
processos seriam também direcionados a um próximo nível intermediá-
rio, denominado pré-consciente.
Todavia, a consciência é uma coisa restrita dentro do psiquis-
mo, funcionando de maneira coerente e admitindo apenas recortes da
efetividade. A experiência psicanalítica mostra a Freud que o recalque
surge depois da separação entre a atividade consciente e inconsciente
em repelir algo reprimido.

Temos sido obrigados a aceitar que existem processos ou representações


psíquicas de grande energia que, sem chegar a ser conscientes, podem pro-
vocar na vida psíquica as mais diversas consequências, algumas das quais
chegam a se fazer conscientes como novas representações. Nesse ponto
começa a teoria psicanalítica, afirmando que tais representações não podem
chegar a ser conscientes, por se opor a isso certa força, sem a qual adquiri-
ram completa consciência (FREUD, 1996 (1900), p.284).

O sistema consciente tem a função de receber informações pro-


venientes das excitações oriundas do exterior e do interior, que ficam
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

registradas qualitativamente de acordo com o prazer e/ou desprazer que


elas causam; porém, ele não retém esses registros e representações
como depósito ou arquivo deles. Segundo Freud, é no consciente que
possuímos a capacidade de perceber e controlar o conteúdo mental.

A consciência, que tem para nós o sentido de um órgão sensorial para a


apreensão de qualidades psíquicas, é excitável, no estado de vigília, a partir
de dois lugares. A partir da periferia do aparelho global, do sistema da per-
cepção, em primeira linha; e em seguida, a partir das excitações de prazer
e desprazer..., mas... a consciência... tornou-se também um órgão sensorial
para uma parte de nossos processos do pensamento. Há... duas superfícies
sensoriais, uma do perceber, a outra voltada para os processos de pensa-
mento pré-conscientes (Freud, 1996 (1900), p. 547).

20
Mas o truque é que o subconsciente não consegue distinguir
entre o que a mente consciente imagina e aquilo que é real, então tudo
o que é trazido pela imaginação consciente e focado intensamente tam-
bém traz à tona todas as emoções e os sentimentos que estão associa-
dos às imagens já construídas na nossa mente.
Já no pré-consciente, é exercida uma espécie de filtragem das
informações, isso caracteriza que os dados que chegam ali não perma-
necem nesse lugar. Podemos compreender que há uma função rela-
cionada ao controle que fica retido no inconsciente, funcionando como
uma espécie de filtro que transita de um nível para outro (do consciente
para o inconsciente e do inconsciente para o consciente).
Também chamado de “subconsciente” (mas, é importante des-
tacar que Freud não utilizava esse termo), o pré-consciente se refere
àqueles conteúdos que podem facilmente chegar ao consciente, mas
que lá não permanecem. São, principalmente, informações sobre as
quais não pensamos constantemente, mas que são necessárias para
que o consciente realize suas funções.
Uma característica é que as informações que chegam ali não
permanecem nesse lugar. Os processos pré-conscientes, nesse sentido,
não fazem parte da consciência, mas estão ligados ao inconsciente, ou
seja, estamos diante de algo que também é caracterizado pelo contro-
le do movimento voluntário e governado pelos processos secundários.
Freud afirmava que o inconsciente possuía uma centralidade na vida das
pessoas e que, embora não pudesse ser diretamente reconhecido, guia
não apenas o mundo dos sonhos, mas também a vida no presente.
Freud refere que o pré-consciente possui acesso direto e imediato
à consciência, desde que dotado de intensidade suficiente e beneficiado
com certa cota de atenção. Ele funciona como uma espécie de “filtro/pe-
neira” que seleciona o que pode e o que não pode atravessar no sentido INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
do inconsciente para o consciente. Além do mais, o sistema pré-consciente
também funciona como um pequeno arquivo de registros, cabendo-lhe se-
diar a função de conter as representações de palavra (1996/1900).
Além disso, apresenta que entre a lógica própria do sistema in-
consciente e a do sistema pré-consciente/consciente existe um conflito
permanente e constante, pois elas nunca estão de acordo. Se a reali-
zação de um desejo inconsciente e recalcado produz prazer, por outro
lado, também produz ansiedade ao ego do sonhador. O mesmo evento
que é prazeroso em nível do inconsciente produz desprazer e angústia
ao nível pré-consciente. Por isso mesmo, ele chama a atenção para
os sonhos desagradáveis, também compreendidos como realização do
desejo. Algo escapa à ação da censura, deixando aflorar um desejo
inconsciente que, por ser incompatível com o ego, produz ansiedade.
21
Com base nos relatos de pacientes em relação a fantasias, sin-
tomas, lembranças e sonhos, Freud reformulou a teoria sobre a estrutu-
ra da personalidade humana. A primeira tópica foi inspirada pela análise
do sonho e da histeria, mas Freud estava insatisfeito com o “modelo
topográfico”, pois ele não compreendia os fenômenos psíquicos.

A Segunda Tópica do Aparelho Psíquico

A necessidade de uma nova conceitualização não significa o


abandono da primeira tópica. Na verdade, ela continua a existir no interior
da segunda e permanece como um pano de fundo a partir do surgimento
dos novos processos que estão vinculados diante de uma nova compre-
ensão da dinâmica psíquica. Sigmund Freud anuncia a segunda tópica
do aparelho psíquico tendo como resposta os problemas da psicose.
Em meados de 1920 e 1923, Freud remodelou a teoria e introdu-
ziu novos conceitos para referir os sistemas da personalidade que consis-
tem em uma divisão da mente em três instâncias: ID, EGO e SUPEREGO.

Designamos como processos psíquicos primários a ocupação desiderativa


até a alucinação, o total desenvolvimento de desprazer trazendo consigo o
gasto total de defesa; por outro lado, designamos como processos psíquicos
secundários todos os outros processos que só são possibilitados por uma
boa ocupação do eu […] A condição dos últimos está, como se vê, em um
uso correto dos signos de realidade, só possível no caso de inibição do eu
(FREUD, 1895 (1996), p.204).

No id estão localizadas as pulsões de vida e morte, as quais


são controladas pelo “princípio do prazer”. De ordem não lógica e atem-
poral, apresenta componentes relacionados aos impulsos sexuais, à
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

libido e, ainda, à própria agressividade. O id demanda, de forma imedia-


ta, o atendimento aos impulsos de qualquer ordem, não havendo então
uma dimensão de tolerância ao desprazer e ao desconforto. Abriga e
interage com as funções do ego e com os objetos, tanto da realidade
exterior como aqueles que estão internos. Nessa perspectiva, dizemos
que a mente é o continente do pensamento, tendo autonomia de adiar
a ação, isto é, pensar antes de agir.

É a parte mais inacessível de nossa personalidade (...) aproximamo-nos do


id com comparações, nós o chamamos de caos, um caldeirão cheio de exci-
tações borbulhentas. Imaginemos que seu extremo está aberto ao somático,
acolhendo dentro de si as necessidades pulsionais que nele acham sua ex-
pressão psíquica (FREUD, 1996 (1900), p.68).

22
Seu modo de funcionamento está ligado aos processos primá-
rios e existe certa necessidade de satisfazer as demandas pulsionais.
O surgimento do ego acontece devido ao contato entre o id e o mundo.
O ego estabelece o equilíbrio entre as exigências do id e as “ordens”
do superego, buscando “dar conta” dos interesses do indivíduo. Ele tem
concepção do princípio da realidade, na medida em que altera o princí-
pio do prazer em busca da satisfação.

Pode-se dizer que essa transformação de uma escolha objetal erótica numa
alteração do ego constitui também um método pelo qual o ego pode obter con-
trole sobre o id, e aprofundar suas relações com ele – à custa, é verdade, de
sujeitar-se em grande parte às exigências do id. Quando o ego assume as carac-
terísticas do objeto, ele está se forçando, por assim dizer, ao id como um objeto
de amor e tentando compensar a perda do id, dizendo “Olhe, você também pode
me amar; sou semelhante ao objeto” (FREUD, 1996 (1900), p.42-43).

Desse modo vemos no ego características importantes de se-


rem sublinhadas. Fica claro que sua dimensão é simultaneamente in-
consciente, pré-consciente e consciente, bem como é responsável pelo
teste da realidade efetuando a passagem tanto do princípio do prazer
para o princípio da realidade, quanto para os processos primários para
os secundários, obtendo parcialmente determinado controle sobre o id. O
ego acaba se estruturando por conta das sucessivas identificações e, por
meio disso, é responsável pela resistência e pelo mecanismo de defesa.
Esse conjunto de formulações permite afirmar que o ego pos-
sui a função primordial de defender-se “de uma possível consciência
de representações conflitivas e intoleráveis que poderiam provocar o
aumento da excitação no interior do sistema, sendo vivenciada uma
experiência de desprazer” (CARDOSO, 2002, p.33). O ego está numa
relação de dependência tanto para com as reivindicações do id, como INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
para com as questões do superego e exigências da realidade. No en-
tanto, sua representação encontra-se no conflito neurótico, polo defen-
sivo da personalidade; colocando em jogo uma série de mecanismos de
defesa e sinalizando a todo o momento sinais de alerta. O ego busca
perceber quando e como as coisas irão acontecer, usando o instinto (é
aquilo indomável) e a pulsão (que pode ser contida).

Dessa forma, Id, Ego e Superego caracterizam-se como


princípios de impulsividade, de racionalidade e de moralidade,
23
respectivamente. Cada um desses três pode ser compreendido de
forma simplificada por uma típica representação cinematográfica:
uma pessoa (Ego) escuta conselhos de dois seres que ficam em
seus ombros: um diabo (Id) e um anjo (Superego).
A atuação de cada uma dessas instâncias acaba se alte-
rando em momentos e situações específicos. Um exemplo disso
é quando estamos dormindo. Um sonho ou um pesadelo são de-
rivados de desejos do Id, que encontram vazão durante o sono.
É possível que você tenha um sonho muito bom mesmo fazendo
uma coisa que nunca fez, ou que você tenha um pesadelo horrível
vivendo uma situação impossível.
Acesse: <https://www.eusemfronteiras.com.br/id-ego-e-
-superego/> (Acessado em: 02/10/2020)

O sujeito fica submetido às aspirações dos outros, em analogia


ao que ele deve ser e ter. Daí procede ao sentimento de vergonha, quan-
do não consegue corresponder as expectativas dos outros, que passam
a ser também suas. Segundo Freud (1895/1996, p.378), “a inibição pelo
ego possibilita um critério de diferenciação entre percepção e realidade”.
Desse modo, fica evidente que ele é capaz de funcionar em um registro
diferente daquele imposto pela exigência de descarga imediata, o que faz
com que ocorra a inibição dos processos psíquicos primários.
O superego é definido como herdeiro do complexo de Édipo,
constituindo a interiorização das exigências e das interdições parentais. É
visto pela ideia do sentimento de culpa, o qual sempre estará em juízo que
dirá o que deve ou não ser feito, caso algo dê errado, o superego, sempre
estará pronto para culpabilizar o ego. Essa situação ocorre quando ele
se depara com um ego coagido por algo que o faz agir como se estivesse
sendo censurado, observado, criticado e, algumas vezes, mortificado.
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

Na genealogia do conceito de superego, a questão da identificação ocupa


um lugar central. A evolução desta noção é correlativa da colocação em pri-
meiro plano do Complexo de Édipo e da Segunda Tópica, modelo no qual a
instância do superego será formalmente introduzida. De acordo com esse
modelo, as instâncias – que se diferenciam a partir do id – serão especifica-
das pelas identificações das quais deveriam (CARDOSO, 2002, p.33).

O superego é o herdeiro do complexo de Édipo, desejando o


objeto sem poder tê-lo. Ele é apontado como a instância que contém
o modelo de aproximação com o ego, sendo apresentado como aquilo
que comporta os preceitos morais. Por outro lado, também pode apre-
sentar uma face feroz que constantemente realiza críticas ao ego e
exerce sobre ele violentos impulsos sádicos.
24
Por traz dele jaz oculta a primeira e mais importante identificação de um indi-
víduo, a sua identificação com o pai em sua própria pré-história pessoal. Isso
aparentemente não é, em primeira instância, a consequência ou resultado de
uma catexia do objeto; trata-se de uma identificação direta e imediata, e se
efetua mais primitivamente do que qualquer catexia do objeto (FREUD, 1996
(1923), p.44).

Por exemplo, na melancolia, é o superego que rege a mente


do sujeito. Não obstante, o superego transforma os sonhos do sujei-
to em pesadelo, e muitas vezes, acaba abandonando a formação de
identificação com o ego. O id refere-se ao inconsciente, mas o ego e
o superego também possuem aspectos do inconsciente. É importante
considerar que o aparelho psíquico é habitado pelo conjunto de experi-
ências pessoais e particulares de cada um.
O superego seria o aspecto da nossa personalidade que man-
tém todos os nossos padrões morais internalizados, fornecimento de
diretrizes para realizar julgamentos juntamente com ideais que adqui-
rimos dos pais e também da sociedade. Ele supre todos os impulsos
supostamente inaceitáveis do id e está presente no consciente, pré-
-consciente e inconsciente.

Ao falar sobre o id, o ego e o superego, é importante lem-


brar que essas três entidades são totalmente separadas com li-
mites claramente definidos. Esses aspectos da personalidade são
dinâmicos e sempre interagem dentro de uma pessoa para influen-
ciar a personalidade e o comportamento geral de um indivíduo. INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
Com tantas forças concorrentes, é fácil ver como o confli-
to pode surgir entre id, ego e superego. Freud usou o termo força
do ego para se referir à capacidade do ego de funcionar, apesar
dessas forças de duelo. Uma pessoa com boa força de ego é capaz
de gerenciar efetivamente essas pressões, enquanto que aquelas
com força de ego demais ou insuficiente podem se tornar inflexí-
veis ou perturbadoras demais.
Um superego excessivamente dominante, por outro lado,
pode levar a uma personalidade extremamente moralista e possi-
velmente julgadora. Essa pessoa pode ser muito incapaz de aceitar
qualquer coisa ou alguém que ela perceba como "ruim" ou "imoral".
Um ego excessivamente dominante também pode resultar
em problemas. Um indivíduo com esse tipo de personalidade pode
25
estar tão ligado à realidade, às regras e à propriedade que não conse-
gue se envolver em nenhum tipo de comportamento espontâneo ou
inesperado. Esse indivíduo pode parecer muito concreto e rígido, in-
capaz de aceitar mudanças e sem um senso interno de certo e errado.

O id, o ego e o superego trabalham juntos para criar o com-


portamento humano. O id cria as demandas, o ego adiciona as neces-
sidades da realidade e o superego adiciona moralidade à ação que é
realizada. Os três agentes são construções teóricas que descrevem as
atividades e interações da vida mental de uma pessoa, são instâncias
que interferem em toda a nossa personalidade.
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

26
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: FEPESE Órgão: Prefeitura de Campos Novos -
SC Prova: Psicólogo
A respeito de desenvolvimento humano, a teoria psicanalítica freu-
diana descreve algumas fases, entre elas, a fase anal. São caracte-
rísticas da fase anal:
a) O prazer oral, que é uma modalidade que se estabelece analitica-
mente ao prazer alimentar.
b) A libido organiza-se em torno da zona oral e há, através da boca, a
mobilização pela preservação do equilíbrio homeostático e também o
início do conhecimento sobre o mundo.
c) A libido organiza-se sobre a zona erógena anal. A fantasia básica
será ligada aos primeiros produtos, notadamente o valor simbólico das
fezes. Ocorre a partir do segundo ano de vida, normalmente.
d) A libido erotiza os genitais, trazendo a fantasia de meninos e meninas
serem possuidores de pênis.
e) Canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social
através das sublimações. Período intermediário entre a genitalidade in-
fantil e adulta.

QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: AOCP Órgão: FUNPAPA Prova: Psicólogo
A respeito da teoria psicanalítica desenvolvida por Sigmund Freud
e sobre as divisões do aparelho psíquico propostas pelo autor,
qual é a dinâmica de forças entre o Ego e as demais instâncias do
aparelho psíquico descrita na segunda tópica freudiana?
a) O Ego restringe os impulsos e desejos advindos do Superego. INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
b) O Ego é mediador dos impulsos do Id e das restrições do Superego.
c) O Id é mediador dos impulsos do Ego e das restrições do Superego.
d) O Consciente é mediador dos impulsos do Inconsciente e do Pré-
-Consciente.
e) O Inconsciente força conteúdos ao Pré-consciente e Consciente.

QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: FEPESE Órgão: Prefeitura de Campos Novos -
SC Prova:
Psicólogo
Relacione as colunas 1 e 2 abaixo, de acordo com a teoria psicana-
lítica freudiana.
Coluna 1 - Aspectos
27
1. ID
2. EGO
3. SUPEREGO
Coluna 2 - Descrição
( ) Reservatório de energia do indivíduo constituído pelo conjunto
dos impulsos instintivos inatos, que motivam as relações do indi-
víduo com o mundo.
( ) Dá o juízo da realidade, sendo o intermediário entre os proces-
sos internos e a relação destes com a realidade. Torna o indivíduo
único e original, permitindo-lhe uma adaptação ativa ao mundo
presente em que vive.
( ) Responsável pela estruturação interna dos valores morais, ou
seja, pela internalização das normas referentes ao que é moral-
mente proibido. Subdivide-se em Ego ideal e Consciência moral.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para
baixo.
a) 1 • 2 • 3
b) 1 • 3 • 2
c) 2 • 3 • 1
d) 3 • 1 • 2
e) 3 • 2 • 1

QUESTÃO 4
Ano: 2016 Banca: REIS & REIS Órgão: Prefeitura de Cipotânea - MG
Prova: Psicólogo
Marque a alternativa incorreta em relação à teoria psicanalítica:
a) A teoria psicanalítica é um corpo de hipóteses a respeito do funciona-
mento e do desenvolvimento da mente do homem.
b) A teoria psicanalítica apresenta processos mentais conscientes e in-
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

conscientes de pequena frequência no seu funcionamento mental nor-


mal, e no anormal.
c) A teoria psicanalítica criou uma revolução na concepção e no trata-
mento dos problemas emocionais e gerou interesse entre os psicólogos
acadêmicos pela motivação inconsciente, a personalidade, o comporta-
mento anormal e o desenvolvimento infantil.
d) A teoria psicanalista é uma denominação genérica para as ideias freu-
dianas a respeito da personalidade, da anormalidade e do tratamento.

QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: Prefeitura de Fortaleza - CE Órgão: Prefeitura de
Fortaleza - CE Prova: Psicólogo
A singularidade do diagnóstico psicanalítico repousa sobre o enten-
28
dimento do sentido do sintoma. Conforme Freud (1917/2007), a psi-
quiatria apenas classifica os sintomas, mas muito pouco diz sobre
eles. Pensando sobre a especificidade do diagnóstico para a psicaná-
lise, a hipótese que melhor traduz esse entendimento seria a de que:
a) a teoria psicanalítica opera uma torção na compreensão do adoeci-
mento psíquico, entendida pela psiquiatria, por incluir a história de vida
na causação do sintoma.
b) Freud, ao propor três formas de funcionamento psíquico, a saber, a
neurose, a perversão e a psicose, se distanciaria de um diálogo possí-
vel com a psiquiatria de sua época.
c) a constituição sintomática estabelece uma fraca ligação com as de-
mais manifestações do inconsciente e, devido a isso, Freud coloca o
exame sobre o sintoma como um capítulo à parte de sua teoria.
d) Da teoria freudiana não se atualiza diante das classificações trazidas
pelos manuais diagnósticos, o que acarreta uma defasagem da própria
teoria nos dias atuais.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


A psicanálise é considerada por muitos estudiosos como uma aborda-
gem importante e de referência para a compreensão do comportamento
humano. No início de seus estudos, Freud assume que há conexões
entre todos os eventos mentais, e para explicar essa premissa criou o
modelo Consciente, Pré-consciente e Inconsciente para dar conta des-
sa tarefa. Sobre o enunciado, comente acerca desse modelo.

TREINO INÉDITO
De acordo com a teoria do inconsciente:
a) Os conteúdos do inconsciente são os representantes da pulsão que
estão fixados em fantasias, histórias imaginárias, concebidas como ma- INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
nifestações do desejo.
b) Os processos inconscientes com frequência não estão ligados às
situações da consciência.
c) É a explicação para o significado subjacente dos sonhos, lapsos de
linguagem e certos tipos de esquecimento, chamados de repressão.
d) Todos os processos inconscientes não se originam da repressão de
eventos da infância, permanecendo inativos ou adormecidos.
e) Somente o processo inconsciente faz parte do aparelho psíquico.

NA MÍDIA
PSICANÁLISE – A MENTE SEGUNDO A TEORIA DE SIGMUND FREUD
Sigmund Freud e a psicanálise se popularizaram de tal forma que suas
ideias são, muitas vezes, veiculadas de modo errôneo e distorcidas, como
29
tudo que passa por um processo de grande divulgação, em especial numa
sociedade de massas como a nossa. Assim, é preciso, antes de mais nada,
esclarecer o significado dessa expressão. O que é psicanálise? Em primei-
ro lugar, uma teoria que pretende explicar o funcionamento da mente huma-
na. Além disso, a partir dessa explicação, ela se transforma num método de
tratamento de diversos transtornos mentais. São dois os fundamentos da
teoria psicanalítica: 1) Os processos psíquicos são em sua imensa maioria
inconscientes, a consciência não é mais do que uma fração de nossa vida
psíquica total; 2) os processos psíquicos inconscientes são dominados [...].
Fonte: UOL
Data: 26/09/2020
Leia a notícia na íntegra: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biolo-
gia/psicanalise-a-mente-segundo-a-teoria-de-sigmund-freud.htm

NA PRÁTICA
PSICANÁLISE - A MENTE SEGUNDO A TEORIA DE SIGMUND FREUD
Com base no relato de pacientes a respeito de suas fantasias, sintomas
neuróticos, lembranças e sonhos, Freud desenvolveu uma teoria sobre
a estrutura da personalidade humana e a dinâmica de seu funciona-
mento. Segundo ele, nossa personalidade é formada por três instân-
cias: id, ego e superego.
O id é a instância que contém os impulsos inatos, as inclinações mais ele-
mentares do indivíduo. O id é composto por energias – denominadas por
Freud de pulsões – determinadas biologicamente e determinantes de de-
sejos e necessidades que não reconhecem qualquer norma socialmente
estabelecida. O id não é socializado, não respeita convenções, e as ener-
gias que o constituem buscam a satisfação incondicional do organismo.
Ao passo que o id é inato, as duas outras partes da personalidade de-
senvolvem-se no decorrer da vida da pessoa. O ego, que significa li-
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

teralmente “eu”, é o setor da personalidade especializado em manter


contato com o ambiente que cerca o indivíduo. Ele é a porção visível de
cada um de nós, convive segundo regras socialmente aceitas, sofre as
pressões imediatas do meio e executa ações destinadas a equilibrar o
convívio da pessoa com os que a cercam.
O superego, por sua vez, é um depositário das normas e princípios mo-
rais do grupo social a que o indivíduo se vincula. Nele se concentram
as regras e as ordenações da sociedade e da cultura, representadas,
inicialmente, pela família e, posteriormente, internalizadas pela pessoa.
Podemos visualizar a dinâmica entre essas três instâncias da seguinte
maneira: energias determinantes de desejos, originárias do id, devem
chegar ao nível do ego para que este possa articular ações supressoras
das necessidades então impostas. Se o ego irá dar conta de fazê-lo ou
30
não, este é um problema que diz respeito às possibilidades reais de que
dispõe o indivíduo. Não é esse o tema prioritário da teoria de Freud.
O foco de atenção da Psicanálise dirige-se à relação entre as energias
oriundas do id e os impedimentos que o superego lhes impõe. A Psica-
nálise mostra que há uma vasta gama de desejos que são impedidos
de chegar ao nível do ego, isto é, desejos cuja existência o “eu” sequer
toma ciência devido à censura das barreiras morais internalizadas pela
pessoa. O superego atua como protetor do ego, pois, sem ele, as pul-
sões tornariam insuportável a vida do indivíduo em sociedade.

PARA SABER MAIS


Filme sobre o assunto: Maléna (Giuseppe Tornatore, 2000). Série na
Netflix: Freud (Marvin Kren, 2020).
Acesse os links: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/140/3/
01d08t01.pdf e http://www.revistas.usp.br/estic/article/view/46012

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

31
INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
E MECANISMO DE DEFESA
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

Os sonhos são as realizações dos desejos, sendo uma das ca-


tegorias mais importantes da teoria psicanalítica. Eles são processos pri-
mários que produzem o modelo de experiência e satisfação. Em sua obra,
“A interpretação de sonhos”, publicada em 1900, Freud diz que o sonho
seria a estrada real que acaba conduzindo o sujeito para o inconsciente.
O que antes era interpretado como símbolos ou premonições,
agora é visto como características do nosso inconsciente. Para a Psica-
nálise, os sonhos são as representações da realização de um determi-
nado desejo reprimido. É possível afirmar que os sonhos são passíveis
de serem interpretados por procedimento técnico. Uma vez empregado
esse método, os sonhos revelam-se como uma formação psíquica dota-
3232
da de sentido e que, por isso, podem ocupar um lugar assinalável entre
as atividades mentais durante o sono.
O livro sobre os sonhos parecia se apresentar como sendo
uma investigação, um projeto de pesquisa preliminar para a construção
de um método de tratamento que funcionasse. Freud refere-se que se-
ria “intenção utilizar minha atual elucidação dos sonhos como um passo
preliminar no sentido de resolver os problemas mais difíceis da psicolo-
gia das neuroses” (Freud, 1996/1900, p.126).
Para ele, o sonho é um exemplo privilegiado de um processo
primário, pois é acompanhado de uma diminuição das necessidades
físicas e por um desligamento daquilo que possa vir a ser externo. Por-
tanto, a precondição essencial ao sono é o sonho, que é o pórtico real
da psicanálise, pois, através dele, podemos compreender os sintomas,
os mitos e a expressão do nosso desejo.

É possível que surja, no conteúdo de um sonho, um material que, no estado


de vigília, não reconheçamos como parte de nosso conhecimento ou nossa
experiência. Lembramo-nos, naturalmente, de ter sonhado com a coisa em
questão, mas não conseguimos lembrar se ou quando a experimentamos na
vida real. Ficamos assim em dúvida quanto à fonte a que recorreu o sonho e
sentimo-nos tentados a crer que os sonhos possuem uma capacidade de pro-
dução independente. Então, finalmente, muitas vezes após um longo intervalo,
alguma nova experiência relembra a recordação perdida do outro aconteci-
mento e, ao mesmo tempo, revela a fonte de sonho. Somos assim levados a
admitir que, no sonho, sabíamos e nos recordávamos de algo que estava além
do alcance de nossa memória de vigília (FREUD, 1996/1900, p.19).

A resposta oferecida por Freud é que “o sonho é a realização de


um desejo” (FREUD, 1996/1900, p. 155), através dos sonhos é possível
trazer ao consciente os conteúdos que estão no inconsciente. É um ca-
minho regressivo que perpetua os estados primitivos da nossa infância. INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

Podemos observar que “o sonho é uma realização disfarçada


de um desejo (suprimido ou recalcado)” (FREUD, 1996/1900, p.193). De
certo modo, a impossibilidade de expressão direta do desejo estaria liga-
da ao seu caráter inadmissível para a consciência, uma vez que ele seria
determinado por um desejo infantil de cunho sexual. Na base de todos
os sonhos, existe um desejo infantil que é impossível captarmos direta-
mente, porque existe um trabalho psíquico que modifica a maneira como
percebemos conscientemente os sonhos, garantido pelos processos de
condensação e deslocamento. É referido na obra de Freud como algo,

Pouco preciso dizer sobre a interpretação dos sonhos. Surgiu como os pre-
núncios da inovação técnica que eu adotara quando, após um vago pressen-
timento, resolvi substituir a hipnose pela livre associação. Minha busca de co-

33
nhecimentos não se dirigira, de início, para a compreensão dos sonhos. Não
sei de nenhuma influência externa que tivesse atraído meu interesse para esse
assunto ou que me tivesse inspirado qualquer expectativa valiosa. [...]. A in-
terpretação dos sonhos foi para mim um alívio e um apoio naqueles árduos
primeiros anos da análise, quando tive de dominar a técnica, os fenômenos
clínicos e a terapêutica das neuroses, tudo ao mesmo tempo. Naquele período
fiquei completamente isolado e, no emaranhado de problemas e acúmulo de
dificuldades, muitas vezes tive medo de me desorientar e de perder a confian-
ça em mim mesmo. A comprovação de minha hipótese de que uma neurose
tinha de tornar-se inteligível através da análise se arrastava, em muitos pacien-
tes, por um período de tempo desesperador; mas os sonhos desses pacientes,
que poderiam ser considerados análogos aos seus sintomas, quase sempre
confirmavam a hipótese (Freud, 1996/1900, p. 29-31).

Nota-se que Freud compreende todo esse período de busca


pelo conhecimento acerca do inconsciente como uma saída, como um
alívio após a queda da teoria da sedução e de todas as consequências
que este fato acarretou à Psicanálise. Desse modo, Freud busca encon-
trar novas possibilidades para sustentar seu trabalho, transformando,
assim, suas concepções da análise e as concepções metapsicológicas.
Nesse sentido, a exposição que se segue procura, primeiramente, de-
marcar os limites de tratamento nos quais esbarrou o método da re-
cordação e, em seguida, expõe-se o modo como Freud se utilizou do
método da interpretação e do conceito de fantasia.
A recordação apresenta-se como possibilidade no trabalho freu-
diano porque permite o acesso ao conteúdo traumático: a lembrança con-
figurou-se como o caminho que ligava o sintoma – principalmente, o histé-
rico – ao trauma sexual. O trabalho de Freud consistia em percorrer esse
caminho, em traçar a ligação entre o sintoma e a cena traumática e, para
isso, utilizava-se da lembrança que vinha à tona durante o tratamento.
Esse método verifica-se como eficaz enquanto a teoria da se-
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

dução estava em vigor. Enquanto Freud acreditou que um sedutor ha-


via seduzido uma paciente durante uma fase bem primordial – ou seja,
durante a infância –, que havia existido uma cena de sedução real e
constatada, a recordação desenhou-se como possibilidade, no sentido
que construía o caminho entre o sintoma e a cena.
Esse cenário explicita que, na formação dos sonhos, existe um
conflito psíquico. Afinal, estaríamos diante de forças que buscam expres-
são, desejos recalcados que não podem ser diretamente reconhecidos.
Para tentar compreender melhor esse quadro, Freud propõe a existência
de um aparelho psíquico, permitindo não apenas uma melhor visão sobre
os processos oníricos, mas também um entendimento mais profundo de
como se organizam os processos mentais de maneira global.

34
Por completo o fato de que o aparelho anímico em que aqui estamos interes-
sados é-nos também conhecido sob a forma de uma preparação anatômica,
e evitarei cuidadosamente a tentação de determinar essa localização psíqui-
ca como se fosse anatômica (FREUD, 1996/1900, p.567).

O que estará em jogo a partir desse momento é a tentativa de


compreender como os conteúdos se organizam e mudam a sua forma
de manifestação nos diversos estratos mentais. Tais instâncias se orde-
nariam de tal forma que os estímulos recebidos percorreriam o apare-
lho prioritariamente em um caminho que, para Freud, seria segundo o
modelo reflexo. Isso significa que o aparelho “tem um sentido ou dire-
ção”. Toda a nossa atividade psíquica parte de estímulos (internos ou
externos) e termina em inervações. Por conseguinte, atribuiremos ao
aparelho uma extremidade sensorial.

Devo afirmar que os sonhos realmente têm um sentido e que é possível ter-
-se um método científico para interpretá-los. [...] Meus pacientes assumiam
o compromisso de me comunicar todas as ideias ou pensamentos que lhes
ocorressem em relação a um assunto específico; entre outras coisas, narra-
vam-me seus sonhos, e assim me ensinaram que o sonho pode ser inserido
na cadeia psíquica a ser retrospectivamente rastreada na memória a partir de
uma ideia patológica. Faltava então apenas um pequeno passo para se tratar
o próprio sonho como um sintoma e aplicar aos sonhos o método de inter-
pretação que fora elaborado para os sintomas (FREUD, 1996/1900, p. 135).

Portanto, Freud nos diz o porquê de haver incluído em seu


trabalho o conteúdo onírico que seus pacientes traziam. Esse fato não
acontecia à toa: aqueles conteúdos eram sintomas que serviam ao tra-
tamento ao passo que possibilitavam um caminho de “decifração” de
um desejo inconscientemente latente.
A representação que se fala é o próprio material psíquico. Os INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
sonhos, os desejos, os traços mnemônicos, todos compreendem mate-
riais psíquicos, ou seja, representações que compõem o psiquismo, que
fazem parte dele. O trabalho do sonho se caracteriza por ser um traba-
lho de representação. Os mecanismos de condensação, deslocamento,
os meios de representação e a elaboração secundária são pontos do
trabalho do sonho construídos com uma função de representação.

Um pensamento onírico não é utilizável enquanto expresso em forma abs-


trata, mas, uma vez que tenha sido transformado em linguagem pictórica, os
contrastes e identificações do tipo que o trabalho do sonho requer, e que ele
cria quando já não estão presentes, podem ser estabelecidos com mais faci-
lidade do que antes entre a nova forma de expressão e o restante do material
subjacente ao sonho. [...] Podemos supor que boa parte do trabalho interme-
diário executado durante a formação de um sonho, que procura reduzir os

35
pensamentos oníricos dispersos à expressão mais sucinta e unificada possí-
vel, se processe no sentido de encontrar transformações verbais apropriadas
para os pensamentos isolados (FREUD, 1996/1900, p. 372).

Assim, o conflito psíquico, que atuaria, por exemplo, na impossibi-


lidade de reconhecimento imediato dos elementos recalcados que buscam
expressão nos sonhos, pode agora ser explicado por um embate entre o
inconsciente e os sistemas pré-consciente e consciente. É nesse momento
que podemos ver como o ego aparece nessa obra freudiana, pois uma
descrição mais acurada elucida que os mecanismos de formação dos so-
nhos seriam, em geral, uma oposição entre “consciente” e “inconsciente”.
O papel conferido ao ego fica, então, evidente: ele seria um dos
polos do conflito psíquico que recobriria os sistemas pré-consciente e
consciente, possuindo as mesmas características que estes. No entan-
to, esse ponto chama bastante atenção porque, apesar de sua impor-
tância, não apresenta uma teorização robusta a respeito da gênese do
ego e do seu modo de funcionamento. São bem escassas as reflexões
metapsicológicas sobre essa instância e a maioria das informações que
podem ser extraídas dessa reflexão deve-se às teorizações sobre o pré-
-consciente e o consciente.
Feitas essas considerações, Freud percebe que os conflitos
enfrentados pelo psiquismo são regidos por diferentes princípios. Ha-
vendo uma estreita relação entre as instâncias do inconsciente, pré-
-consciente e consciência. Portanto, a premissa de que os sonhos são
realizações de desejos –o que Freud tenta provar durante todo o per-
curso de sua Interpretação dos Sonhos – é bem anterior à publicação e
até mesmo à redação da obra.
Nessa obra, ele não estuda apenas os sentidos ocultos dos so-
nhos. Por meio do exercício de interpretação dos próprios sonhos e dos
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

devaneios de alguns pacientes, ele constrói um modelo novo de funciona-


mento do psiquismo. Assim sendo, propõe um modelo de aparelho psíqui-
co cujo funcionamento obedece aos processos primários e secundários.
Considerando que os processos primários são pensados, des-
de o início, como capazes de evitar o desprazer, entende-se que as re-
presentações se apresentam automaticamente excluídas do fluxo asso-
ciativo primário. Dessa concepção resulta a ideia de que os processos
secundários podem inibir as representações desprazerosas.
É curioso constatar que, na concepção freudiana, a par des-
sas especificidades, a lembrança não se restringe à retomada de uma
percepção. A análise dos sonhos revelou a Freud que a existência de
um campo psíquico insuscetível de consciência não está presente ape-
nas nas psicopatologias, mas faz parte da vida psíquica normal.
36
Os Mecanismos de Defesa

Mecanismos de defesa são estratégias pelas quais as pesso-


as se protegem de pensamentos ou sentimentos. Esses mecanismos
são respostas psicológicas inconscientes que protegem os sujeitos das
ameaças e coisas com as quais não querem pensar ou lidar. O proces-
so geralmente envolve esconder-se de si mesmo os impulsos internos
que ameaçam diminuir a autoestima e provocar ansiedade.
Os mecanismos de defesa são representados por uma cons-
trução de extrema importância para a personalidade, englobando tam-
bém os estados afetivos e a determinação dos padrões comportamen-
tais, sendo uma das maneiras de se medir como o sujeito responde aos
estressores e quais são os comportamentos internos ou externos que
podem ser utilizados como resposta.
O conceito surgiu pela primeira vez em 1894 na obra “As psico-
neuroses de defesa”, na qual Freud relata a luta do ego contra os afetos
dolorosos e insuportáveis que o sujeito vivencia. De acordo com seu mode-
lo, a mente tem três forças de duelo: a identidade (impulsos inconscientes
e primitivos por comida, conforto e sexo), o superego (um impulso parcial-
mente consciente em direção aos valores morais e sociais) e o ego (uma
força parcialmente consciente que modera a identidade e o superego).
Os mecanismos de defesa protegem o ego, que é a parte cons-
ciente da pessoa que interage com a realidade, dos conflitos entre a rea-
lidade e suas restrições; a id, que é o aspecto impulsivo da personalidade
que busca o cumprimento dos desejos; e o superego, que é a parte moral
da personalidade. Esses conflitos criam ansiedade, que Freud caracteri-
zou como um estado interior desagradável que as pessoas tentam evitar.
Os três tipos de ansiedade são neuróticos, realidade e moral.
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
Os trabalhos de Anna Freud descrevem as defesas patológicas
como um desequilíbrio em certas etapas que podem refletir a presença
de mecanismos rígidos, perturbando o desenvolvimento da personali-
dade, destacam que todos os mecanismos de defesa podem se consti-
tuir de modos de adaptação saudáveis, desde que sejam utilizados de
maneira moderada, também possuem o papel de auxiliar os sujeitos a
lidar com as exigências que estão presentes na realidade.
Para Freud (1893/1992), a concepção da defesa é tratada como
um ato voluntário de afastar algo ajuizado como desprazer do psiquismo,
o qual não pode ser considerado patológico, pois esse ato de esqueci-
mento intencional é bem-sucedido em diversas pessoas, bem como é
tendência normal na vivência de cada sujeito (FREUD,1992/1895).
A defesa primária é considerada, ao lado da atenção, uma tá-
37
tica desenvolvida pelo ego para a proteção de algo diante da ameaça
de algum objeto. Eles são pensados para proteger a mente contra sen-
timentos e pensamentos que são muito difíceis para lidarmos conscien-
temente. Também tendem a adaptar ou reler a realidade externa assim
como a defender o ego contra impulsos originários do id na “intenção”
de proteção ou defesa do ego. O resultado ou consequência viria na
forma de uma estabilização psíquica do indivíduo.

Os mecanismos de defesa servem ao propósito de manter afastados os peri-


gos. Não se pode discutir que são bem-sucedidos nisso, e é de duvidar que o
ego pudesse passar inteiramente sem esses mecanismos durante seu desen-
volvimento. Mar é certo que eles próprios podem transformar-se em perigos.
Às vezes, se vê que o ego pagou um preço alto demais pelos serviços que eles
prestam. O dispêndio dinâmico necessário para mantê-las, e as restrições do
ego que quase invariavelmente acarretam, mostram ser um pesado ônus so-
bre a economia psíquica. Ademais, esses mecanismos não são abandonados
após terem assistido o ego durante os anos difíceis de seu desenvolvimento.
Nenhum indivíduo, naturalmente, faz uso de todos os mecanismos de defesa.
Cada pessoa não utiliza mais do que uma seleção dele, mas estes se fixam
em seu ego. Tornam-se modalidades regulares de reação de seu caráter, as
quais são repetidas durante toda a vida, sempre que ocorre uma situação se-
melhante à original. O ego do adulto, com sua força aumentada, continua a se
defender contra os perigos que não mais existem na realidade; na verdade,
vê-se compelido a buscar na realidade as situações que possam servir como
substituto aproximado ao perigo original, de modo a poder justificar, em rela-
ção àquelas, fato de ele manter suas modalidades habituais de reação. Assim,
podemos facilmente entender como os mecanismos defensivos, podem oca-
sionar uma alienação cada vez mais ampla quanto ao mundo externo e um
permanente enfraquecimento do ego (FREUD, 1917, p.503).

Os mecanismos de defesa são um conjunto de operações que


INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

permitem reduzir ou suprimir estímulos que possam causar desprazer,


tentando assim, manter o equilíbrio do aparelho psíquico. Esse conceito
importante e complexo atinge tanto o conceito de normalidade como de
patologia, uma vez que uma pessoa não adoece por possuir defesas;
mas, sim, por sua ineficácia ou pelo mau uso que faz delas. Dessa for-
ma, a reestruturação da pessoa (em relação aos mecanismos de defe-
sa) consiste, em parte, em utilizar esses mecanismos de forma flexível
e adequada. (FADIMAN, 1986).
Também seria uma denominação realizada por Freud para as
manifestações do ego diante das exigências das outras instâncias psí-
quicas (id e superego). Em algumas áreas da psicologia (especialmente
na teoria psicodinâmica), os psicólogos falam sobre "mecanismos de de-
fesa", ou maneiras que uma pessoa se comporta ou pensa de determi-
38
nadas maneiras para proteger melhor ou "defender" seus interiores (sua
personalidade e autoimagem). Mecanismos de defesa são uma maneira
de ver como as pessoas se distanciam de uma consciência completa de
pensamentos, sentimentos e comportamentos desagradáveis.
Para lidar com conflitos e problemas da vida, Freud afirmou
que o ego emprega uma série de mecanismos de defesa. Dessa ma-
neira, o ego, impulsionado pelo id, confinado pelo superego, repelido
pela realidade, luta para dominar sua tarefa econômica de trazer harmo-
nia entre as forças e influências que podem ser trabalhadas. Podemos
pensar que somos bem-sucedidos quando conseguimos diminuir a an-
siedade diante de algo que é perigoso. Os ineficazes são aqueles que
possuem dificuldade em reter a ansiedade e acabam por constituir um
ciclo de repetições. Nesse último grupo, encontram-se, por exemplo, as
neuroses e outras defesas patogênicas.

Os 15 Tipos de Mecanismos de Defesas

1) O recalque ou a repressão é um dos mecanismos de defesa


mais investigados por Freud. Envolve manter certos pensamentos, sen-
timentos ou impulsos fora da consciência consciente. O objetivo dessa
forma de defesa é manter desejos ou pensamentos inaceitáveis fora da
mente consciente, a fim de prevenir ou minimizar sentimentos de ansie-
dade. Como funciona a repressão? Esse processo envolve empurrar
pensamentos dolorosos ou perturbadores para o inconsciente, a fim de
permanecer inconsciente deles.
Para entender como a repressão funciona, é importante olhar
como Sigmund Freud via a mente. Freud concebeu a mente humana
como algo muito parecido com um iceberg. Considere como um iceberg
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
ficaria se você o estivesse vendo de cima da água. Apenas a pequena
ponta do iceberg é visível acima da superfície da água, assim como
nossa mente consciente.
Quando falamos de consciência, temos como representação a fi-
gura da "ponta do iceberg", estamos nos referindo ao fato de que apenas
uma pequena parte do iceberg é realmente visível. Análogo à consciência,
isso inclui todos os pensamentos, sentimentos e memórias que estamos
cientes atualmente ou que podemos chamar para a consciência. Sob a su-
perfície da água está a enorme maioria do iceberg que simplesmente não
é visível aos olhos, assim como a mente inconsciente. O gelo abaixo da
água representa nossa inconsciência, o enorme reservatório ou impulsos,
memórias e pensamentos que estão escondidos de nossa consciência.
Podemos não estar cientes do que está no inconsciente, mas
39
seu conteúdo ainda pode afetar o comportamento de várias maneiras
diferentes. Enquanto trabalhava para ajudar os pacientes a descobrir
seus sentimentos inconscientes, Freud começou a acreditar que havia
algum mecanismo no trabalho que resistiu ativamente a esses esfor-
ços, a fim de manter pensamentos inaceitáveis escondidos. Ele nomeou
esse processo de repressão, acreditando que ele desempenhou um dos
papéis mais críticos na psique humana.
A repressão foi o primeiro mecanismo de defesa identificado
por Freud e ele acreditava que era o mais importante. Todo o processo
da psicanálise freudiana baseou-se na ideia de que trazer sentimentos
inconscientes para a consciência consciente poderia levar ao alívio do
sofrimento psíquico. Também destacou que muitas vezes elas são re-
presentadas como diferentes estágios como:
- Repressão primária: refere-se a esconder material indesejado
antes mesmo de chegar à consciência. Esse processo ocorre totalmen-
te inconscientemente. Embora a informação possa estar escondida da
consciência, no entanto, às vezes, pode entrar em consciência de for-
mas disfarçadas.
- Repressão adequada: ocorre quando uma pessoa se cons-
cientiza do material reprimido, mas depois propositalmente tenta remo-
vê-lo da consciência é conhecida como repressão adequada. Alguns
especialistas sugerem que casos de repressão podem ser explicados
olhando para certos processos de memória.
Pesquisas têm apoiado a ideia de que o esquecimento sele-
tivo é uma maneira de as pessoas bloquearem a consciência de pen-
samentos ou memórias indesejadas. Uma maneira de isso ocorrer é
através do que é chamado de esquecimento induzido pela recuperação.
Recuperar algumas memórias com mais frequência pode levar outras
a serem esquecidas, então, chamar algumas memórias repetidamente
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

pode levar outras memórias a se tornarem menos acessíveis. Memórias


traumáticas ou indesejadas, por exemplo, podem ser esquecidas pela
recuperação repetida de mais positivas.
2) Deslocamento é o redirecionamento de sentimentos e im-
pulsos de pensamentos direcionados a uma pessoa ou objeto, mas le-
vados para outra pessoa ou objeto. As pessoas muitas vezes usam o
deslocamento quando não podem expressar seus sentimentos de for-
ma segura para a pessoa a quem são direcionadas. O exemplo clássico
é o homem que fica bravo com seu chefe, mas não consegue expres-
sar sua raiva ao seu chefe por medo de ser demitido. Em vez disso,
ele chega em casa e chuta o cachorro ou começa uma discussão com
sua esposa. O homem está redirecionando sua raiva de seu chefe para
seu cão ou esposa. Naturalmente, este é um mecanismo de defesa
40
bastante ineficaz, porque enquanto a raiva encontra uma rota para a
expressão, sendo mal aplicada a outras pessoas ou objetos inofensivos
causará problemas adicionais para a maioria das pessoas.
3) Intelectualização seria quando uma pessoa intelectualiza, ela
desliga todas as suas emoções e aborda uma situação apenas do ponto
de vista racional — especialmente quando a expressão das emoções se-
ria apropriada. É a ênfase excessiva no pensamento quando confrontado
com um impulso, situação ou comportamento inaceitável sem empregar
nenhuma emoção para ajudar a mediar e colocar os pensamentos em um
contexto emocional e humano. Em vez de lidar com as dolorosas emo-
ções associadas, uma pessoa pode empregar a intelectualização para
se distanciar do impulso, evento ou comportamento. Por exemplo, uma
pessoa que acaba de receber um diagnóstico médico terminal, em vez de
expressar sua tristeza e tristeza, concentra-se, em vez disso, nos deta-
lhes de todos os possíveis procedimentos médicos infrutíferos.
4) Racionalização é colocar algo em uma luz diferente ou ofe-
recer uma explicação diferente para as percepções ou comportamentos
diante de uma realidade em mudança. Por exemplo, uma mulher que co-
meça a namorar um homem que ela realmente gosta, mas que de repen-
te ocorre o término da relação. Ela reimagina a situação em sua mente
com o pensamento: "Eu suspeitei que ele era um perdedor o tempo todo”.
5) Anulação é uma tentativa de retomar um comportamento in-
consciente ou pensamento que é inaceitável ou prejudicial. Por exem-
plo, depois de perceber que você acabou de insultar seu outro signifi-
cante sem querer, você pode passar então a próxima hora louvando
sua beleza, charme e intelecto. Ao "anular" a ação anterior, a pessoa
está tentando neutralizar os danos causados pelo comentário original,
esperando que os dois se equilibrem.
6) Sublimação é simplesmente a canalização de impulsos, INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
pensamentos e emoções inaceitáveis em mais aceitáveis. Por exemplo,
quando uma pessoa tem impulsos sexuais que gostaria de não agir, ela
pode, em vez disso, se concentrar em exercícios rigorosos. Reorientar
tais impulsos inaceitáveis ou prejudiciais ao uso produtivo ajuda uma
pessoa a canalizar energia que de outra forma seria perdida ou usada
de uma maneira que poderia causar mais ansiedade à pessoa.
A sublimação também pode ser feita com humor ou fantasia.
Humor, quando usada como mecanismo de defesa, é a canalização de
impulsos ou pensamentos inaceitáveis em uma história ou piada leve.
O humor reduz a intensidade de uma situação, e coloca uma almofada
de riso entre a pessoa e os impulsos. A fantasia, quando usada como
mecanismo de defesa, é a canalização de desejos inaceitáveis ou ina-
tingíveis na imaginação. Por exemplo, imaginar os objetivos finais da
41
carreira pode ser útil quando se experimenta contratempos temporários
no desempenho acadêmico. Ambos podem ajudar uma pessoa a olhar
para uma situação de uma maneira diferente, ou se concentrar em as-
pectos da situação não explorada anteriormente.
7) Compensação é um processo de contrabalançar psicologica-
mente as fraquezas percebidas, enfatizando a força em outras arenas. Ao
enfatizar e focar nos pontos fortes, uma pessoa está reconhecendo que
não pode ser forte em todas as coisas e em todas as áreas de sua vida.
Por exemplo, quando uma pessoa diz: "Eu posso não saber cozinhar,
mas eu posso ter certeza de lavar os pratos!", ela está tentando compen-
sar sua falta de habilidades culinárias enfatizando suas habilidades de
limpeza em vez disso. Quando feito adequadamente e não na tentativa
de compensar demais, a compensação é um mecanismo de defesa que
ajuda a reforçar a autoestima e a autoimagem de uma pessoa.
8) Assertividade é a ênfase das necessidades ou pensamentos
de uma pessoa de uma maneira respeitosa, direta e firme. Os estilos de
comunicação existem em um contínuo, variando de passivo a agressi-
vo, com assertividade caindo perfeitamente no meio. Pessoas passivas
se comunicam de forma passiva e tendem a ser bons ouvintes, mas
raramente falam por si mesmas ou por suas próprias necessidades em
um relacionamento.
9) Negação é a recusa em aceitar a realidade ou fato, agindo
como se um acontecimento, pensamento ou sentimento doloroso não
existisse. É considerada um dos mais primitivos dos mecanismos de
defesa por ser característico do desenvolvimento da primeira infância.
Muitas pessoas usam a negação em suas vidas cotidianas para evitar
lidar com sentimentos dolorosos ou áreas de sua vida que não desejam
admitir. Por exemplo, uma pessoa que é alcoólatra em funcionamento,
muitas vezes, simplesmente nega que tem um problema com a bebida,
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

apontando como funciona bem em seu trabalho e relacionamentos.


10) Regressão é a reversão a um estágio anterior de desenvol-
vimento em face de pensamentos ou impulsos inaceitáveis. Por exemplo,
um adolescente que está dominado por medo, raiva e impulsos sexuais
crescentes pode se tornar pegajoso e começar a exibir comportamentos
de infância que ele já superou há muito tempo, como urinar na cama. Um
adulto pode regredir quando está sob muito estresse, recusando-se a sair
da cama e se envolver em atividades cotidianas normais.
11) Atuação (Acting Out) é realizar um comportamento extremo
a fim de expressar pensamentos ou sentimentos que a pessoa se sente
incapaz de expressar de outra forma. Em vez de dizer: "Estou com raiva
de você", uma pessoa que age mal pode jogar um livro nela ou abrir um
buraco na parede. Quando uma pessoa age, isso pode funcionar como
42
um alívio de pressão e geralmente ajuda a pessoa a se sentir mais
calma e em paz novamente. Por exemplo, o acesso de raiva de uma
criança é uma forma de agir quando ela não consegue o que quer com
os pais. A automutilação também pode ser uma forma de encenação,
expressando na dor física o que não se pode suportar emocionalmente.
12) Dissociação é quando uma pessoa perde a noção do tem-
po e encontra outra representação de si mesma para continuar no tempo.
Uma pessoa que se dissocia geralmente perde a noção do tempo ou de
si mesma e de seus processos de pensamento e memórias usuais. Pes-
soas com histórico de qualquer tipo de abuso na infância frequentemente
sofrem de alguma forma de dissociação. Em casos extremos, a dissocia-
ção pode levar uma pessoa a acreditar que tem múltiplos eus (“transtorno
de personalidade múltipla” agora conhecido como transtorno dissociativo
de identidade). As pessoas que usam a dissociação geralmente têm uma
visão desconexa de si mesmas em seu mundo. O tempo e sua própria
imagem podem não fluir continuamente, como acontece com a maioria das
pessoas. Desse modo, uma pessoa que se dissocia pode se “desconectar”
do mundo real por um tempo, e viver em um mundo diferente, que não está
repleto de pensamentos, sentimentos ou memórias insuportáveis.
13) Compartimentação é uma forma menor de dissociação, em
que partes de uma pessoa são separadas da consciência de outras partes
e se comportam como se tivessem conjuntos separados de valores. Um
exemplo pode ser uma pessoa honesta que trapaceia em sua declaração
de imposto de renda, mas é confiável em suas transações financeiras.
Dessa forma, ela mantém os dois sistemas de valores distintos e não vê
hipocrisia em fazê-lo, talvez permanecendo inconsciente da discrepância.
14) Projeção é quando são colocados seus sentimentos ou
pensamentos em outra pessoa, como se fossem os sentimentos e pen-
samentos dessa pessoa. Projeção é a atribuição incorreta de pensa- INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
mentos, sentimentos ou impulsos indesejados de uma pessoa a outra
pessoa que não possui esses pensamentos, sentimentos ou impulsos.
A projeção é usada especialmente quando os pensamentos são consi-
derados inaceitáveis para a pessoa expressar, ou quando ela se sente
completamente desconfortável com eles. Ou seja, a projeção é frequen-
temente o resultado de uma falta de percepção e reconhecimento das
próprias motivações e sentimentos.
15) Formação de reação é a conversão de pensamentos, sen-
timentos ou impulsos indesejados ou perigosos em seus opostos. Por
exemplo, uma mulher que está muito zangada com o chefe e gostaria
de deixar o emprego pode, em vez disso, ser excessivamente gentil e
generosa com o chefe e expressar o desejo de continuar trabalhando
lá para sempre. Ela é incapaz de expressar as emoções negativas de
43
raiva e infelicidade com seu trabalho e, em vez disso, torna-se excessi-
vamente amável para demonstrar publicamente as suas emoções.
Lembre-se de que os mecanismos de defesa costumam ser
comportamentos aprendidos, muitos dos quais aprendemos durante a
infância. Isso é uma coisa boa, porque significa que, como adulto, você
pode escolher aprender alguns novos comportamentos e novos meca-
nismos de defesa que podem ser mais benéficos para você em sua
vida. Muitos psicoterapeutas irão ajudá-lo a trabalhar nessas coisas, se
você quiser. Mas, mesmo ficar mais ciente de quando está usando um
dos tipos menos primitivos de mecanismos de defesa acima pode ser
útil para identificar comportamentos que você gostaria de reduzir.

Pulsões Sexuais

A infância e adolescência estão vinculadas à inocência, como


se a sexualidade despertasse somente na vida adulta. A criança interage
com seus pares de maneira indiscriminada, desprovida de julgamentos,
a princípio ainda não existem diferenças entre os gêneros masculino e
feminino. Ao longo do crescimento começa-se a perceber a existência
de algumas diferenças sexuais.
Freud desenvolveu a teoria da sexualidade infantil, durante os
seus ensaios clínicos, observando os transtornos psicológicos apresen-
tados por seus pacientes. Utiliza o termo ‘pulsão’ (Trieb) em vários artigos
de suas primeiras publicações ditas pré-psicanalíticas. Nesta perspectiva
ocorre a primeira exposição sobre a pulsão a partir da obra “Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade”, que foi publicada por Freud em 1905.
Freud utiliza esse conceito para tentar compreender as ma-
nifestações sexuais, iniciando seu estudo pela análise do universo in-
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

fantil e dos fenômenos perversos. A pulsão seria um elemento entre o


somático e o psíquico, não existindo uma maneira única de satisfazer o
desejo. Pode ser compreendida como algo que age a partir do interior
do sujeito, exigindo que certo trabalho seja realizado. Em "Pulsões e
destinos das pulsões", Freud (1915) define:

A pulsão como um conceito limite entre o psíquico e o somático, com repre-


sentante psíquico dos estímulos que provêm do interior do corpo e alcançam
a psique, como medida da exigência de trabalho imposta ao psíquico em
consequência de sua relação com o corpo (p. 148).

Esse elemento não é um fator indivisível. Na verdade, seria


possível localizar alguns de seus componentes básicos. Primeiro, exis-
tiria a fonte, que sempre provém do corpo. Trata-se de um “processo ex-
44
citatório num órgão” (FREUD, 1996/1905, p. 159). Depois, a excitação
exige ser descarregada, o que permite inferir que ela possui um objetivo
que pode ser definido como a necessidade “de supressão desse estí-
mulo orgânico” (FREUD, 1996/1905, p.159).
Isso é feito através do encontro do objeto, que é o terceiro ele-
mento da pulsão e que possui a característica de ser o fator mais mutável.
A pulsão sexual não se limita às atividades repertoriadas da sexualidade
biológica, mas constitui o fator primordial que impulsiona toda a série de
manifestações psíquicas. Uma das grandes contribuições é justamente
expor que não existe uma ligação fixa entre a pulsão e o objeto ao ponto
de ser possível considerarmos que ela é capaz de se satisfazer.

Por instinto podemos entender, a princípio, apenas o representante psíquico


de uma fonte endossomática de estimulação que flui continuamente, para
diferenciá-la do ‘estímulo’, que é produzido por excitações isoladas vindas
de fora. Pulsão, portanto, é um dos conceitos da delimitação entre o aními-
co e o físico. A hipótese mais simples e mais indicada sobre a natureza da
pulsão seria que, em si mesma, ela não possui qualidade alguma, devendo
apenas ser considerada como uma medida da exigência de trabalho feita à
vida anímica. O que distingue as pulsões entre si e as dota de propriedades
específicas é sua relação com suas fontes somáticas e seus alvos. A fonte da
pulsão é um processo excitatório num órgão, e seu alvo imediato consiste na
supressão desse estímulo orgânico (FREUD, 1996/1905, p. 159).

Observa-se uma clara distinção entre os estímulos endógenos


e exógenos que atingem o aparato psíquico. Os estímulos exógenos
são provenientes do mundo exterior e, por isso, antes de chegar ao
aparato são amortecidos pelos órgãos dos sentidos. Já os estímulos
endógenos emanam de fontes no interior do próprio corpo e, por não
existir nada que os amorteçam, atingem o aparato diretamente.
Enquanto ligado ao corpo, a pulsão se apresenta como um “es- INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

tímulo”, no entanto, ao considerar esse conceito como uma “medida


de exigência”, a pulsão está mais próxima da ideia de um “acúmulo de
energia” que irá pressionar o psiquismo para ser descarregado.

A Ética Profissional

Ao falarmos de uma ética da Psicanálise, estamos falando, em


primeiro lugar, de uma proteção aos clientes que estão submetidos a uma
intervenção psicanalítica. Esse cuidado com o analisando protege-os de
eventuais abusos proporcionados pelos analistas ao ocuparem uma posi-
ção privilegiada em função do amor de transferência. Dentro desse mesmo
enunciado ainda teríamos uma ética implicada na formação institucional, a
45
qual diz respeito às condições da transmissão do saber psicanalítico.
Ao se discutir ética em Psicanálise existem pontos fundamentais
que são o norte da discussão, tais como o inconsciente como uma instân-
cia na qual se processam movimentos dos desejos e pulsões, e a dinâmica
desses desejos com a realidade, com o mundo de regras, da ética, do que
pode e do que não pode. No desenvolvimento da psicanálise, Freud apon-
ta que a análise do terapeuta é uma forma de aprender psicanálise. Assim,
Freud indica que a ética e o ensino da psicanálise não acontecem através
do ensino teórico, e sim da experiência de análise que dará a convicção
teórica. É essa convicção que se apresenta como a ética do analista.
Portanto, é a relação entre analisando e analisado que dá con-
tornos à ética da Psicanálise e valida seus postulados. Nesse sentido,
se apropriar dos próprios conceitos psicanalíticos e do processo analíti-
co é que irá solidificar e afirmar a ética na Psicanálise.
Faz-se necessário recorrer à obra Totem e Tabu, de Freud, para
uma primeira análise do proibido e do rechaçado em certas culturas, refor-
çando que as relações do tabu com a realidade são totalmente ambivalen-
tes, ou seja, ao mesmo tempo em que se rechaça, se deseja o rechaça-
do. Freud deixa claro esse pensamento quando fala sobre algumas tribos
australianas, com relação aos seus comportamentos referentes ao incesto.
Assim, ele considera:

Foge do nosso estudo o exame pormenorizado das discussões extraordina-


riamente complexas e obscuras acerca da origem e significação das classes
matrimoniais e sua relação com o totem. Para o fim que temos em vista, é
suficiente chamar a atenção para a grande preocupação que tem os aus-
tralianos, e outros povos selvagens, com a prevenção do incesto. Tem-se
de admitir que esses selvagens são ainda mais sensíveis à questão do que
nós. Estão provavelmente mais sujeitos à tentação de cometê-los e, por essa
razão, necessitam de maior proteção (FREUD, 1996/1905, p. 28).
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

Nesse sentido, o sujeito ético para psicanálise é aquele que,


mesmo sob as imposições culturais, tiver condições de controlar e
orientar seus impulsos, desejos, vontades e tendências, organizando
suas capacidades de decisão, pensamento, opinião e deliberação no
mundo. Nessa linha de pensamento, pode-se afirmar que a vivência da
experiência edipiana e as intervenções sadias da função paterna são
os pontapés iniciais para a construção do indivíduo como sujeito, bem
como da introjeção do princípio ético.
Trata-se de se alcançar uma “posição” essencial e diferenciada
do analista para que aconteça a associação livre no contexto do tratamen-
to. Ainda que o analista possa também associar a situação analítica, isso
não configura uma dupla associativa. O tratamento nomeado por Freud
46
como Psicanálise requer o desdobramento em duas posições diferentes,
mas complementares, de fala e escuta associativa. Ou seja, Freud (1980)
nos conta que não apenas a interrupção do processo de associação livre
materializa, no tratamento, o aparecimento do fenômeno transferencial,
mas, que é provocada por ele. A ideia transferencial é, ela mesma, uma
associação interrompida, muda, associada à resistência do sujeito.
Ao diferenciar os dois tipos de transferências presentes no tra-
tamento, Freud já mencionava que a transferência pode implicar nas re-
edições das experiências infantis ou também de reelaborações comple-
xas. As experiências da transferência podem aparecer continuamente,
mas também podem ser rejeitadas e reprimidas pelo paciente, assim o
analista as apontará e as interpretará, para que se possa encontrar sua
natureza e logo se dissolver pelo trabalho interpretativo.
As reações de transferência podem adotar a forma de senti-
mentos positivos, negativos ou ambivalentes, proporcionando assim o
desenvolvimento pleno na neurose de transferência. Contra as inten-
ções terapêuticas surgem processos de resistência, que podem adquirir
várias formas, por exemplo a representação (viver conteúdos transfe-
ríveis na prática, no lugar de interpretá-los, elaborá-los e dissolvê-los).
Roussillon (2012) aponta essa íntima vinculação quando nos diz que
“quando nos debruçamos sobre a questão dos fundamentos da psica-
nálise somos, imediatamente, confrontados com a questão da associa-
tividade e, acoplada a ela, com a da transferência.” (p.8).
A Psicanálise pode contribuir para a produção de uma ética
condizente com as condições das sociedades contemporâneas já que
considera o sujeito em suas esferas de conflito e liberdade, solidão, en-
fim: condições existenciais humanas. A própria clínica psicanalítica se
fundamenta nessas questões e as mesmas balizam a travessia do fan-
tasma do analisando mediada pelo analista, contribuindo, assim, para INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
outras manifestações de subjetividade.
O entendimento da ética, nesse sentido, direciona-se para
compreensão segundo a qual o analista também se constitui como um
sujeito desejante, e que ele (o analista), deve renunciar esse desejo
para dar vazão ao desejo do analisado, tornando-se objeto do desejo e
da transferência.
Por fim, cabe-nos falar agora da posição ética do Psicanalista
frente à análise. Não vamos falar aqui da ética comum às outras profissões
que tratam de seus pacientes ou clientes, com relação à sua preservação,
ao sigilo e ao respeito. Todas as profissões seguem ou devem seguir essa
linha ética social. A Psicanálise diferencia-se desses outros campos de atu-
ação quando se fala sobre ética. Principalmente com relação ao profissio-
nal responsável por conduzir a análise, ou seja, o analista ou psicanalista.
47
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2016 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de Teresina - PI Prova:
Técnico de Nível Superior - Psicólogo
João (35 anos) iniciou psicoterapia por estar apresentando transtorno
de ansiedade. Após 3 meses de atendimento psicoterápico, sua espo-
sa (32 anos), com quem encontra-se casado há 10 anos, telefonou ao
psicólogo e lhe disse que desejava saber como estava seu marido e
como estava evoluindo o trabalho terapêutico. Nesse caso, de acordo
com o Código de Ética Profissional do Psicólogo, o psicólogo:
a) não pode fornecer informações, pois é dever do psicólogo respeitar o
sigilo profissional, por meio da confidencialidade.
b) pode fornecer informações, por ser solicitação de um cônjuge com
mais de 5 anos de relacionamento.
c) só poderia fornecer informações aos pais do paciente, por normas de
confidencialidade.
d) pode fornecer informações, por ser solicitação de um cônjuge, dado
que o psicólogo precisa dividir a responsabilidade com outro adulto re-
lacionado ao paciente.
e) não pode fornecer informações, a não ser que seja por demanda de
seu médico ou coordenador de curso da instituição na qual o paciente
estuda, no sentido de favorecê-lo.

QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: MetroCapital Soluções Órgão: Prefeitura de La-
ranjal Paulista - SP Prova: Psicólogo
Se um psicólogo souber que outro profissional da psicologia está
atuando de maneira irregular, sem o devido registro no Conselho
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

Regional, ele deverá:


a) comunicar o fato ao Conselho de Psicologia.
b) manter-se inerte, pois não há nada que possa fazer.
c) comunicar o fato ao Conselho Federal de Psicologia para que se to-
mem os devidos procedimentos.
d) advertir o próprio profissional de sua conduta irregular.
e) comunicar o fato à Delegacia de Polícia, já que a conduta daquele
profissional constitui exercício irregular da profissão.

QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: IBADE Órgão: Prefeitura de Seringueiras - RO
Prova: Psicólogo
O Conselho Federal de Psicologia, ao elaborar e atualizar o Código
48
de Ética Profissional do Psicólogo, em sua construção, buscou:
I - valorizar os princípios fundamentais como grandes eixos que
devem orientar a relação do psicólogo com a sociedade, a profis-
são, as entidades profissionais e a ciência, pois esses eixos atra-
vessam todas as práticas, e estas demandam uma contínua refle-
xão sobre o contexto social e institucional.
II - abrir espaço para a discussão, pelo psicólogo, dos limites e
interseções relativos aos direitos individuais e coletivos, questão
crucial para as relações que estabelece com a sociedade, os cole-
gas de profissão e os usuários ou beneficiários dos seus serviços.
III - contemplar a garantia da preservação da família mononuclear, mo-
nogâmica, configurada na Constituição Brasileira de 1988, bem como
a crescente inserção do psicólogo em equipes multiprofissionais.
IV - estimular reflexões que considerem a profissão como um todo
e não em suas práticas particulares, uma vez que os principais di-
lemas éticos não se restringem a práticas específicas e surgem em
quaisquer contextos de atuação.
Estão corretas:
a) somente I e II.
b) somente I, II e III.
c) somente I, II e IV.
d) somente II e IV.
e) somente II, III e IV.

QUESTÃO 4
Ano: 2016 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: TRT - 8ª Região (PA
e AP) - Prova: Analista Judiciário - Psicologia
Assinale a opção que apresenta corretamente um dos princípios
fundamentais do Código de Ética do Psicólogo.
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
a) O psicólogo estabelecerá acordos de prestação de serviços que res-
peitem os direitos do usuário ou beneficiário de serviços de psicologia.
b) O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com
dignidade, rejeitando situações em que a psicologia esteja sendo aviltada.
c) O psicólogo conhecerá, divulgará, cumprirá e fará cumprir o Código
de Ética Profissional do Psicólogo.
d) O psicólogo somente assumirá responsabilidades profissionais rela-
tivas às atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e
tecnicamente.
e) O psicólogo prestará serviços profissionais em situações de calami-
dade pública ou de emergência, sem visar benefício pessoal.

49
QUESTÃO 5
Ano: 2016 Banca: IDECAN Órgão: Prefeitura de Natal - RN Prova:
Psicólogo - Edital N°2
“Na realidade, ninguém pode viver ao sabor de suas paixões e dese-
jos momentâneos de onipotência. A satisfação das aspirações morais
faz parte integrante dos conjuntos dos desejos humanos, pois ne-
nhuma sociedade ou grupo pode viver fora de qualquer regra ou lei.
A vida é uma contínua determinação, seleção e criação, não é apenas
deixar-se viver. Na realidade, a conduta moral tem como base a disci-
plina, a adaptação à vida grupal e a autonomia da vontade.”
(Código de Ética Profissional do Psicólogo.)
Sobre a ética profissional, é correto afirmar que:
a) é a ética, enquanto filosofia moral, que colabora para um código sem
criticismo, é também uma visão indefinida do comportamento humano.
É essa ética filosófica que apela para uma reflexão e compreensão das
singularidades.
b) o código de ética tem de ser amplo a uma visão, pois ele é a dimen-
são da ética do homem, ou seja, do profissional. Um código de ética
só será válido se direcionar a ética exclusivamente para o profissional,
separadamente da ética do homem.
c) de acordo com Aristóteles, ser ético é muito mais do que um proble-
ma de costumes, de normas práticas, supõe a boa conduta das ações,
a felicidade pela ação feita e o prêmio ou a beatitude pela alegria da
autoaprovação diante do bem feito.
d) o código de ética deve ser fruto de uma teorização sobre o bem e
sobre o mal; não deve resultar de uma ação humana, de uma doutrina,
de um sentido pleno de vida e de cultura. Contudo, não deve ser uma
prisão, mas uma estrada assinalada para ajudar aos que querem ir de-
vagar e aos que necessitam de pressa para chegar.
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


A compreensão de Freud sobre a personalidade humana foi baseada
em suas experiências com pacientes, em sua análise dos próprios so-
nhos e na formulação do aparelho psíquico. Sobre o enunciado, comen-
te acerca da teoria mencionada e a sua aplicação na Psicanálise.

TREINO INÉDITO
De acordo com a teoria psicanalítica, analise as afirmativas e assi-
nale a alternativa correta:
I. Com o Livro A interpretação dos sonhos, Freud apresenta a primeira
concepção sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade.
II. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por
50
leis próprias de funcionamento, atemporal, desprezando noção de
passado e presente.
III. O consciente recebe informações do mundo exterior e interior.
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas II e III.
d) Apenas II.
e) Todas as afirmativas estão corretas.

NA MÍDIA
A IMPORTÂNCIA DOS SONHOS
A interpretação dos sonhos é uma ferramenta antiquíssima utilizada por
diversas culturas anteriores à nossa. Os povos primitivos, que possuíam
uma mente mais mitológica que a do homem moderno, já notavam si-
nais de que os sonhos eram mensagens. No entanto, eles analisavam
os sonhos de forma literal. A análise dos sonhos em psicoterapia, e
da descoberta de algo simbólico por trás das imagens, começou com
Sigmund Freud que, em 1900, lançou a obra inovadora chamada A In-
terpretação dos sonhos, na qual ele notou que os sonhos nos mandam
mensagens oriundas do inconsciente. Sendo essas mensagens prove-
nientes de materiais reprimidos pela nossa consciência, principalmente
de cunho sexual e agressivo. Ou seja, eram desejos secretos que mui-
tas vezes, por repressão da sociedade ou da [...].
Fonte: Fãs da Psicanálise
Data: 02/10/2020
Leia a notícia na íntegra: https://www.fasdapsicanalise.com.br/a-impor-
tancia-dos-sonhos/

NA PRÁTICA INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS


MECANISMOS DE DEFESA DE FREUD E DA PSICANÁLISE (EXEM-
PLOS)
O texto a seguir mostra que na vida do sujeito há vários mecanismos de de-
fesa. Entre eles fala-se mais sobre: fantasia, projeção, recalque e negação.
Os mecanismos de defesa são mecanismos psicológicos inconscientes
do eu que reduzem a ansiedade decorrente de estímulos potencialmente
prejudiciais ao corpo humano, à personalidade e ao organismo em geral.
Sigmund Freud, criador da psicanálise, foi um dos principais defensores
dos mecanismos de defesa, os quais foram desenvolvidos mais am-
plamente por Anna Freud e, consequentemente, pela psicologia do eu,
com base -na teoria freudiana. Exemplos de mecanismos de defesa
específicos do corpo ou organismo humano são: regressão, negação,
dissociação, projeção, formação reativa, deslocamento, racionalização,
51
isolamento, identificação, sublimação, cancelamento ou compensação.
A psicanálise é uma prática formulada por Sigmund Freud (1856 – 1939)
para o tratamento de distúrbios psicopatológicos com base no diálogo
entre o paciente e o psicanalista. Com mais de um século, deixou mar-
cas indeléveis na história e na cultura da humanidade.
No entanto, a psicanálise não deixa de ter controvérsia e seu desenvol-
vimento teve várias bifurcações e influências em outras teorias psicoló-
gicas, como terapia cognitivo-comportamental ou psicologia do eu. En-
tre os psicanalistas mais reconhecidos e prolíficos estão Sigmund Freud
(seu fundador), Melanie Klein, Anna Freud, Donald Winnicott e Jaques
Lacan, entre outros. No início de sua teoria, Freud concebeu a divisão
da consciência (elaboração teórica anterior à concepção do inconscien-
te) como um mecanismo de defesa, afirmando que o aparato psíquico
vive sob um princípio de defesa no qual utiliza diferentes mecanismos
para se defender do desprazer.

PARA SABER MAIS


Filme sobre o assunto: O diabo veste Prada. (David Frankel, 2006).
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

52
A CULTURA – PSICOSE,
NEUROSE E PERVERSÃO

PROMINAS
PROMINAS

PSICANÁLISE, CULTURA E CIVILIZAÇÃO


- GRUPO
- GRUPO

O termo kultur é traduzido por civilização, tem origem no ale-


À PSICANÁLISE

mão e faz referência aos fatos intelectuais, artísticos e religiosos não


À PSICANÁLISE

aludindo às pessoas.
Freud aborda a palavra “cultura” em vários dos seus escritos sen-
INTRODUÇÃO

do considerados como os mais importantes “Totem e Tabu” (1913) e “O


INTRODUÇÃO

Mal-Estar na Civilização” (1930). Ele adentra essa temática procurando ter


um conhecimento mais completo do sofrer humano. Seu interesse não era
fazer uma análise antropológica do termo, mas sim se aprofundar pela via
da neurose e da experiência individual. Ele usa esse termo como definição
de civilização bem próxima de cultura e propõe considerar kultur como:
5353
A inteira soma das realizações e instituições que afastam a nossa vida da-
quela de nossos antepassados animais, e que servem para dois fins: a pro-
teção do homem contra a natureza e a regulamentação dos vínculos dos
homens (Freud, 1930/2015, p.34).

Este termo se apresenta mais como um princípio geral de regu-


lação, que coloca a falta como inerente ao homem, uma vez que é um ser
de linguagem. É esse caráter estrutural e radical que Freud destaca em
suas obras, em detrimento das diversas formas de composição social.
Aliás, o que ele trabalha é exatamente o mal-estar estrutural inerente às
mais diversas maneiras de apresentação social e construções humanas.
“O mal-estar da civilização”, publicado no ano de 1930 por
Freud, busca categorizar o homem em relação aos animais a partir da ci-
vilização. Para ele, é justamente esse elemento que dá identidade própria
para a humanidade. Desse modo, carregamos um componente coletivo e
complexo que designa uma superioridade dentro de um conjunto.
A definição utilizada por Freud é bastante abrangente, englobando
todas as construções simbólicas e materiais que viriam a oferecer direcio-
namentos para a vida dos homens, uma vez que não são animais orienta-
dos por instintos. Desse modo, civilização se apresenta como a dominação
da natureza humana pela vontade do homem, sem contar também os ele-
mentos regulatórios que fazem a condução das relações humanas.
Por outro lado, Freud deixa evidente que a cultura produz mal-
-estar na humanidade. Isso porque há uma oposição entre a civilização
e as exigências produzidas pelas pulsões. Podemos depreender dessas
ideias que a civilização se sustenta em relação à economia psíquica num
lugar marcado por dois vieses: a impossibilidade de contornar o desam-
paro inerente à construção humana e a impossibilidade de abandonar
seus esforços nessa direção. A partir das construções freudianas sobre
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

o mal-estar como parte da civilização, essas consequências devem ser


situadas em outro nível. Novas formas de expressão são inerentes ao
movimento da cultura e têm consequências para o trabalho clínico.
As produções culturais são questões dos componentes sexu-
ais adquiridos, de forças pulsionais sexuais desviadas do objeto e diri-
gidas para novos objetivos, por meio do processo de sublimação, tanto
individual quanto coletivo. Esse processo participa da constituição da
cultura e, por outro lado é uma questão de produção coletiva pela parti-
cipação de cada um dos membros (FREUD, 1905).
Consequentemente, os componentes pulsionais estão carac-
terizados através da sublimação, inibição ou até mesmo reprimidos em
relação ao seu objetivo, e podem desprender-se em forma de renúncia
ou remodelamento. Tal situação é representada pela psique da cultura
54
que precisa retirar grande quantidade de energia psíquica da sexualida-
de de seus participantes para suas necessidades próprias de consumo.
Além do mais, Freud afirma que é por meio da repressão e do
deslocamento das pulsões; a sexualidade normalmente faria a cultura
progredir, em contraposição aos desvios perversos em conflito com ela
por meio da impossibilidade de mobilizar esses componentes sexuais.
Freud afirma simplesmente que o “valor cultural” da pulsão está em sua
capacidade de se deslocar do objeto e do objetivo.
Em Totem e tabu, por meio da analogia com as formações neu-
róticas sintomáticas, as instituições primordiais e têm origem pulsional e
animal. Elas pertencem aos conflitos das pulsões e constituem soluções
sociais de compromisso ao problema da compensação de desejo. Rea-
lizados coletivamente, eles representam “bens de humanidade”.
Em 1924 (FREUD), foi realizado um breve relato sobre apre-
sentação da cultura como domínio da expressão da “atividade mental
humana”, pressupondo uma atividade projetiva de “modelagem” exter-
na de um mundo interno, que comporta três partes correspondentes às
três áreas da sua representação da cultura: o combate com a realidade,
a natureza (determinando uma comunidade de trabalho e interesse dos
seres humanos vinculados de modo libidinal), e uma vida social correla-
tiva; as satisfações substitutivas de desejos reprimidos, entre os quais
figuram os mitos, a criação literária e artística; as grandes instituições
que permitem dominar o complexo de Édipo e a passagem da libido do
indivíduo das suas ligações infantis para as ligações sociais desejadas.

ESTRUTURAS CLÍNICAS

Neurose INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

As neuroses são fenômenos gerados por um conflito psíquico,


envolvendo a frustração de um impulso instintivo. Além disso, podemos
entendê-las como o resultado das nossas experiências, sejam elas vi-
vências, traumas ou recalques, conforme pontua a psicanálise.

Define-se como uma generalização dos achados sobre a histeria. Seus pre-
dicados incluem a divisão (spaltung) da consciência exposta ao conflito, o
recalcamento ou a separação entre afetos e representações ocasionado pelo
desligamento entre representação-coisa e representação-palavra, a perda da
capacidade de recordação e rememoração, particularmente de experiências
sexuais de natureza traumática, a fixação ou regressão a certas modalidades
substitutivas de satisfação pulsional pela fantasia e o retorno deformado sim-

55
bolicamente do desejo como sintoma (DUNKER, 2014, p. 79-80).

No Vocabulário de psicanálise (1967), localizamos a seguinte


definição sobre neurose: “afecção psicogênica em que os sintomas são
a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem raízes na história
infantil do sujeito e constitui compromissos entre o desejo e a defesa (p.
296).”. No entanto, um século depois de sua especificação freudiana, a
definição da neurose sofre, hoje, de várias aporias, sendo que algumas
delas já eram conhecidas pelo criador da psicanálise, enquanto outras
parecem provir da dupla marcha do tempo, individual e social.
O estudo das neuroses, especialmente da histeria, já dividia
opiniões diferentes em sua gênese de classe.
Classe de neuroses que apresentam quadros clínicos muito variados. As
duas formas sintomáticas mais bem identificadas são a histeria de conver-
são, em que o conflito psíquico vem simbolizar-se nos sintomas corporais
mais diversos, paroxísticos (exemplo: crise emocional com teatralidade) ou
mais duradouros (exemplo: anestesias, paralisias histéricas, sensação de
“bola” faríngica, etc.), e a histeria de angústia, em que a angústia é fixada
de modo mais ou menos estável neste ou naquele objeto exterior (fobias)
(LAPLANCHE & PONTALIS, 2001, p. 211).

Até então, denominavam-se por neurose aqueles quadros clí-


nicos pouco definidos aos quais não se conseguia identificar nenhuma
alteração orgânica. A pessoa neurótica reage de maneira incontrolável
quando submetida a determinadas situações. Apesar de não perder o
vínculo com a realidade, o indivíduo sabe exatamente o que está acon-
tecendo, mas não consegue controlar a intensidade de seus atos, nem
atuar dentro do padrão da "normalidade".
Para a psicanálise, toda pessoa “normal” está na zona da neuro-
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

se, porém, vivendo em equilíbrio com seu aparelho psíquico (id, ego e su-
perego) funcionando de maneira harmoniosa entre o mundo interior e ex-
terior. Situações patológicas surgirão quando ocorrer algum desequilíbrio.
Os diferentes tipos clínicos como a histeria, a neurose obses-
siva e a fobia são dedutíveis de uma estrutura em que ocorrem flutua-
ções. É possível visualizar algumas passagens de um tipo a outro: uma
histeria pode formar sintomas obsessivos, uma obsessão pode formar
sintomas fóbicos. O mesmo não se aplica à passagem entre neurose e
psicose. Tal relação de inclusão do tipo na estrutura ou da espécie ao
gênero, além de móvel, só pode formar um consenso, se lemos o pro-
blema a partir do discurso histérico.
Os tipos clínicos decorrem da estrutura, eis o que já se pode escrever, embora
não sem flutuação. Isso só é certo e transmissível pelo discurso histérico. É

56
nele, inclusive, que se manifesta um real próximo do discurso científico. Con-
vém notar que falei de real, e não da natureza (Lacan, 1975/2003, p. 554).

Freud define que, na neurose, o ego suprime parte da identida-


de fora da fidelidade à realidade, enquanto na psicose, ela se permite
ser levada pela identidade e separada de uma parte da realidade.
Em geral, uma neurose representa um exemplo em que os es-
forços do ego para lidar com seus desejos através da repressão, deslo-
camento etc. falham: "Uma pessoa só adoece de uma neurose se seu
ego perdeu a capacidade de alocar sua libido de alguma forma". Ou
seja, o fracasso do ego e o aumento da insistência da libido levam a
sintomas tão ruins ou piores do que o conflito que eles são projetados
para substituir. O ego geralmente percebe "uma vantagem através da
doença", como Freud o chama, o sintoma.
Dessa maneira, Freud acaba permitindo que o ego deixe de
lado o conflito entre seu ego e sua identidade através de um sintoma
que lhe permite experimentar prazer de forma alternativa (se muitas
vezes debilitante). O sintoma é um substituto para o impulso instintivo,
mas que é tão reduzido, deslocado e distorcido que muitas vezes não é
reconhecível como uma gratificação, mas parece mais uma compulsão
ou mesmo uma doença. Exemplo: a compulsão/mania obsessiva pela
limpeza. Uma vez que tal sintoma é colocado em prática, o ego muitas
vezes o reforça racionalizando e aproveitando-se do comportamento.
Quanto mais arraigado e racionalizado um sintoma se torna, mais resis-
tente será a cura psicanalítica.
Elas podem ser causadas pelos:
1) impulsos internos que são indevidamente reprimidos pelo
ego e que, portanto, encontram expressão alternativa; ou
2) por eventos traumáticos externos (um encontro sexual, abuso
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
sexual, trauma de guerra). Normalmente, é necessária uma combinação
de 1) e 2) para que a neurose se manifeste; no entanto, Freud logo per-
cebeu que a linha entre a fantasia (1) e a realidade (2) pode ser difícil
de determinar. Portanto, devemos equiparar a fantasia e a realidade; na
verdade, não devemos "nos preocupar em começar com se as experiên-
cias de infância em exame são uma ou outra", pois "no mundo da neu-
rose é a realidade psíquica que é do tipo decisivo". Em outras palavras,
memórias de trauma infantil (incesto com o pai, vendo os pais copulando
(o que Freud chama de "fantasmagórica primitiva"), às vezes podem ser
completamente construídas (pura fantasia) e, no entanto, funcionam tão
traumaticamente como se tivessem realmente acontecido.
Segundo Freud, há várias classes de neuroses:
- Neuroses narcisistas: megalomania, melancolia. Definia es-
57
sas neuroses como particularmente difíceis de curar porque o paciente
se desenvolveu de forma a recusar a interação com outras pessoas,
dificultando a cura com um analista.
- Neuroses de transferência ou "psico-neuroses": quando o de-
sejo de um objeto externo é transferido para fantasias que, em seguida,
tomam o lugar da gratificação sexual real. Incluídos nessa categoria
geral estão: histeria, incluindo 1) histeria de conversão, na qual os sin-
tomas se manifestam no corpo (por exemplo, doença psicossomática);
e 2) histeria de ansiedade, na qual se sente ansiedade excessiva por
causa de um objeto externo (por exemplo, fobias).
- Neuroses obsessivas: aqui um impulso sexual é substituído por
pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos (por exemplo,
limpeza obsessiva ou atos cerimoniais minuciosamente repetidos).
- Neuroses traumáticas: dado que ele experimentou os resulta-
dos da Primeira Guerra Mundial, Freud estava especialmente familiariza-
do com as neuroses causadas pelo trauma da guerra; no entanto, qual-
quer número de traumas pode levar a neuroses (por exemplo, estupro).
Veja o próximo módulo sobre trauma e transferência. O que distingue
neuroses traumáticas de outras neuroses é o fato de que a causa dos sin-
tomas não se baseia, em sua maioria, nos conflitos inconscientes ou psi-
cológicos, mas em um evento traumático real (e, muitas vezes, imediato).
O tratamento da neurose consiste em tornar consciente parte
do inconsciente até que transformemos o conflito patogênico em um
conflito normal para o qual deve ser possível de alguma forma encontrar
uma solução. No entanto, simplesmente afirmar a "verdade" da neurose
de um paciente muitas vezes não é suficiente, uma vez que o trabalho
de repressão é tal que o paciente pode ouvir as palavras do analista,
mas não acreditar neles ou talvez permitir que a "verdade" fique ao lado
de uma doença contínua.
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

Um bom exemplo dessa tendência para que a verdade fique


ao lado do sintoma é o fetichismo, o deslocamento do desejo sexual
em objetos alternativos ou partes do corpo (por exemplo, um fetiche por
pés ou um fetiche por sapatos), causado pelo confronto do sujeito com o
complexo de castração. Freud percebeu em seu ensaio sobre "fetichis-
mo" que o fetichista é capaz de acreditar em sua fantasia e reconhecer
que não passa de um fantasma.

Psicose

Freud (1896) explica que há ativação dos mecanismos de de-


fesa quando o ego se depara com uma excitação de cunho sexual, que
58
é traumática e, por isso mesmo, deve ser recalcada. Elucida que na psi-
cose o ego rejeita a representação incompatível com o seu afeto e age
como se essa representação nunca tivesse existido, tudo isso graças ao
seu desligamento da realidade.
Na psicose, Freud deduziu a ineficiência da intervenção clíni-
ca, estando ligada na transferência entre analista e paciente. Segundo
Freud (1915), a psicose estaria fora da lógica transferencial, concebida
em termos intersubjetivos desde a criação da teoria da libido.
Em um caso de psicose, o mundo exterior não é percebido.
O ego cria um novo mundo externo e interno, que são baseados nos
impulsos e desejos do id, tendo como motivo uma grande frustração. A
perda do controle voluntário dos pensamentos, emoções e impulsos é a
principal característica da psicose. O comportamento psicótico apresen-
ta dificuldades de traçar diferenciação entre a realidade e a experiência
subjetiva. Nesse caso, fantasias e realidade se confundem, podendo a
realidade ser substituída por delírios e alucinações. Zimerman busca
distinguir as três condições da psicose que seriam,

1) - psicose propriamente dita; 2) - estado psicótico; 3) - condição psicótica.


O que nos interessa aqui é a psicose propriamente dita. O autor define que
as psicoses "implicam um processo deteriorativo das funções do ego, a tal
ponto que haja, em graus variáveis, algum sério prejuízo do contato com a
realidade. É o caso, por exemplo, das diferentes formas de esquizofrenias
crônicas" (ZIMERMAN, 1999, p. 227).

Na psicose, o id se encontra como fator predominante de influên-


cia e, necessariamente, há perda da realidade, mesmo que em intensida-
des e momentos variados. Possui dois aspectos principais, um referente à
despersonalização, que diz respeito aos conhecimentos do indivíduo sobre
si mesmo e, o outro aspecto se refere à desrealização, que é o conheci- INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
mento do indivíduo sobre o mundo. Isto é, ela seria um conflito do ego e
com realidade externa. Nela, há uma predominância do eu, pois o ego cria
um novo mundo interno e externo de acordo com os impulsos do id.
Na medida em que há tentativas de restabelecer nova relação
com a realidade, elas se dão sem restrições ao Id, por meio do imagi-
nário, delírios e alucinações. O delírio vem como uma tentativa de cura
ou preenchimento dessa realidade que não pôde ser suportada. O Ego
constrói um novo real de acordo com os impulsos do Id. Em uma alu-
cinação auditiva, por exemplo, o sujeito ouve seu próprio íntimo, seus
pensamentos projetados em vozes.
Para Freud, o termo psicose estaria fora da lógica transferal,
levantada em termos intersubjetivos desde a teoria da libido. Neste tipo
de psicopatologia, o progresso na formalização do campo da psicose,
59
localizando na paranoia uma regressão ao narcisismo e na esquizo-
frenia uma regressão ao autoerotismo, não toca na afirmação de que
o psicótico não teria acesso à experiência da análise. Dessas formu-
lações, quase todos nós somos notados; porém, sustentamos que o
lugar da psicose no trabalho freudiano não se resume a esse ponto de
impossibilidade; pelo contrário, há uma peça elementar na montagem
do campo do conhecimento da psicanálise, mostrando que a intuição
clínica supera a teoria, e deve ser a bússola que nos guia.
Notamos que, embora Freud duvide da possibilidade de a psi-
canálise acessar o tema em psicose, ele não parece duvidar da verdade
que ali está e se articula ao campo psicanalítico armado. Nesse sentido,
entendemos que Freud legitima o discurso do ditado louco quando reco-
nhece em suas palavras, em seus gestos, em suma, em suas produções,
uma "tentativa de restauração, reconstrução" (Freud, 1911/2003c, p. 65).
O autor não fica lá, mas também se pergunta pela forma como saber ou
ver a verdade que a produção particular do psicótico torna conhecida.
A capacidade de relacionamento emocional e social do indi-
víduo é afetada, ocorrendo uma marcante desorganização da perso-
nalidade. Portanto, a psicose tem como núcleo estruturante central a
prevalência do princípio do prazer sobre o princípio da realidade. Dessa
forma, as funções do ego são prejudicadas, caracterizando o contato do
indivíduo psicótico com seu mundo externo como um ambiente restrito
ao seu universo intrapsíquico.

Profundas, centradas nelas mesmas, estabelecendo uma delicada relação


com o ambiente porque esse ambiente pode ser fator de desorganização
pessoal [...] têm um mundo interno rico, em função do id como instância do-
minante. A criatividade do tipo P é grande em função desse contato profundo
com seu mundo interno, sendo que suas ideias próprias, que não precisam
respeitar regras ou opiniões alheias, também se dão em função dessa rique-
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

za do mundo interior (HEGENBERG, 2001, p. 98).

Além dessas características, existe um fator que define o qua-


dro do psicótico, a questão social. O psicótico tem dificuldade de se
desempenhar no campo social. Em termos psicanalíticos, ele apresenta
dificuldade de se desempenhar diante do outro, no espaço do outro. A
natureza da angústia, na personalidade psicótica, é de fragmentação.
Não há organização do superego, pois o que domina é a organização
do id, que direciona a um conflito com a realidade.
Com relação ao pensamento, no psicótico acontece o que pode-
mos chamar de clivagem, isto é, o pensamento delirante primário não se
reprime nem fica embutido, o que o possibilita agir com uma normalidade
aparente. Como seu pensamento é prisioneiro, ele não possui o prazer
60
de pensar nem liberdade e autonomia para elaborar novos pensamentos
(ALBUQUERQUE, 1995). Por isso, o psicótico tem dificuldade em criar
metáforas, aquilo que ele escuta é interpretado de forma literal.
Intrínseco ao pensamento, encontramos os afetos que também
não são típicos. Ao psicótico não é permitido experenciar os sentimen-
tos genuínos que vivencia. Na psicose incide, portanto, uma interdição
no registro da “nominação dos afetos”, tornando-os sentimentos, o que
não possibilita nomear adequadamente as vivências cuja causa esteja
relacionada à significação ausente (ALBUQUERQUE, 1995).
Além do pensamento e do afeto, o profissional precisa estar aten-
to ao contexto em que o psicótico está inserido, principalmente no que diz
respeito à sua família que, num aspecto mais amplo, apresenta "caracterís-
ticas psicóticas" como a clausura. Elas são fechadas, possuem um mundo
próprio e desfavorecem as regras e o que é dito no meio social, ou seja,
tais características impedem uma interlocução sadia do sujeito com o que
é diferente, com estímulos derivados do campo não familiar que poderiam
oferecer certa autonomia e liberdade. Desse modo, tais observações nos
permite considerar a possibilidade de uma "transmissão" da psicose entre
os membros que compõem a família (ALBUQUERQUE, 1995).
Freud, em 1924, elucida que a psicose traz a questão do distan-
ciamento do ego (a serviço do id) da realidade, com predomínio do id (e
não o princípio da realidade) sobre o ego em si. Ele estabeleceu a exis-
tência de duas fases para o desenvolvimento de uma defesa psicótica
diante de um estímulo. Inicialmente, o ego estaria distante de uma reali-
dade; e posteriormente ocorreria uma tentativa de reparo ao dano provo-
cado pelo distanciamento, através do restabelecimento dos contatos do
indivíduo com a realidade que o cerca. (SOARES e MIRÂNDOLA, 1998).

Perversão INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

A perversão se constitui em relação com o complexo de cas-


tração, na dialética edipiana. Na passagem pela castração, o sujeito
desenvolve uma defesa que envolve a recusa perceptiva sobre a falta
do falo no outro, representado pelo corpo da mãe. O mecanismo de
defesa em relação à castração será nomeado também como negação,
denegação, recusa ou desmentido. Esse mecanismo de defesa age no
sentido de desautorizar a experiência da castração. O sujeito é ciente
da experiência, mas se nega a reconhecê-la. Pode-se pensar que:

[...] a passagem para a plena organização genital supõe, para Freud, que o
complexo de Édipo tenha sido ultrapassado, o complexo de castração assu-
mido, a interdição do incesto aceita. As últimas pesquisas de Freud sobre a

61
perversão mostram, aliás, como o fetichismo está ligado à “recusa” da cas-
tração (LAPLANCHE E PONTALIS, 2001, p. 343).

A perversão é então descrita como uma defesa contra a psico-


se, a fragmentação do eu. Mais comumente, porém, é afirmada como
o negativo da neurose, ou seja, como aquilo que a neurose suprime
para se constituir enquanto tal. Nela, o desejo aparece como vontade
de gozo e o ato é vivenciado como vitorioso, não havendo qualquer
sentimento de culpa. Guy Clastres diz que:

O perverso é aquele que na sua estrutura clínica, de uma parte reconhece a


castração materna e, ao mesmo tempo, funciona no sentido de desmenti-la.
Seu ato é sustentado subjetivamente por uma relação ao desmentido, con-
trariamente ao que se passa no lado neurótico. Poder-se-ia dizer que no caso
do desmentido há um NÃO que remete, ao mesmo tempo, a um SIM, mas
também a um NÃO (1999, p. 32-33).

A dificuldade apresentada pela abordagem das perversões em


si pelo seu limite muito próximo a outras estruturas nos chama a fazer
certos esclarecimentos. Na revisão teórica realizada no estudo das per-
versões, costumamos encontrar material que, além de seus títulos como
um todo, não são diretamente dedicados a essa estrutura como se a ra-
ridade clínica disso fosse tanta, que era para substituí-la por uma seme-
lhança. Destacar essa dificuldade não seria importante se a intenção não
mostrasse nossas dificuldades nesse sentido. Consentimos que para isso
possamos partir de uma premissa que inclua toda verdade de estrutura.
Na psiquiatria, o termo refere-se, na maioria das vezes, a con-
dutas imorais ou amorais consideradas como desviantes. O conceito de
perversão foi elaborado depois que surgiu a teorização sobre as pul-
sões, em substituição aos instintos. O que caracteriza a perversão para
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

Freud é a presença de uma organização psíquica baseada na recusa


Na psicanálise, Sigmund Freud primeiro incluiu perversão no
contexto da sexualidade, e depois estudou a perspectiva psicogenéti-
ca das fixações e regressões. A perversão é compreendida como um
desvio da pulsão em relação à sua meta ou objeto. Esse ponto de vista,
implica na existência de uma satisfação “normal” da pulsão, ou seja,
uma satisfação em si mesma.

É aquele que por si mesmo ou através do qual a pulsão se acha apta a atingir
sua meta. O objeto é o que é mais variável na pulsão e não está originalmen-
te conectado a ela, mas se torna determinado a ela apenas em consequência
do fato de ser particularmente apropriado para possibilitar a satisfação. O
objeto não é necessariamente extrínseco: ele pode igualmente ser uma parte
do próprio corpo do sujeito. Ele pode mudar quantas vezes forem possíveis

62
no curso das vicissitudes que a pulsão percorre durante a sua existência”
(FREUD, 1915, p.122-123).

Frente ao exposto, o perverso é dedicado a tapar o buraco do


outro. Ou seja, trata-se de uma operação que só assume uma dimensão
de consistência se sustentar a possibilidade de acesso a um gozo proi-
bido, ou seja, a transgressão da lei, por assim dizer. Enfrentamos uma
estrutura que, como as outras, está focada em estabelecer uma relação
não editada com a castração.
A origem desse uso destrutivo do outro é teorizada como fe-
nômeno de projeção de contradições internas e dores que o indivíduo
se recusa a sentir. É um mecanismo de defesa, ou seja, um fenômeno
psíquico que visa evitar o sofrimento interno, e usa o outro como uma
coisa, um instrumento, um meio para externalizar o que é considerado
insustentável, ou destrutivo para o indivíduo que usa uma operação per-
versa, a fim de se proteger contra ele. Quando esse mecanismo tende a
valorizar o ego, a autoimagem externa, às vezes falamos de perversão
narcisista, embora este termo seja pouco utilizado no contexto médico
e psicanalítico: qualquer perversão é intrinsecamente uma desordem do
narcisismo. Também é focado nas relações sexuais, estamos falando
de perversão sexual. Esse entendimento refere-se à imposição de uma
relação sexual do outro em detrimento da vontade de alguém. Essa de-
finição não deve ser confundida com relações sexuais não aceitas pela
adoração religiosa ou costumes atuais.
A estratégia didática de Freud em seus Três Ensaios sobre a
Teoria da Sexualidade foi construir uma ponte entre as "perversões" e
a sexualidade "normal". Explorando clinicamente uma coleção ricamen-
te diversificada de doações e inclinações eróticas, entre elas: herma-
froditismo, pedofilia, fetichismo, exibicionismo, sadismo, masoquismo,
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
coprofilia, necrofilia, Freud concluiu que todos os seres humanos são
inatamente perversos. Ele encontrou as raízes de tais perversões na
sexualidade infantil e ressaltou que, embora envolvesse uma ampla e
desfocada gama de atividades perversas, em contraste com a perver-
são adulta havia uma diferença importante entre elas.
Freud considerava a perversão como sendo um mecanismo de
defesa. Um fenômeno psíquico que visa evitar o sofrimento interno e
quem usa o outro como uma coisa, instrumento ou meio para externali-
zar o que é considerado insustentável ou destrutivo para o indivíduo que
usa uma operação perversa para se proteger contra ela.
A origem desse uso destrutivo do outro é teorizada como um
fenômeno de projeção de contradições internas e dores que o indiví-
duo se recusa a sentir. Quando esse mecanismo tende a valorizar o
63
ego, a autoimagem externa, às vezes falamos de perversão narcisista,
embora esse termo seja pouco utilizado no contexto médico e psicana-
lítico: qualquer perversão é, de fato, inerentemente uma desordem de
narcisismo. Quando esse mecanismo é focado nas relações sexuais,
estamos falando de perversão sexual.
Na sua fonte, a perversão é uma operação defensiva que po-
deria ser usada por todos. No entanto, para alguns, esse mecanismo
está se tornando um modo de operação mais confortável e gratificante,
permitindo evitar sofrimento psicológico (ansiedades, depressões etc.),
limitações (incluindo a existência e expressão de outros), perdas (mor-
te, envelhecimento, doença, morte etc.) e remissão em questão de si
mesmo. Quanto mais esse mecanismo é usado, mais ele se torna mais
forte, como o uso do outro como um instrumento que priva a pessoa
perversa de qualquer retorno emocional estruturante.
A sexualidade perversa é uma regra excelentemente centrada:
todas as suas atividades são direcionadas a um objetivo — geralmente
um único; um instinto componente ganhou a vantagem. A esse respeito,
não há diferença entre a sexualidade perversa e a normalidade, além
do fato de que seus instintos componentes dominantes e, consequente-
mente, seus objetivos sexuais são diferentes. Em ambos, pode-se dizer,
uma tirania bem organizada foi estabelecida, mas, em cada uma das
duas, uma família diferente tomou as rédeas do poder.
Dito de outra forma, o fetiche é o substituto do pênis da mãe e
é mostrado como um objeto ligado à esfera do corpo, com os usos do
corpo, a partir daí que ele é mais proeminente localizado na mãe, o que
para a criança acaba sendo previsto em sua própria lei. O sujeito cria um
fetiche a fim de destruir todas as evidências de uma possibilidade de cas-
tração e, assim, escapar do medo da castração (FREUD, 1911/2003c).
Um problema central de qualquer processo perverso, ou seja,
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

uma formação substituta que mantém a realidade dos sexos suspensa,


como resultado de uma condição de compromisso que intervém entre
duas forças psíquicas em conflito. Essa força surge sob duas condições,
uma que é a premissa negativa-imaginária de que deveria haver o falo e
a negação da realidade indesejada através de uma formação substituta.
Diante dessa cisão do eu, a criança reconhece a falta do pênis
no outro, conforme se apresenta no corpo, mas nega a sua existência.
Desta recusa do complexo de castração surge no indivíduo um déficit
de afetos sociais, como a culpa, o nojo ou a vergonha que irão se mani-
festar posteriormente em sua vida, em seus comportamentos e ao longo
da vida. Segundo Penot (1999),

As defesas do eu dizem respeito ao mundo intrapsíquico já constituído, com

64
julgamentos de atribuição e de valor operando, quer dizer, há a possibilidade
do eu rejeitar algumas coisas e aceitar outras. Tais defesas do eu encontram-
-se em Freud, sob o modelo do recalcamento. Há ainda outros problemas,
com outros mecanismos que não têm a ver com uma defesa de negar ou
uma defesa contra alguma coisa reconhecida, porque têm a ver com o pró-
prio reconhecimento, o próprio fato de pensar, de simbolizar alguma coisa.

Para que não haja ligação da representação com sentimentos


indesejados, o que é suprimido é a própria representação. Daí uma am-
biguidade se impõe: ainda que o sujeito veja e saiba que viu, o senti-
mento que causaria esta ideia o leva a não reconhecê-la, de forma que
ele atue como se isto não tivesse ocorrido. O objeto de fetiche é, na
perversão, o que elege para garantir que a visão da ausência do pênis
e a ameaça de castração não apareçam. Com isto, a carência simbólica
é o resto que sobra da recusa. A representação em si não é eliminada,
mas reduzida ao ponto de não adquirir registro simbólico.
Devido a essa ausência, o sujeito não conseguirá elaborar/
subjetivar-se. No lugar dessa falta, a pessoa irá construir um substituto
simbólico, o fetiche: “Vemos o que o fetiche faz e de que modo é man-
tido. Ele subsiste como signo de triunfo sobre a ameaça de castração e
como proteção contra ela” (Freud, 1927). Observa-se que no fetichismo
o sujeito irá se atrair por certas partes do corpo ou objetos, podendo, às
vezes, renunciar ao ato sexual a favor da fixação nos objetivos prelimi-
nares ou simbólicos para a obtenção do prazer sexual.
A vontade de gozo fica então instituída como lei natural. Assim,
o sujeito – colocando-se em posição de objeto – opera uma inversão
da relação com o outro, denunciando a verdade sobre o seu desejo e
a sua falta. O outro é que desejou e provocou seu ato, não ele. Ainda
para Freud, essa impostura se presta ao aliciamento do neurótico "des-
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
prevenido" que, fisgado entre esses efeitos de gozo e a sua verdade
recalcada, participa dela do mesmo modo que no chiste, onde um diz
a verdade e os outros dela desfrutam, constituindo uma manobra que
favorece uma satisfação perversa.

O que permanece mais importante para o perverso é o fato de que o outro seja
suficientemente engajado, inscrito num balizamento conhecido, sobretudo de
respeitabilidade para que cada nova experiência ganhe figura de devassidão,
isto é, para que o Outro se veja extraído do seu sistema, e para que aceda a um
gozo onde o perverso detém em toda instancia, o controle (DOR, 1997, p 48).

A interrogação de uma estrutura é importante na condução de


um caso clínico, pois, como ressalta Freud (1913/1996) em Sobre o
início do tratamento, há uma dificuldade de se fazer o diagnóstico dife-
65
rencial, pois, se for feito de forma errônea, traz grandes prejuízos para o
tratamento, uma vez que incide na prática, na condução do caso, tendo
efeitos nocivos, além de despertar uma violenta oposição no paciente.
Percebendo-se a importância do diagnóstico, traz-se a contribuição de
Martinho (2011), pois existe um cenário de gozo e condutas perversas
que não são suficientes para poder diagnosticar um sujeito perverso.
Esse mesmo autor refere-se que:

Diagnosticar um sujeito perverso é bem mais sutil do que apenas dizer que
basta um cenário de gozo perverso para que se esteja diante de um perver-
so. Não se deve definir uma estrutura em nível da fenomenologia dos sinto-
mas nem tampouco das condutas, ou seja, daquilo que é observável, haja
vista o fato de que encontramos, por exemplo, manifestações aparentemente
obsessivas na psicose (MARTINHO, 2011, p. 138).

Mostra-se a necessidade de diferenciar perversão enquanto es-


trutura, pois, na neurose, é possível ter uma “montagem perversa” e saí-
das perversas em algumas situações, tornando-a diferente da perversão.
Neste sentido, há uma especificidade da questão diagnóstica em psica-
nálise, pois, de certo modo, implica numa certa subversão da sintomato-
logia e suas variantes comportamentais, para que o analista possa ler a
posição do sujeito no discurso e sua relação com o saber. Isto será uma
espécie de condição preliminar para que se possa esboçar uma hipótese
diagnóstica. Do contrário, corre-se o risco de a escuta ser capturada pela
fenomenologia. Ainda em relação à estrutura, a autora refere que:

Uma estrutura clínica deve ser definida na relação entre o $ (efeito de lingua-
gem) e o Outro (que inclui o inconsciente), por isso é preciso saber como a
relação fantasmática entre o sujeito e o Outro se apresenta. Deve-se iden-
tificar como o cenário de gozo na fantasia se coloca em relação ao desejo
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

inconsciente (MARTINHO, 2011, p. 138).

O comportamento social do perverso também pareceria de-


pender de seu nível intelectual; seu grau de adaptação social variaria
em função de seu caráter. Uma série de outros componentes patológi-
cos poderiam interferir favoravelmente no sentido das perversões. Seria
tanto o caso das epilepsias que agravariam perigosamente as reações
perversas, quanto a histeria que constituiria um importante catalisador
em razão da anomalia dos instintos e das crises que lhe são específicas.

O perverso regra sua conduta sobre a realização de seus desejos, de seus ape-
tites, sem consideração pelo que se pode chamar de sentimento da dignidade in-
dividual e de respeito a outrem, ou por carência destes elementos moderadores
habituais. Ele cai assim no uso abusivo dos tóxicos, na paixão pelo jogo e seu

66
corolário frequente, a trapaça, a vagabundagem e a deserção, o roubo e suas
múltiplas variantes, a pilhagem e a desnutrição, o incêndio voluntário, a prostitui-
ção, etc. O perverso encontra muito frequentemente no bando de malfeitores, a
ajuda e a emulação que estendam seu campo de ação e exaltam sua nocivida-
de. De fato, o 'senso moral' não existe certamente como tal. O indivíduo adapta-
-se mais ou menos bem à vida social, está mais ou menos apto a conhecer e a
compreender as restrições que ela lhe impõe, dá mais ou menos consentimento
às suas restrições. Este é o critério que lhe permite determinar a responsabilida-
de dos perversos quando contravêm às leis (DOR, p.69).

A teoria analítica das perversões fundamenta-se em uma orga-


nização de conceitos que remetem, em larga medida, a elaborações de
metapsicologias. Mesmo se a metapsicologia merece com frequência
ser interrogada face às consequências que engaja na explicação de
seus processos, todavia, proporciona uma possibilidade de reflexão re-
almente clínica e teórica. Em contrapartida, a intrusão de considerações
ideológicas satura, de antemão, essa possibilidade de interpelação.
Toda abertura terapêutica é ocultada na medida em que o campo de
inteligibilidade está, ele mesmo, parasitado pela prevalência de normas
que pressupõem a existência implícita de uma interdição.
Outra possibilidade é que o analista atente para a posição do
sujeito. Ela deve ser analisada não em sua relação com o sintoma ou
com o nome, mas em sua relação com a pulsão. No entanto, a perversão
infantil não pode ser confundida com a perversão do adulto, mesmo que
seja o ponto de partida para esta, cada uma mantém sua especificidade.

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

67
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Teorias e Técnicas Psicoterápicas
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: Analista
Judiciário - Psicologia
Com relação a neuroses, psicoses e transtornos de personalidade,
julgue o item a seguir.
Tanto as neuroses quanto as psicoses se distinguem nitidamente
do estado hígido.
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 2
Ano: 2017 Banca: IBADE Órgão: SEJUDH - MT Prova: Psicólogo
Tradicionalmente na clínica psicanalítica considera-se a diferen-
ciação estrutural entre neurose e psicose para fins diagnósticos. A
psicose caracteriza-se fundamentalmente por:
a) um desvio em relação ao ato sexual “normal”, no qual a satisfação é
obtida por meio de objetos sexuais ou está subordinada de forma impe-
riosa a certas condições extrínsecas.
b) uma perturbação primária da relação libidinal com a realidade cujos
sintomas manifestos representam uma tentativa de restauração do laço
objetal.
c) sintomas que são a expressão simbólica de um conflito psíquico cujas
raízes estão na história infantil do indivíduo e constitui um compromisso
entre a defesa e o desejo.
d) impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais,
em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas.


e) um conflito defensivo que não se traduz na formação de sintomas niti-
damente isoláveis, mas por traços de caráter, modos de comportamento
ou mesmo uma organização patológica do conjunto da personalidade.

QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: STJ Prova: Analista
Judiciário - Psicologia
Com relação a neuroses, psicoses e transtornos de personalidade,
julgue o item a seguir.
Neuroses são definidas como os desvios psíquicos que não en-
volvem inteiramente o próprio homem; psicoses são os desvios
psíquicos que acometem o homem em sua totalidade.
68
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 4
Ano: 2012 Banca: Concurso de Psicologia Órgão: Prefeitura Muni-
cipal de Duas Estradas. Prova: Psicólogo
Assinale a alternativa correta em relação aos aspectos psicodinâ-
micos da neurose, da psicose e da perversão.
a) Designa-se por perversão o conjunto de comportamento psicosse-
xual que não acompanha atipias na obtenção do prazer sexual.
b) Pode-se dizer que existe perversão quando o orgasmo é obtido com
outros objetos sexuais ou por outras zonas corporais e quando o orgas-
mo é subordinado de forma imperiosa a certas condições extrínsecas.
c) Chama-se perversão quando o orgasmo é obtido com objetos se-
xuais não usuais, desde que com uma pessoa do sexo oposto.
d) A neurose é uma perversão negativa, é o negativo da pulsão, ou seja,
a perversão é a manifestação lapidada, não recalcada, da sexualidade
infantil.
e) Neurose não é um quadro psiquiátrico caracterizado por dificuldades
de adaptação pelo indivíduo.

QUESTÃO 5
Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: UFFS Prova: Psicólogo
Assinale a alternativa correta em relação aos aspectos psicodinâ-
micos da neurose, da psicose e da perversão.
a) Na segunda teoria do aparelho psíquico postulado por Freud, em
uma psicose, o ego obedece às exigências da realidade e do superego,
recalcando reivindicações pulsionais.
b) Na psicanálise, postula-se que a neurose se inicia por uma ruptura INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
entre ego e realidade, deixando o ego sob o domínio do id.
c) Pode-se designar perversão o conjunto de comportamentos psicosse-
xuais atípicos na obtenção de prazer sexual, em que há presença de um
mecanismo de recalcamento intenso, provocando sentimento de culpa.
d) Freud descreveu como principais mecanismos da histeria de conver-
são a anulação retroativa e o isolamento.
e) Seguindo a teoria pulsional da psicanálise, há, na neurose obsessiva,
uma fixação na fase anal e regressão.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


A psicanálise caracteriza os transtornos mentais em neurose, psicose e
perversão. Sobre o enunciado, traga para reflexão um caso clínico para
cada conceito.
69
TREINO INÉDITO
As possibilidades frente à renegação, rejeição e recalque estão as-
sociadas, respectivamente, à ______.
a) Neurose, fobia e psicose.
b) Perversão, psicose e neurose.
c) Neurose, perversão e psicose.
d) Fobia, psicose e perversão.
e) Psicose, neurose e perversão.

NA MÍDIA
DOSSIÊ – PERVERSÃO
A perversão é uma das três grandes estruturas da psicopatologia psicana-
lítica. Ao lado da psicose e da neurose, ela representa um tipo específico
de subjetividade, desejo e fantasia. Comparativamente, seu diagnóstico é
mais difícil e controverso: consideram-se a extensão e variedade de seus
sintomas, bem como sua alta suscetibilidade à dimensão política. Nas per-
versões podemos incluir aproximativamente três subgrupos: as perversões
sexuais, as personalidades antissociais e os tipos impulsivos. Essa subdi-
visão é problemática e apenas descritiva, pois cruza categorias originadas
em diferentes tradições clínicas. Devemos distinguir uma perversão ordi-
nária de uma perversão extraordinária, representada pelos “tipos concen-
trados” com os quais a perversão foi historicamente associada, para, em
seguida, ser excluída, silenciada e expulsa da condição [...].
Fonte: UOL
Data: 11/10/2020
Leia a notícia na íntegra:
https://revistacult.uol.com.br/home/dossie-perversao/ e
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/psicanalise-a-mente-
-segundo-a-teoria-de-sigmund-freud.htm
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

NA PRÁTICA
NEUROSE E PSICOSE
A diferenciação entre a psicose e a neurose não é unânime entre os
terapeutas. Para alguns, trata-se apenas de diferenças de intensidade
dos sintomas, para outro tanto, há diferenças fundamentais ente as psi-
coses e as neuroses.
Nos últimos anos, uma grande quantidade de estudos busca identificar
relações entre a ocorrência da psicose e outros fatores, como idade,
sexo e ocupação. A princípio, ficou demonstrado que há uma grande
variação de idade em relação à manifestação da psicose.
Além disso, as manifestações psicóticas podem ser verificadas em to-
dos os tipos de ocupações, sem uma ocorrência específica em uma
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determinada área. Também é comum encontrar manifestações psicóti-
cas em todos os grupos étnicos e raciais. Sendo que as manifestações
psicóticas ocorrem duas vezes mais em pessoas que vivem em áreas
urbanas que pessoas que vivem em áreas rurais.

PARA SABER MAIS


Filme sobre o assunto: Desejos Mortais (Oxide Pang Chun, 2004). A
Epidemia (Breck Eisner, 2010).
Acesse os links: https://encenasaudemental.com/comportamento/insight/
neurose-psicose-e-perversao-um-olhar-psicanalitico/ e http://revistas.uni-
sinos.br/index.php/contextosclinicos/article/viewFile/ctc.2017.102.06/6306

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

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CAPÍTULO 1

QUESTÕES DE CONCURSO

QUESTÃO DISSERTATIVA

- Id: é impulsionado pelo princípio do prazer, que se esforça para a gra-


tificação imediata de todos os desejos, vontades e necessidades. Se
essas necessidades não são satisfeitas imediatamente, o resultado é
um estado de ansiedade ou tensão. Por exemplo, um aumento da fome
ou sede deve produzir uma tentativa imediata de comer ou beber. Ele
é muito importante no início da vida, porque assegura que as necessi-
dades de uma criança sejam atendidas. Se a criança está com fome ou
desconfortável, ela vai chorar até que se cumpram as exigências dele.
No entanto, sempre satisfazer essas necessidades imediatamente não é
realista nem mesmo possível. Se estivéssemos completamente guiados
pelo princípio do prazer, estaríamos tirando coisas das mãos de outras
pessoas para satisfazer os nossos próprios desejos. Esse tipo de com-
portamento seria perturbador e socialmente inaceitável. De acordo com
Freud, o id tenta resolver a tensão criada pelo princípio do prazer através
do processo primário, que envolve a formação de uma imagem mental do
objeto desejado como uma forma de satisfazer a necessidade.
- Ego: opera com base no princípio da realidade, que se esforça para satisfa-
zer os desejos do id de maneira realista e adequada. O princípio de realidade
pesa os custos e benefícios de uma ação antes de decidir agir sobre desistir
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ou ceder aos impulsos. Em muitos casos, os impulsos do id podem ser satis-


feitos através de um processo de gratificação atrasada – o ego acabará por
permitir o comportamento, mas apenas no momento e lugar apropriados. O
ego também descarrega a tensão criada por impulsos não satisfeitos através
do processo secundário, em que o ego tenta encontrar um objeto no mundo
real que corresponde à imagem mental criada pelo processo principal do id.
- Superego: atua para aperfeiçoar e civilizar o nosso comportamento.
Ele trabalha para suprimir todos os impulsos inaceitáveis do id e se
esforça para realizar o ato do ego nas normas idealistas em vez de
princípios realistas. O superego na primeira tópica do aparelho psíquico

TREINO INÉDITO
Resposta: A
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CAPÍTULO 2

QUESTÕES DE CONCURSO

QUESTÃO DISSERTATIVA

- Fantasia: o conceito de fantasia na teoria freudiana foi formulado quando


ainda fazia seus estudos sobre histeria juntamente com Breuer, conside-
rando a fantasia como uma atividade mental muito frequente nas histéri-
cas, tanto no seu estado de vigília como sob estado hipnótico. Porém, após
estes estudos, o conceito se tornou abrangente comportando várias signi-
ficações atribuindo o nome de cenas originárias aos acontecimentos reais,
traumatizantes, cuja recordação, por vezes, é elaborada ou disfarçada.
- Projeção: a projeção tem a função de proteger e defender o nosso ego
das ameaças. Quando os indivíduos percebem um pensamento desagra-
dável, sentimento ou qualidade como pertencente a outra pessoa, em vez
de atribuírem-nos si mesmos a fim de ter a carga emocional retirada de si.
- Recalque: seria uma defesa contra ideias que sejam incompatíveis
com o eu. Freud dividiu a repressão psicológica em dois tipos: a re-
pressão primária, na qual o inconsciente é constituído; e a repressão
secundária, que envolve a rejeição de representações inconscientes.
- Negação: recusar a reconhecer que um evento ocorreu. A pessoa afe-
tada simplesmente age como se nada tivesse acontecido, se compor-
tando de maneira que outros podem ver como bizarra.

TREINO INÉDITO
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Resposta: A

73
CAPÍTULO 3

QUESTÕES DE CONCURSO

QUESTÃO DISSERTATIVA

A psicose e neurose são dois termos utilizados na psicologia e estão


intimamente relacionados. No entanto, a realidade é que se referem a
transtornos muito diferentes, no que diz respeito à sua gravidade.
- Psicose: designa um grupo de doenças que implicam a perda da no-
ção da realidade, fazendo com que a pessoa reinterprete a realidade
por completo, principalmente devido ao fato de não contar com meca-
nismos suficientes para suportá-la e enfrentá-la. Entre as doenças, en-
contramos a esquizofrenia ou o transtorno delirante persistente. Nesse
tipo de condições, o paciente de um transtorno psicótico não é cons-
ciente de que sofre de uma doença e, por isso, vive a sua reinterpreta-
ção como se fosse a realidade.
Também é muito comum que as pessoas que sofrem de alguma das
doenças agrupadas dentro das psicoses acreditem que têm uma mis-
são especial que os outros não entendem ou que se convençam de que
existem conspirações contra eles (sensação de que existe alguém que
controla os seus pensamentos).
- Neurose: o sujeito é consciente de que padece de uma doença e so-
fre com isso na neurose. A neurose é, na verdade, uma busca para
se adaptar e suportar uma realidade que, de outra forma, não poderia
ser assimilada pelo sujeito. Para eles são condutas que possuem uma
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finalidade muito óbvia, consistente em eliminar a angústia que sentem


perante situações que não podem dominar.
Outra diferença essencial entre ambos os transtornos é o fato de que, em-
bora possa impedir o paciente de realizar determinadas atividades, a neu-
rose não afeta em grande medida as atividades dessa pessoa. No caso da
psicose, é impossível que o paciente consiga levar uma vida normal.

TREINO INÉDITO
Resposta: B

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ALBURQUERQUE, Kátia. Impasses na comunicação com o psicótico.
1995. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica). PUC - SP, São
Paulo, 1995.

BARBIERI, C. P. A postura perversa é a impostura. Estudos de Psica-


nálise, 2007.

BONFIM, Fernanda Karoline. Neurose, Psicose e Perversão: um olhar


psicanalítico. Novembro/2019.

CARVALHO, Isabela Santos. CHATELARD, Daniela Scheinkman. O de-


lírio e sua função em um caso de psicose. Revista: Contextos Clínicos,
julho - dezembro 2017.

DUNKER, Christian Ingo Lenz. Dossiê – Perversão.

UOL. Psicanálise - A mente segundo a teoria de Sigmund Freud.

FREUD, Ana. O Ego e os mecanismos de defesa. Editora: Artmed, 2006.

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. 1ª Edição. Tradução:


Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1930/2015.

LAPLANCHE & PONALIS. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo. Edi-


tora: Martins Fontes, 2001.

MARTINHO, M.H.C. Perversão: um fazer gozar. 2011. 339 f. Tese (Dou-


torado em Psicanálise) - Instituto de Psicologia, Universidade do Estado
INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011

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INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE - GRUPO PROMINAS

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