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Coordenação de Psicologia

DISCIPLINA: PSICANÁLISE TURMAS: PSM03S1/ PSN03S1/OZM03S1

PROFESSORA: SUKY RAMALHO PERÍODO: 3º

O Conceito de Narcisismo Na Construção Teórica da Psicanálise

O Narcisismo, em psicanálise, representa um modo particular de relação com a


sexualidade. É um conceito crucial no seu desenvolvimento teórico. O narcisismo é um
protetor do psiquismo e um integrador da imagem corporal, ele investe o corpo e lhe dá
dimensões, proporções e a possibilidade de uma identidade, de um Eu. O narcisismo
ultrapassa o auto-erotismo e fornece a integração de uma figura positiva e diferenciada do
outro.
Provavelmente a primeira menção pública de Freud do termo “narcisismo” se encontra
na nota de rodapé acrescida à segunda edição de Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade
(o prefácio traz a data de dezembro de 1909). Ernest Jones relata que em uma reunião da
Sociedade Psicanalítica de Viena, a 10 de novembro de 1909, Freud havia declarado que o
narcisismo era uma fase intermediaria necessária entre o auto-erotismo e o amor objetal.
Em 1914 Freud lança seu artigo “Sobre a Introdução do Conceito de Narcisismo”. Esse
artigo é um de seus trabalhos mais importantes, podendo ser considerado como um dos
fatores centrais na evolução de seus conceitos. Nesse texto é traçada uma nova distinção
entre “libido do ego” e “libido objetal”; e é introduzido os conceitos de ‘ideal do ego’ e do agente
auto-observador (que constitui a base do que veio a ser descrito como superego em o Eu e o
Inconsciente em 1923).

Freud (1914) diz que a necessidade de discutir sobre um narcisismo primário normal
surgiu quando se fez a tentativa de incluir o que era conhecido como demência precoce
(Kraepelin) ou da esquizofrenia (Bleuler) na hipótese da teoria da libido – denominados por
Freud de parafrênicos. Ele acreditava que na esquizofrenia a libido afastada do mundo externo
é dirigida para o ego e assim dá margem a atitude que pode ser denominada de narcisismo,
mas esse seria um narcisismo secundário, superposto a um narcisismo primário. Propõe que
há uma catexia libidinal original do ego, parte da qual é posteriormente transmitida aos
objetos, mas que fundamentalmente persiste e está relacionada com as catexias objetais.

Houser (2006) diz que a saga de Narciso (um herói devorado de amor por um objeto
que não é outro senão ele próprio) leva a pensar no narcisismo como uma relação imatura,
auto-centrada, erotizada, mais que sexualizada, detida em uma contemplação especular do
idêntico ao “Si-mesmo” do sujeito. Mais o narcisismo também promove a constituição de uma
imagem de si unificada, perfeita, cumprida e inteira, que ultrapassa o auto-erotismo primitivo
para favorecer a integração de uma figuração positiva e diferenciada do outro, e, sobretudo,
do outro em seu estatuto sexuado.
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Elia (1995) define o narcisismo como o processo pelo qual o sujeito assume a imagem
do seu corpo próprio como sua, e se identifica com ela (eu sou essa imagem). Implica o
reconhecimento do eu a partir da imagem do corpo próprio investida pelo outro.

O Narcisismo primário

Freud em 1914 fala que o “eu” não é inato e que resulta de uma nova ação psíquica
que se faz como um acréscimo ao auto-erotismo. Essa nova ação psíquica é o narcisismo.

Narcisismo não é igual a auto-erotismo, pois uma unidade comparável ao ego não
existe desde o início, ele tem que ser desenvolvido; os instintos auto-eróticos se encontram
desde o início.

Freud postula que um ser humano tem originalmente dois objetos sexuais – ele próprio
e a mulher que cuida dele – o que leva a considerações de um narcisismo primário em todos,
o qual, em alguns casos, pode manifestar-se de forma dominante em sua escolha objetal.

Freud (1914) diz que o grande encanto de uma criança reside em grande medida em
seu narcisismo, seu auto-contentamento e inacessibilidade.

Para Freud o desenvolvimento do ego consiste em um afastamento do narcisismo


primário e dá margem a uma vigorosa tentativa de recuperação desse estado. Esse
afastamento é ocasionado pelo deslocamento da libido em direção a um ideal do ego imposta
de fora, sendo a satisfação provocada pela realização desse ideal.

Le Poulichet (1997) diz que o que vem a perturbar o narcisismo primário é o Complexo
de Castração. É através dele que se opera o reconhecimento de uma incompletude que
desperta o desejo de recuperar a perfeição narcisista. O narcisismo secundário se define
como o investimento libidinal da imagem do eu, sendo essa imagem constituída pelas
identificações do eu com as imagens dos objetos.

O Narcisismo secundário

No caso do narcisismo secundário há dois momentos: primeiro o investimento nos


objetos; e depois esse investimento reforma para o seu (ego). Quando o bebê já é capaz de
diferenciar seu próprio corpo do mundo externo, ele identifica suas necessidades e quem ou
o que as satisfaz; o sujeito concentra em um objeto suas pulsões sexuais parciais, há um
investimento objetal, que em geral se dirige para a mãe e o seio como objeto parcial.

Com o tempo, a criança vai percebendo que ela não é o único desejo da mãe, que ela
não é tudo para ela; “sua majestade, o bebê começa a ser destronado. Essa é a ferida infligida
no narcisismo primário da criança. A partir daí, o objetivo consistirá em fazer-se amar pelo
outro, em agradá-lo para reconquistar o seu amor; mas isso só pode ser feito através da
satisfação de certas exigências; a do ideal do seu eu.” (Nazio, 1988, pág. 59)

O ideal de ego

O ego ideal é ao mesmo tempo substituto do narcisismo perdido da infância


(onipotência infantil) e o produto da identificação das figuras parentais, assim como seus
intermediários sociais.
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Freud (1914) diz que o narcisismo do indivíduo surge deslocado em direção a esse
ego ideal, que como o ego infantil, se acha possuidor de toda perfeição e valor. O indivíduo
não está disposto a renunciar à perfeição narcísica de sua infância. O que o indivíduo projeta
diante de si como sendo seu ideal é o substituto do narcisismo perdido da infância na qual ele
era seu próprio ideal.

A formação de um ideal aumenta as exigências do ego, constituindo o que Freud


chama de o fator mais poderoso a favor do recalque.

O eu (ego) aspira reencontrar a perfeição e o amor narcísico, mas para isso precisa
satisfazer as exigências do ideal do eu (ego). A partir daí, só é possível experimentar-se
através do outro.

Escolha objetal Narcísica

A escolha objetal narcísica é segundo Freud, amar a si mesmo através de semelhante;


todo amor objetal comporta uma parcela de narcisismo. O eu representa um reflexo do objeto.

O ideal sexual tem uma relação auxiliar com o ideal de ego. Pode ser empregada para
satisfação substituta, onde a satisfação narcisista encontra reais entraves. A pessoa amará
segundo o tipo narcisista de escolha objetal. (Freud, 1914).

Mas é importante sublinhar que essa imagem amada é sexualmente investida. No


homossexualismo é uma imagem que representa o que a mãe deseja e ao amar essa imagem,
o homossexualismo como objeto. (Garcia-Roza, 2005).

O narcisismo secundário é o investimento libidinal da imagem do eu, e essa imagem


é constituída pelas identificações do eu com as imagens dos objetos.

Funcionamento Narcisista: Características Clínicas

O narcisismo não constitui por si só uma patologia, ele é um integrador e protetor da


personalidade e do psiquismo.

Lewknowicz (2005) fala-nos que estamos vivendo em uma cultura com características
crescentemente narcisistas; onde há um predomínio do uso da imagem de ação em vez da
reflexão para lidar com a ansiedade e um incentivo exagerado ao consumismo e ao culto ao
corpo.

Nos pacientes de funcionamento narcisista há uma exagerada preocupação com a


aparência; pequenos defeitos físicos são intensamente valorizados. Apresentam uma
necessidade exagerada de serem amados e admirados, buscam elogios e se sentem
inferiores e infelizes quando criticados ou ignorados.

Tem pouca capacidade para perceber os outros, levando a vida emocional superficial.
Há inclusive uma forte dificuldade de formar uma verdadeira relação terapêutica.

Como o Mito do Narciso, o paciente com esse tipo de funcionamento constrói sua
sensação de engrandecimento da auto-estima através de uma intensa desvalorização,
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rejeição e abandono dos objetos. E sobre a base dessa rejeição que o organismo se estrutura.
(Le Poulichet, 1997).

Referências Bibliográficas

Elia, Luciano. Corpo e Sexualidade em Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Ed. UAPÊ, 1995.
Houser Aspecto genético. In: Bergeret, J.[et al.]. Psicopatologia: teoria e clínica. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
Le Poulichet, Sylvie. O Conceito de Narcisismo. In: Nasio, Juan-David. Lições sobre os sete
conceitos cruciais de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
Freud, S. (1920). Além do princípio do prazer. In Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996.
Freud, S. (1914) Sobre a Introdução do Conceito de Narcisismo. In Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996.

Fonte: https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/o-conceito-de-narcisismo-na-
construcao-teorica-da-psicanalise

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