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Coordenadoria Regional de Saúde - Sul

Área Técnica de Atenção Integral à Saúde da Pessoa


em Situação de Violência

Dossiê Equipes Especializadas de Violência contra a


Criança e Adolescente

Série de documentos
importantes que tratam da
história, objetivos e
produtividade das Equipes
Especializadas no atendimento
à Crianças e Adolescentes
Vítimas e/ou Testemunhas de
Violência da região Sul/São
Paulo.

São Paulo, 2021

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2021, Coordenadoria Regional de Saúde - Sul.
Elaboração, distribuição e Organização: Analu Brandão Shiota

Lúcia Ferraz Corrêa Amanda Bueno Atílio Cipriani


informações:
Alba Bianco de Freitas Ana Lucia Rosa de Jesus
COORDENADORIA REGIONAL
Maria Isabel Metzler Guedes Paula Saloio Mendes
DE SAÚDE - SUL
Patrícia Leal Sousa Jorcelina Célia de Oliveira
Área Técnica de Atenção Integral
Rosana Aparecida Soares de Jesus Maria Zaira Benites Goncalves
à Saúde da Pessoa em Situação de
Alexander Augusto Rodrigues Ériko Batista
Violência
Tallyta Conceição Campos Costa Everton Borges
Área Técnica de Vigilância das
Luca Loccoman
Violência
Lucy Talita da Silva
R. Fernandes Moreira, 1470 - Autoria:
Mariana Cavalcanti
Chácara Santo Antônio (Zona Lúcia Ferraz Corrêa
Patricia Villaça Azevedo
Sul), São Paulo - SP, 04717-003 Maria Isabel Metzler Guedes
Marina Siqueira
E-mail: Patrícia Leal Sousa
Daniela Macedo
crssulsaudeviolencia@gmail.com Rosana Aparecida Soares de Jesus
Guilherme Costa da Silva
Alexander Augusto Rodrigues
Rute Ferreira
Coordenação: Tallyta Conceição Campos Costa
Amonick Carolina de Souza
Lúcia Ferraz Corrêa Elizangela da Penha Neubaner
Karen Souza de Melo
Alba Bianco de Freitas Camila Fernandes Rodrigues
Scheila de Souza Leandro
Maria Isabel Metzler Guedes Munira Simao Aiex
Simone da Silva Eduardo Santos
Patrícia Leal Sousa Ana Beatriz Silva Moura Queiroz
Marcela Isnard Leonardi Horta
Rosana Aparecida Soares de Jesus Desireé da Silva Marques
Lopes
Alexander Augusto Rodrigues Marilucy N. W. Marucci
Brunna Suzane Bizolati
Tallyta Conceição Campos Costa Carla Cristina Gameiro
Vanessa Dos Santos Rodrigues
Neuza Correia Cavalcante
Gisele C. de Almeida Leite Costa
Elisangela Alves Lima
Juliana M. Patroni Codato
Joice Sales Mesquita Silva
Paula Roberta dos Santos Lelis
Raquel Oliveira
Roberta S. Casarin

FICHA CATALOGRÁFICA
SÃO PAULO (Cidade). Coordenadoria Regional de Saúde - Sul. Área Técnica de Atenção Integral à Saúde da
Pessoa em Situação de Violência. Dossiê Equipes Especializadas de Violência contra a Criança e
Adolescente. São Paulo, SP: Coordenadoria Regional de Saúde - Sul, 2021.
1. Violência. 2. Equipes Especializadas de Violência 3. Infância e Adolescência. 4. Atenção Especializada. 5.
Rede Protetiva. 6. Lei 13.431/2017.

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Agradecimentos

Esse projeto começou como um sonho. Um sonho de construção de um espaço de


cuidado mais qualificado e que atendesse às reais necessidades das crianças e
adolescentes em situação de violência do território da região Sul da cidade de São Paulo.
Sonhamos todos juntos, mas para que isso se tornasse realidade, foi necessário o apoio de
muitos. Queremos aqui, em nome dos Interlocutores de Violência e Vigilância dos territórios
e também em nome dos interlocutores dos Parceiros/O.S. deixar um agradecimento aos
nossos gestores, parceiros da rede e amigos que contribuíram para que esse sonho se
tornasse realidade.

Aos nossos coordenadores Sandra Maria Sabino Fonseca e Marcelo Dell Aquila por
acreditar nesse projeto inédito e possibilitar a sua realização;

Aos assessores do Gabinete da CRS-SUL Carla de Brito Pereira e Alba Bianco de


Freitas pela confiança, apoio e empenho na luta para viabilização dessa proposta;

Aos nossos parceiros da Justiça Drº Lélio Ferraz de Siqueira Neto e Drº Flávio Américo
Frasseto pelas informações referentes à lei 13.431/2017 e pelas provocações frequentes
que aquecem essa rede tão potente;

Aos nossos interlocutores de Violência da SMS Jeniffer Caroline de Melo Turi Cancherini,
Cássia Liberato Muniz Ribeiro e Nelson Figueira Júnior que validaram a proposta junto ao
Gabinete da SMS e mantém-se empenhados na sua realização e expansão em todo o
município de São Paulo;

Aos supervisores das STS Rogério Mattos Hochheim, Maria Regina Rossi, Cleonice de
Oliveira Cardoso Exposito, Mariângela Pacheco Costa e Maurício Fernando Lopes que
apoiaram e identificaram espaços possíveis nos territórios para a implantação dessas
equipes;

Aos interlocutores de Violência das STS Elizangela da Penha Neubaner, Camila


Fernandes Rodrigues, Jorcelina Célia de Oliveira, Marilucy N. W. Marucci, Carla Cristina
Gameiro, Neuza Correia Cavalcante, Ana Lucia Rosa de Jesus, Teresinha Mazzeo, Tatiane
Ito e à Elenice Castelli Conceição (interlocutora de IST/AIDS de Capela do Socorro) por

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acompanharem as discussões, trazerem ideias e se empenharem na construção dessa
proposta e posterior viabilização;

Aos interlocutores de Violência de Vigilância dos territórios Nelson Yoshio Oguisso da


Cruz, Claudia Manoel Preto, William Malagutti, Maria Ayara da Cruz Silva, Vivian Cristina
Rodrigues da Silva e, em especial, à Patrícia Leal Sousa (CRS) e Maria Lúcia Aparecida
Scalco (SMS) por qualificarem a construção desse projeto e contribuírem com informações,
dados e indicadores de violência contra crianças e adolescentes que validaram a
necessidade da implantação dessas equipes;

Aos interlocutores dos parceiros e O.S. Munira Simão Aiex, Carla Aguiar, Amanda Bueno
Atílio Cipriani, Tatiana Helena da Silva, Joice Sales Mesquita Silva, Rosimere do
Nascimento e, em especial à Roberta S. Casarin, pela implantação da primeira EEV que se
tornou referência para as outras EEV dos territórios e que, junto aos seus gestores,
mobilizaram recursos e trabalharam na contratação, qualificação desses profissionais;

Aos interlocutores dos parceiros e O.S. Daniella Sampaio Zorzi e Marina Chansky Cohen
(Einstein) e ao Felipe Gargantini Cardarelli, Cristina Freire Weffort, Paulo Cezar da Silva e
Cristiane Stoever Dacal, que contribuíram na implantação das EEV junto ao apoio dos
profissionais das unidades das quais são gestores nos territórios da Sul;

Aos equipamentos de Saúde Mental e equipes NASF que vêm dando suporte há tanto
tempo às crianças e adolescentes em situação de violência nos territórios e agora atuam
em conjunto com as EEV na qualificação desses atendimentos;

Às interlocutoras de Saúde Mental Ivana S. Castro Feijó, Maria de Lourdes R. Pequeno e


Denise da Costa, interlocutoras da Saúde da Pessoa com Deficiência e Reabilitação Helena
Della Torre dos Santos Galinari e Gisele Moreira Falcão e interlocutoras da Saúde da
Criança/Adolescente Alexandra G. de A. Oliveira e Rosa Maria Fontes Lopes pela
contribuição técnica e apoio ao projeto;

Aos Hospitais e serviços de Urgência e Emergência do território da Sul pelo trabalho no


cuidado às crianças e adolescentes em situação de violência;

Aos profissionais dos NPV e Gerentes dos serviços de saúde pelo exponencial empenho
no atendimento à essa população;

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Aos estagiários de Violência e Mental da CRS e STS pela parceria e contribuição na
construção da proposta;

Aos profissionais que compõem as EEV Ériko Batista, Everton Borges, Luca Loccoman,
Lucy Talita da Silva, Mariana Cavalcanti, Patricia Villaça Azevedo; Marina Siqueira, Daniela
Macedo, Guilherme Costa da Silva, Rute Ferreira, Amonick Carolina de Souza, Karen
Souza de Melo; Marcela Isnard Leonardi Horta Lopes, Brunna Suzane Bizolati, Vanessa
Dos Santos Rodrigues; Scheila de Souza Leandro, Simone da Silva Eduardo Santos; Gisele
C. de Almeida Leite Costa, Juliana M. Patroni Codato e Paula Roberta dos Santos Lelis
pela coragem na realização de um trabalho tão difícil, pela competência adquirida através
de muito estudo e vivências e empenho na condução dos casos e potencialização da rede
de saúde;

Aos profissionais que realizam a Supervisão Clínico-Institucional das EEV Kate Delfini
Santos, Rosemary Peres Miyahara e Amaury Tadeu Rufatto pelo potencial apoio e suporte
necessário na condução dos casos;

Por fim, à todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram com esse sonho que hoje
se tornou realidade;

Nossos agradecimentos e considerações!

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“Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade”
Raul Seixas in Preludio

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Lista de Siglas

A.E. - Ambulatorio De CCA - Centro para CRS-SUL -


Especialidades Crianças e Adolescentes Coordenadoria Regional
de Saúde Sul
AMA - Assistência CEJAM - Centro de CT - Conselho Tutelar
Médica Ambulatorial Estudos e Pesquisas Dr.
João Amorim- DVE - Divisão de
AMA E - Assistência Organização Social de Vigilância Epidemiológica
Médica Ambulatorial de Saúde
Especialidades DPM - Demonstrativo de
CEINFO - Coordenação Produção Mensal
APD - Programa de Epidemiologia e
Acompanhante da Informação ECA - Estatuto da
Pessoa com Deficiência Criança e do Adolescente
CER - Centro
ASF - Associação Saúde Especializado em EEV - Equipe
da Família -Organização Reabilitação Especializada de
Social de Saúde Violência
COVISA - Coordenação
CAPS - Centro de de Vigilância em Saúde ESF - Estratégia Saúde
Atenção Psicossocial da Família
CRAS - Centro de
CAPS AD -Centro de Referência de IBGE - Instituto Brasileiro
Atenção Psicossocial Assistência Social de Geografia e Estatística
Álcool e Drogas
CREAS - Centro de IDH - Índice de
CAPS IJ - Centro de Referência Especializado Desenvolvimento
Atenção Psicossocial de Assistência Social Humano
InfantoJuvenil
CRS - Coordenadoria INTS - Instituto Nacional
CAPS Adulto - Centro de Regional de Saúde de Tecnologia e Saúde, é
Atenção Psicossocial uma Organização Social
Adulto de Saúde

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LC - Linha de Cuidado da OMS - Organização SINAN - Sistema de
Área Técnica de Atenção Mundial da Saúde Informações de Agravos
Integral à Saúde da OPAS - Organização de Notificação
Pessoa em Situação de Pan-Americana da Saúde
Violência SMADS - Secretaria
O.S. - Organização Municipal de Assistência
LGBTQIA+ - engloba Social de Saúde e Desenvolvimento Social
pessoas que são
lésbicas, gays, PA - Pronto Atendimento SMS-SP - Secretaria
bissexuais, transexuais, Municipal de Saúde de
travestis, transgêneros, PS - Pronto Socorro São Paulo
queer, intersexuais,
assexuais e mais PTS - Projeto Terapêutico SPVV - Serviço de
Singular Proteção Social às
MP -Ministério Público Crianças e adolescentes
RAPS - Rede de atenção Vítimas de Violência
NAAPA - Núcleo de psicossocial
Apoio e STS - Supervisão
Acompanhamento para a SACA - Santo Técnica de Saúde
Aprendizagem Amaro/Cidade Ademar
SUS - Sistema Único de
NDANT - Núcleo de SAE - Serviço de Saúde
Doenças e Agravos Não Assistência Especializada
Transmissíveis em HIV/ Aids TABNET - instrumento
que possibilita o acesso
NIR - Núcleo Interno de SAICA - Serviço de às bases de dados de
Regulação Acolhimento Institucional população e dos
para Crianças e sistemas de informações
NPV - Núcleos de Adolescentes do SUS
Prevenção à Violência
MS - Ministério da Saúde SIAB - Sistema de UBS - Unidade Básica de
Informação da Atenção Saúde
MSP - Município de São Básica
Paulo SIGA - Sistema Integrado UVIS - Unidade de
de Gestão de Assistência Vigilância em Saúde
à Saúde de São Paulo

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Sumário

Introdução: 12

História da Área Técnica de Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de


Violência: 12

Implantação das Equipes Especializadas de Violência: 16


Justificativa: 28
Objetivos 29
Objetivos Gerais: 29
Objetivos Específicos: 29
Metodologia: 30
Modalidade de Atendimento: 30
Critérios de Atendimento: 34
Atividades Específicas por Cargo: 37
Fluxos e Encaminhamentos: 44
Produtividade 46
Monitoramento e Avaliação: 49
Impactos: 53
Curso Ministrado pelo SEDES Sapientiae: 55
Supervisão Clínico-Institucional para as Equipes Especializadas: 58
Desafios: 61
Infraestrutura 61
Recursos Materiais e Financeiros 61
Recursos Humanos 61
Apontamento da Produção 62
Definição de Papéis e Estabelecimento de Fluxos com a Rede de Saúde e a Rede
Intersetorial/intersecretarial 67
Proposta de Ampliação: 69
Considerações Finais: 72
Referências: 73

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Introdução:

Esse Dossiê tem como objetivo relatar a construção de uma proposta de política
pública voltada para a assistência de crianças e adolescentes vítimas e/ou
testemunhas de violência com intenso sofrimento psíquico e que demandam uma
atenção especializada pela sua complexidade. Cabe ressaltar que essa proposta
surgiu do trabalho de muitos profissionais que compõem os NPV das unidades de
saúde, dos cinco territórios da Coordenadoria Regional de Saúde - Sul, conforme
será discutido posteriormente.

A ideia deste documento, é de apresentar essa proposta para a Secretaria


Municipal de Saúde como uma ação exitosa avaliada por muitos como fundamental
no cuidado das crianças e adolescentes em situação de violência, ou seja, como
uma proposta de política pública a ser validada para o município de São Paulo.
Ao longo deste Dossiê serão discutidos desde o processo de implantação dessas
equipes, com as suas dificuldades e desafios encontrados nos territórios da região
Sul, até os impactos na população atendida e na potencialização dos NPV no
manejo dos casos de crianças e adolescentes em situação de violência. Cabe aqui
expressar um agradecimento a todos os nossos gestores da CRS-Sul, em especial
a Sandra Sabino, Carla Brito, Marcelo Dell Aquila e Alba Bianco, aos supervisores,
interlocuções de violência e vigilância dos nossos cinco territórios e aos
parceiros/O.S. que acreditaram nessa proposta e se empenharam para viabilizá-la.

História da Área Técnica de Atenção Integral à


Saúde da Pessoa em Situação de Violência:

As questões relativas às violências na sociedade contemporânea tornaram-se


objeto de reflexão e de estudo em virtude da magnitude e gravidade do problema. É
uma questão que afeta as diferentes camadas sociais, todos os gêneros e todas as
faixas etárias, devendo ser compreendida dentro dos marcos das relações
socioeconômicas, políticas, de saúde e culturais específicas.

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Os serviços de saúde constituem-se em um espaço privilegiado para a
identificação, acolhimento e atendimento das pessoas em situação de violência,
caracterizando- se como local propício para o exercício da transversalidade do
cuidado.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), bem como a Organização
Mundial de Saúde (OMS) destacam este agravo (a violência) como uma das
prioridades do setor da saúde.
O Município de São Paulo (MSP) apresenta uma grande complexidade de
problemas e de desigualdades sociais. Numa cidade de, aproximadamente, 12
milhões de habitantes, coexistem diferentes culturas, religiões, ambientes urbanos e
organizações sociais.
Com relação às questões de violência, os impactos são evidentes no cenário do
município. Em relação a este agravo também existem heterogeneidades quanto ao
número e tipo de ocorrência, nas diferentes regiões da cidade.
Neste sentido, buscando respeitar as características de cada território, a
Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP) estabeleceu uma política de
descentralização do cuidado e investiu no aprimoramento da política pública de
atenção à saúde das pessoas em situação de violência.
Desse modo, a SMS-SP por meio da Área Temática, antes denominada “Cultura
de Paz e Cidadania” e atualmente “Atenção Integral à Saúde da Pessoa em
Situação de Violência”, em parceria com o Núcleo de Doenças e Agravos Não
Transmissíveis (NDANT)/Divisão de Vigilância Epidemiológica (DVE)/ Coordenação
de Vigilância em Saúde (COVISA), desencadearam ações visando a formulação de
políticas públicas voltadas para minimizar o impacto das diversas formas de
violência sobre os cidadãos.
Em 2012 foi publicado o documento Norteador para Atenção Integral às Pessoas
em Situação de Violência que definiu os princípios, estratégias, atribuições dos
atores, fluxos e metodologias da política municipal. Além disso, este documento
buscou atender a necessidade de um conjunto de princípios que orientassem a
política e o cuidado às pessoas em situação de violência através dos Núcleos de
Prevenção à Violência (NPV). Ainda nessa época, a existência dos NPV não era
obrigatória, sendo apenas uma orientação para a articulação do cuidado.

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O Núcleo de Prevenção à Violência, corresponde à equipe de referência da
unidade de saúde responsável pela organização do atendimento e articulação das
ações de promoção e prevenção a serem desencadeadas para a superação da
violência e transformação cultural. Deve ser composto por no mínimo quatro
profissionais, de qualquer categoria, podendo este número ser ampliado (SÃO
PAULO, 2012).
A partir de 2014 com a publicação do Plano Municipal de Saúde 2014 – 2017 da
Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, foi pactuado com o Conselho
Municipal de Saúde, metas para Área Técnica de Atenção Integral à Saúde das
Pessoas em Situação de Violência, das quais destacamos (SÃO PAULO, 2014):
● Publicação da portaria 1.300 de 2015-SMSG, que institucionaliza os Núcleos
de Prevenção de Violência em todos os serviços municipais de saúde.
Torna-se, então, obrigatório a existência dos NPV em todos os serviços
municipais de saúde (SÃO PAULO, 2015);

● Elaboração e publicação da Linha de Cuidado de Atenção Integral à Saúde


das Pessoas em Situação de Violência (LC) em 2015;

● Processo de Educação Permanente aos funcionários públicos municipais


para a implantação da Linha de Cuidados em todos os serviços de saúde. Na
região sul essa capacitação ocorreu no período de 2016 a 2018, envolvendo
os profissionais das unidades de saúde das 05 Supervisões Técnicas de
Saúde.

Com a implantação da Linha de Cuidados em 2015, as estratégias se dão na


consolidação e potencialização dos Núcleos de Prevenção de Violência (NPV),
operando nas seguintes esferas:

● Descentralização do cuidado: aumenta a proximidade do território e


amplia o acesso das pessoas em situação de violência;
● A Linha de Cuidados ratifica que o NPV corresponde à equipe
responsável por articular o cuidado nos Serviços de Saúde. Suas
principais atribuições são:

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○ Facilitar o processo de organização das ações de prevenção e
assistência;
○ Contribuir para o desenvolvimento de ações de promoção de saúde
e de cultura de paz;

○ Fortalecer o sistema de vigilância em saúde por meio da realização


das notificações dos casos.

Segundo a Linha de Cuidados, na página 65, no capítulo 9.3, é possível destacar


que:
A promoção da saúde e da Cultura de Paz e a prevenção de violências
contra crianças e adolescentes é papel de todos. Devem abranger ações
coletivas, envolvendo instituições de educação e ensino, associações,
grupos formais e informais e lideranças comunitárias e juvenis, dentre
outros, como parceiros fundamentais. As ações preventivas na
comunidade são essenciais para a redução dos riscos de violência e
promoção da cultura de paz no território. A atuação mais eficaz é aquela
que inclui, faz alianças e se torna presente na vida cotidiana das famílias e
das comunidades. (SÃO PAULO, 2015, p. 65)

“Prevenir a violência contra a criança e o adolescente é possível e quanto mais


cedo se inicia a prevenção maiores são as chances de proteger os membros da
família deste problema” (SÃO PAULO, 2015, p.65). É possível estabelecer vínculos
seguros, desde a tenra idade, que facilitam a formação da autoestima, da resiliência
e da visão positiva do mundo (SÃO PAULO, 2015, P. 65).
Outra forma de prevenir a violência é “identificar as situações familiares que
podem gerar maior vulnerabilidade às práticas violentas” (SÃO PAULO, 2015,
p.65). Situações como desemprego, desproteção social, uso abusivo de álcool e
outras drogas, separação conjugal, morte de um dos membros do grupo familiar,
fora os atravessamentos de preconceitos estruturais, tais como o Racismo, a
LGBTQIA+fobia, o Machismo e o Capacitismo, requerem atenção redobrada à
família no sentido de ajudá-la a lidar com tais adversidades e a minimizar o uso da
violência como forma de enfrentá-las (SÃO PAULO, 2015, p.65).
Todas as orientações descritas na linha são revisitadas em processo constante
de educação permanente nos fóruns mensais, com um ou mais representante dos
NPV de cada unidade de saúde, em cada uma das Supervisões Técnicas de Saúde.
Em relação aos dados epidemiológicos da violência, no segundo semestre de
2015 no município de São Paulo houve nova transição de sistema de vigilância em

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saúde, com a utilização da ficha de notificação do SINAN (Sistema de Informação
de Agravos de Notificação), conforme Portaria, 1.102, SMS/COVISA, de 20 de junho
de 2015. Da última transição do sistema a violência sexual e a tentativa de suicídio
passaram a ser notificadas dentro de 24 horas.

Implantação das Equipes Especializadas de


Violência:
Partindo dos elementos apresentados na Linha de Cuidados e o cenário atual,
podemos observar que a violência contra crianças e adolescentes constitui um
grave problema social presente em países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Ela acompanha a trajetória da humanidade, manifestando de múltiplas formas, nos
diferentes momentos históricos e sociais de acordo com os aspectos culturais.
Os dados da notificação de violência contra crianças e adolescentes na CRS Sul
mostram o aumento dos casos de violência atendidos nos serviços de saúde com
destaque para as meninas adolescentes:

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A violência que acomete crianças e adolescentes é definida pelo Ministério da
Saúde como “quaisquer atos ou omissão dos pais, parentes, responsáveis,
instituições e, em última instância, da sociedade em geral, que redundam em dano
físico, emocional, sexual e moral às vítimas” (Brasil, 2001).
A ausência, portanto, de políticas públicas de saúde para o tratamento
especializado de crianças e adolescentes representa uma violação não apenas ao
texto legal expresso, que prevê a existência de tal estrutura dentro da "rede de
proteção à criança e ao adolescente", mas à própria Constituição Federal.
Durante a capacitação para a implantação da Linha de Cuidados para a Atenção
Integral à Saúde da Pessoa em Situação de Violência (2016 - 2017) as 5
Supervisões Técnicas de Saúde (interlocutores de violência e interlocutores dos
parceiros) da CRS-Sul identificaram a necessidade de pensarmos um projeto piloto
para o atendimento da infância e adolescência vítima e/ou testemunha de violência
em intenso sofrimento psíquico e alta vulnerabilidade. Identificamos que essas
crianças e adolescentes necessitavam de uma atenção especializada e não
encontramos nos serviços existentes da Atenção Secundária espaço adequado para
isso. Pensamos então,na criação e implantação de uma equipe na Atenção
Especializada, composta por profissionais ligados à Saúde Mental (Psicólogos,
Terapeutas Ocupacionais e Assistentes Sociais) com a função de serem referência

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para os Núcleos de Prevenção à Violência das unidades de saúde no cuidado dos
casos que necessitavam, inclusive, do atendimento em psicoterapia.
Com a publicação da Lei 13.431/17 (BRASIL, 2017), essa proposta levantada
durante a capacitação para a Linha de Cuidados, passou a ser validada pela Área
Técnica da Secretaria Municipal de Saúde e o então interlocutor da Área Técnica de
Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de Violência em SMS, o senhor
Nelson, conseguiu, junto à Atenção Básica, que a implantação dessas equipes
passassem a ser meta do Plano Municipal de Saúde da época (SÃO PAULO, 2018).
No Plano Municipal de Saúde de 2018 a 2021 estava previsto como meta, na
página 63:
A implantação nas 27 Supervisões Técnicas de Saúde um serviço de
referência para atendimento especializado em violência, com foco em
violência sexual, segundo a Lei 13.431/17, que versa sobre o sistema de
garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de
violência e altera o ECA. (SÃO PAULO, 2018, p. 63)

A Lei 13.431/17 foi citada como justificativa visto que:

● normatiza e organiza o sistema de garantia de direitos da criança e do


adolescente vítima ou testemunha de violência;
● cria mecanismos para prevenir e coibir a violência;
● estabelece medidas de assistência e proteção à criança e ao adolescente
em situação de violência.

O decreto nº 9.603, de 10 de Dezembro de 2018, em seu Art. 1º regulamenta a


Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia de
direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. (BRASIL,
2018)
O. Art. 10º determina que a atenção à saúde das crianças e dos adolescentes em
situação de violência será realizada por equipe multiprofissional do Sistema Único
de Saúde - SUS, nos diversos níveis de atenção, englobando o acolhimento, o
atendimento, o tratamento especializado, a notificação e o seguimento da rede
(BRASIL, 2018).
O Parágrafo único deste decreto, identifica que nos casos de violência sexual, o
atendimento deverá incluir exames, medidas profiláticas contra infecções
sexualmente transmissíveis, anticoncepção de emergência, orientações, quando

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houver necessidade, além da coleta, da identificação, da descrição e da guarda de
vestígios (BRASIL, 2018).
O Art. 19 fala que a escuta especializada é o procedimento realizado pelos
órgãos da rede de proteção nos campos da educação, da saúde, da assistência
social, da segurança pública e dos direitos humanos, com o objetivo de assegurar o
acompanhamento da vítima ou da testemunha de violência, para a superação das
consequências da violação sofrida, limitado ao estritamente necessário para o
cumprimento da finalidade de proteção social e de provimento de cuidados
(BRASIL, 2018).
Respondendo a esta meta e à lei 13.431/2017, no final de 2018 a STS de M’Boi
Mirim, em parceria com a Organização Social Associação Comunitária Monte Azul,
tomou a iniciativa de implantação de uma equipe especializada no atendimento a
violência. Em seguida, no ano de 2019 e 2020, as outras Supervisões Técnicas de
Saúde passaram a implementar também as suas Equipes Especializadas, embora
com o número reduzido, em comparação à experiência do M'boi Mirim. Cabe
ressaltar que a região Sul conseguiu implantar as equipes pelo esforço individual de
cada parceiro/Organização Social, ou seja, sem recursos extras, realocando os
recursos já disponíveis na contratação de profissionais exclusivos para comporem
as Equipes Especializadas.
Cabe ressaltar que em alguns territórios, foi-se utilizado como estratégia a
utilização de parte da carga horária de profissionais ligados à equipes de saúde
mental (STS Capela do Socorro e STS Parelheiros) e APD (STS Campo Limpo), até
a contratação de uma equipe mínima composta por 06 profissionais exclusivos.
Nesse sentido, cabe retomar aqui, a história de implantação das Equipes
Especializadas de Violência nos territórios da Coordenadoria Regional de Saúde
Sul. Todas as equipes foram criadas e pensadas a partir do cenário exposto acima,
justificando-se pelo aumento do número de casos de violência contra crianças e
adolescentes notificados e amparados pela Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017.
A Equipe Especializada no Atendimento às Vítimas e Testemunhas de Violência
de M’ Boi Mirim foi a primeira equipe a ser implantada no município de São Paulo. A
implantação ocorreu em dezembro de 2018, através da STS M’ Boi Mirim e da
Organização Social Associação Comunitária Monte Azul.

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A partir das reuniões dos Fóruns de NPV, promovidos pela Supervisão Técnica
de Saúde de M’ Boi Mirim, Coordenadoria Regional de Saúde Sul e com a
participação dos profissionais dos territórios do Jd. São Luiz e Jd. Ângela foi
realizado levantamento dos casos através das planilhas de monitoramento
existentes no território e o cruzamento dos dados com a ficha de notificação SINAN
( uma metodologia que foi implantada a partir desse trabalho). Esse levantamento
foi realizado durante o ano de 2017 e, como resultado, foi possível constatar o alto
índice de violência, principalmente sexual contra crianças e adolescentes,
ressaltando a necessidade de um serviço na rede que ofertasse a assistência
terapêutica e/ou acompanhamento, a médio e longo prazo, para as pessoas em
situação de violência.
Em dezembro de 2018 foi realizado processo seletivo para a contratação dos
profissionais que comporiam a equipe. O processo foi voltado para profissionais
com experiência e/ou vivência na especificidade da violência, bem como, desejável
especialização na temática. A equipe foi e é composta por 06 profissionais, sendo
02 assistentes sociais, 02 psicólogos e 02 terapeutas ocupacionais.
A equipe especializada de M’ Boi Mirim, é referência para 30 UBSs,
aproximadamente 610.000 mil habitantes. Está localizada na UBS Jd. Thomas, que
passou por reforma e ajustes para o recebimento da equipe. A equipe dispõe de 03
salas para atendimento de crianças, adolescentes e adultos e possui material
didático e lúdico para a realização das atividades.
Nos primeiros 03 meses de 2019, as atividades da equipe foram direcionadas
para o conhecimento do território e dos serviços que compunham a rede de saúde,
da assistência social e da educação. Foram realizadas apresentações e discussões
nas reuniões de NPV das UBSs. Em 08 de Abril de 2019 foi aberta a agenda para
os atendimentos individuais e em grupo e no decorrer do ano foi ofertado também
as reuniões de matriciamento para todas as 30 UBSs de M’ Boi Mirim.
Alguns desafios são prevalentes e os indicadores sociais do território apontam
para uma região de extrema vulnerabilidade social, com altos índices de violência,
pobreza, tráfico de drogas, baixa renda familiar e/ou desemprego, baixa
escolaridade e abandono escolar.
Em sua maioria, os lares são liderados por mulheres, com baixa escolaridade e
baixa perspectiva financeira e/ou social. Há uma grande evasão escolar retratando a

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possível dificuldade destas famílias no acompanhamento escolar das crianças e
adolescentes, resultando na dificuldade de aprendizagem, no maior envolvimento
com tráfico de drogas local e gestação na adolescência.
Situações como violência coletiva, violência auto infligida, violência doméstica,
violência sexual, agressões físicas, uso abusivo de álcool e drogas, questões de
gênero entre outras, maximizam a relevância das ações que promovam a garantia
da cidadania e o acesso aos direitos e necessidades do cidadão. A Equipe
Especializada surge, portanto, enquanto uma resposta à esse cenário.
A região de M’Boi Mirim foi, então, a pioneira deste trabalho. Com o
financiamento da Organização Social Monte Azul, a equipe se estruturou e começou
a ter engajamento no território, sendo hoje reconhecida como um modelo nesta
modalidade de atendimento.
Em 2019, graças aos impactos produzidos na região de M’Boi Mirim pela Equipe
Especializada, outras Organizações Sociais da região Sul começaram a se mobilizar
para compor uma equipe por território.
A segunda região a ter uma equipe especializada implantada foi a Capela do
Socorro, em Julho de 2019. Começaram a equipe com duas profissionais (uma
assistente social e uma psicóloga) que faziam parte da equipe de saúde mental
administrada pela O.S. Irmãs Hospitaleiras, dentro da UBS Dr Sergio Chaddad. A
equipe surge num contexto de algumas cobranças, via Ministério Público, para
atendimento de crianças e adolescentes com escuta especializada. À princípio,
esses atendimentos estavam sendo realizados pelo CAPS, contudo, com a
experiência exitosa da Equipe de M’Boi Mirim e com a movimentação de outras STS
de implantarem equipes especializadas em seus territórios, a STS Capela do
Socorro, junto da Coordenadoria identificou a possibilidade das Irmãs Hospitaleiras
realizarem essa implantação na região.
As duas profissionais da equipe realizavam os atendimentos na UBS Sérgio
Chaddad com alguma dificuldade, devido a falta de sala de atendimento disponível.
Diante disso, essa UBS estava com um projeto para reforma e foi solicitado que
incluíssem a construção de um espaço para a equipe especializada ficar alocada.
Contudo, não foi possível realizar essa alteração no projeto da reforma, levando a
STS e o parceiro das Irmãs Hospitaleiras a pensarem em outra solução. Pensaram
na UBS Jardim Cliper, pois um espaço de atendimento iria ficar vago com a saída

21
do NIR desta unidade, mas essa opção logo ficou inviabilizada com a chegada do
Consultório de Rua.
Diante desses percursos, a equipe especializada de Capela do Socorro
conseguiu um espaço no SAE Cidade Dutra por ser uma unidade grande, com um
fluxo de pessoas menor, além de possuir uma sala vaga, que posteriormente seria
ocupada pelas profissionais das Irmãs Hospitaleiras no atendimento à crianças e
adolescentes vítimas de violência já em 2020. Ainda no ano de 2020, conseguiram
ampliar a quantidade de profissionais para 02 psicólogas e 01 assistente social.
Algumas características do território elencadas abaixo, justificam a relevância que
encontramos na implementação da Equipe Especializada em Capela do Socorro:
O território de Capela do Socorro é composto por 03 distritos: Socorro, Cidade
Dutra e Grajaú, com área de 134,2km², população de 625.639 habitantes (TABNET/
SEADE,2019) e densidade demográfica (Hab/km²). Dentre os distritos da Capela do
Socorro, é importante enfatizarmos que o distrito do Grajaú corresponde há 387.148
habitantes (TABNET/SEADE 2019) do total da Capela do Socorro, é um território
marcado por várias ocupações irregulares, população em situação de alta
vulnerabilidade socioeconômica e drogadição, conferindo a esse distrito o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,75 (2016), o sétimo pior do município. Outro
fator relevante é que 85% da população é SUS dependente.
A prefeitura regional de Campo Limpo abrange os distritos administrativos de
Campo Limpo, Vila Andrade e Capão com população aproximada de 688.893
(TABNET/SEADE 2020), sendo: Campo Limpo: 228.893 habitantes, Capão
Redondo: 296.318 habitantes e Vila Andrade: 163.508 habitantes. Dessa população
14,4% são crianças (0 – 9), 13,8% adolescentes (10 – 19), 60,4% adultos (20 – 59)
e 11,4% são idosos (60 ou mais). A Supervisão Técnica de Saúde do Campo Limpo
faz parte da Coordenadoria Regional de Saúde Sul e compreende toda essa área
de abrangência territorial.
Da presente população, podemos observar que utilizam exclusivamente o SUS:
62,8% - Capão Redondo, 58,9 % - Campo Limpo e 54,4 % Vila Andrade, sendo que
77,3% da região tem cobertura da Estratégia Saúde da Família (SIAB - 2018). A
rede assistencial conta com o total de 28 UBSs e 6 AMAs/PA, distribuídos da
seguinte maneira: Campo Limpo 9 UBSs e 2 AMAs/PA; Vila Andrade 5 UBSs e 1
AMA/PA e Capão Redondo 14 UBSs e 3 AMA/PA.

22
De acordo com o Índice de Necessidades de Saúde (INS) 2010, observamos que
o atendimento para os grupos de gestante, adolescentes, crianças, adultos, idosos e
vigilância, estão na média para os distritos Vila Andrade (0,283) e Campo Limpo
(0,327) e alta para o distrito de Capão Redondo (0,344)
O território de Campo Limpo é reconhecido pelos altos índices de vulnerabilidade
social, com população de baixa renda, que têm moradias precárias, ocupações
irregulares, sem saneamento básico, com ausências de serviços públicos que
garantam atenção integral à população, principalmente a que se refere a lazer e
cultura. É conhecida também pela desigualdade social, que se apresenta de modo
mais visível no distrito de Vila Andrade, por possuir bairros como Panamby a
Paraisópolis, segunda maior favelas do Estado de São Paulo.
Em decorrência dessa distribuição desigual de recursos, bem como o alto índice
populacional, a violência identificada na região é superior que a média municipal,
sendo Campo Limpo o maior índice entre os distritos.
Considerando o aumento dos casos notificados de violência contra criança e
adolescente no território do Campo Limpo, que tem uma média de 100 casos por
mês, houve a necessidade da criação de uma Equipe Especializada, que atenda
exclusiva e integralmente essa demanda. Frente a isto, a Equipe Especializada em
Violência na região do Campo Limpo, gerenciada pelo CEJAM, foi implantada em
01/10/2019 no CER Campo Limpo, como uma estratégia provisória, até o repasse
financeiro para implantação da equipe mínima preconizada no projeto inicial
elaborado pela Coordenadoria Regional de Saúde Sul. A estratégia visou o
redimensionamento de 2 profissionais da Equipe de APD do Campo Limpo,
destinando 40% da carga horária semanal, para atendimento especializado dos
casos de violência. A Assistente Social é a única profissional que tem a carga
horária integral destinada para a EEV. Vale lembrar, que essa proposta
comprometeu os atendimentos técnicos e demais atividades do APD nas categorias
Terapeuta Ocupacional e Psicólogo:
● 01 Psicólogo com carga horária de 16h
● 01 Terapeuta Ocupacional com carga horária de 12h
● 01 Assistente Social com carga horária de 30h
Em 08/2020, a Equipe Especializada em Violência do Campo Limpo, foi
realocada para a UBS Valquíria, devido a reforma no CER Campo Limpo, onde é

23
lotada. A reforma, que tinha a previsão de durar 6 meses, mas se estende até o
momento, prevê a disponibilização de 2 salas para atendimento da Equipe
Especializada. O espaço da UBS onde estão atualmente, é insuficiente para os
atendimentos individuais dos profissionais, principalmente quando a equipe for
ampliada para 6 profissionais.
O território da Supervisão Técnica de Saúde Santo Amaro/Cidade compreende,
em sua área de abrangência, duas Subprefeituras: Cidade Ademar e Santo Amaro.
Em relação à População Exclusivamente SUS dependente do território,
encontramos um contingente de 70,5% da população total na Pref. Regional Cidade
Ademar e 34,5% da população total na Pref. Regional Santo Amaro. Dessa
população, 60,36% da população é acobertada pelo Programa Estratégia Saúde da
Família, com 83 equipes de ESF.
O território da subprefeitura de Santo Amaro que abarca Campo Belo e Campo
Grande, é considerado o mais importante centro comercial da região sul, possui
alguns loteamentos de alto padrão e algumas regiões onde predomina o comércio
popular. Também está próximo de muitas favelas, principalmente na divisa com o
distrito do Jardim São Luis e na região da Av. Roberto Marinho no Campo Belo.
A Subprefeitura de Cidade Ademar é composta por dois distritos: Cidade Ademar
e Pedreira, que somados representam 30,7 km², e habitada por mais de 410 mil
pessoas, das quais mais de 80 mil vivem em favelas. De acordo com os índices de
vulnerabilidade da Fundação SEADE as três regiões, Santo Amaro, Cidade Ademar
e Pedreira possuem bolsões de média e alta vulnerabilidade.
Segundo o Mapa da Desigualdade 2020 desenvolvido pela Rede Nossa São
Paulo dos 10 bairros que mais registraram casos de mulheres vítimas de violência,
no ano passado, dois deles estão na zona sul, Santo Amaro e Capela do Socorro.
Santo Amaro tem uma taxa de 404,1 vítimas de violência. Dentre as vítimas desta
violência, de forma direta ou indireta estão as crianças e adolescentes que
diariamente presenciam ou sofrem algum tipo de agressão.
Através do levantamento e monitoramento dos dados das unidades/serviços de
saúde foi possível identificar que nos três primeiros meses do ano de 2021 (janeiro
a março/2021) tivemos na região de Santo Amaro e Cidade Ademar 134
notificações registradas no Sistema de Informação de Agravo de Notificação
(SINAN) de violência contra a criança e o adolescente. E em planilha de

24
monitoramento de casos de violência realizada mensalmente pelos serviços, entre
janeiro e maio de 2021, dos 682 casos monitorados, 218 eram crianças e
adolescentes entre 0 e 17 anos.
Considerando ainda que temos subnotificação dos casos dada as características
próprias do agravo e sua complexidade especialmente neste período de pandemia e
isolamento social em que constatamos o aumento da violência porém expressa de
forma ainda mais velada (silenciosa) tendo como resultante a queda significativa
nas notificações de SINAN e ao mesmo o agravamento dos casos, dificuldades de
identificação e acesso, acompanhamento e articulação da rede.
Importante pontuar que é neste contexto que o Espaço Cuidar foi implantado, em
pleno início da pandemia, iniciando os atendimentos através de matriciamento
online em 01 abril de 2020 para as 26 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do
território.
A equipe especializada para atendimento às crianças e adolescentes vítimas de
violência da região de Santo Amaro/Cidade Ademar, então, foi apelidada de
“Espaço Cuidar”, nome fantasia escolhido a fim de evitar rotulação do serviço. Sua
implantação ocorreu em Dezembro de 2019 no AMAe Vila Constância com a
contratação de três profissionais com jornada de trabalho de 30 horas semanais:
uma psicóloga, uma assistente social e uma terapeuta ocupacional. A O.S.
responsável pela contratação desta equipe foi a Santa Catarina que deixou o
território de SACA ainda em 2020, que agora é administrado pela INTS.
Durante três meses a equipe elaborou as rotinas e fluxos para o desenvolvimento
do processo de trabalho, conheceu o território e seus equipamentos e em abril de
2020 iniciou o atendimento à população.
O território de Parelheiros é composto por 02 distritos: Parelheiros e Marsilac.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a região
conta com uma área de 353,5 km² (representando 23,68% do município), com
ocupação urbana de 2,5% e dispersa de 7,7% (Censo SEADE 2001). Apresenta
uma população de 139.441 habitantes e densidade demográfica de 394 hab/km², de
acordo com dados divulgados pelo IBGE (CENSO 2010).
Trata-se de um território extenso, com grandes áreas de mananciais e reserva
ecológica (que inclui aldeias indígenas), cujas áreas mais afastadas possuem
acesso ainda bastante restrito por transporte público (parte da população precisa

25
caminhar durante mais de 30 minutos até chegar a um ponto de ônibus). A maior
parte da população é SUS dependente.
No final de 2019, em Dezembro, a STS de Parelheiros, em parceria com a
Organização Social Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de
Jesus, iniciou a implantação de uma equipe especializada no atendimento a
crianças e adolescentes vítimas de violência. A equipe compõe a atenção
especializada em Saúde, atendendo casos graves vinculados aos Núcleos de
Prevenção à Violência (NPV) de cada Unidade Básica de Saúde do território de
Parelheiros. Inicialmente, utilizou-se de parte da carga horária de profissionais de
duas equipes de saúde mental, alocadas na UBS Jardim Campinas e no AE
Parelheiros.
Dentre esses profissionais que dividiam carga horária, encontravam-se 2
psicólogas e 2 Assistentes Sociais da equipe de saúde mental atendendo como
EEV. A partir do momento que foi contratada 1 Psicólogo 30h para a EEV, a
transição foi realizada gradualmente de modo que as 2 psicólogas da Saúde Mental
foram passando os casos até a psicóloga exclusiva da EEV assumir completamente
os casos. O mesmo processo foi realizado com a contratação de uma Assistente
Social em Agosto de 2021.
Atualmente, a EEV Parelheiros é composta por 01 psicólogo (30h) e 01
assistente social (30h), havendo necessidade de ampliação (+ 1 psicólogo, 1
assistente social, 1 terapeuta ocupacional, e 1 auxiliar técnico administrativo). Hoje
a equipe atende de seg-sex das 10h às 16h, sendo todos os dias na UBS JD
Campinas, exceto às quintas-feiras, quando a equipe atende no AE Parelheiros. A
implantação da Equipe Especializada em Parelheiros é, sem dúvida ,um avanço,
considerando a vasta área de abrangência que será sua referência, a complexidade
dos casos e a vulnerabilidade do território.
Neste momento, com a retomada desse histórico e com a avaliação positiva de
todo o trabalho realizado pelas Equipes Especializadas, principalmente com as
ações de matriciamento e fortalecimento dos NPV envolvidos nos casos, confirmada
a potência dessa equipe, iniciamos o processo de ampliação para chegarmos no
mínimo de 06 profissionais, indicado pela Área Técnica em 2018 (SÃO, PAULO,
2018). Abaixo, segue a tabela do quadro de profissionais exclusivos dispostos para
cada Equipe nos territórios atualmente:

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Informações Gerais das Equipes Especializadas Nº de Profissionais Exclusivos para a
Equipe Especializada

STS Parceiros/ Local de Implantação Psicóloga Assistente Terapeuta


Social
O.S Atendimento da Equipe Ocupacional

CER Campo
Limpo/UBS
Campo Limpo CEJAM out/19 0 1 (30h) 0
Jardim
Valquíria

SACA INTS AMA.E Vila dez/19 1 (30h) 1 (30h) 1 (30h)


Constância

Capela do SAE Cidade jul/19 2 (30h) 1 (30h) 0


Socorro Dutra
Irmãs
Parelheiros Hospitaleiras A.E
Parelheiros 1 (30h -em
e UBS dez/19 1 (30h) contrataçã 0
o)
Jardim
Campinas

M'Boi Mirim Monte Azul UBS Jardim


Thomas dez/18 2 (40h) 2 (30h) 2 (30h)
Tabela construída em Abril de 2021.

27
Justificativa:

Como dito anteriormente, as Equipes Especializadas em Violência surgem


conforme determina a legislação vigente (13.431 DE ABRIL DE 2017), para ofertar
atendimento psicossocial e terapêutico, individual e grupal para crianças e
adolescentes em situação de violência e suas famílias, acometidos pelo processo
de adoecimento e intenso sofrimento psíquico, impactando de forma direta na
qualidade de vida, saúde física e mental dos indivíduos envolvidos.
Além dos atendimentos, o matriciamento dos NPV pelas Equipes Especializadas,
visa a consolidação e potencialização dos NPV nos nossos territórios enquanto
espaços de organização de política pública no atendimento às vítimas e/ou
testemunhas de violência.
As regiões que estão sob a comarca da Coordenadoria Regional de Saúde - Sul
apresentam alta vulnerabilidade social, o que acaba contribuindo para altos índices
de violência. Apenas em 2020, foram realizados 19.239 atendimentos de casos de
violência na região, sendo 5.788 de crianças e adolescentes. Cabe destacar que
muitos desses casos ainda estão subnotificados, inclusive devido ao contexto
excepcional de isolamento social instaurado pela pandemia do novo Coronavírus
em 2020. Observou-se que houve uma queda expressiva nas notificações dos
casos de violência nesse período, principalmente nas unidades de urgência e
emergência, pela mobilização no atendimento à população infectada e no combate
ao vírus.
Apesar da perspectiva da subnotificação, o número de crianças e adolescentes
vítimas e/ou testemunhas de violência segue expressivo, demandando ações de
enfrentamento e de cuidado à essa população. Em 18/05/2020 foi realizada uma
coletiva on-line pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, sendo
divulgado um balanço do Disque 100, que revela dados alarmantes. Esses dados
apontam que dos 159 mil registros de violência, 86,8 mil são por violação de direitos
de crianças ou adolescentes (MELO, 2020). Tais informações apontam para a
necessidade de que todos os setores se mobilizem a fim de garantir e proteger essa
população.
No âmbito da saúde não tem sido diferente. Em todos os serviços os profissionais
estão sendo capacitadas para ter um olhar e intervenções mais assertivas, contudo,

28
a complexidade desta demanda sinaliza a necessidade de um serviço
especializado, com particularidades específicas, afinal a violência gera impactos
preocupantes para indivíduo e sociedade, como descrito na Linha de Cuidado para
Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de Violência (SÃO PAULO, 2015).
Diante desse cenário, podemos afirmar que a Equipe Especializada surge como
uma resposta ao exposto acima, qualificando a atenção especializada às crianças e
adolescentes, vítimas e/ou testemunhas de violência.

Objetivos

Objetivos Gerais:

A Equipe Especializada tem como objetivo geral:

● Desenvolver ações de promoção de reestruturação emocional e reintegração


social às vítimas;
● Suscitar o fortalecimento de vínculos familiares e oferecer atendimentos
psicossociais e terapêuticos, individuais e em grupo;
● Estimular a autonomia e o empoderamento dos indivíduos atendidos,
ressignificando as violências vividas para mudança em suas relações sociais
de modo que vise a qualidade das relações;
● Prestar apoio à atenção primária na condução de casos de crianças e
adolescentes vítimas de violência, sendo referência assistencial aos casos
mais complexos e de difícil manejo.

Objetivos Específicos:

● Identificar o fenômeno e o sofrimento decorrente;


● Avaliar o risco continuamente e favorecer a interrupção do ciclo de violência;
● Oferecer atendimento psicossocial e terapêutico por meio de intervenções e
estratégias individuais e grupais;

29
● Promover o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e a
potencialização da autonomia;
● Apresentar ao usuário informações a respeito dos recursos jurídicos e de
proteção social para lidar com as situações de violência vivenciadas;
● Articular junto aos NPV das UBS, ações em rede com a Secretaria de
Assistência Social, Educação, Direitos Humanos, Segurança Pública,
Sistema Judiciário e outros serviços intersetoriais do território;
● Promover espaços para discussão, reflexão e aprimoramento por meio de
matriciamento com os profissionais dos NPV referenciados;
● Garantir a qualificação continuada dos profissionais envolvidos no
atendimento destinado a crianças e adolescentes vítimas de violência;
● Contribuir para o fortalecimento de ações coletivas de enfrentamento à
violência, ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes.

Metodologia:
O público alvo das Equipes Especializadas compreende: Crianças e adolescentes
de 0 à 17 anos 11 meses e 29 dias cadastrados na Unidade de Saúde de referência,
que apresentam intenso sofrimento psíquico e maior vulnerabilidade social devido
a(s) violência(s) sofrida(s).
Os atendimentos podem ser realizados de forma individual, compartilhada, grupo
ou familiar, de acordo com as demandas e necessidade, considerando a gravidade
do caso e a disponibilidade dos usuários.

Modalidade de Atendimento:
● Acolhimento: Como ato ou efeito de acolher expressa, em suas várias
definições, uma ação de aproximação, um estar com e um estar perto de, ou
seja, uma atitude de inclusão, com abertura para receber e tratar com
humanidade os usuários e suas demandas. Isso só pode acontecer quando
há solidariedade com o sofrimento ou problema trazido, abrindo perspectivas
de diálogo e escuta (BRASIL, 2010).
Ao mesmo tempo, o acolhimento instrumentaliza a geração de procedimentos e
de ações organizadas, que facilitam o atendimento, do ponto de vista da escuta, da

30
análise da discriminação dos riscos e da oferta acordada de soluções ou
alternativas aos problemas demandados. Permite, ainda, a integração dos usuários
ao serviço, com avaliação do risco e da urgência de atendimento, considerando a
intensidade de sofrimento psíquico e/ou grande vulnerabilidade psicossocial.
O acolhimento organiza ações do serviço, no sentido de direcionar ações futuras,
tanto na continuidade dos atendimentos quanto no encaminhamento para a rede.
Considerando tamanha complexidade, as possibilidades de arranjos de acolhimento
entre profissionais e usuários são inúmeras. Inicialmente, o acolhimento acontecerá
com a equipe multiprofissional em encontros a serem definidos e de acordo com a
necessidade do caso. A partir deste processo, será dada a continuidade ao PTS
iniciado na Atenção Básica, com revisões sistemáticas.

● Atendimento individual: Esse tipo de cuidado permite acessar


particularidades, com aprofundamento na trajetória singular e suas relações,
interpretações, reações, defesas únicas diante do vivido, numa relação
transferencial que só acontece entre o técnico e o usuário. Configura-se
como um espaço de construção de possibilidades relacionadas a dimensões
sociais, culturais, econômicas e psíquicas que compõem a saúde, com um
tipo de vínculo mais aprofundado, diferente daquele do ambiente coletivo. É
também indicado quando o usuário demonstra dificuldade de se expressar
em grupo a respeito de situações não aceitas socialmente (BRASIL, 2010).

● Atendimento Grupal: Configura-se como uma possibilidade de cuidado das


relações interpessoais, comunitárias, familiares, com intervenções de modo a
garantir um ambiente seguro, em que os indivíduos se sintam autorizados a
existir nessas relações com suas peculiaridades. Permite abrir um espaço
para a expressão do sofrimento próprio como digno diante dos demais.
A discussão do fenômeno da violência pode ser feita de um ponto de vista
coletivo, como algo do humano, considerando suas dimensões políticas e sociais.
Trata-se de um espaço terapêutico, de identificação, informativo, de troca e
construção de conhecimentos políticos, sociais, civis e de socialização. Com isto se
favorece a constituição de relações contínuas de cuidado, confiança, vínculo e
protagonismo, no qual os usuários podem vivenciar seu sofrimento, serem acolhidos

31
em suas angústias e compreendidos em suas singularidades. Bem como, a
promoção de um ambiente de encontro, entre os usuários, que permita a descoberta
das suas potencialidades, construção de sua autonomia e reinserção social.

● Atendimento Familiar-Nuclear: Permite maior compreensão das dinâmicas


familiares que envolvem violência; criação de possibilidades intrafamiliares;
transgeracionalidade; papéis familiares (cuidado, lugar simbólico, lugar de
fala e escuta); acolhimento das demandas e do sofrimento familiar.

● Grupo de Corresponsabilização com o Tratamento: Na primeira etapa do


atendimento, pretende-se oferecer aos familiares e/ou responsáveis um
grupo para corresponsabilização e sensibilização relacionado com a
temática. Espera-se criar ambiente acolhedor que permita a família se sentir
à vontade para abordar assuntos tão delicados como a violência sexual, sem
julgamentos, preconceitos e culpa.
O grupo compõe o tratamento e ocorrerá em concomitância ao acompanhamento
da criança e do adolescente, com o foco de apresentar o serviço, quebrar estigmas,
clarificar a respeito de desdobramentos legais, bem como direitos e deveres,
promovendo o suporte mútuo e a implicação dos usuários no tratamento.

● Reunião de Equipe: Considerando a complexidade e dinâmica deste tipo de


atendimento torna-se imprescindível o encontro da equipe técnica em sua
totalidade, visando integrar os diferentes saberes e olhares profissionais, nos
esforços de uma abordagem multi, inter e transdisciplinar.
Estes momentos são reservados para discussão de casos novos e respectivos
Projeto Terapêutico Singular (PTS), para traçar objetivos, elencar possibilidades e
limites, estabelecer prioridades e elaborar estratégias de cuidado. Este espaço
também contempla a discussão de casos emblemáticos, decorrentes de maior
complexidade, que demandam olhares e reflexões constantes e revisão de
estratégias de cuidado. Inclui também novas indicações aos NPVs e medidas de
prevenção de risco ao usuário e à equipe, com vistas a atenuar revitimizações do
usuário e o adoecimento dos profissionais. A equipe utilizará este momento para
discutir alta e exclusão de usuário e, ainda, respectivas indicações aos NPVs.

32
● Discussão de Caso: Configura-se como um espaço de troca em que os
profissionais envolvidos, de forma horizontal, partilham informações
referentes a atualizações, intercorrências e redirecionamentos imediatos.
Esta medida busca garantir a singularização do acompanhamento, com
intervenções que atendam às especificidades corriqueiras no tratamento do
usuário. Geralmente as equipes especializadas determinam uma data e hora
semanal para essa atividade.

● Matriciamento: Tem o objetivo de promover espaços para discussão,


reflexão e aprimoramento entre os profissionais do serviço de saúde,
favorecendo um processo de construção compartilhada dos cuidados
colaborativos entre a saúde mental e a atenção primária. O matriciamento
entre a Equipe Especializada e o NPV se propõe a estabelecer uma relação
de apoio mútuo entre os profissionais responsáveis pelo cuidado na
condução do caso. Também esclarecer diagnóstico, estruturar o projeto
terapêutico e refletir sobre as formas de intervenção com a criança, o
adolescente e seus familiares e/ou responsáveis, incluindo os vínculos
sociais e comunitários.
Nos encontros matriciais serão discutidos casos novos, em andamento e em
processo de alta, bem como a realização de amplas reflexões a respeito da temática
da violência e saúde mental. Por isso, o matriciamento também pode ser
considerado componente do conjunto de ações de Educação Continuada.
Geralmente as equipes especializadas determinam uma data e hora semanal para
essa atividade.

● Elaboração de Relatórios: O relatório é uma apresentação descritiva acerca


de situações e/ou condições dos usuários e suas determinações históricas,
sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação e
acompanhamento. Deve ser subsidiado por dados colhidos e analisados, à
luz de um instrumental técnico, consubstanciado em referencial teórico,
segundo a Resolução do Conselho Federal de Psicologia, no 006/2019.

33
Este processo, com todas essas particularidades, requer elaboração criteriosa
que demanda dos profissionais envolvidos múltiplos pareceres, exigindo maior
tempo do que a evolução em prontuário. O intuito de se debruçar sobre isso visa
evitar a revitimização dos usuários e procura prevenir riscos inerentes aos serviços
que trabalham com a temática da violência sexual infanto-juvenil.

● Ações Intersetoriais: Entende-se a ação intersetorial como a promoção e a


articulação de e com profissionais de outros setores ou instituições engajados
na defesa dos direitos da criança e do adolescente durante o percurso do
acompanhamento. As políticas implementadas nos sistemas de justiça,
segurança pública, assistência social, educação e saúde deverão adotar
ações articuladas, coordenadas e efetivas voltadas ao acolhimento e ao
atendimento integral às vítimas de violência (Lei Federal 13.431 de 4 de Abril
de 2017, Art. 14.).
A partir do processo de cuidado, poderá existir a necessidade de reuniões
intersetoriais (Assistência Social, Educação, Direitos Humanos, Segurança
Pública, Sistema Judiciário e demais serviços implicados nos cuidados)
específicas com a Equipe Especializada, nas situações em que o profissional
avalia a necessidade de contato direto.
As ações intersetoriais também servem como forma de aprimoramento da rede
de atenção às vítimas de violência. O aprimoramento deve ocorrer por meio da
abordagem da temática com os profissionais, em atividades de sensibilização e
discussão, compondo, assim, o conjunto de ações de Educação Continuada.

Critérios de Atendimento:
● Elegibilidade e Inclusão: Para iniciar o acompanhamento, a equipe fará
discussão de caso e avaliação multi e interdisciplinar, considerando os
parâmetros a seguir: Crianças e adolescentes vítimas e testemunhas de
violência, com prioridade aos casos de abuso sexual, demanda da
Supervisão Técnica de Saúde e/ou Coordenadoria Regional de Saúde;
Casos previamente assistidos pelo NPV (adotadas ações de articulação,
proteção e encaminhamentos pertinentes às equipes dos territórios);
Sofrimento psíquico intenso relacionado com a violência e vulnerabilidade

34
psicossocial; Prejuízos na vida cotidiana relacionados com a violência, nas
esferas física, social, comportamental, emocional e cognitiva; Casos cujas
possibilidades de cuidado foram esgotadas na atenção primária; Casos
Judicializados em que haja pedido para escuta especializada;

● Alta: Como efeito do trabalho terapêutico, os fenômenos que podem trazer


sofrimento (tais como medo, culpa, vergonha, irritação, tristeza, etc) tendem a
enfraquecer ou até mesmo a desaparecer, como demonstra a experiência
clínica. No entanto, o tratamento não visa à eliminação dos sintomas, mas
sim ajudar a pessoa a encontrar uma nova forma de lidar com as suas
experiências, que fazem parte da sua constituição (OCARIZ, 2003). Ou seja,
trata-se de saber o que fazer com o seu sofrimento, de modo que o indivíduo
possa se valer de suas vivências, e não mais estar submetido a elas,
ampliando seu repertório para a vida.
Compreendemos, assim, que não existe um término de processo terapêutico
ideal, pois, como afirma Grinberg (1981), nunca desaparecem todos os conflitos e
os sintomas nem se conseguem todas as modificações ou, em nosso caso, todos os
objetivos do Projeto Terapêutico Singular. Existe sim um caminho que, uma vez
posto em marcha, continua sempre e se fará uso dele nas experiências futuras
(Bonfim e Vizzotto, 2013). Abaixo, apontamos alguns critérios desejáveis para a
alta, de acordo com a Equipe Especializada de M’Boi Mirim:
○ Criança:
■ Ruptura do pacto do silêncio;
■ Elaboração de sintomas emocionais e do corpo relacionados
com a violência (como tristeza, medo, ansiedade, alterações de
apetite e sono, bem como enurese, encoprese, entre outros);
■ Ampliação de repertório que permita trocas sociais não mais
marcadas pela agressividade destrutiva ou por uma sexualidade
que leve a situações de risco; e condições de se proteger e
buscar ajuda nestes contextos;
■ Reorganização dos vínculos afetivos e mudança nas dinâmicas
relacionais adoecidas, nos âmbitos familiar, comunitário e
escolar;

35
■ Clareza em relação aos papéis familiares (lugar simbólico);
■ Conhecimento do direito à informação sobre o tema da
sexualidade, de acordo com o repertório de cada idade;
■ Minimizar os prejuízos no desempenho das atividades da vida
diária;
■ Melhora em estados psicopatológicos, como depressão, pânico,
transtornos de ansiedade, entre outros.
○ Adolescente:
■ Ruptura do pacto do silêncio;
■ Elaboração de sintomas emocionais e do corpo relacionados
com a violência (como tristeza, medo, ansiedade, alterações de
apetite e sono, bem como enurese, encoprese, entre outros);
■ Ampliação de repertório que permita trocas sociais não mais
marcadas pela agressividade destrutiva ou por uma sexualidade
que leve a situações de risco; e condições de se proteger e
buscar ajuda nestes contextos;
■ Reorganização dos vínculos afetivos e mudança nas dinâmicas
relacionais adoecidas, nos âmbitos familiar, comunitário e
escolar;
■ Acesso a informações sobre seus direitos sexuais e
reprodutivos;
■ Clareza em relação aos papéis familiares (lugar simbólico);
■ Minimizar prejuízos no desempenho das atividades da vida
diária;
■ Promoção da autonomia dos papéis ocupacionais;
■ Melhora em estados psicopatológicos, como depressão, pânico,
transtornos de ansiedade, automutilação, entre outros.
○ Familiar/Responsável:
■ Ruptura do pacto do silêncio;
■ Diminuição do sofrimento relacionado com a violência, como
culpa, raiva, desesperança, medo, impotência etc.;

36
■ Quebra da amnésia pós-traumática (quando a vivência da
criança ou do adolescente traz à tona experiências de abuso
que os pais ou responsáveis viveram) e o cuidado terapêutico;
■ Reconhecimento das experiências de violência da criança ou do
adolescente e a ressignificação dessas vivências;
■ Clareza em relação aos papéis familiares (lugar simbólico);
■ Compreensão da importância do apoio emocional e supervisão
familiar frente ao desenvolvimento da criança ou do
adolescente;
■ Compreensão dos direitos sociais, civis, políticos e econômicos
da criança e do adolescente.
Cabe destacar que, após o encerramento do acompanhamento feito por essa
equipe, que pode ser devido à alta, à solicitação de desligamento ou ao abandono,
o caso será encaminhado ao NPV de referência, com indicações de cuidado.

Atividades Específicas por Cargo:

De acordo com o projeto das Equipes Especializadas, as categorias profissionais


que irão compor este tipo de trabalho são Psicologia, Assistente Social e Terapêuta
Ocupacional, conforme descrito abaixo:

● Psicologia: De acordo com o Plano de Trabalho da O.S. Irmãs Hospitaleiras,


a atribuição das(os) Psicólogas(os), está em realizar avaliação psicológica,
psicoterapia individual e psicoterapia de grupo, reunião de equipe, discussão
e estudos de caso, articulação com o NPV, bem como contato com rede
socioassistencial e registro das atividades em prontuário de acordo com
orientações e normas do conselho de classe.

Abaixo estão algumas das atividades específicas dessa categoria profissional no


trabalho com a Equipe Especializada, de acordo com o Plano de Trabalho da O.S.
Monte Azul:
○ Conhecer a história de vida do paciente;

37
○ Identificar os sentimentos predominantes: medos, angústia, tristeza,
culpa, revolta etc;
○ Utilizar técnicas psicológicas;
○ Avaliar o grau de desorganização da vida social: impacto da violência
sexual vivenciada no trabalho, na escola, nas relações familiares e
sociais;
○ Avaliar e tratar sintomas relacionados com a violência sexual, como
distúrbios do sono (insônia, pesadelos) e reações psicossomáticas etc;
○ Avaliar o estado emocional geral no momento;
○ Avaliar a estrutura familiar da criança;
○ Entrevistar, orientar e, se necessário, atender os pais e/ou
responsáveis;
○ Encaminhar para avaliação psiquiátrica, caso necessário;
○ Participar de reuniões de estudo de caso/reunião de equipe;
○ Participar de supervisão e intervisão;
○ Construção do PTS;
○ Participar de matriciamento;
○ Atender em conjunto com outros profissionais da equipe

Além disso, ainda é possível considerar duas vertentes do trabalho psicológico,


de acordo com as modalidades de atendimento das Equipes Especializadas
conforme o Plano de Trabalho da O.S. Monte Azul:

● Psicoterapia Individual:
○ Auxiliar no processo de reorganização da vida após a violência sexual;
○ Trabalhar a questão da sexualidade;
○ Trabalhar as formas de relacionamento;
○ Trabalhar sentimentos persecutórios ou medos decorrentes da
situação de violência sexual;
○ Trabalhar conteúdo dos sonhos (em geral, pesadelos recorrentes);
○ Trabalhar repercussões no sentimento frente às figuras masculina e
feminina;
○ Facilitar a recuperação da auto-estima.

38
● Psicoterapia de Grupo:
○ Facilitar a identificação e expressão de sentimentos decorrentes da
situação de violência sexual;
○ Trabalhar a autoestima;
○ Examinar como algumas atitudes e afirmações podem ter causado
vários problemas e encorajar um cuidado especial para prevenir que
ocorram novamente;
○ Discutir o processo histórico da aceitação da violência sexual e seu
lugar;
○ na história de vida da família;
○ Facilitar o relato de experiências comuns;
○ Promover o sentimento de solidariedade;
○ Identificar valores sociais e valores familiares com suas interfaces e
influências na violência sexual;
○ Promover resiliência familiar em contextos sociais de risco;
○ Identificar problemas e disfunções sexuais;
○ Identificar os fatores geradores de violência intrafamiliar ou
extrafamiliar;
○ Identificar as consequências psicossociais da violência em cada
membro da família;
○ Promover a expressão de sentimentos de cada membro familiar diante
da violência sexual sofrida;
○ Capacitar a criança e o adolescente a reconhecer a violência sexual e
recorrer a figuras protetivas;
○ Auxiliar a família a reconhecer e validar a violência sexual e oferecer
apoio à criança e ao adolescente;
○ Promover equilíbrio da estrutura familiar.

● Serviço Social: De acordo com o Plano de Trabalho da O.S. Irmãs


Hospitaleiras, a prática do profissional Assistente Social em contextos do
atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência propõe-se a
intervir nas construções sociais que constituem e versam as relações

39
intrafamiliares e comunitárias que envolvem a dinâmica da violência.
Contando para isso com atendimentos individuais, grupais, familiares e
comunitários que discutam sexualidade, diversidade sexual, étnico-raciais,
direitos sociais, violência e outros temas. Utilizando-se do acionamento da
rede de apoio social e comunitária dos usuários e a Rede Intersetorial em
concomitância com seu processo de ressignificação de suas vidas.

Então, segundo o Plano de Trabalho da O.S. Monte Azul, é papel do Serviço


Social vislumbrar a ampliação da cidadania, com o acesso a direitos universais de
forma a proporcionar equidade e justiça social, revertendo em atendimento imediato
das necessidades humanas ao mesmo tempo em que abre o leque de valores a que
se apegam para a possível transformação da dimensão familiar, social, cultural e
comunitária.
O Serviço Social deverá realizar entrevista para levantamento dos dados de
rotina, a fim de possibilitar o conhecimento da complexidade em que a
criança/adolescente se encontra e promover o apoio psicossocial. Elaborar o perfil
socioeconômico da família e documentação específica sobre o atendimento. A
intervenção social é extensiva aos familiares e/ou colaterais, quando necessária.

Abaixo estão algumas das atividades específicas dessa categoria profissional no


trabalho com a Equipe Especializada, ainda de acordo com o Plano de Trabalho da
O.S. Monte Azul:
○ Conhecer a história de violência sexual vivenciada pelo paciente;
○ Acolher a pessoa vítima de violência sexual e sua família ou
responsáveis em sua dinâmica e complexidade, como eixo central da
atenção durante o processo de atendimento;
○ Identificar o apoio familiar e/ou da rede de relacionamento do paciente
frente ao ocorrido;
○ Verificar a existência de abuso de substância química no espaço
doméstico e/ou pessoas que tenham acesso à residência da criança
ou adolescente vítima de violência sexual;

40
○ Possibilitar reflexão crítica junto ao usuário e profissionais envolvidos
no atendimento sobre a problemática vivenciada, fortalecendo a
autoestima e buscando possibilidades de solução;
○ Identificar a demanda social trazida pelo paciente, atrelada a situação
de violência sexual, tais como: direitos trabalhistas, desemprego,
relacionamento familiar e/ou conjugal, direitos do usuário com
observação do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Declaração
dos Direitos Humanos e de Cidadania, entre outros;
○ Orientar familiares ou responsáveis conforme o PTS do usuário sobre
os recursos de apoio da comunidade, vinculados aos sistemas de
justiça, segurança pública, assistência social, educação e outros
associados ao sistema de garantia de direito;
○ Reforçar a importância do atendimento médico e psicológico,
enfatizando o acompanhamento integral;
○ Realizar visita domiciliar para compreender a dinâmica familiar em que
a vítima está inserida;
○ Utilizar preferencialmente a técnica genograma, para compreensão da
dinâmica familiar, bem como empregar outras técnicas: o ecomapa, a
linha do tempo e outras que permitam intervir no contexto da vítima;
○ Mapear potenciais de riscos e avaliar junto com a família ou a vítima
formas de proteção;
○ Discutir os projetos de vida da família/vítima, buscar encontrar
alternativas para situação atual;
○ Monitorar, em conjunto com a Equipe, os desdobramentos acordados
com o sistema de proteção intra e extra familiares;
○ Participar de reuniões para estudo de caso;
○ Promover atividades grupais que facilitem/ proporcionem trocas
afetivas e sociais para ampliar a reflexão quanto a direitos sociais,
civis e políticos, contribuir com o cuidado em saúde e a superação das
situações de violência sexual.

● Terapia Ocupacional: De acordo com o Plano de Trabalho da O.S. Monte


Azul, é papel do terapeuta ocupacional mediar a reinvenção da interação do

41
usuário com o seu cotidiano multifacetado de atividades/ações, no sentido de
contribuir com o processo de transformação do cuidado, produzindo novas
formas de pensar e de exercer a Terapia Ocupacional. As atividades
expressivas, lúdicas e artísticas, aparecem como instrumentos
desencadeadores e provocadores de questões relacionadas às
problemáticas dos usuários, favorecendo a exteriorização da experiência
vivida, possibilitando o compartilhamento de experiências e o favorecimento
da comunicação, principalmente quando a linguagem comum é insuficiente
para exteriorizar seus conflitos.
Nesse contexto, o profissional conduz sua ação por meio do reconhecimento e da
compreensão do cotidiano e da história ocupacional dos indivíduos, utiliza
ferramentas para desenvolver, restaurar ou ampliar a autonomia e independência
nas atividades de vida diária. Facilitam a mudança ou o crescimento nos fatores do
indivíduo (funções do corpo, estruturas do corpo, valores, crenças e espiritualidade);
e habilidades (motora, processual e de interação social).
O terapeuta ocupacional realiza o acolhimento e acompanhamento das vítimas
de violência sexual através da vivência/experimentação de sensações e emoções
durante o desenvolvimento da atividade, favorecendo o resgate das potencialidades,
organização das funções psíquicas e cognitivas com a identificação de sinais de
gravidade psicoemocional; proporcionando melhora no desempenho dos papéis
ocupacionais, nas atividades básicas da vida diária e no autocuidado.
Abaixo estão algumas das atividades específicas dessa categoria profissional no
trabalho com a Equipe Especializada, ainda de acordo com o Plano de Trabalho da
O.S. Monte Azul:
○ Promover atividades grupais significativas no contexto das realidades
para a família e seus membros, auxiliando na reorganização da vida
após vivência da violência sexual;
○ Favorecer a mediação de conflitos, por meio da realização e
participação em atividades significativas construídas de forma
dialogada;
○ Identificar potencialidades e habilidades do desempenho ocupacional
modificados pela violência sexual;

42
○ Atribuir diagnósticos e prognósticos terapêuticos ocupacionais por
meio de testes e protocolos utilizados pela Terapia Ocupacional,
específicos ao ciclo de vida, e às necessidades diante o caso;
○ Planejar, coordenar, desenvolver, prescrever, acompanhar, avaliar e
reavaliar as estratégias de desmonte de processos de segregação e
exclusão social;
○ Promover o desenvolvimento ou ampliação das redes de suporte e de
trocas sociais, afetivas, econômicas e de informações;
○ Promover a apropriação de seus espaços de vida e convivência, para
que exercitem seu protagonismo;
○ Desenvolver estratégias que impliquem no desencadeamento de
processos de reconstituição da memória, da história coletiva e da
história das relações intergeracionais que possibilitem a identificação
individual e coletiva de dificuldades e potencialidades;
○ Desenvolver ações de empoderamento pessoal e social;
○ Realizar avaliação ocupacional, dos componentes percepto-cognitivos,
psicossociais, psicomotores, psicoafetivos e sensoperceptivos no
desempenho ocupacional e função cotidiana;
○ Avaliar os fatores pessoais e os ambientais que, em conjunto,
determinam o contexto em que está inserido;
○ Resgatar histórias ocupacionais e condição de participação na
comunidade em que habitam a fim de desenvolver estratégias de
adaptações ambientais e urbanísticas, mobilidade, acessibilidade,
pertencimento sociocultural e econômico;
○ Realizar visitas domiciliares e acompanhamento de famílias quando
necessário para intervenções pontuais e imprescindíveis ao
andamento do caso;
○ Valorizar e promover atividades lúdicas e as vivências de brincadeira
em família como momento de fortalecimento de vínculos;
○ Utilizar atividades facilitadoras de trocas afetivas e sociais para ampliar
experiências e para facilitar a superação de conflitos.

43
Fluxos e Encaminhamentos:
O encaminhamento para as Equipes Especializadas é sempre, obrigatoriamente,
realizado através do NPV da UBS de referência. Contudo, cada território tem a
autonomia para definir quais os fluxos internos e encaminhamentos que mais se
enquadram na sua realidade, desde que não desconfigurem a proposta desenhada.
Desse modo, o que será exposto a seguir é uma forma de organização quanto à
essa categoria:

44
45
A produtividade das Equipes Especializadas configura-se como um instrumento
de gestão muito importante no que se refere à avaliação dos impactos produzidos
por essas equipes nos territórios. São através desses números que se tem uma
noção de quais ações deverão ser planejadas para efetivar e melhorar o
atendimento dessa equipe.
Cada equipe, embora orientadas por um projeto de trabalho que tem a Lei
13.431/2017 como norteadora, tem suas particularidades, respeitando as
especificidades de cada território que está alocada. Nesse sentido, para efeito de
conhecimento, organizamos um demonstrativo da previsão de produtividade
baseada na capacidade de produção de uma equipe mínima com 06 profissionais
técnicos. A única equipe com essa configuração, conforme dito anteriormente, é a
Equipe Especializada de M’Boi Mirim, as demais estão caminhando para a
ampliação do número de profissionais recomendados (vide “Proposta de
Ampliação”).
A Equipe Especializada de M’Boi Mirim foi a pioneira nesse trabalho e, através
dos impactos produzidos por essa equipe no território, foi possível fomentar a
implantação de Equipes Especializadas nas outras regiões. Abaixo, estão
destacados o montante das modalidades de atendimentos desta equipe desde
2019:

Atividades realizadas pela Equipe Total Média


Especializada em Violência de M’Boi Mirim Mensal
Atendimentos Individuais de Crianças e 2.994 130
Adolescentes
Atendimentos Individuais dos Responsáveis 2.497 101
Atendimentos em grupos de criança e 318 7

46
adolescente
Atendimentos em grupos com responsáveis 54 1
Atendimentos em grupo familiar 284 9
Teleatendimento 588 36
Total de atendimentos 6.729 293
Ausência em atendimentos agendados 2.198 87
Nº de grupo com cça/adolescente 118 3
Nº de grupo com responsáveis 22 0
Nº de grupo familiar 144 5
Atendimento ao autor da agressão 184 5
Oficina de arte/lazer/recreação/sensibilização 0 0
Visita Domiciliar 18 0
Reunião c/ outras equipes de saúde 316 13
Reunião Intersetorial 288 12
Relatório 263 11
Reunião de equipe 98 4
Número total de matriciamentos 89 4
Nº de participantes em matriciamentos 411 14
Nº de casos discutidos em matriciamentos 305 10
Ausência em matriciamentos agendados 355 18
Participação em Supervisão 2 0
Clínico-Institucional
Participação em Audiências Concentradas 2 0

47
Participação em Fórum Mensal do NPV 12 0
Participação em Perícia e escuta especial 1 0
Participação em reuniões com judiciário 30 0
Capacitação dos Profissionais 7 0
Participação dos profissionais em capacitações 22 0
Capacitação ofertadas pelos profissionais 2 0
Participações em capacitações ofertadas 280 0
Nº de visitas institucionais 29 0

À partir dos atendimentos destacados acima, foi possível realizar um diagnóstico


sobre os tipos de violência mais recorrentes nos casos atendidos pela Equipe:

Tipos de Violência dos casos %


Sexual 38%
Psicológica 29%
Física 12%
Testemunha 8%
Exploração Sexual 7,5%
Negligência 5,5%
Autoinfligida 2%
Bullying 1,6%

Os dados levantados acima, correspondem ao período de Maio de 2019 à Julho


de 2021. Cabe ressaltar que a meta de casos acompanhados por uma equipe
mínima (06 profissionais) foi pactuada em 80 casos e 120 usuários em
acompanhamento. É interessante observar que, atuando nessa configuração,

48
devido a alta demanda do território, a equipe de M’Boi Mirim ultrapassou muito a
meta proposta e por isso conseguiu a ampliação para 08 técnicos.

Monitoramento e Avaliação:
Para acompanhamento dos casos atendidos na equipe especializada e
avaliação do impacto da assistência às pessoas em situação de violência, será
necessário o monitoramento de indicadores com base nos dados da planilha da
equipe e produção via SIGA. Como os dados da notificação de violência
representam o cenário da violência durante o diagnóstico e não oferecem
informações de forma contínua, a análise dos indicadores será importante para
identificar situações que necessitam de intervenção breve e a longo prazo para
melhor assistência pela equipe.
Foi pensando nisso que a Equipe Especializada de M’Boi Mirim criou uma
planilha para monitoramento dos casos que depois passou a ser validada como
instrumento para os outros territórios. Nesse instrumento, além de se considerar o
levantamento de dados dos usuários atendidos, traçando o perfil de atendimento do
território, também é possível observar a produção dos profissionais e o investimento
da equipe nos casos.
Na aba “Monitoramento”, a equipe preenche os dados das crianças e
adolescentes vítimas e/ou testemunhas de violência acompanhadas:

49
Aba Monitoramento
Nesta aba, é possível observar uma série de campos a serem preenchidos
com informações como:
1. Nome Completo;
2. Sexo;
3. Raça/Cor;
4. Data de Nascimento;
5. Idade (calculada automaticamente através da inserção da data de
nascimento);
6. Cartão Nacional do SUS;
7. Status;
8. Pessoa com Deficiência;
9. Tipo de Deficiência (se houver);
10. Nº de Componentes no Grupo Familiar;
11. Pessoa de referência da criança/adolescente;
12. Grau de Parentesco;
13. Endereço de Referência;
14. Telefone;
15. Data Inicial;
16. Tempo de Permanência (calculado à partir da inserção da data inicial);
17. Origem do Encaminhamento ao NPV;
18. UBS de referência;
19. Profissional referência da criança/adolescente;
20. Profissional referência do responsável;
21. Unidade Escolar;
22. Período de Aula;
23. Participação em Contra-Turno (CCA);
24. Programa Transferência de Renda;
25. Renda Familiar;
26. Responsável Financeiro;
27. Profissão do Responsável Financeiro;
28. Envio do SINAN;
29. Grau de parentesco do suspeito de praticar a violência;

50
30. Tipos de Violências;
31. Acompanhamento do Conselho Tutelar;
32. Acompanhamento Jurídico;
33. Afastado do convívio familiar;
34. Data de atualização do genograma;
35. Data de atualização do ecomapa;
36. Data de atualização do PTS;
37. Data de Alta;
38. Motivo de Alta.
A partir da inserção desses dados, a planilha consegue extrair o Demonstrativo
de Produção Mensal:

Aba de DPM
Nessa aba é possível extrair os indicadores do perfil de atendimentos e de atendidos
pela Equipe Especializada, como por exemplo: Qual tipo de violência mais atendido no mês,
qual faixa etária, raça/cor, gênero, quantos grupos foram realizados, quantos atendimentos
presenciais individuais, quantos teleatendimentos, quantos matriciamentos, etc.

51
Os dados de atendimentos são colhidos pela terceira aba: Acompanhamento de
Produção Individual, extraída da produção de cada profissional.

Aba: Acompanhamento de Produção Individual.


No mais, os dados de produção de cada profissional é preenchido manualmente
através da impressão da aba “Ficha”:

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Aba: Ficha
A aba “Ficha” é entregue à um responsável que digitará a produção de cada
profissional em suas respectivas abas: DPM-AS1 (Demonstrativo de Produção Mensal da
Assistente Social 01), DPM-AS2 (Demonstrativo de Produção Mensal da Assistente Social
02), DPM-PSC1 (Demonstrativo de Produção Mensal da Psicóloga 01), etc. Desse modo,
os dados são extraídos automaticamente para a aba de Acompanhamento da Produção
Individual.
A utilização desta planilha nos possibilitou o levantamento e o
acompanhamento detalhado dos casos mais complexos de violência encaminhados
e atendidos pelas Equipe Especializada de M’Boi Mirim e está sendo utilizada como
modelo para as equipes das outras 04 Supervisões Técnicas de Saúde. Os casos
matriciados pelas Equipes Especializadas são avaliados quanto à necessidade de
acompanhamento por esse serviço e a partir disso, o PTS é elaborado. Cabe
ressaltar que a produção da equipe consiste no registro dos atendimentos e,
também, das atividades que envolvem matriciamento, discussão de caso, reuniões
de equipe, encaminhamentos, produção de relatórios, etc.

Impactos:
Os impactos da atuação das Equipes Especializadas de Violência nos territórios
vão desde o fortalecimento de ações coletivas de enfrentamento à violência, ao
abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, até a qualificação
continuada dos profissionais do NPV envolvidos no atendimento destinado às
crianças e adolescentes vítimas de violência. Através de reuniões com a
participação das outras políticas públicas que compõem a rede protetiva, a equipe
promove uma integração da rede intersetorial e intersecretarial para uma
abordagem interdisciplinar e especializada a essa população. A equipe também
oferece apoio matricial aos casos, configurando-se como um espaço potente de
educação permanente em saúde.
Foi possível observar, a partir da implantação das Equipes Especializadas de
Violência, que houve uma ampliação da capacidade do cuidado e resolubilidade dos
casos de violência contra crianças e adolescentes nos territórios. Também

53
observamos que o atendimento especializado à pessoa com intenso sofrimento
psíquico devido às situações de violência vivenciadas tem se tornado efetivo no
fortalecimento desse usuário, uma vez que passou a ser possível nos casos
indicados.
Vale ressaltar que durante as Audiências Concentradas que ocorreram em Junho
e Julho de 2021, pudemos perceber avanços no acompanhamento dos casos
discutidos, uma vez que um grande número de crianças acolhidas e seus familiares
passaram a ser assistidos por essas equipes.
Destacamos que a SMS, num primeiro momento foi contrário à implantação da
Equipe Especializada, entendendo que essa ação poderia despotencializar os NPV,
visto que existia o temor de que os casos fossem todos encaminhados para essas
equipes, deixando de serem trabalhados na atenção primária. Podemos, agora,
afirmar depois de aproximadamente 02 anos que os NPV se fortaleceram de tal
modo que a grande maioria dos casos continuam sendo atendidos apenas na
Atenção Primária. Observamos que as Equipes Especializadas colaboram de forma
complementar apoiando e qualificando o manejo dos casos acompanhados pelos
NPV e realizando o atendimentos daqueles casos mais complexos e que
demandam uma atenção especializada.
Além disso, passou a ser papel dessas equipes a escuta especializada de
crianças e adolescentes vítimas e/ou testemunhas de violência nos casos
judicializados enquanto saúde, conforme proposta da regulamentação da Lei
13.431/2017 (vide “Desafios”).
Por fim, nós estamos, nesse momento, discutindo os indicadores que poderão
nortear os reais impactos promovidos pelo atendimento das Equipes
Especializadas.

54
Curso Ministrado pelo SEDES Sapientiae:

Diante da perspectiva da implantação das Equipes Especializadas da Região Sul


e da necessidade de capacitar os NPV quanto ao manejo clínico dos casos que
envolviam violência contra crianças e adolescentes, entendeu-se ser fundamental a
contratação de uma instituição de referência para que fosse ministrada uma
capacitação voltada para o escopo da infância e adolescência, com recorte em
violência sexual pela complexidade do atendimento desses casos.
Os cursos “Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes: reflexões
teóricas e possibilidades de intervenção - módulos introdutório e avançado” foi
ministrado pela instituição SEDES Sapientiae. Para contextualizar a prioridade de
uma capacitação no manejo dos casos de violência sexual contra criança e
adolescente, observou-se que os indicadores sobre esse tipo de violência
convocavam a gestão das Políticas Públicas e os profissionais que trabalham com
este público a terem um olhar atento e compromissado com as intervenções
eficientes e eficazes.
A divisão em dois módulos desse curso (introdutório e avançado), insere-se num
contexto em que propõe o adensamento reflexivo de questões, indicadas como
relevantes e recorrentes nas reverberações dos trabalhadores que participaram do
Módulo Introdutório, em consonância com a experiência dos docentes responsáveis.
Os objetivos desta capacitação é o de sensibilizar e instrumentalizar os
profissionais da área da saúde para o enfrentamento ético e crítico da violência
sexual contra crianças e adolescentes. Através da oferta de subsídios para a
compreensão dos elementos que constituem a situação sexualmente abusiva, a
partir de bases teóricas que fundamentam a escuta sensível e o manejo terapêutico
com referenciais interdisciplinares e, sobretudo, apoiados na construção coletiva de
redes intersetoriais, é possível aprofundar a reflexão acerca das manifestações que
identificam o trauma sexual, tendo em vista o aprimoramento de habilidades e
competências para a atenção integral e o tratamento dos possíveis agravos
psíquicos dos sujeitos atendidos (crianças, adolescentes, familiares e autores de
agressão).

55
O curso ocorreu através de aulas expositivas, com discussão de textos, vídeos e
casos. Em 2019, foram realizados duas turmas presenciais do módulo introdutório
na região Sul e em 2020 foram realizadas mais uma turma do introdutório e uma do
avançado. Em virtude do contexto de pandemia já em 2020, as aulas passaram a
ser Online, com o uso da plataforma Google Meet, com 3h de duração (com
intervalo de 15 minutos após 1h e 30m de aula). A carga horária total dos módulos
introdutório e avançado foram divididos da seguinte forma:
● Introdutório: Tendo como público alvo os profissionais da Rede Municipal de
Saúde envolvidos com a escuta especializada e com práticas de atendimento
terapêutico às situações de violência sexual contra crianças e adolescentes,
numa turma de até 50 alunos. Quando o curso foi realizado de maneira
presencial, sua carga horária era de 32 horas, contudo, ao ser ministrado no
formato online, houve uma redução da carga horária total para 21 horas,
divididas em 07 aulas:
○ Aula 01: As diferentes formas de expressão e a multicausalidade da
violência sexual contra crianças e adolescentes;
○ Aula 02: A Transmissão Geracional da Psicodinâmica Familiar
Abusiva;
○ Aula 03: As Expressões do Traumático na Experiência Sexualmente
Abusiva;
○ Aula 04: Sobre Aquele que Figura no Lugar de Autor da Agressão
Sexual;
○ Aula 05: A Escuta Especializada e os Referenciais da Área da Saúde;
○ Aula 06: Diferentes Intervenções Terapêuticas às Situações de
Violência Sexual;
○ Aula 07: A Intervenção Psicoterapêutica/Manejo Clínico das Situações
de Violência Sexual;

● Avançado: Tendo como público alvo profissionais da Rede Municipal de


Saúde envolvidos com a escuta especializada e com práticas de atendimento
psicoterapêutico às situações de violência sexual contra crianças e
adolescentes, que tenham participado do Módulo Introdutório, numa turma de
até 40 alunos. O curso tem carga horária total de 21h, dívidas em 07 aulas:

56
○ Aula 01: Manejo Clínico com Aquele que Figura no Lugar de Autor da
Agressão Sexual: ausência da interdição paterna;
○ Aula 02: Manejo Clínico Individual a partir de Expressões Psíquicas
Simbólicas: identificações narcísicas alienantes;
○ Aula 03: Atendimento em Grupo Psicoterapêutico: abordagem
psicodramática;
○ Aula 04: Atendimento em Grupo Psicoterapêutico: abordagem
psicanalítica;
○ Aula 05: Intervenção Junto a Situações onde a Violência Sexual Online
já está Instalada;
○ Aula 06: A Equipe de Referência e a Parceria com a Rede
Interinstitucional (CAPS, NPV, UBS, etc) e com a Rede Intersetorial
(SPVV, CREAS, Judiciário, etc);
○ Aula 07: Abordagem Familiar Sistêmica;
Os parâmetros de avaliação dos dois módulos foram de 75% de frequência,
participação nas atividades propostas e a apresentação de um trabalho final em
grupo. Abaixo segue a tabela das turmas realizadas na região Sul, referente aos
dois módulos do curso:

Curso “Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes:


reflexões teóricas e possibilidades de intervenção - módulos
introdutório e avançado”

2019/Presencial 2020/Online

Introdutório Introdutório Avançado

02 turmas 01 turma 01 turma

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Supervisão Clínico-Institucional para as Equipes
Especializadas:

Diante da complexidade do trabalho envolvendo as profissionais que compõem


as Equipes Especializadas e da necessidade constante de aprimoramento e
empoderamento no lidar com as questões inerentes da ação do atendimento
especializado, foi proposto como ação absolutamente necessária, a supervisão
clínica-institucional permanente.
Considerando a necessidade de qualificar o acompanhamento psicossocial das
pessoas em situação de violência, a Supervisão Clínico-Institucional oferece suporte
às Equipes Especializadas, incluindo o cuidado com os trabalhadores envolvidos na
assistência, conforme determina as legislações vigentes e também busca levar os
profissionais a refletir sobre as suas práticas, proporcionando novos conhecimentos
e maior interação entre os membros das Equipes.
Diante disso, solicitamos como contrapartida com a concessão de Campos de
Estágios em suas respectivas regiões, a Supervisão Clínico-Institucional ou a
contratação de Supervisor para oferecer subsídios para aprimoramento no manejo
clínico terapêutico dos casos de atendimento às vitimas ou testemunhas de
violência, com referências interdisciplinares e, sobretudo, apoiados na construção
coletiva de redes intersetoriais.
A Supervisão Clínico-Institucional será realizada com as Equipes Especializadas
e alguns profissionais dos NPV convidados de cada Supervisão Técnica de Saúde,
de acordo com a proposta da instituição preponente: a Universidade São Camilo,
que, através dos recursos de contrapartida, contratará supervisores elencados pelos
próprios territórios para ocuparem esse espaço de Supervisão Clínico-Institucional.
Além disso, será realizada em formato Online com 1h30 de duração para cada
Supervisão, sendo previstas 6 supervisões por Equipe Especializada no ano de
2021. Diante disso, teremos um total de 30 supervisões no ano de 2021. O recurso
destinado para cada supervisão é de R$ 350,00.
A incorporação da Supervisão Clínico-Institucional resulta em um recurso de
suma importância para o desenvolvimento dos trabalhos realizados pelas Equipes
Especializadas e demais participantes dos NPV, possibilitando maior e melhor

58
qualificação e apoio às equipes que atuam na Atenção Básica e também na Rede
Especializada de Saúde de nosso território.
Abaixo estão alguns objetivos desse tipo de Supervisão:
● Supervisão Clínico-Institucional mensal com profissional com experiência
comprovada na área de assistência às vítimas de violência e o manejo clínico
das mesmas;
● Garantia de espaço de discussão e estudo apoiado para as equipes das
Equipes Especializadas/ NPV a respeito do manejo clínico, realização dos
Projetos Terapêuticos Singulares, quanto das articulações com o território e
os parceiros da rede de proteção e assistência;
● Continuidade e sustentabilidade do projeto de implantação de equipe
especializada;
● Monitoramento e avaliação de resultados do projeto;

Conforme dito anteriormente, o público alvo dessa supervisão serão os


integrantes das Equipes Especializadas e outros profissionais convidados que
poderão ser dos NPV ou da RAPS. A periodicidade, então, ficou estabelecida em
01 vez por mês, no período entre 05/2021 e 11/2021, com duração de 1h30.
A dinâmica dos encontros ficará à cargo do Supervisor e dos profissionais
envolvidos, contudo, é imprescindível que aconteça de forma a viabilizar a
discussão dos casos e os encaminhamentos adequados no processo de cuidado. O
espaço se constitui, portanto, numa iniciativa de educação permanente não só para
as Equipes Especializadas, mas englobando os profissionais dos NPV.
Cada Equipe Especializada buscou indicar três possíveis profissionais que
poderiam ser contratados para darem a supervisão, de acordo com os seguintes
critérios:

● Formação acadêmica: nível superior na Área da Saúde de preferência com


pós- graduação e/ou especialização em violência contra crianças e
adolescentes;
● Experiência no SUS ou que tenha amplo conhecimento da Rede;
● Experiência no manejo de grupos multiprofissionais, no contexto da saúde
mental,

59
saúde coletiva ou mediação de conflitos;
● Capacidade para sistematizar dados e elaborar relatórios qualitativos e
quantitativos;
● Bom relacionamento interpessoal e profissional;

As indicações dos profissionais ocorreram por ordem de prioridade e os


currículos foram enviados à Universidade São Camilo e ao setor de
Desenvolvimento da CRS-SUL, conforme os itens abaixo:

1. Campo Limpo: Rosemary Peres Miyahara (Psicóloga);

2. Capela do Socorro: Rosemary Peres Miyahara (Psicóloga);

3. M’Boi Mirim: Kate Delfini Santos (Psicóloga) e Rosemary Peres Miyahara


(Psicóloga);
4. Parelheiros: Kate Delfini Santos (Psicóloga) e Rosemary Peres Miyahara
(Psicóloga);
5. Santo Amaro/Cidade Ademar: Amaury Tadeu Rufatto (Psicólogo) e Rosemary
Peres Miyahara (Psicólogo);

Informamos que essas supervisões com estes profissionais já tiveram início em


2021 com recursos da CRS-Sul, sendo que estão acontecendo nas seguintes datas
e horários:

1. Campo Limpo: Primeira Quinta-Feira de cada mês das 8h30 às 10h com a
supervisora Rosemary Peres Miyahara (Psicóloga);
2. Capela do Socorro: Primeira Quinta-Feira de cada mês das 10h30 às 12h
com a supervisora Rosemary Peres Miyahara (Psicóloga);
3. M’Boi Mirim: Primeira Sexta-Feira de cada mês das 8h30 às 10h com a
supervisora Kate Delfini Santos (Psicóloga);
4. Parelheiros: Quarta Quinta-Feira de cada mês das 16h às 17h30 com a
supervisora Kate Delfini Santos (Psicóloga);
5. Santo Amaro/Cidade Ademar: Terceira Quinta-Feira de cada mês das 16h30
às 18h com o supervisor Amaury Tadeu Rufatto (Psicólogo).

60
Desafios:
Com a implantação das Equipes Especializadas de Violência nos territórios,
alguns desafios foram surgindo ao longo desse percurso. Dentre eles, destacamos
os desafios operacionais e de infraestrutura, que aparecem como dificultadores do
processo de trabalho em todas as regiões. Abaixo, elencamos algumas
considerações:

Infraestrutura:

Em relação à infraestrutura não existia a possibilidade de recursos novos para a


locação de espaços físicos adequados às necessidades dessas equipes. Diante
disso, foram identificados nos territórios, através dos interlocutores de violência das
STS e dos parceiros, espaços possíveis em diferentes equipamentos de saúde para
iniciarmos os atendimentos. Muitas vezes, esses locais foram avaliados como
insuficientes, pois o número de salas não era adequado e/ou eram salas
compartilhadas com outros profissionais desses serviços.

Recursos Materiais e Financeiros:

A falta de recursos para a aquisição de materiais lúdicos, de papelaria e de


mobiliário para o andamento das atividades também tem se tornado um desafio
frente ao escopo de atendimento idealizado.
Em algumas regiões, por exemplo, foi identificado a necessidade de recurso para
alimentação, visto que uma quantidade expressiva de crianças e adolescentes em
situação de violência vivem em grupos familiares que sofrem com a vulnerabilidade
social. O acesso ao local de atendimento da equipe também mostrou-se como um
desafio, sendo necessário a aquisição de passe social para a efetividade dos
encontros.

Recursos Humanos:

Conforme dito anteriormente, a proposta inicial era de uma equipe mínima com
06 profissionais técnicos, mas nem todas as equipes conseguiram contratar esse
número, conforme a tabela da página 27 deste documento. A divisão de carga

61
horária entre os profissionais exclusivos e os profissionais que compunham outra
rede de atendimento (como a saúde mental e a APD, por exemplo) também se
mostraram como desafios importantes a serem considerados.
Por exemplo, a equipe de Campo Limpo, nesse momento, está reduzida, tendo
que dividir carga horária entre os atendimentos da APD e Equipe Especializada em
Violência. As equipes de Parelheiros e Capela do Socorro também dividem parte da
carga horária com os atendimentos de saúde mental. Para além dos atendimentos,
parte da carga horária reduzida é destinada às ações de matriciamento e atividades
administrativas.
Com o aumento expressivo dos casos de violência, evidenciados pela pandemia
do Coronavírus, a demanda para a equipe é crescente e a alta demanda de
trabalhos administrativos (ligações telefônicas, produção de planilhas, compilação
de dados, impressão de documentos, organização de materiais, evolução de
prontuário), interferem na agenda de atividades e compromissos técnicos,
apontando para a necessidade de um profissional administrativo para compor a
equipe.

Apontamento da Produção:

Preocupados com a produção das Equipes Especializadas, alguns impasses


foram aparecendo ao longo do tempo. Como dito acima, as equipes não possuem
espaços físicos próprios, estando alocadas nos mais variados serviços de saúde.
Desse modo, sua produção tem sido registrada no SIGA junto à produção do
serviço de saúde ao qual utilizam o espaço físico, não sendo possível diferenciar
quais são os dados da unidade ou os dados da equipe.
Diante da necessidade do apontamento da produção dessas equipes,
consultamos a CEINFO da Coordenadoria Regional de Saúde - Sul que nos
orientou da seguinte forma:

● Criação de Unidades Virtuais no SIGA Saúde para registro de produção;


● Cadastro de Profissionais: Cadastrar os profissionais nas respectivas
unidades onde estão alocados fisicamente;
● Códigos para registro de produção:

62
Descrição da Atividade Código Procedimento SIGA Saúde

Atendimentos individuais a crianças 03.01.01.004-8 - CONSULTA DE PROFISSIONAIS DE NIVEL


e adolescentes; SUPERIOR NA ATENÇÃO ESPECIALIZADA (EXCETO MÉDICO)

Descrição: CONSULTA CLÍNICA DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE


Atendimentos individuais aos (EXCETO MÉDICO) DE NÍVEL SUPERIOR NA ATENÇÃO
responsáveis; ESPECIALIZADA

Atendimento Familiar CBOS autorizados:

Atendimento Individual. Agenda de


casos novos ou retorno 223905 - Terapeuta ocupacional

251510 - Psicólogo clínico

251605 - Assistente social

03.01.04.004-4 - TERAPIA INDIVIDUAL

Descrição: ATIVIDADE PROFISSIONAL TERAPEUTICA INDIVIDUAL,


COM DURACAO MEDIA DE 60 (SESSENTA) MINUTOS, REALIZADA
POR PROFISSIONAL COM FORMACAO PARA UTILIZAR ESTA
MODALIDADE DE ATENDIMENTO.

CBOS autorizados:

223905 - Terapeuta ocupacional

251510 - Psicólogo clínico

251605 - Assistente social

03.01.01.004-8 - CONSULTA DE PROFISSIONAIS DE NIVEL


SUPERIOR NA ATENÇÃO ESPECIALIZADA (EXCETO MÉDICO)

Descrição: CONSULTA CLÍNICA DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE


(EXCETO MÉDICO) DE NÍVEL SUPERIOR NA ATENÇÃO
Atendimento Compartilhado ESPECIALIZADA

63
Atendimentos compartilhados a
crianças e adolescentes; CBOS autorizados:

Atendimentos compartilhados aos


responsáveis; 223905 - Terapeuta ocupacional

251510 - Psicólogo clínico

251605 - Assistente social

01.01.01.002-8 - ATIVIDADE EDUCATIVA / ORIENTAÇÃO EM


GRUPO NA ATENÇÃO ESPECIALIZADA

Descrição: CONSISTE NAS ATIVIDADES EDUCATIVAS SOBRE AÇÕES


DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO À SAÚDE, DESENVOLVIDAS EM
GRUPO. RECOMENDA-SE O MÍNIMO DE 10 (DEZ)
PARTICIPANTES,COM DURAÇÃO MÍNIMA DE 30 (TRINTA)
Atendimentos em grupo aos MINUTOS.DEVE-SE REGISTRAR O NÚMERO DE ATIVIDADES
responsáveis; REALIZADAS POR MÊS

Atendimento em Grupo CBOS autorizados:

Atendimentos em grupo a crianças e


adolescentes; 223905 - Terapeuta ocupacional

251510 - Psicólogo clínico

251605 - Assistente social

03.01.08.015-1 - ATENDIMENTO EM OFICINA TERAPEUTICA


II - SAUDE MENTAL

ATIVIDADE PROFISSIONAL EM GRUPO(NO MINIMO 05 E NO


MAXIMO 20 PACIENTES) DE SOCIALIZACAO; EXPRESSAO E
INSERCAO SOCIAL, COM DURACAO MINIMA DE 02 (DUAS) HORAS
EXECUTADAS POR EQUIPE MULTIPROFISSIONAL, OU PROFISSIONAIS
DE NÍVEL SUPERIOR

CBOS autorizados:

64
223905 - Terapeuta ocupacional

251510 - Psicólogo clínico

03.01.04.003-6 - TERAPIA EM GRUPO

ATIVIDADE PROFISSIONAL EXECUTADA POR PROFISSIONAL DE


NIVEL SUPERIOR EM GRUPO DE PACIENTES (GRUPO OPERATIVO;
TERAPEUTICO), COMPOSTO POR NO MINIMO 05 (CINCO) E NO
MAXIMO 15 (QUINZE) PACIENTES, COM DURACAO MEDIA DE 60
(SESSENTA) MINUTOS, REALIZADO POR PROFISSIONAL COM
FORMACAO PARA UTILIZAR ESTA MODALIDADE DE
ATENDIMENTO.

CBOS autorizados:

223905 - Terapeuta ocupacional

251510 - Psicólogo clínico

251605 - Assistente social

03.01.01.016-1 - CONSULTA/ATENDIMENTO DOMICILIAR NA


ATENÇÃO ESPECIALIZADA

CONSISTE NA CONSULTA/ATENDIMENTO DOMICILIAR REALIZADA


POR PROFISSIONAL DE NIVEL SUPERIOR À PACIENTE EM ATENÇÃO
Visita Domiciliar DOMICILIAR.

CBOS autorizados:

223905 - Terapeuta ocupacional

251510 - Psicólogo clínico

251605 - Assistente social

65
Há um procedimento disponível no SIGA, porém não deve
ser utilizado. 03.01.08.030-5 - MATRICIAMENTO DE
Matriciamento de Casos EQUIPES DA ATENÇÃO BÁSICA
Articulação Intersetorial Exige Habilitação de CAPS

Matriciamento;

301041091 - TELEATENDIMENTO NA ATENCAO


ESPECIALIZADA (procedimento municipal)

ATENDIMENTO À DISTÂNCIA, SUPORTE ASSISTENCIAL, CONSULTAS,


MONITORAMENTO E DIAGNÓSTICO, CLÍNICO AMBULATORIAIS,
REALIZADOS POR MEIO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E
Telemonitoramento COMUNICAÇÃO

CBOS autorizados:

223905 - Terapeuta ocupacional

251510 - Psicólogo clínico

251605 - Assistente social

Não há procedimentos específicos para registros dessas


Reunião em equipe atividades

Articulação Intersetorial Não registrar em Instrumento Oficial

Relatórios

Contato telefônico;

Evolução de Prontuário;

Essa orientação, deve ser validada pela área técnica responsável de SMS, junto
ao CEINFO-SMS (Roberto Tolosa).
Cabe ressaltar que a necessidade do apontamento da produção é fundamental
para a consolidação dessa equipe enquanto uma política pública de atenção
especializada às crianças e adolescentes vítimas e/ou testemunhas de violência.

66
Definição de Papéis e Estabelecimento de Fluxos com a
Rede de Saúde e a Rede Intersetorial/intersecretarial:

Um dos desafios mais recorrentes durante o processo de trabalho das Equipes


Especializadas está se dando na apresentação dessa proposta para as outras
políticas que compõem a rede protetiva (Assistência Social, Conselho Tutelar,
Educação, Justiça e Segurança Pública). A definição dos diferentes papéis desses
dispositivos, bem como suas metodologias, objetivos e práticas tem sido um
processo extremamente importante para evitar a revitimização e oferecer um
cuidado integral, compartilhado e potencializado às crianças e adolescentes vítimas
e/ou testemunhas de violência.
Com relação à revitimização, a Defensora Pública do Estado de São Paulo, Ana
Carolina O. Galvim Schwan, nos traz a reflexão de que a responsabilização do autor
da violência não deve sobrepujar a proteção da criança e do adolescente, no
sentido de fomentar no discurso da criança a obtenção de provas do crime
cometido, operando, dessa maneira, uma revitimização. “Então, muitas vezes
coloca-se em cima da criança toda a expectativa e peso de provar o que aconteceu
e esquece da finalidade de proteção” (SCHWAN, 2021).
No intuito de evitar a revitimização das crianças e adolescentes, a Lei
13.431/2017, traz em seu bojo duas formas de oitivas para que sejam ouvidos de
forma menos violenta: a Escuta Especializada e o Depoimento Especial.
A Escuta Especializada não é um meio de prova e, desse modo, não pode ser
realizada com uma finalidade investigativa (SCHWAN, 2021). É, pois, “uma escuta
qualificada realizada por um profissional capacitado da rede de proteção, podendo
ser feita pela Assistência, Educação, Saúde, pela Defensoria, desde que se tenha
um profissional qualificado para isso” (SCHWAN, 2021). A Lei não determina qual
equipamento irá realizar a Escuta Especializada, uma vez que as realidades
municipais divergem entre si.
A finalidade da Escuta é acolher a criança e adolescente, fazendo cessar a
situação de violência e tomar as medidas de acolhimento e proteção necessárias.
“Na ânsia de proteger, a gente acaba querendo investigar. Mas não tem essa
finalidade” (SCHWAN, 2021).

67
O Depoimento Especial é um interrogatório feito em último caso na criança e
adolescente pela autoridade judicial ou pela autoridade policial, através de um
profissional especializado. São apenas esses profissionais que realizam o
Depoimento Especial. “A criança fica, em tese, numa sala separada e o Juiz fica
repassando as perguntas para a Equipe Técnica realizar da forma que eles julgam
mais adequados. O Depoimento Especial é uma forma de produção de prova”
(SCHWAN, 2021). Segundo a mesma Defensora Pública, não é obrigação da rede
(saúde, educação, assistência, etc) fazer esse interrogatório.
Pensando nesse contexto e na provocação da Defensora Pública citada, nós
pactuamos entre os interlocutores de violência dos territórios que o espaço que mais
adequado para a realização dessa escuta especializada, enquanto Saúde, seria na
Equipe Especializada. Contudo, isso ainda está sendo pactuado em todas as
instâncias responsáveis.
Nesse sentido, buscando fortalecer o esclarecimento quanto aos papéis e fluxos
estabelecidos para as Equipes Especializadas, é necessário que os espaços de
educação permanente (cursos, capacitações, fóruns, supervisões, etc), sejam
constantemente garantidos e ampliados.
Destaca-se a importância desses espaços também se constituírem em ações de
cuidado à saúde dos trabalhadores, uma vez que o atendimento às situações de
violência trazem um impacto à saúde física, mental e emocional.
Além dos desafios apontados acima, outros impasses, de ordem estrutural,
permeiam as ações das Equipes Especializadas. É de conhecimento público a
subnotificação de casos de violência que também se deve à naturalização da
violência. A violência familiar, por exemplo, possui forte conotação histórico-cultural,
os pais que viveram em situação de violência justificada pela obrigação dos pais em
educar os filhos, reproduzem essa forma de educar, recorrendo à violência física e
psicológica, aparecendo nas surras, puxões de cabelo, palmadas, gritos e as mais
variadas ameaças como forma de impor disciplina aos seus filhos, configurando-se
aí como um desafio de ordem estrutural que as Equipes Especializadas de Violência
se deparam nos atendimentos e no planejamento do cuidado.

68
Proposta de Ampliação:
As Equipes Especializadas, de acordo com o seu projeto de implantação, tem
uma composição mínima de 06 profissionais, sendo a categoria profissional
escolhida de acordo com a necessidade de cada território. À princípio, identificou-se
que profissionais que compunham a rede de Saúde Mental, tais como Psicólogo,
Assistente Social e Terapêuta Ocupacional, seriam os que melhor se enquadram
nos objetivos deste trabalho. Dessa forma, a sugestão da Coordenadoria Regional
de Saúde - Sul para as Supervisões Técnicas de Saúde era de que contratassem 02
profissionais por categoria.
No entanto, é possível observar - conforme descrito acima - que nem todos os
territórios, por dificuldades de repasse financeiro, conseguiram compor uma equipe
mínima de 06 profissionais e, nesse sentido, outros arranjos foram realizados. Com
a experiência de, pelo menos 01 ano, de Equipe Especializada por território, foi
possível identificar os desafios e possibilidades de sua existência nas regiões.
Chegou-se à conclusão de que uma equipe mínima (06 profissionais) era
imprescindível para, minimamente, dar conta da demanda inicial. Além disso, foi
possível notar que as atividades administrativas ocupavam um tempo considerável
das profissionais, afetando diretamente nos atendimentos e acompanhamento dos
casos.
Diante disso, começou-se a formular uma proposta de ampliação para as equipes
especializadas de Campo Limpo, Capela do Socorro, Parelheiros e Santo
Amaro/Cidade Ademar para 06 profissionais (02 Psicólogos, 02 Terapêutas
Ocupacionais e 02 Assistentes Sociais) mais a contratação de 01 Administrativo que
supriria o impasse entre as atividades burocráticas e administrativas e os
acompanhamentos dos casos.
Contudo, no território de M’Boi Mirim, que já possuía uma equipe mínima, foi
considerado que o trabalho da Psicologia precisava ser ampliado, propondo a
contratação de mais 02 psicólogos e 01 Administrativo, conforme tabela abaixo:

69
Informações Gerais das Equipes Especializadas Nº de Profissionais para Contratação

Total a
Número de Contratar por
STS Parceiros Local de Profissionais Psicóloga Assistente Terapeuta Administrativo
Social (30h) Equipe
Atendimento Exclusivos já Ocupacional
contratados (30h)

CER Campo
Limpo/UBS
Campo CEJAM 1 2 (40h) 1 2 1 6
Jardim Valquíria
Limpo

SACA INTS AMA.E Vila 3 1 (40h) 1 1 1 4


Constância

Capela do SAE Cidade 3 1 1 1 1 4


Socorro Dutra
Irmãs
Parelheiros Hospitaleiras A.E Parelheiros
e UBS Jardim
Campinas 2 2 1 1 1 5

M'Boi Mirim Monte Azul UBS Jardim


Thomas 6 2 (40h) 0 0 1 3
Tabela construída em Abril de 2021

70
Atualmente, os profissionais indicados para a ampliação das equipes (conforme
tabela acima), estão sendo contratados e participarão das futuras capacitações do
curso do SEDES e das Supervisões Clínica- Institucional.
Com a configuração de uma equipe mínima (06 profissionais + 01 administrativo),
estabelecemos como meta o acompanhamento de 80 casos por Equipe
Especializada e o atendimento de 120 usuários. Salientamos que, muitas vezes,
essa meta é ultrapassada (conforme a experiência de M’Boi Mirim que, durante
vários meses obteve uma demanda de mais de 20% acima da capacidade dos
casos), isso expressa a necessidade de pensarmos em novas ampliações dessas
equipes diante da realidade de vulnerabilidade dos nossos territórios.
Cabe ressaltar que os atendimentos das EEV englobam o atendimento do grupo
familiar e demais responsáveis comprometidos com os cuidados das crianças e
adolescentes inseridas na equipe. Além disso, as ações de matriciamento,
participação em audiências concentradas e reuniões com a rede intersetorial
também são compreendidas dentro do rol de produtividade dessas equipes.

71
Considerações Finais:
A inserção de um serviço inovador numa rede já construída impõe diversos
desafios no cotidiano, sendo o principal os limites de atuação de cada equipamento
e setor, pois as linhas em alguns momentos se esbarram e outras se
interseccionam. Este desafio está posto e é superado no cotidiano das práticas por
meio da comunicação entre os envolvidos no cuidado.
Tais desafios propiciam a construção de diferentes modos de atenção, maior
proximidade entre os trabalhadores e troca de saberes, legitimação de espaços de
discussões, fortalecimento da atenção básica e dos Núcleos de Prevenção de
Violência (NPV) dos serviços da rede contribuindo efetivamente para a assistência
dos usuários.
Ressaltamos que, conforme o exposto neste documento, as Equipes
Especializadas de Violência tiveram um papel fundamental nos territórios para o
aprimoramento no cuidado dessa população tão vulnerável, onde se há a
compreensão de que a intervenção ainda na infância e adolescência é um caminho
efetivo para a construção de adultos que possam ressignificar suas vidas e trabalhar
para o rompimento dos ciclos da violência tão naturalizada no nosso cotidiano.
Nesse sentido, a assistência à essa população também se configura como uma
proposta de prevenção no enfrentamento às questões relativas à violência na nossa
sociedade.
Salientamos, portanto, que a construção de políticas públicas efetivas para a
infância e adolescência em situação de violência se faz cada vez mais necessárias,
podendo ser fomentadas e ampliadas pelas instâncias públicas.

72
Referências:

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Estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou
testemunha de violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente). Brasília, 4 de abril de 2017; 196º da Independência e
129º da República. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13431.htm>. Acessado em:
03/06/2021.

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Linha de Cuidado


para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em
Situação de Violências. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas,
Brasília, DF, 2010. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/linha_cuidado_criancas_familias_viole
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DE 2018. Regulamenta a Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017, que estabelece o
sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha
de violência. Brasília, 10 de dezembro de 2018; 197º da Independência e 130º da
República. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9603.htm#:~:tex
t=DECRETO%20N%C2%BA%209.603%2C%20DE%2010,v%C3%ADtima%20ou%
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73
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Federal de Psicologia: Resolução do Exercício Profissional, 2019. Disponível em:
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exercicio-profissional-e-revoga-a-resolucao-cfp-no-15-1996-a-resolucao-cfp-no-07-2
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SÃO PAULO (Cidade). Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde


de São Paulo 2014 - 2017. Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, 2014.
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Núcleos de Prevenção da Violência (NPV) nos estabelecimentos de Saúde do

74
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Disponível em:
<http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/portaria-secretaria-municipal-da-saude-130
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SÃO PAULO (Cidade). Secretaria Municipal de Saúde. Linha de Cuidados para


Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de Violência. Coordenação da
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Atenção Integral às Pessoas em Situação de Violência do Município de São
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SCHWAN, Ana Carolina O. Galvim in "Política integrada de atenção a crianças e


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CMESCA. “Seminário virtual em mobilização ao 18 de maio - Dia Nacional de
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em 08/09/2021.

75
Ocariz, M. O sintoma e a clínica psicanalítica. São Paulo: Via Lettera, 2003.

Anexo 01: Infográfico EEV

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