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> RESUMO
Objetivo: Realizar uma revisão integrativa com o objetivo de enfatizar os principais achados do desenvolvimento neural
durante a adolescência. Métodos: Foram enfatizados três aspectos neurais devido a sua importância no comportamento
humano: regiões corticais, regiões subcorticais e aspectos neurofuncionais, este último priorizando os sistemas de
neurotransmissão dopaminérgico e serotonérgico. Resultados: Dados recentes indicaram que existem modificações
significativas na estrutura de determinadas áreas corticais e subcorticais, especialmente naquelas relacionadas com o sistema
mesolímbico durante a adolescência. As implicações clínicas destas transformações no comportamento dos adolescentes
também são discutidas. Conclusão: O período da adolescência apresenta transformações críticas no desenvolvimento
neural mediadas por aspectos neuroquímicos e morfológicos.
> PALAVRAS-CHAVE
Adolescente, desenvolvimento infantil, córtex cerebral, neurotransmissores.
> ABSTRACT
Objective: Do an integrative review aimed to emphasize the main findings of neural development during adolescence.
Methods: Three neural aspects were emphasized due to their importance in human behavior: cortical regions, subcortical
regions and neurofunctional aspects, the latter focused on dopaminergic and serotonergic neurotransmission systems.
Results: Recent data pointed out that there are significant modifications in the structure of specific cortical and subcortical
areas, especially those related to the mesolimbic system during adolescence. The clinical implications of these findings on
adolescent behavior are also discussed. Conclusion: The period of adolescence shows critical transformations on the neural
development through neurochemical and morphological aspects.
1
Doutorado e Pós-Doutorado em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). São Paulo, SP, Brasil. Docente Pesquisador
da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) - Centro de Ciências da Vida - Pontifícia Universidade Católica de
Campinas. Campinas, SP, Brasil.
2
Doutorado em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pós-Doutorando em Psicobiologia pela UNIFESP - (Bolsista
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Uso de Substâncias (NEPSIS)
e da Unidade de Dependência de Drogas (UDED) - Departamento de Psicobiologia - UNIFESP. São Paulo, SP, Brasil.
3
Doutorado em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, SP, Brasil. Pós-Doutorado em Avaliação Assistida pela
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Campinas, SP, Brasil. Professora Emérita da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Vitória, ES, Brasil. Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas /
PUC-Campinas. Líder do Grupo de Pesquisa em Psicologia da Saúde e Desenvolvimento da Criança e do Adolescente - Programa de Pós-
Graduação em Psicologia / PUC-Campinas. Campinas, SP, Brasil.
4
Doutorado em Psicobiologia e Pós-Doutorado em Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Docente Adjunta do
Departamento de Psicobiologia da UNIFESP. Coordenadora do grupo de pesquisa CIENSEA (Centro Interdisciplinar De Estudos em
Neurociência, Saúde e Educação na Adolescência). Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e
Adolescência da UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil.
André Luiz Monezi Andrade (andre.andrade@puc-campinas.edu.br) - Centro de Ciências da Vida, Pontifícia Universidade Católica
de Campinas (PUC-Campinas). Av. John Boyd Dunlop, S/N - Jardim Ipajussara. Campinas, SP, Brasil. CEP: 13034-685.
Submetido em25/05/2018 - Aprovado em 26/06/2018
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 15, supl. 1, p. 62-67, dezembro 2018 Adolescência & Saúde
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Ventral (ATV), é um dos mecanismos mais co- ma, e esta fragilidade do controle inibitório pode
nhecidos envolvidos com as sensações de prazer. aumentar as chances de exposição ao risco, dada
Trabalhos recentes utilizando modelos a maior sensibilidade a estímulos reforçadores e
pré-clínicos indicaram maior quantidade de maior risco de comportamentos de uso e abu-
receptores dopaminérgicos (up regulation) no so de drogas. No estudo de Zamudio-Bulcock
Nac em animais adolescentes em comparação et al.19, os animais expostos à administração de
aos adultos15. Além disso, os receptores dopami- etanol apresentaram alterações neurofuncionais
nérgicos de ratos adolescentes parecem possuir permanentes, como a hipersensibilidade e up-re-
uma hipersensibilidade no Nac, em comparação gulation dos receptores NMDA, sendo este um
aos de ratos adultos16. Por outro lado, os ani- dos principais receptores do sistema glutamatér-
mais adolescentes parecem possuir uma menor gico. Nesse sentido, o glutamato é o principal
quantidade de sinapses dopaminérgicas no Nac, neurotransmissor excitatório no sistema nervoso,
significando que menos DA é comumente libe- principalmente nas áreas corticais. Sua hiperati-
rada nesta região durante a adolescência17. Estes vação poderia agravar ainda mais os comporta-
achados possuem implicações importantes na mentos compulsivos e quadros de ansiedade na
compreensão dos comportamentos motivados. adolescência, haja vista que o sistema 5-HT que
Pode-se considerar que, embora o sistema de re- exerce função inibitória, estaria hipoativado.
compensa esteja continuamente menos ativado
durante a adolescência, as respostas fisiológicas
oriundas desta ativação possuem uma intensi- IMPLICAÇÕES DO
>
dade maior do que em adultos. Em outras pa- DESENVOLVIMENTO NEURAL NO
lavras, embora o adolescente experencie menos COMPORTAMENTO DO ADOLESCENTE
sensações de prazer que os adultos, essas sensa-
ções são muito mais intensas. Este mecanismo Este período de desenvolvimento neural
é chamado de “sensibilização comportamental” representa para o adolescente, tanto uma fase
e ajuda a compreender porquê os adolescentes de oportunidades para o desenvolvimento de
tendem a se engajarem em situações de risco novas habilidades, quanto um período de vul-
potencialmente reforçadoras para essa idade. É nerabilidades. Neste último caso, os comporta-
com base neste mecanismo que alguns autores mentos mais comuns nesse período são a im-
acreditam que a adolescência é um período de pulsividade cognitiva, a labilidade emocional e a
risco para a experimentação de substâncias de busca pelo perigo20. Além disso, a adolescência
abuso porque, como o efeito reforçador dessas é um período em que aparecem os primeiros
drogas é mais intenso nesse período da vida, os sinais de doenças mentais. Nesse sentido, a pes-
adolescentes são mais vulneráveis ao uso abusi- quisadora Monique Ernst20 propôs um modelo
vo e a dependência de drogas18. (Modelo Triádico) para explicar diversos com-
Outro neurotransmissor associado aos portamentos de risco durante a adolescência.
transtornos comportamentais mais comuns du- Este modelo é baseado em diversos estudos de
rante a adolescência é a serotonina (5-HT). Esta neuroimagem e em modelos pré-clínicos. O mo-
substância possui vias extremamente complexas delo fundamenta-se em três principais áreas: o
e atua em pelo menos sete famílias de receptores CPF, responsável pela regulação e controle dos
de 5-HT. Uma das funções da 5-HT é atuar como comportamentos; a amígdala, responsável pela
regulador na tomada de decisões, por meio de labilidade emocional; e o estriado, responsável
um complexo sistema inibitório que envolve pelo sistema de recompensa. A ideia central des-
regiões do estriado, tálamo, córtex pré-frontal ta teoria é que o cérebro busca um equilíbrio
(CPF) e os núcleos dorsais da rafe. Durante a ado- nesta tríade neural a partir de fatores transitórios
lescência, existe uma hipoativação desse siste- e inerentes. Os fatores transitórios dizem respei-
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