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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

LINCENCIATURA EM ANTROPOLOGIA IV ANO

Cadeira: Sociologia da Literatura

Trabalho escrito do 12° Grupo

Introdução aos problemas de uma Sociologia do Romance

Discentes: Docente:

Alfredo Xavier Jonh prof. Doutor Luiz Abel Cezerilo

Valério Muchete

Maputo ao 3 de Junho de 2022


Índice
Introdução..................................................................................................................................2

1- Desenvolvimento...................................................................................................................3

2- Conceitos e tipologias romanescas de Lukács.......................................................................5

3- Exemplificações dos conceitos e personagens da sociologia da literatura com aspectos


narrados na obra da Paulina Chiziane........................................................................................6

Conclusão...................................................................................................................................9

Referências bibliográficas........................................................................................................10

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Introdução

O seguinte trabalho em grupo consiste numa análise no campo de Sociologia da literatura,


neste contexto pretendemos abordar sobre Introdução aos problemas de uma Sociologia do
Romance na perspectiva da Sociologia da literatura, realçando os principais conceitos
recorrentes neste campo e trazendo exemplificações dessas perspectivas na linguagem da
obra de Niketche de paulina Chiziane, portanto, o exercício consiste em articular os
principais pontos fortes dessa obra com as perspectivas da historia da sociologia da literatura
com maior incidência nas perspectivas de Goldman e na teoria de Romance de Lukács. Na
medida em que esses autores têm anunciado uma perspectiva para o campo da sociologia da
literatura, ora num sentido de situá-la num contexto social, ora para a área de aspectos
internos, ora para estabelecer um confronto entre a obra literária e a sociedade.

Para o efeito, relativamente a metodologia baseámo-nos na revisão de literatura de artigos


disponibilizados na cadeira e analises feitas pelo grupo e usamos uma perspectiva dialética. A
estrutura do trabalho, seguirá uma linha predominantemente explícita, na qual primeiro
abordaremos sobre o contexto da sociologia da literatura, e principais ideias teóricas dos
autores em seguida, no segundo capítulo abordaremos sobre os Conceitos e tipologias
romanescas de Lukács e por fim, faremos uma análise dos conceitos recorrentes neste campo
articulando e exemplificando com conceitos e aspectos narrados na obra da Paulina Chiziane.

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1- Desenvolvimento

Na perspectiva de frederico (2005) A aplicação do materialismo histórico no estudo da


criação cultural em geral e da literatura em especial afirma a existência, nesses domínios, de
uma coerência levada ao extremo que “se aproxima de um fim para o qual tendem todos os
membros de um grupo social”.

O ponto de partida de nosso autor é o Lukács de A alma e as formas e A teoria do romance.


Essas obras, segundo Goldmann (1990), marcam uma ruptura nos estudos de sociologia da
literatura. Até então, os estudiosos consideravam a obra literária como um reflexo da
realidade social, limitando-se a procurar uma correlação entre a obra e o conteúdo da
consciência coletiva. Esse procedimento só é válido para as obras menores, aquelas que
reproduzem a realidade social nos moldes do naturalismo, com exatidão de detalhes e
pretensões de completa objetividade, mas cujo valor é meramente documental. Para as
verdadeiras obras-primas, entretanto, em que a imaginação criadora dá altos vôos, esse
método reducionista tem pouco a dizer.

Teoria do romance se insere na categoria de obras em que o autor procura penetrar no âmago
da literatura e desconstruí-la enquanto uma atividade social, não um bastião isolado como
alguns procuram concebê-la. A forma como ele relaciona sociedade, história e produção
literária desafia o tempo e se constitui como uma das referências (concordantes com ele ou
não) entre as quais é impossível negar ou ignorar.

Quando Georg Lukács, em A teoria do Romance, analisa o surgimento do romance a partir da


grande épica, a personagem romanesca é tomada como o principal elemento caracterizador
do gênero. Segundo Lukács, a transformação do herói comunitário das antigas epopeias em
um indivíduo dotado de um caráter problemático marca o momento formal em que um gênero
desaparece e outro toma o seu lugar.

Segundo Goldmann (1990) para o Lukács o romance possui a mesma intenção artística da
grande épica, porém o mundo que viu surgir as antigas epopeias desapareceu completamente,
de maneira que esta intenção teve que ser atualizada a partir de um novo gênero literário. Isto
ocorre porque, segundo Lukács, os gêneros literários estão submetidos a uma dialética tanto
filosófica quanto histórica, o que significa que uma mesma intenção épica torna-se
responsável por diferentes formas literárias ao ser condicionada por diferentes conjunturas
sociais, especialmente no que tange as diferentes orientações transcendentais que cada
comunidade é capaz de oferecer aos seus participantes. O nascimento e desaparecimento dos

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gêneros, portanto, são determinados pelas transformações ocorridas no plano histórico.
Segundo tal linha de raciocínio, o entendimento do romance e de seu surgimento depende
sobretudo da análise das condições epistemológicas fornecidas pela sociedade, isto é: em
como uma dada conjuntura histórica entende a essência das coisas e dos atos como algo
possível.

Na teoria de Lukács encontramos duas atitudes fundamentais do homem em relação ao


mundo: a do sujeito que busca o sentido através da contemplação e a do sujeito que
simplesmente age. Somente este segundo caso poderia ser encontrado nas comunidades
fechadas, já que a própria imanência de sentido do mundo impossibilitava o surgimento da
necessidade de contemplação, entretanto cada ato daquele que agia era prenhe de sentido,
pois a alma ainda não conhecia a incongruência entre ela e as coisas.

Ao combinar a Teoria do Romance de Lukács com outras teorias, sobretudo as de Marx e


Girard, Goldmann (1990) chega a uma definição de romance: O romance caracteriza-se como
a história de uma pesquisa de valores autênticos de um modo degradado, numa sociedade
degradada, degradação que, no tocante ao herói, manifesta-se principalmente pela
mediatização, pela redução de valores autênticos ao nível implícito e ao seu desaparecimento
enquanto se apresentem como realidades manifestas. Diferentemente de Lukács, que defende
que as estruturas transcendentais se perderam completamente e de maneira irreversível com o
desaparecimento das antigas comunidades fechadas, Goldmann argumenta que as estruturas
autênticas, a realidade e os valores não convencionais, encontram-se presentes no romance,
ainda que de maneira implícita. A primeira forma é a do idealismo abstrato, caracterizado
pela presença de um ideal apriorístico que afasta o indivíduo da realidade:

Apesar da definição de Goldmann derivar da teoria de Lukács, ela é diferente, e suas


diferenças devem ser notadas. Ambos falam de uma busca como centro da narrativa
romanesca, mas enquanto Lukács fala de uma busca em direção ao autoconhecimento, da
alma perseguindo sua própria essência

Goldmann citado pelo Frederico (2005) se refere a uma busca por valores autênticos. A
diferença pode até ser tomada como sutil, mas ela não pode deixar de ser considerada
significativa. O principal aspecto dela deve-se ao fato de que a busca a que Lukács se refere é
destinada ao fracasso porque é impossível, pois as estruturas com as quais a alma se defronta
na busca pelas essências não conseguem penetrar na realidade: “Depois da conquista desse

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autoconhecimento, o ideal encontrado irradia-se como sentido vital na imanência da vida,
mas a discrepância entre ser e dever-ser não é superada”.

Para Lukács, o autoconhecimento não pode ser atingido dentro da esfera do romance, o
máximo possível seria um mero vislumbre. Goldmann (1990), por sua vez, ao colocar os
valores autênticos como o fim da busca, além de retirar a questão do autoconhecimento como
fundamento do romance, sugere que a concretização das relações transcendentais poderia ser
encontrada através da superação das estruturas vivenciadas no individualismo liberal.
Goldmann pode assim argumentar porque ele acredita que o objeto da busca, os valores
autênticos, existe de fato na intencionalidade do autor e encontra-se presente na obra
mediante a utilização da ironia, ao passo que Lukács defende que o mundo do romance foi
definitivamente abandonado pelos deuses e nada poderá trazer de volta a imanência de
sentido às coisas e aos atos. Essa diferença leva Goldmann a construir uma teoria na qual o
caráter negativo do romance passa a ser interpretado através das categorias decerto e errado,
bem e mal.

Segundo Goldman (1990) O mundo degradado do romance parece ser um mundo mau e
errado devido às ilusões proporcionadas pelas convenções burguesas, ao passo que em
Lukács a negatividade do mundo romanesco situa-se além ou aquém de tais questões (apesar
de poder ser relacionado a elas); a referência à negatividade aqui serve para descrever uma
situação na qual as coisas não são mais dadas gratuitamente ao homem através de favores
divinos, mas antes são conseguidas através da busca pelo amadurecimento da alma. Para
Lukács, o indivíduo que sai ao mundo em busca de si deve pagar o preço relacionado à
impossibilidade de suas descobertas transcenderem a ausência de sentido encontrada na
realidade; já em Goldmann aquele que sai deve tentar conseguir superar a esfera do
convencionalismo e atingir o espaço ontológico onde as relações humanas são travadas de
maneira adequada.

2- Conceitos, personagens e tipologias romanescas de Lukács

As ideias de Georges Lukács também aparecem como suporte para a interpretação da


problemática em torno do romance e da literatura, especialmente na aceitação de que em tal
narrativa revela-se a personagem problemática,

Goldman (1990) em seu texto “Introdução aos problemas de uma sociologia do romance”
afirma que Lukács aventa quatro tipos genéricos da configuração romanesca, tomando por
base pressuposta filosófica, através dos quais aprofundará a reflexão feita na primeira parte.

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“O idealismo abstrato” retoma o tema da inadequação do indivíduo frente ao mundo,
dividindo esta inadequação em dois tipos: o personagem-indivíduo cuja alma é inferior ao
mundo e o personagem-indivíduo cuja alma é superior ao mundo.

No primeiro caso, temos o fracasso do homem em sua busca, em seu “contato com a
realidade”, não sem o estabelecimento de um conflito e sua tradução em ação, o que
constituiria a representação do “idealismo abstrato”. Já “o romantismo da desilusão”, outro
tipo de configuração filosófica do romanesco, representa a segunda forma de inadequação
indivíduo-mundo: a do personagem indivíduo cuja alma á superior ao mundo. Neste caso,
temos a luta entre uma realidade interior (a do herói) e uma realidade exterior (o mundo).

A diferença entre os dois tipos residiria no fato de que, no caso do idealismo abstrato, o
descompasso eu-mundo gera a luta, a busca; enquanto, para o romantismo da desilusão, o
mesmo descompasso gera a evasão e a tendência do herói à passividade, fazendo com que ele
se exima da participação, mesmo concernindo ao seu destino individual, em lutas e conflitos
externos. O resultado formal disto seria, neste tipo romanesco, a constante presença
“nebulosa e não-configurada de estados de ânimo e reflexões sobre estados de ânimo, a
substituição da fábula configurada sensivelmente pela análise psicológica”). Tal observação,
que inegavelmente remete à narrativa romântica e a algumas de suas matrizes anteriores,
parece convergir para parte das próprias configurações do romance

3- Exemplificações dos conceitos e personagens da sociologia da literatura com aspectos


narrados na obra da Paulina Chiziane

Como já explanado, Niketche – uma história de poligamia é uma narração autodiegética, ou


seja, a narradora participa da história como protagonista. Logo, é a partir do «olhar de Rami
que o leitor conhece a sociedade moçambicana, a vida das esposas de Tony e avida da
personagem-narradora. A narração inicia-se já com a utilização de um discurso indireto-livre,
marcando um distanciamento da matéria narrada: “Um estrondo ouve-se do lado de lá. Uma
bomba. Mina antipessoal. Deve ser a guerra a regressar outra vez.” (CHIZIANE, 2004,
p.11,). Não é possível, nesse primeiro momento, reconhecer a voz da narradora. E, quando
essa voz se faz presente no segundo parágrafo, não há caracterizações da personagem,
deixando o relato em aberto.

Apesar dessa pequena incógnita sobre quem está contando a história, sabe-se que o tempo da
narrativa se encontra no presente.

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Penso em esconder-me. Em fugir. O estrondo espanta os pássaros que voam
para a segurança das alturas. Não. Não deve ser o projéctil de uma bala. Talvez
sejam dois carros em colisão pela estrada fora. Lanço os olhos curiosos para a
estrada. Não vejo nada. Apenas silêncio. Sinto um tremor ligeiro dentro do
peito e fico imóvel por uns instantes. Um bando de vizinhas caminham na
minha direção. (CHIZIANE, 2004, p.11).

Lucien Goldmann em seu artigo Introdução aos problemas de uma sociologia do romance,
concorda com o pensador húngaro no que se refere ao romance, quando diz que ele“é a
história de uma investigação degradada (a que Lukács chama ‘demoníaca’), pesquisa de
valores autênticos num mundo também degradado, mas em um nível diversamente adiantado
e de modo diferente”. Também para Goldmann o herói problemático surge dessa
impossibilidade de conciliação entre o personagem e o mundo, mas o francês se expressa de
forma diferente, dizendo que o herói problemático ou demoníaco do romance surge da “busca
degradada e, por isso, inautêntica de valores autêntico num mundo de conformismo e
convenção. O tempo verbal no presente propicia a utilização de monólogos interiores,
percetível no trecho acima.

Entro num delírio silencioso, profundo. Rajadas de ansiedade varrem-me os


nervos como lâminas de vento. Este acidente enche-me de dor e de saudade.
Meu Tony, onde andas tu? Por que me deixas só a resolver os problemas de
cada dia como mulher e como homem, quando tu andas por aí? Há momentos
na vida em que uma solta e desprotegida como um grão de poeira (Chiziane
2002, p12)

É interessante notar que o leitor tem acesso ao mundo interior da narradora no momento em
que ela se encontra em um “delírio silencioso, profundo”. Além disso, é possível afirmar que
há uma fratura entre o eu da história e o eu da narração: apesar de narradora e personagem
ocuparem o mesmo espaço e tempo na narrativa, em algumas situações elas se dividem e
assumem posições diferentes. Tal constatação pode ser observada no fragmento acima: nota-
se uma diferença de sensações nas falas da protagonista, nas frases destacadas. Pode-se
entender, então, que é o monólogo interior que possibilita essa fragmentação de Rami.

Ora, Paulina Chiziane efetua de modo ainda mais profundo essa divisão da narradora quando
se encontra, a partir de um Outro, no espelho:

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Vou ao espelho tentar descobrir o que há de errado em mim. Vejo olheiras
negras no meu rosto, meu Deus, grandes olheiras! Tenho andado a chorar
muito por estes dias, choro até de mais. Olho bem para minha imagem. Com
esta máscara de tristeza, pareço um fantasma, essa aí não sou eu. Titubeio uma
canção antiga daquelas que arrastam as lágrimas à superfície. [...]

Paro de chorar e volto ao espelho. Os olhos que se reflectem brilham como


diamantes. É o rosto de uma mulher feliz. Os lábios que se reflectem traduzem
uma mensagem de felicidade, não, não podem ser os meus, eu não sorrio, eu
choro. Meu Deus, o meu espelho foi invadido por uma intrusa, que se ri da
minha desgraça. Será que essa intrusa está dentro de mim? (CHIZIANE, 2004,
p.16-17)

No que tange à focalização empregada pela narradora, pode-se observar o predomínio da


focalização interna, em que seus sentimentos são colocados em primeiro plano ao leitor. Isto
é algo que é esperado de um narrador autodiegético, ainda mais quando a narração é
simultânea. Entretanto, há alguns momentos em que Rami se volta para as amantes de Tony e
é então que se pode ver uma tentativa de focalizar o que elas estão sentindo, como no trecho,
em que a narradora observa os sentimentos de Julieta:

A minha rival desce da catedral, fecha os olhos e baixa a cabeça. Do fundo do


ser brotam lágrimas em cascata que correm como chuva ácida. [...]
Infelizmente muitas de nós, mulheres, agimos assim. Subimos ao alto do
monte e só quando estamos no ar compreendemos que não temos asas para
voar. (CHIZIANE, 2004, p.26).

Contudo, pode se observar que a tipologia romanesca da Paulina Chiziane se enquadra no


tipo de género da configuração romanesca do “idealismo Abstrato” anunciado pelo Luckas,
na medida em que Foi possível, então, notar que somente os conceitos genettianos não são
suficientes para explicitar as inúmeras facetas do livro da moçambicana Paulina Chiziane

Na perspectiva de Goldman citado pelo Frederico (2005), O demonismo do estreitamento da


alma é o demonismo do idealismo abstrato. É a mentalidade que tem de tomar o caminho reto
e direto para a realização do ideal; que, em deslumbramento demoníaco, esquece toda a
distância entre ideal e ideia, entre psique e alma; que, com a crença mais autêntica e
inabalável, deduz do dever-se da ideia sua existência necessária e enxerga a falta de
correspondência da realidade a essa exigência a priori como o resultado de um feitiço nela

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operado por maus demônios, feitiço que pode ser exorcizado e redimido pela descoberta da
palavra mágica ou pela batalha intrépida contra os poderes sobrenaturais.

Conclusão

Contudo, após a elaboração do trabalho, percebemos que na Introdução aos problemas de


uma Sociologia do Romance, obtém-se uma nova postura teórica, na qual a relação entre o
texto literário e a realidade social se dá através de uma visão de mundo. Quer dizer, o
sociólogo ao estudar uma obra artística, é necessário que perceba a homologia entre a
estrutura da visão de mundo do grupo social a que pertence o autor literário e a estrutura
histórica do texto em questão, cabendo ao cientista social trazer à luz o sentido profundo do
texto literário através da análise de seu conteúdo.

Também pudemos concluir que o romance moderno surge da ruptura com a limitação que a
sociedade impunha à personagem feita à sua imagem e semelhança; no rompimento que os
costumes convencionais ao extremo, com os tabus e os preconceitos, surge o herói moderno
(que pode ser o anti-herói), problemático, paradoxal, disponível, gratuito, com pouca ou
muita dose de absurdo (existencialista ou não). Finalmente o romance é visto no plano da
produção e da instituição da linguagem, depois das conquistas da crítica formalista e da
atividade estruturalista.

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Referências bibliográficas

GOLDMANN, L. Introdução aos problemas de uma sociologia do romance. In: A sociologia


do romance. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

FREDERICO, Celso. A sociologia da literatura de Lucien Goldmann. Estudos Avançados,


São Paulo, v. 19, n. 54, pp. 429-46, ago. 2005

CHIZIANE, P. Niketche: uma história de poligamia. Lisboa: Caminho, 2004.

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