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Freud (1914) diz que a necessidade de discutir sobre um narcisismo primário normal
surgiu quando se fez a tentativa de incluir o que era conhecido como demência precoce
(Kraepelin) ou da esquizofrenia (Bleuler) na hipótese da teoria da libido – denominados por
Freud de parafrênicos. Ele acreditava que na esquizofrenia a libido afastada do mundo externo
é dirigida para o ego e assim dá margem a atitude que pode ser denominada de narcisismo,
mas esse seria um narcisismo secundário, superposto a um narcisismo primário. Propõe que
há uma catexia libidinal original do ego, parte da qual é posteriormente transmitida aos
objetos, mas que fundamentalmente persiste e está relacionada com as catexias objetais.
Houser (2006) diz que a saga de Narciso (um herói devorado de amor por um objeto
que não é outro senão ele próprio) leva a pensar no narcisismo como uma relação imatura,
auto-centrada, erotizada, mais que sexualizada, detida em uma contemplação especular do
idêntico ao “Si-mesmo” do sujeito. Mais o narcisismo também promove a constituição de uma
imagem de si unificada, perfeita, cumprida e inteira, que ultrapassa o auto-erotismo primitivo
para favorecer a integração de uma figuração positiva e diferenciada do outro, e, sobretudo,
do outro em seu estatuto sexuado.
Coordenação de Psicologia
Elia (1995) define o narcisismo como o processo pelo qual o sujeito assume a imagem
do seu corpo próprio como sua, e se identifica com ela (eu sou essa imagem). Implica o
reconhecimento do eu a partir da imagem do corpo próprio investida pelo outro.
O Narcisismo primário
Freud em 1914 fala que o “eu” não é inato e que resulta de uma nova ação psíquica
que se faz como um acréscimo ao auto-erotismo. Essa nova ação psíquica é o narcisismo.
Narcisismo não é igual a auto-erotismo, pois uma unidade comparável ao ego não
existe desde o início, ele tem que ser desenvolvido; os instintos auto-eróticos se encontram
desde o início.
Freud postula que um ser humano tem originalmente dois objetos sexuais – ele próprio
e a mulher que cuida dele – o que leva a considerações de um narcisismo primário em todos,
o qual, em alguns casos, pode manifestar-se de forma dominante em sua escolha objetal.
Freud (1914) diz que o grande encanto de uma criança reside em grande medida em
seu narcisismo, seu auto-contentamento e inacessibilidade.
Le Poulichet (1997) diz que o que vem a perturbar o narcisismo primário é o Complexo
de Castração. É através dele que se opera o reconhecimento de uma incompletude que
desperta o desejo de recuperar a perfeição narcisista. O narcisismo secundário se define
como o investimento libidinal da imagem do eu, sendo essa imagem constituída pelas
identificações do eu com as imagens dos objetos.
O Narcisismo secundário
Com o tempo, a criança vai percebendo que ela não é o único desejo da mãe, que ela
não é tudo para ela; “sua majestade, o bebê começa a ser destronado. Essa é a ferida infligida
no narcisismo primário da criança. A partir daí, o objetivo consistirá em fazer-se amar pelo
outro, em agradá-lo para reconquistar o seu amor; mas isso só pode ser feito através da
satisfação de certas exigências; a do ideal do seu eu.” (Nazio, 1988, pág. 59)
O ideal de ego
O eu (ego) aspira reencontrar a perfeição e o amor narcísico, mas para isso precisa
satisfazer as exigências do ideal do eu (ego). A partir daí, só é possível experimentar-se
através do outro.
O ideal sexual tem uma relação auxiliar com o ideal de ego. Pode ser empregada para
satisfação substituta, onde a satisfação narcisista encontra reais entraves. A pessoa amará
segundo o tipo narcisista de escolha objetal. (Freud, 1914).
Lewknowicz (2005) fala-nos que estamos vivendo em uma cultura com características
crescentemente narcisistas; onde há um predomínio do uso da imagem de ação em vez da
reflexão para lidar com a ansiedade e um incentivo exagerado ao consumismo e ao culto ao
corpo.
Tem pouca capacidade para perceber os outros, levando a vida emocional superficial.
Há inclusive uma forte dificuldade de formar uma verdadeira relação terapêutica.
Como o Mito do Narciso, o paciente com esse tipo de funcionamento constrói sua
sensação de engrandecimento da auto-estima através de uma intensa desvalorização,
Coordenação de Psicologia
rejeição e abandono dos objetos. E sobre a base dessa rejeição que o organismo se estrutura.
(Le Poulichet, 1997).
Referências Bibliográficas
Elia, Luciano. Corpo e Sexualidade em Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Ed. UAPÊ, 1995.
Houser Aspecto genético. In: Bergeret, J.[et al.]. Psicopatologia: teoria e clínica. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
Le Poulichet, Sylvie. O Conceito de Narcisismo. In: Nasio, Juan-David. Lições sobre os sete
conceitos cruciais de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
Freud, S. (1920). Além do princípio do prazer. In Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996.
Freud, S. (1914) Sobre a Introdução do Conceito de Narcisismo. In Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996.
Fonte: https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/o-conceito-de-narcisismo-na-
construcao-teorica-da-psicanalise