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Resumo - Freud - Volume XIV - Texto: Sobre o narcisismo: Uma

introdução - 1914
O presente texto traz que em 1909 Freud havia declarado que o narcisismo era uma fase intermediária
(necessária) entre o auto-erotismo e o amor objetal. Trata-se de um dos mais importantes trabalhos dele.Ele
traça uma nova distinção entre libido do ego (Eu) e libido objetal. Ele introduz nessa obra o "ideal do ego" e
do agente observador a ele relacionado, constituindo à posteriori o termo "superego". Aqui ele também
aborda suas controvérsias com Adler e Jung (que rompera com ele nesse ano) tentando demonstrar que o
conceito de narcisismo é uma forma alternativa à libido não-sexual de Jung e ao "protesto masculino" de
Adler. Ele não ficou satisfeito com o resultado.
Cap. I
O termo narcisismo, segundo Paul Nacke, trata-se de uma pessoa que trata seu próprio corpo da mesma
forma pela qual o corpo de um objeto sexual é comumente tratado (o contempla, afaga e o acaricia até obter
satisfação completa através dessas atividades). Para Freud, ele teria um lugar no curso regular do
desenvolvimento sexual humano. O narcisismo não seria perversão, mas o complemento libidinal do
egoísmo do instinto de autopreservação. A questão do narcisismo primário surgiu com a teoria da libido.
Esses pacientes descritos por Freud teriam megalomania e desvios de seu interesse do mundo externo. Mas é
claro que esses não cortam relações eróticas com pessoas e coisas, mas as retém na fantasia (aqui tem-se a
única condição da libido que podemos aplicar o termo "introversão" da libido). O esquizofrênico retira sua
libido de pessoas e coisas do mundo exterior, mas não as substitui por outras na fantasia. Quando o faz, o
processo parece ser secundário numa tentativa de conduzir de volta a libido aos objetos externos. A
megalomania (narcisismo) surge às beiras da libido objetal: a libido afastada do mundo externo é dirigida
para o ego (Eu) e assim dá margem a uma atitude chamada narcisista (tal narcisismo é secundário, que é
sobreposto a um primário que é obscurecido por diversas influências diferentes).
Essa extensão de Freud da teoria da libido é reforçado por seus estudos sobre a vida mental das crianças e
dos povos primitivos. Nas crianças de hoje, há uma catexia (concentração de todas as energias mentais sobre
uma memória/pensamento) libidinal original do Eu, parte que é transmitida posteriormente a objetos, mas
que está relacionada com com catexias objetais. Ele traz uma antítese entre libido do ego (Eu) e libido
objetal, afirmando que quanto mais uma é empregada, mais a outra se esvazia.
Freud afirma que somente quando há catexia ojetal é que é possível diferenciar uma energia sexual (libido)
de uma energia dos instintos do Ego (Eu). Ele então vai mostrar a relação existente entre o narcisismo e auto-
erotismo (estado inicial da libido) e diferenciar libido sexual de uma energia não-sexual dos instintos do ego
mesmo tendo concedido ao ego uma catexia primária da libido. Quanto à primeira, Freud informa que o ego
(Eu) tem de ser desenvolvido, sendo os instintos auto-eróticos presentes desde o início, sendo necessário que
algo seja adicionado a eles a fim de provocar o narcisismo. A partir da observação de neuróticos e psicóticos,
Freud concluiu que é deste estudo que se origina o valor dos conceitos de libido do ego (Eu) e libido do
objeto. A diferenciação da libido é o corolário de uma hipótese original que distinguia os instintos sexuais
dos instintos do ego (Eu). A pessoa leva uma existencia dupla (uma servindo seus próprios fins e outra que
ele serve contra sua vontade).Ele deixa claro que sua hipótese de instintos do ego e sexuais separados (teoria
da libido) tem fundamento biológico, e não psicológico. Pode acontecer que a energia sexual (libido) seja um
produto de uma diferenciação na energia que atua de forma generalizada na mente. Ele reconhece que essas
especulações não levam a nada, mas que não há outra ciência que passe conclusões finais a despeito da teoria
dos instintos. Seria diferente se se provasse que a teoria da libido não tenha explicado a esquizofrenia. Freud
critica Jung que afirmou que a introversão da libido sexual conduz a uma catexia do Eu e que isso resulta na
perda da realidade. Afirma ele que Jung desviou seu interesse sexual nos humanos, o sublimando pelo
interesse pelo divido e reino anima, sem que sua libido tenha se introvertido ate suas fantasias ou retornasse
ao seu Eu.
Cap. II
Freud introduz esse capítulo informando a dificuldade se estudar o narcisismo, mas sua possibilidade
mediante a análise das parafrenias (paranoia - esquizofrenia). Ele vai se permitir analisar também para o
estudo do narcisismo a doença orgânica, a hipocondria e a vida erótica dos sexos. Alguém que sofre de
doença orgânica deixa de se interessar pelas coisas do mundo externo, retirando esse interesse libidinal de
objetos amorosos: sofre, deixa de amar; faz voltar para seu próprio ego, e só põe novamente para fora suas
catexias libidinais quando se recupera. Aqui a libido e o interesse do Eu (ego) têm o mesmo destino. A
condição de sono também se assemelha à doença (há uma retirada narcisista das posições da libido até o
próprio eu do indivíduo): tudo isso são exemplos de alterações na distribuição da libido, resultantes de uma
modificação no ego (Eu). A hipocondria se manifesta por sensações corpóreas aflitivas e penosas, retirando
tanto a libido quanto o interesse dos objetos externos, concentrando-os no órgão que prende a atenção da
pessoa em si. Pode-se, assim, considerar a erogenicidade como característica comum a todos os órgãos,
podendo haver aumento/diminuição dela numa parte específica do corpo. A cada mudança na erogenia dos
órgãos, há uma mudança também da catexia libidinal no ego (Eu). A hipocondria está dependente da libido
do ego (Eu), assim como as outras neuroses estão da libido objetal. Esse represamento da libido do ego é
experimentado como desagradável. O desprazer é representado como um grau elevado de tensão. A partir
dessa análise, Freud conclui que é necessário que na nossa vida mental, ultrapassemos os limites do
narcisismo e liguemos a libidado aos objetos. Essa necessidade surge quando a catexia do ego com a libido
excede. Ou seja, um egoísmo forte é fator protetor contra o adoecimento, mas começar a amar também
devemos fazê-lo para não adoecer. Quando a megalomania falha, o represamento da libido no ego torna-se
patogênico. O processo de recuperação de narcisismo impressiona ser uma doença. Na paranoia/
esquizofrenia, a liido liberada pela frustração não fica ligada a objetos na fantasia, mas se retira para o ego.
Se tal parafrenia desliga parcialmente a libido dos objetos, podemos distinguir três grupos de fenômenos no
quadro clínico.
Ao analisar o narcisismo via observação da vida erótica dos seres humanos, Freud verifica que a libido
objetal inicialmente ocultava em nós a libido do ego, também em relação à escolha de objeto nas crianças. O
que ele notou é que as crianças derivavam seus objetos sexuais de suas experiencias de satisfação (as
primeiras satisfações sexuais auto-eróticas são experimentadas relacionadas a funções vitais que servem para
a autopreservação); ou seja, os instintos sexuais estão, à priori, ligados à satisfação dos instintos do ego (Eu),
tornado-se independentes depois. Os primeiros objetos sexuais da criança são quem lhes fornece alimentação
(papel materno). Ele veirificou que em pessoas que o desenv libidinal tenha sofrido alguma perturbação
(pervertidos e homossexuais), a escolha posterior dos obj amorosos não seria a mãe, mas a seus próprios eus:
esse tipo de escolha objetal dá-se por narcisista. Ele disse que o ser humano tem originalmente dois objetos
sexuais (ele próprio e a mulher que cuida dele); daí surge o narcisismo primário em todos, e em alguns casos,
pode ser dominante em sua escolha objetal. O amor objetal completo do tipo de ligação é do homem. Ele
exibe uma supervalorização sexual originada pelo narcisismo original da criança, podendo transferí-lo para o
objeto sexual. A neurose vem com o empobrecimento do ego em relação à libido em favor do objeto
amoroso. Já com as mulheres, a direção não a de amar, mas de serem amadas: o narcisismo de outra pessoa
exerce atração sobre aqueles que renunciaram a uma parte de seu próprio narcisismo e estão em busca do
amor objetal. Tais diferentes linhas de desenvolvimento correspondem a uma distinção de funções num todo
biológico. Mesmo mulheres narcisistas, que têm atitude fria com homens, conseguem elevar o amor objetal
completo na criança que geram. Freud então conclui que uma pessoa pode amar em conformidade com o tipo
narcisista e com o tipo anaclítico (de ligação).
Freud pontua, ainda, que a atitude de pais afetuosos com seus filhos é uma reprodução de seus próprios
narcisismos. A supervalorização domina suas atitudes emocionais. Assim, eles atribuem todas as perfeições
aos filhos e esquecem suas deficiências. A criança deve concretizar os sonhos dourados que os pais não
realizaram. Dentro desse sistema narcisista, a imortalidade do Eu (ego), oprimida pela realidade, conseguem
alcançar segurança no refúgio na criança. O amor dos pais, tão infantil, é o narcisismo dos pais renascido,
que quando transformado no amor objetal, revela sua natureza anterior.
Cap. III
Neste capítulo, Freud visou deixar de lado os distúrbios aos quais o narcisismo original de uma criança se
acha exposto. Vai falar do complexo de castração e tratá-lo em conexão com o efeito da coerção inicial da
atividade sexual. Nesse estudo do complexo, Freud infere que há existência de uma época e de uma situação
psíquica nas quais os instintos sexuais e do ego atuam juntos, e inseparavelmente mesclados surgem como
interesses narcisistas. Foi nesse contexto que Adler falou do "protesto masculino". Ou seja, as pulsões
(instintos) libidinais (sexuais) e do ego agindo juntas = interesses narcisistas. Protesto masculino é fruto do
complexo de castração… Pode desencadear neurose ou não. Os impulsos instintuais libidinais se sucedem da
repressão patogênica quando entram em conflito com ideias culturais ou éticas da pessoa. Freud fala da
repressão (recalque) como questão que provém do amor-próprio do Eu (ego). Para o Eu, a formação de um
ideal (baseado na ética e moral da sociedade dele) é fator que condiciona a repressão. Esse Eu ideal passa a
ser alvo do amor de si mesmo desfrutado na infância pelo Eu real. O narcisismo da pessoa se desloca ao
novo Eu ideal, que como o ego (Eu) infantil, é valorizado. O homem não abre mão da perfeição narcisista de
sua infância. Ele tenta resgatar tal perfeição sob o Eu ideal (ele projeta sobre si aquilo que ele vê como ideal,
substituindo a narcisismo de sua infância que era seu próprio ideal).
Freud então fala da sublimação (pulsão libidinal se dirige a um fim diferente da finalidade da satisfação
sexual), distinguindo-as da idealização (processo em que o objeto é engrandecido na mente do indivíduo).
Ou seja, a formação de um ideal do Eu não quer dizer a sublimação da pulsão libidinal. Mesmo que a
sublimação contribua para fortalecer a formação do ideal de um Eu e estimulado por esse ideal, ela ainda é
um processo independente desde estímulo. A formação de um ideal do ego (Eu) e a sublimação estão
relacionados de forma diferente quanto à causação da neurose. A formação de um ideal aumenta as
exigências do Eu, o que favorece a repressão (recalque): a sublimação se mostra como saída pela qual essas
exigências podem ser atendidas SEM envolver o recalque. Admitindo que existe um agente psíquico especial
que assegure a satisfação narcisista proveniente do ideal de Eu, e que observa o Eu real, medindo-o por
aquele ideal, verificou-se que os delírios de sermos notados/vigiados constituem sintomas das paranoias.
Esses ser notado/vigiado numa forma regressiva, revela o porquê do paciente se revoltar contra ele, pois o
que o induziu a formar um ideal do Eu, surgiu da influência crítica de seus pais e da opinião pública. Assim,
grandes quantidades de libido de natureza homossexual são introduzidas na formação do ideal do Eu
narcisista, encontrando satisfação em conservá-lo. Instituir a consciência é uma personificação que advém da
crítica paterna e social: tal consciência do paciente se confronta com ele de maneira regressiva, por
influência hostil vinda de fora.
Ao penetrar na estrutura do Eu mais ainda, Freud reconhece no ideal do ego (Eu) e nas expressões orais da
consciência, o censor dos sonhos, que quando alerta durante o sono, sua auo-observação e autocrítica
prestam grande contribuição ao conteudo do sonho. A autoestima expressa o tamanho do Eu: tudo que
alguém possui ou realiza ajuda-o a manter sua autoestima, que depende muito da libido narcisista. A
finalidade e satisfação em uma escolha objetal narcisista consiste em ser amado. Observou também que a
catexia objetal libidinal não eleva a auatoestima. Alguém que ama se priva de uma parte de seu narcisismo,
que só pode ser substituída pelo amor de outra pessoa por ele: a autoestima fica relacionada com o elemento
narcisista do amor. Quando nos vemos impotentes da incapacidade de amar, diminuimos nossa autoestima.
As relações entre autoestima e erotismo (catexias objetais libidinais) podem ser expressas em dois casos: a
volta da libido objetal ao Eu (ego) e a transformação no narcisismo representa um novo amor feliz; também,
um verdadeiro amor feliz corresponde à condição na qual a libido objetal e libido do ego não podem ser
diferenciadas.
Freud conclui que o desenv do Eu consiste no afastamento do narcisismo primário (causado pelo
deslocamento da libido em diração a um ideal de Eu imposto de fora, sendo a satisfação provocada pela
realização desse ideal) e dá margem a uma recuperação desse estado. No mesmo tempom o Eu emite catexias
objetais libidinais, e se enriquece a partir de suas satisfações no tocante ao objeto, realizando seu ideal.
Parte da autoestima é primaria (residual do narcisismo infantil); outra parte decorre da realização do ideal do
Eu; a terceira parte provém da satisfação libido-objetal. Tornar a ser nosso próprio Eu ideal (como na
infância) é o que Freud tem por alcançar a felicidade.
O ideal sexual pode se relacionar com o ideal do Eu: pode ser empregado para satisfação substitutiva onde a
satisfação narcisista encontra reais entraves. Nesse caso, o individuo amará segundo o tio narcisista de
escolha objetal. Para o neurótico (que tem muitas catexias objetais), ele é incapaz de realizar seu ideal do Eu;
ele tenta retornar ao narcisismo, escolhendo um ideal sexual segundo o tipo narcisista que tem aquilo que ele
não pode atingir.
Ou seja, o ideal do Eu vincula não somente a libido narcisista, mas também uma quantidade considerável de
sua libido homossexual, que assim, retorna ao ego (Eu). A falta de satisfação, pertinente da não realização
desse ideal libera a libido homossexual, sendo ela transformada em culpa (ansiedade social). Anteriormente,
esse sentimento era o temor de punição (e de perder o amor) dos pais. Mais tarde, os mesmos serão
substituídos por um número indefinido de pessoas.

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