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DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
Discentes: Docente:
Valério Muchete
1- Desenvolvimento...................................................................................................................3
Conclusão...................................................................................................................................9
Referências bibliográficas........................................................................................................10
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Introdução
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1- Desenvolvimento
Teoria do romance se insere na categoria de obras em que o autor procura penetrar no âmago
da literatura e desconstruí-la enquanto uma atividade social, não um bastião isolado como
alguns procuram concebê-la. A forma como ele relaciona sociedade, história e produção
literária desafia o tempo e se constitui como uma das referências (concordantes com ele ou
não) entre as quais é impossível negar ou ignorar.
Segundo Goldmann (1990) para o Lukács o romance possui a mesma intenção artística da
grande épica, porém o mundo que viu surgir as antigas epopeias desapareceu completamente,
de maneira que esta intenção teve que ser atualizada a partir de um novo gênero literário. Isto
ocorre porque, segundo Lukács, os gêneros literários estão submetidos a uma dialética tanto
filosófica quanto histórica, o que significa que uma mesma intenção épica torna-se
responsável por diferentes formas literárias ao ser condicionada por diferentes conjunturas
sociais, especialmente no que tange as diferentes orientações transcendentais que cada
comunidade é capaz de oferecer aos seus participantes. O nascimento e desaparecimento dos
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gêneros, portanto, são determinados pelas transformações ocorridas no plano histórico.
Segundo tal linha de raciocínio, o entendimento do romance e de seu surgimento depende
sobretudo da análise das condições epistemológicas fornecidas pela sociedade, isto é: em
como uma dada conjuntura histórica entende a essência das coisas e dos atos como algo
possível.
Goldmann citado pelo Frederico (2005) se refere a uma busca por valores autênticos. A
diferença pode até ser tomada como sutil, mas ela não pode deixar de ser considerada
significativa. O principal aspecto dela deve-se ao fato de que a busca a que Lukács se refere é
destinada ao fracasso porque é impossível, pois as estruturas com as quais a alma se defronta
na busca pelas essências não conseguem penetrar na realidade: “Depois da conquista desse
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autoconhecimento, o ideal encontrado irradia-se como sentido vital na imanência da vida,
mas a discrepância entre ser e dever-ser não é superada”.
Para Lukács, o autoconhecimento não pode ser atingido dentro da esfera do romance, o
máximo possível seria um mero vislumbre. Goldmann (1990), por sua vez, ao colocar os
valores autênticos como o fim da busca, além de retirar a questão do autoconhecimento como
fundamento do romance, sugere que a concretização das relações transcendentais poderia ser
encontrada através da superação das estruturas vivenciadas no individualismo liberal.
Goldmann pode assim argumentar porque ele acredita que o objeto da busca, os valores
autênticos, existe de fato na intencionalidade do autor e encontra-se presente na obra
mediante a utilização da ironia, ao passo que Lukács defende que o mundo do romance foi
definitivamente abandonado pelos deuses e nada poderá trazer de volta a imanência de
sentido às coisas e aos atos. Essa diferença leva Goldmann a construir uma teoria na qual o
caráter negativo do romance passa a ser interpretado através das categorias decerto e errado,
bem e mal.
Segundo Goldman (1990) O mundo degradado do romance parece ser um mundo mau e
errado devido às ilusões proporcionadas pelas convenções burguesas, ao passo que em
Lukács a negatividade do mundo romanesco situa-se além ou aquém de tais questões (apesar
de poder ser relacionado a elas); a referência à negatividade aqui serve para descrever uma
situação na qual as coisas não são mais dadas gratuitamente ao homem através de favores
divinos, mas antes são conseguidas através da busca pelo amadurecimento da alma. Para
Lukács, o indivíduo que sai ao mundo em busca de si deve pagar o preço relacionado à
impossibilidade de suas descobertas transcenderem a ausência de sentido encontrada na
realidade; já em Goldmann aquele que sai deve tentar conseguir superar a esfera do
convencionalismo e atingir o espaço ontológico onde as relações humanas são travadas de
maneira adequada.
Goldman (1990) em seu texto “Introdução aos problemas de uma sociologia do romance”
afirma que Lukács aventa quatro tipos genéricos da configuração romanesca, tomando por
base pressuposta filosófica, através dos quais aprofundará a reflexão feita na primeira parte.
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“O idealismo abstrato” retoma o tema da inadequação do indivíduo frente ao mundo,
dividindo esta inadequação em dois tipos: o personagem-indivíduo cuja alma é inferior ao
mundo e o personagem-indivíduo cuja alma é superior ao mundo.
No primeiro caso, temos o fracasso do homem em sua busca, em seu “contato com a
realidade”, não sem o estabelecimento de um conflito e sua tradução em ação, o que
constituiria a representação do “idealismo abstrato”. Já “o romantismo da desilusão”, outro
tipo de configuração filosófica do romanesco, representa a segunda forma de inadequação
indivíduo-mundo: a do personagem indivíduo cuja alma á superior ao mundo. Neste caso,
temos a luta entre uma realidade interior (a do herói) e uma realidade exterior (o mundo).
A diferença entre os dois tipos residiria no fato de que, no caso do idealismo abstrato, o
descompasso eu-mundo gera a luta, a busca; enquanto, para o romantismo da desilusão, o
mesmo descompasso gera a evasão e a tendência do herói à passividade, fazendo com que ele
se exima da participação, mesmo concernindo ao seu destino individual, em lutas e conflitos
externos. O resultado formal disto seria, neste tipo romanesco, a constante presença
“nebulosa e não-configurada de estados de ânimo e reflexões sobre estados de ânimo, a
substituição da fábula configurada sensivelmente pela análise psicológica”). Tal observação,
que inegavelmente remete à narrativa romântica e a algumas de suas matrizes anteriores,
parece convergir para parte das próprias configurações do romance
Apesar dessa pequena incógnita sobre quem está contando a história, sabe-se que o tempo da
narrativa se encontra no presente.
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Penso em esconder-me. Em fugir. O estrondo espanta os pássaros que voam
para a segurança das alturas. Não. Não deve ser o projéctil de uma bala. Talvez
sejam dois carros em colisão pela estrada fora. Lanço os olhos curiosos para a
estrada. Não vejo nada. Apenas silêncio. Sinto um tremor ligeiro dentro do
peito e fico imóvel por uns instantes. Um bando de vizinhas caminham na
minha direção. (CHIZIANE, 2004, p.11).
Lucien Goldmann em seu artigo Introdução aos problemas de uma sociologia do romance,
concorda com o pensador húngaro no que se refere ao romance, quando diz que ele“é a
história de uma investigação degradada (a que Lukács chama ‘demoníaca’), pesquisa de
valores autênticos num mundo também degradado, mas em um nível diversamente adiantado
e de modo diferente”. Também para Goldmann o herói problemático surge dessa
impossibilidade de conciliação entre o personagem e o mundo, mas o francês se expressa de
forma diferente, dizendo que o herói problemático ou demoníaco do romance surge da “busca
degradada e, por isso, inautêntica de valores autêntico num mundo de conformismo e
convenção. O tempo verbal no presente propicia a utilização de monólogos interiores,
percetível no trecho acima.
É interessante notar que o leitor tem acesso ao mundo interior da narradora no momento em
que ela se encontra em um “delírio silencioso, profundo”. Além disso, é possível afirmar que
há uma fratura entre o eu da história e o eu da narração: apesar de narradora e personagem
ocuparem o mesmo espaço e tempo na narrativa, em algumas situações elas se dividem e
assumem posições diferentes. Tal constatação pode ser observada no fragmento acima: nota-
se uma diferença de sensações nas falas da protagonista, nas frases destacadas. Pode-se
entender, então, que é o monólogo interior que possibilita essa fragmentação de Rami.
Ora, Paulina Chiziane efetua de modo ainda mais profundo essa divisão da narradora quando
se encontra, a partir de um Outro, no espelho:
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Vou ao espelho tentar descobrir o que há de errado em mim. Vejo olheiras
negras no meu rosto, meu Deus, grandes olheiras! Tenho andado a chorar
muito por estes dias, choro até de mais. Olho bem para minha imagem. Com
esta máscara de tristeza, pareço um fantasma, essa aí não sou eu. Titubeio uma
canção antiga daquelas que arrastam as lágrimas à superfície. [...]
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operado por maus demônios, feitiço que pode ser exorcizado e redimido pela descoberta da
palavra mágica ou pela batalha intrépida contra os poderes sobrenaturais.
Conclusão
Também pudemos concluir que o romance moderno surge da ruptura com a limitação que a
sociedade impunha à personagem feita à sua imagem e semelhança; no rompimento que os
costumes convencionais ao extremo, com os tabus e os preconceitos, surge o herói moderno
(que pode ser o anti-herói), problemático, paradoxal, disponível, gratuito, com pouca ou
muita dose de absurdo (existencialista ou não). Finalmente o romance é visto no plano da
produção e da instituição da linguagem, depois das conquistas da crítica formalista e da
atividade estruturalista.
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Referências bibliográficas
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