Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Organizadora)
2020
Padu Aragon Editor
e
Grupo de Pesquisa e Estudos Sexualidade Educação e
Cultura – GEPESEC
Faculdade de Ciências, Campus de Bauru
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –
UNESP
Conselho Editorial
Eladio Sebastian Heredero (Universidade de Alcalá, Espanha)
Elenita Pinheiro de Queiroz Filho (Universidade Federal de
Uberlândia, UFU)
Filomena Teixeira (Escola Superior de Educação de Coimbra e
Universidade de Aveiro, Portugal)
Isabel Chagas (Universidade de Lisboa)
João Guilherme Rodrigues Mendonça (Universidade Federal de
Rondônia, UNIR)
Maria Teresa Bejarano Franco (Universidade de Castilla-la-
Mancha, Espanha)
Mary Neide Damico Figueiró (Universidade Estadual de
Londrina, UEL)
Paula Regina Costa Ribeiro (Universidade Federal de Rio
Grande, FURG)
Sonia Maria Martins de Melo (Universidade do Estado de Santa
Catarina, UDESC)
Teresa Vilaça (Universidade do Minho, Portugal)
ISBN 978-65-992992-0-9
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
7
2
ADOLESCÊNCIAS NA EDUCAÇÃO SEXUAL
EMANCIPATÓRIA 31
Patrícia de Oliveira e Silva Pereira Mendes
3
INTERSECÇÕES DE GÊNERO NA ADOLESCÊNCIA
Marcela Pastana 41
Ana Claudia Bortolozzi
4
SEXUALIDADE, HISTÓRIA, CULTURA E SOCIEDADE
Marina Renoldi Dos Santos 65
5
FAMÍLIAS DIVERSAS
Gabriela Uchôa Barcellos 79
Rafaela Pasini da Cunha
6
SEXUALIDADE E GÊNERO
Laura Cunha Hanitzsch 86
Mariana Favorido Sant‟Ana
PREVENÇÃO CONTRA VIVÊNCIAS DE
7 RELACIONAMENTOS ABUSIVOS
Bárbara Fernanda Marinho de Freitas
Gustavo Borghi Gonçalves
100
8
COMBATE À VIOLÊNCIA E AO PRECONCEITO
Débora Regina Sertori 124
Renan Marques Valli
9 FEMININA NA MÍDIA
Camila Freitas Barros
Juliana Aparecida Sparapan
135
10 Camilla Schultz
Luísa Paulino
144
11 DO CORPO
Giovanna de Miranda
Francine Butignon
155
14 CONTRACEPTIVOS
Verônica Lima dos Reis
Ana Cláudia Bortolozzi
199
7
oportunidade para vários(as) alunos(as) terem contato com o
exercício profissional como educadores(as) sexuais, com ética
e responsabilidade.
8
ideia ou dinâmica apresentada semelhante já realizada por
alguém.
Para encerrar, espero que este livro possa ser útil para
educadores(as) de maneira geral; profissionais da área da
educação e da saúde (Psicologia, Pedagogia, Enfermagem, etc.)
dispostos(as) a mediarem e a coordenarem grupos de e com
adolescentes em propostas de educação sexual.
9
PARTE I - ASPECTOS
TEÓRICOS
10
Capítulo 1
1
A parte inicial deste capítulo é baseada no livro BORTOLOZZI; VILAÇA. Educação
Sexual Inclusiva e a formação de professores(as). São Paulo: Cultura
Acadêmica/Unesp, 2020.
11
educação sexual geral, ela é mais direcionada e pode - se
elaborada com finalidades éticas e pedagógicas - contribuir
para transmitir informações cientificas pautadas em teorias do
desenvolvimento e adequadas à faixa etária a que se destina.
Assim, podemos enfim definir a EDUCAÇÃO SEXUAL
COMO
12
educação sexual nos currículos escolares acadêmicos é lei,
como ocorre em Portugal e na Espanha, e isso minimiza vieses
pessoais, auxilia a parceria de trabalho com familiares e
profissionais da saúde, aumentando sua eficácia.
Defendemos uma educação sexual como um processo
formal organizado e executado por educadores(as)
preparados(as) que planejam e realizam encontros com
objetivos e conteúdos que atendam às necessidades dos(as)
educandos(as), tratando de questões orgânicas, mas também
psicossociais e proporcionando, por meio de dinâmicas e
processos grupais, reflexões sobre as questões sociais e
históricas que construíram a base dos valores relacionados à
sexualidade, bem como questões subjetivas que dificultam
ao(a) jovem lidar com a ambiguidade de expressar um corpo
erótico em um contexto repressivo, com regras normativas. É
preciso compreender a construção histórica da sexualidade
para questionar, refletir e flexibilizar os padrões normativos à
que estamos expostos (BORTOLOZZI; VILAÇA, 2020).
Acreditamos que a educação sexual deve direcionar a
uma formação, no sentido de proporcionar mudanças de
atitudes, autônomas e voltadas para ao prazer, para o respeito
à diversidade sexual, para o desenvolvimento de
comportamentos saudáveis e para o bem estar pessoal e
social, pois é
13
visão de sexualidade e sua prática sexual. [...] deve ser um
processo intencional, planejado e organizado que visa
proporcionar ao aluno uma formação que envolva
conhecimento, reflexão e questionamento; mudança de
atitudes, concepções e valores; produção e desenvolvimento de
uma cidadania ativa; e instrumentalização para o combate à
homofobia e à discriminação de gênero (MAIA; RIBEIRO, 2011,
p. 76-77).
Destinado a: educadores
(as);
Endereço de acesso:
http://bvsms.saude.gov.br/b
vs/publicacoes/diretrizes_na
cionais_atencao_saude_adole
scentes_jovens_promocao_sa
ude.pdf
2
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à
saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. /
Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção em Saúde, Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas, Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. –
Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 132. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
14
Outro documento, encontramos na UNESCO. A UNESCO
foi criada em 1945, no período pós-guerra, para garantir a paz
no mundo, por meio de cooperação intelectual entre as nações
(hoje fazem parte 193 países) para a resolução de problemas
emergentes nas áreas da Educação, Ciências Naturais, Ciências
Humanas e Sociais, Cultura, Comunicação e Informação.
3
Extraído de https://nacoesunidas.org/agencia/unesco/. Acesso em: 08.09.2020.
15
Destinada para educadores(as);
Adaptado para a realidade
brasileira;
Apresenta tópicos e objetivos
para serem utilizados em
propostas de educação sexual
para alunos(as) de 5 a 18 anos
de idade.
Endereço de Acesso:
https://crianca.mppr.mp.br/arq
uivos/File/publi/unesco/orient
acoes_tecnicas_sexualidade_un
esco_2014.pdf
SAIBA MAIS:
16
Valorizar as diferentes expressões da sexualidade nas
várias fases de desenvolvimento da vida;
Respeitar as outras pessoas independentemente de
suas características físicas, orientação sexual ou outras
diferenças;
Promover igualdade de direitos e oportunidades entre
gêneros;
Importar-se pela comunicação e pelo desenvolvimento
afetivo e amoroso na vivência da sexualidade;
Reconhecer o direito a uma maternidade/paternidade
livre e responsável;
Reconhecer que a autonomia, a liberdade de escolha e
uma informação adequada são aspectos essenciais para a
estruturação de atitudes responsáveis no relacionamento
sexual;
Recusar as formas de expressões da sexualidade que
envolvam manifestações de violência, dominação e
exploração, e
Promover a saúde sexual e reprodutiva das pessoas e
de casais;
ATENÇÃO
17
Propomos que as metas dos programas de educação
sexual devem se basear em três grandes áreas: 1ª) domínio de
informações e conhecimento científico, 2º) sentimentos
positivos e empatia e 3º) formação de atitudes preventivas
(BORTOLOZZI; VILAÇA, 2020; FRADE, MARQUES; ALVERCA;
VILAR, 2001), descritas no quadro abaixo:
ÁREAS METAS
Conceito amplo de sexualidade e educação
sexual;
Sexualidade na história e na cultura;
Puberdade e adolescência;
Domínio de Resposta sexual e práticas sexuais;
informações e Reprodução humana, gravidez e parto;
conhecimento Planejamento familiar e contracepção;
científico Infecções sexualmente transmissíveis;
Questões de gênero e diversidade sexual;
Violência sexual;
Relacionamento abusivo;
Direitos Sexuais, legislações, etc.
Aceitação positiva do corpo sexuado, do
Sentimentos prazer e da afetividade nas expressões e
positivos e empatia comportamentos sexuais nas várias fases
do desenvolvimento;
Visão não sexista, sem dominação e com
igualdade de direitos;
Respeitar e não discriminar as diversas
expressões e orientações sexuais dos(as)
outros(as);
Acolher.
Capacidade de comunicação assertiva;
Saber pedir ajuda, identificar apoios,
quando necessário;
Reconhecer situações de violência, proteger-
Formação de se e/ou denunciar;
Atitudes preventivas Ter repertório de ações em saúde sexual e
reprodutiva;
Prevenir-se contra infecções sexualmente
transmissíveis;
Exercer constantemente a cidadania em
uma sociedade inclusiva.
Fonte: As autoras.
18
Para nortear de modo comum a elaboração de projetos
em educação sexual, defendemos alguns objetivos que nos
parecem fundamentais serem frequentes a todos eles:
• Esclarecer sobre sexualidade como um conceito amplo,
que envolve aspectos históricos, sociais, culturais,
psicológicos e biológicos;
• Promover um espaço de diálogo e reflexão crítica,
buscando a construção da autonomia;
• Problematizar preconceitos, concepções
discriminatórias, padrões normativos e repressivos;
• Contribuir para a construção de uma compreensão mais
abrangente, reflexiva e crítica da sexualidade.
19
Durante os encontros é preciso estar atento a:
20
diversas formas de preconceitos e violências: são muitos os
temas que podem ser abordados em programas de educação
sexual.
Fonte: http://www.emdialogo.uff.br/content/ca-entre-nos-guia-de-
educacao-integral-em-sexualidade-entre-jovens
21
(“Beijo na boca transmite o HIV”) e sobre bullying (“O bullying
é uma simples provocação”).
O material traz também sugestões para diferentes
jogos: há um caça-palavras com as mudanças da puberdade;
um jogo da forca sobre os órgãos sexuais internos e externos;
uma cruzadinha sobre os métodos contraceptivos; um bingo
sobre as doenças sexualmente transmissíveis; um jogo da
memória sobre igualdade de gênero, com peças em que
garotos e garotas desempenham as mesmas atividades e uma
batalha naval sobre os direitos das crianças e dos(as)
adolescentes.
4
Disponível em:
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?cont
eudo=157. Acesso em: 07/09/20.
22
Fonte: Capas de fascículos da Coleção Adolescentes e Jovens para a
Educação entre os Pares.
23
dificultam que a violência seja prevenida, combatida e mesmo
reconhecida por quem a sofre.
O fascículo Diversidades sexuais traz e responde
questões diversas, tais como: “Sexualidade e sexo são
diferentes? Quem nasce com um pênis pensará e agirá como
um homem? Quem nasce com uma vagina pensará e agirá
como uma mulher? Todos os homens têm o mesmo jeito de
ser masculino? Todas as mulheres têm o mesmo jeito de ser
feminina? O sexo biológico determina por quem vou sentir
desejo sexual? A pluralidade e a diversidade humana também
se aplicam à forma como nos relacionamos afetiva e
sexualmente?”. Aborda no decorrer das oficinas, questões
como a importância da valorização das diferenças; explicações
sobre conceitos como identidade de gênero e orientação
sexual e a busca pela igualdade de direitos e pelo
enfrentamento às muitas formas de violência, discriminação e
preconceito vividos por pessoas lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais pela intolerância às expressões que
destoam dos modelos normativos de sexualidade e gênero.
Fonte: https://pt.calameo.com/books/0003468554aab7d48a0f3
24
Material produzido pelo Ministério da Saúde. Com base
em direitos como “viver plenamente a sexualidade sem medo,
vergonha, culpa e falsas crenças”; “direito ao sexo seguro para
a prevenção da gravidez não planejada, de doenças
sexualmente transmissíveis e do HIV/aids” e “direito à
informação e à educação sexual e reprodutiva”, são trazidas
informações acompanhadas por ilustrações sobre o corpo
(com descrições sobre diferentes órgãos como vulva, clitóris,
períneo, seios, vagina, trompas, ovários, útero; pênis, bolsa
escrotal, testículos, canais deferentes, vesículas seminais,
próstata, uretra, glândulas bulbouretrais); sobre a fecundação;
sobre anticoncepcionais (como pílulas anticoncepcionais,
injeções anticoncepcionais, camisinha masculina, camisinha
feminina, diafragma, espermicida, dispositivo intrauterino,
pílula anticoncepcional de emergência), com instruções sobre
as formas de acesso e modos de utilização. Consideramos um
material interessante principalmente pela qualidade das
imagens que são acompanhadas de explicações detalhadas.
Fonte:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/direitos_sexuais_reprodutivos
_metodos_anticoncepcionais.pdf
25
corpo de menina a mulher adulta, de menino a homem adulto.
Informações sobre os hormônios, sobre o ciclo menstrual, sobre o
uso de absorvente, sobre o aparelho reprodutor e a fecundação são
seguidas de recomendações sobre hábitos de higiene, de cuidado
com o corpo. Infecções sexualmente transmissíveis e métodos
anticoncepcionais são os temas seguintes. Após a explanação de
cada tema, há também sessões de perguntas e respostas.
Fonte: http://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_sexualidade.pdf
26
Fonte: https://www.atenaeditora.com.br/post-ebook/3285
27
As tais borboletas no estômago, sobre experiências de
paixão, também com a problematização de ideias como alma
gêmea e amor como chave para a felicidade;
Homossexualidade e bissexualidade na adolescência, com a
reflexão sobre a força dos padrões em como aprendemos
sobre o que é o amor e sobre como devem ser os
relacionamentos, acompanhada por exemplos de como foram
as experiências de garotas com outras garotas na
adolescência;
Despatologizando identidades trans, com esclarecimentos
sobre identidade de gênero e sobre direitos de pessoas
transexuais;
Não somos da cor do pecado, sobre concepções racistas
acerca da sexualidade das mulheres negras,as expressões
discriminatórias que são utilizadas com frequência e o teor
de violência que carregam e
Relacionamentos abusivos, com a definição de diferentes
formas de violência e a defesa da importância de reconhecê-
las e enfrentá-las.
Fonte: http://www.revistacapitolina.com.br/
Referências
BRASIL, Ministério da Saúde. Caderno temático direitos
humanos – versão preliminar. Programa Saúde na Escola.
Brasília, DF: Ministério da Saúde; Ministério da Educação, 2015.
28
BORTOLOZZI, A. C. B; VILAÇA, T. Educação Sexual Inclusiva e
a formação de professores(as). São Paulo: Cultura
Acadêmica/Unesp, 2020.
FRADE, A. et al. Educação sexual na escola – guia para
professores, formadores e educadores. Lisboa: Texto, 2001.
HALSTEAD, F. M.; REISS, M. J. Values in sex education – from
principles to practice. 2.ed. London; New York: Taylor Francis
Group, 2006.
MAIA, A. C. B. Orientação sexual na escola. In: RIBEIRO, P. R. M.
(Org.). Sexualidade e
educação: aproximações necessárias. São Paulo: Arte e Ciência,
2004. p.153-79.
MAIA, A. C. B. Conceito amplo de sexualidade. Psicopedagogia
on-Line, v.1, 2010a.
Disponível em:
http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.
asp?entrID=1303. Acesso em: 10 set. 2015.
MAIA, A. C. B.; RIBEIRO, P. R. M. Educação sexual: princípios
para a ação. Doxa – Revista Paulista de Psicologia e
Educação, v.15, n.1, p.41-51, 2011.
UNESCO. Orientação técnica internacional sobre educação
em sexualidade: uma abordagem baseada em evidências para
escolas, professores e educadores em saúde. v.1. Trad. Rita
Brossard. Brasília: Unesco, Setor Educacional, 2010. Disponível
em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001832/183281por.
pdf. Acesso em: 18 ago. 2018.
UNESCO. Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura. Orientações técnicas de educação em
sexualidade para o cenário brasileiro: tópicos e objetivos de
aprendizagem. Brasília: Unesco, 2014.
VARELA, C. M.; RIBEIRO, P.R. C. Educação para a sexualidade: a
constituição de um campo conceitual. In: RIBEIRO, P. R. C.;
MAGALHÃES, J. C. (Org.). Debates contemporâneos sobre
educação para a sexualidade. Rio Grande: Editora da Furg,
2017. p.11-24.
29
APÊNDICES
Data:
Duração do encontro:
Nome do Projeto:
Tema do encontro:
Equipe responsável:
Nome (ou número) dos Participantes:
1) Objetivos do encontro:
2) Conteúdos Planejados (Tópicos gerais de conteúdo, temas,
assuntos)
3) Planejamento:
Conteúdo * Atividades** materiais*** tempo****
(procedimentos)
1)
2)
etc...)
5) Avaliação do encontro:
- Os objetivos foram cumpridos?
- Aspectos conclusivos mais relevantes do encontro;
- Indicativos do próximo encontro;
6) Observações relevantes.
6) Bibliografia utilizada ou consultada
7) Apêndices
30
Capítulo 2
5
Parte integrante do mestrado da autora, Mendes (2005).
31
A escola, desse modo, nas colocações de Ariès (1981), teve
um grande papel na definição e no entendimento tanto da
infância - como uma etapa do ciclo vital -, quanto da
emergência da adolescência, tais como são percebidas nos dias
atuais. Mas a pedagogia não é a única ciência responsável pela
compreensão da adolescência, a psicologia também contribuiu
para a concepção da vida em etapas, assim como várias outras
disciplinas na área das ciências humanas.
Maria Rita de Assis César (1998), ao traçar a genealogia da
adolescência, desde o momento em que passou a ser “objeto
de estudo da ciência”, esclarece que o psicólogo americano
Stanley Hall, que publicou em 1904 a primeira obra sobre
adolescência, influenciou sobremaneira os textos
psicopedagógicos direcionados a essa temática. Ela argumenta
que a influência de Hall, ao compreender a adolescência como
período de “tempestade e tormenta” em função de
determinantes genéticos, pôde ser observada nas obras que o
sucederam, em que os autores/as trataram de dizer a
adolescência a partir dessa ótica, descrevendo-a e
caracterizando-a fazendo uso de termos como “crise da
adolescência”, “drama da adolescência”, “fase inquieta”,
“tempo de transtorno”, “idade ingrate”, “fase negative”, etc.
O sociólogo Luís Antônio Groppo (2001), também contribui
para pensarmos a adolescência enquanto objeto de estudo da
ciência, ao afirmar que foi no processo de pensar a juventude
que surgiram as faixas etárias reconhecidas socialmente,
salientando que essas „”faixas etárias” não foram sempre as
mesmas, sofreram e sofrem modificações.
Groppo (2001) mostra o papel das ciências como a
medicina, a psicologia, a pedagogia e a sociologia, para a
compreensão do período de transição da infância para a
maturidade. Segundo ele, três termos apareceram de forma
enfática na modernidade: “juventude”, “adolescência” e
“puberdade”. Groppo (2001) salienta, ainda, que cada um
desses termos se refere a uma etapa pela qual passamos no
período da vida e explica:
32
Tanto Maria Rita César, quanto Luís Groppo, em suas
análises sobre a construção científica a respeito do conceito de
adolescência, permitem a constatação de que esse período de
desenvolvimento e a passagem da infância para a maturidade
nem sempre foram percebidos da mesma forma, assim como a
própria infância não o foi, de acordo com Àries (1981). Desse
modo, o conceito de adolescência, assim como o de juventude,
são frutos de construção social, e, portanto, produzidos em
condições sociais, históricas, econômicas e culturais
específicas.
Com essas reflexões, pode-se perceber a importância de
que não se venha a legitimar ideias universalistas com relação
à adolescência, ou ainda, que descolam os/as adolescentes e
jovens de seu contexto social.
Ressaltamos aqui que compreendemos a adolescência
como uma construção histórica e social, com todos os
atributos (muitas vezes discordantes) que lhes são impostos,
por isso, ao nos referirmos nesta obra à adolescência,
esclarecemos que adotamos esse conceito como sinônimo de
juventude.
Apesar dos diferentes olhares das ciências humanas sobre
adolescência e juventude, evitarem as classificações
cronológicas de caráter universalizante, os programas de
saúde e os discursos jurídicos sobre
infância/adolescência/juventude acabam, operacionalmente,
definindo idades para caracterizá-los.
A World Health Organizacion (WHO), Organização Mundial
de Saúde, ao adotar um conceito para designar a adolescência,
faz uso de uma definição cronológica, mas acrescenta a
cultura como base para o seu entendimento.
Os adolescentes são os indivíduos que estão entre a
infância e a vida adulta, no processo de alcançar a
maturidade sexual. O WHO (2018) define a escala adolescente
da idade como a segunda década da vida, 10-19 anos.
Entretanto, deve-se reconhecer que a adolescência é uma
combinação das mudanças físicas, psicológicas e sociais que
tem como base a cultura.
Já o Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA (BRASIL,
1990) não faz especificações a respeito da cultura, e usa como
critério para definição da adolescência a cronologia, definindo
em seu segundo artigo, que seria aquela pessoa entre doze e
dezoito anos de idade. Cabe ressaltar que o estatuto vem
cumprir uma função legal com relação às crianças e
adolescentes em nosso país e as políticas públicas dirigidas
para crianças e adolescentes fazem uso dessas delimitações
cronológicas.
33
Adolescências e Vulnerabilidade: por onde caminha esse
olhar...
34
condições de precariedade de vida social e busca de prazeres
que minimizam desprazeres e até violências no cotidiano de
adolescentes de camadas populares.
Encontramos essa perspectiva em pesquisas
desenvolvidas ao final da década de 90 e no início dos anos
2000, até o ano de 2011, por autores como Fernando Seffner,
Veriano Terto Junior, Richard Parker e Vera Paiva. Tais autores
permanecem em suas áreas pesquisando a temática da
vulnerabilidade e da prevenção ao HIV/Aids, em uma
perspectiva de direitos humanos, em estudos voltados para a
área da Saúde Sexual Reprodutiva e da Sexualidade.
Michelly Eustáquia do Carmo e Francini Lube Guizardi
(2018) em uma pesquisa sobre “O conceito de vulnerabilidade
e seus sentidos para as políticas públicas de saúde e
assistência social” concluíram que:
35
afirmações como essa precisam ser analisadas aliando todas
as questões sobre a própria adolescência e as constatações
sobre igualdade/diferenças entre gêneros (MENDES, 2005).
Contudo, faz-nos refletir sobre o quanto o grande acesso
a informação por parte dos adolescentes nesta geração atual
(geração google), em muitos momentos, não é acompanhada
de reflexão, diálogo, possibilidade de questionar, buscar
alternativas, pensar nos comportamentos diante delas, etc., e
isso diminui o repertório na formação de atitudes, acabando
por não garantir cuidados necessários frente a prevenção. O
diálogo coloca-se indispensável na adoção de cuidados
compreendidos em relações de alteridade, já que diante da
prevenção e da saúde sexual reprodutiva falamos de cuidado
de si e do outro.
Enemari Salete Poletti (2010), em seus estudos
denominados “Dos jovens filhos de Gaia e Urano aos
adolescentes do Google em seus processos de educação
sexual”, salienta a importância de, por meio do diálogo com
adolescentes, educadoras/as se abrirem ao aprendizado sobre
a compreensão que jovens possuem sobre as temáticas que
lhe são afetas e a partir daí estabelecer ações educativas
intencionais pautadas em conhecimentos científicos. Em suas
conclusões a autora destaca:
36
Educação sexual com e para adolescentes!
37
Para nós a sexualidade é uma realidade ontológica própria do
homem e uma dimensão intrínseca de sua relação dinâmica
com o mundo e consigo mesmo, espaço híbrido entre a
subjetividade emergente e a sociedade enquadradora,
identidade de tensão que provoca e sofre a ação do meio onde
vive (p.33).
38
É uma educação atrelada a um paradigma
emancipatório, ou seja, uma educação sexual com vistas à
emancipação imbricada com a compreensão da sexualidade
em sua historicidade, em suas múltiplas significações e
interpretações. Uma vertente que considera “a necessidade da
felicidade, a unicidade de cada ser e a tarefa inalienável de
construir referências éticas para sua vida e a de seus
semelhantes” (SILVA, 2001, p. 275). Entende que “homens e
mulheres precisam, a cada etapa da cultura e em cada
momento de consciência de si, re-significar a potencialidade
amorosa e a dinâmica da corporeidade, os sentimentos e
sensações, as vivências e comprometimentos existenciais
(SILVA, 2001, p. 275).
Referências
ARIÈS, P. A História Social da Criança e da Família. Rio de
Janeiro:Zahar, 1981.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>.
Acesso em: 15.10.2020.
CABRAL, J. T. A sexualidade no Mundo Ocidental. Campinas
SP: Papirus, 1995.
CARMO, M. E. do.; GUIZARD, F. L. O conceito de
vulnerabilidade e seus sentidos para as políticas públicas de
saúde e assistência social. Cad. Saúde Pública, 34 (3), p.1-14,
2018.
39
CÉSAR, M. R. de A. A invenção da “Adolescência” no Discurso
Psicopedagógico. Dissertação de Mestrado, Campinas, São
Paulo: UNICAMP, 1998.
FOUCAULT, M. História da sexualidade 1: a vontade de saber.
12ª Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1997.
GROPPO, L. A. Juventudes. Ensaios sobre Sociologia e História
das Juventudes Modernas. DIFEL, Portugal, 2001.
HEILBORN, M. L. A. Gênero, sexualidade e saúde. In: Seminário
Saúde, Sexualidade e Reprodução: compartilhando
responsabilidades. Rio de Janeiro: FAPERJ, 1998.
LOURO, G. L. Gênero e sexualidade: pedagogias
contemporâneas Pro-Posições, v. 19, n. 2 (56) - maio/ago, p.17-
23, 2008.
MELO, S. M. M. de.; POCOVI, R. Educação e Sexualidade.
(Caderno Pedagógico, v.1), Florianópolis: UDESC, 2002.
MENDES, P. de O. e S. P. Adolescência, Gênero e Aids nos
significados atribuídos por jovens de três escolas de
Florianópolis. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de
Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas.
Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Florianópolis,
2005.
NUNES, C. A. Filosofia, sexualidade e educação. As relações
entre os pressupostos ético-sociais e histórico-culturais
presentes nas abordagens institucionais sobre a educação
sexual escolar. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de
Educação UNICAMP, Campinas, 1996.
NUNES, C. A. Desvendando a sexualidade. Campinas: Papirus,
1997.
POLETTI, E. S. Dos jovens filhos de Gaia e Urano aos
adolescentes do Google em seus processos de educação
sexual. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado de
Santa Catarina. Centro de Ciências Humanas e da Educação.
Mestrado em Educação. Florianópolis, 2010.
SILVA, E. A. Filosofia, Educação e Educação Sexual: matrizes
filosóficas e determinações pedagógicas do pensamento de
FREUD, REICH e Foucault para a abordagem educacional da
sexualidade humana. Tese (Doutorado), UNICAMP, Campinas:
São Paulo, 2001.
WHO. World Health Organization recommendations on
adolescent sexual and reproductive health and rights.
Geneva: World Health Organization; 2018. Licence: CC BY-NC-
SA 3.0 IGO. Disponível em:
<https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/275374/9
789241514606-eng.pdf?ua=1>. Acesso em: 15.10.2020.
40
Capítulo 3
Marcela Pastana
Ana Cláudia Bortolozzi
41
O que faz com que a divisão entre feminilidade e
masculinidade seja transmitida como algo tão influente em
como uma pessoa será e se expressará?
O que faz com que a divisão entre feminilidade e
masculinidade seja vivida como algo tão influente na
construção das identidades?
Como a divisão entre feminilidade e masculinidade
participa na construção e na transmissão de possibilidades
e de impossibilidades, de incentivos e de impedimentos, de
direções e limites em relação a quem as pessoas são e a
quem podem ser?
42
cotidianamente nos(as) diálogos e nas brincadeiras sexistas,
nos jogos e esportes sexistas, nos filmes, estórias, narrativas
diversas, nas piadas, deboches, ofensas, provocações,
exclusões, agressões àqueles que não correspondem aos
modelos de masculinidade, feminilidade ou à
heteronormatividade6, nos materiais didáticos, na proposta
pedagógica como um todo e, até mesmo, no que chamamos de
currículo oculto.
É possível dizer que, no ambiente escolar, são comuns
situações que envolvem preconceitos e violências diante
daqueles que não correspondem aos padrões considerados
“corretos”, e isso se torna uma forma de aprendizado intensa
e incisiva para modelar comportamentos estabelecidos como
“normais” para o que se espera em relação ao gênero das
pessoas: o que ela pode ser, sentir, pensar, gostar e expressar
e isso gera discriminações e sofrimentos (FACCO, 2009;
FERRARI, 2010; FURLANI, 2011; JUNQUEIRA, 2009; LOURO,
1997; PELÚCIO, 2014; WOLFF, 2006).
6
Heternormatividade é um conjunto de dispositivos pelos quais a
heterossexualidade é instituída e vivenciada como possibilidade legítima de
expressão sexual, com base na crença da existência natural de dois sexos que se
traduziriam, de maneira automática e correspondente, em dois gêneros
complementares e em modalidades de desejos ajustadas a esta lógica binária
(JUNQUEIRA, 2010, p.2).
43
Vamos imaginar as seguintes cenas...?7 .
7
Essas cenas foram baseadas em Pastana (2017), no capítulo “Por que precisamos
do debate sobre gênero nas escolas?” do livro “Diversidade, acessibilidade e
direitos: diálogos com a comunicação”, organizado por Larissa Pelúcio e Clodoaldo
Cardoso.
44
instituição que, segundo eles, foi culpada do comportamento
da filha.
45
SAIBA MAIS:
46
empatia, as construções históricas das diferenças e das
desigualdades?
47
Para aprofundar este assunto, leiam o artigo “Sexualidade:
isso é mesmo matéria escolar?”, de Fernando Seffner (2014).
48
preferência, sem envolvimento emocional e com o maior
número de parceiras possíveis.
Ambos os aprendizados são marcados pela
heteronormatividade: a expectativa de que, “naturalmente”, as
experiências serão necessariamente heterossexuais. Desejos
que não sejam desejos heterossexuais são transmitidos como
não legítimos; desejos das mulheres que não sejam
românticos são desconsiderados; desejos dos homens
relacionados ao envolvimento emocional são invisibilizados,
como se tais desejos pudessem ser fonte de julgamentos
negativos, de desqualificações, de discriminações. A
problematização de tais padrões é, assim, muito necessária
para que as primeiras experiências possam ser reconhecidas e
valorizadas em suas múltiplas expressões, não como se
devessem adequarem-se a um único modelo.
49
como em quem assiste, quem presencia. Por isso, é muito
importante o diálogo sobre como as diferenças têm sido
convertidas em hierarquias, sobre a necessidade do
reconhecimento e da valorização das múltiplas identidades,
das múltiplas formas de ser, de agir, de sentir. Silenciar sobre
as práticas de violência como se fossem apenas uma
“brincadeira”, como se deixar de falar sobre elas fosse uma
estratégia para “esperar passar” apenas contribui para
alimentar as situações de discriminação e exclusão que
precisamos transformar.
50
Para aprofundar este assunto, leiam o artigo “Um bocado de
sexo, pouco giz, quase nada de apagador e muitas provas:
cenas escolares envolvendo questões de gênero e
sexualidade”, de Fernando Seffner (2011).
51
tabu, como algo proibido e censurado; se os desejos não são
vistos como fonte de desqualificação, de depreciação, as
experiências e a comunicação sobre elas tornam-se mais
abertas. Torna-se infrutífero abordar sobre temas como saúde
e prevenção sem contextualizar sobre as relações em que
esses temas se inserem.
52
orientação sexual, raça, etnia, classe social, religião ou
deficiência sejam combatidas e transformadas. Para que as
pessoas possam ter liberdade para viver e expressar a
sexualidade, é necessário o enfrentamento de qualquer forma
de discriminação, coerção, exploração e violência.
Para que decisões possam ser tomadas com autonomia, é
necessário que a esfera da intimidade e da privacidade seja
respeitada. Para que as parcerias sexuais sejam construídas
livremente, é preciso que envolvimentos afetivos e sexuais
como beijar, ficar, namorar, transar, casar-se, divorciar-se,
entre outros, sejam vistos como escolhas, sem que haja
qualquer forma de coerção para que aconteçam.
Para que o prazer sexual possa ser buscado e as emoções
relacionadas à sexualidade possam ser expressas, é necessário
que todas as pessoas, inclusive crianças e adolescentes,
recebam informações que esclareçam sobre a relação entre
sexualidade, saúde e direitos e desmistifiquem a força de
associações da sexualidade com a culpa, a vergonha, a
imoralidade, o que também é fundamental para que as
escolhas reprodutivas sejam feitas de forma livre e
responsável.
As escolas e outros espaços educativos são contextos de
fundamental importância para que os direitos a informações
baseadas em pesquisas científicas e o direito à educação
sexual integral possam ser promovidos.
53
Temos que corresponder a um modo padronizado de ser
“feminino” e “masculino”, às custas de muito sofrimento, se
assim não corresponder. O próprio Ministério da Educação no
Brasil (BRASIL, 2009; 2015; PASTANA; SPOSITO, 2016), levanta
as consequências nefastas que esses preconceitos
reproduzidos no ambiente escolar podem causar nas pessoas,
tais como: dificuldades de acesso à escola; evasão escolar;
prejuízos no desempenho; relações agressivas e excludentes,
adoecimento psíquico, aumento de casos de depressão,
ansiedade e também ocorrências de suicídio.
Não é só o padrão de gênero que é um marcador social
poderoso na nossa sociedade. Outros marcadores sociais
como classe, raça/etnia, gênero, orientação sexual, geração e
padrões estéticos também atravessam as relações cotidianas
de forma que muitas vezes as diferenças não são respeitadas e
valorizadas, mas sim, tornam-se fonte de hierarquias,
estigmatizações e exclusões (PASTANA; SPOSITO, 2016).
Por isso, insistimos que a educação sexual que discuta e
promova a reflexão crítica e a promoção da equidade de
gênero, dentre outros direitos humanos, é urgente e
fundamental.
54
conscientização sobre os dispositivos legais, como a Lei
Maria da Penha e outros.
Conhecer, portanto, quais são os meios de comunicação
que os estudantes jovens têm acesso e se utilizam com
frequência: televisão, revistas, jornais, sites, filmes, músicas
e seriados que costumam assistir. Saber sobre o que os
jovens gostam, escutam e assistem é uma oportunidade de
identificar sobre suas representações sobre sexualidade e
gênero que podem ser discutidas e refletidas em conjunto.
55
Comentários: Este documentário também faz parte do
Representation Project e traz no título o trocadilho entre
“Miss”, em referência aos concursos de beleza, e “mis”, como
em “misrepresentation”, representação distorcida. Mostra
muitas distorções nas formas de ser mulher, muitas histórias,
conquistas, trajetórias e experiências (singulares e
diversificadas) que são reduzidas em um processo de
coisificação, de anulação e de apagamento.
56
Documentário: A VOVOZINHA E O FEMINISMO
Lançamento: 2012. Direção: Renata Druck
Comentários:
O documentário trata da história sobre como foram formados
grupos feministas de segunda onda nos Estados Unidos, sobre
as reivindicações diversas, as transformações que ocorreram e
os direitos conquistados. As especificidades e os pontos em
comum entre diferentes grupos feministas, a diversidade de
ideias, perspectivas e reivindicações e como conflitos surgiram
e foram manejados são alguns dos temas trazidos, com
elementos importantes para a compreensão da busca
feminista por igualdade. Além disso, trata também sobre as
lutas por direitos sexuais e reprodutivos, pelos direitos de
mulheres negras, pelos direitos de mulheres lésbicas e pelos
57
direitos no enfrentamento à violência doméstica, à violência
sexual e outras formas de violência são contextualizadas
historicamente, com depoimentos de diferentes militantes
sobre a importância da construção de espaços de diálogo,
reflexão crítica, apoio recíproco e busca por transformação
entre as mulheres.
58
nos movimentos pela superação da sociedade capitalista. Nos
depoimentos é abordado também sobre como é pouco
conhecido o Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha,
criado em 25 de julho de 1992 no Primeiro Encontro de
Mulheres Afro-Latino Americanas e Afro-Caribenhas.
Comentários:
É um documentário que entrevista várias pessoas e tem por
objetivo questionar as convenções sociais sobre o que
chamamos de homem e de mulher. As pessoas entrevistadas
contam sobre suas histórias, sobre as múltiplas formas de ser
e sobre diferentes experiências em relação aos gêneros.
59
identidades podem ou não podem ser reconhecidas, podem ou
não podem ser aceitas? Como a concepção de que haveria um
modelo único de feminilidade, um modelo único de
masculinidade e os esforços para a imposição desses modelos
trazem sofrimento, alimentam discriminações e exclusões,
prejudicam as potencialidades e os direitos de cada pessoa de
ser, de viver, de se expressar de forma singular? Como a ideia
de que é ter vagina que torna alguém mulher e a ideia de que é
ter pênis que torna alguém homem negligencia como são
muito mais complexas (e interessantes) as relações entre os
corpos e as identidades, as construções das subjetividades e
das histórias de vida, tanto em pessoas trans quanto em todas
as pessoas? Como o reconhecimento e a valorização das
multiplicidades de expressões de gênero podem contribuir
para a desestabilização e a transformação da ideia de que ser
homem ou ser mulher, ter sido nomeado como menino ou
como menina ao nascer (ou mesmo antes, nos exames de
ultrassom) é o que delimitará possibilidades e
impossibilidades, incentivos e impedimentos, direções e
limites em relação a quem as pessoas são e a quem podem
ser?
60
Como percebe a construção da heteronormatividade?
É possível perceber as situações de discriminação, quando há
um padrão normativo sendo imposto?
Quais sentimentos considera que as pessoas que não
correspondem ao padrão sentem?
Considerações Finais
Referências
ALTMANN, H. Educação sexual e primeira relação sexual: entre
expectativas e prescrições. Rev. Estud. Fem. [online]. 2007,
vol.15, n.2, pp.333-356.
BRASIL. Ministério Da Educação. Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização Diversidade e Inclusão; Diretoria de
Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania;
61
Coordenação Geral de Direitos Humanos. Nota Técnica nº
24/2015/MEC. Disponível em:
<http://www.spm.gov.br/assuntos/conselho/nota-tecnica-no-
24-conceito-genero-no-pne-mec.pdf>. Acesso em: 07 set. 2020.
CASTAÑEDA, M. O machismo invisível. Tradução de Lara
Christina de Malimpensa. São Paulo: A Girafa, 2006. 367 p.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências técnicas
para a atuação de psicólogos(as) em Programas de Atenção à
Mulher em Situação de Violência. CREPOP, Brasília, 2013.
Disponível em: <http://crepop.pol.org.br/5804_referencias-
tecnicas-para-atuacao-de-psicologas-os-em-programas-de-
atencao-a-mulheres-em-situacao-de-violencia-2013>. Acesso
em: 07 set. 2020.
FACCO, L. Era uma vez um casal diferente: a temática
homossexual na educação literária infanto-juvenil. Summus,
São Paulo, 2009.
FERRARI, A. “Eles me chamam de feia, macaca, chata e gorda.
Eu fico muito triste” – Classe, raça e gênero em narrativas de
violência na escola. Instrumento: Revista Estudos e Pesquisas
em Educação. Juiz de Fora, v. 12, n. 1, p. 21-30, 2010.
FURLANI, J. Educação sexual na sala de aula: relações de
gênero, orientação sexual e igualdade étnico-racial numa
proposta de respeito às diferenças. Belo Horizonte: Editora
Autêntica, 2011.
JUNQUEIRA, R. D. Homofobia nas escolas: um problema de
todos. In: JUNQUEIRA, R. D. (Org.). Diversidade sexual e
educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas.
Brasília: Ministério da Educação, UNESCO, 2009. v. 32, p. 13-51
(Coleção Educação para todos).
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma
perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.
MEYER, D. E. Teorias e políticas de gênero: fragmentos
históricos e desafios atuais. Revista Brasileira de
Enfermagem, Brasília, v. 57, n. 1, p. 13-18, 2004.
MEYER, D.E.; KLEIN, C.; ANDRADE, S. S. Sexualidade, prazeres e
vulnerabilidade: implicações educativas. Educação em Revista,
Belo Horizonte, n. 46, p. 219-239, 2007. Disponível em:
http://migre.me/wpe74. Acesso em: 19 de fevereiro de 2017.
MISKOLCI, R. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças.
Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
PASTANA, M. Por que precisamos do debate sobre gênero nas
escolas? Em: PELÚCIO, L.; CARDOSO, C. M.(orgs.). Diversidade,
acessibilidade e direitos: diálogos com a comunicação. São
Paulo: Cultura Acadêmica, 2017, p. 77-92.
PASTANA, M.; SPOSITO, S. E. Sexualidade e questões de gênero.
Em: MESQUITA, A. M.; FANTIN, F. C. B.; ASBHAR, F. F. S. (orgs.).
62
Currículo Comum para o Ensino Fundamental Municipal.
Bauru: Prefeitura Municipal de Bauru, 2016, p. 295- 313.
PELÚCIO, L. Desfazendo Gênero. In: MISKOLCI, R.; LEITE, J.
(org) Diferenças na educação: outros aprendizados. São
Carlos: EdUFSCAR, 2014, p. 98- 148.
RIOS, R. R. Para um direito democrático da sexualidade.
Horizonte Antropológico, Porto Alegre, v.12, n. 26, p. 71-100,
Dec. 2006.
SEFFNER, F. Sexualidade: isso é mesmo matéria escolar? Teoria
e Prática Da Educação, v. 17, n. 2, p. 67-81, 2014.
SEFFNER, F. Um bocado de sexo, pouco giz, quase nada de
apagador e muitas provas: cenas escolares envolvendo
questões de gênero e sexualidade. Revista Estudos
Feministas, v. 19. n. 2, p, 561-572, 2011.
WOLFF, C. C. Como é ser menino e menina na escola: um
estudo de caso sobre as relações de gênero no espaço escolar.
2006. 191 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
63
PARTE II - ASPECTOS
PRÁTICOS:
CARTILHAS EDUCATIVAS
PARA PROGRAMAS DE
EDUCAÇÃO SEXUAL
64
Capítulo 4
65
para a construção contextual da sexualidade. Ele avalia ser
imprescindível considerar esta última enquanto propriedade
de indivíduos integrados em contextos histórico-culturais
específicos e que, por esse motivo, interpretam e
compreendem o âmbito sexual de diversas formas,
produzindo significados, símbolos e sentidos distintos
referentes a ele a depender dos espaços sociais, históricos e
culturais de que fazem parte.
Fica explícito então, após a apresentação desses dois
aspectos, o caráter intersubjetivo da sexualidade, já que,
apesar de ela ser experienciada individualmente pelos sujeitos,
esses passam por um processo de socialização sexual ao longo
da vida, internalizando e reproduzindo os já citados
significados, símbolos e sentidos referentes ao campo sexual
típicos da sociedade, da cultura e do período histórico em que
se encontram. O exercício da sexualidade, ainda que próprio
de cada indivíduo, é, portanto, assim como qualquer outro
constructo inerentemente humano, aprendido social, cultural e
historicamente.
Para justificar tal afirmação, pode-se tomar como
exemplo a diferença com que sociedades capitalistas e não
capitalistas constroem e instituem o padrão de relacionamento
afetivo-sexual que consideram aceitáveis. Nas primeiras a
monogamia se faz pré-requisito, na imensa maioria das vezes,
enquanto projeção do conceito de propriedade privada e da
incitação ao consumo. Tais alicerces do capitalismo, como bem
delineia Kessler (2013), associam amor à ideia de aquisição,
posse e conquista de um indivíduo pelo outro, transformando
a relação em um negócio - “amor-consumo” - e,
consequentemente, aqueles que fazem parte dela em
mercadorias que, por essa exata razão de pertencimento,
devem desejar única e unidirecionalmente apenas um ao outro
- “monodesejo”. Faz-se implementado, desse modo, o
“mercado do amor romântico” e a condenação de quaisquer
outros amores que fujam a essa regra, esses tratados como
paralelos, avessos, infiéis, traidores, sem caráter e sem moral.
Essas prerrogativas que modelam a norma a ser seguida
ao se iniciar uma relação sexual/amorosa não se faziam
presentes, todavia, em muitas sociedades não capitalistas, tal
como na sociedade ateniense, na qual, segundo Ribeiro (2005),
a atração sexual entre marido e esposa era tão incomum que
chegava ao ponto de não se desejar aos noivos que se
amassem ou que fossem fiéis um ao outro.
Outro exemplo que pode ser levado em consideração
para se argumentar a favor do polimorfismo da sexualidade é
a disparidade na estruturação da prostituição nas mais
variadas culturas. Na Cidade do México, majoritariamente
66
católica, tal prática ocorre, de acordo com Bodanese e Martins
(2019), em um beco onde as prostitutas desfilam durante o dia
inteiro enquanto são assistidas pelos homens, os quais, por
sua vez, se mantém encostados nas paredes “apreciando o
show”. A escolha da mulher não se dá abertamente, sendo
permitido aos fregueses apenas a manifestação de contato
visual ou algum outro sinal, como piscar. É a prostituta quem
deve parar e começar a falar com o homem para firmar um
acordo sobre o serviço a ser prestado. Só então ele pode levá-
la para um quarto de hotel nas proximidades.
Já em Faridpur, Bangladesh, cidade cuja religião é
predominantemente islâmica, a prostituição acontece em um
bordel sujo e decadente, conforme evidenciam Bodanese e
Martins (2019). O local é popularmente conhecido como “City
of Joy” (Cidade da Alegria) e abriga mais de 600 mulheres, as
quais são agenciadas pelas chamadas “mães ou madames”,
prostitutas mais velhas que ganham o poder de coordenar as
mais novas pela hierarquia imbuída aos anos de serviço. A
circulação de homens pelo bordel é quase que inteiramente
restrita aos fregueses, com exceção dos filhos e amantes das
agenciadoras. A nudez da mulher é proibida, o que faz com
que ela seja autorizada a levantar o sari no momento da
relação sexual apenas. Assim como a nudez, o sexo oral
também é vetado, uma vez que a boca recita as rezas do
Alcorão.
Um último exemplo para atestar a variabilidade da
sexualidade é a análise da assimetria com que os momentos
históricos encararam a procriação, os papéis de gênero e o
conceito de família. Weeks (2000) discorre sobre o assunto
com maestria, evidenciando como os anos antecedentes à I
Guerra Mundial incitaram a procriação dos “melhores
indivíduos” na tentativa de reordenar as prioridades nacionais
frente à competição internacional, alimentando um racismo
nos anos entre-guerras pelo medo da degradação da
população a partir do domínio de “raças inferiores”. Essa
incitação à reprodução é claramente substituída, nos anos 40,
pelas vantagens do controle da natalidade na construção de
um “planejamento familiar” que asseguraria o mesmo
objetivo, qual seja, a constituição das famílias pelos “tipos
certos de indivíduo”, os quais, sendo brancos, heterossexuais e
cis-gêneros, desempenhariam apropriadamente os papéis de
homens e mulheres no tão famoso admirável mundo novo da
democracia social, formando famílias biparentais regidas pelo
patriarcado.
Os anos 50, por sua vez, ainda segundo Weeks (2000),
mantém tal objetivo, pregando, no entanto, não mais o
controle da natalidade, mas a caça aos “degenerados sexuais” -
67
homossexuais em sua maioria - que, além de quebrarem com
os paradigmas de família e gênero instituídos, eram vistos
como “traidores” em potencial. A mudança desse objetivo se
inicia somente a partir dos anos 60, com a “permissividade”
característica do novo liberalismo, o relaxamento dos velhos
códigos sociais autoritários e a descoberta de novos modos de
regulação social, os quais possibilitaram, nos anos 70 e 80, o
começo de uma reação contra os excessos das últimas
décadas, bem como a instauração da sexualidade enquanto
verdadeira questão política de primeira linha, fato
concretizado pela força do feminismo e da militância
homossexual.
Tendo em vista a declaração da multiplicidade das
formas de se vivenciar a sexualidade a partir da exposição dos
três exemplos citados, que explanam didaticamente essa
variação, examinando distintas categorias separadamente nas
três instâncias próprias da constituição da esfera sexual -
sociedade, cultura e história – há que se reforçar, em última
análise, a necessidade de compreensão da temática em
questão em meio à sua construção social, culturalmente
localizada e historicamente datada, como afirma Toniette
(2004), pois, somente assim, as inúmeras sexualidades
existentes serão levadas em consideração e será reduzido, por
consequência, o risco de se rotular certas condutas de naturais
e outras de desviantes tendo por base uma única, legitimada
como universal e aplicável a todos.
68
Referências
BODANESE, G. R.; MARTINS, M. E. Sexualidade,
Comportamento Sexual e Cultura: reflexões e articulações
teóricas. Psicologia.pt, 2019. Disponível em:
<https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1328.pdf>.
Acesso em: 13 jul. 2019.
KESSLER, C. S. Novas formas de relacionamento: fim do amor
romântico ou um novo amor-consumo? Sociedade e
cultura, Goiânia, v.16, n.2, p. 363-374, jul./dez. 2013.
RIBEIRO, P. R. M. Sexualidade também tem história:
comportamentos e atitudes sexuais através dos tempos. In:
MAIA, A.C.B.; MAIA, A.F. (Org.). Sexualidade e infância. Bauru:
FC/CECEMCA, 2005. p. 17-34.
RICHARD, P. Cultura, economia política e construção social da
sexualidade. In: LOURO, G. L. (Org.). O corpo educado. 2. ed.
Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 89-109.
TONIETTE, M. Sexualidade...ou sexualidades? Boletim
Informativo CEPCoS – Centro de Estudos e Pesquisas em
Comportamento e Sexualidade, São Paulo, n.3, p.1, 2004.
WEEKS, J. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, G. L. (Org.). O
corpo educado. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 24-
61.
PROPOSTAS PRÁTICAS
69
dos três períodos destacados na resenha, ele deve evidenciar,
usando o mesmo material, tais períodos e solicitar que os
grupos associem as imagens aos respectivos tempos históricos
mostrados, ressaltando a necessidade do registro dessa
associação para o compartilhamento dela com ele próprio e os
demais grupos posteriormente (expor as figuras e as épocas
novamente se preciso).
Assim que cada grupo compartilhar a associação que fez, o
educador deve registrá-la em um local onde todos possam ver
e identificá-la com o grupo que a produziu para que, ao final
da rodada de compartilhamentos, todas as associações
possam ser corrigidas juntas e facilmente, a partir da
comparação entre elas e o gabarito, fornecido também em
slide, e o grupo com o maior número de acertos possa ser
reconhecido e recompensado com bombons (em caso de
empate, a recompensa deve ser dada a todos os grupos
vencedores).
Encerramento/avaliação: Em seguida ao término da
competição que avalia, tomando como base a história do
Brasil, o conhecimento dos participantes acerca da mudança
na performance da sexualidade nos diversos momentos
históricos, o educador deve finalizar a situação assegurando
tal mudança tanto por meio da retomada do cerne da própria
dinâmica - explicitar como ele, por si só, já pressupõe a
existência de variadas formas de se viver as questões
referentes ao campo sexual ao longo das épocas - quanto por
meio da caracterização, utilizando ainda a apresentação em
slides, de certas posturas típicas da sexualidade dos
brasileiros nos três diferentes períodos da história do país
evidenciados na resenha (disponibilizá-la para aqueles que
manifestarem interesse em ler).
Referência
SOUZA, F. das C. S. Histórias Íntimas: sexualidade e erotismo
na história do Brasil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n.
146, p. 672-678, maio./ago. 2012.
70
(minutos 1:12 à 02:18; 12:02 à 13:09; 15:30 à 15:59; 19:31 à
21:27; 24:11 à 26:20; 28:10 à 30:08 e 39:00 à 45:00 – todos do
terceiro episódio da primeira temporada) e Nada Ortodoxa
(minutos 00:00 à 06:00 do primeiro episódio; 10:30 à 13:30 do
terceiro episódio; 03:00 à 03:50 e 20:00 à 22:10 do quarto
episódio - todos da primeira temporada).
Em seguida à apresentação das passagens de cada uma das
séries, ele deve solicitar que os integrantes dos grupos
troquem informações e registrem-nas, se quiserem, sobre suas
percepções acerca das cenas em questão. Após esse momento,
deve pedir que socializem tais percepções com a intenção de
encontrar, na fala de pelo menos algum participante, o
esperado, ou seja, a apreensão do papel imperante da cultura
na deliberação da decisão de uma mulher sobre levar ou não
sua gestação adiante – aspecto próprio da sexualidade
feminina especificamente.
Caso um ou mais integrantes revelem a percepção esperada, o
educador deve reforçá-la e, caso ela não apareça na fala de
nenhum deles, deve explicitá-la à turma. Tanto para a primeira
quanto para a segunda situação, é necessário que ele,
retomando as passagens se preciso, conduza a atenção dos
alunos para o fato de que ambas as personagens analisadas
têm consciência de que estão sem perspectivas de futuro
favoráveis à chegada de um filho.
Feito isso, deve salientar que, mesmo as duas estando a par da
condição vulnerável em que se encontram, Maeve, criada em
uma cultura que autoriza que a mulher tenha poder de escolha
sobre a maternidade, consentindo seu acesso a métodos
contraceptivos e de interrupção da gravidez, por exemplo, se
permite pensar em possibilidades frente à descoberta de sua
gestação, optando pela realização do aborto por fim. Já Esther,
criada em uma cultura que dogmatiza abertamente o papel
social da mulher através da religião, a qual instaura a
maternidade como sua “missão de vida”, nem chega a cogitar a
existência de uma opção para a situação que não seja manter a
gravidez, ainda que tendo rompido com a comunidade de que
fazia parte e, portanto, não ser mais obrigada a viver sob tais
ideais.
Encerramento/avaliação: Haja vista o fato de que o tema
usado para a sensibilização dos participantes é tabu em nossa
sociedade e considerando, por esse motivo, as possíveis
percepções pessoais que podem ser compartilhadas por eles
no momento da realização da dinâmica, é imprescindível que o
educador finalize-a retomando seu objetivo com o intuito de
esclarecer que sua intenção não é trabalhar a questão do
aborto em si, mas utilizá-la como exemplo que atesta a
71
variabilidade das formas de se experienciar a sexualidade a
depender da cultura dentro da qual o sujeito foi inserido.
Assim, ele precisa deixar claro à turma a ideia de que a
atividade não tem o propósito de problematizar o aborto, ou
convencer os integrantes a serem favoráveis ou contrários a
essa opção, e muito menos de transparecer a concepção de
que o fator decisivo para a realização ou não de tal prática é a
religiosidade. Para isso, tem de apontar que a religião é um
dos aspetos que compõem a cultura e que, portanto, tem
algum grau de influência na situação, mas não é determinante
por não ser o único ou o que mais impera necessariamente.
Referências
NADA ORTODOXA. 1ª temporada, 1º episódio (00:00 - 6:00); 3º
episódio (10:30 - 13:30); 4º episódio (3:00 - 3:50; 20:00 - 22:10).
Dirigido por Maria Schrader. Produzido por Netflix Inc.
Estados Unidos, 26 de março, 2020.
SEX EDUCATION. 1ª temporada, 3º episódio (01:12 - 02:18;
12:02 - 13:09; 15:30 - 15:59; 19:31 - 21:27; 24:11 - 26:20; 28:10
- 30:08 e 39:00 - 45:00). Dirigido por Ben Taylor. Produzido por
Netflix Inc. Reino Unido, 11 de janeiro, 2019.
72
sociedade serve ao propósito de manutenção de um dos
pilares do capitalismo, qual seja, a propriedade privada.
Para isso, é necessário que ele retome em sua fala, após a
exibição do material, os pontos em que se discute,
fundamentalmente pela socióloga e doutora em sociologia e
educação Marília Moschkovich, como o modelo de família que
serve de ideal para nós - biparental, heterossexual e
monogâmico - além de não se verificar em muitas outras
sociedades, encontra configurações diferentes dentro dela
própria e como a constituição desse modelo em específico
enquanto norma é indispensável à garantia da permanência da
herança sob domínio de sujeitos da mesma linhagem, em
outras palavras, à concentração do capital.
Encerramento/avaliação: Tendo em vista o cenário analisado, o
educador deve finalizar a dinâmica ressaltando o fato de que o
padrão de família institucionalizado enquanto normal/correto
para nós é cerceador da sexualidade humana, sendo repressor
e vigilante da sexualidade feminina majoritariamente,
considerando que é a mulher que “dá a luz a herdeiros e a
bastardos”, e que, apesar de se justificar pelo modo de
produção próprio de nossa sociedade, não pode ser
caracterizado como único e universal nem dentro dela própria,
já que a realidade aponta a existência de outros modelos.
É fundamental que o educador explicite que, ao definir o
padrão em questão como ideal e aplicável a todos,
necessariamente está se discriminando e deslegitimando
outros, e tal prática é, em última instância, violenta, uma vez
que pode permitir que pessoas tenham direitos e/ou
benefícios negados quando o exercício desses, bem como seu
acesso dependem de uma análise de sua configuração familiar,
como é o caso do ganho do Bolsa Família, por exemplo.
Referência
HQ DA VIDA: HQ da vida #103 - Por que um programa LGBT
vai falar de família, propriedade privada e estado?
Entrevistadores: Dann Carreiro/Dimitra Vulcana e Beatriz
Santos. Entrevistada: Marília Moschkovich. [S. l.]. 11 jun. 2019.
Podcast. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ppZkcbH1rJY. Acesso em:
5 set. 2019.
73
APÊNDICES
dinâmica.
Fonte: a autora.
74
Resumo do Texto
75
Não eram nada exemplares os comportamentos de
muitos elementos da nobreza e da família
real, principalmente pelas ações dos homens, que
tinham as suas esposas em casa e, fora dessa,
possuíam as suas amásias;
Vivia-se entre a beataria e a libertinagem e, não raro,
confessionários e sacristias de igrejas eram lugares
para encontros e a prática do sexo, um ato rápido e
parcialmente coberto pelas vestimentas;
Medicina: "fascinada por sexo"
Única esfera da sociedade com aval para falar sobre o
assunto, considerado tabu, por lutar contra os
chamados “desvios sexuais”: homossexualidade,
histerismo, ninfomania, dentre outros;
Higienismo e darwinismo: médicos preocupavam-se em
cuidar da "limpeza" nas relações entre os casais para
que estes procriassem filhos saudáveis e bonitos;
Confeccionava manuais que orientavam sobre
a periodicidade das cópulas e o seu tempo de duração,
pois acreditava-se que o sexo exigia um esforço imenso
e o sêmen extraia o que havia de mais puro no sangue
masculino: o ideal era que fossem rápidas e
cumprissem a função de procriar;
Mulher: tinha a honestidade medida por sua timidez e o
prazer controlado por seu esposo;
Homem: acumulava a tripla função de combinar a reserva
espermática, a fecundação vigorosa e evitar a volúpia da
esposa;
Hipocrisia escancarada: repressão do sexo, vigilância da
nudez e da intimidade no matrimônio concomitantes à
obsessão por quaisquer questões que girassem em torno do
tema sexual
Os olhares pelas fendas das portas, janelas e paredes
não só prosseguiram, como também se somaram à
liberação dos bordéis;
O casamento era sagrado, mas traía-se a olhos vistos;
As prostitutas, mesmo discriminadas, salvavam a
família burguesa, pois, com elas, os jovens poderiam se
iniciar sexualmente e liberar as pulsões na idade
adulta, coisas que não poderiam fazer no leito
conjugal;
Mesmo com a rígida moral que procurava se instalar,
os homens liberavam a sua imaginação por meio de
uma nascente literatura pornográfica, escondidas a
sete chaves das mulheres.
Século XX – República
76
“Primeiras rachaduras no muro da repressão”: ideais da
modernidade imprimiram uma nova percepção do corpo,
este agora não mais escondido pelo excesso de roupas e
véus
Vida urbana: exigia um corpo veloz, ágil, leve e que se
locomovesse com desembaraço;
Medicina: aconselhava a prática de exercícios físicos e
esportes, considerados agora hábitos saudáveis;
Culto ao corpo: novos códigos estéticos e estereótipos
se disseminavam com a fotografia e o cinema
americano, o qual apresentava modelos de "mulheres e
homens perfeitos" a partir das deusas e dos heróis que
se viam nas telas;
Mulher: passou a seguir um novo modelo de beleza,
segundo o qual a gordura era vista como algo feio e doentio;
Homem: teve seus comportamentos alterados, pois “a
palavra tomava o lugar do gesto, a competência se
sobrepunha à dominação e a mediação substituía o
confronto”
Espaços por eles frequentados se ampliavam: estádios,
escritórios, bares e sindicatos faziam as novas
sociabilidades;
Crescia a "devassidão"
Mulher moderna: quebrava tabus ao despir as pernas e
outras partes do corpo;
Teatro de revista: atrizes eram tidas como meretrizes;
Revista O Rio Nu: reunia a pornografia das primeiras
décadas, além de divulgar remédios contra a
impotência masculina e doenças sexualmente
transmissíveis;
“Catecismos”: livros de bolso em cujos quadrinhos era
contido todo o universo erótico masculino;
Retrocesso: liberação rimava com repressão e vigilância;
Medicina: ainda continha os excessos por meio de
livros que valorizavam a virgindade e orientavam
quanto aos cuidados que os homens deveriam ter na
noite de núpcias;
Pudor e recato: continuavam a distinguir as mulheres
honestas das levianas;
Primeiros manuais de educação sexual (1930): para os
rapazes, traziam variadas imagens e informações sobre
os ditos desvios sexuais e as doenças que eles
poderiam causar, e para as moças, apresentavam
propositalmente uma linguagem de difícil compreensão
e divulgavam os valores de antigamente - vergonha
diante das coisas de natureza sexual e função
procriadora do casamento;
77
Revistas femininas: reforçavam o papel da mulher
dentro do casamento ao ensinar receitas culinárias e
dicas de como “sustentar” o marido, este, pelo próprio
gênero, potencialmente infiel;
Últimas décadas: liberação quase total;
Nu feminino: invadiu as telas do cinema brasileiro por
meio das pornochanchadas;
Moda minimalista: tomou conta das ruas e praias por
meio das minissaias, dos biquínis, dos calções e do
topless;
Pílula anticoncepcional: liberou da mulher o fantasma
da gravidez não planejada;
Número de divórcios se ampliou;
Relações homoafetivas ganharam espaços;
Televisão: construiu um novo modelo de mulher -
liberada, livre das amarras do casamento e que
trabalha fora;
Revistas femininas: passaram a falar abertamente em
sexo, orgasmo e fetiches;
Literatura pornográfica: delimitou seu espaço nas
bancas de revistas;
Novo recuo
Crimes passionais: reação masculina não tardou a
chegar e, logo, ganhou manchetes na imprensa -
maridos matam esposas ao constatarem ou mesmo
desconfiarem que estivessem sendo traídos;
Aids: vista inicialmente como “câncer gay”, conteve a
"revolução sexual", instalando pânico e levando as
pessoas a reavaliarem seus hábitos sexuais, estilos de
vida, princípios morais e padrões de cultura.
78
Capítulo 5
FAMÍLIAS DIVERSAS
79
do feminino, a conquista da mulher de um espaço no mercado
de trabalho, a possibilidade do divórcio. A definição do que
significa ser família pluralizou-se, há modelos familiares com
mães e pais solteiros, uniões homoafetivas, adoção, produções
independentes.
No Brasil, na década de oitenta, a Constituição Federal
(1988) promulga no artigo 226 um rol exemplificativo,
ampliando a noção de família, incluindo as informais,
derivadas da união estável, famílias monoparentais e famílias
matrimonializadas. Entretanto, existem outros tipos de
constituição familiar, como as famílias homoafetivas, as
anaparentais (constituídas sem as figuras dos pais), as famílias
mosaico (formada por um dos genitores e seus filhos com o
novo companheiro), e as famílias socioafetivas (quando as
relações são reconhecidas pelo afeto e não por laços
sanguíneos).
Para Almeida (1987) a família representa um espaço de
construção da subjetividade do indivíduo, constituindo-se de
intimidade, afetividade e sexualidade. Contudo, o autor pontua
o padrão posto como “família ideal”, composto por um
homem, uma mulher e seus descendentes, com seus papéis
sexuais definidos. Esse modelo representaria a manutenção de
uma ordem e a construção do conservadorismo e da opressão.
Diante da noção acerca das transformações históricas da
família, torna-se de suma importância a consideração de tal
conceito como produto cultural. A partir disso, as relações,
estruturações e dinâmicas familiares devem ser enxergadas de
forma contextual, de modo a considerar o momento histórico
e as condições sociais influenciadoras. Sendo assim, o modelo
normativo defendido pelo movimento conservador deve ceder
lugar à noção de família em sua diversidade. Há múltiplas
possibilidades de vida parental, necessita-se, dessa forma,
encontrar referenciais que possibilitem definir a concepção de
família, para Passos (2007) os laços de afeto permitem
delimitar esses parâmetros.
Isto posto, nota-se necessária a compreensão das
múltiplas possibilidades de formações familiares por parte das
crianças, a fim de que, instruídas acerca da realidade material
em que vivem, desenvolvam pensamento crítico e
fundamentado. Ademais, tendo em vista que grande parte das
famílias das crianças alcançadas pela atividade proposta
estruturam-se e relacionam-se de forma divergente à
estipulada por um modelo padronizado como “normal”, a
noção de pluralidade familiar e diversidade de possibilidades
promove movimento contrário à marginalização social, o que
influencia a relação da criança com a sociedade, da qual passa
a se enxergar como parte, não mais como desviante.
80
Referências
ALMEIDA, A. M. de. et al. Pensando a família no Brasil; da
colônia à modernização. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo:
UFRRJ, 1987
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1981.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, Art.
226º. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
FELIPPI, G.; ITAQUI, L. G. Transformações dos laços vinculares
na família: uma perspectiva psicanalítica. Pensando fam.,
Porto Alegre , v. 19, n. 1, p. 105-113, jun. 2015. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S1679-494X2015000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 30
jul. 2020.
PASSOS, M. C. A constituição dos laços na família em tempos
de individualismo. Mental, Barbacena, v. 5, n. 9, p. 117-130,
nov. 2007. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S1679-44272007000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 30
jul. 2020.
ROUDINESCO, E. A família em desordem. Rio de Janeiro:
Zahar, 2003.
SILVA, A. G.; SIQUEIRA, R. B. Reflexões sobre o
conservadorismo e a família no cenário atual brasileiro. Anais
do 7º Congresso Paranaense de Assistência Social, Ponta
Grossa- PR, p. 4-11, 10 jul. 2019. Disponível em:
<cresspr.org.br/anais/sites/default/files/REFLEXÕES%20SOBR
E%20O%20CONSERVADORISMO%20E%20A%20FAMÍLIA%20NO%
20CENÁRIO%20ATUAL%20BRASILEIRO.pdf>. Acesso em: 30
jul. 2020.
PROPOSTAS PRÁTICAS
81
Tempo estimado: Considerando o número de participantes e
possíveis adaptações necessárias, o tempo utilizado pela
dinâmica será de 1 hora e 30 minutos.
Descrição/procedimentos:
Apresentar brevemente os livros “É tudo família”, de
Alexandra Maxeiner, Anke Kuhl e Hedi Gnadinger, “O livro
da família”, de Todd Parr e “Uma família é uma família é
uma família”, de Gilda De Aquino e Sara O‟leary. Mostrar as
páginas, para as crianças e falar que os livros são sobre
famílias e suas possibilidades (10 min);
Dividir a sala em 3 grupos, pedindo que se sentem cada
grupo em uma roda para facilitar a comunicação (5 min);
Designar um livro para cada grupo por sorteio (pedir para
que uma criança do grupo pegue um papel do pote. No
papel estará o nome do livro) (5 min);
Pedir para que cada grupo leia o livro a que foi designado;
propor que a leitura seja feita em roda, cada pessoa do
grupo lendo uma página e mostrando-a aos colegas; (30
min)
Dizer que, após a leitura, cada grupo deve expor aos
demais alunos da sala o que compreenderam do livro e
fazer um pequeno teatro com alguma cena do livro ou
inspirada nele, para os demais grupos. (30 min)
Encerramento/avaliação: A avaliação sobre a compreensão
das temáticas do livro será a apresentação de suas ideias
principais e a realização do teatro de inspiração no livro.
A atividade será encerrada, após os três grupos apresentarem,
com uma fala da professora que una pontos principais das
falas de cada grupo, de modo a concluir a diversidade familiar
(10 min).
82
Escrever em um lado da lousa palavras-chave das falas das
crianças enquanto elas falam;
Exibir vídeo a ser produzido pelas estagiárias com recortes
de cenas de diferentes séries e filmes que apresentem
estruturas familiares diversas. O vídeo será intitulado
“Famílias” (10 min);
A partir da exibição do vídeo, conversar com as crianças
expondo a pluralidade de estruturas familiares; deve ser
dito que existem famílias diferentes, com estruturas
diversas e que, como visto no vídeo, não é um padrão que
faz um conjunto de pessoas ser família (10 min);
Questionar, então, às crianças: O que faz uma família ser
uma família?;
Escrever no outro lado da lousa palavras-chave das falas
das crianças enquanto elas falam (15 min).
Encerramento/avaliação: Concluir a dinâmica com um bate-
papo com as crianças sobre como muitas pessoas acham que é
o padrão “mãe, pai, filhos” que determina que uma família seja
assim denominada, mas que isso exclui a maior parte das
famílias. Como pôde ser visto no vídeo, existem famílias muito
diferentes umas das outras: com duas mães, dois pais, mãe e
pai, mãe solo, pai solo, avó que cria netos, casal que decide
não ter filhos, etc. Pedir então que as crianças pensem nas
famílias que conhecem: realmente são todas iguais? Concluir,
novamente, que não é, portanto, a lógica padronizadora que
define o que é uma família, mas XXX (aqui, retomar as
palavras ditas pelas crianças durante o segundo
questionamento). Se as respostas da primeira e da segunda
coluna se diferenciarem (ex.: na primeira, muitas crianças
responderam “mãe, pai, filhos” e na segunda responderam
“laços, ajuda”), ressaltar essa diferença, mostrando como um
simples/rápido olhar para a sociedade já permite enxergar a
pluralidade.
83
não se encaixarem nos padrões, muitas vezes não são
aceitas pela sociedade (5 min);
Apresentar o caso do vídeo exposto: uma família composta
por dois pais e uma filha que comemoram juntos a vitória
da menina no campeonato de natação (10 min);
Retomar as dinâmicas anteriores, relembrando as falas das
próprias crianças e grupos de crianças em cada uma das
dinâmicas. Ex.: “vocês disseram que famílias são diferentes
e o que as torna família não é um padrão, mas tal e tal
coisa…” (10 min);
Perguntar, então, para as crianças se, a partir de suas
reflexões anteriores, elas acham que a família do comercial
da Vivo é uma família (15 min);
A depender de suas respostas, concordar ou apresentar
pontos que as façam refletir, levando-as à conclusão de
que é uma família sim, independentemente de suas
diferenças da família tradicionalmente considerada como
tal (10 min);
Perguntar se as crianças sabem sobre outros casos assim -
de famílias que não são aceitas como tal - ou que se
diferenciam dos padrões - mãe e pai criando os filhos
juntos. Dizer que elas podem falar sobre casos famosos ou
que façam parte de suas vidas, como conhecidos do bairro,
etc. (15 min).
Encerramento/avaliação: Encerrar a atividade ressaltando a
pluralidade familiar - existem muitas famílias pelo mundo,
cada uma com seu jeito e configuração, o que não as torna
menos famílias. (10 min)
84
família, um animal que seja importante para a família, uma
casa, qualquer coisa que as lembre) (25 min);
Pedir para que uma criança mostre seu desenho e fale algo
sobre ele (ex.: contando um costume de sua família, algo
de sua história, algo sobre aquela pessoa/objeto
desenhado, etc.). Pedir, então, para que as demais crianças
que se sentirem à vontade, também compartilhem sobre as
similaridades encontradas com as suas famílias,
comentem. Colocar seus nomes na lousa em uma ordem e
pedir para que falem uma após a outra (30 min).
Encerramento/avaliação: Concluir a atividade com os
questionamentos:
O que diferencia nossas famílias?
Respondendo: muitas coisas, ex.: a mãe da Maria gosta de
pudim, a minha não; etc.
O que faz a minha família ser uma família?
Respondendo que cada família e pessoa tem a própria
resposta para isso. Não são padrões ou diferenciações que
fazem uma família, mas suas unicidades e laços (20 min).
85
Capítulo 6
SEXUALIDADE E GÊNERO
86
anatômicas e genéticas do indivíduo, mas também rodeadas
por construções discursivas e socialmente delineadas do que é
compreendido enquanto feminino ou masculino em uma
sociedade. Interseccionando as compreensões sobre gênero e
sexo, em outras palavras: são construções sociais sobre o que
é compreendido enquanto uma performatividade, ou seja, o
que é esperado socialmente de um indivíduo com vagina ou
com pênis (SALIH, 2015).
Esta análise demonstra que a construção sobre o que é
sexo e gênero é social e discursiva. Logo, percebendo essa
justaposição entre sexo e gênero, postula-se então que o
gênero nunca deixou de ser sexo e o sexo nunca deixou de ser
gênero, no sentido de que os dois termos delimitam e
orientam uma forma de ser feminina e uma forma de ser
masculina a partir dos discursos que dissertam (SALIH, 2015).
É na cultura de uma sociedade que se formula o que significa
ser homem ou mulher (REIS, 2018), assim, "não há uma relação
necessária entre o corpo de alguém e seu gênero” (SALIH,
2015, p.67).
É na socialização dos sujeitos, então, que ocorre o
aprendizado do que é compreendido como feminino e
masculino, instituindo os chamados papéis de gênero. Os
papéis de gênero são delimitações de comportamentos que a
cultura busca naturalizar baseados em determinados padrões
e associando-os a um gênero específico (WHITAKER, 1995).
Dessa forma, tem-se enraizado na cultura que determinados
padrões e papéis devem ser desempenhados apenas por um
tipo de gênero específico, como por exemplo, o papel de
cuidador(a) principal dos filhos ser sempre associado à mulher
(ou à mãe) por conta de seu “instinto materno”, tido como
natural, quando na verdade a compreensão é uma construção
social sobre comportamentos de cuidado e conceito de ser
mulher e mãe.
Segundo Grossi (1998, apud SAYÃO, 2006), “os papéis
de gênero são as formas de manifestações ou representação
social de ser macho ou fêmea”. A partir disso, espera-se que a
criança se comporte seguindo determinado papel que reafirme
o gênero que lhe foi designado. Isso contribui para a repressão
no desenvolvimento das crianças, uma vez que essas não
podem ter determinadas atitudes ou realizar certas
brincadeiras, pois seriam julgadas pelas amarras sociais. Como
exemplo, as ideias pré-concebidas socialmente de: que
meninos não podem brincar com bonecas, ou meninas brincar
com carrinhos; que é esperado que as meninas tenham uma
conduta mais comedida, menos agitada; que os meninos não
podem demonstrar carinho pelos seus amigos, ou chorar,
87
entre outras ideias enraizadas pela sociedade que refletem no
comportamento das crianças.
Atualmente a desconstrução desses papéis de gênero
vem acontecendo em nossa sociedade, com o questionamento
aos moldes rígidos que foram culturalmente estabelecidos,
buscando uma criticidade em relação aos padrões e
estereótipos e uma compreensão das questões que abarcam
essa temática. Ao mesmo tempo, existe ainda um movimento
conservador contrário, reafirmando esses papéis rígidos de
gênero como “meninas devem usar rosa e meninos devem usar
azul”, por essas cores terem sido arbitrariamente escolhidas
para a representação desses gêneros. Ou também “menina
brinca de boneca e menino de carrinho”, entre outros
exemplos.
Socializados de acordo com compreensões binárias do
que é dito como feminino e do que é dito como masculino -
sejam órgãos genitais, papéis de gênero ou vestimentas -, os
sujeitos se expressam de diferentes formas na sociedade,
sejam elas concordantes a tais padrões de gênero ou
transgressores da norma. A expressão de gênero é como a
pessoa se expõe ao mundo, a forma como se expressa e se
apresenta. Segundo o Manual de Comunicação LGBTI+ (2018,
p. 25), pode ser definida por
88
Identidade, por outro lado, é um termo que se resume
em como nos identificamos, ou seja, como caracterizamos,
damos nome ao que somos. Para melhor entender, podemos
pensar na definição do dicionário Houaiss (2020) que define
identidade como um: “conjunto de características e
circunstâncias que distinguem uma pessoa ou uma coisa e
graças às quais é possível individualizá-la” (s/p).
Então, a partir da união destes dois últimos termos em
um só, podemos entender a identidade de gênero como as
nomeações e identificações que damos a nós baseadas nas
performances de gênero que fazemos. Mais especificamente, é
a percepção particular e subjetiva de cada indivíduo sobre seu
próprio gênero. Pode ou não corresponder ao gênero/sexo
designado no nascimento e não necessariamente segue uma
lógica binária - ser mulher ou homem (REIS, 2018; COELHO,
2018).
Identidade e gênero confluem na compressão de como
um indivíduo se auto percebe e se auto identifica enquanto
uma pessoa que é mulher, homem, cisgênero, transgênero,
gênero fluido, agênero, não-binário8, dentre outras
possibilidades de identidade de gênero, sendo essas somente
algumas. Podemos compreender basicamente essas
identidades das seguintes formas em suas definições
terminológicas, segundo o Manual de Comunicação LGBTI+
(REIS, 2018):
⮚ Cisgênero (Cis): “Refere-se ao indivíduo que se identifica,
em todos os aspectos, com o gênero atribuído ao
nascer” (p.27)
⮚ Transgênero (Trans): “pessoas que transitam entre os
gêneros. São pessoas cuja identidade de gênero
transcende as definições convencionais de sexualidade”
(p.30, grifo nosso)
⮚ Gênero Fluido: “A pessoa que se identifica tanto com o
sexo masculino ou feminino. Sente-se homem em
determinados dias e mulher em outros” (p.28)
⮚ Agênero: “Pessoa que não se identifica ou não se sente
pertencente a nenhum gênero” (p.26)
8
“Agenero” seria a ausência de gênero, enquanto que “não binário” seria um termo
amplo que engloba identidades de gênero que não se enquadram nem em
masculino nem em feminino.
89
pessoa cuja identidade de gênero não é nem homem nem
mulher, está entre os gêneros ou além, ou é uma combinação
de gêneros. Essa identidade é geralmente uma reação à
construção social do gênero, aos estereótipos de gênero e ao
sistema binário de gênero. Algumas pessoas não binárias se
colocam sob o guarda-chuva dos transgêneros, enquanto outras
não.
90
Disponível em:
http://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_sexualidade.pdf
91
Gênero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer diferenças e
superar preconceitos. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC).
Disponível em:
http://pronacampo.mec.gov.br/images/pdf/bib_cad4_gen_div_prec.
pd
PROPOSTAS PRÁTICAS
92
comentário final, é importante explicitar que os
conhecimentos sobre o ser humano e sua(s) sexualidade(s) são
socialmente construídos e que esta os entende a partir de
compreensões culturais e históricas.
9
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Cf79KXBCIDg.
10
Referência: REIS (2018) e CADERNO (2017)
93
Pessoas que sentem atração sexual por pessoas do mesmo
gênero que o seu.
Pessoas que sentem atração sexual por pessoas de dois
gêneros.
Pessoas que sentem atração sexual por pessoas de todos
os gêneros.
Pessoas que não sentem atração por outras pessoas
independente do gênero.
Pessoas que não se utilizam de padrões heteronormativos
e/ou outras classificações para se definirem.
Indivíduo que se identifica com o sexo/gênero lhe
atribuído ao nascer (abreviação).
Indivíduo cuja identidade de gênero transcende as
definições convencionais de sexualidade (abreviação).
Pessoa que se identifica tanto com o sexo masculino ou
feminino e isso muda ao longo do dia.
Pessoa que não se identifica ou não se sente pertencente a
nenhum gênero.
Pessoas que não se identificam como homens ou mulheres
e não seguem o sistema binário de gênero.
Material: Cartela de Caça-palavras (Apêndice 2)
Encerramento/avaliação: Com todas as palavras encontradas,
repassar tais conteúdos de forma breve, buscando a solução
de dúvidas. Ressaltar o respeito a diversidade de orientações
sexuais e identidades de gênero, reforçando a pluralidade e
diversidade da sexualidade humana.
Referências
CADERNO, Globo 12. Corpo: artigo indefinido. São Paulo:
Globo Comunicação e Participantes S.A., 2017. Disponível em:
<http://estatico.redeglobo.globo.com/2017/06/13/Edicao_co
mpleta.pdf>. Acesso em: 27 de out. de 2020.
CARVALHO, A. C. M. Estudo Comparativo entre o Grupo
Assexual Romântico e o Grupo Assexual Arromântico.
(Dissertação). Mestrado em Psicologia Social e das
Organizações. Instituto Universitário de Lisboa. 2019.
Disponível em: <https://repositorio.iscte-
iul.pt/handle/10071/19305>. Acesso em: 27 de out. de 2020.
COELHO, M. G. Gêneros desviantes: o conceito em Judith
Butler. 2018. 101 f. (Filosofia) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas,
Florianópolis, 2018. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/19
1493/PFIL0320-D.pdf?sequence=-1&isAllowed=y>. Acesso em:
27 de ago. de 2020.
94
GUIMARÃES, A.; BARBOZA, H. H. Designação sexual em
crianças intersexo: uma breve análise dos casos de “genitália
ambígua”. Cad. Saúde Pública, vol 30, p. 2177-2186, out. 2014.
Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
311X2014001002177&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso
em: 25 de ago. de 2020.
HOLLYSIZ. The Light (Clip officiel) (3min52s). 2013. Disponível
em:
<https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=Cf79K
XBCIDg&feature=emb_logo>. Acesso em: 31 de ago. de 2020.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Grande Dicionário Houaiss. 2020.
Disponível em:
<https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v5-
4/html/index.php#0>. Acesso em: 02 set. 2020.
LIMA, V. M.; BELO, F. R. R. Gênero, sexualidade e o sexual: o
sujeito em Butler, Foucault e Laplanche. Psicologia em estudo,
v. 24, e. 41962, 2019. Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
73722019000100205&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em:
25 de ago. de 2020.
SALIH, S. Judith Butler e a Teoria Queer. Tradução Guacira
Lopes Louro. Belo Horizonte: Autêntica, 1ª edição, 2015.
SAYÃO, D. T. A construção de identidades e papéis de gênero
na infância: articulando temas para pensar o trabalho
pedagógico da educação física na educação infantil. Pensar a
Prática, vol 5, p. 1-14, Jul./Jun. 2001-2002. Disponível em:
<https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/43>. Acesso em:
29 de julho de 2020.
REIS, T., org. Manual de Comunicação LGBTI+. 2ª edição.
Curitiba: Aliança Nacional LGBTI / GayLatino, 2018. Disponível
em: <https://www.grupodignidade.org.br/wp-
content/uploads/2018/05/manual-comunicacao-LGBTI.pdf>.
Acesso em: 30 de julho de 2020.
WHITAKER, D. C. A. Menino-menina: sexo ou gênero? Alguns
aspectos cruciais. p. In: SERBINO, R. V.; GRANDE, M. A. R. L. A
escola e seus alunos: estudos sobre a diversidade cultural. São
Paulo: ed. Unesp. p. 31-52. 1994.
95
APÊNDICES
96
97
Apêndice 2. Cartela caça-palavras.
98
Gabarito:
99
Capítulo 7
11
A Dissertação de Mestrado de Tânia Mendonça Marques, “Violência conjugal: um
estudo sobre a permanência da mulher em relacionamentos abusivos” é um
material muito rico de informações e discussões sobre a temática deste capítulo,
que usamos bastante como fonte de consulta.
100
violentos é o/a abusador/a. A discussão sobre
relacionamentos abusivos na adolescência se faz necessária
por conta do severo impacto que esses relacionamentos
causam na saúde física e mental. O estudo de Oliveira, Assis,
Njaine e Oliveira (2011) contou com a participação de 3200
adolescentes de vários estados brasileiros e demonstrou que
86,9% dos participantes relataram ter sido vítimas de violência
pelo parceiro/a e 86,8% como perpetuadores/as da violência
contra o parceiro/a, tendo sido a violência verbal e sexual
como as mais comuns.
As formas típicas de violência em relacionamentos são a
violência física, a psicológica, a sexual, a moral e a patrimonial
e é válido lembrar que, em geral, essas violências ocorrem
concomitantemente (SOARES, 1999).
Esses tipos de violência também podem ocorrer entre
ex-parceiros/as, ou seja, ocorre com pessoas que se
relacionaram de forma íntima e, por isso, o/a agressor/a tem
um amplo acesso a informações sobre a vítima, o que a torna
mais vulnerável (TELES; MELO, 2002). É importante ressaltar
que embora seja bem mais comum o acometimento da
violência contra as mulheres, tanto mulheres quanto homens
podem ser agressores e vítimas dessa violência12. O Quadro 1.
mostra os conceitos que diferencia os tipos de violência
citados.
12
Para Soares (1999) na perspectiva feminina, a violência conjugal tem um recorte
de gênero, pois envolve uma questão histórica de dominação e poder dos homens
sobre as mulheres. Do ponto de vista da violência familiar, ainda segundo essa
autora, o fenômeno é multidirecionado e tanto os homens, quanto as mulheres
podem ser agressores/as e vítimas/as, sendo a violência conjugal algo mais
abrangente.
101
A violência psicológica pode ser caracterizada por
rejeição, depreciação, humilhação, desrespeito e punições
exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas
corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes
indeléveis para toda a vida. Ela é utilizada para minar a
autoestima da vítima e seu senso lógico, trazendo uma ideia
contrária a autoeficiência, para isso é muito comum
xingamentos e a maximização dos erros. Em casos extremos
desse tipo de violência a vítima é submetida a restrições
físicas, como privação de sono e alimentação saudável que a
impedem de ter um funcionamento saudável, isolamento
social parcial ou total, logo o/a parceiro/a abusivo se torna a
única rede de apoio. Outra forma é manter a vítima em estado
de ansiedade constante no sentido de que ela vive sempre em
ameaça e não sabe quando a agressão realmente virá ou
quando ela vai mudar de magnitude, tornando-se mais intensa.
Caracterizam também a violência psicológica situações de
ciúmes excessivo, suspeita de contatos sociais da parceira ou
parceiro, proibição de trabalhar fora, ameaça a pessoas que a
vítima gosta e exigência de confissões de algo que a vítima não
fez (MARQUES, 2005)
Já a violência física é toda ação que tem por intuito ferir,
deixando marcas ou não. Pode envolver o uso de objetos
comuns ou contundentes como armas e facas. Essas agressões
tendem a acontecer inicialmente de maneira branda e
esporádicas, com claros sinais de arrependimento por parte
do/a abusador/a, mas com o tempo vão se tornando mais
severas e podem culminar na ocorrência de ferimentos graves
e até levar a vítima à morte. O abuso de álcool e outras
substâncias é um fator de risco para a incidência desse tipo de
violência e também para a manutenção do relacionamento
abusivo, pois uma vez que o/a parceiro/a está sóbrio/a, os
comportamentos violentos desaparecem. Outros fatores de
risco são os estressores situacionais, como problemas no
trabalho, gravidez e doenças graves. Até o período do ano
pode influenciar na incidência das agressões (MARQUES,
2005).
A violência sexual pode ser entendida amplamente e
aqui, especificamente definida pela lei do estupro,
recentemente revista pelo código de legislação penal,
comentado por Maggio (2013, s/p):
102
violência física (vis corporalis) ou da grave ameaça (vis
compulsiva); (2) dirigido a qualquer pessoa, seja do sexo
feminino ou masculino; (3) para ter conjunção carnal; (4) ou,
ainda, para fazer com que a vítima pratique ou permita que
com ela se pratique qualquer ato libidinoso. O estupro,
consumado ou tentado, em qualquer de suas figuras (simples
ou qualificadas), é crime hediondo (Lei 8.072/90, art. 1º, V).
103
características da personalidade de cada um, tais como o nível
de autoestima, o grau de dependência do(a) parceiro(a) e da
presença ou não de rede social de apoio”(p.30).
A violência no relacionamento geralmente passa por um
processo de intensificação, mas é possível ter relacionamentos
conflituosos mesmo antes de atingir os níveis de violência já
tipificados. Nesses casos é válido a realização de prevenção
contra a instauração da violência.
A revisão bibliográfica realizada por Murta, dos Santos,
Martins e de Oliveira (2013), que trata sobre programas de
intervenção com jovens sobre a violência no namoro,
demonstrando a importância das atividades que vão no
sentido de prevenir a violência. Matos, Machado, Caridade e
Silva (2006) defendem a importância de haver programas
preventivos da violência nas relações amorosas junto aos
adolescentes. Segundo essas autoras as iniciativas são poucas
e quando existem não há estudos que comprovem suas
eficácias.
Murta, dos Santos, Martins e de Oliveira (2013)
consideram que são fatores de risco para a ocorrência da
violência, como viver em uma sociedade sexista, ser vítima de
violência parental ou testemunhar violência doméstica, ter
amigos/as violentos com seus parceiros, ter sido vítima de
abuso sexual, falta de habilidades sociais e pouco
autoconhecimento, que culminaria na falta de autocontrole.
As crianças - futuros adolescentes - crescem em uma
cultura que estabelece papéis rígidos de gênero desde antes do
nascimento, na definição das cores do enxoval, por exemplo.
Primeiramente esses valores são passados por cuidadores e
pela escola e, ao chegar na adolescência, eles já estão
introjetados e se tornam modelos de como ser e agir no
mundo (BAGGIO, et al., 2009; ZANELLO, 2017).
O enrijecimento dos estereótipos de gênero muitas
vezes é utilizado como forma de justificar a violência em
relacionamentos. É importante ressaltar que, por mais que o
maior índice desse tipo de violência ocorra em
relacionamentos heterossexuais, nos quais o homem é
agressor (MARQUES, 2005), também é possível que a mulher
seja agressora ou que tal violência ocorra entre casais
homoafetivos. Quanto ao último caso, acredita-se que os
baixos índices de violência nesses relacionamentos têm
relação com a falta de investigação de dados para esse público
em específico (ANACONA, 2008). Quando a violência é de
mulheres contra homens há evidências de maior dificuldade
de denúncia por conta dos estereótipos de gênero (MURTA;
DOS SANTOS; MARTINS; DE OLIVEIRA, 2013).
104
Diniz e Alves (2015) consideram que a adolescência é
um período em que há muita vulnerabilidade para a ocorrência
de violência sexual no namoro, pois os adolescentes ainda são
imaturos emocionalmente, inexperientes nas relações
amorosas e também nas relações sexuais. Adolescentes
meninas (em relações heterossexuais), que têm poucas
amizades, imagem negativa de si mesma tendem a aceitar
mais as condutas agressivas dos namorados (verbal, física ou
sexual) e acreditam no mito de que ciúmes é demonstração de
amor e que isso justifica a tolerância à violência. É comum não
reconhecerem o abuso nas relações amorosas que vivem, até
porque naturalizam e aceitam comportamentos agressivos de
parceiros homens oriundos de uma sociedade machista ou, se
reconhecem, não procuram ajuda, nem rompem o
relacionamento. Sobre a revisão de estudos nesta área, os
autores comentam que
105
para a Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê
Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da
Mulher (CLADEM) denunciam o caso para a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (CIDH/OEA). De 1998 a 2001 o Brasil
recebeu da CIDH/OEA quatro ofícios, o Estado foi
responsabilizado por negligência, omissão e tolerância em
relação à violência doméstica praticada contra as mulheres
brasileiras. Diante desse estado de inação do Estado brasileiro,
com falta de medidas legais e ações efetivas, em 2002 foi
formado um Consórcio de ONGs Feministas para a elaboração
de uma lei de combate à violência doméstica e familiar contra
a mulher. Após muitos debates, lei fruto desse consorcio
chegou ao Legislativo e foi aprovada por unanimidade em
ambas as casas. (INSTITUTO MARIA DA PENHA, 2018)
A Lei Federal 11.340 – Lei Maria da Penha, de 7 de
agosto de 2006, foi considerada pela ONU uma das três mais
avançadas legislações do mundo no combate à violência contra
a mulher. Isso se deve ao seu texto buscar ir além do papel de
punir os agressores, que é comum as leis, mas abordar a
descrição das práticas de violência, a informação à população,
os mecanismos jurídicos e a integração entre os órgãos
públicos no combate a violência doméstica e familiar. Vamos
analisar os artigos 7, 8 e 9 para compreender a essência da lei
e como ela se relaciona com a temática que estamos
discutindo (ALMEIDA, 2017).
O art 7º define os tipos de violência praticadas pelo
abusador. Como já abordamos, os tipos de violência são:
violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.
Lembrando que o mais comum é que esses tipos de violência
ocorram de forma interligada. Este artigo é muito importante,
pois ao definir os tipos de violência possíveis, a lei os
apresenta para uma sociedade que muitas vezes não os
reconhecia como tal. O art. 8º dispõe sobre as medidas
integrativas de prevenção e no inciso V, destaca-se a
recomendação da “ promoção e a realização de campanhas
educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a
mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral” (s/p).
Cinco anos após aprovada a Lei Maria da Penha, segundo
uma pesquisa de senso do senado brasileiro de 2011, ela já era
conhecida por 98% da população, ou seja, a grande abordagem
midiática da lei a fez ser conhecida por quase toda a
população e, segundo Pasinato e Lemos (2017, p.13), “as
pesquisas atestam uma mudança na conscientização sobre a
violência contra as mulheres como problema social e
contribuem para que deixe de ser tratada como um problema
privado e íntimo”.
106
O art. 9º da lei aborda a assistência à mulher em
situação de violência, sendo esta pautada em ações que visem
interromper o episódio de violência, evitar agravamentos dos
efeitos e impedir que ele se repita. Como estamos abordando a
população adolescente, pode-se considerar, então, o Estatuto
da Criança e do Adolescente e a Lei Maria da Penha. Assim, no
caso de um adolescente infrator que tem uma ação violenta
dentro dos parâmetros definidos pela Lei Maria da Penha, o
juiz deve aplicar com integralidade as duas normas, sem
quebrar o verdadeiro significados das duas legislações,
prevalecendo a repressão da violência doméstica no Brasil e ao
mesmo tempo implementando as políticas públicas protetivas
ao adolescente (SILVA; ALBUQUERQUE, 2016). No caso de uma
adolescente que sofre uma violência, os dois parâmetros se
complementam para oferecer o maior nível de proteção
possível a ela.
A maioria das pessoas passa a maior parte do tempo em
relações repletas de conflitos, que não tem uma causa
específica. Ter relações saudáveis pode influenciar em diversas
áreas como direitos humanos, saúde mental, exercício da
cidadania e qualidade de vida, enquanto déficits de repertórios
de habilidades sociais podem comprometer as interações (DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 2001), e isso geralmente acontece em
relacionamentos abusivos.
Pensar nas habilidades sociais é pertinente para a
prevenção de relacionamentos abusivos na medida em que se
pode articular com a expressão de sentimentos, opiniões e a
resolução de conflitos. Ou seja, é agir de forma a maximizar os
ganhos e minimizar as perdas que uma relação interpessoal
pode causar (BOLSONI-SILVA; CARRARA, 2010). A diferença de
agir ou não de forma habilidosa é explicada como uma
107
Vale ressaltar que se comunicar de maneira assertiva
serve tanto para se expressar de maneira correta, sem ser
agressivo, mas também para não deixar de se expressar por
conta da reação do outro, e acabar assim omitindo os próprios
sentimentos (BOLSONI-SILVA; CARRARA, 2010), o que pode
garantir uma melhora no diálogo entre parceiros e evitar o
estabelecimento da violência no namoro.
As habilidades sociais podem ser uma importante
ferramenta para prevenção de abuso no namoro, mas não
necessariamente as pessoas são habilidosas, o que demonstra
a importância do desenvolvimento de tais habilidades. De
qualquer forma, o que queremos dizer é que propostas de
prevenção são importantes para que os relacionamentos
amorosos possam se estabelecer sem nenhum tipo de
violência e os índices do que chamamos de “relacionamentos
abusivos” não aumentem, ou, a médio e longo prazo, nem
existam mais.
Zanello e Flor (2015) acreditam na importância de
programas de educação sexual como um meio de prevenção
dos relacionamentos amorosos abusivos entre adolescentes.
Segundo esses autores, pautados nos conceitos de Foucault, as
experiências pedagógicas devem aproveitar o “espaço
subjetivador da escola para problematizar os sentidos das
práticas e valores nela reproduzidos ou recriados” (p.194).
Tais experiências implicam na promoção de um “espaço
dialógico entre estudantes, entre si e com as/os docentes,
objetivando a problematização de saberes e práticas na busca
de seus sentidos, na possibilidade do exercício de um
pensamento crítico e autocrítico” (p.194). Resumimos no
Quadro 2 os principais conceitos utilizados pelos autores que
fundamentam uma proposta de intervenção para o trabalho
junto aos adolescentes.
108
verdades como objeto de reflexão e duvida;
Critica e autocritica A crítica é o trabalho do pensamento sobre
si mesmo partindo da obviedade e
invertendo as evidências como propunha
Foucault buscando uma desfamiliarização
das ideias, buscando uma transformação
naquilo que se critica ou mostrar outras
relações com o que pensamos para
evidenciar e comprovar o que pensamos:
“um pensamento crítico é um pensamento
refletido e não simplesmente aceito” (p.196)
A autocritica é aplicar a crítica ao próprio
pensamento que é a maneira mais radical da
crítica (é mais difícil do que criticar o
pensamento das outras pessoas)
Fonte: os autores, a partir de Zanello e Flor (2015).
109
autônoma, vivendo-as com afeto e prazer, sem sofrimento e
amarras sociais e subjetivas.
SAIBA MAIS:
Mapa do Acolhimento.
Disponível em: https://www.mapadoacolhimento.org/
110
Aplicativo “Penhas”.
Disponível em: https://azmina.com.br/projetos/penhas/
Referências
ALMEIDA, D. A Lei Maria da Penha e os tipos de violência
contra a mulher In: BRASÍLIA Tribunal de justiça do Distrito
Federal e dos territórios. (org.). Maria da Penha vai à escola:
educar para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher. Brasília: TJDFT, 2017. Cap. 3. p. 39-58.
ANACONA, C. A. R. Prevalencia, factores de riesgo y
problemáticas asociadas con la violencia en el noviazgo: una
revisión de la literatura. Avances en psicología
latinoamericana, v. 26, n. 2, p. 227-241, 2008.
BAGGIO, M. A. et al. O significado atribuído ao papel
masculino e feminino por adolescentes de periferia. Escola
Anna Nery, v. 13, n. 4, p. 872-878, 2009.
BOLSONI-SILVA, A. T.; CARRARA, K. Habilidades sociais e
análise do comportamento: compatibilidades e dissensões
conceitual-metodológicas. Psicologia em revista, v. 16, n. 2, p.
330-350, 2010.
BRASIL, Código Penal. Lei Nº 13.964, DE 24 DE DEZEMBRO DE
2019. Brasília, 2019. Disponível em:
ttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2019/Lei/L13964.htm#art2. Acesso em: 03 ago 2020.
DINIZ, G. R. S.; ALVES, C.de O. Gênero e Violência no namoro.
IN: MURTA, S. G.; BUCHER-MALUSCHKE, J. S. N. F.; DINIZ, G. R.
S. Violência no namoro: estudos, prevenção e psicoterapia.
Curitiba, PR: Ed. Appris, 2015, p. 19-42.
DEL PRETTE, A.; DEL PRETTE Z .A. P. Psicologia das
Habilidades Sociais – Terapia e Educação. Petrópolis. Vozes
Editora,1999/2001.
111
INSTITUTO MARIA DA PENHA. Quem é Maria da Penha. [S. l.],
2018. Disponível em:
https://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-
penha.html. Acesso em: 20 ago. 2020.
MAGGIO, V. de P. R. O Estupro e suas particularidades na
legislação atual. 2013. Extraído de:
https://vicentemaggio.jusbrasil.com.br/artigos/121942479/o-
estupro-e-suas-particularidades-na-legislacao-atual. Acesso em
21.out.2020.
MARQUES, T. M. Violência conjugal: um estudo sobre a
permanência da mulher em relacionamentos abusivos. 2005.
303 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Psicologia, Instituto
de Psicologia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia,
2005.
MATOS, M.; MACHADO, C.; CARIDADE, S.; SILVA M. J.
Prevenção da violência nas relações de namoro: intervenção
com jovens em contexto escolar. Psicologia: Teoria e Prática,
v. 8, n. 1, p.55-75, 2006.
MURTA, S. G.; DOS SANTOS, B. R. P.; MARTINS, C. P. S.; DE
OLIVEIRA, B. Prevenção primária à violência no namoro: uma
revisão de literatura. Contextos clínicos, v. 6, n. 2, p. 117-131,
2013.
OLIVEIRA, Q. B. M.; ASSIS, S. G.; NJAINE, K.; OLIVEIRA, R. V. C.
Violência nas relações afetivo-sexuais. In: MINAYO, C. M.;
ASSIS, S. G.; NJAINE, K. (eds.). Amor e violência: um paradoxo
das relações de namoro e do „ficar‟ entre jovens brasileiros.
Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, p. 87-141. 2011.
Organização Mundial da Saúde. Informe mundial sobre a
violência e saúde. Genebra (SWZ): OMS. 2002.
PASINATO, W.; LEMOS, A. K. Lei Maria da Penha e prevenção da
violência doméstica e familiar contra a mulher. In: BRASÍLIA.
Tribunal de justiça do Distrito Federal e dos territórios. (Org.).
Maria da Penha vai à escola: educar para prevenir e coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher. Brasília: TJDFT,
2017. Cap. 1. p. 11-23.
SILVA, F.C. A. da; ALBUQUERQUE, P.S.de O. ECA ou lei maria da
penha: duplicidade de normas a serem aplicadas quando a
agressão é cometida por adolescente no âmbito doméstico:
uma discussão à luz dos entendimentos psicológicos. Revista
Faculdade de Direito Ufc, Fortaleza, v. 37, n. 1, p. 93-128, jun.
2016.
SOARES, B. M. Mulheres invisíveis: violência conjugal e as
novas políticas de segurança. Civilização Brasileira, 1999.
TELES, M. A. A.; MELO, M. O que é violência contra a mulher.
São Paulo: Brasiliense (Coleção Primeiros passos), 2002.
ZANELLO, V. Violência contra a mulher: o papel da cultura na
formação de meninos e meninas. In: ZANELLO, V. et al. (org).
112
Maria da Penha vai à escola: educar para prevenir e coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher. p. 24-38.
Brasília: Tribunal de justiça do Distrito Federal e dos
territórios, 2017.
ZANELLO, V.; FLOR, W. Dos insultos entre adolescentes ao
trabalho das relações de gênero na escola. IN: MURTA, S.G.;
BUCHER-MALUSCHKE, J. S. N. F.; DINIZ, G. R. S. Violência no
namoro: estudos, prevenção e psicoterapia. Curitiba, PR: Ed.
Appris, 2015, p. 187-202.
PROPOSTAS PRÁTICAS
113
Fonte: Adaptado de MATOS, M.; MACHADO, C.; CARIDADE, S.;
SILVA, M. J. Prevenção da violência nas relações de namoro:
intervenção com jovens em contexto escolar. Psicologia: teoria
e prática, v. 8, n. 1, p. 55-95, 2006.
114
um relacionamento pode responder baseado em um
relacionamento anterior ou pode guardar o material para
responder quando estiver em um relacionamento.
Obs.: Essa atividade pode acontecer posteriormente a uma
explicação expositiva sobre as tipificações segundo a Lei Maria
da Penha de violência e de como denunciar essas violências.
Encerramento/avaliação: O/a educador/a pode se colocar à
disposição para conversar de maneira particular sobre o
formulário e salientar a importância de procurar ajuda,
quando temos problemas. O/a educador/a pode acrescentar as
possibilidades de serviços locais que servem de apoio para
vítimas desse tipo de violência.
115
Encerramento: O/a educador/a deve pedir feedback dos/as
participantes sobre a atividade e encerrar apontando os
pontos positivos que foram ressaltados.
13
Fonte: Adaptado de Cartilha “Namoro Legal” .
116
ter acesso a um projeto criado pela ONG Caretas, em parceria
com a UNICEF, que consiste em uma peça de ficção que ocorre
pelo chat de tal rede social. Nele será promovida uma
interação entre a personagem e quem acessou. A ONG garante
a confidencialidade das conversas, apenas a equipe deles terá
acesso e todas as mensagens, que serão trocadas por
mensagens privadas pelo messenger do facebook (assim para
participar a pessoa terá que confirmar que quer participar,
além disso não são exigidos dados pessoais para a
participação). A experiência é totalmente gratuita e consiste na
simulação de que uma amiga teve fotos íntimas divulgadas na
internet, ou seja, os/as participantes vão interagir por
mensagens com um chatbot programado para conversar com o
interlocutor por até 48 horas, e as respostas dela variam de
acordo com a maior ou menor demonstração de empatia. O
perfil criado para a personagem Fabi Grossi é fictício e as
fotos nele utilizadas são de uma atriz que interpreta a
personagem.
O/a educador/a deve dar uma instrução simples para que
os/as jovens acessem o perfil e iniciam a conversa, devem
falar que se trata de uma simulação de vazamento de vídeos e
fotos íntimas, que cada um terá que dar o consentimento no
começo da experiência e que tudo que for falado ali é
confidencial. Não se deve acrescentar muitas informações
para melhorar a qualidade da experiência dos/as jovens, mas
vale ressaltar que algumas informações podem ser necessárias
caso surjam dúvidas.
Observações: segundo recomendações da própria ONG
Caretas, essa atividade não é recomendada para menores de
13 anos.
Encerramento: O/a educador/a deve retomar a atividade em
sala e pode propor uma discussão sobre o que os/as jovens
acharam, o que foi mais marcante, o que eles/as sabem sobre
o tema, se gostaram, quais os efeitos perceberam na vítima,
quais as consequências esse tipo de exposição pode gerar e
qual foi o desfecho da história - considerando que ela pode
terminar de forma diferente a depender da interação de cada
um.
Fonte: Dinâmica baseada no projeto CARETAS
https://www.facebook.com/ProjetoCaretas
117
Descrição/procedimentos: deve-se imprimir e recortar os
quadradinhos presentes no (Apêndice 1), assim o jogo estará
pronto. No dia da atividade, os/as participantes devem fazer
uma roda com as cartas no centro, todas viradas para baixo,
um de cada vez deve abrir duas cartas. Quando elas forem da
mesma cor, significa que encontraram o par. As cartas terão
tipos de violência e seu par serão as características dessa
violência e também situações de violência e como se defender
delas. As tipificações de cada categoria de violência são da
ONG Cantra (Casa da Mulher Trabalhadora). Quando os pares
forem achados, quem os achou deve ler as cartas em voz alta e
o grupo pode comentar suas opiniões, suscitando a discussão
e a reflexão coletiva.
Encerramento: o/a educador/a deve puxar uma discussão
rápida sobre o que o grupo aprendeu nesse encontro, isso
servirá para que se possa perceber qual foi a apreensão dos
conteúdos.
Referências
BAHIA. Ministério Público da Bahia. Mulher vire a página.
Disponível em:
<https://www.mpba.mp.br//sites/default/files/area/direitos_
humanos/2017/cartilha-mulher-vire-a-pagina.pdf>. acesso em:
04 ago 2020.
DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das relações
interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis:
Vozes. 2001
MACHADO, C.; MATOS, M.; GONÇALVES, M. Manual de escala
de crenças sobre a violência conjugal (E.C.V.C.) e do inventário
de violência conjugal (I.V.C.): escalas de avaliação e manual.
Braga: Editora Psiquilíbrios. 2006
Ministério Público do Estado de São Paulo
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/Namor
oLegal.pdf acesso em: 27/08/2020
Site da Ong Cantra https://camtra.org.br/defenda-
se/violencia-fisica/#1588911429761-568c466b-8f5b acesso em
27 ago 2020.
118
ANEXOS
119
APÊNDICES
120
121
122
123
Capítulo 8
124
diferenças. Há diversos tipos de classificação da violência. A
UNICEF (2019), por exemplo, caracteriza como tipos de
violência: a tortura, a violência psicológica, a discriminação, a
violência sexual, a violência física, a negligência e o abandono,
o trabalho infantil e o tráfico de crianças e adolescentes. O
Conselho Nacional de Justiça, pautado pela Lei Maria da Penha,
acrescenta a violência contra a mulher, a violência de gênero, a
violência doméstica, a violência familiar, a violência
institucional, a violência moral, a violência patrimonial e a
violência intrafamiliar/doméstica, além de considerar os
demais tipos já citados.
Se um conceito central pode desdobrar-se em tantos
outros, com tantas especificidades, faz-se necessária sua
compreensão num espectro mais amplo. Afinal, o que é a
violência? Recorremos à teoria psicanalítica, particularmente
às ideias de Jurandir Freire Costa (2003), no intento de
conceitualizar o cerne da violência e jogar luz sobre o que de
fato seria uma ação violenta.
Apesar de não caracterizar propriamente um conceito
na metapsicologia psicanalítica, a ideia de violência já foi
amplamente utilizada por diversos autores da área, incluindo
Freud (FERRARI, 2006; COSTA, 2003). Em Violência e
Psicanálise, Costa (2003) se propõe a discutir com
profundidade o desenvolvimento conceitual do termo, tanto a
partir do prisma da psicanálise quanto subsidiado por outros
autores das ciências humanas.
Há em paralelo duas discussões: a de que a violência
estaria na gênese da cultura, tal qual enunciavam os filósofos
contratualistas como Hobbes, Locke e Rousseau, e a de que,
devido a isso, haveria um instinto de violência em cada ser
humano, componente essencial da humanização e da própria
dinâmica social. Mesmo Freud, na mítica Totem e Tabu (1913),
corrobora inicialmente com a ideia de que o surgimento da
sociedade estaria calcado em uma violência primordial.
Ao analisar as acepções de violência que estavam sendo
utilizadas por esses e outros autores, Costa (2003) conclui que
há mais de uma ideia que embasa a utilização do termo. O
autor argumenta que definições vagas de violência, como
sendo “o irracional” por si só, uma vez que estando na gênese
da cultura também seria uma forma de destruí-la, fariam com
que a conduta humana fosse simplesmente um epifenômeno
da violência. Assim, segundo a perspectiva psicanalítica, a
linguagem e a sexualidade atuariam como uma espécie de
violência fundamental, a primeira aprisionando a segunda
como condição de existência da civilização. A própria relação
com o outro teria uma violência inerente a si, a partir da qual
se possibilitaria o fundamento da humanização.
125
Entretanto, Jurandir Freire Costa (2003) é enfático ao
afirmar que não existe um instinto de violência, mas sim um
instinto agressivo e que pode coexistir ao desejo humano pela
paz, mesmo que haja emprego da violência para isso. Sobre a
irracionalidade do comportamento violento, o autor afirma
“deve-se ao fato de que a razão desconhece os móveis
verdadeiros de suas finalidades. A violência é irracional
quando e porque se dirige a objetos substitutivos, na acepção
psicanalítica do termo” (COSTA, 2003, p. 37-38).
É precisamente neste sentido que a violência humana
difere da violência animal: os animais não encontram objetos
substitutivos para seu instinto agressivo. O ato violento
humano, por outro lado, tem essa marca de irracionalidade
porque é portador de um desejo, sendo que o objeto a ser alvo
da violência não apenas é arbitrário, mas também pode ser
deslocado. Assim, “é porque o sujeito violentado (ou o
observador externo à situação) percebe no sujeito violentador
o desejo de destruição (desejo de morte, desejo de fazer
sofrer) que a ação agressiva ganha o significado de ação
violenta” (COSTA, 2003, p. 39).
Portanto, a questão sobre se uma ação é ou não violenta
vem atrelada ao sentido e a intencionalidade que se atribui a
ela. Costa (2003) afirma que quando há uma ação agressiva
que seja de fato expressão instintiva, ou quando não exprime
um desejo de destruição, nenhum participante da cena –
sujeito, agente e observador – considera tal ação como
violenta. Em suma, só há violência quando a ação agressiva é
comandada por um desejo de destruição, estando, portanto,
além do instinto.
Considerando, assim, as ideias do psicanalista, podemos
dar um passo adiante e pensar que o sentido da violência é
dado principalmente pela esfera social, isto é, pelos diversos
atores que participam da cena. Como entender, então, a
construção desses sentidos? A partir dessas reflexões, já não
podemos nos estender ao senso comum e reproduzir falas -
principalmente em um contexto escolar -, que sejam do tipo “a
pessoa foi violenta porque ela é assim, sempre o foi e sempre
o será”. A construção de sentidos é um movimento contínuo e
se dá em diversos espaços, sempre em contato com a
alteridade. Daí a importância da escola como um lócus
privilegiado para a constante construção coletiva de sentidos
que versem sobre o respeito às diferenças e a paz.
126
A partir do exposto, consideramos de suma importância
trabalhar não apenas a temática da violência, mas também seu
oposto: relações de reciprocidade, isto é, de respeito. Sendo
assim, propomos pensar em três eixos de atuação: diretrizes
mais gerais de ação, para qualquer contexto no qual se faça
necessária uma intervenção, que ou barre diretamente alguma
violência ou sirva de base para promover o respeito; inclusão
da discussão sobre violência / respeito em outras temáticas
relacionadas à Educação Sexual; e, por fim, encontros e
discussões específicos sobre esse tema.
Diretrizes gerais
127
que você disso ao Ciclano é uma forma de discriminação.
Desse jeito, além de julgá-lo, você não o está respeitando”, ou
então “Fulano, isso que você disse não foi legal” e explicar os
motivos, como “Pode parecer brincadeira, mas „xingar‟ os
amigos de X ou Y pode fazer com que ele ou outras pessoas
aqui se sintam mal com isso”. Em caso de situações
homofóbicas, por exemplo, nas quais o constrangimento de
alguém não seja aparente, pode-se dizer “Ok, você chamou
Ciclano de gay. De quem ele gosta ou deixa de gostar não
interessa a você, somente a ele. E se gostar de pessoas do
mesmo sexo, qual o problema disso?”. Enfim, são muitas as
falas e situações que podem ocorrer, importa perceber se uma
intervenção que denuncie e problematize imediatamente a
violência pode ser acatada pelo grupo naquele momento ou
não.
Se os educadores sexuais não acharem pertinente
realizar uma intervenção no momento em que presenciam a
ação violenta, seja por conta da gravidade da ação ou por
singularidades das pessoas envolvidas, ainda assim é
importante que essa violência não seja silenciada. Caso
julguem necessário, pode-se chamar os(as) envolvidos(as) para
uma conversa individual. Porém, de qualquer maneira, o grupo
deve ser informado sobre isso, uma vez que atuaram também
como participantes da cena, ainda que como espectadores. Ao
final do encontro ou no início do encontro seguinte, pode-se
realizar uma roda de conversa sobre o acontecido e explicitar
verbalmente o que for cabível.
Além dessas intervenções que versam mais sobre uma
atuação diretamente no âmbito de uma ação violenta,
trabalhar com aspectos relacionados ao respeito é tarefa
cotidiana dos educadores sexuais. Além do respeito consigo
próprio - as próprias vontades e o próprio corpo - o respeito
com os demais também deve ser abarcado sempre que
possível. Neste sentido, por mais que não haja uma situação
de violência deflagrada, alguns apontamentos podem ser
feitos, como por exemplo, “Tudo bem, você disse isso ou
pensa assim. Mas como poderia dizer de outra forma, na qual
a pessoa com quem está falando se sinta mais respeitada ou
reconhecida?”, ou então “Legal seu ponto de vista sobre esse
assunto. Mas já pensou se em vez de um homem fosse uma
mulher nessa história que contou?”. A maior parte das
intervenções realizadas no contexto grupal da Educação Sexual
estará no âmbito da promoção do respeito às diferenças e às
individualidades.
128
Além de intervir diretamente em uma situação de
violência ou preconceito e (ou) inserir essas temáticas nos
encontros de Educação Sexual, é imprescindível que haja
momentos para a discussão sobre os conceitos de racismo,
bullying, homofobia, gordofobia, misoginia, preconceito, entre
outros.
Marin (2006) afirma a importância de se estar atento aos
afetos associados às manifestações de violência e, assim,
garantir o encontro com a diferença. No jogo entre violência
pulsional e civilização, tanto na constituição subjetiva quanto
social, “assumir” os afetos violentos seria uma maneira de
reconhecer o outro no processo de alteridade e, portanto,
transformar a relação entre “nós” e “eles” – na qual não há
reconhecimento da diferença – em uma relação entre “nós” e
“vocês”, na qual há interlocução possível. Contudo, o autor
assinala que assumir a violência como constitutiva das
relações humanas não significa justificá-la, mas sim que há a
necessidade de responsabilizar-se por esses encontros com a
diferença e pelos “restos de violência que deles resultam”
(MARIN, 2006, p. 4). A relação com o outro seria, portanto, o
impasse e ao mesmo tempo a solução para a problemática da
violência.
Referências
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Orientação Sexual.
Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/orientacao.pdf>.
Acesso em: 13 nov 2018.
CROCHÍK, J. L. Preconceito, indivíduo e Sociedade. Temas em
Psicologia, vol.3, 1996, p.47-70.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Formas de Violência
contra a mulher. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/lei-maria-da-
penha/formas-de-violencia>. Acesso em: 13 nov 2018.
COSTA, J. F. Violência e Psicanálise. 3ed. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 2003.
DO ROSÁRIO, A. B. Adolescência e violência: o problema do
reconhecimento. Mal-Estar e Sociedade, v. 1, n. 1, p. 27-40,
2011. Disponível em:
<http://revista.uemg.br/index.php/malestar/article/view/3>.
Acesso em: 14 nov 2018.
FERRARI, I. F. Agressividade e violência. Psicologia Clínica, Rio
de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 49-62, 2006. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010
129
356652006000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 ago
2017.
MARIN, I. K. O não violento. Estilos da Clínica, São Paulo, v.
11, n. 20, p. 38-57, jun. 2006. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S1415-71282006000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20
ago. 2017.
PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
UNICEF. A educação que protege contra a violência. UNICEF,
2019. Disponível em:
<https://www.unicef.org/brazil/pt/multimedia_27141.html>.
Acesso em: 15 0ut 2020.
PROPOSTAS PRÁTICAS
130
quer demonstrar. No final, as máscaras serão amassadas e
jogadas no centro da sala. Educadores escolherão algumas
máscaras aleatoriamente para ler e iniciar a discussão.
Dependendo do tamanho do grupo, pode-se fazer duas
colunas na lousa com as palavras escritas nas partes interna e
externa das máscaras. Notar que, dependendo do tipo de
vínculo entre os participantes, é pertinente não mostrar os
desenhos e as palavras, afim de manter o anonimato dos que
assim desejarem.
Encerramento: esse tipo de dinâmica pode gerar mobilização
emocional em alguns participantes. Visando que haja uma
discussão da totalidade do grupo, algumas temáticas podem
ser abordadas pelo(a) educador(a):
Folhas em branco significando como é difícil falar e pensar
sobre sentimentos, não sendo este um hábito na maioria
dos espaços;
Reconhecimento das repetições, tanto do que se deseja
demonstrar, quanto do que se deseja “esconder”;
Salientar que não existe lado “verdadeiro” e que todos
somos tanto o lado de “dentro” quanto o lado de “fora”;
Problematização das estruturas e padrões sociais que
levam alguns sentimentos a ocorrerem (por exemplo, o
sentimento de inferioridade da mulher diante do
machismo, a pressão por se encaixar em padrões estéticos.
e hétero/cis normativos, etc.);
Incentivo à empatia e ao reconhecimento, ao mesmo
tempo, das diferenças e similaridades entre as pessoas.
Por fim, é interessante que aqueles que se sentirem
confortáveis possam se expressar verbalmente durante a
dinâmica sobre suas experiências e sentimentos. Palavras e
expressões como “respeito”, “reconhecimento” e “diversidade”
são bem vindas por parte do(a) educador(a) para sintetizar
essas falas. No encerramento da dinâmica, perguntar ao grupo
sobre o que pensam entre a relação desta atividade com a
temática da violência, salientando que muitas vezes atos
violentos ocorrem porque há um julgamento prévio a partir do
que as pessoas demonstram apenas “externamente”.
Referência
Dinâmica inspirada no documentário “The mask you live in”.
Direção: Jennifer Siebel Newsom. Produção: Jennifer Siebel
Newsom, Jessica Congdon e Jessica Anthony. Lançado em 25
jan. 2015. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=I1OI9B0VSlA
131
Dinâmica 2- JOGO DOS PRIVILÉGIOS E PRECONCEITOS
Objetivo geral: demonstrar visualmente as desigualdades
sociais, por meio da identificação de vivências com relação a
temáticas como racismo, bullying, misoginia, homo e cis fobia,
entre outras que o(a) educador(a) achar necessário.
Tempo estimado: 30 minutos, considerando o número de
participantes e as adaptações necessárias.
Descrição e procedimentos: educador(a) pede que os
participantes fiquem uns ao lado dos outros, formando uma
linha. Certificar-se que de que haja espaço suficiente na frente
e atrás dos participantes. A cada afirmativa lido pelo(a)
educador(a), os participantes devem seguir o comando de dar
um passo adiante, um passo para trás e ou permanecer no
mesmo local, conforme suas vivências. Dependendo do espaço
físico e do tempo disponíveis, é possível fazer quantas
afirmativas forem convenientes. Também é possível realizar
uma adaptação, pedindo que os participantes abaixem ou
levantem os dedos das mãos. Aqui estão alguns exemplos de
afirmativas:
Se você cresceu junto à sua família, dê um passo adiante;
Se você já ganhou ou ainda ganha mesada, dê um passo
adiante;
Se sua casa já encheu de água ou se já perdeu algum bem
por morar em área de risco, dê um passo para trás;
Se já ouviu piadas por conta da sua cor de pele ou do seu
cabelo, dê um passo para trás;
Se já ouviu piadas sobre seu corpo, direta ou
indiretamente, dê um passo para trás;
Se você pode manifestar carinho e afeto pelo seu par
romântico em público, sem medo de represália,
ridicularização ou violência, dê um passo para frente;
Se você foi diagnosticado com alguma deficiência física ou
mental, dê um passo para trás;
Se tem sua liberdade de ir e vir sem medo de sofrer abuso
sexual ou violência sexual, dê um passo para frente;
Se você sente que já sofreu bullying por parte de pessoas
do seu convívio, dê um passo para trás.
Encerramento: ao final, sem saírem do lugar, peça que os
participantes se observem. Algumas perguntas podem ser
feitas para incentivar o debate, como: “Se agora houvesse uma
corrida, quem vocês acham que teria mais chances de chegar
na frente? Por quê?”; “O que as pessoas que ficaram mais ao
fundo fizeram para estarem nessa posição?”; “O que pode ser
feito, de forma coletiva, para que essas desigualdades sejam
reduzidas?”; “O que pode ser feito, nas relações cotidianas
entre as pessoas, para que essas desigualdades sejam
reduzidas?”; entre outras que o(a) educador(a) considerar
132
pertinente. O objetivo é que os(as) adolescentes pensem em
alternativas tanto no âmbito de políticas públicas e de
visibilidade quanto em suas próprias ações enquanto sujeitos.
Assim, é importante durante o debate posterior que sejam
nomeados os tipos de violência que foram tratados durante o
jogo. Dependendo do tempo, pode-se construir cartazes e
realizar pesquisas sobre as temáticas levantadas.
Referências:
Jogo inspirado no “Jogo do Privilégio Branco”. Disponível em:
http://simaigualdaderacial.com.br/site/?mergulhe_no_tema=v
antagem-racial-jogo-do-privilegio-branco
Apoio Psicológico
Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Saúde da Família;
Serviços de atendimento psicológico gratuitos ou com
valor social, tais como as clínica-escola das universidades e
faculdades que ofereçam curso de Psicologia, coletivos de
psicologia, entre outros;
CVV – Centro de Valorização da Vida. Realiza apoio
emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma
gratuita e voluntária por telefone (Ligue 188), e-mail ou
chat, durante 24 horas por dia, todos os dias.
Assistência Social
CRAS – Centro de Referência da Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência
Social. Atende famílias e indivíduos em situação de risco
pessoal e social, em situações de violação de direitos,
como: violência física, psicológica e negligência; violência
sexual; situação de rua; abandono; trabalho infantil;
discriminação por orientação sexual e/ou raça/etnia; entre
outros.
Denúncias
Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
– Ligue 180;
133
Direitos Humanos - Disque 100. Recebe denúncias de
violações de direitos humanos relacionados a: crianças e
adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência,
pessoas em restrição de liberdade, população LGBT,
população em situação de rua, discriminação étnica ou
racial, tráfico de pessoas, trabalho escravo, terra e
conflitos agrários, moradia e conflitos urbanos, violência
contra ciganos, quilombolas, indígenas e outras
comunidades tradicionais, violência policial, violência
contra comunicadores e jornalistas e violência contra
migrantes e refugiados. A denúncia pode ser feita por
telefone, site, e-mail ou aplicativo.
DDM – Delegacia de Defesa da Mulher. Delegacia
especializada no atendimento de mulheres, crianças e
adolescentes vítimas de violência física, moral e sexual.
Referências
BRASIL. Ministério da Cidadania. Centro de Referência
Especializado de Assistência Social – Creas. Atualizado em
16 dez. 2019. Disponível em: <
https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-
programas/assistencia-social/unidades-de-
atendimento/centro-de-referencia-especializado-de-
assistencia-social-creas>. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos. Ligue 180. Publicado em 05 set. 2018. Disponível
em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-
temas/politicas-para-mulheres/ligue-180>. Acesso em: 20 out.
2020.
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos. Disque 100. Atualizado em 11 set. 2020. Disponível
em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-
informacao/disque-100-1>. Acesso em: 20 out. 2020.
SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA. Institucional.
Delegacia de Defesa da Mulher. Disponível em:
<https://www.ssp.sp.gov.br/fale/institucional/
answers.aspx?t=7>. Acesso em: 20 out. 2020.
SAIBA MAIS:
http://www.coolabora.pt/publicacoes/coolkit.pdf
134
Capítulo 9
135
exposto acima, nem sempre corresponderam aos que
conhecemos hoje. No decorrer da história da humanidade,
foram se alterando, paulatinamente (VASCONCELOS, 2004).
De acordo com Vasconcelos (2004), a partir do século
XVI, a beleza feminina passou a ser vista como um reflexo
exterior dos valores morais e de caráter, de modo que a
beleza, portanto, deveria ser exteriorizada. Nesse período, no
entanto, a beleza remetia a características que diferenciassem
os ricos dos pobres, de modo que a pele bronzeada e a
magreza denotavam a necessidade de trabalho ao sol e a
pobreza. Até o século XVIII, a gordura como alimento e como
componente do corpo, era entendida como sinal de saúde e a
magreza como sinal de pobreza e escassez, uma vez que a
alimentação baseada em manteiga, nata e doces era privilégio
dos mais ricos.
Segundo a autora, isso se alterou apenas a partir do
século XVIII, com a mudança na percepção alimentar da
gordura e, consequentemente, da gordura como componente
do corpo. No entanto, o corpo era ainda pouco mostrado. Foi
apenas no período entre guerras em que houve uma revolução
no vestuário, antes dominado por um ideal puritano que
escondia boa parte do corpo, e passou-se a contar com roupas
menores e, especialmente no vestuário feminino, o corpo ficou
mais a mostra. Foi nesse contexto que despontou a noção de
importância da aparência física e dos cuidados com a estética
do corpo, surgindo os mercados da dietética e das categorias
sobre dieta e cuidados com o corpo em revistas femininas
(VASCONCELOS, 2004).
Sobre esse assunto, Wolf (1992) demonstrou que os
ideais de beleza somente passaram a ser uma preocupação
popular feminina a partir do processo de industrialização e
reprodução de imagens, com as gravuras e a invenção da
fotografia, e indicou, assim como Jimenez (2020), Vasconcelos
(2004) e Maia et al. (2020), que a “beleza” não se relaciona com
o biológico, o inato ou o sexual, mas serve à determinação do
corpo feminino.
De acordo com Wolf (1992), ao longo da história,
comportamentos necessários à economia foram
transformados em virtudes sociais, de modo que a
domesticidade feminina já foi entendida como virtuosa, dando
lugar à beleza como virtude. A autora destaca o papel das
revistas femininas nesse processo, uma vez que nos Estados
Unidos, até o período da Primeira Guerra Mundial, essas
revistas concentravam grande parcela de anunciantes de
produtos de limpeza e utilidades domésticas e tratavam, em
suas matérias, de conferir charme e virtude às dispendiosas
136
tarefas domésticas, alinhada aos valores de submissão,
graciosidade e docilidade femininas.
Com a Guerra, houve necessidade por parte do mercado
de trabalho em absorver a mão-de-obra feminina para sanar o
desfalque de trabalhadores que foram enviados para as
trincheiras, de modo que as revistas desempenharam
importante papel em atrair as mulheres a ocupar esses postos
(WOLF, 1992).
No entanto, tão logo findou-se a Guerra, as publicações
das revistas, baseadas nos anunciantes temerosos de perder
suas consumidoras, retornaram ferrenhamente a promover a
vida doméstica. Todavia, as mulheres já não desejavam
abdicar do trabalho fora de casa e dedicarem-se
exclusivamente à vida doméstica e, nesse contexto, a
autoridade das revistas femininas se viu abalada.
Ainda segundo Wolf (1992), para acompanhar o
processo de entrada das mulheres no mercado de trabalho e
sua conquista de direitos, as revistas se viram obrigadas a
alterar o foco para atraírem a atenção das leitoras. Foi nesse
sentido que, junto a revoluções na indústria da moda a partir
da década de 1960, as publicações passaram a dar foco ao
corpo e as matérias sobre estética e dietas tiveram um
crescimento exponencial.
É nesse sentido referente à transformação da beleza por
razões sociais que Jimenez (2020) e Vasconcelos (2004)
apontam que há em nossa sociedade uma estigmatização dos
corpos que divergem do crivo exigente de beleza em vigor, ou
seja, há uma estigmatização dos corpos gordos devido à
construção do padrão estético socialmente desejável e aceito,
como aponta a tese “lute como uma gorda”, provir do discurso
biomédico, midiático e normatizador:
137
Esse imperativo sobre o corpo gera novas necessidades
para que o indivíduo possa se adequar a ele e com isso gera
também novos hábitos, como a eclosão de exercícios físicos,
procedimentos e produtos estéticos que se tornam mercadoria
de consumo, etc. Como defendido por Jimenez (2020), os
corpos correspondentes aos estilos de vida propagados
socialmente através da internet e das mídias adquiriram
caráter de aceitável ou não, servindo de referência às
construções identitárias, e consequentemente, ao consumo de
conteúdos sobre os corpos.
Por esse motivo, Vasconcelos (2004) afirma o papel
essencial dos meios de comunicação na construção,
representação e conferência de sentidos sobre os corpos, de
forma que ditam o que é “normal” e o que é passível de
julgamento. Muitas vezes, isso é mascarado por meio do
discurso sobre saúde e doença, no entanto, a autora ressalta
que o padrão exigido dos corpos que são entendidos como
aceitáveis são “inalcançáveis” e não representam corpos reais.
Jimenez (2020) lembra que o corpo é veículo de
publicidade e marketing na construção do que se vende,
porque o corpo é meio de comunicação que representa
sentimentos e discursos. Porém, os corpos que aparecem em
campanhas publicitárias seguem o padrão estético de
mulheres magras, brancas e sensualizadas. A autora lembra
que apesar desse corpo ser o padrão mais comum e que tem
perdurado até hoje, ele é transitório e moldado dentro dos
interesses da época, visto que a construção de beleza tem
como objetivo a promoção e lucro de marcas e empresas.
Nessa perspectiva, as atividades propostas por esse
manual possuem como objetivo suscitar e fomentar
discussões e questionamentos que busquem uma “construção
descolonial, pela arte e criatividade”, indo ao encontro das
palavras de Jimenez (2020, p.201) quando diz que
Referências
JIMENEZ, M. L. Lute como uma gorda: gordofobia, resistências
e ativismos. 2020. 224 f. Tese (Doutorado) - Faculdade de
Comunicação e Artes, Programa de Pós-Graduação em Estudos
de Cultura Contemporânea, Universidade Federal de Mato
Grosso, Cuiabá, 2020.
MAIA, A. C. B.; VENTURIN, A. B.; LONGHITANO, B.; LEITE, M. G.
R.; GRAVALOS, N. M. Padrões de beleza, feminilidade e
138
conjugalidade em princesas da Disney: uma análise de
contingências. Diversidade e Educação, [S.L.], v. 8, p. 123-142,
2020. Disponível em:
<https://periodicos.furg.br/divedu/article/view/9812>.
Acesso em: 27 jul. 2020.
MAIA, A. C. B. Conceito amplo de sexualidade no processo de
educação sexual. Psicopedagogia On Line, v. 1, 2010.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/125065>. Acesso
em: 27 jul. 2020.
VASCONCELOS, N. A; SUDO I.; SUDO. N. Um peso na alma: o
corpo gordo e a mídia. Revista Mal-estar e Subjetividade,
Fortaleza. v. 4. n. 1. p. 65-93. Mar. 2004.
WOLF, N. O mito da beleza. Rocco, 1992.
PROPOSTAS PRÁTICAS
139
Como são retratadas essas personagens;
A aparência física relacionada às concepções de
sucesso/fracasso, desejável/indesejável;
O que a beleza significa em termos de valores em nossa
sociedade, no que se refere à associação da beleza a
outros valores que não estão intrinsecamente a ela
relacionados, como sucesso, disciplina, ou seja, discutir
a estigmatização dos corpos gordos no que se refere à
supressão de valores pessoais, de modo que essas
pessoas (e todas aquelas que escapem em maior ou
menor medida aos padrões estéticos) são reduzidas
socialmente como indisciplinadas, fracassadas,
preguiçosas, mal-sucedidas;
Discutir como essas representações afetam a
autoimagem e a satisfação das pessoas que não se
encaixam nos padrões de beleza vigentes e como,
portanto, isso se reverte na pressão estética associada
ao medo de rejeição social.
Encerramento/avaliação: Nesse momento, a
educadora/facilitadora pode encerrar a atividade mostrando
trechos de obras televisivas e cinematográficas que
representem pessoas fora dos padrões de beleza atuais, em
que essas personagens sejam apresentadas como desejáveis,
com relacionamentos amorosos, sejam competentes
profissionalmente, etc. A educadora pode também trazer
dados estatísticos sobre insatisfação corporal feminina,
transtornos alimentares e mitos biomédicos sobre a saúde de
pessoas gordas. Durante todas as discussões a facilitadora
deve possibilitar que as participantes compartilhem suas
narrativas individuais, trazendo para a discussão suas
vivências, de modo que se enriqueça a discussão, trazendo-a
para seu cotidiano e proporcionando que desse modo, por
meio da autorreferência, possa fazer mais sentido para as
participantes.
Observações:
As produções cinematográficas podem ser escolhidas pela
educadora, desde que atendam aos objetivos propostos para a
atividade. Podem ser usadas as obras contidas nos volumes
dos livros da Coleção “Sexualidade & Mídias: Leituras sobre a
Sexualidade em filmes”14. A educadora deve ler o capítulo do
livro que trata o filme em questão para basear a discussão.
14
Coleção: Leituras sobre a sexualidade em filmes. São Carlos: Pedro & João
Editores. (vários volumes). Disponível em:
http://www.pedroejoaoeditores.com.br/e-books1. Acesso em: 17 ago. 2020.
140
É necessário atentar para que a escolha das produções
artísticas a serem apresentadas representem a realidade de
forma plural. Deve-se atentar para usar os mesmos
marcadores para a escolha dos filmes para demonstrar como
são retratadas mulheres no padrão de beleza e fora dele.
Exemplo: Apresentar imagens de mulheres brancas e negras
consideradas dentro do padrão e fora dele, evitando usar
imagens de mulheres negras apenas quando for se tratar da
representação de mulheres consideradas pela mídia como fora
do padrão de beleza. Isso pode parecer óbvio, mas merece
destaque na hora da programação da atividade, uma vez que
seu objetivo é justamente desconstruir as ideias e noções de
beleza padronizadas e preconceituosas impostas pela mídia.
Devemos tomar o cuidado de não reproduzi-las, ainda que não
seja essa a intenção.
15
O Body positive é um movimento feminista que tem como propósito a luta para
que as pessoas aceitem a si mesmas. Com o slogan: “meu corpo, minhas regras”, o
movimento quer empoderar as pessoas, libertando-as das amarras dos padrões
estéticos impostos pela sociedade vigente.
141
É essencial que essa sensibilização não acabe em si, para isso
os/as educadores/as precisam promover um encontro para
discussão dos conceitos abordados aqui, de modo a refletir
sobre os padrões estéticos e no papel das redes sociais
cotidianas.
Observação: Quando for realizar a atividade o/a educador/a
deve utilizar fotos de perfis contemporâneos e pertinentes
conforme os acontecimentos atuais.
142
APÊNDICES
143
Capítulo 10
Camilla Schultz
Luísa Paulino
144
marido, além de seguir uma série de padrões de corpo e
beleza.
A erotização do corpo feminino nos diversos veículos de
comunicação não é desproposital, é voltado para agradar os
homens e vender uma imagem objetificada da mulher. Muniz e
Coutinho (2019) dizem que ao naturalizar esta relação, os
direitos das mulheres são violentados e permite-se que haja
uma internalização dos padrões de beleza de forma a
perpetuar esta condição desigual entre os gêneros.
145
com vestimentas de combate, como armaduras e escudos
(PIMENTA; ABREU, 2018).
Cruz e Pimenta (2014) disseram que a qualidade de
imagem dos jogos tem sido desenvolvida, porém no caso das
personagens femininas isso só tem sido usado para
representá-las de forma estereotipada, com roupas curtas e
decotadas. Ou seja, a atribuição de valores diferentes para
cada sexo no ambiente virtual reproduz os estereótipos sociais
e auxilia na sua perpetuação.
Pimenta e Abreu (2018) dizem que essa atribuição de
valores é nociva, de forma mais intensa, para crianças e
jovens, pois estes ainda estão desenvolvendo a capacidade de
discernimento e absorvem estas histórias como um
aprendizado.
LEITURA
VÍDEOS E PODCASTS
Referências
CHAVES, E. A. A expressão da identidade feminina nas letras
de músicas funk. In: MATZENAUER, C. L. B. et al. (Orgs.). Anais
[...] VII Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos
do Sul. Pelotas: EDUCAT, 2006
CRUZ, C. de A. G; PIMENTA, F. J. P. Jogos eletrônicos e redução
de estereótipos femininos: a série Resident Evil. Anais [...] VIII
146
Simpósio Nacional da ABCiber. 2014. Disponível em: <
http://www.abciber.org.br/simposio2014/anais/GTs/carolina_
de_almeida_gomes_da_cruz_177.pdf > Acesso em: 15 de jul.
de 2020
EROTIZAÇÃO. In: DICIO, Dicionário Online de Português.
Porto: 7Graus, 2020. Disponível em:
<https://www.dicio.com.br/erotizacao/> Acesso em: 15 de jul.
de 2020.
MUNIZ, C. S. X.; COUTINHO, S. B. Erotização do corpo
feminino: um discurso discriminatório sobre o funk. Anais [...]
IX Jornada Internacional de Políticas Públicas. São Luís, 2019.
Disponível em: <
http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2019/images/trab
alhos/trabalho_submissaoId_1688_16885cca54627798d.pdf>
Acesso em: 13 de jul. de 2020.
PEREIRA, C. E. S.; ABREU, C. Cultura visual, gênero e poder: a
estereotipação do corpo feminino no jogo Smite. Anais [...] II
Seminário Internacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual,
2018, Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2018. p. 692 –
702.
TEIXEIRA, L. de A. A Representatividade das Personagens
Femininas em Jogos de Videogame. (Monografia em
Jornalismo). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro: ECO/UFRJ, 2017.
VELASCO, A. Fenômenos de Visualização - Os maiores canais
do Youtube no Brasil e no mundo. CanalTech, 01 de jul. de
2019. Disponível em: <https://canaltech.com.br/redes-
sociais/os-maiores-canais-do-youtube-no-brasil-e-no-mundo-
fenomenos-de-visualizacoes-142141/> Acesso em: 14 de jul.
de 2020.
PROPOSTAS PRÁTICAS
147
gostam, etc. A imagem será dada aos participantes que irão
descrevê-la e o mediador/a contará uma história: “Imaginem
que vocês foram a uma festa e conheceram esta pessoa da
foto. Vocês conversaram por mais de uma hora, dançaram
juntos e se divertiram. Agora vocês vão contar para os colegas
sobre esta pessoa, como ela é, qual foi a sua impressão sobre
ela, qual sua melhor qualidade e o que mais acharem
importante”.
Os dois primeiros participantes descrevem a pessoa da
imagem livremente, sem restrições, é provável que surjam
adjetivos se referindo a sua beleza, seu corpo e palavras que
erotizem a mulher. Antes do terceiro e quarto participantes
descreverem a sua imagem, o mediador/a irá proibir palavras
que remetam a beleza, corpo, roupa que erotizem a pessoa,
como por exemplo: “beleza”, “bonito”, “feio”, “seios”, “bunda”,
“corpo”, “sexy”, “sensual”, “gostosa”, etc.
Encerramento/avaliação: Após todos os participantes
descreverem sua imagem o mediador/a pode perguntar como
foi fazer a descrição, quais dificuldades os participantes que
tiveram restrições de palavras tiveram, qual foi a sensação de
tentar descrever uma pessoa sem remeter a aparência, etc.
Depois disso a discussão é aberta para o grupo, e o
mediador/a pode fazer perguntas disparadoras como: “qual
foi a principal diferença das descrições?”, “porque temos
dificuldade de descrever alguém sem falar sobre sua
aparência?”, “se as imagens fossem de homens a descrição
seria a mesma?”, “como, vocês que estavam ouvindo a
descrição sem ver as imagens, imaginaram as pessoas?”, etc.
Com estas questões, o/a mediador/a pode levar o grupo a
refletir sobre a importância que é dada a aparência da mulher
na nossa sociedade e que deixa de lado características
importantes como a inteligência, coragem, destreza, força,
habilidades, etc. Refletir o porquê deste movimento, que é
marcado pelos traços da sociedade patriarcal e que impõe a
mulher um lugar de agradar o homem, que deve ser sensível,
delicada, bonita, etc. Mostrar a importância de levantar
características outras do que a aparência e o corpo, e como
esta mudança de olhar pode trazer transformações sociais
profundas se feita coletivamente.
148
Participantes: recomenda-se que a dinâmica não tenha mais
de 30 participantes (com esse número é possível formar 6
grupos de 5 alunos).
Descrição/procedimentos: Para a atividade, indicamos que a
sala seja dividida em grupos de até 5 pessoas. Após a divisão,
cada grupo receberá dois conjuntos de 4 imagens (Apêndice 1)
e serão orientados a encontrar 7 diferenças entre as imagens.
Indicamos que esta atividade seja realizada antes de qualquer
discussão sobre o tema, já que as respostas serão geradoras
de discussão e poderão abrir espaço para a apresentação dos
conceitos e provocações feitas pelos/as mediadores/as.
Encerramento/avaliação: No final da dinâmica, cada grupo de
jovens deve ser incentivado a falar as conclusões que
chegaram. O/a mediador/a pode fazer questões como: “quais
diferenças entre as roupas das personagens?”; “elas estão
vestidas para uma batalha?” (já que todas são personagens de
jogos de batalha); “se vocês fossem contar uma história para
cada grupo, qual seria?”; “se fossem figuras masculinas, como
estariam representadas?”.
A partir dessa discussão e dos questionamentos, o/a
mediador/a poderá levar a conversa para suscitar a questão da
erotização e objetificação da mulher na sociedade.
Demonstrando que a figura feminina é retratada de forma
sexualizada e que isso faz parte de uma cultura patriarcal na
qual estamos inseridos, esta atividade é sugerida para iniciar a
discussão sobre o tema, sendo decorrida da atividade
proposta a seguir ou outra da escolha do/a mediador/a para
pensar novas formas de representar o feminino.
149
música. E a partir disso demonstrar que existem outras formas
possíveis de representar a mulher que não sejam de forma
estereotipada e erotizada. E como, ao mudar essa forma de
representação, podemos combater formas de violência contra
a mulher.
150
APÊNDICES
● GRUPO 1:
151
● GRUPO 2:
152
Apêndice 2. Música (Parte 1):
Sugestões de Música:
1- Dennis & MC Don Juan - Te Prometo
Ela falou que quer namorar, não dá
Pra esse tipo de relação eu não sou o cara certo
Mas se quiser ficar por ficar
Eu te prometo que meu corpo eu te empresto
Eu te prometo que meu pau eu te empresto (pega)
Vamos combinar assim, só ligar pra mim
Fala quando quer, que eu digo que também te quero
Se ta dando certo não mexe pra dar errado
É só tu me chamar de quatro, chacoalhando o rabo
É só tu me chamar de quatro, chacoalhando o rabo, cha-cha
chacoalhando o rabo
Vamos combinar assim, só ligar pra mim
Fala quando quer, que eu digo que também te quero
Se 'tá dando certo não mexe pra dar errado
É só tu me chamar de quatro, chacoalhando o rabo
É só tu me chamar de quatro, chacoalhando o rabo
Vai chacoalha, coalha-coalha, chacoalha
2- Oh Juliana - Mc Niack
Eu sei que eu não sou teu dono
Mas tu tá na minha mão
Te conheço como a tal
Da ruivinha do rabetão
153
Dançando rave ou Mandela
Sei qual é tua intenção
Faz carinha de safada
Batendo o popô no chão
Oh, oh, Juliana
O que tu quer de mim?
Já falei que eu passo o rodo
E não caio em qualquer papim
3- Pé Direito - Mc Davi
Nossa, peguei o contato de uma mina mó gostosa
Nem acreditei quando ela foi no camarim
Se pá tira foto, se pá pego sim
Quando eu fui ver já tinha pegado o contatinho
Mas eu fui pra casa dormir
(Ai que vontade de ligar pra ela, já passou)
Hoje eu acordei com o pé direito e é hoje
Que eu vou comer aquela mina gostosa
Já busquei maconha porque ela falou que gosta
Na brisa ela senta na pi
Senta na piroca
154
Capítulo 11
Giovanna de Miranda
Francine Butignon
155
mais tarde se estabelece no ciclo circadiano (LOURENÇO;
QUEIROZ, 2010).
A puberdade leva a dois tipos principais de mudanças
físicas/corporais do sistema reprodutivo sexual (internas e
externas): as características sexuais primárias, que nas
meninas dizem respeito às modificações dos ovários, útero e
vagina, e nos meninos às alterações dos testículos, próstata e
glândulas seminais (ou seja, internamente no sistema
reprodutivo (EISENSTEIN; COELHO, 2010); e as características
sexuais secundárias, que nas meninas dizem respeito ao
aumento das mamas e ao surgimento de pelos pubianos e
axilares e nos meninos ao aumento da genitália (pênis,
testículos e bolsa escrotal), além dos pelos pubianos, axilares,
faciais, e mudanças no timbre da voz. O Quadro 1 resumo as
principais mudanças que ocorrem na puberdade no corpo de
meninos e meninas.
MENINAS MENINOS
156
Além das maturações sexuais, os/as adolescentes
apresentam outras modificações biológicas, como alterações
no tamanho, na forma, na composição e nas dimensões
corporais. Na menina o primeiro sinal que se têm do início da
puberdade é o surgimento do broto mamário (telarca), que
pode se iniciar de forma unilateral, resultando em uma
temporária assimetria mamária. Em seguida inicia-se o
aparecimento dos pelos pubianos, daí o nome pubarca ou
adrenarca (EISENSTEIN; COELHO, 2010).
O acontecimento mais marcante da puberdade
feminina é a primeira menstruação (menarca), que pode
ocorrer entre nove a quinze anos. Além disso, o corpo muda
com acúmulo de tecido adiposo, principalmente nos quadris e
no abdômen, juntamente com mudanças no esqueleto que,
como vimos, crescem com o alargamento dos quadris (ESPÍN,
2011; EISENSTEIN; COELHO, 2010; RIBEIRO, 2016).
Nos meninos, inicia-se com o aumento do volume dos
testículos, variando em relação à idade de nove a quatorze
anos. Logo em seguida, há o aparecimento dos pelos pubianos
e o aumento do pênis - tanto em tamanho, como em espessura
-, além do desenvolvimento da glande. Essas modificações
resultam na maturação sexual completa, com a primeira
ejaculação com sêmen, chamada de “semenarca”. Antes desse
momento, é comum a ocorrência de poluções noturnas ou
ejaculações durante o sono. Por fim, os pelos faciais e axilares
aparecem mais tardiamente (ESPÍN, 2011; EISENSTEIN;
COELHO, 2010; RIBEIRO, 2016).
Sobre as poluções noturnas, essas podem causar
embaraço nos adolescentes. Também chamadas de “sonhos
molhados”, os jovens acordam com ereção e percebem que
ejacularam dormindo sem nem mesmo sentirem orgasmos.
SAIBA MAIS:
157
O modo como cada adolescente vai lidar com as
mudanças fisiológicas tem a ver com questões subjetivas e
sociais, pois apesar dessas serem comuns nessa fase, suas
representações dependem da influência de diferentes fatores,
como a cultura, o gênero, a orientação sexual, a raça, etc., e
por isso é importante discutir com os(as) adolescentes em sala
de aula sobre quais são suas inseguranças, seus medos, suas
dúvidas, questionamentos, etc., levando em consideração o
contextos que eles(as) vivem para suscitar reflexões e
discussões.
Faz-se importante refletir sobre os corpos representados
na mídia versus os corpos em desenvolvimento, pois
midiaticamente são reproduzidos padrões estéticos
socialmente desejáveis: altos/as, magros/as, seios e nádegas
grandes, pênis grande, músculos, etc. Difícil para adolescentes
com um corpo em desenvolvimento se espelharem e se
identificarem com esse público, por não se reconhecem no
corpo infantil e, tampouco no adulto. Além disso é sempre
importante ressaltar que cada indivíduo tem seu ritmo de
crescimento e que não é bom comparar seu corpo com o de
outros/as, pois isso gera mais angústia e ansiedade, e que a
puberdade demora alguns anos, e o crescimento e o
amadurecimento dos órgãos precisam desse tempo para
atingir a maturidade completa.
Para falar sobre as mudanças do crescimento e
amadurecimento que ocorre no corpo de meninos e meninas, é
importante relembrar sobre os órgãos sexuais femininos e
masculinos. As imagens e textos abaixo foram extraídos da
Cartilha Direitos Sexuais, direitos reprodutivos e métodos
anticoncepcionais (Caderno n. 02), do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2006, p.10-13).
158
O CORPO DA MULHER
Figura 1. O corpo da mulher
159
Figura 2. Órgãos sexuais internos femininos.
160
O encontro de um dos milhões dos espermatozoides
com o óvulo ocorre nesses tubos, na chamada fecundação. O
óvulo fecundado segue até cair no útero e se aninhar nele
(nidação), para dar seguimento a gravidez.
O CORPO DO HOMEM
161
maior e ereto, com o aumento do volume do sangue dentro
dele.
O epidídimo armazena e amadurece os espermatozoides
produzidos nos testículos, que vão “caminhar” pelos tubos
chamados canais deferentes( junto com os líquidos das
glândulas de duas vesículas seminais e de uma próstata, que
formam o Sêmen).
SAIBA MAIS:
162
RECOMENDAÇÃO DE MATERIAIS PARA LEITURA
DOS/AS ADOLESCENTES
Referências
EISENSTEIN, E.; COELHO, K. Crescimento e Desenvolvimento
Puberal. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde do Adolescente:
competências e habilidades. Brasília: Editora MS, 2008. cap. 2,
p. 57-151. v. 1.
ESPÍN, M. C. O que me acontece na puberdade? (PEIXOTO, M.
das M., Trad). 3ª ed. Lisboa: Editorial presença, 2011.
LOURENÇO, B.; QUEIROZ, L. B. Crescimento e desenvolvimento
puberal na adolescência. Revista de Medicina, 89(2), 70–75,
2010.
RIBEIRO, M. Adolescente: Um Bate-Papo sobre Sexo. 2ª ed. São
Paulo: Ed Moderna, 2016.
163
PROPOSTAS PRÁTICAS
164
bola para outro aluno C que faz o mesmo (o aluno B pode sair
da roda até acabar todos, ou todos ficam aleatoriamente).
Quando acabar, o/a educador/a abre a discussão com o grupo,
apontando e discutindo os sentimentos comuns, as angústias
causadas pelas as mudanças no corpo, o fato de que as
pessoas reagem diferentemente, etc.
Em uma segunda etapa, repete-se a atividade, porém
solicitando que os/as alunos/as falem um SENTIMENTO
BOM/POSITVO associado ao crescimento do corpo.
Repete-se a discussão em grupo e faz um fechamento.
165
Capítulo 12
MENSTRUAÇÃO E PERÍODO FÉRTIL
166
que se purifiquem” (Alcorão 2:22) e na Bíblia “...em sua
impureza menstrual; ela está impura… quem tocar em
algumas dessas coisas ficará impuro; lavará suas roupas e se
banhará com água, e ficará impuro até à tarde” (Levíticos 15).
A sociedade foi estruturada em torno desses tabus
sobre a menstruação e sobre a sua definição (DRUET, 2017) e
tais denominações históricas produzem efeitos na
contemporaneidade, tanto é que até hoje é comum vermos a
menstruação “azul” sendo exibida nos comerciais de
absorventes, sugerindo um possível “embaraço” para mostrar
o sangue vermelho.
Figueiredo (2005) estudou vinte moradoras da Favela
Monte Azul, em São Paulo em que somente uma delas tinha
conversado com a mãe sobre a menstruação e as demais
relataram sentimentos de despreparo e desinformação sobre a
relação da menarca com o ciclo reprodutivo na época em que
ela ocorreu. A pesquisa ressaltou que assuntos como
sexualidade e menstruação são ignorados e considerados
“inadequados” ou “sujos” para serem dialogados nas famílias
e o quanto isso pode ser danoso para que as garotas cresçam
desconhecendo seu próprio corpo e até mesmo mais
vulneráveis à ocorrência de gravidezes indesejadas
(FIGUEIREDO, 2005).
Como forma de transformar essa realidade a educação
sexual nas escolas é fundamental, pois traz informações e
discussões que tornam possível questionar esses valores e os
mecanismos de repressão sexual construídos pelo contexto
histórico-social (MAIA; RIBEIRO, 2011). Tais conhecimentos
auxiliam na formação de ações saudáveis e preventivas para o
próprio corpo.
Evidentemente que as informações sobre o
desenvolvimento e amadurecimento do corpo humano são
fundamentais, mas também é importante que o jovem entenda
que, uma vez que vivemos a sexualidade em uma cultura,
nosso corpo também é “social”, ou seja, vamos aprender hoje
sobre o fenômeno da menstruação - que é comum ocorrer na
vida reprodutiva de todas as mulheres sadias - mas como
relatamos acima - também é um fenômeno cercado de tabus.
Monique Augras (1989), por exemplo, em seu livro “O
que é tabu”? nos conta várias crendices sobre o poder que
teria uma mulher menstruada: “faz azedar o leite”, “não cresce
o bolo”, “não pode lavar a cabeça que fica doente”, “não pode
visitar uma mulher que amamenta porque faz secar seu leite”,
etc… Desde muito tempo, se atribuía à mulher menstruada
esse poder mágico ou diabólico e isso ficou enraizado, talvez
isso explique porque até hoje, muitas pessoas não comentam
167
sobre estarem menstruadas, escondem quando estão, sentem
vergonhas, ficam indispostas e mais reservadas, etc.
Do ponto de vista orgânico, como dissemos, a
menstruação, ocorre porque é um sinal que o corpo se
preparou para receber um óvulo fecundado e engravidar-
como o faz todos os meses, mas isso não ocorreu; portanto, o
endométrio espesso é eliminado na forma de menstruação,
iniciando um novo ciclo, como vamos explicar mais
detalhadamente agora.
168
Figura 1. Imagem representativa de um ciclo menstrual
169
incômodos no baixo ventre/região abdominal; aumento da
libido sexual e aumento da temperatura basal.
Se o óvulo liberado não for fecundado, o organismo
entra na fase lútea que vai do dia 15 até o dia 28 do ciclo
menstrual, coincidindo com o início da menstruação. Após a
ovulação, o nível de estrogênio cai e o hormônio progesterona
aumenta, gerando um aumento das mamas. O muco torna-se
grosso e esbranquiçado e alguns sintomas pré-menstruais
podem ser percebidos, como inchaço, cólica, dor de cabeça e
dores nas mamas, diarreia ou constipação, náuseas, tontura e
nervosismo. O termo “TPM” (síndrome pré-menstrual) caiu em
desuso por contribuir para estigmatização (se a mulher estava
chateada, incomodada ou irritada com alguma questão,
atribuía-se à “TPM”, o que pode resultar em menosprezo e
silenciamento da voz dessa pessoa).
Durante a fase lútea, a produção dos hormônios sexuais
gradualmente diminui e o endométrio, revestido de vasos
sanguíneos, começa a ser descamado. O sangue proveniente
dessa descamação constitui o sangue do fluxo menstrual, o
qual sai pela vagina. Assim, ocorrerá a menstruação e o ciclo
se iniciará de novo, com a formação de um novo revestimento
(endométrio), aumento do estrogênio e preparação do
organismo para uma possível concepção.
Referências
AMARAL, M. C. E. do. Percepção e significado da menstruação
para as mulheres. 2003. 147 p. Dissertação (mestrado) -
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências
Médicas, Campinas, SP. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/313346
>. Acesso em: 07 out. 2020.
CAMPBELL, J. As máscaras de Deus - mitologia primitiva. 5ª
ed São Paulo: Palas Atena; 2000. 418p.
CORDEIRO, C. M.; LAVORENTI, J. Z., Relatório de Encontro do
Programa de Educação Sexual com adolescentes. Atividade
de Estágio supervisionado Processos de Intervenção em
Educação Sexual. Curso de Psicologia. Faculdade de Ciências.
UNESP: Bauru, 2020 (não publicado).
DRUET, A. How did menstruation become taboo?. Clue App,
[s. l.], 7 set. 2017. Disponível em:
https://helloclue.com/articles/culture/how-did-menstruation-
become-taboo. Acesso em: 8 out. 2020.
FÁVERI, M de; VENSON, A. M. Entre vergonhas e silêncios, o
corpo segregado. Práticas e representações que mulheres
produzem na experiência da menstruação. Anos 90,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 14, ed. 25, 2007.
170
DOI https://doi.org/10.22456/1983-201X.5403. Disponível em:
https://www.seer.ufrgs.br/anos90/article/view/5403. Acesso
em: 8 out. 2020.
FIGUEIREDO, R. Saúde sexual e reprodutiva de mulheres de
baixa renda: Favela Monte Azul – um estudo de caso. 2005.
Tese de mestrado (Antropologia Social) - Dpto de Antropologia
– FFLCH - USP, [S. l.], -. Disponível em:
http://nepaids.vitis.uspnet.usp.br/wp-
content/uploads/2010/04/teseregina.pdf. Acesso em: 7 out.
2020.
GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. 6a ed, Rio de
Janeiro: Interamericana, 1984. 926p.
ROSA, O. Menstruação e Loucura. Revista dos Cursos, Porto
Alegre, v. 13, n. 13, 1927. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/revistadoscursos/article/view/48342.
Acesso em: 8 out. 2020.
PROPOSTAS PRÁTICAS
171
em que eles/as podem pensar que há algo de errado com seus
corpos.
Nesse momento, o/a educador/a deve falar que existem
formas de contrapor essa pouca representatividade, e como
exemplo pode mostrar aos/as participantes a página do
Instagram “The Vulva Gallery”16, a qual traz em seu conteúdo
imagens da diversidade da anatomia das vulvas.
Encerramento/avaliação: Encerrar a atividade perguntando se
na escola os/as participantes foram apresentados a corpos
padronizados ou não. O que pensam sobre isso? Abrir um
breve momento para que os/as participantes possam
comentar suas experiências.
16
Ver: Instagram “The Vulva Gallery”. Disponível em:
https://www.instagram.com/the.vulva.gallery/
17
“Por que mulher menstrua azul?”, disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=vtIgI482DtY
172
de um contexto histórico de controle sobre os corpos das
mulheres.
Encerramento/Avaliação: Questionar as/os participantes se
essa roda de conversa trouxe uma nova visão a respeito da
menstruação; se sim, perguntar também em quais sentidos.
Referências
SOUZA, T. M. de. Perspectivas sobre a menstruação: análise
das representações na publicidade e na militância feminista
online. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado
Interdisciplinar em Ciências Humanas) - Universidade Federal
de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2018. Disponível em:
<https://www.ufjf.br/bach/files/2016/10/THA%c3%8dS-MELO-
DE-SOUZA.pdf> Acesso em 18 set. de 2020
18
Sushi é um prato da culinária japonesa a base de peixe com arroz.
173
As meninas Mamaindê (etnia nambiquara), na menarca,
permanecem reclusas em uma pequena maloca feita com
folhas de buriti19 (“casa da menina menstruada”). Lá elas
deverão permanecer de um a três meses, ao fim dos quais
uma grande festa será feita e os convidados de outras
aldeias nambiquara virão para retirá-la da reclusão.
Nas Filipinas, uma parcela significativa das mulheres não
toma banho nem lava o cabelo durante a menstruação,
pois acredita que a água faz o “sangue subir para a cabeça,
causando loucura”.
Na Índia, quando estão menstruadas, as mulheres são
consideradas “sujas”e intocáveis. Algumas pessoas,
inclusive, acreditam que elas fiquem amaldiçoadas durante
esse período, o que as impede de entrar na cozinha (sob o
risco de contaminar os alimentos), dormir na própria
cama, se sentar à mesa com a família e sair de casa.
Encerramento/Avaliação: O/a educador/a deve encerrar essa
atividade problematizando o motivo da menstruação ser
temida e colocada como algo impuro em tantas culturas,
enfatizando que a ausência de discussão sobre a menstruação
a invisibiliza, fortalece a marginalização do tema e prejudica a
relação das mulheres com o próprio corpo, muitas vezes
trazendo culpa e vergonha por estarem menstruadas.
Referências
MILLER, J. Nambikwara. Povos Indígenas no Brasil. 2008.
Disponível em:
<https://www.indios.org.br/pt/Povo:Nambikwara?fbclid=IwAR
3Kc1neEj3_r-djjAWKD_s7rEXzy6TD2Be5ypYUdcIkIDen9eJL-
ilRk_U> Acesso em: 18 set. de 2020
A menstruação ao redor do mundo. Blog Inciclo. Disponível
em: <https://blog.inciclo.com.br/menstruacao-ao-redor-do-
mundo/>. Acesso em: 18 set. de 2020
19
Buriti é uma planta da família das arecáceas, chamada de “palmeira brasileira”.
174
sugestão deixamos esses exemplos, possibilidades do que
os/as participantes podem falar e como direcionar a
discussão:
Situação 1: “Não posso nadar hoje”
Os/as participantes podem falar sobre o clima não estar bom,
a pessoa está doente ou ainda falar que nada vem à mente.
O/a educador/a pode dizer frases para promover reflexão
dos/as participantes, como: "essa pessoa disse que não pode
nadar, será que ela quer nadar?”; “o que pode estar impedindo
essa pessoa de nadar?”; “o que pode acontecer se ela nadar?”.
Situação 2: “Vou na frente, veja se está marcando”
Como essa situação é mais direta, é possível que os/as
participantes falem sobre menstruação, absorvente e manchas.
O/a educador/a pode questionar “como será que essa pessoa
está se sentindo ao fazer essa pergunta?”.
Encerramento/Avaliação: Verificar quantas pessoas falaram
sobre o tema menstruação, discutir se houve participantes que
já vivenciaram situações assim com colegas ou outras pessoas
conhecidas, quais informações podem ajudar essas pessoas
(por exemplo: disponibilidade de coletores menstruais ou
biquínis absorventes presentes no mercado que podem
permitir que a pessoa nade ou vá a praia com conforto,
segurança e higiene), o que podemos fazer se estivermos ao
lado dessa pessoa para ajudá-la ou deixá-la mais confortável.
175
Capítulo 13
176
palestras sobre educação sexual não são específicas e não tem
uma linguagem acessível; consideram que a sexualidade
engloba apenas práticas sexuais; não têm vida sexual ativa e
não conhecem o termo “comportamento de risco”. Citaram
majoritariamente os preservativos e as pílulas
anticoncepcionais como forma de prevenção de IST e gravidez
e os “pensamentos mágicos” (“nunca irá acontecer comigo”)
apareceu como justificativa usada entre os/as jovens para não
se prevenirem, além da existência dos mitos de que não é
possível engravidar ou contrair IST desde a primeira prática
sexual e de que um indivíduo com aparência saudável não está
infectado.
A respeito dessas questões, o Ministério da Saúde
acrescenta que, apesar do único método eficaz na prevenção
de IST ser o uso de preservativo - masculino ou feminino -,
existem vários métodos contraceptivos, que inclusive são
distribuídos gratuitamente pelo SUS. O mesmo portal orienta
uma dupla proteção com o uso combinado da camisinha e
outro método contraceptivo de escolha e explica que
177
adesão aos métodos preventivos. Verifica-se como as
representações sociais de gênero colaboram para o
comportamento de risco. Logo, é necessário considerar o
“grupo” como uma importante variável na construção do saber
de jovens a respeito da sexualidade, bem como compreender
questões de gênero, papéis sociais e os comportamentos
consequentes em relação às vulnerabilidades (MALTA, 2011;
ARRAES et al., 2013).
A escola é reconhecida como um espaço social que
permite a socialização de experiências e a construção da
identidade do jovem, sendo fundamental a implementação de
estratégias educacionais voltadas para a prevenção e redução
da vulnerabilidade às IST, às gravidezes precoces e/ou
indesejadas, às violências de gênero, etc.
Assim, ressalta-se a responsabilidade e o compromisso
da escola na educação sexual enquanto espaço adequado e
privilegiado para a aprendizagem e formação de adolescentes
autônomos em sua própria prevenção (ARRAES et al., 2013;
ALMEIDA et al., 2017; MAIA; RIBEIRO, 2011).
Nesse contexto, com o objetivo de trazer informações
corretas e científicas, desmistificar estigmas e ideias
equivocadas, promover um espaço de escuta, acolhimento e
reflexão sobre a necessidade de políticas públicas voltadas
para sexualidade de adolescentes , assim como programas de
educação sexual enquanto caminhos para o enfrentamento de
vulnerabilidades dessa população em relação à saúde sexual e
reprodutiva, ambas explicitada na literatura (MALTA, 2011;
MAIA; RIBEIRO, 2011) e por englobar os recortes individuais e
sociais desses jovens, adaptando o projeto para a realidade
socioeconômica e psicossocial em questão que apresentamos,
a seguir, uma proposta de atuação.
PROPOSTAS PRÁTICAS
178
Em um segundo momento, apresentamos possíveis
vivências interpessoais no que tange à sexualidade e
discutiremos sobre violências em diferentes contextos de raça,
gênero e orientação sexual; estratégias de enfrentamento;
mitos que permeiam a sexualidade; estigmas e preconceitos e
autoestima, tendo como pressuposto o fato de que os/as
adolescentes brasileiros/as têm sua vida sexual iniciada cada
vez mais cedo e que a escola tem o compromisso na educação
sexual e na promoção de informações sobre prevenção de IST ,
com apoio e proteção aos jovens (MALTA, 2011; ALMEIDA et
al., 2017).
Preservativo Feminino:
Como é: feito de borracha nitrílica (excelente para quem tem
alergia ao látex). Insere-se no canal vaginal antes da
penetração, podendo ser colocado até algumas horas antes da
relação. Possui cerca de 15 centímetros de comprimento e oito
de diâmetro com dois anéis flexíveis. Um é móvel e fica na
extremidade fechada, servindo de guia para a colocação do
preservativo no fundo da vagina. O segundo, na outra ponta, é
aberto e cobre a vulva (parte externa da vagina). Você pode ver
o vídeo ensinando a colocar aqui: http://www.aids.gov.br/pt-
br/video/preservativo-feminino-como-usar-0.
Principais vantagens: Mais fino por ser feito de borracha
nitrílica e é bem lubrificado, o que proporciona às mulheres
maior conforto e prazer durante a relação sexual. Pode ser
usado durante o período menstrual, já que evita o contato com
o fluxo menstrual durante a relação sexual.
179
ser colocado adequadamente. Com o uso correto, as chances
de estourar, rasgar ou furar são significativamente baixas.
SAIBA MAIS:
180
Convênio Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Médico
Atendimento
médico pelo Sim Sim Sim Sim Sim Sim
SUS
(gratuito)
Fonte: os autores
SAIBA MAIS:
HIV/AIDS:
http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2019/boletim-
epidemiologico-de-hivaids-2019
Sífilis:
http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2019/boletim-
epidemiologico-sifilis-2019
Hepatites Virais:
http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2019/boletim-
epidemiologico-de-hepatites-virais-2019
181
médico. De maneira geral, os primeiros sintomas mais
frequentes de infecções são:
secreções ou corrimentos amarelados, esverdeados ou
alaranjados;
odor, ardência ou coceira nos órgãos genitais;
a presença de verrugas, bolhas ou feridas nos órgãos
genitais, ânus ou boca e
dor para urinar ou durante as relações sexuais.
Sífilis:
Causa - Bactéria Treponema pallidum;
Transmissão - Relação sexual desprotegida; sangue ou
secreção contaminada; transmissão vertical;
Vacina - Não há;
Prevenção - Uso de preservativo;
182
Sintomas: De 2-3 semanas após relação desprotegida, feridas
na vulva, pênis, ânus ou boca; sem odor, sangramento ou dor.
De 3-6 meses, manchas avermelhadas no corpo, mãos e planta
dos pés. Meses ou anos sem tratamento, sintomas graves
podem aparecer, como doenças neurológicas ou cardíacas,
podendo levar à óbito;
Tratamento - Uso de medicação (penicilina benzatina).
HIV:
Causa - Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV);
Transmissão - Relação sexual desprotegida, sangue
contaminado, transmissão vertical;
Vacina - Não há;
Prevenção - Uso de preservativo; uso correto de medicação
antirretroviral para gestantes e medicação para o bebê;
esterilização de objetos perfurocortantes. Há medicação para a
pré-exposição (PREP) e pós-exposição (PROP) ao vírus.
Sintomas - Da primeira a terceira semana após infecção, há
sintomas inespecíficos (infecção aguda), mas que podem ser
parecidos com os da gripe, como febre e mal estar. Segue-se a
fase assintomática por tempo indeterminado, podendo durar
anos. Com o ataque às células de defesa do organismo e a
redução da imunidade, há sintomas de febre, diarreia, suores
noturnos e emagrecimento;
Tratamento - Como não há cura, o tratamento se dá pelo uso
diário de medicação antirretroviral (ARV), acompanhamento
médico regular e exames periódicos.
Observação: a pessoa que vive com HIV foi contaminada com o
vírus, mas a pessoa com AIDS, apesar de também ter sido
contaminada com o vírus, apresenta doenças oportunistas,
como tuberculose, toxoplasmose, hepatites virais, pneumonia
e alguns tipos de câncer.
Gonorreia e Clamídia:
Causa - Diversos tipos de microorganismos, principalmente a
bactéria Clamídia (Chlamydia trachomatis) e Neisseria
gonorrhoeae;
Transmissão - Relação sexual desprotegida;
Vacina - Não há;
Prevenção - Uso de preservativo;
Sintomas - De 2-8 dias após relação desprotegida. Nos homens
há ardência ou formigamento ao urinar e corrimento
purulento amarelo ou esverdeado e nas mulheres corrimento
amarelado, dor nas relações sexuais e no baixo ventre, mas é
comum que não apresente sintomas. Sem tratamento, pode
resultar em infertilidade, meningite, doenças neurológicas ou
cardíacas;
183
Tratamento - Uso de medicação antibiótica.
184
Exemplo 3: Um menino está ficando com uma menina que ele
gosta e tem vontade de transar. Entretanto, está muito ansioso
e nervoso com isso, pois pela religião da sua família, o sexo só
deve ocorrer após o casamento. Mesmo assim, ele comprou
uma camisinha e guardou em sua mochila de escola, pois
prefere tê-la caso algum dia decida ter sua primeira relação
sexual.
Um dia seus pais, que seguem os ideais religiosos,
encontraram as camisinhas em sua mochila.
Grupo 1: O que os pais podem estar pensando ao acharem a
camisinha?
Grupo 2: Se você fosse ele, como explicaria a situação para
seus pais?
Grupo 3: Como amigos, o que vocês falariam para ele?
Debater as respostas, retomando o conteúdo e verificando a
aprendizagem sobre o tema IST, gravidez e métodos
contraceptivos.
185
Tempo estimado de duração: 25 minutos
Número de Participantes: Até 35 pessoas
Materiais: Espaço adequado para os participantes circularem;
fita adesiva ou linha/ lã para separar dois espaços.
Procedimentos: Colar com uma fita adesiva uma linha na sala
ou delimitá-la de maneira imaginária. De um lado ficarão os/as
participantes/as que concordam com a afirmação e o outro
lado será para os/as que discordam. Após a explicação da
atividade e a delimitação da linha, trazer afirmações sobre IST,
contracepção e comportamento de risco, tais como: “com o
coito interrompido não é possível engravidar”; “a primeira
transa nunca engravida”; “se meu parceiro tem HIV, minha
única proteção é o preservativo”, “não se pode transar
menstruada”, “Se você tem HIV você não consegue mais ter
uma vida sexual ativa”; “a camisinha é o único método
contraceptivo confiável”, etc.
A cada afirmação, os/as participantes devem ir para cada lado,
segundo sua opinião (se concorda ou se discorda)
Observação: Pode-se adaptar a dinâmica dividindo grupos e
entregando placas/cartolinas com os dizeres “VERDADEIRO” e
“FALSO”. Assim, a cada afirmação, o grupo deve levantar a
placa equivalente a opinião majoritária.
Esta dinâmica pode ser feita no início de um programa de
educação sexual e no final para verificar tanto conhecimentos
prévios quanto os conhecimentos adquiridos.
186
dados encontrados são parecidos com a realidade de vocês?”;
“quais razões podem influenciar isso?”.
187
Dinâmica 6- QUEM É VULNERÁVEL?21
Objetivo: Sensibilizar sobre o tema; identificar
vulnerabilidades e aumentar a compreensão dos adolescentes
sobre suas próprias vulnerabilidades; incitar reflexão sobre
autonomia; proteção de IST e contracepção. Discutir estigmas
e preconceitos acerca das pessoas que vivem com IST;
Tempo estimado de duração: 40 minutos a 1 hora;
Número de Participantes: até 30 participantes;
Materiais: Caixa de som/aparelho sonoro e música de escolha;
cartolina ou papel coloridos cortados em formas geométricas;
sacolas plásticas ou pequenas caixas de papelão para cada
aluno;
Procedimentos: Antes de iniciar a dinâmica, é necessário que
o moderador compreenda o que cada forma geométrica
representa, sem contar aos participantes:
O triângulo representa preservativo;
O quadrado representa gravidez;
O círculo representa HPV;
O retângulo representa a pílula anticoncepcional;
A estrela representa o HIV;
O raio representa a sífilis;
Essas são sugestões, mas pode-se alterá-las (incluir
outras IST ou métodos contraceptivos). O cálculo para saber
quantas figuras geométricas serão necessárias é baseado no
número de alunos (deve-se ter uma ou mais figuras para cada
aluno).
Para dar início, o moderador precisa ter em mãos as formas
geométricas recortadas ou desenhadas em papel ou cartolina
(ou quaisquer outros materiais) e algum recipiente para que se
possa guardar as formas geométricas, como uma sacola
plástica ou uma caixa de papelão, que deve ser entregue para
cada participante. Deve-se garantir que todos os participantes
recebam esse recipiente para o andamento da dinâmica.
Então, é necessário instruir os participantes de que eles
receberão itens e devem guardá-los (discretamente) nas
caixas/sacolas que também irão receber, sem comentar com
ninguém sobre o que receberam. Assim, deve-se fazer a
distribuição das formas geométricas de maneira aleatória,
garantindo que todos recebem a mesma quantidade de figuras
geométricas.
Após essa etapa, instruir para que todos, ao ouvirem a música,
devem começar a conversar com um outro colega, sendo que
nessa conversa eles podem trocar uma figura geométrica, se
desejarem. Para facilitar o educador(a) pode indicar um tema.
21
Dinâmica adaptada da dinâmica “Cadeia de Transmissão”. Ver:
http://www.abennacional.org.br/revista/cap6.4.html
188
Por exemplo: vamos conversar sobre esportes: quais os tipos
que existem, quais são os esportes preferidos de praticar, de
assistir, e outras perguntas.
O moderador, ao terminar as explicações, pode ligar a música
e deixá-los livres para conversarem, dançarem e trocarem as
figuras. Após a troca, os participantes devem guardar as
figuras na caixa/sacola. O tempo de duração também pode
variar conforme a quantidade de participantes. Estima-se que
para um grupo de 10 alunos, o som deve permanecer ligado de
10 a 15 minutos. Para um grupo de 30 alunos, deve
permanecer ligado por 20 a 25 minutos. É importante atentar-
se para como o grupo está funcionando na dinâmica: se os
participantes rapidamente mudam de um colega para outro ou
se estão tendo conversas mais longas. Assim, adequar o tempo
para que cada pessoa possa, no mínimo, conversar com outras
quatro pessoas e haver a troca das figuras entre eles/as.
Ao final da atividade, deve-se interromper o som e pedir para
que todos se atentem às próximas instruções (regras do jogo).
É recomendável que os/as participantes se sentem em círculo
para que possam abrir as suas caixas/sacolas. Então, o/a
educador/a deve explicar que:
Se o participante tiver o triângulo (preservativo) na caixa, ele
só pode manter consigo o retângulo (pílula) caso tenha
recebido. Deve descartar todas as outras formas geométricas
que recebeu, deixando dentro da caixa apenas o triângulo e, se
tiver recebido, o retângulo.
Se o participante tiver o retângulo (pílula) dentro da caixa, ele
pode manter todas as formas geométricas que recebeu, menos
o quadrado (gravidez).
Ao explicar isso, pede-se para que cada participante mostre o
que tem consigo. Para apresentar o que cada forma representa,
pode-se falar (oralmente) ou anotar em uma lousa (para
melhor visualização). Assim, explicar por que quem tinha o
preservativo não recebeu nem IST e nem gravidez e explicar
por que quem tinha a pílula recebeu IST, mas não recebeu
gravidez. Da mesma forma, explicar que quem não tinha
preservativo, estava vulnerável a receber qualquer IST presente
no jogo.
Usar esse momento para fazer as correlações, debater
vulnerabilidades e incitar reflexões sobre pessoas que vivem
com IST, como o fato de não haver uma “cara” ou um
estereótipo para as IST, isto é, a pessoa não terá uma figura
geométrica avisando se possui IST, até porque é possível que a
pessoa não saiba da própria IST. Dessa forma, refletir a
importância de conhecer métodos de proteção e métodos
contraceptivos, sempre se protegendo e tendo autonomia e
189
responsabilidade consigo e com os outros com quem se
relaciona.
190
não ter tempo ou não ter um lugar confortável e isolado para o
sexo; o sexo pode ser diferente ao longo da vida e com
diferentes pessoas; o emocional influencia (tristeza, felicidade,
cansaço); pode-se falar com o parceiro indicando se algo
machuca, etc.
191
existe muito tabu sobre esse tema - falaremos mais disso nos
próximos encontros.
“Um sinal de que há problemas no seu relacionamento é o fato
de você se masturbar tendo fantasias sexuais com outras
pessoas”. Mito: Especialmente no início do namoro, é comum
que haja um desejo sexual intenso apenas sobre o namorado.
Mas, é possível amar seu namorado e ainda se sentir atraído
por outras pessoas, tendo algumas fantasias sexuais. O que irá
determinar se há um problema no seu relacionamento são
diversos fatores combinados.
“O tamanho do pênis é responsável pelo prazer”. Mito: O
tamanho do pênis é apenas um fator no sexo, mas o que pode
produzir prazer são muitos fatores pessoais, que dependem
para cada pessoa. Um pênis muito grande, por exemplo, pode
até machucar o canal vaginal.
192
com a realidade, vivência e percepção dos participantes,
trazendo informações que eles não saibam;
Tempo estimado de duração: 25 minutos;
Número de Participantes: Até 35 pessoas;
Procedimentos: Iniciar pedindo para que falem as primeiras
coisas que vem à mente quando escutam as palavras:
“namoro”; “relacionamento abusivo”; “prevenção”;
“autocuidado”. Sugerimos também usar situações hipotéticas
como “você encontra uma camisinha na carteira de uma
colega, o que isso pode significar?”; “se seu amigo te conta que
pode ter sua primeira prática sexual hoje, o que você diria a
ele?”; “sua amiga te conta que o namorado dela não quer usar
preservativo e ameaça terminar com ela, o que ela pode
fazer?”.
Tanto as palavras quanto as situações devem ser relacionadas
com o tema discutido no encontro. A partir do que os
participantes disserem, questioná-los para fazer com que haja
uma reflexão e, então, apresentar informações e conteúdo que
ficaram faltando em suas falas.
Exemplos de palavras geradoras e situações:
193
Palavra geradora: Prevenção
Situação: participantes trazem palavras como “camisinha”,
“não gozar dentro”, “pílula”.
Reflexões: “Quando vocês pensaram em prevenção, essa
prevenção é contra o quê?", “Quais métodos temos para nos
proteger de ISTs?”, “E para nos proteger de uma
contracepção?”, “Todos os métodos protegem da mesma
forma? Todos são igualmente eficazes?”, “Quem deve se
proteger, apenas adultos? E jovens e idosos?”.
Situação: Sua amiga te conta que pode ter sua primeira prática
sexual hoje.
Perguntas reflexivas: “O que você diria a ela?”, “o que você
acha que ela precisa saber?”, “o que ela pode estar sentindo?”,
“o que ela pode estar pensando sobre isso?”, “se você fosse
ela, o que poderia querer saber?”, “o que você pode falar de
importante para ela?”, “você saberia ajudá-la com métodos
contraceptivos?”.
194
para desmistificar o que é mostrado de maneira idealizada em
filmes, séries, mídias. Também abordar o fato de contracepção
e IST de uma maneira não só informativa, mas como parte de
vivência de outras pessoas;
Tempo estimado de duração: 30 minutos;
Número de Participantes: Até 35 pessoas;
Materiais: Computador, projetor de vídeo, equipamento de
áudio.
Procedimentos: É necessário gravar ou passar relatos sexuais
de jovens e de contracepção. Pode ser de pessoas conhecidas
ou de filmes (que não mostrem uma relação sexual idealizada),
que abordem a temática de por exemplo: transei e a camisinha
saiu; transei e saiu sangue; o que aconteceu quando fui fazer
exame de IST minha namorada quis fazer algo durante o sexo
que eu não queria, etc.
Após isso, promover um debate sobre quais foram às
impressões ao ouvirem os relatos, se fariam algo de diferente
e qual o relato que mais chamou a atenção.
22
Este material foi elaborado no ano de 2020, então como sugestão deixamos esses
nomes que neste momento é atual: Sex Education (Netlflix); euphoria (HBO); Grey‟s
Anatomy (ABC); Love, Simon (Fox 2000 pictures); Love, Victor (Hulu).
195
Exemplo 2: Série Euphoria, temporada 1 - episódio 1, em que a
personagem Cassie vai ter ter relações sexuais e o rapaz tenta
forçar uma prática e ela diz não, perguntar: “Como vocês
acham que ela estava se sentindo?”, “existe algum culpado
nesta cena?”, “vocês fariam algo de diferente?”
MAIS PRÁTICAS:
http://www.abennacional.org.br/revista/cap6.4.html
Referências
ALMEIDA, R.; CORRÊA, R.; ROLIM, I.; HORA, J.; LINARD, A.;
COUTINHO, N.; OLIVEIRA, P. Conhecimento de adolescentes
relacionados às doenças sexualmente transmissíveis e
gravidez. Revista Brasil Enfermagem., Brasília, v. 70, n. 5, p.
1033-1039, Out 2017.
AUM, F. et al. Fui assediada no ginecologista. Disponível em
<https://catracalivre.com.br/especiais/abuso-ginecologista/> .
Acesso em Setembro de 2020.
ARRAES, C.; PALOS, M.; BARBOSA, M.; TELES, S.; SOUZA, M.;
MATOS, M. Masculinidade, vulnerabilidade e prevenção
relacionadas às doenças sexualmente transmissíveis/HIV/Aids
entre adolescentes do sexo masculino: representações sociais
em assentamento da reforma agrária. Rev. Latino-Am.
Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 21, n. 6, p. 1266-1273, Dez
2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Adolescentes e Jovens para a
Educação entre Pares. Saúde e Prevenção nas Escolas.
Prevenção das DST, HIV e Aids. Série Manuais nº 69; 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Como é a Prevenção das IST.
Disponível em: < http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-
geral/o-que-sao-ist/como-e-prevencao-das-ist>. Acesso em 30
de Julho de 2020.
196
BRASIL. Ministério da Saúde. Estabelecimentos Credenciados
no Estado de São Paulo. Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência
Farmacêutica. Programa Farmácia Popular do Brasil, junho
2020. Disponível em:
<https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/June/22/SP.pdf
>. Acesso em 12 de agosto de 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST): o que são, quais são e como prevenir.
Disponível em:
<http://saude.gov.br/saude-de-a-z/infeccoes-sexualmente-
transmissiveis-ist>. Acesso em 11 de setembro de 2020.
BRASIL Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo
Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às
Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis /
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,
Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. – Brasília:
Ministério da Saúde, 2015.
BRUM, M. L. B.; MOTTA, M. da G. C. da; ZANATTA, E. A.
Sistemas bioecológicos e elementos que vulnerabilizam
adolescentes frente às infecções sexualmente transmissíveis.
Texto contexto - enferm., Florianópolis, v. 28, e20170492,
2019. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010
4-07072019000100310&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 12 set.
2020.
CABRAL, J. V. B.; OLIVEIRA, F. H. P. C.; MESSIAS, D. C. A.;
SANTOS, K. L. L.; BASTOS, M. V. A percepção de
vulnerabilidade da população adolescente sobre o HIV/aids.
Espaço para a saúde. Rev Saúde Pública do Paraná [Internet].
Dez 2016. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/312369941_A_per
cepcao_de_vulnerabilidade_da_populacao_adolescente_sobre_
o_HIVAids>. Acesso em: 12 set. 2020.
CARLETO, A. P.; FARIA C. S.; MARTINS, C. B. G., SOUZA S. P. S.;
MATOS K. F. Conhecimentos e práticas dos adolescentes da
capital de Mato Grosso quanto às DST/AIDS. DST J Bras
Doenças Sex Transm [Internet]. 2010.
CARNEIRO, R. F.; SILVA, N. C.; ALVES, T. A.; ALBUQUERQUE, D.;
BRITO, D.; OLIVEIRA, L. Educação Sexual na adolescência: uma
abordagem no contexto escolar. Sanare [Internet]. 2015 jan-
jun. Disponível em:
<https://sanare.emnuvens.com.br/sanare/article/view/617/33
4>. Acesso em: 12 set. 2020.
CARTILHA SOBRE HPV: Cuidando da Saúde dos Adolescentes.
Cabergs Saúde. Disponível em
197
<https://www.cabergs.org.br/arquivos/Cartilha_hpv.pdf>.
Acesso em: 11 set. 2020.
CREMESP. Relações de poder e outros desvios de condutas
caracterizam assédio sexual. 2012. Disponível em
<https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Jornal&id=1680> .
Acesso em: 12 Set. 2020.
MALTA, D. C. et al. Saúde sexual dos adolescentes segundo a
Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares. Rev. bras.
epidemiol., São Paulo , v. 14, supl. 1, p. 147-156, Sept. 2011.
NÚCLEO DE TELESSAÚDE ESPÍRITO SANTO. Pode ser prescrito
método anticonceptivo para adolescente sem a autorização
dos pais? In: Biblioteca Virtual em Saúde. 2016. Disponível em
<https://aps.bvs.br/aps/pode-ser-prescrito-metodo-
anticonceptivo-para-adolescente-sem-a-autorizacao-dos-pais/>.
Acesso em 11 set. 2020.
SAÚDE NAVAL: CARTILHA DOENÇAS SEXUALMENTE
TRANSMISSÍVEIS/ AIDS. Disponível em:
<https://www.marinha.mil.br/saudenaval/sites/www.marinha.
mil.br.saudenaval/files/cartilha_ist_0.html#sintomas-ist>.
Acesso em: 11 set. de 2020
198
Capítulo 14
Planejamento Familiar
199
analistas indicam que ela tenha auxiliado na contenção
da explosão demográfica no país, visto que a China é o país
mais populoso do mundo, e atualmente se encontra entre as
maiores potências mundiais (SILVA, 2014, s/p).
SAIBA MAIS:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9263.htm#:~:text=
DO%20PLANEJAMENTO%20FAMILIAR-
,Art.,pelo%20homem%20ou%20pelo%20casal.
200
anticoncepcionais a preços reduzidos na rede Farmácia
Popular.
Segundo Eluf (2014), toda mulher em idade fértil (de 10 a
49 anos de idade) tem acesso aos anticoncepcionais nas
Unidades Básicas de Saúde, mas em muitos casos precisa
comparecer a uma consulta prévia com profissionais de saúde.
A escolha da metodologia mais adequada deverá ser feita pela
pessoa, após ela entender os prós e contras de cada um dos
métodos.
O Manual do Planejamento Familiar para Agentes
comunitários da Saúde23 discute o importante papel do agente
comunitário de saúde para identificar o desejo do indivíduo ou
do casal em querer ou não filhos/as, bem como as suas
necessidades de informação sobre os meios de evitar gravidez
ou de engravidar. É papel deste profissional informar a mulher
ou o casal sobre todas as maneiras, aprovadas pelo Ministério
da Saúde para facilitar a gravidez ou fazer a anticoncepção.
Segundo este manual, muitas vezes, é preciso conhecer melhor
o público que se pretende informar, assim como o melhor
meio de fazer isso, com “reuniões com mulheres, com casais,
com adolescentes ou apenas com os homens, conforme a
preferência das pessoas de sua localidade” (s/p). E o uso de
diferentes materiais didáticos são importantes, mas
principalmente:
23
Disponível em:
https://www.mpro.mp.br/documents/252409/1991392/ACS+E+PLANEJAMENTO+F
AMILIAR/087477b9-2d68-4e2f-bfd8-
1302be1d6cc0;jsessionid=EDDA03AF495A345126DAD6DECF194A2F.node01?versio
n=1.0
201
o estado de saúde fragilizado por doenças, fatores emocionais
como medo, vergonha e inibições para o uso, etc.
Quanto às características dos métodos, vários fatores
devem ser levados em conta, como sintetizamos no quadro
abaixo:
24
Numero de gravidezes a cada 100 mulheres no primeiro ano de uso.
202
parceiros/as, é que os métodos definitivos
devem ser considerados.
Com os altos índices de infecções sexualmente
Proteção às transmissíveis não somente na população jovem,
infecções mas também adulta, estimula-se sempre a dupla
sexualmente proteção, ou seja, o uso da camisinha masculina
transmissíveis e ou a feminina (nunca as duas juntas) que previna
também ao HIV as infecções sexuais e outro método para a
gravidez indesejada.
Fonte: as autoras, a partir de Brasil (2002, p. 13-15).
25
Podem ser encontradas em Cartilha Direitos Sexuais, direitos reprodutivos e
métodos anticoncepcionais (Caderno n. 02), – do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006,
p.10-13).
203
Métodos contraceptivos: o que são e como usar?
204
período fértil essa secreção ou
muco – tem aspecto de clara de
ovo - fica consistente e
grudento.
Consiste na capacidade do
Coito interrompido homem identificar o momento
(nem deveria ser precedente à ejaculação e retirar
considerado método) o pênis da vagina antes que essa
ocorra.
Trata-se de um envoltório de
látex que deve ser colocado no
pênis antes da penetração e
Preservativo ou
retirado imediatamente após a
camisinha masculina
ejaculação, impedindo que o
esperma seja excretado na
vagina.
Trata-se de um envoltório de
poliuretano ou nitrilo com uma
Preservativo ou das extremidades fechadas. A
camisinha feminina mulher introduz na vagina antes
das relações sexuais e deve
retirá-lo logo após a ejaculação.
Trata-se de um dispositivo em
MÉTODOS DE forma de cúpula que a mulher
BARREIRA coloca na vagina (cerca de 6h
antes da relação sexual) para
fechar e acesso ao útero,
Diafragma
visando impedir a entrada dos
espermatozoides. É
normalmente utilizado
conjuntamente a um
espermicida.
Trata-se de um dispositivo de
cobre inserido (por médico) na
Dispositivo Intra-
cavidade uterina que dificulta
Uterino (DIU)
passagem do espermatozoide
para útero.
205
(pelo médico) trimestralmente.
Inserido na vagina uma vez ao
Anel vaginal
mês no 5º dia na menstruação.
Colado na pele semanalmente
Adesivo
em diferentes locais do corpo
Método cirúrgico realizado na
Laqueadura mulher – trata-se da ligadura ou
corte das trompas.
MÉTODOS Método cirúrgico realizado no
DEFINITIVOS homem – trata-se da ligadura ou
Vasectomia corte dos canais deferentes o
que impede a chegada do
espermatozoide no esperma.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Métodos Comportamentais
Método Ogino-
Knaus (do
calendário ou
Tabelinha)
206
na ovulação, mas de qualquer forma, diante de um
calendário, a mulher identifica o período fértil ou o
provável dia da ovulação e evita relações sexuais antes e
depois.
Métodos Comportamentais
Temperatura
Basal
207
Métodos Comportamentais
Muco Cervical ou
método de Billings (o
nome do médico que
descobriu esse muco)
ATENÇÃO
208
MÉTODOS COMPORTAMENTAIS/NATURAIS:
Tabelinha (TA), Temperatura (TE) e Muco (MU)
Reaproveitável
Pode causar estresse pela
Casais religiosos e restrição de dias para as
contra outros métodos relações sexuais no
Outros aceitam usar os período fértil;
naturais. Não são recomendados
para adolescentes por
serem instáveis na
eficácia.
Métodos de Barreira
Preservativo ou
Camisinha Masculina
209
A Camisinha masculina é muito conhecida. De fácil acesso
é, sem dúvida, o melhor método a ser indicado para jovens
porque previne também contra as infecções sexualmente
transmissíveis. Atualmente elas são distribuídas nos
Centros de saúde gratuitamente e no mercado há vários
tipos e modelos à venda: com cheiros, texturas, tamanhos,
times de futebol na caixa, etc. O importante é garantir que
esteja na validade, que tenha o símbolo do INMETRO (o
que garante a qualidade do produto) e que não tenha sido
guardada exposta ao sol.
210
Métodos de Barreira
Preservativo ou
Camisinha Feminina
211
A camisinha feminina já vem lubrificada dentro da sua
embalagem, que é relativamente bem maior que a
embalagem da camisinha masculina.
MÉTODO DE BARREIRA:
Camisinha masculina (CM) e Camisinha feminina (CF)
212
É fácil de encontrar para Tem distribuição gratuita
comprar em postos de saúde
(supermercado, postos, (CM).
Onde farmácias) e não exige
encontrar/comprar? receita médica (CM). É para ter nos postos de
É fácil de encontrar em saúde, mas as vezes está
farmácias e não exige em falta ou é distribuída
receita médica (CF). somente a profissionais
do sexo (CF).
É relativamente barata,
além de ter de graça nos
postos de saúde (CM).
213
Métodos de Barreira
Diafragma
214
e guardar em embalagem própria para a próxima
utilização.
Métodos de Barreira
Dispositivo
Intrauterino
DIU
215
É um pequeno objeto de plástico polietileno, geralmente
recoberto de cobre, que age diminuindo a mobilidade dos
espermatozoides, funcionando como uma barreira que
impede o encontro dos espermatozoides com o óvulo.
É um procedimento que só
Onde deve ser realizado por um
encontrar/comprar? profissional da saúde.
É oferecido pelo SUS, mas só
é colocado com justificativa
Custo/benefício médica; em consultório
particular o custo é
mediano, mas tem longa
duração
É reversível para a
Reversibilidade fertilidade, basta
retirar e parar seu
uso
216
O aumento do fluxo
Não há nenhuma menstrual e de cólicas pode
Efeitos Colaterais interferência na incomodar a mulher.
resposta sexual Aumenta os riscos de
infecções e inflamações,
associadas à ISTs
A anticoncepção está
Uso individual ou concentrada na mulher que
pelo casal usa o DIU, mas os cuidados
com as IST devem ser de
ambos
Reaproveitável
Métodos Hormonais
Pílula combinada
(PC)
217
Cada organismo é único e vai se adaptar a uma
determinada pílula.
Métodos Hormonais
218
Métodos Hormonais
Anticoncepcional
injetável
MÉTODOS HORMONAIS:
PC- Pílula combinada; PE- Pílula de emergência e
PI- Pílula Injetável
219
cefaleia, tontura,
Regula e diminui o sangramentos, irritabilidade,
ciclo menstrual. perda ou aumento de peso
Efeitos Colaterais Alivia as cólicas (PI).
(PC) Pode causar náuseas, vômitos,
tontura, desconforto nas
mamas, sangramento e dor de
cabeça.
Pode interferir no ciclo
menstrual e, se houver uso
contínuo, pode deixar de fazer
efeito (PE).
Uso individual ou Individual pela mulher (PC, PE,
pelo casal PI).
Reaproveitável Não.
OBSERVAÇÃO:
Métodos Definitivos
Esterilização
Feminina
ou Laqueadura
220
cauterização, com um corte ou fechadas com grampos e
anéis cirúrgicos.
MÉTODO DEFINITIVO:
ESTERILIZAÇÃO FEMININA OU LAQUEADURA
É um procedimento
cirúrgico que exige
anestesia, internação e
Onde acesso ao sistema de
encontrar/comprar? saúde. Atualmente tem
sido feita por Laparoscopia,
que é uma cirurgia menos
invasiva.
Não é realizado
gratuitamente sem
Custo/benefício justificativas; sem plano de
saúde é uma cirurgia e tem
alto custo, mas o efeito é
definitivo.
É irreversível para a
fertilidade, portanto, deve
Reversabilidade ser uma decisão bem
planejada pela mulher e
parceiro/aa.
Reaproveitável
Outros
221
OBSERVAÇÃO:
Métodos Definitivos
Esterilização
Masculina ou
Vasectomia
MÉTODO DEFINITIVO:
ESTERILIZAÇÃO MASCULINA OU VASECTOMIA
222
Protege contra IST Não protege contra nenhuma
e/ou gravidez IST.
É um procedimento cirúrgico
Onde que exige anestesia local e
encontrar/comprar? acesso ao sistema de saúde ou
consultório.
Não é realizado gratuitamente
sem justificativas; sem plano
Custo/benefício de saúde é uma cirurgia e tem
alto custo, mas é definitivo.
É irreversível para a fertilidade,
Reversibilidade portanto, deve ser uma decisão
bem planejada pelo homem e a
parceira/o.
Efeitos Colaterais Não há nenhuma Apesar de ser uma cirurgia
interferência simples, há os riscos pós-
hormonal e na cirúrgicos.
resposta sexual
A anticoncepção está
concentrada na pessoa que faz
Uso individual ou a cirurgia; a parceira/o
pelo casal continua fértil e isso é
importante para ser
considerado em caso de uma
futura separação.
Reaproveitável
OBSERVAÇÃO:
223
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde
reprodutiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 300 p.
(Cadernos de Atenção Básica, n. 26).
Vídeos:
Os principais métodos contraceptivos- Canal “Saúde da
Mulher”- Dra. Laura Lúcia
https://www.youtube.com/watch?v=jzwPWaJnYpg
ATIVIDADES PRÁTICAS
224
Também hoje em dia basta escrever no “google” sobre
contracepção que várias informações aparecem, mas isso não
garante que os/as adolescentes sejam bem informados/as,
tenham acesso aos métodos, ou os utilizem de fato quando
tem relações sexuais.
É importante que um/a mediador/a (ou educador/a
sexual), participe das discussões sobre a utilização dos
métodos, sobre as dificuldades de negociação para o uso, etc.,
visando a formação de atitudes.
Em programas de educação sexual, sempre se reforça a
necessidade do uso de preservativos devido ao fato de ser esse
o único meio de prevenção às infecções sexualmente
transmissíveis. Mas, como este manual é sobre contracepção,
vamos considerar a prevenção da gravidez, e incluir os
diferentes métodos existentes nas propostas de dinâmicas que
listamos, a seguir.
225
Materiais: narrativas (Apêndice 2).
Procedimentos: Divide-se a sala em subgrupos. Para cada
subgrupo, entrega-se uma Situação. Em cada situação há uma
narrativa em que se pode escolher quais métodos
contraceptivos podem ser usados. O subgrupo deve escolher
um método. Depois abre a sala em círculo e cada subgrupo
apresenta sua narrativa, conta o método escolhido e justifica a
escolha.
Variação: pode pedir para o subgrupo dramatizar a situação.
Ou então, discutir o que ocorreria caso não utilizassem o
método contraceptivo.
Respostas:
Situação A- Resposta: Esterilização.
Situação B- Resposta: Camisinha masculina ou Camisinha
feminina.
Situação C- Resposta: Algum método natural -Tabelinha ou
Billings/muco cervical (temperatura é mais difícil e melhor ser
usado para ter filhos).
Situação D- Resposta: Dispositivo Intra Uterino – DIU. Poderia
até ser a vasectomia nele, mas como são jovens, podem ainda
querer outros filhos.
Situação E- Resposta: a pílula anticoncepcional oral (ou
injetável)
226
APÊNDICES
SITUAÇÃO A
Uma mulher com 33 anos, mãe solteira, com dificuldades
financeiras, já teve 5 filhos. Além de tudo isso, desde seu
penúltimo parto, ela teve risco de morte por um caso de
eclampsia que o médico disse que pode se repetir caso ela
engravide novamente.
Qual o melhor método contraceptivo para este caso e por quê?
227
SITUAÇÃO B
Uma garota de 16 anos está namorando um rapaz de 17 há
quase um ano. Ele é um aluno novo da escola e ela está
apaixonada. Cada vez que ficam juntos, o tesão aumenta e
várias vezes quase fizeram sexo (efetivando uma penetração
do pênis na vagina). Ela morre de medo de engravidar e,
embora esteja apaixonada, acha que não vai aguentar muito
tempo e pensou em usar um método na hora que isso
acontecesse.
Qual o melhor método contraceptivo para este caso e por que?
SITUAÇÃO C
Uma mulher muito religiosa acha que é pecado usar qualquer
método contraceptivo, mas ela não aguenta mais as
dificuldades financeiras e tanto trabalho para cuidar da casa e
dos filhos. Seu médico indicou o DIU, mas ela acha que é
pecado porque “causa aborto”, mesmo ele dizendo que isso
não acontece. Também propôs a pílula, mas ela não teve
coragem e seu marido também não gostou da ideia, disse que
era pecado tomar algo artificial para não ter filhos.
Qual o melhor método contraceptivo para este caso e por que?
SITUAÇÃO D
Um jovem casal está junto há 18 anos e levam uma vida
sexualmente ativa. Não desejam mais filhos, porque já têm
dois e estão se dedicando à vida profissional. Mostram-se fiéis
um ao outro, têm projetos de vida em comum e são muito
unidos. Ela já tentou tomar pílula, mas como tem dor de
estômago não se habitua com os efeitos colaterais.
Qual o melhor método contraceptivo para este caso e por que?
228
SITUAÇÃO E
Um casal acaba de se formar e namoraram toda a faculdade.
Nutrem um amor muito bonito e pretendem, depois que
estiverem mais estabelecidos, se casarem. Tem vida sexual
ativa, já fizeram testes de HIV/AIDS e outras doenças. Os dois
nunca tiveram nenhuma doença, nem se relacionaram
sexualmente com outras pessoas. Estão cansados de usarem a
camisinha e, como vão morar juntos, confiam um no outro,
querem mudar o método para evitar a gravidez porque sabem
que no momento não seria uma boa hora para ter filhos.
Qual o melhor método contraceptivo para este caso e por que?
1. COITO INTERROMPIDO
2. CAMISINHA MASCULINA
3. CAMISINHA FEMININA
4. BILLINGS/MUCO CERVICAL
5. INJECÇÕES
6. ADESIVO HORMONAL
7. TABELINHA
8. TEMPERATURA BASAL
9. DIU - DISPOSITIVO INTRA UTERINO
10. DIAFRAGMA
11. ESPERMICIDA
12. PÍLULA
13. PÍLULA DO DIA SEGUINTE
14. IMPLANTES
15. VASECTOMIA
16. LAQUEADURA
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES PÍLULA TEMPERATURA
INTERROMPIDO
DIU -
ADESIVO CAMISINHA
DISPOSITIVO IMPLANTES
HORMONAL FEMININO
INTRA UTERINO
PÍLULA DO DIA BILLINGS OU
LAQUEADURA DIAFRAGMA
SEGUINTE MUCO
229
FRASES PARA SEREM DESTACADAS, DOBRADAS E
SORTEADAS.
230
tomam diariamente para inibir a ovulação. Há vários tipos e
dosagens.
BINGO Cartela 01
COITO
PÍLULA TEMPERATURA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA DIAFRAGMA
SEGUINTE
231
BINGO Cartela 02
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA
MASCULINA
BINGO Cartela 03
CAMISINHA TABELINHA
VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES PÍLULA
INTERROMPIDO
ADESIVO CAMISINHA
IMPLANTES
HORMONAL FEMININA
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
BINGO Cartela 04
CAMISINHA
ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES TEMPERATURA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
DIAFRAGMA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
232
BINGO Cartela 05
TABELINHA VASECTOMIA
COITO
INJEÇÕES PÍLULA TEMPERATURA
INTERROMPIDO
ADESIVO
IMPLANTES
HORMONAL
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA DIAFRAGMA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
BINGO Cartela 06
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
INJEÇÕES TEMPERATURA
BINGO Cartela 07
CAMISINHA
ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES PÍLULA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA DIAFRAGMA
SEGUINTE
233
BINGO Cartela 08
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA
MASCULINA
COITO
PÍLULA TEMPERATURA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
BINGO Cartela 09
COITO
INJEÇÕES TEMPERATURA
INTERROMPIDO
ADESIVO CAMISINHA
IMPLANTES
HORMONAL FEMININA
BINGO Cartela 10
CAMISINHA
TABELINHA VASECTOMIA
MASCULINA
INJEÇÕES PÍLULA
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA DIAFRAGMA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
234
BINGO Cartela 11
COITO
INJEÇÕES PÍLULA TEMPERATURA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA DIAFRAGMA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
BINGO Cartela 12
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
BINGO Cartela 13
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES PÍLULA TEMPERATURA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA DIAFRAGMA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
235
BINGO Cartela 14
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES PÍLULA TEMPERATURA
INTERROMPIDO
BINGO Cartela 15
ADESIVO CAMISINHA
IMPLANTES
HORMONAL FEMININA
PÍLULA DO DIA
DIAFRAGMA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
BINGO Cartela 16
CAMISINHA
ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
PÍLULA TEMPERATURA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
236
BINGO Cartela 17
CAMISINHA
TABELINHA VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES TEMPERATURA
INTERROMPIDO
BINGO Cartela 18
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES PÍLULA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA DIAFRAGMA
SEGUINTE
BINGO Cartela 19
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA
MASCULINA
COITO
INJEÇÕES TEMPERATURA
INTERROMPIDO
PÍLULA DO DIA
DIAFRAGMA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
237
BINGO Cartela 20
CAMISINHA
TABELINHA ESPERMICIDA VASECTOMIA
MASCULINA
COITO
TEMPERATURA
INTERROMPIDO
DIU - DISPOSITIVO
IMPLANTES
INTRA UTERINO
PÍLULA DO DIA
LAQUEADURA DIAFRAGMA BILLINGS OU MUCO
SEGUINTE
238
As fotos da Capa e da Parte I e Parte II fazem parte do
arquivo pessoal da organizadora. Os métodos
contraceptivos exibidos são objetos pessoais, sem nenhum
interesse de divulgação comercial. Os bonecos sexuados que
aparecem são materiais didáticos utilizados nos programas
de educação sexual comprados no Ateliê Marilita:
https://www.familiaterapeutica.com.br/
239
SOBRE AS AUTORAS E AUTORES
240
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” -
UNESP, campus de Bauru.
E-mail: gabriela.barcellos14@gmail.com
241
Desenvolvimento Humano, Sexualidade, Educação Sexual e
Inclusão.
E-mail: leilane.spadotto@hotmail.com
242
E-mail: renan.valli@gmail.com
243
SOBRE A ORGANIZADORA
244
245