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Automutilação na adolescência: o que está por trás do ato?

A problemática que envolve a automutilação na adolescência —


também conhecida por autoflagelação — sugere a necessidade de
fomentar planos de intervenção mais eficazes e que possam frear os
impactos negativos dessa prática.
Ao contrário do que se pensa, os atos de automutilação não são apenas
um capricho, modismo cibernético ou formas de chamar a atenção. A
autoflagelação está interligada a questões psicológicas tão sérias que,
se não tratadas adequadamente, podem evoluir para situações
irreversíveis.
Nesse sentido, a proposta deste artigo é mostrar alternativas para
ajudar seu filho a superar a automutilação. Entenda as motivações que
conduzem ao ato, as formas de prevenção e os tratamentos disponíveis
para conter um problema que está se tornando cada vez mais comum
em nossa sociedade. Acompanhe!
O aumento da automutilação na adolescência
O aumento da prática de automutilação na adolescência merece
atenção máxima dos pais e professores, pois é um indicador de
problemas psicológicos graves e que exige intervenção profissional
urgente.
Como esse tema está ganhando destaque na mídia e na internet, muitos
jovens usam o potencial das redes sociais para disseminar essa
prática. Especialistas afirmam que as motivações para a automutilação
são relacionadas a múltiplos fatores.
No entanto, o ato de machucar-se nem sempre é uma metáfora para
muitas crianças e adolescentes. Alguns relatam que se valem da
exposição de cortes feitos pelo corpo para disfarçar, ou mesmo
amenizar a dor da alma por se sentirem sozinhos e que ninguém se
importa com eles.
Os jovens realizam a autoflagelação em momentos de solidão, angústia,
dor e uma insuportável tensão interna, a qual eles ainda não sabem
como enfrentar. Esses atos automutilatórios são vistos como tentativas
de substituir uma dor que não encontra expressão em nenhuma outra
forma. Nem mesmo pela via das palavras, já que muitos se fecham no
silêncio.
As principais causas da automutilação
A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano marcada por
alterações físicas, cognitivas, sociais e comportamentais que exigem
um cuidado especial por parte dos pais. O suporte familiar é um dos
processos que permite ao jovem passar por essa etapa da vida de
forma equilibrada e saudável.
Assim, a prevalência da automutilação e as motivações ligadas aos
conflitos familiares deixam claro que a lacuna na estrutura familiar é um
gatilho para potencializar o problema. Porém, há outras causas
associadas à essa prática. Veja quais são!
Depressão
Na adolescência, a depressão é uma questão delicada e que deve ser
levada a sério. Se não for adequadamente tratada, essa doença pode
evoluir para situações mais graves, como o abuso de álcool e drogas e
as ideações suicidas.
As automutilações entre adolescentes e jovens estão relacionadas a
características clínicas da depressão. Pais e professores precisam
estar atentos a alguns sinais que indicam a necessidade de intervenção
profissional.
Os sintomas mais evidentes de depressão na adolescência são
isolamento social, tristeza, irritabilidade e redução da autoestima.
Nesse grupo há, ainda, o desinteresse pela escola ou por atividades
que antes eram prazerosas, sentimento de inutilidade e outros que
sugerem a necessidade de suporte profissional.
Solidão
O estilo de vida contemporâneo e as mudanças de comportamento
social tem colaborado para a instituição das “famílias disfuncionais”.
Esse conceito abrange tanto a ausência física dos responsáveis como o
distanciamento que gera a falta de interação entre pais e filhos.
Tal condição contribui para potencializar crises depressivas entre
filhos que têm muita dificuldade em se relacionar com os pais e, com
isso, se isolam também das pessoas ao seu redor. Por isso, muitos
jovens optam pela autoflagelação, já que não têm com quem falar sobre
seus sentimentos, dificuldades emocionais ou expressar sua dor.
Bullying
O bullying nas escolas está bastante relacionado às situações que
envolvem padrões estéticos de beleza e dificuldades na aprendizagem.
Sob a ótica dos demais colegas, os alunos que não se enquadram no
perfil “perfeitamente correto” são os alvos de perseguição desses
grupos que promovem o bullying.
Além desses fatores de sustentação do bullying, os conflitos de
aceitação de padrões de gênero, ou dificuldades ligadas à
homoafetividade, são gatilhos que levam à prática de autoflagelação
entre crianças e adolescentes.
Os impactos na vida do adolescente e da família
Muitos jovens praticam a autoflagelação por não ter com quem partilhar
sua dor. Esses desajustes emocionais geram conflitos diversos e
comprometem a vida pessoal, escolar e os relacionamentos afetivos e
familiares. O impacto desse problema resulta em comorbidades
psíquicas e aumentam o risco para o surgimento de doenças físicas
também.
Para os familiares, exige-se um trabalho contínuo de suporte emocional
e de proximidade com um indivíduo que necessita de carinho e amparo.
O adolescente precisa ser guiado por um caminho de respostas mais
positivas em relação aos conflitos da idade.
No Brasil, ainda não há dados concretos sobre o número de adeptos da
prática automutilatória. Porém, a grande disseminação do assunto no
ambiente virtual dá uma pista sobre um problema, cujas dimensões
estão se tornando cada vez mais preocupantes.
Ainda que sob a ótica dos que se automutilam, isso ajude a aliviar
sofrimentos emocionais ou tensões psicológicas, esse é um fenômeno
bastante delicado. Um dos motivos é a estreita relação entre a
automutilação e a tentativa de suicídio.
Em matérias amplamente divulgadas pelos diferentes canais de
comunicação, o Ministério da Saúde (MS), afirmou que, anualmente, o
Brasil registra 11 mil casos de suicídios.
O ato de desferir dor a si mesmo pode representar um ensaio para
práticas mais perigosas. Considerando o aumento dos índices de
suicídio entre os jovens brasileiros, a sociedade precisa buscar
soluções mais eficazes, como encaminhar os suspeitos desses atos
para tratamento especializado.
A urgência na internação e o risco de vida
Dada à complexidade que envolve a automutilação na adolescência, o
presidente Jair Bolsonaro sancionou uma Lei que pode ajudar a conter
o impacto negativo dessa questão. A legislação prevê que instituições
como hospitais e escolas tenham o direito de notificar casos de
tentativa de atos ligados ao suicídio e à automutilação.
Além da associação com o comportamento suicida, o risco de morte
também está implícito na própria atitude de se automutilar: um corte
mais profundo em regiões mais sensíveis, como o pulso, por exemplo,
pode levar o adolescente à morte, ainda que ele não tenha tal intenção.
Outro problema associado à automutilação é o risco de infecção nas
regiões golpeadas. Para além dessas questões, há as marcas
emocionais que podem perdurar até a vida adulta, caso não sejam
tratadas corretamente.
Percebe-se, por fim, que a autoflagelação na adolescência é uma
desordem emocional que não pode ser ignorada. Não é, pois, um
simples ato que vai passar com o tempo. Logo, a alternativa mais
segura é buscar ajuda profissional e avaliar a necessidade de
internação urgente.
Automutilação: O que é, como identificar e tratamentos
Cada dia parece ser mais comum ver histórias de pessoas que se
automutilam.
Para muitos, aparentemente essas pessoas têm tudo para “estar bem”.
Ora a automutilação não é seletiva, atinge todas as faixas etárias e tipos
sociais!
Porém é mais comum em na adolescência e transição para fase adulta,
assim como nos idosos, esse último caso se deve em maior parte à
pacientes em estado terminal ou com doenças incapacitantes.
No Brasil em 2017 foram notificados 13 443 casos de autolesões entre
jovens de 15 a 19 anos, já em 2018 foram 886 mortes decorrentes de
automutilações, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos e o DATASUS.
O que é automutilação?
A automutilação é o comportamento de infringir danos e dor a seu
próprio corpo, podendo ser de maneira superficial ou não, podendo ter
intenção suicida ou não.
As primeiras experiências de automutilação costumam não ter
intenções suicidas e serem danos mais superficiais. Um dos principais
motivos para essa ação é dar forma a uma dor emocional e psicológica,
assim como tentar usar essa dor da lesão para esquecer da outra.
Os propósitos para a automutilação quase sempre vem de causas não
aceitas ou não bem-vistas socialmente. Elas acontecem como cortes,
contusões, arranhões, perfurações na maior parte das vezes.
Tipos de automutilação
As automutilações costumam variar de acordo com sua motivação e
seu tipo de intenção, para uns pode servir a um propósito de apenas
atenuar sua dor interna, já para outros pode fazer parte de um ritual de
morte para si mesmo.
Diferente de outros sintomas a automutilação costuma deixar marcas
visíveis e por isso é importante prestar atenção em como cada pessoa
se veste e se comporta para notar possíveis mudanças.
– Automutilação com intenção suicida
A automutilação que possui uma ideação suicida costuma ser mais
pontual e não tão frequente como a automutilação sem a intenção
suicida, assim como as lesões são mais profundas e danosas, pois
procuram a morte.
Podendo ocorrer o uso de venenos, objetos asfixiantes, colisões
intencionais e objetos cortantes e perfurantes; assim é menos provável
que a automutilação ocorra por um tempo prolongado.
– Automutilação sem intenção suicida
Esse tipo de automutilação tende a começar no início da adolescência e
pode persistir até a vida adulta, de modo que procuram fazer em áreas
que geralmente ficam encobertas pelas roupas e podem variar os tipos
de lesões numa mesma sessão.
Por exemplo, em uma mesma sessão de automutilação a pessoa pode
se queimar com cigarros, fazer cortes no ombro e arrancar brutalmente
seus pelos corporais.
Com o tempo a pessoa passa a se tornar mais agressiva e tende a
descontar mais emoções e situações ruins em si mesma, embora possa
não haver pretensão de morte, a automutilação não deve ser ignorada,
ela pode ser um sinal ou sintoma de um outro problema como
transtornos mentais.
Quais os principais motivos que levam uma pessoa a se mutilar?
O motivo do que leva cada pessoa a automutilação é muito individual e
íntimo, posso dizer que cada uma vai ter um motivo diferente ou ainda
que parecido o contexto pode ser outro.
Então é impossível determinar motivos e causas para a automutilação?
Não, existem situações e condições facilitadoras que possuem
estatisticamente uma correlação com o ato da automutilação.
Para entender quais são e aprender mais sobre elas, siga abaixo:
– Distúrbios psiquiátricos
É comum que alguns portadores de transtornos psiquiátricos
manifestem o ato da automutilação, transtornos como depressão,
borderline, personalidade antissocial e dependência química estão
entre os mais associados.
A automutilação na depressão frequentemente vem da forte dor
emocional e do sentimento de incapacidade diante de situações
cotidianas, já os borderline costumam buscar desesperadamente pelo
afeto de outra pessoa e são instáveis de humor, em casos de abandono
ou de descontrole podem se automutilar como tormento.
A pessoa com transtorno de personalidade antissocial pode recorrer à
autolesão como forma de encontrar prazer ou aplacar sua
agressividade e impulsividade.
Na questão da dependência química, a automutilação pode surgir como
um dos sintomas desse transtorno a depender da droga utilizada, do
tempo de uso e forma.
– Alívio e controle das emoções / automutilação para controlar as
emoções
É comum também que pessoas que não possuem necessariamente um
diagnóstico de transtorno ou de alguma outra doença, traumas e
acontecimentos marcantes emocionalmente também podem ser um
fator desencadeante.
A automutilação vem como uma ferramenta de escape da realidade e
da dor emocional que a pessoa possa estar sentindo, vem
principalmente como forma de alívio para essa emoção.
Há ainda quem use o fenômeno da automutilação como uma tentativa
de supressão e controle emocional, como por exemplo:
Se dar apertões para segurar a tristeza, enrolar e puxar o cabelo
(tricotilomania) para controlar ansiedade, se cortar para controle de
raiva e agressividade.
– Fatores de risco
Algumas situações e/ou condições em que a pessoa se encontra a
colocam em risco, por conta disso possuem uma taxa maior de
desenvolvimento de outros sintomas e doenças.
Portanto fatores de risco e comorbidades para a automutilação são:
Dependência química, histórico de automutilação e suicídio na família,
transtornos mentais, doenças incapacitantes, histórico de abuso
sexual, físico e psicológico, bullying.
Outra questão é a automutilação por contágio, que se refere a quando
um grupo de pessoas ou um indivíduo é exposto a prática de
automutilação de outra pessoa e passa a praticar a automutilação.
Como identificar a automutilação? / causas da automutilação
Alguém que está passando por uma fase de automutilação demonstrará
alterações comportamentais comparada a quando não estava
praticando, isolamento social e passar a ter preferência por roupas
compridas são bons exemplos.
As roupas compridas servem para esconder as mutilações feitas, se
isola socialmente para não ser notado ou criticado, passa a se tornar
mais impulsivo e agressivo, pode ter problemas alimentares e de sono,
assim como ser severo consigo mesmo.
– Automutilação em crianças
A automutilação na infância tem se tornado mais comum, sendo
associada a fenômenos como o bullying e a alta pressão que é colocada
sobre as crianças desde cedo.
Na fase de transição da infância para a adolescência, muitas crianças
procuram usar seu corpo para se expressar, a criança pode realizar
também em busca do reconhecimento de sua dor, por sentir que não
está sendo validada.
É uma fase cheia de transformações, que devido a chegada da
puberdade se intensifica ainda mais, causando sofrimento psíquico,
algumas crianças buscam na mutilação uma forma de diminuir esse
sofrimento.
– Automutilação em adolescente e adultos
A fase mais comum das automutilações é sim na adolescência, podendo
chegar a fase adulta se o motivo das mutilações não for resolvido ou se
não for tratado adequadamente.
Em adolescentes as principais causas são as relações familiares e de
amizade, assim como a descoberta do seu eu, questões como
sexualidade, gênero, lugar no mundo e orientação profissional podem
ser grandes fontes de angústia e estresse.
Porém como muitos adolescentes ainda estão entendendo como
funciona o mundo, tentam racionalizar certas emoções e sensações,
para isso realizam os cortes, queimaduras e perfurações, para justificar
e compreender a dor que não é física.
Automutilação: Conheça o tratamento adequado
Ainda há uma discussão sobre se a automutilação é uma doença ou se
apenas um sintoma de outras doenças e outros transtornos que ainda
não foram descobertos em cada pessoa.
Um fato é que precisa de tratamento e o melhor apoio para isso é a
busca por psicoterapia, para que possa ser tratado na raiz do
problema, aquilo que aflige cada pessoal profundamente para que
cometa esse ato.
Pode ser necessário em alguns casos também o uso de medicações,
apenas no caso de outros transtornos presentes, logo controlar o
transtorno também é controlar o hábito da automutilação.
Conclusão
Apesar de não ser uma prática incomum, principalmente entre os mais
jovens, a questão da automutilação ainda é pouco discutida entre a
população geral, mesmo sendo um sinal claro de que algo está errado.
Não só pode estar associada a transtornos mentais e dependência
química como a ao risco de suicídio, logo é um importante fator tratar
assim que for identificada até como forma de prevenção para os outros
transtornos e doenças.
Logo, é importantíssimo ter a atenção redobrada para seus filhos,
irmãos e irmãs ou amigos que estão na fase da infância e adolescência
para que não iniciem também nessa prática.
Quais os motivos desencadeadores das autolesões?
A prática de automutilação, muitas vezes, está relacionada a
sentimentos de inadequação, solidão e angústia.
Não há uma resposta única para essa questão.
Inclusive, os motivos podem variar, no transcorrer do tempo. Ou seja,
quando a pessoa experimenta o autodano como válvula de escape, em
uma dada situação, pode recorrer ao procedimento em circunstâncias
diversas, para obter outras formas de alívio.
Os relatos permitem observar que automutilação está relacionada a
sentimentos de:
raiva;
culpa;
estresse;
inadequação;
baixa autoestima;
solidão;
angústia;
tristeza;
vazio.
Também pode se a apresentar como sintoma de perturbações como:
bullying;
abuso sexual;
luto por parente ou amigo próximo;
dificuldades para aceitar a própria sexualidade;
problemas de relacionamentos.
“A autodestruição pode ser uma forma de comunicação para aqueles
que ainda não têm maneiras de domar seus conflitos e sentimentos
internos angustiantes e que ainda não podem pedir apoio a outros”. —
James A. Chu
Em função da dificuldade de expressar confusões mentais ou
pensamentos negativos por meio de outras manifestações, as
automutilações, portanto, acabam servindo como modo de traduzir as
dores psicológicas.
É importante entender que, ao sentirmos dores físicas, nosso sistema
nervoso reage, liberando opioides endógenos, como as endorfinas,
visando um efeito anestésico natural.
Isso significa que o ferimento autoprovocado pode, de fato, trazer uma
espécie de entorpecimento temporário, amenizando dores que não
estão na carne — mas migram para ela, numa transferência de foco.
Contudo, o efeito neuroquímico passa. Já as feridas emocionais, ficam.
Podem, inclusive, se agravar. Pois, geralmente, quem se machuca
acaba invadido por profunda sensação de vergonha.
Tanto que o comportamento padrão é o silêncio sobre os atos e
tentativas de ocultar cicatrizes, com roupas que escondam o corpo.
Em certa medida, a promoção do alívio passageiro, gerado pela
resposta do sistema nervoso à dor, pode ser responsável pela
repetição dos danos. Porém, essa conclusão seria muito reducionista.
O fato é que as automutilações tomam o lugar de uma voz, que não se
encontra. De uma decisão, que não se consegue elaborar. De um
significado de vida, que se faz ausente.
Conteúdo relacionado: Como parar de sofrer: 6 maneiras de enfrentar a
dor emocional
A automutilação é um sintoma de outros transtornos mentais?
É possível que as autolesões estejam associadas a distúrbios mentais
como:
depressão;
transtorno de personalidade borderline (TPB);
síndrome do pânico;
bipolaridade;
ansiedade;
transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
transtorno do espectro do autismo (TEA);
esquizofrenia;
distúrbios alimentares.
Contudo, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-5), a automutilação é um transtorno em si,
não necessariamente um sintoma de outro problema psicológico.
A avaliação do quadro deve ser realizada por psiquiatra e
psicoterapeuta, apto a compreender as motivações e especificidades
de cada caso.
Essa compreensão é crucial para que se encontre tratamento oportuno,
sem que se corra o risco de ignorar uma condição mental subjacente.
Como ajudar alguém a parar de se automutilar?
Ser um bom ouvinte é a melhor atitude que você pode ter, se quiser
auxiliar alguém que passa pelo problema.
Permita que a pessoa fale sobre suas emoções, sem prejulgamentos ou
fazê-la se sentir culpada.
Incentive a busca por tratamento psicológico. Afinal, o profissional da
saúde saberá guiá-la no processo de autoconhecimento e descoberta
de recursos para lidar com os conflitos internos.
Além disso, existem algumas técnicas que você pode sugerir ao amigo
ou familiar que se autolesiona. Proponha que, ao sentir a vontade de se
machucar, ele tente:
Usar um cubo de gelo, esfregando-o na pele, ao invés de usar um objeto
cortante.
Rabiscar um papel com tinta vermelha.
Gritar num travesseiro.
Socar almofadas.
Tomar um banho frio.
Escrever os pensamentos negativos num papel e rasgá-lo.
Ouvir músicas relaxantes.
Praticar técnicas de meditação.
Apertar uma bola antiestresse, fazendo do objeto uma alternativa para
obter alívio e se distrair das emoções turbulentas.
Sair para dar uma caminhada.
Essas técnicas servem para distrair a atenção e evitar que o gatilho da
automutilação tome conta da mente, impondo-se como única alternativa
viável.
Quanto mais a pessoa entender o que funciona para acalmá-la, melhor
poderá investir em estratégias funcionais para sua situação.
Recursos adicionais: livros que abordam automutilação
Os livros listados abaixo apresentam diferentes perspectivas sobre a
questão da automutilação.
Para você ter uma ideia do conteúdo das obras, indicamos um trecho
da sinopse de cada título, disponível nos sites das respectivas editoras:
1. Como lidar com a automutilação
Guia prático para familiares, professores e jovens que lidam com o
problema da automutilação.
Frequentemente confundida com tentativa de suicídio, a automutilação
é um comportamento desenvolvido principalmente pelo adolescente
como maneira de aliviar seu sofrimento psicológico.
(…)
Este guia traz informações sobre os grupos de risco, os motivos que
levam o paciente a se automutilar, sobre como identificar o problema,
como abordar o paciente que sofre de automutilação e como realizar o
tratamento desse comportamento.
Voltado principalmente para pais e professores, este guia também é
indicado para adolescentes, jovens, adultos e todos que estejam
passando pelo problema e precisem de ajuda. Há instruções práticas e
direcionadas para a abordagem e a resolução desse problema, que
ainda é tabu em todo o mundo, mas que apresenta número alarmante
de praticantes nas estatísticas.”
2. Sua voz dentro de mim
Por Emma Forrest. Editora Rocco.
“Aos 22 anos, a jornalista, escritora e roteirista Emma Forrest parecia
levar uma vida maravilhosa: havia deixado a casa dos pais em Londres,
cidade onde foi criada, para morar em Nova York, tinha um contrato
com o jornal The Guardian e estava prestes a publicar seu primeiro
livro. Mas, por trás da aparência bem-sucedida, havia uma jovem com
sérios problemas psiquiátricos, que se cortava com gilete, sofria de
bulimia e era extremamente autodestrutiva. Em Sua voz dentro de mim,
Emma apresenta suas memórias, sem medo de expor o lado mais
escuro que guarda dentro de si.
(…)
Apesar de toda a dor e do mergulho profundo na depressão e na
autodestruição que permeiam o livro, Emma Forrest consegue explorar
a beleza do amor e falar de superação ao longo das páginas. De quebra,
ela ainda faz refletir sobre a relação que temos com nós mesmos.”
3. Automutilação na adolescência: corpo atacado, corpo marcado
Por Aline Gonçalves Demantova. Editora CRV.
“O presente trabalho busca contribuir para o estudo teórico-clínico da
automutilação na adolescência, investigando a peculiaridade do
recurso à escarificação, ato em que o sujeito inflige a si mesmo cortes
na superfície de seu corpo. Essa modalidade de automutilação corporal
traz à tona a evocação de um sensorial do corpo e a inscrição de uma
marca na superfície deste, gerando, assim, uma cicatriz. A autora
questiona de que forma a produção dessa marca no corpo se relaciona
com a dimensão do traumático, dimensão de especial relevo na
experiência subjetiva da adolescência.”
4. Garota em pedaços: um romance
Por Kathleen Glasgow. Editora Outro Planeta.
“Numa história de superação, Charlotte Davis perde o pai e a melhor
amiga, precisando lidar a dor e com as consequências do Transtorno
do Controle do Impulso — um distúrbio que leva as pessoas a se
automutilarem.
(…) Cansada de se alimentar do sofrimento, a jovem se imbui de uma
enorme força de vontade e decide viver e não mais sobreviver. Para
fugir do círculo vicioso da dor, Charlotte usa seu talento para o desenho
e foca em algo produtivo, embarcando de cabeça no mundo das artes.
Esse é o caminho que ela traça em busca da cura para as feridas
deixadas por suas perdas e os cortes profundos e reais que imprimiu
em seu corpo.
Romance de estreia de Katlheen Glasgow, que figurou na lista dos mais
vendidos do jornal The New York Times e dos melhores livros do ano de
2016 da Amazon (EUA) e da revista TeenVogue. Nele, os leitores vão se
emocionar e se inspirar na história da adolescente de 17 anos que, por
conta de sofrer de Transtorno do Controle do Impulso, pratica o
‘cutting’ — um distúrbio que afeta um grande número de jovens
brasileiros e também personalidades do universo teen, como Demi
Lovato e Britney Spears, entre outras.”
5. ABCD das escolas: automutilação, bullying, conectividade,
depressão
Por Law Araújo. Editora CRV.
“O processo do bullying na escola não pode ser ignorado ou
sentenciado a meras brincadeiras entre estudantes. Primeiro porque
não é uma ação divertida. Ele desencadeia diversos problemas por
tamanha a sua violência como a automutilação, a depressão e o
isolamento virtual.”
6. Cortes & cartas: estudos sobre automutilação
Por Juliana Falcão. Editora Appris.
“Para Juliana Falcão, a automutilação é uma forma de escrita que se faz
no corpo. Escrita que é, muitas vezes, corte na pele, incisão. Como
explica a autora, a palavra cortador — tradução direta do termo cutter,
em inglês, que se refere àqueles que se automutilam por meio de cortes
— pode ser lida também como corta-dor, incutindo aí a possibilidade de
compreensão da automutilação como um meio para diminuir o
sofrimento. É o corte que corta a dor, enquanto gesto que inflige dor
física para fazer parar a dor psíquica.”

Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania


Crianças, adolescentes e jovens estão entre os grupos mais suscetíveis
ao suicídio e automutilação, apontam especialistas
Publicado em 29/04/2019 10h49 Atualizado em 01/11/2022 18h15
Crianças, adolescentes e jovens estão entre os grupos mais suscetíveis
ao suicídio e automutilação, apontam especialistas
“Nós vamos ter que entender o que está causando esse sofrimento. E
como mudar essas realidades. Por isso a campanha conta com
consultores especialistas no tema”, observa a ministra.
Sobre as temáticas, a titular do MMFDH observa que fatores como
bullying e cyberbullying, abandono, abusos físicos e sexuais, além de
famílias desestruturadas, podem contribuir para o aumento dos índices
de suicídio e automutilação.
“Vamos lutar pelas famílias. A promoção de ações voltadas ao
fortalecimento dos vínculos familiares está entre os nossos principais
desejos. Vamos continuar trabalhando”, ressaltou nesta quinta-feira
(25).
Dados
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 5,0 a 9,9 mortes
por 100 mil habitantes no Brasil tiveram o suicídio como causa no ano
passado. “Estima-se que, anualmente, a cada adulto que se suicida,
pelo menos outros 20 possuem algum tipo de ideação ou atentam
contra a própria vida. O suicídio representa 1,4% das mortes em todo o
mundo. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de
morte”, afirmou a OMS sobre os dados referentes a 2017.
Acolhimento
De acordo com o psicólogo especialista em Prevenção do Suicídio e
doutorando da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Aragão, o
suicídio e a automutilação são dois importantes problemas de saúde.
“No caso da autolesão, nós vemos o método mais prevalente, que é o
corte. A prevalência deste comportamento autodestrutivo está na faixa
etária que vai da pré-adolescência até o adulto jovem, ou seja, dos 10
até os 25 anos, aproximadamente, onde são encontrados o maior
número de casos”, explica.
Segundo o profissional, se o problema não for tratado, pode evoluir
para um quadro mais grave. Ele ressalta que, “ao verificar que alguém
está com esse comportamento, você precisa, imediatamente, acolher
essa pessoa”.
“Nessas situações, a recomendação é não agredir, não julgar, não agir
com preconceitos ou dogmas. O que essa pessoa em profunda dor
precisa, naquele momento, é de alguém que se importe, que se vincule
de forma sincera e pergunte como está se sentindo. Deixe a pessoa
falar. O desabafo em uma hora como essa, dividir essa angústia, é
essencial”, destaca.
Sinais
O psicólogo aponta, ainda, sinais que podem demonstrar riscos.
“Isolamento social, a perda do prazer em atividades que a pessoa
gostava, crises de choro frequentes, tristeza profunda, queda no
rendimento escolar e afastamentos no trabalho sem motivos aparentes
estão entre os exemplos. Completam a lista, agressividade,
impulsividade e as pessoas que falam muito em morte, que tomam
providências de despedida.”
O profissional afirma que também é preciso estar atento às postagens
nas redes sociais. “Isso não quer dizer obrigatoriamente a pessoa está
pensando em tirar sua vida, mas isto é um sinal de que alguém está em
sofrimento, e nós não devemos pagar para ver”.
Automutilação
Psiquiatra da Infância e da Adolescência com atuação no Hospital
Universitário de Brasília (HUB), André Salles enfatiza que fatores como
depressão e ansiedade podem contribuir para a dor que motiva os
sofrimentos infligidos ao próprio corpo.
Sobre a automutilação, o médico afirma que “o estado emocional tem
relação com raiva, desespero, aflição, além de adotar formas menos
severas de atentar contra si e com uma maior periodicidade”.
“Estima-se que um a cada cinco adolescentes já praticou a autolesão
não suicida pelo menos uma vez na vida. O fenômeno da autolesão,
durante muito tempo, foi associado a personalidade emocionalmente
instável. Porém, pesquisas recentes tendem a atualizar esses dados,
associando a diversos fatores, entre eles, a depressão, o Transtorno
Obsessivo Compulsivo, a ansiedade e outros”, disse.
O psiquiatra aponta que eventos adversos ocorridos, sobretudo, na
infância e na adolescência, tornam-se tóxicos e comprometem o
desenvolvimento psíquico do indivíduo. “Abuso físico e sexual, maus-
tratos, separação parental, ciclo familiar instável e precário, condições
sociais desfavoráveis são situações dramáticas e extremamente
tóxicas”, completa.
Crianças e adolescentes
Para a psicóloga Priscila Moraes Henrique, que atualmente integra o
quadro de profissionais de um centro clínico de Brasília/DF, a infância e
a adolescência são fases nas quais os processos de formação vão
acontecendo, do imaginário à personalidade. A especialista alerta que
muitas vezes os principais atingidos não conseguem ainda ter a real
noção de como a vida acontece e nem de como podem se defender em
alguma situação de perigo.
“É muito mais fácil praticar certas coisas com crianças e adolescentes,
uma vez que a reação pode não ser imediata, ou que eles não saberão
se proteger, justamente por não entenderem que estão em uma
situação perigosa. Ou, ainda, por serem amedrontados e facilmente
desencorajados a recorrer a alguém que possa ajudá-los”, alerta.
Disseminação de informações
A especialista chama a atenção, ainda, para um fator que pode incidir
principalmente sobre pessoas na fase da adolescência. Segundo ela, a
disseminação de informações – seja pessoalmente, por WhatsApp, e-
mail – e o anonimato fazem com que esse envio seja, muitas vezes,
inconsequente.
“A adolescência é a fase em que a busca por grupos sociais é bem
latente, com o anseio de fazer parte de um grupo, de se sentir
interagindo com as outras pessoas que vivem as mesmas coisas, por
essa e outras questões costuma ser uma fase delicada”, completa.
A terapeuta explica que, muitas vezes, os comportamentos dos
adolescentes são formas de se sentirem parte de determinado grupo,
uma questão de identificação.
“Um adolescente que possivelmente está inserido em um contexto de
vida difícil, que já vive uma alta carga emocional, ao receber
informações sobre casos de suicídio, de automutilação, de pessoas que
vivem ou viveram um contexto parecido com o seu, essa identificação
acontece. E para se ‘livrar’ de algo considerado ruim ou apenas para
viver a mesma experiência que o outro, o adolescente pode agir da
mesma maneira”, exemplifica.
Campanha
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH)
lançou a campanha “Acolha a Vida” no último dia 12. A iniciativa visa
prevenir suicídios e automutilação em todas as faixas etárias,
especialmente crianças, adolescentes e jovens.
Entre os parceiros da iniciativa, está a atriz e empresária Luiza Brunet.
Convidada pelo ministério, a artista não recebeu cachê para integrar a
ação. “Pouca gente de fato consegue perceber que por trás de uma
rotina aparentemente normal pode haver um profundo sentimento”,
observa.
Observatório
Visando incentivar o desenvolvimento de estudos e pesquisas
relacionados à temática da família, além de ser referência para a
elaboração de políticas públicas, o Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou o Observatório Nacional da
Família (ONF). Entre os objetivos, a ferramenta tem a proposta de
acompanhar casos, situações e fatores que influenciam os índices de
automutilação e suicídio, a fim de direcionar as ações necessárias.
O Observatório integra as ações da campanha “Acolha a Vida”. O ONF
está estruturado em nove eixos temáticos. Entre eles, a conciliação
família-trabalho e projeção social e econômica; saúde, demografia e
família; direitos humanos, sistema de proteção social e políticas
familiares; a família no contexto da educação; desenvolvimento e
fortalecimento de vínculos familiares e parentalidade contemporânea.
Integram os temas, casamento e conjugalidade; mudanças do ciclo de
vida familiar e relações intergeracionais; políticas de prevenção ao
suicídio e autolesão provocada sem intenção suicida entre
adolescentes e jovens; e o impacto da tecnologia nas relações
familiares.
Biblioteca

O Observatório Nacional da Família mantém um acervo com livros, periódicos,


vídeos e materiais didáticos. Os itens estão disponíveis para consultas e
reprodução por meio da aba “Produção”, no endereço eletrônico do ONF. Mais
informações podem ser obtidas pelo e-mail
observatorio.onf@www.gov.br/mdh/pt-br, com o título ACERVO.

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