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CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO
EXPLOSIVO INTERMITENTE E SEU
MANEJO NA CLÍNICA PSICOLÓGICA
LILIANA SEGER
CAROLINA FARIAS DA SILVA BERNARDO
JULIANA MORILLO
INTRODUÇÃO
É muito difícil manter a calma em algumas situações que tiram qualquer um do sério, como uma
“fechada” no trânsito, por exemplo. Mas, quando a raiva se transforma em um ataque de fúria,
com comportamentos impulsivos (perseguições, xingamentos, fechadas bruscas, ameaças...) e
de proporções exageradas, podendo resultar até mesmo em morte, pode se tratar de um
transtorno psiquiátrico chamado transtorno explosivo intermitente (TEI).
Os portadores de TEI são indivíduos que, pela incapacidade de gerenciar seus impulsos
agressivos, são levados a ter comportamentos agressivos com uma frequência e intensidade
desproporcionais à situação vivenciada. Essas pessoas são, muitas vezes, conhecidas
socialmente como “pavio curto”.
É importante frisar que esses comportamentos não são premeditados e que, após as
explosões agressivas, seus portadores demonstram arrependimento, culpa e/ou vergonha na
maior parte das vezes.
Os comportamentos agressivos decorrem de forte tensão e vêm acompanhados de alívio após o
ato agressivo. Os comportamentos impulsivos agressivos (agressão verbal, agressão
física e/ou ataque de objetos) podem ocorrer em qualquer ambiente (familiar, profissional,
social...).
Esses episódios agressivos não são decorrentes de efeitos fisiológicos por uso de álcool ou
drogas e nem por condições médicas — como traumatismo craniano ou doença de Alzheimer —
que costumam aumentar a agressividade.
A etiologia do TEI é multifatorial, sendo composta por fatores biológicos, psíquicos, sociais
e ambientais como desencadeantes desse transtorno.
Presente em mais de 3,1% da população,1 produz sérios prejuízos em várias áreas da
vida. As explosões verbais e/ou comportamentos impulsivos violentos acabam por comprometer
os relacionamentos em geral, causando transtornos nas relações familiares, de trabalho e na
qualidade de vida.
OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
identificar as principais características diagnósticas dos portadores de TEI;
reconhecer o modelo cognitivo aplicado ao TEI;
identificar as principais intervenções em terapia cognitivo-comportamental
(TCC) aplicadas ao TEI.
ESQUEMA CONCEITUAL
PARA ENTENDER O TRANSTORNO EXPLOSIVO INTERMITENTE
Antes de se abordar o TEI, é necessário esclarecer os conceitos de agressividade e de
impulsividade.
AGRESSIVIDADE
A agressividade é inata ao ser humano e, por isso, frequente, e representa uma forma de
proteção contra ameaças externas. Por se tratar de um traço de personalidade, pode variar em
intensidade. Porém, quando o comportamento agressivo é excessivo, fora do contexto ou
autodirigido, pode ser considerado patológico.
LEMBRAR
Vários transtornos psiquiátricos podem evidenciar comportamentos impulsivos de ira com
agressão verbal e/ou física.
A agressividade impulsiva é relatada como instabilidade afetiva e incapacidade de controlar
os impulsos. Um dos transtornos que envolve a falha no controle do impulso agressivo é
o TEI.3
IMPULSIVIDADE
Apesar de a impulsividade ser muito estudada por psicólogos e psiquiatras, não há um consenso
na literatura sobre sua definição. Uma definição simples para impulsividade seria a tendência a
agir de forma abrupta, sem planejamento e sem avaliação das consequências de seu ato.
O comportamento impulsivo pode ocorrer a partir de estímulos internos ou externos, e é
constantemente associado ao baixo controle inibitório ou pobre controle cognitivo4 — por
exemplo, ao se sentir prejudicado ou ameaçado, tem-se o impulso de reagir. Se alguém está
dirigindo e de repente recebe uma fechada de uma moto, que arranca o espelho retrovisor do
carro, imediatamente, por exemplo, essa pessoa sente vontade de ir atrás do motoqueiro,
ofendê-lo ou até dar um soco, jogar o carro em cima dele, ameaçá-lo etc.
Nos indivíduos sem o transtorno do impulso, imediatamente ocorre uma avaliação da situação —
ele pode me agredir, ou eu posso machucá-lo e ter problemas com a justiça —, essa avaliação
“breca” o comportamento agressivo e a pessoa pode “terminar” apenas xingando em voz baixa.
Por outro lado, nessa mesma situação, o indivíduo que tem o transtorno do impulso (como
o TEI) fará aquilo que desejou imediatamente, sem avaliar nenhum tipo de consequência
(física, financeira, judicial) nem para si, nem para o outro. Ele geralmente parte para a agressão,
jogando o carro em cima do motoqueiro, perseguindo-o e brigando.
O comportamento impulsivo pode ter raízes biológicas, desenvolvimentais e sociológicas, ou
seja, a etiologia da impulsividade é multifatorial. As pesquisas biológicas focam em três
principais linhas de estudo:5
diferenças no córtex pré-frontal — especialmente na região órbitofrontal;
baixos níveis de serotonina, ou altos níveis de dopamina — o que aumenta
comportamentos de busca de recompensa;
baixa expressão do gene MAOA — o que diminui a atividade regulatória no
córtex pré-frontal.
LEMBRAR
A agressão verbal (por exemplo, birras, provocações, ofensas, argumentos verbais ou brigas) ou
a agressão física contra a propriedade, animais ou outras pessoas ocorrem duas vezes por
semana, em média, por um período de três meses, ou três explosões comportamentais que
envolvem danos ou destruição de propriedade e/ou agressão física envolvendo lesão corporal
contra animais ou outros indivíduos ocorrendo dentro de um período de 12 meses.
Por exemplo, um indivíduo com TEI pode sentir-se extremamente contrariado e irritado quando
as coisas não acontecem como ele espera. Ele pode estar usando o computador, quando sua
mulher chega atrasada em casa, então ocorre uma discussão verbal e, em um determinado
momento, ele pode jogar o computador no chão. Ele pode estar tranquilo e, ao chegar
ao shopping, alguém entra na vaga que ele estava esperando, e ele pode, nesse momento,
com raiva, jogar seu carro em cima do outro e arrebentá-lo. São atitudes das mais diversas, o
que deve ficar claro é a falta de controle e de análise imediata das consequências de seus
atos. Depois se arrepende, mas já fez o estrago.
Esse transtorno foi inicialmente relatado no DSM-III e, a partir do DSM-IV, foi acrescentado o
sentimento de tensão ou excitação crescente antes da explosão — é como se, para alguns,
houvesse uma percepção anterior à explosão.
O sujeito com TEI refere sentir — antes e durante um ataque agressivo — maior intensidade no
sentimento de raiva, atividade fisiológica mais intensa e uma alta sensação de descontrole. Além
disso, descreve maior sentimento de remorso após o comportamento agressivo e mais
consequências negativas psicossociais são apontadas do que nos demais sujeitos.11
No DSM-5, foi incluída a possibilidade de agressões (físicas ou verbais) mesmo que sem danos
físicos e também foi inserido o critério de frequência das agressões, tanto as sem danos quanto
as com danos. Nos critérios anteriores, eram consideradas apenas as agressões que resultavam
em sérios ataques físicos ou destruição de propriedade. Atualmente, o DSM não cita que as
explosões devam ser precedidas por um sentimento de tensão e excitação frequente, e que são
seguidas imediatamente por uma sensação de alívio, como foi descrito no DSM-IV, e afirma que
o diagnóstico de TEI pode ser feito a partir dos 6 anos.
Seu diagnóstico ainda não é feito por muitos profissionais, pois, como a raiva e os ataques de
agressividade são comuns a outros transtornos psiquiátricos, como o transtorno bipolar (TBP), o
transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), a personalidade borderline, a
personalidade antissocial, os transtornos de conduta e a depressão maior, assim como com os
dependentes químicos, os alcoolistas e os psicóticos, os pacientes acabam sendo
diagnosticados de forma inadequada e, consequentemente, tratados com medicações diferentes
das indicadas para o TEI.
Pelo fato de os comportamentos agressivos impulsivos aparecerem em pacientes com diversos
diagnósticos, muitos médicos ficavam resistentes em fazer um diagnóstico de TEI na ausência
de outros transtornos psiquiátricos.9
Não se pode diagnosticar o TEI em casos de delirium, transtorno neurocognitivo maior e
mudança de personalidade causada por outra condição médica, assim como quando as
explosões estão associadas à intoxicação ou à abstinência de substâncias. Entretanto,
o TEI pode ser diagnosticado em adição a outros transtornos, desde que os episódios de
explosão agressiva não sejam melhor explicados por essa outra condição.
LEMBRAR
Os pacientes que apresentam TEI têm inúmeros prejuízos nas áreas afetiva, interpessoal e de
trabalho, pela sua dificuldade em conter os episódios de agressividade.
TRATAMENTO
Estudos apontam que portadores de TEI respondem bem tanto ao tratamento farmacológico
como à intervenção cognitivo-comportamental, sendo o multidisciplinar o mais
recomendado.6,12
Vários medicamentos têm demonstrado eficácia no tratamento do comportamento agressivo
impulsivo em pacientes com TEI. Os mais usados são os inibidores seletivos da
recaptação de serotonina (ISRS), como, por exemplo, a fluoxetina.
LEMBRAR
Os resultados imediatos do comportamento agressivo são geralmente percebidos de forma
funcional pelo paciente, trazendo o alívio instantâneo da tensão e a obtenção do resultado
esperado em curto prazo — por exemplo, acredita que consegue o respeito esperado quando se
comporta de forma agressiva e o outro recua. Tal percepção contribui para a manutenção da
agressividade como recurso de enfrentamento. Entretanto, sentimentos de disforia,
arrependimento e vergonha do comportamento explosivo emergem posteriormente, contribuindo
para a manutenção das crenças disfuncionais.
A agressão é a
“melhor opção” para me
defender. Quando bato,
obtenho respeito.
Se eu não bato,
apanho.
Se eu não reagir, o
outro pensará que sou
trouxa.
Agir com
agressividade me faz me
sentir importante.
As injustiças
precisam ser combatidas,
devo reagir para ser
respeitado.
Se eu explodo, então
sou ouvido.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
LEMBRAR
Os portadores de TEI, ao apresentarem comportamento agressivo (violência física, psicológica
ou destruição de objetos), não têm um planejamento para tais atos, o que é caracterizado pela
impulsividade. Esse comportamento agressivo impulsivo é um dos grandes diferenciais do
comportamento do portador do TEI de outros transtornos.
Outra característica é o déficit na habilidade de resolução de problemas diante de
situações estressoras, em que crenças disfuncionais de injustiça, desvalor ou retidão são
ativadas, o que gera dificuldade em definirem o problema de forma específica. Como
consequência, apresentam dificuldades nas escolhas de comportamentos funcionais que tenham
como foco alcançarem metas realistas para solucionar o problema em questão.
O tratamento para portadores de TEI precisa ter como foco de intervenção a impulsividade, as
crenças disfuncionais e o déficit de habilidades de resolução de problemas.
ATIVIDADES
1. Analise as afirmativas a seguir a respeito da agressividade e da impulsividade,
conceitos importantes para se compreender o TEI, e assinale V (verdadeiro)
ou F (falso).
I — A agressividade é aprendida socialmente, principalmente na família.
II — A agressividade impulsiva é definida como instabilidade afetiva e incapacidade de
controlar os impulsos.
III — O comportamento impulsivo se dá a partir de estímulos internos ou externos, e está
associado ao baixo controle inibitório ou pobre controle cognitivo.
IV — A etiologia da impulsividade é multifatorial.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) A II, a III e a IV.
B) A I, a II e a III.
C) A I, a II e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
2. Em relação à prevalência no TEI, é correto afirmar que:
A) o TEI é um transtorno ainda pouco conhecido e possui uma baixa prevalência,
em torno de 0,5% a 1% da população geral.
B) os estudos sobre a prevalência do TEI são baseados nos critérios do DSM-IV.
É entendido que os novos estudos, utilizando-se os critérios do DSM-5,
demonstrem uma prevalência menor do que os estudos anteriores.
C) estudos sobre a prevalência do TEI nos últimos 12 meses relatam números
semelhantes no Brasil e nos Estados Unidos, em torno de 3 a 4%.
D) a maior prevalência do TEI encontra-se na população masculina acima dos 50
anos.
Confira aqui a resposta
3. Analise as afirmativas a seguir a respeito do TEI.
I — A causa exata do TEI é desconhecida, mas provavelmente é causado por uma série
de fatores ambientais e biológicos.
II — A maioria das pessoas com TEI cresceu em famílias nas quais o comportamento
explosivo e o abuso verbal e físico eram comuns. Estar exposto a esse tipo de
violência em uma idade precoce aumenta a probabilidade de essas crianças
apresentarem essas mesmas características à medida que amadurecem.
III — Estudos tinham como principal hipótese que a serotonina, um importante mensageiro
químico do cérebro, tivesse alguma relação significativa com o TEI, entretanto não se
encontrou nenhuma anormalidade serotoninérgica.
IV — Como acontece com a maioria dos transtornos mentais, a causa
do TEI provavelmente é multifatorial. A doença começa na infância, após os 6 anos,
ou durante a adolescência, e é mais comum em pessoas com menos de 50 anos.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a III e a IV.
C) Apenas a I, a II e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
4. Analise as afirmativas a respeito do TEI.
I — O TEI pode ter início na infância ou na adolescência.
II — Diferentemente de outros transtornos, o TEI não está associado à redução nos
níveis de serotonina.
III — Não se pode diagnosticar o TEI em casos de delirium, transtorno neurocognitivo
maior e mudança de personalidade causada por outra condição médica, assim como
quando as explosões estão associadas à intoxicação ou à abstinência de substâncias.
IV — Em razão de suas explosões, os indivíduos com TEI passam por problemas
interpessoais, no entanto não se preocupam com isso, uma vez que não apresentam
sentimento de culpa ou remorso.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a III.
B) Apenas a II e a III.
C) Apenas a I, a III e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
5. Analise as afirmativas a respeito do TEI e assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) Indivíduos com TEI apresentam predisposição a responder emocionalmente de forma
exagerada a estímulos sociais.
( ) Entre os fatores psicossociais que contribuem para que o indivíduo
com TEI apresente baixa tolerância a situações de estresse, pode-se citar educação
rígida, castigos físicos, violência psicológica, sensação de impotência na infância,
negligência e presença de injustiças.
( ) A partir dos recentes achados da neurobiologia, descartou-se a possibilidade de a
agressividade ter sido aprendida por parte dos indivíduos com TEI.
( ) Os pacientes com TEI desenvolvem esquemas e crenças disfuncionais que os
mantêm atrelados aos comportamentos agressivos.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V — F — V — F.
B) V — V — F — V.
C) F — F — V — V.
D) F — V — F — V.
Confira aqui a resposta
6. Quais fatores diferenciam o comportamento agressivo impulsivo do TEI em relação a
outros transtornos?
A) Impulsividade associada às crenças “sou especial” e “as coisas devem ser feitas
de forma correta”, além de déficit no manejo da raiva.
B) Habilidade de resolução de problemas e planejamento para tomada de decisão
associada à crença “o mundo é injusto”, contribuindo para o comportamento
agressivo-impulsivo.
C) Impulsividade associada às crenças “sou injustiçado” e “as pessoas não me
respeitam”, além de déficit no manejo da raiva.
D) Habilidade de resolução de problemas e planejamento para tomada de decisão
associada à crença “sou especial”, contribuindo para o comportamento
agressivo-impulsivo.
Confira aqui a resposta
7. Analise as afirmativas a respeito das crenças disfuncionais apresentadas pelos
indivíduos com TEI.
I — Os indivíduos com TEI apresentam crenças disfuncionais sobre si mesmos, sobre o
mundo e sobre as outras pessoas, associado a um déficit no manejo da raiva.
II — Crenças como “Não sou valorizado” e “Sou injustiçado” estão entre as crenças dos
indivíduos com TEI.
III — “O mundo está contra mim” é uma das crenças frequentes dos indivíduos com TEI.
IV — “As pessoas reconhecem meu poder” é uma das crenças dos indivíduos
com TEI sobre os outros.
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a III e a IV.
C) Apenas a I, a II e a III.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
8. Estão entre os pressupostos e regras disfuncionais dos portadores de TEI:
I — “Quando bato, as pessoas perdem o respeito por mim.”
II — “Se eu não bato, apanho.”
III — “As injustiças precisam ser combatidas, devo reagir para ser respeitado.”
IV — “Se eu explodir, vou perder a razão.”
Quais estão corretas?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a II e a III.
C) Apenas a II e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta
9. Qual das crenças a seguir NÃO é característica do portador de TEI?
A) As pessoas precisam me ajudar.
B) Sou injustiçado.
C) As pessoas querem tirar vantagens.
D) Sou idiota.
Confira aqui a resposta
O objetivo principal da TCC para pacientes com TEI é ensiná-los a gerenciar adequadamente
estímulos ambientais aversivos, reduzindo comportamentos agressivos impulsivos. A remissão
total dos comportamentos agressivos nem sempre é possível — uma meta razoável é que
apenas um ou dois sintomas de intensidade leve persistam, de forma que o paciente consiga se
manter estável em relação à sua segurança e à dos demais.
Contraindica-se o tratamento com a TCC a pacientes com déficits cognitivos ou incapazes de
aprender as técnicas específicas ensinadas.
É comum o paciente de TEI referir não pensar em nada, apenas explodir. Por isso, é
fundamental que a psicoeducação seja bem elaborada, para que ele realmente compreenda a
existência de pensamentos automáticos que precedem o sentimento de raiva. Uma sugestão é
que se inicie a apresentação do modelo cognitivo utilizando-se a mesma situação, gerando
emoções diferentes, como alegria e tristeza, e somente depois apresentar a mesma situação
gerando a emoção de raiva.
A apresentação de distorções cognitivas mais comuns aos pacientes com TEI também é feita
na fase intermediária do tratamento.
É fundamental que seja feita a psicoeducação sobre a diferença entre deslize e recaída total,
conscientizando o paciente sobre a importância de seu papel frente a uma situação de deslize.
O paciente deve estar consciente de que as situações gatilho, como injustiça e desrespeito,
continuarão a fazer parte da vida, mas que as habilidades aprendidas durante o tratamento o
municiaram a entendê-las de forma alternativa e a enfrentá-las de maneira assertiva e eficaz.
Após o tratamento, o paciente é capaz de escolher como reagir em determinadas situações.
Vale lembrar que, antes, as reações eram sempre por impulso.
LEMBRAR
Também é essencial que o paciente tenha claro que continuará sentindo raiva — sentimento
inerente à espécie humana — e que nem sempre se comportar de forma agressiva pode ser um
problema. A meta é que ele possa avaliar as consequências de sua ação e escolher como quer
reagir em determinada situação.
Elaborar um plano de prevenção de recaídas por escrito pode ser útil. O terapeuta auxilia o
paciente a identificar situações de alto risco, perceber sinais externos e internos que
demonstrem a presença de um deslize e podem levá-lo a recair e prescrever intervenções
funcionais para cada situação específica.
ATIVIDADES
EXEMPLO CLÍNICO
A seguir, será ilustrado, por meio de um exemplo clínico, um recorte de pontos
importantes no atendimento de pacientes com TEI em TCC (Quadro 4).
Quadro 4
CASO CLÍNICO DE
TRANSTORNO
EXPLOSIVO
INTERMITENTE
TÉCNICAS UTILIZADAS
Para o tratamento de J., foram utilizadas as seguintes técnicas:
psicoeducação sobre TCC;
psicoeducação sobre TEI;
lista de dificuldades e metas;
linha do tempo com comportamentos agressivos na infância e
adolescência ou situações em que sentia raiva;
vantagens e desvantagens do comportamento agressivo;
psicoeducação e treino de respiração diafragmática;
identificação de pensamentos disfuncionais;
psicoeducação sobre automonitoramento;
questionamento de pensamentos disfuncionais;
treino de assertividade;
treino de habilidade de resolução de problemas;
flecha descendente para identificação da crença central;
compartilhamento da formulação do caso com o paciente;
experimentos comportamentais com o objetivo de testar hipóteses;
questionamento das crenças, tais como “ As pessoas me humilham”;
levantamento dos principais ganhos terapêuticos e principais estratégias
de enfrentamento.
A seguir, serão apresentadas algumas das intervenções utilizadas.
No início do tratamento, muitas vezes, J. culpava as outras pessoas por seu
comportamento agressivo, dessa forma, foi importante orientá-lo sobre como seriam
estabelecidas as metas para o tratamento.
A linha do tempo com os comportamentos agressivos na infância e adolescência ou
principais situações em que sentia raiva pôde ajudar o terapeuta a refinar a formulação de
caso.
CONCLUSÃO
A TCC tem se mostrado eficiente para o tratamento da agressividade impulsiva em
portadores do TEI. A intervenção apresenta três grandes focos de tratamento: na impulsividade,
nas crenças disfuncionais relacionadas com injustiça, hostilidade, desvalor e desrespeito e no
déficit no manejo da raiva. Utilizam-se técnicas de reestruturação cognitiva, treino de
relaxamento, treinamento de estratégias de enfretamento e prevenção de recaída. O tratamento
psicoterápico é constantemente associado ao tratamento farmacológico, o que contribui para
melhor prognóstico no tratamento — o tratamento combinado tem sido mais indicado do que a
monoterapia.
É fundamental que o terapeuta cognitivo clínico tenha claro quais sãos as especificidades
diagnósticas, assim como o modelo genérico da TCC aplicada ao TEI, para que, dessa forma,
consiga diferenciar o comportamento agressivo dos portadores de TEI de outros
transtornos mentais que também apresentam em sua expressão o comportamento agressivo.
Ter claras essas especificidades terá grande impacto no plano e na condução de tratamento,
assim como na formulação do caso em TCC para portadores de TEI.
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REFERÊNCIA RECOMENDADA
Coccaro, E. F. (2015). Intermittent Explosive Disorder. Psychiatric Times.
Como citar a versão impressa deste documento
Seger, C., Bernardo, C. F. S., & Morillo, J. (2017). Características do transtorno explosivo
intermitente e seu manejo na clínica psicológica. In Federação Brasileira de Terapias Cognitivas,
C. B. Neufeld, E. M. O. Falcone & B. P. Rangé. (Orgs.). PROCOGNITIVA Programa de
Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental: Ciclo 4. (pp. 115–51). Porto Alegre: Artmed
Panamericana. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 2).
Marcar como concluído