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Resenha descritiva - os pontos a serem seguidos:

O livro ‘Por que o amor é importante – como o afeto molda o cérebro do bebê’,
foi escrito pela autora e psicanalista Sue Gerhardt. Publicado pela editora Artmed em
Porto Alegre no ano de 2017. O livro foi traduzido por Maiza Ritomy Ide e revisado por
Luciana Vellinho Corso.
A obra visa elucidar como os relacionamentos afetuosos são primordiais para o
bom desenvolvimento cerebral durante os primeiros anos de vida. Além disso, o
conteúdo do livro explica como que as primeiras interações do bebê possuem
consequências duradouras influenciando futuramente sua saúde tanto física como
emocional. Dessa forma, a autora enfatiza a importância dos efeitos do estresse
durante as fases iniciais da vida no desenvolvimento do sistema nervoso do bebê ou
de uma criança pequena.
O livro é composto por três partes divididas em 11 capítulos, totalizando 210
páginas. Os capítulos são dispostos na seguinte ordem: Cap. 1 – Antes que os
conheçamos, Cap. 2 – Voltando ao início, Cap. 3 – Construindo um cérebro, Cap.4 –
Cortisol corrosivo, Cap. 5 – Tentando não sentir, Cap. 6 – Bebê melancólico, Cap. 7 –
Dano ativo, Cap. 8 – Tormento, Cap. 9 – Pecado Original, Cap. 10 – Se tudo falhar,
abrace, Cap. 11 – Nascimento do futuro. Os capítulos que serão abordados nesta
resenha serão os Cap. 1 e Cap. 2.
O Capítulo 1 – “Antes que os conheçamos” traz os seguintes subtópicos: As
primeiras semanas; O mundo de acordo com a mãe; Pensamentos criam a realidade e
a realidade cria pensamentos; O bom e o mal estresse; O final da gestação e o cérebro;
A cultura da falta de apoio; Experimento a infelicidade; Herdando a depressão; e Será
que o amor importa?. Neste capítulo a autora descreve todo os fatores que ocorrem
desde a descoberta da gravidez até a primeira infância do bebê que irão influenciar no
seu desenvolvimento tanto do ponto de vista biológico quanto psicológico.
De acordo com o conteúdo do capítulo, partir da descoberta da gravidez, a mãe
e o embrião estarão em um projeto de construção mútua. Portanto, qualquer
substancia tóxica que for ingerida pela mãe poderá alcançar o embrião prejudicando o
seu desenvolvimento. Tudo aquilo que a mãe ingere tem um impacto maior sobre o
feto nos três primeiros meses da gestação. Além disso, o estresse também é um fator
que produz efeitos significativos nos sistemas nutricionais do feto.
Portanto, os aspectos de qualidade de vida da mãe são compartilhados com o
feto, tanto físico quanto psicologicamente. Dessa forma, mulheres que estão
vivenciando uma situação de estresse podem passa-lo para o filho. Porém nem todo o
estresse é ruim para o desenvolvimento do bebê, pois níveis moderados de estresse
podem predispor o sistema nervoso a amadurecer mais rapidamente e pode também
estimular o desenvolvimento motor e cognitivo do feto. Entretanto, formas mais
intensas e crônicas de estresse pode fazer com que o hormônio cortisol atinja o feto,
resultando no nascimento de bebes mais irritáveis, propensos a chorar e com
respostas comportamentais ao estresse mais acentuadas. Isso pode ocorrer devido aos
efeitos do cortisol sobre a amígdala da criança que é responsável pelas reações
emocionais do cérebro. Além disso o estresse também pode reduzir o volume do
hipocampo que uma estrutura do cérebro relacionada com a memória. Ao final da
gestação, mães com altos níveis de ansiedade e depressão possuem maior
predisposição a terem bebes com dificuldade para lidar com o estresse. Portanto,
esses bebes podem apresentar problemas comportamentais e emocionais ou sintomas
de transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade.
Sendo assim, os bebes compartilham a vida emocional de suas mães tanto
antes quanto depois do seu nascimento e a criança será influenciada por esses fatores.
Pais com dificuldade nas primeiras experiências com os filhos precisarão de mais ajuda
para criar um vinculo seguro com o bebe, pois os cuidados na primeira infância
desempenham um papel fundamental na sua formação. Dessa forma, um vínculo
positivo e um apego seguro no primeiro ano de vida da criança podem possibilitar que
um hipocampo prejudicado pelo estresse recupere o seu volume normal e também
promove novo crescimento do córtex pré frontal em respostas a experiências sociais
positivas. Portanto, o amor possibilita a criança a encontrar uma nova realidade que
influenciará de uma forma positiva e significativa o seu desenvolvimento.
Já o Capítulo 2 – “Voltando ao início” é composto pelos seguintes subtópicos: O
reino das mulheres; O bebê inacabado; Regulação precoce; Apegos inseguros e o
sistema nervoso; Fluxo emocional; Sentimentos como sinais. Neste capítulo a autora
descreve como que as primeiras experiências da criança irão influenciar no
relacionamento com as outras pessoas e nos aspectos de regulação emocional. Essa
fase da vida é de extrema importância pois os indivíduos adultos não se lebram de
forma consciente desse período, porém ele está integrado ao organismo e regula as
expectativas das pessoas assim como seu comportamento.
O cérebro é considerado um órgão social, portanto muitos aspectos da função
corporal e do comportamento emocional são moldados pela interação social. Assim, o
que irá moldar nossas respostas emocionais são os padrões de experiencia emocional
com outras pessoas, estabelecidos de forma mais intensa durante a primeira infância.
Pode-se considerar que o bebe é um projeto interativo e não autoalimentado,
portanto possui a necessidade de ser programa do por um ser humano adulto. Dessa
forma, cada bebe será adaptado as circunstancias e ao entorno que ele se encontra.
Por exemplo, bebes de mães deprimidas irão se acostumar a falta de
sentimentos positivos, já bebes de mães agitadas podem ficar superexcitados.
Contudo, bebes bem cuidados sentem-se seguros de que os seus sentimentos seja
correspondidos de que terá alguém que lhe ajudará a regular as suas emoções mais
intensas.
Além disso, as experiências da primeira infância tem alto impacto sobre os
sistemas fisiológicos do bebe que são ainda imaturos e delicados. O cérebro do bebe
pode não se desenvolver se o bebe não estiver tendo cuidados adequados. O bebe
ainda não tem a capacidade de fazer o processamento de informações complexas, por
isso necessita da confianças dos adultos para fazê-lo.
Cada bebe carrega um aporte genético que pode ou não ser ativado pela
experiência. Bebes difíceis podem ser assim devido a uma resposta à indisponibilidade
emocional de seus pais com eles. Os pais podem ser negligentes ou intrusivos. Quando
negligentes, esses pais sentem dificuldade de responder de forma afetiva aos seus
bebes, fazendo com que os bebes demonstrem sentimentos menos positivos
apresentando um apego inseguro. Quando intrusivos, respondem as necessidades do
bebe de forma hostil e abrupta, agindo de forma insensível e fazendo com que o bebe
também desenvolva um apego inseguro envolvendo esquiva emocional ou
desorganização. O desenvolvimento da regulação emocional também esta ligado a
como os pais respondem aos sentimentos do bebe. Pais que não são capazes de se
entender com os bebes tendem a passar esse problema regulatório para os filhos.
Portanto, é crucial para o bebe que os pais estejam emocionalmente disponíveis e
presentes para ele, pois a vida emocional depende da coordenação do indivíduo com
os outros, prevendo assim o que vão fazer e dizer.
A obra possui uma narrativa acessível sobre os conteúdos relacionados a
neurociências, desenvolvimento psicológico e neurobiológico sendo útil tanto para
pais como para profissionais.
Sue Gerhardt é psicanalista desde 1997. É cofundadora do Oxford Parent Infant
Project (OXPIP), organização beneficente que oferece atendimento psicoterápico a
centenas de pais e bebês em Oxfordshire e serviu de modelo para muitas instituições
semelhantes no Reino Unido. É autora do livro The Selfish Society (2010).
Carla Heloisa de Faria Domingues é acadêmica do curso de Psicologia da
Universidade Uniderp.

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