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CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA

Aluna: Melissa Issler


Turma: 2/2022

Resenha 1 - 2o semestre de 2023


Resenha: Capítulo, A PSICOLOGIA DO ARQUÉTIPO DA CRIANÇA, (pg. 151 a 179), do livro Os
Arquétipos e Inconsciente Coletivo. C.G. - Petrópolis: Editora Vozes, 2012

O livro Os Arquétipos e Inconsciente Coletivo, é uma coletânea dos textos publicados por Jung entre os
anos de 1933 e 1955. O capítulo, tema dessa resenha, A PSICOLOGIA DO ARQUÉTIPO DA CRIANÇA,
Jung compartilha suas reflexões sobre o tema, arquétipo da criança. Algumas partes do texto são extensas e
a falta de subdivisões levam a uma sensação de haver ali alguns diálogos reflexivos sobre o tema. No
entanto ao longo da leitura é possível perceber as inúmeras ligações que Jung vai construindo com símbolos
e temas da humanidade e os demais pensadores e pesquisadores da época que corroboram com sua teoria.
Ter lido Shamdasani, Jung e a construção da Psicologia Moderna, é fundamental para compreender sua
obra, a partir da sua vasta pesquisa é possível compreender onde e quem influenciou a obra de Jung.

Primeira parte do texto Jung fala sobre o primitivo, vemos aqui o que pode ser uma expressão do
pensamentos europeu na época, de certa forma, representado no etnocentrismo. No entanto, Jung poder ser
considerado um visionário pois ele ousou trazer na sua obra aspectos da cultura de outros povos em
diferentes épocas da humanidade, dando a elas visibilidade e peso sobre a formação da psique humana.
Hoje temos claro que não podemos julgar nem ainda dimensionar a forma, valores e a própria psique dos
povos originários. Até por que nossa sociedade também sofreu com a influencia europeia e só recentemente
nos debruçamos sobre as culturas originárias. Acredito que esse seja um processo que estamos
engatinhando. Quanto mais andamos mais vemos como temos conceitos ainda equivocados.
O capítulo A PSICOLOGIA DO ARQUÉTIPO DA CRIANÇA foi publicado inicialmente na forma de
monografia e apresentado em congresso. O capitulo é dividido em subtema em torno do Arquétipo da
criança.
Importante destacar, Jung nos mostra que:
 Arquétipo é uma forma de expressão
 Representação mitológica
 A criança aparece representada de forma divina, prodigiosa, em geral, não humana, podendo ser
representada como Deus/divindade, como um seres místicos/mágicos como nos contos, folclore e
lendas.

A partir da função do arquétipo é possível compreender que o arquétipo da criança representa algo que
existiu no passado mas também no presente, que se destaca na consciência e no inconsciente, buscando
compensar ou corrigir algo. Ou seja, um conteúdo que se torna presente/atemporal fazendo com que só
consigamos ver aquilo que está nos mobilizando e descartamos demais conteúdos, isso explica/ajuda a
entender alguns processos inconscientes, pré-conscientes que se somam aos complexos. Dai a importância
de compreender esse arquétipo que está na origem.

Jung traz no texto diferentes formas de representação da criança, desde culturas “primitivas” até a
supervalorização dentro do tema da religião, em especial as religiões cristãs, aqui podemos ver aspectos
críticos da sua formação religiosa.

O arquétipo da criança simboliza, entre outras coisas, o futuro. Apesar de poder ser visto com a criança do
(seu) passado - dai a representação da criança divina como salvadora/esperança. Desta forma a
representação da criança pode simbolizar uma futura transformação/parte do processo de individuação.
Jung usa o termo enteléquia, presente na teoria de Aristóteles que significa realização plena e completa
finalidade natural/conclusão de um processo transformativo de todos os seres do universo. Talvez aqui se
somando a ideia básicas da filosofia: quem somos para onde vamos, de onde viemos, o que viemos fazer
aqui. Que busca essa também presente no processo de Individuação.

O Arquétipo da criança representa também a incompletude, imaturidade – a criança como ainda a


pluralidade da psique, uma psique que “virginal” que pode ainda evoluir e mudar. Ganhando novas formas e
cheia de vida.
Muitas vezes o arquétipo será representado por um nascimento milagroso, heroico, com momentos/cena de
abandono ou adversidades e perseguições, o que acredito que toca a alma humana pela ideia/sensação/medo
do perigo contra algo tão desprotegido e inocente. Dai talvez a ideia de podermos revestir a criança
arquetípica de poderes para que ela sobreviva e assim cuidar da nossa própria criança ferida, em perigo,
ameaçada, abandonada.

Recentemente vimos na imprensa cenas inimagináveis de um agente de saúde (aquele que deveria cuidar)
expondo um bebe recém nascido (representação de toda a pureza e fragilidade humana) a uma exposição
absurda e perigosa. Pela indignação é possível mensurar como isso pode ferir a psique de uma sociedade.
Um recém nascido traz dentro de sí a luz e, por que não dizer, uma esperança imaculada da vida humana.

Para Jung a criança está ligada a ideia do mito/arquétipo do herói que vence o monstro – simbolicamente o
monstro representa a escuridão, sombra, inconsciência.

O arquétipo da criança também representa o novo a ser vivido, emergência (no sentido de emergir) de um
novo conteúdo, ainda desconhecido. Para Jung, a consciência se guia a partir dos opostos, ou um ou outro,
no entanto a solução passa pela união/integração desses opostos.
Conflito é sempre vivido como doloroso e sem saída, a criança representa então essa possibilidade de
integração, união e integração desses opostos.

“Mas como a solução do conflito pela união dos opostos é de vital importância e também desejada
pela consciência, o pressentimento de criação significativa abre caminho. Disso resulta o caráter
numinoso da "criança".”

Para Jung a criança, seu nascimento, simboliza o vir a ser, um possível caminho para a inteireza e representa
um símbolo unificador. Como uma semente, um gérmen de possibilidades.
Ela representa algo que caminha para autonomia. Desta forma a ideia (simbólica) do abandono representa
também desligar-se de sua origem para poder abandonar a condição anterior (vivida como sem saída) para
buscar uma terceira via, ainda não conhecida nem vivida.
O arquétipo da criança traz a ideia de redenção, a possibilidade de algo nascente da e na consciência. Seu
efeito redentor passa à consciência e realiza a saída da situação de conflito.

O arquétipo da criança aparece de forma massiva nos mitos e na religião. Para Jung a criança permanece
como uma projeção mitológica que exige uma repetição pelo culto e uma renovação ritual. A partir dessa
ideia podemos pensar a importância de se manter a criança na forma atual. O crescimento também
representa transformação, abandono na origem, mudança e o novo. Assim é comum a criança ser
representada/cultuada eternamente criança.

Muitas vezes são representadas como elementos naturais como o fogo, o metal, o trigo, o milho. São
portadoras de luz e da abundância. Capazes de vencer a escuridão.

A invencibilidade desse arquétipo talvez seja proporcional ao medo da sua extinção. O que representaria
perde a criança?
A ideia de que essa criança “do mundo psíquico” nasce de um “útero do inconsciente ”nos permite pensar
que ela representa muito mais do que e tangível perceber de forma logica e consciente. Ela representa entre
outras coisas:
 Personificação das forças vitais
 Força interior
 Impulso que realiza a si mesmo - buscando a sobrevivência sadia da psique
 Simboliza a possibilidade de “ser de outra forma” representada pela maleabilidade/Adaptabilidade da
criança
 Como um lei da natureza, a busca pela vida, no mito representada por forças invencíveis, milagrosas,
instintivas.

O arquétipo da criança traz a ideia do conhecer-se a si mesmo. Para Jung somente a separação,
desligamento, confronto doloroso, oposição podem gerar a consciência e o conhecimento de sí. A criança
nos remete a esse novo, indiferenciação do sujeito.

Dentro da ideia do arquétipo da criança como representação do começo e do fim gostaria de citar a aula do
professor Denis, em especial o caso de um paciente, em tratamento em função de um surto psicótico que
gerou um longo processo de internação e intervenções em busca da cura, trechos de uma apresentação de
Clown onde ele encena esse processo de morte e renascimento, e a escolha do palhaço (clown) como
representação da figura/personagem infantil, reeditando assim, a busca e a representação simbólica do
reencontra uma psique sadia. A criança clown representada pelo nascimento, e a morte simbolizando o fim
de uma etapa.

O arquétipo traz também a ideia da criança ligada a natureza anímica do nascimento e morte.
Criança como representação da essência humana, capacidade de se localizar na pré e na pós consciência.
A criança como sendo o ser capaz de ter a vida anímica mesmo antes de haver consciência. Possibilidade de
pensar a criança como a base dessa natureza mais pura/instintiva sem o recurso da racionalização –
espontânea

Para Jung a criança simboliza a totalidade da experiência , ela representa tudo que, abandonado, exposto
pode se tornar poderoso. No entanto a criança precisa também crescer, sem no entanto perder sua criança
interior.

Na ultima parte do texto, Jung explicita o que senti durante a leitura. A ideia do arquétipo da criança como
algo ainda, naquele momento, em construção dentro da teoria. No entanto abrindo e fechando dezenas de
portas para podermos chegar a compreensão de algo tão profundo e extenso como os arquétipos e o seu
simbolismo na humanidade.

Algumas IDEIAS PRINCIPAIS sobre os arquétipos que desejo destacar:


 Não podem ser reduzidos a formulas;
 Arquétipo como um recipiente, receptáculo que pode receber inumeráveis conteúdos mas nunca
estará vazio;
 Existe potencialmente em si e nunca será o que foi antes;
 Elementos inabaláveis do inconsciente mas sua forma e mutável;
 Existe historicamente na humanidade;
 Para Jung a ideia do arquétipo está no cerne, amago, na alma da psique humana;
 Não passa por uma construção apreendida mas intuitiva e coletiva;
 Arquétipo como algo humano, atemporal, vivo e vivido;

Com relação ao arquétipo da criança:


 Esta na base do processo de individuação;
 Sua primeira manifestação se dá de forma inconsciente;
 De certa forma, a psique presa a esse arquétipo, como origem de um processo (patológico) de
infantilização do adulto;
 O quão necessário é a Identificação/resgate dessa criança interior para o processo de individuação;
 O arquétipo da criança está diretamente ligado a construção e dissolução da identidade , para nascer
no novo;
 Compreender a importância do arquétipo da criança como se o passo anterior da psique viver o mito
do herói.
 O arquétipo traz a tona a criança abandonada, incompreendida, na busca da construção desse
processo as etapas seguintes

De forma prática, dentro do processo da psicoterapia, infantilismo no adulto ou na criança, sendo presentado
por meio da imagem da criança abandonada/incompreendida, que precisa romper com (essa) dor para poder
viver o mito do herói.

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