Automutilação na adolescência: o que está por trás do ato?
A problemática que envolve a automutilação na adolescência —
também conhecida por autoflagelação — sugere a necessidade de fomentar planos de intervenção mais eficazes e que possam frear os impactos negativos dessa prática. Ao contrário do que se pensa, os atos de automutilação não são apenas um capricho, modismo cibernético ou formas de chamar a atenção. A autoflagelação está interligada a questões psicológicas tão sérias que, se não tratadas adequadamente, podem evoluir para situações irreversíveis. Nesse sentido, a proposta deste artigo é mostrar alternativas para ajudar seu filho a superar a automutilação. Entenda as motivações que conduzem ao ato, as formas de prevenção e os tratamentos disponíveis para conter um problema que está se tornando cada vez mais comum em nossa sociedade. Acompanhe! O aumento da automutilação na adolescência O aumento da prática de automutilação na adolescência merece atenção máxima dos pais e professores, pois é um indicador de problemas psicológicos graves e que exige intervenção profissional urgente. Como esse tema está ganhando destaque na mídia e na internet, muitos jovens usam o potencial das redes sociais para disseminar essa prática. Especialistas afirmam que as motivações para a automutilação são relacionadas a múltiplos fatores. No entanto, o ato de machucar-se nem sempre é uma metáfora para muitas crianças e adolescentes. Alguns relatam que se valem da exposição de cortes feitos pelo corpo para disfarçar, ou mesmo amenizar a dor da alma por se sentirem sozinhos e que ninguém se importa com eles. Os jovens realizam a autoflagelação em momentos de solidão, angústia, dor e uma insuportável tensão interna, a qual eles ainda não sabem como enfrentar. Esses atos automutilatórios são vistos como tentativas de substituir uma dor que não encontra expressão em nenhuma outra forma. Nem mesmo pela via das palavras, já que muitos se fecham no silêncio. As principais causas da automutilação A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano marcada por alterações físicas, cognitivas, sociais e comportamentais que exigem um cuidado especial por parte dos pais. O suporte familiar é um dos processos que permite ao jovem passar por essa etapa da vida de forma equilibrada e saudável. Assim, a prevalência da automutilação e as motivações ligadas aos conflitos familiares deixam claro que a lacuna na estrutura familiar é um gatilho para potencializar o problema. Porém, há outras causas associadas à essa prática. Veja quais são! Depressão Na adolescência, a depressão é uma questão delicada e que deve ser levada a sério. Se não for adequadamente tratada, essa doença pode evoluir para situações mais graves, como o abuso de álcool e drogas e as ideações suicidas. As automutilações entre adolescentes e jovens estão relacionadas a características clínicas da depressão. Pais e professores precisam estar atentos a alguns sinais que indicam a necessidade de intervenção profissional. Os sintomas mais evidentes de depressão na adolescência são isolamento social, tristeza, irritabilidade e redução da autoestima. Nesse grupo há, ainda, o desinteresse pela escola ou por atividades que antes eram prazerosas, sentimento de inutilidade e outros que sugerem a necessidade de suporte profissional. Solidão O estilo de vida contemporâneo e as mudanças de comportamento social tem colaborado para a instituição das “famílias disfuncionais”. Esse conceito abrange tanto a ausência física dos responsáveis como o distanciamento que gera a falta de interação entre pais e filhos. Tal condição contribui para potencializar crises depressivas entre filhos que têm muita dificuldade em se relacionar com os pais e, com isso, se isolam também das pessoas ao seu redor. Por isso, muitos jovens optam pela autoflagelação, já que não têm com quem falar sobre seus sentimentos, dificuldades emocionais ou expressar sua dor. Bullying O bullying nas escolas está bastante relacionado às situações que envolvem padrões estéticos de beleza e dificuldades na aprendizagem. Sob a ótica dos demais colegas, os alunos que não se enquadram no perfil “perfeitamente correto” são os alvos de perseguição desses grupos que promovem o bullying. Além desses fatores de sustentação do bullying, os conflitos de aceitação de padrões de gênero, ou dificuldades ligadas à homoafetividade, são gatilhos que levam à prática de autoflagelação entre crianças e adolescentes. Os impactos na vida do adolescente e da família Muitos jovens praticam a autoflagelação por não ter com quem partilhar sua dor. Esses desajustes emocionais geram conflitos diversos e comprometem a vida pessoal, escolar e os relacionamentos afetivos e familiares. O impacto desse problema resulta em comorbidades psíquicas e aumentam o risco para o surgimento de doenças físicas também. Para os familiares, exige-se um trabalho contínuo de suporte emocional e de proximidade com um indivíduo que necessita de carinho e amparo. O adolescente precisa ser guiado por um caminho de respostas mais positivas em relação aos conflitos da idade. No Brasil, ainda não há dados concretos sobre o número de adeptos da prática automutilatória. Porém, a grande disseminação do assunto no ambiente virtual dá uma pista sobre um problema, cujas dimensões estão se tornando cada vez mais preocupantes. Ainda que sob a ótica dos que se automutilam, isso ajude a aliviar sofrimentos emocionais ou tensões psicológicas, esse é um fenômeno bastante delicado. Um dos motivos é a estreita relação entre a automutilação e a tentativa de suicídio. Em matérias amplamente divulgadas pelos diferentes canais de comunicação, o Ministério da Saúde (MS), afirmou que, anualmente, o Brasil registra 11 mil casos de suicídios. O ato de desferir dor a si mesmo pode representar um ensaio para práticas mais perigosas. Considerando o aumento dos índices de suicídio entre os jovens brasileiros, a sociedade precisa buscar soluções mais eficazes, como encaminhar os suspeitos desses atos para tratamento especializado. A urgência na internação e o risco de vida Dada à complexidade que envolve a automutilação na adolescência, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma Lei que pode ajudar a conter o impacto negativo dessa questão. A legislação prevê que instituições como hospitais e escolas tenham o direito de notificar casos de tentativa de atos ligados ao suicídio e à automutilação. Além da associação com o comportamento suicida, o risco de morte também está implícito na própria atitude de se automutilar: um corte mais profundo em regiões mais sensíveis, como o pulso, por exemplo, pode levar o adolescente à morte, ainda que ele não tenha tal intenção. Outro problema associado à automutilação é o risco de infecção nas regiões golpeadas. Para além dessas questões, há as marcas emocionais que podem perdurar até a vida adulta, caso não sejam tratadas corretamente. Percebe-se, por fim, que a autoflagelação na adolescência é uma desordem emocional que não pode ser ignorada. Não é, pois, um simples ato que vai passar com o tempo. Logo, a alternativa mais segura é buscar ajuda profissional e avaliar a necessidade de internação urgente. Automutilação: O que é, como identificar e tratamentos Cada dia parece ser mais comum ver histórias de pessoas que se automutilam. Para muitos, aparentemente essas pessoas têm tudo para “estar bem”. Ora a automutilação não é seletiva, atinge todas as faixas etárias e tipos sociais! Porém é mais comum em na adolescência e transição para fase adulta, assim como nos idosos, esse último caso se deve em maior parte à pacientes em estado terminal ou com doenças incapacitantes. No Brasil em 2017 foram notificados 13 443 casos de autolesões entre jovens de 15 a 19 anos, já em 2018 foram 886 mortes decorrentes de automutilações, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e o DATASUS. O que é automutilação? A automutilação é o comportamento de infringir danos e dor a seu próprio corpo, podendo ser de maneira superficial ou não, podendo ter intenção suicida ou não. As primeiras experiências de automutilação costumam não ter intenções suicidas e serem danos mais superficiais. Um dos principais motivos para essa ação é dar forma a uma dor emocional e psicológica, assim como tentar usar essa dor da lesão para esquecer da outra. Os propósitos para a automutilação quase sempre vem de causas não aceitas ou não bem-vistas socialmente. Elas acontecem como cortes, contusões, arranhões, perfurações na maior parte das vezes. Tipos de automutilação As automutilações costumam variar de acordo com sua motivação e seu tipo de intenção, para uns pode servir a um propósito de apenas atenuar sua dor interna, já para outros pode fazer parte de um ritual de morte para si mesmo. Diferente de outros sintomas a automutilação costuma deixar marcas visíveis e por isso é importante prestar atenção em como cada pessoa se veste e se comporta para notar possíveis mudanças. – Automutilação com intenção suicida A automutilação que possui uma ideação suicida costuma ser mais pontual e não tão frequente como a automutilação sem a intenção suicida, assim como as lesões são mais profundas e danosas, pois procuram a morte. Podendo ocorrer o uso de venenos, objetos asfixiantes, colisões intencionais e objetos cortantes e perfurantes; assim é menos provável que a automutilação ocorra por um tempo prolongado. – Automutilação sem intenção suicida Esse tipo de automutilação tende a começar no início da adolescência e pode persistir até a vida adulta, de modo que procuram fazer em áreas que geralmente ficam encobertas pelas roupas e podem variar os tipos de lesões numa mesma sessão. Por exemplo, em uma mesma sessão de automutilação a pessoa pode se queimar com cigarros, fazer cortes no ombro e arrancar brutalmente seus pelos corporais. Com o tempo a pessoa passa a se tornar mais agressiva e tende a descontar mais emoções e situações ruins em si mesma, embora possa não haver pretensão de morte, a automutilação não deve ser ignorada, ela pode ser um sinal ou sintoma de um outro problema como transtornos mentais. Quais os principais motivos que levam uma pessoa a se mutilar? O motivo do que leva cada pessoa a automutilação é muito individual e íntimo, posso dizer que cada uma vai ter um motivo diferente ou ainda que parecido o contexto pode ser outro. Então é impossível determinar motivos e causas para a automutilação? Não, existem situações e condições facilitadoras que possuem estatisticamente uma correlação com o ato da automutilação. Para entender quais são e aprender mais sobre elas, siga abaixo: – Distúrbios psiquiátricos É comum que alguns portadores de transtornos psiquiátricos manifestem o ato da automutilação, transtornos como depressão, borderline, personalidade antissocial e dependência química estão entre os mais associados. A automutilação na depressão frequentemente vem da forte dor emocional e do sentimento de incapacidade diante de situações cotidianas, já os borderline costumam buscar desesperadamente pelo afeto de outra pessoa e são instáveis de humor, em casos de abandono ou de descontrole podem se automutilar como tormento. A pessoa com transtorno de personalidade antissocial pode recorrer à autolesão como forma de encontrar prazer ou aplacar sua agressividade e impulsividade. Na questão da dependência química, a automutilação pode surgir como um dos sintomas desse transtorno a depender da droga utilizada, do tempo de uso e forma. – Alívio e controle das emoções / automutilação para controlar as emoções É comum também que pessoas que não possuem necessariamente um diagnóstico de transtorno ou de alguma outra doença, traumas e acontecimentos marcantes emocionalmente também podem ser um fator desencadeante. A automutilação vem como uma ferramenta de escape da realidade e da dor emocional que a pessoa possa estar sentindo, vem principalmente como forma de alívio para essa emoção. Há ainda quem use o fenômeno da automutilação como uma tentativa de supressão e controle emocional, como por exemplo: Se dar apertões para segurar a tristeza, enrolar e puxar o cabelo (tricotilomania) para controlar ansiedade, se cortar para controle de raiva e agressividade. – Fatores de risco Algumas situações e/ou condições em que a pessoa se encontra a colocam em risco, por conta disso possuem uma taxa maior de desenvolvimento de outros sintomas e doenças. Portanto fatores de risco e comorbidades para a automutilação são: Dependência química, histórico de automutilação e suicídio na família, transtornos mentais, doenças incapacitantes, histórico de abuso sexual, físico e psicológico, bullying. Outra questão é a automutilação por contágio, que se refere a quando um grupo de pessoas ou um indivíduo é exposto a prática de automutilação de outra pessoa e passa a praticar a automutilação. Como identificar a automutilação? / causas da automutilação Alguém que está passando por uma fase de automutilação demonstrará alterações comportamentais comparada a quando não estava praticando, isolamento social e passar a ter preferência por roupas compridas são bons exemplos. As roupas compridas servem para esconder as mutilações feitas, se isola socialmente para não ser notado ou criticado, passa a se tornar mais impulsivo e agressivo, pode ter problemas alimentares e de sono, assim como ser severo consigo mesmo. – Automutilação em crianças A automutilação na infância tem se tornado mais comum, sendo associada a fenômenos como o bullying e a alta pressão que é colocada sobre as crianças desde cedo. Na fase de transição da infância para a adolescência, muitas crianças procuram usar seu corpo para se expressar, a criança pode realizar também em busca do reconhecimento de sua dor, por sentir que não está sendo validada. É uma fase cheia de transformações, que devido a chegada da puberdade se intensifica ainda mais, causando sofrimento psíquico, algumas crianças buscam na mutilação uma forma de diminuir esse sofrimento. – Automutilação em adolescente e adultos A fase mais comum das automutilações é sim na adolescência, podendo chegar a fase adulta se o motivo das mutilações não for resolvido ou se não for tratado adequadamente. Em adolescentes as principais causas são as relações familiares e de amizade, assim como a descoberta do seu eu, questões como sexualidade, gênero, lugar no mundo e orientação profissional podem ser grandes fontes de angústia e estresse. Porém como muitos adolescentes ainda estão entendendo como funciona o mundo, tentam racionalizar certas emoções e sensações, para isso realizam os cortes, queimaduras e perfurações, para justificar e compreender a dor que não é física. Automutilação: Conheça o tratamento adequado Ainda há uma discussão sobre se a automutilação é uma doença ou se apenas um sintoma de outras doenças e outros transtornos que ainda não foram descobertos em cada pessoa. Um fato é que precisa de tratamento e o melhor apoio para isso é a busca por psicoterapia, para que possa ser tratado na raiz do problema, aquilo que aflige cada pessoal profundamente para que cometa esse ato. Pode ser necessário em alguns casos também o uso de medicações, apenas no caso de outros transtornos presentes, logo controlar o transtorno também é controlar o hábito da automutilação. Conclusão Apesar de não ser uma prática incomum, principalmente entre os mais jovens, a questão da automutilação ainda é pouco discutida entre a população geral, mesmo sendo um sinal claro de que algo está errado. Não só pode estar associada a transtornos mentais e dependência química como a ao risco de suicídio, logo é um importante fator tratar assim que for identificada até como forma de prevenção para os outros transtornos e doenças. Logo, é importantíssimo ter a atenção redobrada para seus filhos, irmãos e irmãs ou amigos que estão na fase da infância e adolescência para que não iniciem também nessa prática. Quais os motivos desencadeadores das autolesões? A prática de automutilação, muitas vezes, está relacionada a sentimentos de inadequação, solidão e angústia. Não há uma resposta única para essa questão. Inclusive, os motivos podem variar, no transcorrer do tempo. Ou seja, quando a pessoa experimenta o autodano como válvula de escape, em uma dada situação, pode recorrer ao procedimento em circunstâncias diversas, para obter outras formas de alívio. Os relatos permitem observar que automutilação está relacionada a sentimentos de: raiva; culpa; estresse; inadequação; baixa autoestima; solidão; angústia; tristeza; vazio. Também pode se a apresentar como sintoma de perturbações como: bullying; abuso sexual; luto por parente ou amigo próximo; dificuldades para aceitar a própria sexualidade; problemas de relacionamentos. “A autodestruição pode ser uma forma de comunicação para aqueles que ainda não têm maneiras de domar seus conflitos e sentimentos internos angustiantes e que ainda não podem pedir apoio a outros”. — James A. Chu Em função da dificuldade de expressar confusões mentais ou pensamentos negativos por meio de outras manifestações, as automutilações, portanto, acabam servindo como modo de traduzir as dores psicológicas. É importante entender que, ao sentirmos dores físicas, nosso sistema nervoso reage, liberando opioides endógenos, como as endorfinas, visando um efeito anestésico natural. Isso significa que o ferimento autoprovocado pode, de fato, trazer uma espécie de entorpecimento temporário, amenizando dores que não estão na carne — mas migram para ela, numa transferência de foco. Contudo, o efeito neuroquímico passa. Já as feridas emocionais, ficam. Podem, inclusive, se agravar. Pois, geralmente, quem se machuca acaba invadido por profunda sensação de vergonha. Tanto que o comportamento padrão é o silêncio sobre os atos e tentativas de ocultar cicatrizes, com roupas que escondam o corpo. Em certa medida, a promoção do alívio passageiro, gerado pela resposta do sistema nervoso à dor, pode ser responsável pela repetição dos danos. Porém, essa conclusão seria muito reducionista. O fato é que as automutilações tomam o lugar de uma voz, que não se encontra. De uma decisão, que não se consegue elaborar. De um significado de vida, que se faz ausente. Conteúdo relacionado: Como parar de sofrer: 6 maneiras de enfrentar a dor emocional A automutilação é um sintoma de outros transtornos mentais? É possível que as autolesões estejam associadas a distúrbios mentais como: depressão; transtorno de personalidade borderline (TPB); síndrome do pânico; bipolaridade; ansiedade; transtorno obsessivo-compulsivo (TOC); transtorno do espectro do autismo (TEA); esquizofrenia; distúrbios alimentares. Contudo, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a automutilação é um transtorno em si, não necessariamente um sintoma de outro problema psicológico. A avaliação do quadro deve ser realizada por psiquiatra e psicoterapeuta, apto a compreender as motivações e especificidades de cada caso. Essa compreensão é crucial para que se encontre tratamento oportuno, sem que se corra o risco de ignorar uma condição mental subjacente. Como ajudar alguém a parar de se automutilar? Ser um bom ouvinte é a melhor atitude que você pode ter, se quiser auxiliar alguém que passa pelo problema. Permita que a pessoa fale sobre suas emoções, sem prejulgamentos ou fazê-la se sentir culpada. Incentive a busca por tratamento psicológico. Afinal, o profissional da saúde saberá guiá-la no processo de autoconhecimento e descoberta de recursos para lidar com os conflitos internos. Além disso, existem algumas técnicas que você pode sugerir ao amigo ou familiar que se autolesiona. Proponha que, ao sentir a vontade de se machucar, ele tente: Usar um cubo de gelo, esfregando-o na pele, ao invés de usar um objeto cortante. Rabiscar um papel com tinta vermelha. Gritar num travesseiro. Socar almofadas. Tomar um banho frio. Escrever os pensamentos negativos num papel e rasgá-lo. Ouvir músicas relaxantes. Praticar técnicas de meditação. Apertar uma bola antiestresse, fazendo do objeto uma alternativa para obter alívio e se distrair das emoções turbulentas. Sair para dar uma caminhada. Essas técnicas servem para distrair a atenção e evitar que o gatilho da automutilação tome conta da mente, impondo-se como única alternativa viável. Quanto mais a pessoa entender o que funciona para acalmá-la, melhor poderá investir em estratégias funcionais para sua situação. Recursos adicionais: livros que abordam automutilação Os livros listados abaixo apresentam diferentes perspectivas sobre a questão da automutilação. Para você ter uma ideia do conteúdo das obras, indicamos um trecho da sinopse de cada título, disponível nos sites das respectivas editoras: 1. Como lidar com a automutilação Guia prático para familiares, professores e jovens que lidam com o problema da automutilação. Frequentemente confundida com tentativa de suicídio, a automutilação é um comportamento desenvolvido principalmente pelo adolescente como maneira de aliviar seu sofrimento psicológico. (…) Este guia traz informações sobre os grupos de risco, os motivos que levam o paciente a se automutilar, sobre como identificar o problema, como abordar o paciente que sofre de automutilação e como realizar o tratamento desse comportamento. Voltado principalmente para pais e professores, este guia também é indicado para adolescentes, jovens, adultos e todos que estejam passando pelo problema e precisem de ajuda. Há instruções práticas e direcionadas para a abordagem e a resolução desse problema, que ainda é tabu em todo o mundo, mas que apresenta número alarmante de praticantes nas estatísticas.” 2. Sua voz dentro de mim Por Emma Forrest. Editora Rocco. “Aos 22 anos, a jornalista, escritora e roteirista Emma Forrest parecia levar uma vida maravilhosa: havia deixado a casa dos pais em Londres, cidade onde foi criada, para morar em Nova York, tinha um contrato com o jornal The Guardian e estava prestes a publicar seu primeiro livro. Mas, por trás da aparência bem-sucedida, havia uma jovem com sérios problemas psiquiátricos, que se cortava com gilete, sofria de bulimia e era extremamente autodestrutiva. Em Sua voz dentro de mim, Emma apresenta suas memórias, sem medo de expor o lado mais escuro que guarda dentro de si. (…) Apesar de toda a dor e do mergulho profundo na depressão e na autodestruição que permeiam o livro, Emma Forrest consegue explorar a beleza do amor e falar de superação ao longo das páginas. De quebra, ela ainda faz refletir sobre a relação que temos com nós mesmos.” 3. Automutilação na adolescência: corpo atacado, corpo marcado Por Aline Gonçalves Demantova. Editora CRV. “O presente trabalho busca contribuir para o estudo teórico-clínico da automutilação na adolescência, investigando a peculiaridade do recurso à escarificação, ato em que o sujeito inflige a si mesmo cortes na superfície de seu corpo. Essa modalidade de automutilação corporal traz à tona a evocação de um sensorial do corpo e a inscrição de uma marca na superfície deste, gerando, assim, uma cicatriz. A autora questiona de que forma a produção dessa marca no corpo se relaciona com a dimensão do traumático, dimensão de especial relevo na experiência subjetiva da adolescência.” 4. Garota em pedaços: um romance Por Kathleen Glasgow. Editora Outro Planeta. “Numa história de superação, Charlotte Davis perde o pai e a melhor amiga, precisando lidar a dor e com as consequências do Transtorno do Controle do Impulso — um distúrbio que leva as pessoas a se automutilarem. (…) Cansada de se alimentar do sofrimento, a jovem se imbui de uma enorme força de vontade e decide viver e não mais sobreviver. Para fugir do círculo vicioso da dor, Charlotte usa seu talento para o desenho e foca em algo produtivo, embarcando de cabeça no mundo das artes. Esse é o caminho que ela traça em busca da cura para as feridas deixadas por suas perdas e os cortes profundos e reais que imprimiu em seu corpo. Romance de estreia de Katlheen Glasgow, que figurou na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times e dos melhores livros do ano de 2016 da Amazon (EUA) e da revista TeenVogue. Nele, os leitores vão se emocionar e se inspirar na história da adolescente de 17 anos que, por conta de sofrer de Transtorno do Controle do Impulso, pratica o ‘cutting’ — um distúrbio que afeta um grande número de jovens brasileiros e também personalidades do universo teen, como Demi Lovato e Britney Spears, entre outras.” 5. ABCD das escolas: automutilação, bullying, conectividade, depressão Por Law Araújo. Editora CRV. “O processo do bullying na escola não pode ser ignorado ou sentenciado a meras brincadeiras entre estudantes. Primeiro porque não é uma ação divertida. Ele desencadeia diversos problemas por tamanha a sua violência como a automutilação, a depressão e o isolamento virtual.” 6. Cortes & cartas: estudos sobre automutilação Por Juliana Falcão. Editora Appris. “Para Juliana Falcão, a automutilação é uma forma de escrita que se faz no corpo. Escrita que é, muitas vezes, corte na pele, incisão. Como explica a autora, a palavra cortador — tradução direta do termo cutter, em inglês, que se refere àqueles que se automutilam por meio de cortes — pode ser lida também como corta-dor, incutindo aí a possibilidade de compreensão da automutilação como um meio para diminuir o sofrimento. É o corte que corta a dor, enquanto gesto que inflige dor física para fazer parar a dor psíquica.”
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania
Crianças, adolescentes e jovens estão entre os grupos mais suscetíveis ao suicídio e automutilação, apontam especialistas Publicado em 29/04/2019 10h49 Atualizado em 01/11/2022 18h15 Crianças, adolescentes e jovens estão entre os grupos mais suscetíveis ao suicídio e automutilação, apontam especialistas “Nós vamos ter que entender o que está causando esse sofrimento. E como mudar essas realidades. Por isso a campanha conta com consultores especialistas no tema”, observa a ministra. Sobre as temáticas, a titular do MMFDH observa que fatores como bullying e cyberbullying, abandono, abusos físicos e sexuais, além de famílias desestruturadas, podem contribuir para o aumento dos índices de suicídio e automutilação. “Vamos lutar pelas famílias. A promoção de ações voltadas ao fortalecimento dos vínculos familiares está entre os nossos principais desejos. Vamos continuar trabalhando”, ressaltou nesta quinta-feira (25). Dados Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 5,0 a 9,9 mortes por 100 mil habitantes no Brasil tiveram o suicídio como causa no ano passado. “Estima-se que, anualmente, a cada adulto que se suicida, pelo menos outros 20 possuem algum tipo de ideação ou atentam contra a própria vida. O suicídio representa 1,4% das mortes em todo o mundo. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte”, afirmou a OMS sobre os dados referentes a 2017. Acolhimento De acordo com o psicólogo especialista em Prevenção do Suicídio e doutorando da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Aragão, o suicídio e a automutilação são dois importantes problemas de saúde. “No caso da autolesão, nós vemos o método mais prevalente, que é o corte. A prevalência deste comportamento autodestrutivo está na faixa etária que vai da pré-adolescência até o adulto jovem, ou seja, dos 10 até os 25 anos, aproximadamente, onde são encontrados o maior número de casos”, explica. Segundo o profissional, se o problema não for tratado, pode evoluir para um quadro mais grave. Ele ressalta que, “ao verificar que alguém está com esse comportamento, você precisa, imediatamente, acolher essa pessoa”. “Nessas situações, a recomendação é não agredir, não julgar, não agir com preconceitos ou dogmas. O que essa pessoa em profunda dor precisa, naquele momento, é de alguém que se importe, que se vincule de forma sincera e pergunte como está se sentindo. Deixe a pessoa falar. O desabafo em uma hora como essa, dividir essa angústia, é essencial”, destaca. Sinais O psicólogo aponta, ainda, sinais que podem demonstrar riscos. “Isolamento social, a perda do prazer em atividades que a pessoa gostava, crises de choro frequentes, tristeza profunda, queda no rendimento escolar e afastamentos no trabalho sem motivos aparentes estão entre os exemplos. Completam a lista, agressividade, impulsividade e as pessoas que falam muito em morte, que tomam providências de despedida.” O profissional afirma que também é preciso estar atento às postagens nas redes sociais. “Isso não quer dizer obrigatoriamente a pessoa está pensando em tirar sua vida, mas isto é um sinal de que alguém está em sofrimento, e nós não devemos pagar para ver”. Automutilação Psiquiatra da Infância e da Adolescência com atuação no Hospital Universitário de Brasília (HUB), André Salles enfatiza que fatores como depressão e ansiedade podem contribuir para a dor que motiva os sofrimentos infligidos ao próprio corpo. Sobre a automutilação, o médico afirma que “o estado emocional tem relação com raiva, desespero, aflição, além de adotar formas menos severas de atentar contra si e com uma maior periodicidade”. “Estima-se que um a cada cinco adolescentes já praticou a autolesão não suicida pelo menos uma vez na vida. O fenômeno da autolesão, durante muito tempo, foi associado a personalidade emocionalmente instável. Porém, pesquisas recentes tendem a atualizar esses dados, associando a diversos fatores, entre eles, a depressão, o Transtorno Obsessivo Compulsivo, a ansiedade e outros”, disse. O psiquiatra aponta que eventos adversos ocorridos, sobretudo, na infância e na adolescência, tornam-se tóxicos e comprometem o desenvolvimento psíquico do indivíduo. “Abuso físico e sexual, maus- tratos, separação parental, ciclo familiar instável e precário, condições sociais desfavoráveis são situações dramáticas e extremamente tóxicas”, completa. Crianças e adolescentes Para a psicóloga Priscila Moraes Henrique, que atualmente integra o quadro de profissionais de um centro clínico de Brasília/DF, a infância e a adolescência são fases nas quais os processos de formação vão acontecendo, do imaginário à personalidade. A especialista alerta que muitas vezes os principais atingidos não conseguem ainda ter a real noção de como a vida acontece e nem de como podem se defender em alguma situação de perigo. “É muito mais fácil praticar certas coisas com crianças e adolescentes, uma vez que a reação pode não ser imediata, ou que eles não saberão se proteger, justamente por não entenderem que estão em uma situação perigosa. Ou, ainda, por serem amedrontados e facilmente desencorajados a recorrer a alguém que possa ajudá-los”, alerta. Disseminação de informações A especialista chama a atenção, ainda, para um fator que pode incidir principalmente sobre pessoas na fase da adolescência. Segundo ela, a disseminação de informações – seja pessoalmente, por WhatsApp, e- mail – e o anonimato fazem com que esse envio seja, muitas vezes, inconsequente. “A adolescência é a fase em que a busca por grupos sociais é bem latente, com o anseio de fazer parte de um grupo, de se sentir interagindo com as outras pessoas que vivem as mesmas coisas, por essa e outras questões costuma ser uma fase delicada”, completa. A terapeuta explica que, muitas vezes, os comportamentos dos adolescentes são formas de se sentirem parte de determinado grupo, uma questão de identificação. “Um adolescente que possivelmente está inserido em um contexto de vida difícil, que já vive uma alta carga emocional, ao receber informações sobre casos de suicídio, de automutilação, de pessoas que vivem ou viveram um contexto parecido com o seu, essa identificação acontece. E para se ‘livrar’ de algo considerado ruim ou apenas para viver a mesma experiência que o outro, o adolescente pode agir da mesma maneira”, exemplifica. Campanha O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou a campanha “Acolha a Vida” no último dia 12. A iniciativa visa prevenir suicídios e automutilação em todas as faixas etárias, especialmente crianças, adolescentes e jovens. Entre os parceiros da iniciativa, está a atriz e empresária Luiza Brunet. Convidada pelo ministério, a artista não recebeu cachê para integrar a ação. “Pouca gente de fato consegue perceber que por trás de uma rotina aparentemente normal pode haver um profundo sentimento”, observa. Observatório Visando incentivar o desenvolvimento de estudos e pesquisas relacionados à temática da família, além de ser referência para a elaboração de políticas públicas, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou o Observatório Nacional da Família (ONF). Entre os objetivos, a ferramenta tem a proposta de acompanhar casos, situações e fatores que influenciam os índices de automutilação e suicídio, a fim de direcionar as ações necessárias. O Observatório integra as ações da campanha “Acolha a Vida”. O ONF está estruturado em nove eixos temáticos. Entre eles, a conciliação família-trabalho e projeção social e econômica; saúde, demografia e família; direitos humanos, sistema de proteção social e políticas familiares; a família no contexto da educação; desenvolvimento e fortalecimento de vínculos familiares e parentalidade contemporânea. Integram os temas, casamento e conjugalidade; mudanças do ciclo de vida familiar e relações intergeracionais; políticas de prevenção ao suicídio e autolesão provocada sem intenção suicida entre adolescentes e jovens; e o impacto da tecnologia nas relações familiares. Biblioteca
O Observatório Nacional da Família mantém um acervo com livros, periódicos,
vídeos e materiais didáticos. Os itens estão disponíveis para consultas e reprodução por meio da aba “Produção”, no endereço eletrônico do ONF. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail observatorio.onf@www.gov.br/mdh/pt-br, com o título ACERVO.
Borderline - Quando Sua Mãe Tem Transtorno De Personalidade Borderline: Como Ser Um Vencedor, Curar Traumas De Infância, Construir Auto- Estima E Acabar Com Seu Sofrimento.