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Psicodiagnóstico

Questões básicas em
psicodiagnóstico

Docente: Me. Amanda G. A. Videira


Frase do dia

Certamente havia uma pedra no meio


caminho, assim como uma árvore, um céu,
frutos, pessoas, um pincel e infinitas
possibilidades.

Profª. Amanda Videira


Conteúdo

▪ O enquadre/problema.
▪ A relação psicólogo-cliente.
▪ Questões éticas

▪ Bibliografia:
▪ capítulos 3 e 4 do livro Psicodiagnóstico V (CUNHA, 2007).
▪ capítulo 2 do livro Psicodiagnóstico (Hutz et. al, 2016).
Tema 1 do conteúdo digital.
A identificação da demanda para o psicodiagnóstico

▪ O processo de avaliação psicodiagnóstica decorre da eminência de


uma problemática prévia.

▪ Porém, do surgimento dos sintomas iniciais até a primeira consulta


existe um período de tempo.

▪ O foco estará em identificar os motivos explícitos (queixa e sinais) e


os implícitos (demanda latente) que levaram a pessoa a avaliação.
A identificação da demanda para o psicodiagnóstico

▪ Há uma linha tênue entre sintomas iniciais de um transtorno mental e


situações cotidianas podem dificultar a identificação da necessidade
de avaliação, tais como:

▪ Os constantes ajustes que as mudanças de rotina impõem;


▪ Os estados emocionais associados a acontecimentos da vida diária;
▪ As reações a frequentes situações estressantes.
A identificação da demanda para o psicodiagnóstico

▪A tendência é enfrentar o problema sem a busca de auxílio


profissional, ou explica-lo em função de fatores
circunstanciais.

▪Público infantil - Hesitação de pais em considerar certo


comportamento do filho como motivo de preocupação.
A identificação da demanda para o psicodiagnóstico

▪Cabe ao psicólogo:

▪examinar as circunstâncias que precederam a consulta;


▪avaliar as maneiras de perceber o problema e delimitá-lo;
▪atribuindo a sinais e sintomas as compreensões adequadas.
Critérios usuais de definição de um problema

▪ Para facilitar a definição do problema do paciente, podem ser utilizados dois


critérios:

▪ Quantitativo: mudanças percebidas em termos de quantidade, como


mudança na fala, motora, no humor;

▪ Qualitativo: alterações notadas no comportamentos de forma


desproporcional às causas ligadas a eventos comuns ao cotidiano, sendo
persistente.
▪ A dimensão do desenvolvimento deve ser considerada.
▪ Ex.: controle da esfíncter em crianças pequenas. Ou, aspectos peculiares a
senescência.
Critérios usuais de definição de um problema

▪ O contexto cultural também deve ser considerado, pois


comportamentos aceitos por um contexto podem não ser aceitos
em outros.

▪ Um sintoma único não tem valor diagnóstico, é necessário que


o paciente apresente um certo número de características
sintomatológicas, durante um certo período de tempo, para ser
possível chegar a uma decisão diagnóstica.
Avaliação da psicopatologia

▪ Consideram-se dois modelos de psicopatologia:

▪ O categórico – apropria-se do julgamento clínico sobre a presença ou não de uma


configuração de sintomas significativos (enfoque quantitativo)
▪ O dimensional - faz uso da medida da intensidade sintomática (enfoque qualitativo).

▪ No psicodiagnóstico, ambos modelos são associados através de diferentes estratégias, tais


como: entrevistas, instrumentos psicométricos, técnicas projetivas e julgamento clínico.
▪ Porém, enfatiza-se o modelo categórico devido ao seu enfoque quantitativo.

▪ Não existe uma regra, pois em função do objetivo, a abrangência e o enfoque do processo
diagnóstico podem mudar.
O contato com o paciente

▪ A expressão contato, o latim contactum , significa exercitar o tato (Carvalho,


1955).

▪ Cunha (2000), metaforicamente aponta que no processo psicodiagnóstico, o


papel do psicólogo é o de tatear pelos curvas da angústia e do sofrimento da
pessoa que vem em busca de ajuda.
▪ O que implica em lidar com as inúmeras resistências do paciente ao processo,
sentimentos ambivalentes e situações desconhecidas, também comuns à relação
psicoterapêutica.
O contato com o paciente

▪ Em todo o contato, é imprescindível que o psicólogo apresente:

▪ Atenção flutuante –devendo estar atento ao que a pessoa traz à sessão de


avaliação, mas sem privilegiar qualquer elemento seja nas entrevistas
iniciais ou na testagem.
▪ Postura empática – ser acolhedor e olhar o paciente/cliente como uma
pessoa e não como um objeto de seu estudo.

Vínculo – Confiança – rapport positivo


O contato com o paciente
▪ O psicólogo deve estar atento aos motivos conscientes e inconscientes que levaram a pessoa à
avaliação, ainda que a mesma tenha recebido encaminhamento de outro profissional.
▪ Realidade distorcida nos primeiros encontros pode dificultar todo o processo psicodiagnóstico,
sobretudo se o psicólogo não perceber. Podendo gerar:

▪ Deslocamento de conflito logo no início;


▪ Projeção das dificuldades na testagem por perceber que o psicólogo está fingindo investigar um
ponto, mas está explorando outro;
▪ Contaminação ou distorção no laudo e falta de clareza;
▪ Destaque somente ao que é mais tolerável ao paciente ou grupo familiar e não evidenciação de
outros fatores envolvidos.

▪ É fundamental que o profissional esclareça, de forma ampla e objetiva as motivações


conscientes já sinalizadas e as inconscientes envolvidas na busca por ajuda.
Quem é o paciente?

➢O sujeito encaminhado ocupa o lugar de reconhecimento da ajuda, ou isso se


limita ao encaminhamento?
➢A criança levada pelos pais corresponde às queixas que os mesmos
apresentam?

▪ Discriminar os motivos explícitos e implícitos na busca do sujeito ou seu


grupo familiar pela avaliação, colabora para que o psicólogo identifique quem é
o seu verdadeiro paciente.

▪ Esta identificação é realizada desde o início do processo de avaliação até a


devolutiva.
Dinâmica da interação clínica
▪ Os papéis devem estar bem definidos;
▪ Transferências e contratransferências vão ocorrer e devem ser notadas pelo profissional.
▪ A resistência do paciente à tarefa também se constitui em uma forma de transferência - silêncio
prolongado e sistemático ou o paciente que fala sem parar também são manifestações de
resistência à avaliação.
▪ Excessiva demonstração de afeto ao psicólogo, faltas, atrasos, freqüentes pedidos de troca de
horário, ir ao banheiro várias vezes durante a sessão.

▪ É comum os pacientes demonstrarem a necessidade de aceitação do psicólogo, como através da


busca de confirmação de acertos nas tarefas.
▪ Frente a isso, o psicólogo deve ter uma postura neutra e positiva - encorajamento. Sem
privilegiar de forma negativa o desempenho do paciente no momento da avaliação.

▪ Estar atento a como o paciente está se sentindo e se percebendo ao longo da tarefa, podendo
fazer perguntas ao fim da sessão de testagem - pré-disposição atitudinal e cognitiva.
Dinâmica da interação clínica

▪ Contratransfêrência – o psicólogo está exposto a:

▪ ficar dependente do afeto do paciente, deixando-se envolver por elogios, presentes,


propostas de ajuda;
▪ facilitar ou não horários;
▪ exibir conhecimento e pavonear-se;
▪ se ver tentado a prolongar o vínculo além do que é necessário, ou a competir com o
paciente, ou ainda, a conduzir a tarefa como se o fizesse consigo próprio.

▪ É fundamental que o psicólogo esteja sempre alerta à contratransferência, no


sentido de percebê-la e entendê-la como um fenômeno normal, buscando dar-se
conta de seus sentimentos, não permitindo que eles atuem no processo
psicodiagnóstico.
Desafios do psicólogo

▪ Pressões, ansiedade, insegurança e outros fenômenos

▪ O psicólogo é alvo de fortes pressões no processo psicodiagnóstico, tanto por parte dos
próprios pacientes, quanto por parte dos familiares, ou ambiente de trabalho e equipe
multiprofissional.
▪ A sua própria percepção de como exerce e maneja sua tarefa também é um fator de pressão
sobre a sua auto-imagem.
▪ Reunidos, tais fatores têm potencial de gerar risco à avaliação.

▪ Torna-se indispensável para o psicólogo o conhecimento de si próprio.


Variáveis psicológicas do psicólogo e do paciente

▪ Schafer (1954) definiu algumas das necessidades do psicólogo-pessoa e do


paciente manifestas no percurso de avaliação, e as denominou como constantes.

▪ As constantes/necessidades reforçam ou provocam reações transferenciais e


defensivas, que merecem cuidadoso exame para a ampliação do entendimento
do paciente.
Variáveis psicológicas do psicólogo e do paciente

▪ Constantes relativas ao papel de psicólogo:


▪ a) aspecto “voyeurista” - o psicólogo examina e perscruta com “vários olhos” o interior dos
pacientes, enquanto se mantém preservado pela neutralidade e curta duração do vínculo;

▪ b) aspecto autocrático – salienta o poder do psicólogo no psicodiagnóstico, na medida em


que diz ao paciente o que deve fazer, de que forma e quando;

▪ c) aspecto oracular - o psicólogo procede como se tudo soubesse, tudo conhecesse, tudo
prevesse, aspecto esse reforçado pelo encaminhamento, porque o psicólogo vai fornecer as
respostas;

▪ d) aspecto santificado - o psicólogo assume o papel de salvador do paciente.


Variáveis psicológicas do psicólogo e do paciente
▪ Constantes do paciente:
▪ a) “auto-exposição, com ausência de confiança; intimidade violada”, no sentido de que o paciente se
sente exposto, vulnerável ao psicólogo, que o devassa;

▪ b) “perda de controle sobre a situação” - pois o paciente fica à mercê do psicólogo, na situação de
testagem, passando a adotar uma postura defensiva, já que deve cumprir ordens e manejar situações e
dificuldades a ele impostas;

▪ c) “perigos de autoconfrontação” - já que para o paciente, sofrendo a ambivalência de querer ajuda e


recear a confrontação de aspectos dolorosos e rechaçados, a testagem implica ataque aos processos
defensivos que vem utilizando;

▪ d) tentação de reagir de forma regressiva, pela dificuldade de aceitação das próprias dificuldades;

▪ e) ambivalência diante da liberdade, uma vez que, embora podendo enfrentar a testagem com liberdade
relativa, tem também de enfrentar os riscos de se expor.
Aspectos éticos no processo psicodiagnóstico

▪ Leitura do capítulo 2 do livro


Psicodiagnóstico (Hutz et. al, 2016).

▪ Anexo ao nosso canal ‘material para


leitura’ aqui no Teams. E NA ‘MINHA
BIBLIOTECA’ PELO sava.
Aspectos éticos no processo psicodiagnóstico

▪ Do início ao fim do psicodiagnóstico o psicólogo deve atuar basedo nos parâmetros


éticos da profissão, sobretudo aos que se referem a prática de avaliação psicológica
(diretrizes do CEP e Resoluções do CFP).

▪ A formação ética e técnica para a realização do psicodiagnóstico tem sua base na graduação,
mas alcança sua real possibilidade a partir da iniciativa de cada profissional com sua
constante atualização quanto aos instrumentos e processos de avaliação.

▪ Investimento pessoal tanto no cuidado de si, quanto em especializações e supervisões clínicas


é fundamental no processo psicodiagnóstico.
Formação em Psicodiagnóstico e Questões Éticas

▪ As competências para realização do psicodiagnóstico começam a ser desenvolvidas durante a


graduação em Psicologia a partir de diferentes disciplinas.
▪ Pois as Diretrizes Curriculares Nacionais (Brasil,, 2011, p. 3) para os cursos de Psicologia asseguram isso:

“. . . III – identificar e analisar necessidades de natureza psicológica, diagnosticar, ela borar projetos, planejar
e agir de forma coe rente com referenciais teóricos e caracterís ticas da população-alvo;
IV – identificar, definir e formular questões de investigação científica no campo da Psicologia, vinculando-as
a decisões metodológicas quanto à escolha, coleta e análise de dados em projetos de pesquisa;
V – escolher e utilizar instrumentos e procedimentos de coleta de dados em Psicologia, tendo em vista a sua
pertinência;
VI – avaliar fenômenos humanos de ordem cognitiva, comportamental e afetiva, em diferentes contextos;
VII – realizar diagnóstico e avaliação de processos psicológicos de indivíduos, de grupos e de organizações;
Aspectos éticos no processo psicodiagnóstico

... IX – atuar inter e multiprofissionalmente, sempre que a compreensão dos processos e


fenômenos envolvidos assim o recomendar;

X– relacionar-se com o outro de modo a propiciar o desenvolvimento de vínculos interpessoais


requeridos na sua atuação profissional;

. . . XIII – elaborar relatos científicos, pareceres técnicos, laudos e outras comunicações


profissionais, inclusive materiais de divulgação;

. . . XV – saber buscar e usar o conhecimento científico necessário à atuação profissional, assim


como gerar conhecimento a partir da prática profissional.”
O que diz o Código de Ética sobre avaliação?

▪ São deveres fundamentais do psicólogo

▪ “f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações concernentes ao


trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional;”

▪ “g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de serviços psicológicos,


transmitindo somente o que for necessário para a tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário;”

▪ “h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de serviços
psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho;”

(CFP, 2005)
O que diz o Código de Ética sobre avaliação?

▪ É vedado ao psicólogo:

▪ “h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológicas, adulterar


seus resultados ou fazer declarações falsas;”

▪ “k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou
profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a
fidelidade aos resultados da avaliação”

(CFP, 2005)
O que diz o Código de Ética sobre avaliação?

▪ O estudante de psicologia e profissional também devem estar atentos:

▪ Á aplicação dos princípios fundamentais contidos no Código de Ética Profissional do Psicólogo;


▪ Resolução n° 001/2009, que dispõe sobre a obrigatoriedade do registro documental decorrente da
prestação de serviços psicológicos (CFP, 2009);
▪ Resolução n° 016/2000, que aponta a necessidade de regula mentar regras e procedimentos que
devem ser reconhecidos e utilizados nas práticas em pesquisa (de laboratório, campo e ação) (CFP,
2000a);
▪ Resolução n° 002/2003, que define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de
testes psicológicos (CFP, 2003a);
▪ Resolução n° 011/2000, que reflete sobre a oferta de produtos e serviços ao público (CFP, 2000b).
▪ Resolução n° 06/2019, que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo
psicólo go decorrentes de avaliação psicológica (CFP, 2003b);
Instituições voltadas para avaliação psicológica no Brasil

▪ Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP) - http://www.ibapnet.org.br/

▪ Associação Brasileira de Rorschach e outros Métodos Projetivos (ASBRO) -


https://www.asbro.org.br/

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