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DICAS PARA LIDAR COM CRIANÇAS

TRANSTORNO DESAFIADOR OPOSITIVO


Publicado em 02 de Nov de 2015 por Marília Alencar | Comente!
Agressividade, irritação, comportamento vingativo e recusa em
obedecer às regras podem ser sintomas do transtorno desafiador
opositivo. Saiba quando buscar ajuda para a criança

Birra e crises de mau humor são comuns em crianças de todas as idades,


mas há casos em que a desobediência ganha contornos severos. O pequeno
passa a apresentar dificuldades no controle do temperamento e das
emoções, tornando-se teimoso e resistente a ordens. Em outras palavras,
parece testar os limites dos pais a todo instante. Se essa descrição lembrou
alguma criança que você conhece, saiba que ela pode estar sofrendo
do transtorno desafiador opositivo (TDO).
“As principais características são a perda frequente da paciência,
discussões com adultos, desafio, recusa em obedecer a solicitações ou
regras, perturbação e implicância com as pessoas, podendo responsabilizá-
las por seus erros ou mau comportamento. Ele se aborrece com facilidade e
comumente se apresenta enraivecido, agressivo, irritado, ressentido,
mostrando-se com rancor e com ideias de vingança”, resume Gustavo
Teixeira, psiquiatra da infância e adolescência e autor do livro “O Reizinho
da Casa — Manual para Pais de Crianças Opositivas, Desafiadoras e
Desobedientes” (Best Seller).

Relações abaladas
Dados estatísticos revelam que 2% a 16% das crianças em idade escolar
apresentam o TDO. O transtorno ainda é duas vezes mais frequente entre
meninos, e os sintomas iniciais ocorrem entre os seis e oito anos de idade.
Mas como diferenciar o transtorno de um caso corriqueiro de mau
comportamento? “No caso de crianças com idade abaixo de cinco anos, o
comportamento deve ocorrer na maioria dos dias durante um período
mínimo de seis meses. Em crianças com cinco anos ou mais, deve ocorrer
pelo menos uma vez por semana durante no mínimo seis meses”, esclarece
Luciana Rizo, neuropsicóloga (RJ). Outra pista é quando o comportamento
inadequado causa sofrimento aos grupos de convívio da criança, como
família e amiguinhos da escola, impactando negativamente em seus
relacionamentos.

A raiz do problema
“A gravidade do sintoma pode ser leve quando se limita a apenas um
ambiente. É moderada quando está presente em pelo menos dois, e grave
quando ocorre em três ou mais”, diferencia Luciana. A neuropsicóloga
explica que os pais não devem se torturar pensando sobre onde erraram na
educação de seu filho. Segundo ela, as causas da manifestação do problema
são multifatoriais. “Há evidências de influências hormonais, genéticas e
neurofuncionais.” Porém a dinâmica familiar pode reforçar um padrão de
comportamento inadequado. “Em resumo, seria uma integração dos fatores
genéticos e o quanto o ambiente colabora na expressão em maior ou menor
grau do transtorno”, conclui.

Transtorno de conduta
Na hora de procurar ajuda, o psiquiatra, o neuropediatra ou o
neuropsicólogo especializados em tratamento infanto juvenil podem ajudar
no diagnóstico, que será clínico. Em algumas situações, é comum o TDO
ser confundido com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH). Os dois transtornos, aliás, não raro, aparecerem juntos. “A
semelhança é que ambos têm como característica a impulsividade, ou seja,
os portadores tendem a agir sem pensar. Porém, quando é realizada a
avaliação adequada, percebe-se claramente a diferença entre ambos”,
destaca Luciana.
Cerca de 65% das crianças com o diagnóstico de TDO deixarão de
apresentar os sintomas nos anos seguintes, desde que acompanhados
terapeuticamente. O restante pode permanecer ou intensificar os sintomas,
evoluindo para o chamado transtorno de conduta (em que os jovens
apresentam agressividade, comportamento antissocial e constantemente
violam as regras de convívio). “Quando o TDO não é tratado, a evolução
para o transtorno de conduta pode ocorrerem até 75% dos casos. Naquelas
em que o início dos sintomas se iniciaram antes dos oito anos de idade, o
risco de evolução será maior. Ou seja, o diagnóstico e o tratamento
precoces exercem um papel preventivo importante”, pontua Teixeira. Além
disso, quando adultos, há maior risco de desenvolvimento de problemas de
controle de impulsos, abuso de álcool e drogas, ansiedade e depressão.

Manejo do comportamento
O tratamento para TDO geralmente alia medicação psiquiátrica com
psicoterapia. “De maneira geral, quando falamos de transtornos, não
falamos em cura, mas em manejo de comportamentos ou sintomas. Com o
tratamento, a incidência de comportamentos inadequados diminui
bastante”, explica a neuropsicóloga.
Uma série de estratégias de manejo de comportamentos pode ser ensinada
para aqueles que convivem diretamente com a criança ou adolescente. “O
terapeuta trabalha a percepção de situações que levam à ativação emocional
e que conduzem ao comportamento de oposição e desafio”, destaca.
Também pode ser aplicado o chamado reforçamento positivo – que são
elogios, aproximação física, carinho e atenção sempre que a criança
apresentar um comportamento adequado. Para completar, os pais precisam
ficar atentos à disciplina. “A falta de limites e de disciplina pioram os
sintomas de crianças com o transtorno desafiador”, lembra Teixeira.

Ambiente saudável
A participação dos pais, aliás, é de extrema importância no tratamento da
criança com TDO. “Uma criança que cresce em um ambiente respeitador,
com pais presentes e participativos em sua vida, apresentará menores
chances de problemas relacionados com comportamentos desafiadores,
desobedientes e opositivos”, lembra o médico Teixeira.
Também é importante ser um modelo pacífico e positivo para a criança,
evitando agressividade e violência. “Muitos pais confundem limite e
monitoramento com intolerância, autoritarismo e violência. Na verdade, a
família é um grande modelo de aprendizagem para a criança”, reforça o
psiquiatra.
Sempre que possível, fortaleça a autoestima de seu filho, evitando dizer
coisas como: “você não faz nada certo” ou “você é o pior da escola”. Vale
também estimular a prática de esportes, que ensina conceitos básicos de
respeito, ética, moral, hierarquia, companheirismo, organização, liderança,
cooperação, competição, regras, limites, além do desenvolvimento de
habilidades motoras e sociais. Por fim, mantenha um canal de comunicação
aberto com a escola para monitorar comportamento do estudante quando
ele estiver fora de casa

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