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Nos primeiros anos de vida vivenciamos experiências que nos marcam para sempre.
Por essa perspectiva, a infância precisa de especial atenção. Assim, Freud e diversos
outros autores abriram caminhos para a prática psicanalítica infantil.
Sigmund Freud (1856-1939) foi quem construiu o primeiro alicerce para a psicanálise
com crianças, em 1909, com a análise de uma fobia de um menino de 5 anos – O
pequeno Hans. A análise do pequeno Hans ocorreu por mediação de seu pai que
observava e registrava os fatos, e posteriormente seguia as instruções de Freud.
Os primeiros relatórios a respeito de Hans datam de um período em que ele
estava para completar três anos de idade. Naquela época, por intermédio de
várias observações e perguntas, ele demostrava um interesse
particularmente vivo por aquela parte do seu corpo que ele costumava
chamar se seu “pipi” (...) Essas primeiras observações já começam a
despertar a expectativa de que muita coisa, se não a maior parte, de tudo que
o pequeno Hans nos revela, terminará por tornar-se típica do
desenvolvimento sexual das crianças em geral (Freud, 1909, p.16-17).
Apesar de sua grande contribuição para o estudo da análise com crianças, Hug-
Hellmuth morre muito jovem e de forma trágica, assassinada pelo seu sobrinho em
1924 a quem dedicou concepções da psicanálise e pedagogia.
Para Anna Freud a criança não conseguia associar livremente como o adulto, como
acrescenta Aberastury (1982).
Diante de tal contexto, conclui-se que Anna acreditava que o analista deveria ter
conhecimentos pedagógicos e ocupar o lugar do ideal do ego infantil, e que somente
com a transferência positiva poderia realizar um trabalho eficaz com as crianças.
Melaine Klein (1882-1960) se interessou pela psicanálise após ler A Interpretação dos
Sonhos de Freud, reconhecendo assim suas contribuições. A vida de Klein foi
marcada por muitas perdas e momentos difíceis, necessitando assim de tratamento
em decorrências de depressões. Ela teve três filhos e sendo todos analisados pela
psicanalista.
Em 1914, Klein iniciou uma análise com Sándor Ferenczi que a incentivou a dedicar
à psicanálise de criança. Em 1919, Klein se tornou membra da Sociedade
Psicanalítica de Budapeste onde apresentou o caso Fritz: “A novela familiar em seu
estado nascente”, que na verdade era Erick o seu filho de cinco anos. Em 1921, se
instalou em Berlim, e em 1924, continuou sua formação e análise com Karl Abraham
para quem relatou seus primeiros tratamentos com crianças pequenas, seu método e
a técnica psicanalítica do brincar, conforme descreve Nasio (1995).
Nesse sentindo, Costa (2010) relata que Klein criou a técnica de análise pela atividade
lúdica, o brincar.
A autora relata ainda que, para Klein, o brincar é capaz de substituir as associações
livres como dos adultos, e que Klein interpretava a transferência negativa sem o
habitual cultivo dos afetos positivos da criança.
Em 1926, Klein foi convidada para apresentar seu trabalho em Londres, onde recebeu
o apoio de Ernest Jones. Nesse período, realizou diversas contribuições teóricas,
como: “o descobrimento do Superego Arcaico, do Édipo precoce, a demonstração da
importância do símbolo do desenvolvimento do ego, a relação de objeto, o objeto bom
e o objeto mau, a inveja e a identificação projetiva”, e contribuições técnicas que
concentram na “análise da transferência, da transferência negativa e do manejo da
angústia na sessão da análise”, conforme citam Blinder, Knobel e Siquier (2011, p.
17):
Diante do exposto, Anna Freud e Melaine Klein tinham grandes controvérsias, Klein
focava em torno da vida de fantasia inconsciente da criança, resgatando o lugar infantil
no discurso analítico onde os pais não ocupam um lugar de precursor, e acreditava
que não é possível conciliar o tratamento analítico com o educativo, diferente do
posicionamento de Anna Freud.
Sabrina Spilrein (1885-1942) realiza sua primeira análise com Jung com quem teve
uma relação passional, o que pode também ter contribuído para ruptura de Freud e
Jung anos posteriores. Spilrein ingressa na Sociedade de Psicanálise de Viena em
1911, mas Freud intervém aconselhado a se afastar de Jung, abandona Viena e se
instala na Suíça.
Na Suíça, Spilrein inicia seu trabalho sobre linguagem infantil, afasia e os problemas
de simbolização. Nessa época o paciente em análise era Jean Piaget, podemos
perceber a influência de ideais psicanalíticas nos pensamentos piagetiano anos mais
tarde, como relatam Blinder, knobel e Siquier (2011). Em 1924, Spilrein regressa a
sua cidade natal, Rostov, e mesmo com a profissão de médica cuida de crianças
difíceis e adolescentes delinquentes utilizando as técnicas da psicanálise.
Françoise Dolto (1908-1988) inicia seus estudos em medicina em 1932, após ter
estudado enfermagem. Ela desejava ser pediatra, mas Sophie Morgenstern foi uma
de suas incentivadoras na psicanálise infantil. Dolto era conhecida na França como
inovadora em psicanálise infantil. Em 1938, conhece Lacan e se tornam amigos, em
1939, se ingressa na Sociedade Psicanalítica de Paris, e em 1953, com Lacan e
outros, cria a Sociedade Francesa de Psicanálise e posteriormente se filia a Escola
Freudiana de Paris fundada por Lacan.
Diante do exposto, Blinder, knobel e Siquier (2011, p. 24) afirmam que ideia central
da teoria doltoniana “encontra vínculos entre as neuroses dos pais e de seus filhos,
que serão portadores de dívidas transgeracionais não paga”. Desse modo, a técnica
utilizada por Dolto era o desenho, modelagem e a fala.
Arminda Aberastury (1910-1972), pioneira da psicanálise de crianças na América
Latina, estudou magistério e foi a primeira tradutora para o espanhol da obra de
Melaine Klein. Aberastury era admiradora de Klein, mas junto com seus colaboradores
desenvolve suas próprias teorias sobre a psicanálise de crianças e a metapsicologia
infantil, conforme relatam Blinder, knobel e Siquer (2011, p. 25).
Aberastury postula a existência de uma fase genital prévia à fase anal durante o
primeiro ano de vida. Acredita que muitos dos sintomas frequentes do lactente na
segunda metade do primeiro ano, conhecidos durante anos pelo rótulo transtornos de
dentição, e as zoofobias, frequentes nesse período, encontram esclarecimento na
existência da fase genital prévia.
A realização de uma entrevista com os pais é o primeiro passo para se iniciar uma
análise. Nesta entrevista, a criança não deverá estar presente, mas poderá ser
informada desse contato com o analista. Segundo Aberastury (1982), essa entrevista
não deve ser um interrogatório, pois os pais não podem se sentir julgados. A maioria
dos pais chegam no consultório angustiados e se sentindo culpados pela enfermidade
do filho. Sendo assim, muitos esquecem parte do que sabem, daí a importância de
perguntas direcionadas e não metódicas, para que não se sintam pressionados.
Dados de identificação dos pais – nome, idade, profissão, grau de instrução, estado
civil, religião, uso de medicamentos e saúde.
Aberastury (1982) destaca que os dados relatados pelos pais podem não ser exatos,
mas o acolhimento e o vínculo inicial são fundamentais para que a análise possa
ocorrer. Finalizada essa primeira entrevista, caso os pais e o analista decidam pelo
acompanhamento, comunica-se o dia, hora e duração do primeiro encontro com a
criança.
A primeira hora do jogo é um período determinante, pois a criança mesmo com pouca
idade, apresenta na primeira sessão compreensão de sua enfermidade e desejo de
curar-se. Na primeira hora, a criança comunica sua fantasia inconsciente e confere ao
terapeuta os atributos necessários para curá-lo, conforme relata Aberastury (1982).
Dessa forma, a autora acrescenta que é essencial que desde o primeiro momento
adotemos o papel de terapeuta, assim a criança se posiciona como paciente e irá
fazer consciente o que demostrou como fantasia inconsciente.
Dessa forma, na caixa individual poderá conter materiais idênticos aos que foram
utilizados na primeira hora do jogo, itens parecidos com que a criança costuma brincar
em casa, entre outros que podem ser adequados a sua idade. Essa caixa deverá ficar
no consultório e evitar que o paciente leve algum objeto para casa. É importante
também, não dispor do material de uma criança para outra, ambas criam afetividade
pelos seus itens e podem se sentir enganadas.
BLINDER, C., KNOBEL, J., & SIQUIER, M. L. (2011). Clínica psicanalítica com
crianças (L. Scaboro, S. Wassal, & V. Monegato, trads.). Aparecida, SP: Ideias e
Letras.