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Psicanálise
Clínica
ESTÁDIO DO ESPELHO E
CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA:
IDENTIFICAÇÃO
O conceito de identificação é muito caro à Psicanálise desde Freud e perpassa uma
gama de outros conceitos que se articulam e abrem espaço para muitas discussões
acerca da teoria e técnica psicanalítica. Isso significa que para falarmos de identifi-
cação precisamos passar por alguns conceitos de Freud que se relacionam e consti-
tuem uma rede de construções teórico-clínicas até passarmos para o pensamento
de Lacan.
Com passar para o pensamento de Lacan, significa basicamente que os dois autores
não falam a mesma coisa sobre esses conceitos que serão trabalhados aqui. Não
é novidade que Lacan toma a Psicanálise a partir de uma reviravolta epistêmica e
avança em diferentes níveis, estabelecendo e deixando muito claro qual é o objeto,
o problema e os fundamentos da sua Psicanálise.
A nível conceitual, precisamos nos ater em conceitos como: narcisismo, eu, eu ide-
al, ideal do eu e a tópica do imaginário, que é quando nos aproximamos mais da
teoria de Lacan. Todo aquele que se debruça sobre a Psicanálise, seja ela qual for,
percebe que não é possível pensar a teoria e o direcionamento de uma análise sem
que seus conceitos estejam articulados e tomados em conjunto, tornando inviável
pensar o arcabouço teórico de forma isolada. Esse mesmo fato se dá na clínica, que
implica inúmeras construções epistêmicas para sustentar isso que denominamos
de discurso do analista.
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Narcisismo
Eu
Identificação Conceitos
articulados Eu ideal
Ideal do eu
Imaginário
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intrínseca das pulsões2 do eu, que se voltam sempre ao objetivo de resguardar e
proteger o indivíduo.
Em linhas gerais, o narcisismo trata-se do ato de amar a si mesmo, o que se cons-
titui como uma condição necessária e natural da espécie. Vale pontuar que aqui
percebemos um caráter muito voltado à biologia que se faz presente na teoria freu-
diana do narcisismo.
Mas como se dá esse processo de amor a si mesmo?
Desde Freud, não é possível pensar o indivíduo de forma isolada, seja através da
espécie (paradigma biológico da teoria freudiana) ou através de sua relação com
os outros (seja o grupo, cuidadores, família etc.). Freud (1921) define que para sua
teoria não há diferença entre psicologia individual e psicologia social, defendendo
a ideia de que não devemos desprezar a relação do indivíduo com os outros e en-
tender isso como uma condição necessária para pensar uma análise. Com isso, o
narcisismo surge da relação com os outros, desde antes do nosso nascimento.
A ideia de um narcisismo que precede a nossa existência inverte as noções tempo-
rais e põe a nossa existência como dependente da relação que estabelecemos com
os outros. Esses outros, normalmente, são nossos pais ou aqueles que primeiro
exercem um papel de cuidado e que pensam na nossa existência antes mesmo do
nosso nascimento. Freud (1914) trabalha com a ideia de que somos investimentos
narcísicos dos nossos pais, que idealizam e transmitem ideais sobre nós e com isso
formamos esse primeiro contato com o nosso narcisismo, sendo um amor a si, mas
que advém dessa primeira afirmação que parte do outro.
Vejamos o que Freud (1914) diz a respeito disso:
2 Aqui também optamos por questões didáticas pela utilização do termo “pulsão” ao invés
de “instinto”, ainda que a edição utilize “instinto” para traduzir a palavra “trieb” do alemão.
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dos pais renascido, o qual, transformado em amor objetal, inequi-
vocamente revela sua natureza anterior (FREUD, 1914, p. 98).
Amor narcísico
Investimento
Duas formas
Identificação Narcisismo narcísico
de amar
do outro
Amor objetal
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A proposta de Lacan não é a de sustentar uma teoria desenvolvimentista e que es-
tágios evolutivos sejam seguidos como um padrão, o que significa que o estádio do
espelho diz respeito a uma estrutura de constituição do eu atrelado ao campo da
linguagem (SOUZA & DANZIATO, 2014). Claramente, o termo estádio do espelho
se trata de uma metáfora para discorrer sobre esse mecanismo de identificação.
Através do sistema imaginário, o indivíduo constitui a sua imagem corporal através
dos ideais transmitidos pelo outro e a partir disso, constrói consistência corporal
(que difere da ideia de organismo) e estrutura um eu como resultado dessa relação
de identificação de ideais. A identificação a nível imaginário vai ser a partir do refe-
rencial que se toma daqueles que inicialmente investem energia para o cuidado, o
que Lacan (1949) vai chamar de identificação com a imago do semelhante.
Segundo Lacan (1949):
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A identificação
z É um conceito caro à psicanálise desde Freud.
z Está articulado com outros conceitos: Narcisismo, eu, eu ideal, ideal do eu e imaginário.
z O narcisismo é um ponto de partida para compreender a identificação.
z O narcisismo é, para Freud, o investimento que o eu faz em si mesmo, criando um amor
a si como uma forma de autopreservação.
z O narcisismo é algo que precede o nosso nascimento, primeiramente sendo transmitido
pelas idealizações que os pais/cuidadores fazem de nós.
z Primeiro, o outro investe narcisicamente e posteriormente podemos pensar as relações
de investimento como: investimento em si mesmo e o investimento objetal,
z A identificação para Freud diz respeito à relação que temos com os outros e como
tomamos isso como um referencial,
z Lacan vai abordar a identificação como um fato de linguagem,
z O estádio do espelho seria um mecanismo de constituição do eu e da imagem corporal que
ilustra a identificação como transmissão de ideais a partir de uma realidade discursiva,
z A identificação pode ser tomada como imaginária e simbólica,
z A identificação forma a identidade alienante a partir da estrutura significante,
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REFERÊNCIAS