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A PRÁTICA CLÍNICA DA TERAPIA COGNITIVA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Empirismo colaborativo e descoberta guiada

 A colaboração envolve um trabalho de parceria e em equipe;


 O empirismo se refere ao foco no teste de hipóteses;
 O empirismo promove a transparência, tornando o tratamento menos misterioso;
também facilita o consentimento informado e a participação no tratamento.
 A descoberta guiada enfatiza suscitar duvidas sobre as crenças, em vez de refuta-las ou
combate-las;
 O empirismo colaborativo e a descoberta guiada valorizam as características
particulares que cada criança trás para a terapia;

Estrutura da sessão

 Modelo geral para conduzir a psicoterapia cognitiva;


 É um processo;
 As crianças respondem de forma diferente a estrutura da sessão. Seja curioso, lembre
de que tudo são dados e processe as reações da criança de acordo com a estrutura da
sessão;
 Embora seja genérica, a aplicação clinica a crianças e adolescentes individuais é
sempre específica;
 Lembre de que padrões familiares na estrutura da sessão aumentam a percepção de
segurança e reforçam a internalização de controle;

REGISTRO DO HUMOR OU DO SINTOMA (pode ser emojis, ou pedir desenho de rosto)

REVISÃO DA TAREFA DE CASA

ESTABELECIMENTO DA AGENDA (identificação de itens ou tópicos a serem trabalhados na


sessão)

CONTEÚDO DA SESSÃO

TAREFA DE CASA

OBETENDO FEEDBACK

O que foi útil no nosso trabalho de hoje? O que não foi útil? O que foi divertido? O que não foi
divertido? O que fiz hoje que te incomodou? O que fizemos hoje que não pareceu certo para
você?

Introduzindo modelo de tratamento de identificando problemas

Tecnica: terapeuta desenha a figura de uma criança segurando um balão inflável e também um
balão de pensamento. No desenho, a criança está sem expressão, e o balão de pensamento
está vazio. Terapeuta primeiro pergunta o nome da criança do desenho e depois conta que a
criança queria muito o balão. Depois que conseguiu, o que acha que ela está sentindo?
Desenhe o rosto dela. E o que ela está pensando? Depois, em outro desenho, falar da hipótese
do balão ter estourado, o que a criança sentiria. Explicar que os pensamentos e sentimentos
mudam de acordo com as situações.
Identificando problemas com crianças

 Cartas para o “Caro Doutor” ou “Caro Terapeuta”: “quero conhecer melhor você, e
uma ótima forma disso acontecer é você me contando um pouco sobre si mesma.
Quero que você escreva uma carta para a próxima semana, contando o que você
quiser sobre si mesma, as coisas que faz, sua família, seus sentimentos de tristeza, de
raiva e preocupação, as coisas que gosta, sua escola, seus amigos. Escreva aquilo que
te deixa feliz e que te perturba.” Para crianças menores, pode ser gravar um vídeo,
fazer desenhos sobre o que deixa feliz ou o que deixa triste.
 Livro “Tudo sobre mim”: terapeuta e criança identificam um sentimento para cada
página, ilustrando quais coisas fazem sentir certas emoções;

Identificando e associando sentimentos e pensamentos

 Mapas de rostos de sentimentos: o mapa oferece figuras que representam várias


expressões faciais e inclui rótulos denominando a emoção apropriada sob cada
imagem. Desenho de rostos em branco, escolhem a cor da pele e as características
faciais e oferecem os rótulos para os sentimentos.
 Rostos de emoção de revistas: disponibilizar revistas velhas para a criança e pedir que
recortem imagem de pessoas que estão experimentando diversos sentimentos.
Depois, as crianças colam as figuras em cartolina e escrevem a palavra correspondente
ao sentimento abaixo de cada imagem. Objetivo: na maioria das vezes, as crianças
recortam figuras de pessoas que são modelos para elas e também figuras que mais
parecem consigo mesmas, e assim, a tarefa torna-se responsiva e pode representar
circunstancias da vida real. Também é trabalhado a expressividade emocional.
 Livros ilustrados: ler livros ilustrados, fazer pausas e debater componentes da história,
pedir que a criança identifique os sentimentos dos personagens e fale sobre como são
semelhantes ou diferentes dos seus.
 Filmes, peças de teatro, programas de TV, música: pedir que a criança preste atenção
na reação dos personagens, a expressão facial, os comentários verbais e os
comportamentos, e identificar os sentimentos envolvidos e perguntar se a criança
identifica sentimentos parecidos ou não com os que ela vivencia

Auxiliando as crianças a classificar a intensidade do sentimento

 Ajudar a criança a entender que os sentimentos variam de intensidade


 Rostos de sentimentos: depois de desenhar e identificar, definir escala de 1 a 5 ou
desenhos para marcar “x” de “muito”, “mais ou menos”, “pouco” e “nada”.
 Termometros de sentimentos: perguntar o que o termômetro faz, criar um
termômetro de sentimentos com a criança e explorar metáforas uteis. “Me mostre no
termômetro onde sua raiva atinge o ponto de fervura”.
 Semáforo de transito de sentimentos: reconhecer que alguns sentimentos fortes
podem faze-las parar, assim como um sinal vermelho interrompe o transito, pode
facilitar que a criança entenda o papel que as emoções desempenham em suas vidas.

Identificando sentimentos com adolescentes

 Inventários de autorrelato: CDI, MASC-2, ou SCARED: fornecem medidas


aproximadas dos estados de humor
 Exercícios narrativos: os adolescentes são convidados a escrever sobre um
momento em que se sentiram tristes, com raiva ou deprimidos. A narrativa pode
incluir as circunstancias em torno do sentimento, sua reação fisiológica e as
reações cognitivas e comportamentais. Com frequência, o titulo escolhido revela o
estado emocional do adolescente.
 Cartaz ou colagem de sentimentos: os adolescentes criam um cartaz
representando diferentes estados de sentimentos a partir de figuras recortadas de
revistas.
 Charadas de sentimentos: mímica, funciona muito bem com grupos e famílias. Os
jovens escolhem cartões rotulados com várias emoções e então, representam a
emoção escolhida usando apenas expressões e ações. O jogo permite a pratica
tanto da expressão das próprias emoções quanto do reconhecimento de
sentimentos nos outros.

Identificando pensamentos e associando pensamentos aos sentimentos

 O que está passando pela sua cabeça nesse momento? O que “pipocou” em sua
cabeça?” O que passou voando pela sua mente? O que se precipitou em sua cabeça? O
que varreu sua mente? O que invadiu sua mente? O que você disse pra si mesmo? O
que correu pela sua cabeça?
 Registro Diário de Pensamentos (RDP): diário de pensamentos, relatar situações
problemáticas, pensamentos e sentimentos perturbadores, respostas alternativas e o
resultado emocional que acompanha a autorresposta.

Identificando pensamentos com crianças

 Jardim de pensamentos: as crianças desenham plantas, cujas flores representam os


sentimentos e os talos indicam pensamentos; o solo representa o fato desencadeador
de seus pensamentos e sentimentos. As crianças pintam flores com diferentes cores
para representar diferentes sentimentos.
 Balões do pensamento Flutuando Sobre uma Face: personagens de pessoas ou animais
expressam alguma emoção, e as crianças preenchem o balão com o que acreditam que
aconteceu e o que o personagem estaria pensando.
 Jogos de tabuleiro;

Identificando pensamentos com adolescentes

 Registro de pensamentos: primeiro completar as colunas de situação e sentimento, e


depois, a coluna de pensamento.
 Frases incompletas: o adolescente preenche as colunas em branco, com as situações,
sentimentos e pensamentos. Ex: Quando minha professora diz para eu não me atrasar
para a aula, fico com raiva e __________ passa pela minha cabeça.”

Evitando confusão entre pensamentos e sentimentos

Pensamentos são coisas que passam em suas mentes e que, em geral, tomam forma de frases
(ex: “algo ruim vai me acontecer”). Em seguida, explicamos que os sentimentos, são suas
emoções e normalmente podem ser descritas com uma palavra (ex: “assustado”). Os
pensamentos representam avaliações, conclusões, explicações ou julgamentos subjetivos (ex:
“sou incompetente”). Sentimentos como tristeza, chateação ou frustração são rótulos simples,
descritivos, que representam o relato da criança sobre seu estado sentimental.
Ajudando crianças e adolescentes a completar um registro diário de pensamento

 Registro diário de pensamento: descrição objetiva do que está acontecendo. Primeiro


as crianças precisam acessar seu vocabulário de sentimentos. Segundo, avaliar seus
sentimentos segundo alguma escala. Determinar a intensidade permite entender mais
profundamente a natureza das experiencias emocionais dos jovens e avaliar se a
cognição é significativa.
 Identificar sentimentos e pensamentos é o fundamento da terapia cognitiva com
crianças.

Diálogos socráticos terapêuticos

Questionamento sistemático

Se o terapeuta adotar uma postura gentil e curiosa, as crianças tenderão menos a ver o diálogo
socrático como um interrogatório.

O processo pode ser comparado com ajudar a criança a montar um quebra-cabeça. Se você
entrega uma peça e a criança não consegue achar o lugar certo, você não continua entregando
a mesma peça. Em vez disso, pode dar a ela outras peças. A medida que a imagem começa a se
formar, a criança pode facilmente posicionar a peça anteriormente difícil.

Tipos de perguntas

Perguntas lógicas: desafiam as crença e o raciocínio causal das crianças

Perguntas empíricas: solicitam que o cliente utilize dados e informações para desenvolver
novas crenças (ex: qual a evidência?)

Perguntas funcionais: enfatizam os custos e benefícios de pensamentos, sentimentos e


comportamentos (ex: quais são as vantagens de pensar que você é um tolo?)

Estilo didático: ensino direto

Estilo socrático: marcado por perguntas que orientam a descoberta das crianças

Estilo metafórico: envolve ampliar a perspectiva da criança por meio de analogias e metáforas

Estilo humorístico: incentiva a criança a rir da imprecisão dos seus próprios pensamentos

1. Qual é a evidencia?
2. Qual é a explicação alternativa?
3. Quais são as vantagens e desvantagens?
4. Como posso resolver o problema?
5. Descatastrofizaçao
Modificando o diálogo com base na criança

O que levar em consideração?

O nível de sofrimento da criança, a tolerância da criança à frustração e ambiguidade, a


formação cultural da criança, a maturidade psicológica da criança.

Dicas para tornar terapêutico o questionamento socrático

 Escute ativamente, evite interrogar;


 Evite questões que você já sabe a resposta;
 Procure questões melhores, não respostas definitivas; “Na melhor terapia cognitiva,
não existem respostas. Existem apenas boas perguntas que orientam a descoberta de
1 milhão de respostas diferentes.”

Utilizando metáforas, analogias e perguntas bem-humoradas

Pergunta dos Três Porquinhos: utilizada para minimizar a exigência de uma criança de que as
pessoas precisavam mudar para se adequarem a ela. “Se os três porquinhos tivessem exigido
que o lobo agisse de forma diferente, para onde essa criança crença os teria levado?”
Trilhos dos Meus Medos: é um exemplo de analogia mecânica. “A ansiedade é como um trem
passando por varias estações, que podem ser o pensamento, a emoção e os relacionamentos
interpessoais”.

Ao trabalhar com adolescentes disruptivos, usar analogias esportivas que contem estratégias
para ajuda-los a parar, relaxar e pensar.

Meus pensamentos de borboleta: o terapeuta inicia apresentando o conceito da borboleta:

“você sabe o que é uma borboleta? Veja, uma borboleta começa como uma lagarta, e então,
ela se transforma em uma borboleta. Não é legal? Uma lagarta vira uma borboleta. É muito
importante saber que você pode mudar a maneira de explicar o que acontece consigo. As
coisas que você diz para si mesmo quando esta se sentindo muito mal, como “eu não presto”,
“ninguém gosta de mim”, ou “vou fazer papel de bobo” são os seus pensamentos de lagarta.
Eles ainda não mudaram para pensamentos borboleta. Eu quero que você tente transformar
esses pensamentos de lagarta em pensamentos de borboleta.” Utilizar também figuras de
lagartas e borboletas

Relógio de Pensamento-Sentimento: atividade artística que emprega uma analogia em torno


da qual os terapeutas podem construir um diálogo socrático. A criança desenha rostos
zangados, tristes, assustados e felizes em um mostrador de relógio. Esse recurso pode ser
usado para lembrar a criança que os sentimentos mudam.

Dona Errilda: é uma forma de ensinar os jovens que erros são simplesmente uma parte da
vida, não uma catástrofe. A personagem central da historia, nesse exercício, é uma figura
feminina, bondosa e que usa óculos. Em seu diálogo com as crianças, ela compartilha sua visão
de que os erros são inerentes aos seres humanos. O exercício começa com um texto
introdutório, seguido por várias perguntas apresentadas no modo passo a passo. As perguntas
são feitas de forma simples e incluem frases para as crianças completarem, perguntas de
múltipla escolha para circularem e perguntas abertas.

Escavador de pensamentos: verificação de pensamentos e questionamento socrático. As


crianças são incentivadas a se tornarem arqueólogas que fazem escavações procurando pistas.
Estimulamos as crianças a representarem o movimento de escavar e, então, fazerem
perguntas a si mesmos. Além disso, usamos o termo “ escavador de pensamentos” como um
tipo de taquigrafia terapêutica para dar pistas as crianças (“você esta sendo um escavador de
pensamentos?”). por fim, o diário de escavador de pensamentos facilita o processo de
questionamento socrático para as crianças, uma vez que perguntas comuns para testar
pensamentos incorretos são fornecidas na folha de registro. A criança só precisa circular
aquela mais adequada à situação e ao pensamento incorreto.
TÉCNICAS COGNITIVAS E COMPORTAMENTAIS DE USO COMUM

Aquisição de habilidade (psicoeducação) e aplicação da habilidade (psicoterapia)

Na psicoeducação, são ensinados aos jovens os conceitos e informações psicologicamente


relacionados (ex: modelos de raiva, formas de lidar com a raiva, como relaxamento,
retribuição) e na psicoterapia, os clientes são incentivados a recorrer a essas habilidades
quando estão emocionalmente perturbados.

Instrumentos comportamentais básicos

Relaxamento: técnica comportamental possível de ser aplicada a uma série de problemas,


como controle da ansiedade e raiva.

Relaxamento muscular progressivo: tensionar e relaxar alternadamente grupos musculares


específicos (ler mais)

Dez velas: nesse exercício, o terapeuta convida o cliente a imaginar 10 velas acesas em
sequencia. A criança é instruída a soprar as velas e apaga-las, uma de cada vez. Essa técnica é
eficiente porque a forma como se apaga as velas coincide com a forma de inspirar e expirar
durante o relaxamento. Além disso, visualizar a vela sendo apaga estimula as crianças a expirar
mais fortemente e mantem as crianças cognitivamente “ocupadas” e envolvidas, pois
enquanto imaginam as velas, tem menos espaço para pensamentos disfuncionais.

Dessensibilização sistemática: é um procedimento contracondicionante usado para diminuir


medos e ansiedade. Envolve a combinação de estímulos geradores de ansiedade com um
agente contracondicionante (em geral, o relaxamento). Diversos elementos estão incluídos no
procedimento de DS. A fim de conduzir uma DS, hierarquias de ansiedade devem ser
desenvolvidas, realizando um treinamento em um agente contracondicionante.

O primeiro passo na DS é criar uma hierarquia de ansiedade dividindo o medo em pequenas


partes. Cada componente do medo é, então, classificado. Hierarquias de ansiedade são
construídas estabelecendo Unidades Subjetivas de Sofrimeto (USS). As hierarquias mais
comuns são classificadas de 1 a 100 quando a gravidade e intensidade. As crianças podem se
beneficiar de escalas de classificação como 1 a 10.

Para entender plenamente a natureza dos medos de cada criança, os terapeutas precisam
reconhecer todos os aspectos dos medos da criança. Assim, o terapeuta precisa evocar os
componentes interpessoal, cognitivo, emocional, fisiológico e comportamental presentes no
medo. Devem ser feitas perguntas como: “o que classifica a situação em 3?” “O que está
passando pela sua cabeça?””Quem estava lá?””O que você faz no 3?””omo você sente seu
corpo no 3?”. Cada cena pode ser escrita em uma ficha. Crianças mais novas podem gostar de
desenhar as cenas. Após as cenas serem detalhadas, são organizadas de forma hierárquica.
Uma vez que o medo tenha sido compartimentalizado e hierarquicamente organizado, o
procedimento começa com o item mais baixo na hierarquia. A criança é instruída a relaxar e
imaginar uma cena agradável. Quando estiver relaxada, apresentam-lhe o primeiro item. Se a
criança experimentar ansiedade, é instruída a calmamente a levantar um dedo. Se for relatada
a ansiedade, a criança é instruída a parar de imaginar a cena e retornar a cena agradável
anterior. À medida que as crianças obtem domínio sobre a cena, dão um passo acima da
hierarquia, até que o nível mais alto do medo seja atenuado.
Resumo: classifique a aflição, crie a hierarquia, as cenas podem ser escritas ou desenhadas em
fichas, treine a criança no processo de relaxamento, comece com um item inferior a
hierarquia, apresente o item e se a criança experimentar ansiedade, remova a cena e
implemente o relaxamento. Lembre-se de apresentar as cenas de 3 a 4 vezes, com duração de
5 a 10 segundos. Quando o item não provoca mais ansiedade, suba a hierarquia.

Treinamento de habilidades sociais

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