Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade do
Estado da Bahia – Campus II
como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em
História.
Orientador(a):Profa.Dra.
Marilécia Oliveira Santos
Banca examinadora:
CDD 923.2
Mas o gesto que liga as "ideias" aos lugares é, precisamente, um gesto de historiador
(Michael de Certeau- A Escrita da História)
Agradecimentos
The aim of this study is to discuss certain aspects of the historical background of
Hostílio Ubaldo Ribeiro Dias, a railway man who came to prominence as a councilman
in the city of Alagoinhas, in the state of Bahia, by analyzing his first two terms in office,
in the period from 1955 to 1963. He entered the Railroad Technical College in
Alagoinhas as a student in 1943 and, after concluding his studies, went on to become an
employee of Viação Férrea Federal Leste Brasileiro (Eastern Brazil Federal Railroad
Company) where he worked from 1947 to 1965. During this period, he became involved
with labor-related issues in his functional sector, commanding respect among his peers
by getting elected as councilman for four terms in the respective elections of 1954,
1958, 1966 and 1976. Through his political involvement, we are seeking to outline the
sociopolitical scenario of the period under study, how he sought to intervene in the
dynamics of the city and the reactions that such provoked.
Introdução.....................................................................................................................13
Capítulo I
Nos caminhos de ferro: estudo, trabalho e formação de um líder............................21
1.1-Cotidiano de trabalho: mudanças, trocas, coesão e luta............................................27
Capítulo II
Um ferroviário na Câmara de Vereadores: atuação, luta e suspensão do
mandato.........................................................................................................................47
1.1-O “repto de honra” e o mandato interrompido.........................................................47
1.2-Legedas: dissidências e acordos...............................................................................48
1.3-Legislatura 1955: “Tudo pela lei, fora da lei nada”.................................................59
1.4-A Frente Popular assume a Mesa Diretora: “repto de honra”, prelúdio de um
crime...............................................................................................................................89
Capítulo III
“Sob o manto da paz”: segundo mandato de Hostílio Dias (1959-1963) ...............107
1.1-1959, primeiro ano do Mandato Legislativo: entre a descoberta do petróleo e o
aumento da carne verde.................................................................................................120
1.2-1960: ano da greve dos ferroviários e insatisfações com o descaso das pautas
sociais............................................................................................................................143
1.3-Anos finais..............................................................................................................151
Considerações finais ...................................................................................................161
Arquivos e fontes.........................................................................................................165
Referências bibliográficas .........................................................................................166
Lista das imagens
Introdução
1
CARR, Edward Hallet. “A sociedade e o indivíduo”. In: CARR, Edward Hallet. Que é História? Rio de
Janeiro: Paz e Terra ,1982. p.67-90.
2
Ibidem.
17
3
AVELAR, Alexandre de Sá. Escrita da História, escrita biográfica: das possibilidades de sentido. In:
AVELAR. Alexandre de Sá; SCHIMIDT, Benito Bisso. (orgs.). Grafia da vida: Reflexões e experiências
com a escrita biográfica. São Paulo: Letra e Voz, 2012, p. 63-78.
4
SILVA, Paulo Santos. O biógrafo como narrador: a concepção de biografia em Luiz Viana Filho. In:
SILVA, Maria Elisa Lemos Numes da; SILVA, Paulo Santos. (orgs.). Rastros Biográficos estudos de
trajetórias. Salvador: EDUNEB, 2014, p.15-48.
5
Ibidem.
6
RÉMOND, René. Uma história presente. In: RÉMOND, René (org). Por uma história política.
Tradução Dora Rocha – 2ed. Rio de Janeiro: Editora: FGV, 2003, p.13-36.
7
Ibidem.
18
história que não só é mais rica, mais viva e mais comovente, mas também mais
verdadeira”. 8 As fontes orais promovem uma nova dimensão a história, trazendo outro
ponto de vista. Como também a autora Verena Alberti por meio do seu livro Ouvir
contar: textos em história oral, se destaca por sugerir, dentre outras coisas, as
possibilidades de produção de conhecimento oferecidas pela história oral, bem como o
tratamento desta fonte. O autor Michel Pollack, no texto Memória e identidade social,
no qual faz uma discussão sobre a memória, nos auxiliou na reflexão das lembranças do
nosso entrevistado.
Para entender o contexto histórico estudado alguns autores foram essenciais
para o entendimento do período. O autor mais utilizado foi Jorge Ferreira por meio de
alguns livros como: João Goulart: uma biografia, um livro bem completo e também
outro do autor em parceria com Angela de Castro Gomes, 1964: O golpe que derrubou
um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditatura no Brasil, livro que
parte da renúncia do presidente Jânio Quadros em agosto de 1961, refletindo os
episódios e conformações até a deflagração do golpe em 1964. Também o livro de
Angela de Castro Gomes, A Invenção do Trabalhismo, que analisa, entre outras coisas,
a construção da imagem de Getúlio Vargas, ajudando a compreender o que representava
esse líder político que tanto o Sr. Hostílio demonstrou admiração.
O trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro, intitulado: Nos
caminhos de ferro: estudo, trabalho e formação de um líder, fizemos, inicialmente, uma
breve apresentação do personagem e em seguida procuramos reconstruir por meio das
entrevistas realizadas com o Sr. Hostílio Dias sua inserção na Escola Profissional aos 14
anos de idade como aluno aprendiz e posteriormente sua efetivação como funcionário
da Viação Férrea recuperando alguns episódios do seu cotidiano no trabalho que foram
caracterizados por uma busca para assegurar o cumprimento das leis trabalhistas que
ainda eram negligenciadas gerando assim muitos embates entre os trabalhadores e a
empresa, e dentro desse contexto foi se destacando a figura de Hostílio como líder entre
seus pares.
O segundo capítulo, um ferroviário na Câmara de Vereadores: atuação, luta e
suspensão do mandato, analisamos através das atas a primeira experiência como
vereador do personagem evidenciando um mandato muito competitivo e tenso e com
8
THOMPSON, Paul. A contribuição da história oral. In: THOMPSON, Paul. A voz do passado: história
oral. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p.37.
20
9
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade-lembranças de velhos.3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras,
1994, p.39.
10
SILVA, Paulo Santos. Narrar uma cidade: história e historiografia. In: BATISTA, Eliana Evangelista
(org). Alagoinhas: histórias e historiografia. Alagoinhas (BA): Quarteto/ FIGAM, 2015, p. 9-22.
21
Capítulo I
11
Doravante tratada somente como VFFLB.
12
GOMES, Angela de Castro. (Org.). Escrita de Si, escrita da História. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2004, p.18.
22
13
COSTA, Cléria Botelho da. A escuta do outro: dilemas da interpretação. História Oral, Rio de Janeiro,
v. 17, n. 2, p. 47-65, jul./dez. 2014, p.51.
14
BOURDIEU, Pierre. “A ilusão biográfica.” In: FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína
(org). Usos e abusos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1996.
15
Ibidem, p.184.
16
BORGES, Vavy Pacheco. “Grandezas e misérias da biografa”. In: PINSKY, Carla (org). Fontes
históricas.3ª ed. São Paulo: Contexto, 2011, p. 22-23.
23
17
FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011, p.18.
24
Figura 2- Hostílio Dias com seu filho e neta Figura 3- Hostílio Dias com a neta
18
Doravante tratada somente como EPFA.
19
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
25
20
SANTOS, Vânia Regina de Souza. Entre trilhos, dormentes e estações: A escola Profissional
Ferroviária de Alagoinhas (1941- 1962). Dissertação (Mestrado em Educação e Contemporaneidade) -
Universidade do Estado da Bahia, 2009.
26
aprendizes era uma identidade ferroviária seguindo seus critérios e aspirações. Esses
alunos, passados três anos de formação, iriam fazer parte do quadro de funcionários da
VFFLB, e assim, já iriam ajustados aos interesses da Empresa, com “hábitos e valores
considerados essenciais ao trabalhador, ao bom ferroviário”. 21
Essa era uma forma de condicionamento imposto pela VFFLB para seus
futuros funcionários desde sua formação não apenas nos espaços do trabalho como
também na conduta social do ferroviário. Maria Auxiliadora Guzzo Decca, em seus
estudos sobre os operários de São Paulo nos anos de 1920-1934, observou o cotidiano
dos operários e discutiu sobre como as fábricas disciplinavam os funcionários não
somente nos espaços de serviços como também procuravam disciplinar o lazer passando
a ter uma presença mais concreta nos bairros operários, associações recreativas, clubes
de esportes tendo um maior controle da vida do operariado. Segundo a autora,
21
SANTOS, Vânia Regina de Souza. Entre trilhos, dormentes e estações: A escola Profissional
Ferroviária de Alagoinhas (1941- 1962). Dissertação (Mestrado em Educação e Contemporaneidade) -
Universidade do Estado da Bahia, 2009.
22
DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. A vida fora das fábricas – cotidiano operário em São Paulo (1920-
1934). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p.88.
27
23
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
24
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
28
25
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
26
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
27
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
29
destacava por possuir uma considerável experiência política por conta de sua
organização e união em prol de um objetivo comum, que eram melhores condições de
trabalho. Os “ferroviários sempre estiveram quase permanentemente lutando por
melhores condições matérias”, como afirma Ede Soares, que relata que, nos anos de
“1894,1909,1919,1927, 1932 e 1960”, os ferroviários participaram de greve. 28 Então,
para além das influências trazidas pelos ferroviários de formação, como afirma Sr.
Hostílio Dias, com a chegada da Escola Profissional em Alagoinhas no ano de 1941, os
“antigos ferroviários” contribuíram muito para a identidade ferroviária desses novos e
formados trabalhadores da VFFLB, identidade essa forjada pelos embates cotidianos
vivenciados pelos próprios trabalhadores.
Os ferroviários de uma forma geral assim como outras categorias operárias
estiveram inseridos nessa atmosfera de lutas, de questões políticas e alguns ingressaram
na vida política. Mas que oportunidades ou aptidões habilitariam esses trabalhadores a
entrar na carreira política e exercer vários mandatos superando outros colegas? Nas
próximas reflexões acessaremos as experiências do Sr. Hostílio Dias em seu local de
trabalho, as inquietudes que ele rememorou sobre os desmandos encontrados na Viação
Férrea que serviu de base para a construção de sua história política.
Ao que parece, as lutas e conquistas pelos direitos dos trabalhadores do período
funcionaram como elemento de aproximação entre eles. Segundo o entrevistado, a
garantia dos direitos trabalhistas era uma questão difícil, pois aconteciam abusos dentro
da rotina do trabalho tais como, favorecimentos de cargos, classificações de cargos não
condizentes com as posições que os funcionários ocupavam e suspensões que
representavam punições. Todos esses pontos citados mostram um cenário do mundo do
trabalho conflituoso, ávido por mudanças e transformações que passava por alterações,
amparadas pelas resistências de classes, pela união de um objetivo comum. Era preciso,
em alguns momentos, salvaguardar direitos conquistados ou, em outros, lutar pela
conquista de novos que eram essenciais para aquele contingente de trabalhadores.
Segundo Paulo Fontes, a “coesão e solidariedade dos operários eram essenciais
para a formação de uma identidade de classe” 29. Consequentemente, essa união e essas
28
SOARES, Ede Ricardo de Assis. Os ferroviários e a formação do PCB em Alagoinhas. In: BATISTA,
Eliana Evangelista (org) Alagoinhas: histórias e historiografia. Alagoinhas (BA): Quarteto/FIGAM,
2015, p. 160-161.
29
FONTES, Paulo. Migração Nordestina e Experiências Operárias São Miguel Paulista nos anos 1950. In:
BATALHA, Claudio H. M., SILVA, Fernando Teixeira da, FORTES, Alexandre. (orgs.) Culturas de
Classe: identidade e diversidade na formação do operariado. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004. p.
382.
30
relações pessoais, “podiam abrir espaço para o questionamento das políticas da empresa
consideradas injustas e eram elementos centrais na criação de ações coletivas nos locais
de trabalho e moradia”. 30
Essas questões estão inseridas em toda uma lógica do cenário político que se
encontrava o Brasil. As memórias do Sr. Hostílio sobre esses pontos remontam a partir
de 1947 e nesse período já existia a legislação trabalhista que foi consolidada em 1943,
pelo então presidente Getúlio Vargas. Leis estas que foram conseguidas num processo
de lutas sociais dos trabalhadores. Porém, mesmo consolidadas, ocorriam
descumprimentos desses direitos, até porque, entre a implantação e sua efetivação
muitos artifícios foram utilizados por partes significativa dos empregadores, inclusive
porque não tinha fiscalização suficiente e, quando tinha, muitas vezes eram burladas
pelas empresas. Lembrando essas demandas e conflitos, o entrevistado trouxe à luz
alguns episódios que demonstram como aconteceram esses entraves na experiência da
cidade de Alagoinhas:
Gente que entrou aí como servente, como ajudante saiu, se aposentou com 35
anos, 37, 38 na mesma função oficialmente por portaria, legalmente
continuava na mesma função e foi por muitos anos esses que saíram assim.
Começou no diário da união, Diário Oficial a publicar. Tem gente que no
30
FONTES, Paulo. Migração Nordestina e Experiências Operárias São Miguel Paulista nos anos 1950. In:
BATALHA, Claudio H. M., SILVA, Fernando Teixeira da, FORTES, Alexandre. (orgs.) Culturas de
Classe: identidade e diversidade na formação do operariado. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004. p
382.
31
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
31
diário tinha três promoções porque levou a vida toda parado ali estagnado,
não cumpria o que a lei mandava a constituição e estatuto. 32
assim entendido quando o Sr. Hostílio lembra que muitos ferroviários não tinham suas
classificações reconhecidas e outros se aposentavam sem essa correção. Uma vez que a
Empresa nem sempre cumpria as leis reconhecendo as mudanças dos cargos e
consequentemente nos salários dos funcionários, provocou uma falta de motivação nos
mesmos. Seguindo essa lógica, muitos não viam por que pleitear cargos maiores dentro
da Viação Férrea, uma vez que não mudariam seus rendimentos, só acrescentariam
trabalho e responsabilidade. 34Além de todas as situações apontadas sobre a falta de
legalidade nas mudanças de cargos, ainda tinha a possibilidade dos funcionários se
aposentarem sem essa correção na profissão e isso impactava no valor de suas
aposentadorias.
Pelos relatos do Sr. Hostílio Dias as facilidades para a regularização das
classificações nos cargos ocorriam com aqueles que tinham um contato próximo com o
diretor ou chefe da oficina. Essas influências desobstruíam os entraves e
consequentemente a correção dos equívocos nos cargos. Em contrapartida, quem não
compartilhava dos mesmos privilégios encontrava dificuldade para conseguir essa
regularização e, posteriormente, com a mudança da Viação Férrea para Rede Ferroviária
Federal, os funcionários passaram a cobrar na justiça a regularização dos cargos e se
encarregavam de provar as injustiças que vivenciaram. Esse processo de mudança foi
relatado também por José Antônio de Lima, ferroviário aposentado que precisou entrar
na justiça para conseguir a regularização dos cargos que ocupou. 35
Ainda sobre as distorções que ocorriam naquele ambiente de trabalho, o Sr.
Hostílio afirmou que havia uma forma de punição chamada “suspensão”, que
basicamente era suspender o trabalhador durante alguns dias, cortando o que
correspondia a esses dias no seu salário. A justificativa para tal ato era a
“desobediência” do trabalhador, faltas no serviço ou contestações e reclamações que os
funcionários fizessem das arbitrariedades cometidas pela Empresa. Para o Sr. Hostílio,
na maioria dos casos, não existia uma lógica para a tal “suspensão” e ela acontecia de
forma corriqueira e aleatória, estabelecendo-se como uma rotina da Empresa, mesmo
que esta tivesse infringindo leis que garantiam os direitos dos trabalhadores. Cabe
34
Essa informação sobre o não interesse dos funcionários sobre as mudanças de cargos também foi
cedida, pelo ferroviário aposentado José Antônio de Lima no dia 15/05/2012.
35
LIMA, José Antonio de. José Lima (depoimento 2012). Entrevista cedida a Tatiane Figueiredo Araujo.
Alagoinhas, BA. 15 de maio de 2012.
33
lembrar que, se nos grandes centros era difícil assegurar o cumprimento das leis, nas
cidades menores mais difícil ainda era garantias a fiscalização desse descumprimento.
Essa prática da Viação Férrea não era uma exclusividade e ocorria em diversas
empresas brasileiras. Ao analisar a experiência de São Paulo entre 1950 a 1960, Paulo
Fontes informa que os chefes de seção decidiam “sobre a maior parte da vida
profissional dos operários nas promoções, demissões, punições e transferências que
eram determinadas basicamente a partir de sua opinião”. 36 Fica evidente que essas ações
caracterizavam as empresas seguindo uma “conduta” generalizada. Certamente cada
empresa tinha suas especificidades dadas às devidas realidades, mas, estudos mostram
que essa prática das empresas se deu em diversas localidades do Brasil no período e as
experiências narradas pelo Sr. Hostílio Dias se aproximam das demais. Esses atos eram
tão frequentes e faziam parte da dinâmica do trabalho, que ele lembrou com indignação,
E o pior, aquela sequência de uma tal de suspensão que isso acabava com o
pessoal. Relação a qualquer coisa, discussão suspendia cinco dias, dez dias.
Você via assim na portaria lá publicado a relação antes de terminar aquela
relação enorme, aquela quantidade já tava o inspetor mandando outra
enorme, continuou colocando outra. 37
O Sr. Hostílio ainda relatou que a chefia da oficina instituiu uma suspensão
mais dura, que ele considerou ser “um golpe”, pois com as suspensões os ferroviários
trabalhavam e só recebiam a “metade do salário”, era uma “suspensão trabalhando”. 38
Ao que parece, as suspensões que já eram abusivas com a frequência das
punições tornaram-se cada vez piores e arbitrárias pois a Empresa além de suspender o
trabalhador por alguns dias cortava o salário. Nesta nova modalidade de punição o
ferroviário continuava na execução de suas funções e, ao final do mês, recebia o salário
cortado.
Possivelmente essas suspensões foram formas de punir e controlar os
trabalhadores, e, além disso, foram maneiras empregadas para inibir os possíveis
protestos e articulações dos funcionários que lutavam contra os desmandos e agressões
36
FONTES, Paulo. “Migração Nordestina e Experiências Operárias São Miguel Paulista nos anos 1950”.
In: BATALHA, Claudio H.M., Silva, Fernando Teixeira da; FORTES, Alexandre. (Orgs) Culturas
Classe: identidade e diversidade na formação do operariado. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2004,
p.377-378.
37
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
38
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
34
[...] A retirada dos meios de subsistência das mãos dos trabalhadores significa
constrangê-los a acharem estratégias para lidar com a aguda incerteza da vida
diária, que deriva de seu estado de impossibilidade de reprodução autônoma e
sem apelo a outras agências. 39
39
SAVAGE, Mike. Classe e História do Trabalho. In: BATALHA, Claudio H. M.; SILVA, Fernando
Teixeira da; FORTES, Alexandre. (orgs.) Culturas de Classe: identidade e diversidade na formação do
operariado. Campinas, SP: Editora da Unicamp,2004.p.33.
40
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
35
da cidade trazendo satisfação para os mesmos. O funcionário estando ‘feliz’ teria uma
produtividade maior, ainda que essa saciedade seja no campo da diversão.
Segundo o Sr. Hostílio Dias, o interesse pelas questões políticas já era algo
“entranhado” que trazia de “nascença”, e que teria sido “levado para o campo partidário
dentro da oficina”. Ainda como aluno aprendiz, teria passado a se interessar pelos
assuntos de ordem trabalhistas, surgindo dentro dele um “espírito de comando, de uma
liderança na escola no meio dos colegas”. 41
Ao que parece, esse direcionamento foi ocorrendo de uma forma gradativa, e
teria iniciado na Escola Profissional participando das conversas, debatendo ideias e,
posteriormente, esse interesse teria se ampliado após sua efetivação como ferroviário.
Narrando esse período inicial de envolvimento ele ainda afirmou:
41
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
36
de ditador” e foi assim, segundo ele, que começou com “aquele negócio de getulismo na
escola e pra oficina a mesma coisa.” 42
Essa admiração que o Sr. Hostílio Dias demonstrou ter por Getúlio Vargas
como um “chefe do governo” que tinha em sua conduta “atos extraordinários”, era um
pensamento de muitos dos trabalhadores do período que viam em Vargas um provedor e
mantenedor da legislação trabalhista. Essa imagem foi forjada no período do Estado
Novo resultado de forte investimento no discurso e propaganda. Angela de Castro
Gomes em seu livro A invenção do trabalhismo, em uma das principais análises de sua
obra, discute como foi construída a imagem de Getúlio Vargas perante os trabalhadores,
moldando a admiração e fascínio das massas tensionadas pelo Estado Novo, não
podendo ser analisada apenas pela política trabalhista, mas atrelada ao Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), órgão governamental que controlava o material público
dos rádios, jornais, cinemas e revistas daquela época. Em conjunto a este controle
também havia uma propaganda consistente na figura de Getúlio Vargas como um líder,
criando uma imagem como benfeitor dos pobres e doador da legislação trabalhista. 43
A autora ressalta que os acontecimentos políticos do pós-30 tiveram a questão
social como uma “grande marca distintiva e legitimadora”. Acrescenta que a “revolução
e principalmente o estabelecimento do Estado Novo distinguiam-se de todos os demais
fatos de nossa história” porque se “afastava de modelos jurídicos para mergulhar nas
profundezas de nossas questões econômicas e sociais”. Angela Gomes enfatiza que a
questão social teve um caráter revolucionário porque foi tratada como uma questão
“política” e só seria resolvida pela intervenção do Estado. 44
A autora destaca a importância da Hora do Brasil, programa produzido pelo
DIP entre 1942 a 1945, que vinculava as palestras do Ministro do Trabalho, Alexandre
Marcondes Filho, semanalmente pelo rádio e no dia seguinte ao seu pronunciamento o
texto era publicado no jornal oficial do Estado Novo, A Manhã, com a intenção de
promover uma fixação maior perante o público e ainda tornara, por um decreto lei, a
transmissão obrigatória em qualquer estabelecimento comercial. 45
O conteúdo dos programas “enfocava toda legislação social produzida,
regulamentada e reformada a partir do ano de 1930” e todos esses assuntos eram
42
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
43
GOMES, Angela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de janeiro: Editora FGV, 2005.
44
Ibidem, p.197.
45
Ibidem.
37
46
GOMES, Angela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de janeiro: Editora FGV, 2005. p.214.
47
PARANHOS, Adalberto. O roubo da Fala-Origens da Ideologia do Trabalhismo no Brasil. São
Paulo, Boitempo Editorial, 1999, p. 157.
48
POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2,
n.3,1989, p.8.
38
Ele também relatou que toda aquela homenagem gerou alguns conflitos,
principalmente por parte dos “partidos que eram contra Getúlio”. Segundo o Sr.
Hostílio, teria acontecido muita confusão na ocasião e chegaram a dizer: “Isso só pode
ser comunista”. Mesmo com essa oposição, eles teriam continuado com as homenagens
e ele relembrou que o delegado regional veio falar com ele e disse “olha, eu quero
aconselhar”, você é “um jovem moderno, ainda menino” e, alertando que ele estava
“assumindo uma responsabilidade muito grande” e achou por bem aconselhá-lo “vamos
parar o negócio por aqui”. Segundo seus relatos entusiasmados, apesar da advertência
ele teria dado prosseguimento a homenagem. 50
Em contrapartida às informações do Sr. Hostílio, o jornal O Nordeste do dia 31
de agosto de 1954, noticiou sobre a morte do presidente e das homenagens que se
“seguiram do povo e operariado pelas ruas da cidade de Alagoinhas”, e mais, que os
líderes udenistas, adversários político de Getúlio Vargas, se mantiveram em um
“respeitoso silêncio”. Já os militantes do Partido Trabalhista Brasileiro, estavam sob a
liderança de Dr. Israel Pontes Nonato nas manifestações de pesar pela morte. 51 Apesar
das contradições encontradas entre as memórias do Sr. Hostílio Dias e as noticiadas no
Jornal não podemos eleger uma das duas como exclusivamente verídica ou mentirosa. O
fato é que houve homenagens, não apenas realizadas pela dedicação do Sr. Hostílio
Dias, e sim a população de uma forma geral se sentiu combalida com a morte
inesperada do presidente e prestaram também homenagens. Em relação ao texto
jornalístico sabemos que os editorais seguem uma linha ideológica e as manchetes são
exploradas ou silenciadas conforme a intenção que se quer propagar.
As homenagens prestadas a Getúlio Vargas na cidade de Alagoinhas mostram
uma iniciativa parecida com que aconteceram em vários estados do Brasil. Como
registra Jorge Ferreira, no dia 24 de agosto de 1954, “milhares de pessoas se
49
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
50
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
51
TRÁGICO Desfecho da Crise Política Militar. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VI, nº 160, 31.08.1954.
p.1.
39
52
FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. p.16.
53
Estatuto Dos Funcionários Públicos Civis Da União. 9ª ed.1963, p.26.
40
Estado Varguista”, como analisa Jorge Ferreira no livro Trabalhadores do Brasil. 54 Nele
o autor demonstra que os atores sociais conseguiram, ainda que estivessem debaixo de
uma opressão do Estado, se apropriar do discurso de Vargas para cobrar seus direitos
reafirmando, nas próprias cartas, o papel que o presidente propagava de “pai dos
pobres”. Essa iniciativa do Sr. Hostílio Dias e seus colegas evidencia que eles estavam
afinados com o cenário político da época, usando o jogo da política para cobrar os seus
direitos trabalhistas. Em suas lembranças ele evidencia o destaque que teve na ação
mas, é claro que para ele ter efeito precisava do apoio dos demais. É preciso levar em
consideração também o poder de convencimento e credibilidade que ele poderia mesmo
ter entre os colegas.
Segundo o Sr. Hostílio, o seu envolvimento e participação nesses episódios
foram se tornando mais frequentes e ele narrou outro acontecimento em que destacou
seu protagonismo. No período das festas juninas, os ferroviários estavam acostumados,
no dia de São João, a serem liberados uma hora antes do final do expediente. Porém,
eles tinham certeza que essa prática não se repetiria num ano específico pela fama que
tinha o novo inspetor de ser “carrasco”. Segundo ele, teria surgido um boato que o
inspetor iria liberar os funcionários às 15 horas e, chegado o horário da liberação teria
surgido uma zoada que imitava o apito da “compressora”, que era a máquina
responsável por avisar os horários de iniciar as atividades na ferrovia, horário do almoço
e horário do encerramento do expediente que era às 16h30min. Segundo o Sr. Hostílio
Dias, esse som saiu não da máquina e sim de algum colega que ele não sabe quem foi
que teria feito esse ruído com pedaço de tubo colocado na boca para parecer o apito da
Empresa.
O Sr. Hostílio disse acreditar que esse ato do colega teria sido para obrigar o
inspetor a liberar os trabalhadores mais cedo e ressaltando que a atitude do colega de
trabalho foi tomada por “conta própria”. Afirmou que, depois do ocorrido, o chefe teria
saído “feito uma fera” e determinou um castigo de uma hora a mais de trabalho. O
encerramento das atividades da ferrovia que era às 16h30min depois dessa punição
passou para às 17h30min, portanto, uma hora a mais depois do expediente, criando um
“rebuliço” entre os funcionários da Ferrovia. 55
54
FERREIRA, Jorge. Trabalhadores do Brasil: o imaginário popular (1930-1945). Rio de Janeiro: 7
letras, 2011.
55
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
41
Naquele momento de agitação pelo castigo dado, o Sr. Hostílio teria falado
com os colegas de profissão que, ao invés de “estarem dizendo que vai fazer isso e
aquilo com o inspetor, outro xingando, outro jogando praga”, que, ao contrário, ele iria
sair no horário normal do expediente e não “teria conversa”. Afirmou que, após essa
fala a maioria dos ferroviários concordou com essa postura informando que sairiam
também com ele:
Quando deu 16h30min, aquela multidão, tudo atrás, ai chegou no portão, tá o
vigia e falei para ele: tenha bondade de abrir o portão porque já deu 16:30. Aí
ele falou: a chave não está comigo não, e aí perguntei está na mão de quem?
Ele respondeu está na mão de Dr. Luís [o inspetor], aí falei: não sabia que ele
foi rebaixado para vigia... aí fui lá conversar com ele. 56
Sou muito olhado por eles aqui dentro dessa oficina, sabe a turma do contra,
os chefes... Eles doido para me pegar em umas faltas, para me castigar pra
valer, porque sempre falava na frente dos puxa-sacos para falar pra eles eu
comentava os atos deles... Aí eu ia lá, mas pensei assim eu vou formar uma
comissão e ir a ele agora, e aí eu pensei vou cometer um ato antiestratégico e
lá ele ia dizer que agredi a ele [se referindo ao inspetor] veio na mente isso...
Aí eu desisti, mas não por covardia de ir lá não, eu vou esperar que venha
aqui. 57
Depois de tomada essa decisão o chefe veio falar com os funcionários exigindo
que eles fossem trabalhar, mas, o Sr. Hostílio Dias relatou que teria dito que eram
16h30min e iria sair. Entretanto, o acordo feito anteriormente para que todos saíssem
quando desse o horário não foi cumprido e apenas 9 ferroviários saíram com o Sr.
Hostílio. Eles ficaram sabendo que tomaram suspensão de 14 dias. Tentaram ainda
argumentar com o inspetor, mas, ele não revogou a suspensão.
Partindo dessa não anulação da suspensão o Sr. Hostílio Dias e os outros 9
ferroviários foram para a capital do Estado com o intuito de resolver a questão. O
entrevistado ainda ressaltou que, apesar de ser muito “novo, mesmo assim se lembrou
do pessoal do PTB”. E segundo ele foi a Salvador falar com um “deputado chamado
João Lima Teixeira 58, getulista e que era Presidente da Assembleia da Câmara
56
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
57
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
58
João Lima Teixeira foi um advogado, jornalista e político, natural de Santo Amaro-Bahia. Em 1943 foi
eleito deputado federal. Em 1945-1946 foi presidente do conselho regional do trabalho da Bahia. Elegeu-
se deputado da assembleia constituinte baiano na legenda PTB e em 1954 ganhou as eleições para
Senador da Bahia coligação PTB com a UDN. Ver http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-
biografico/joao-de-lima-teixeira
42
59
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
44
articulação entre os ferroviários possibilitou vencer lutas diárias. E, para além dessas
“pequenas” vitórias, os trabalhadores conquistaram algo maior que foi a consciência do
poder que eles tinham quando se uniam.
Foi nesses embates que o Sr. Hostílio foi construindo sua história política, se
envolvendo nas lutas diárias e assumindo características de líder. Ao que parece, ele
assumiu uma postura de mediador, pois conseguia transitar não apenas entre seus
colegas de profissão como também dialogar com os chefes. É importante ressaltar que,
pelos seus relatos, o Sr. Hostílio demonstrou habilidade para perceber o momento
adequado para se manifestar nas ocasiões de conflitos e também saber recuar. Essas
atitudes colocaram-no em evidência.
Segundo o Sr. Hostílio, os colegas passaram a reconhecê-lo como representante
do grupo. Para ele, sua posição de liderança, teria nascido
Ele afirma que recebeu muitos convites para que se candidatasse a vereador e
que surgiram propostas de várias legendas devido ao seu destaque e popularidade entre
os ferroviários. Cabe destacar que o entrevistado ainda teve influência do seu irmão,
Hildebrando Dias, que foi “vereador nas legislaturas de 1950-1954, tendo seu mandato
cassado em 1952, pela justificativa de falta de decoro e posteriormente conseguiu se
reeleger para o mandato de 1955-1958” 61, tinha uma postura política ativa e
fiscalizatória, e também foi membro do Partido Comunista Brasileiro-PCB 62 antes dos
mandatos. Provavelmente de alguma forma a experiência política de Hildebrando
contribuiu para o ingresso do seu irmão Hostílio no mundo da política.
As memórias do Sr. Hostílio sobre sua experiência na Viação Férrea e o
caminho que o levou a seu primeiro mandato foram narradas pelo entrevistado de um
60
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
61
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011, p.61.
62
Doravante tratada somente como PCB. Cabe destacar que até agosto de 1961, o PCB era Partido
Comunista do Brasil.
45
modo geral como algo natural. Ele considerou que o interesse pela política e as lutas
trabalhistas já eram portados de “nascença”. Em todos seus relatos buscou se colocar
como atuante e protagonista nos embates do cotidiano do trabalho. Mesmo que o Sr.
Hostílio tenha alegado que foram os colegas que o elegeram como vereador e
representante da categoria, podemos analisar que o personagem por várias vezes se
colocou na posição de mediador e porta voz de seus colegas buscando tomar a frente
para negociar conflitos em seu ambiente de trabalho. Contudo, existiram outros
ferroviários que se destacaram também e conseguimos identificar essa presença quando
ele narra alguns acontecimentos, sendo perceptível a disputa de poder nas tomadas de
decisões de episódios rememorados que em alguns casos as decisões acordadas eram
contrárias ao combinado.
A julgar pelas formas de articulação expostas pelo Sr. Hostílio é possível
considerar que tenha sido a informação o elemento que o evidenciava, uma vez que
desde a Escola Ferroviária o personagem afirma que procurava se interessar pelos
assuntos relacionados a política e buscando também conhecer o Estatuto dos
funcionários públicos garantindo conhecimento para saber agir diante de casos de
descumprimento das leis por parte da empresa e também saber se posicionar se fazendo
um líder entre seus colegas. Não desconsideramos o fato de o personagem de fato ter
uma notoriedade diante dos demais colegas, mas os pontos abordados acima o
aproximava e o colocava mais perto para essa posição.
A construção das memórias do Sr. Hostílio ao relembrar alguns episódios
passados, como apontamos ao longo do texto, esteve em confrontação com outras
narrativas e observamos que o que estava em jogo era o protagonismo das ações, o
destaque de quem as executou e em outras observamos uma intersecção desses fatos.
Michael Pollack sobre o relato de vida considera que “assim como uma ‘memória
enquadrada’, uma história de vida colhida por meio da entrevista oral, esse resumo
condensado de uma história social individual, é também suscetível de ser apresentada de
inúmeras maneiras em função do contexto no qual é relatada” 63. É justamente essa
perspectiva da identidade individual que traz uma visão a partir de um prisma pessoal,
mas que abarcar o mundo social que se vive.
A autora Cléria Botelho da Costa também reflete que “o mundo de cada
rememorador é singular, ímpar, e que ele difere do mundo do outro, do mundo do
63
POLLAK, Michael. “Memória, esquecimento, silêncio.” In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro: vol. 2,
nº 3, 1989. p.11.
46
pesquisador”. A autora conclui que o “mundo do outro certamente não é matizada pelas
mesmas cores com as quais enxergo o meu mundo” e “nosso olhar e os sentidos que
atribuímos às coisas, às pessoas, estão sempre carregados de subjetividade” 64. Então
compreendemos que o Sr. Hostílio ao trazer seus relatos o faz com uma visão e
interpretação particular, apontando novas informações e sensações atribuindo um novo
prisma ao passado.
No artigo de Alessandro Portelli 65, sobre o massacre de Civitella, ele analisa as
disputas das memórias, observando suas várias versões a partir do lugar de fala de cada
grupo envolvido, percebendo as “memórias divididas” não como excludentes em
detrimento de outras, mas mediadas “ideológica e culturalmente”, assim também
entendemos as rememorações do Sr. Hostílio, personagem desse estudo que acaba
trazendo um novo ponto de vista, uma história contada a partir de sua percepção e
ressignificação do passado, pois o ato de recordar é um processo particular porque lida
com a alteridade do rememorador, mobilizando representações pessoais e ao mesmo
tempo é coletivo em função da sua posição social. Portelli considera ainda que, seja uma
memória de um grupo pertencente, mesmo assim irão existir memórias múltiplas e essa
confrontação é um diálogo importante para compreender o passado analisando as
versões de cada um sobre o mesmo evento.
No próximo capítulo vamos tratar diretamente do primeiro mandato do Sr.
Hostílio Dias, a partir das atas da Câmara de Vereadores analisando sua atuação e
buscando compreender o cenário político da cidade de Alagoinhas naquele período.
64
COSTA, Cléria Botelho da. A escuta do outro: dilemas da interpretação. História Oral, Rio de Janeiro,
v. 17, n. 2, p. 47-65, jul./dez. 2014, p. 57.
65
PORTELLI, Alessandro. “O massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana, 29 de junho de 1944): mito
e política, lute e senso comum”. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes. Usos e abusos
da história oral. 4 ed- Rio de Janeiro: Editora FGV,2001, p.103-137.
47
Capítulo II
Um ferroviário na Câmara de Vereadores: atuação, luta e suspensão
do mandato
66
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 07/05/1956, p.35.
48
67
RESULTADO oficial do pleito de 3 de outubro, neste Município. O Nordeste, Alagoinhas, ano II, nº
59, 29/10/1950, p.6
49
serviço ”. Importa mencionar que esse senhor ‘comunista’ morava de frente para a
Estação São Francisco e, ao que parece, a casa servia para reuniões dos operários. Na
reunião o Sr. Hostílio deixou claro que sua opção partidária era pelo PDC e segundo ele,
os colegas concordaram e optaram também por esse partido e disse ainda que o
entendimento que tiveram foi que aquele convite de Pedro Dórea e a sua negativa “era o
meio de dar logo uma pancada”, se referindo ao político.
Hostílio Dias seguiu dizendo que a partir daquela decisão, “teve uma alazinha
dentro da oficina” que era ligada a Pedro Dórea que não concordou com a decisão,
porém ele teria dito que a opção partiu de uma votação e manteve o acordado. Narrou
ainda que em seguida “os prazos chegaram para fazer a inscrição na legenda para a
candidatura” e foi quando percebeu que não estava inscrito na que havia decidido. Ele
afirmou que, quando percebeu, ainda não tinha portaria para sua candidatura e já tinha
encerrado o período de inscrição dos partidos. Segundo ele, isso teria ocorrido por falta
de experiência, pois teria entrado novo, aos 25 anos de idade e ainda não possuía os
traquejos sobre as questões burocráticas dos partidos. Ele relembrou que depois foi
informado que seu nome estava na lista de candidatos inscritos pela UDN. Segundo ele,
isso teria acontecido porque existia, por parte de alguns membros do partido PDC, um
contato com o pessoal da UDN e estes teriam encaminhado a relação dos candidatos
para eles com o seu nome incluso.
Ainda afirmou que aquela altura ele “não tinha meio de refazer mais, tinha
terminado os prazos” 68 e se não saísse pela UDN não poderia mais disputar as eleições
para vereador naquele ano. Ele sabia que possuía grandes chances de alcançar a vitória
por ser e estar apoiado pelos “ferroviários que representavam uma força grande na
cidade”. 69 Ele relatou que antes de concorrer mesmo pela União Democrática teve uma
conversa com os dirigentes do partido deixando acordado que ele teria autonomia caso
fosse eleito para tomar decisões dentro do partido. Isso contudo, segundo seus relatos
não teria se concretizado e ele afirmou que antes mesmo da posse já teria se desfiliado
da UDN por não concordar com várias posturas, ficando sem partido a princípio. Cabe
destacar que ele não relatou quais foram os desacordos que motivaram a desfiliação.
68
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
69
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
50
Este é um episódio pouco explicado e que ele buscava minimizar nos seus
relatos. Para além da perda de prazo justificada por ele, é possível que o Sr. Hostílio,
ainda não tivesse um apoio político nessa primeira experiência como candidato em
virtude de estar se iniciando efetivamente na política e talvez não possuísse uma
visibilidade entre os quadros dos partidos ou que ele simplesmente não tenha ficado
entre os escolhidos pelo partido para concorrer e por isso se filiou a outro partido. Outra
possibilidade é que tenha ocorrido uma dissidência do Sr. Hostílio no grupo político
local em que ele estava afinado e ele migrou estrategicamente para outra legenda. Nas
eleições de 1954, alguns candidatos filiados ao PTB e outras legendas saíram dos seus
respectivos partidos e isso poderia ter influenciado sua mudança. Essa probabilidade
ganha mais força quando verificamos a criação do bloco oposicionista Frente Popular
Democrática-FPD 70 composta por membros dissidentes de várias legendas, entre eles
estavam o Sr. Hostílio e seu irmão Hildebrando Dias.
É necessário também registrar que a própria UDN difundia ter em sua essência
partidária a “liberdade de movimento”, como aponta Maria Victoria de Mesquita
Benevides 71, ao trazer um registro da convecção Nacional da UDN de maio de 1946,
que dizia que a principal qualidade do partido era “sempre” que se fizesse
“conveniente” o partido adaptaria “o seu programa às necessidades do povo brasileiro e
sem os desajustamentos que ocorrem aos partidos presos a ideologias ou doutrinas
rígidas”. Essa conduta favorecia a receber membros de outros partidos conforme a
necessidade de se adaptar as demandas do cenário político e estar em rota com as
exigências da ocasião. 72 Embora esse regimento evidencie um discurso, entendemos que
cada partido explicita suas propostas e esta pode mesmo ser uma estratégia para atrair
políticos em rota de colisão com seus pares.
Aqui é necessário problematizar sobre a estrutura partidária local anteriormente
ao pleito de 1954 em Alagoinhas e que acabou por direcionar e orientar posturas e
estruturas do referido período. Ao analisar o Legislativo Municipal de Alagoinhas a
partir de 1948, com sua reabertura após o fim do Estado Novo (1937-1945), Moisés
Morais, avalia que havia uma “gradativa ampliação de interlocutores dos trabalhadores
no Legislativo Municipal”, se elegendo para vereadores. Isso fica comprovado com o
pleito de 1947, no qual entre os doze vereadores que em sua maioria eram proprietários
70
Doravante tratada somente como FPD.
71
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. “A UDN e o udenismo: ambiguidade do liberalismo
brasileiro (1945-1965) ”.Tese (Doutorado em História) Universidade de São Paulo, 1980, p.239.
72
Ibidem, p.43.
51
73
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011, p.92.
74
Vereador eleito em Alagoinhas para as legislaturas de 1950-1954 e 1955-1958.
75
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011, p.92.
76
Informação encontrada no Jornal, porém não conseguimos saber quando o Sr. Hostílio Dias assumiu a
presidência dos Servidores Públicos de Alagoinhas. Jornal O Nordeste, Ano VII, nº 54, 15.07.1956. p.6.
77
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011, p. 92.
52
as conformações daquele período. Como aponta Jorge Ferreira, entre novembro 1953 e
janeiro de 1954,
O movimento sindical não se limitou a pressionar patrões e governo por
reajustes salariais e deflagrar greves. Os sindicalistas, procurando avançar
para além das reivindicações econômicas, começaram a lutar também na
dimensão da política, particularmente a eleitoral. Em meados de novembro,
os presidentes dos sindicatos[...] se reuniram na União dos Servidores do
Porto, no Rio de Janeiro. Ao final, apresentaram o manifesto-programa de
lançamento da Frente dos Trabalhadores Brasileiros, cujo objetivo era lançar
candidatos para cargos legislativo . 78
78
FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. p.111.
79
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia,1948-1964. Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Univresidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011, p. 92.
80
Ibidem, p.112.
81
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.15/04/1955.
53
82
Soares, Ede Ricardo de Assis. Os ferroviários e a formação do PCB em Alagoinhas. In: BATISTA,
Eliana Evangelista (org) Alagoinhas: histórias e historiografia. Alagoinhas (BA): Quarteto/FIGAM,
2015, p.160-161.
83
SOARES, Ede Ricardo de Assis. Os comunistas e a formação da esquerda (Alagoinhas, 1945-1956).
Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas, 2013, p.140.
54
períodos eleitorais, o que se verifica com o destaque alcançado pelo núcleo local por
conta dos votos que os candidatos comunistas receberam naquele contexto”. 84
Muito embora a cidade já tivesse uma experiência de atuação de luta com os
ferroviários, o Partido Comunista, ainda segundo a reflexão de Ede Soares, foi
responsável pela “formação e organização da cultura política de esquerda em
Alagoinhas”. 85Provavelmente essa experiência comunista agregou nas lutas trabalhistas
já existentes na cidade e essas influências começaram a se tornar efetivamente após a
década de 1950 com a participação efetiva do operariado na câmara legislativa
municipal.
Antes de adentrar na experiência do primeiro mandato do Sr. Hostílio Dias, a
partir de 1955, precisamos fazer uma reflexão sobre as três principais legendas
partidárias que estavam em atuação. A primeira delas é o PTB, criado em 1945 por
Getúlio Vargas para servir de base estrutural para os trabalhadores. Segundo Jorge
Ferreira, a criação do partido “resultou de tradições que circulavam entre os próprios
trabalhadores, antes e depois de 1930”, o autor ainda problematiza que a versão comum
quanto a criação do PTB de que tenha sido de “última hora para barrar o crescimento do
Partido Comunista Brasileiro-PCB” não se sustenta. Jorge Ferreira, ainda afirma vide
Angela de Castro Gomes 86, que o “trabalhismo e a montagem do sindicalismo
corporativista, complementadas pela criação do Partido Trabalhista Brasileiro
construíram as pedras de toque para a incorporação política dos trabalhadores”. 87
O PTB quando criado tinha como representação máxima a figura de Getúlio
Vargas, ele era o que dava ao partido a credibilidade perante a massa trabalhadora e seu
nome era maior que a sigla, o getulismo como chamado para identificar sua forma quase
que exclusiva, diferenciada de governar e que tinha por seus seguidores uma aclamação
e gratidão pelas leis trabalhistas implantadas. E esse reconhecimento era legítimo e
notório ainda que esses direitos alcançados tenham sido conquistados por meio das lutas
operárias, contudo a efetivação foi consolidada na gestão de Vargas e ele tinha uma
condução peculiar de transmitir e propagandear as “benfeitorias” “doadas” aos
trabalhadores capitalizando as ações. Com a morte de Getúlio Vargas em 1954, o
partido passou por um momento de transição tendo à frente João Goulart que antes da
84
SOARES, Ede Ricardo de Assis. Os comunistas e a formação da esquerda (Alagoinhas, 1945-1956).
Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas, 2013, p.139.
85
Ibidem, p.140.
86
GOMES, Angela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de janeiro: Editora FGV, 2005.
87
FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011,p.53 -54.
55
morte de seu grande líder já havia lhe passado a direção do partido e posterior a sua
morte era o momento de executar as mudanças necessárias para o PTB se manter
operante ainda que sem seu líder fundador.
A partir daquele momento se promoveu uma distinção no PTB e se configurou
entre o Getulismo praticado na consolidação das leis trabalhistas e na legenda do PTB
com sua criação e outro pós morte de Vargas direcionado por João Goulart, com o
trabalhismo. Jorge Ferreira faz a distinção desses dois momentos, a partir do artigo de
Adamastor Lima, que define e explica as diferenças de cada momento. Segundo Lima o
“Getulismo e trabalhismo não se confundem”, o Getulismo é “fenômeno sentimental” e
“gratidão coletiva” que sempre estará registrado nas mentes dos brasileiros. Já o
“trabalhismo é um movimento político” que com o “PTB, ganhou a forma partidária”. 88
O Getulismo tinha uma característica de defesa e conquistas trabalhistas
representada por um líder e o trabalhismo se configurou em outro momento de uma
geração que ao invés de ter um provedor na figura de Vargas, se manifesta
politicamente se representando legalmente e sobre um herdeiro do getulismo, Goulart,
que representava esse novo momento. Jorge Ferreira ainda argumenta que João Goulart
contribuiu “para que o PTB adquirisse um perfil político e ideológico mais
consistente”. 89
Esse período também foi caracterizado na literatura por uma política chamada
‘populista’, compreendida entre 1945 a 1964, que tinha como definição um líder
carismático, autoritário e provedor. Segundo Angela de Castro Gomes, no seu artigo O
populismo e as ciências sociais no Brasil 90, esse conceito começou a ser estudado na
década de 1950 por um grupo formado por intelectuais financiado pelo Ministério da
Agricultura com objetivo de pensar sobre os problemas do país e eles identificaram que
um dos principais problemas no Brasil era o populismo como política. Discute, porém,
que a princípio o fenômeno foi conceituado de forma rasa, considerando os
trabalhadores como sem consciência de classe, esse conceito foi sendo absorvido
também por um senso comum e reproduzido por um tempo, A própria autora Angela
Gomes reconhece que se desprende desse conceito ‘populismo’ por considerar o seu
88
FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011, p.143.
89
Ibidem, p.143-144.
90
GOMES, Angela de Castro. “O populismo e as ciências sociais no Brasil: notas sobre a trajetória de um
conceito”. In: FERREIRA, Jorge. O populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001, p.17-57.
56
conteúdo básico e sem uma reflexão que dê conta da complexidade das relações
estabelecidas no período estudado.
Com as mudanças do cenário político, a própria historiografia passando por
novas inclusões de abordagens sobre esse conceito foi tendo outras versões e análises,
em virtude também da própria profundidade que o tema exigia. Jorge Ferreira, em seu
artigo O Nome e a coisa: o populismo na política Brasileira, afirma que nos anos 80
alguns historiadores brasileiros começaram a adotar em sua literatura a história cultural,
construindo uma nova visão, que nega “que as classes dominantes tenham o monopólio
exclusivo da produção de ideias. Os trabalhadores, os camponeses e as pessoas comuns
também produzem suas próprias ideias”. 91 Essa abordagem muda todo um conceito
anteriormente divulgado sobre o populismo, mostrando que existia uma confrontação de
ideias e poderes. Ferreira se vale do conceito de “circularidade cultural” de Carlo
Ginzburg, para quem as ideias não são produzidas apenas pela classe dominante e
impostas sem resistências e conciliações. Ferreira também trabalha com a reflexão de
Roger Chartier ao concordar que as classes populares se apropriam das ideias
dominantes e as ressignificam.
No livro O populismo na política brasileira, o autor Francisco Corrêa Weffort,
faz um estudo sobre o populismo no Brasil, considera que o “populismo foi um modo
determinante e concreto de manipulação das classes populações, mas foi também um
modo de expressão de suas insatisfações”. Refletiu que assim como foi um mecanismo
para exercer uma dominação dos grupos dominantes também esteve com esse domínio
“potencialmente ameaçado”. 92 Constatando que as classes operárias também exerciam
suas forças não sendo passivas à dominação e imprimindo suas forças.
Segundo Lucília de Almeida Neves, o PTB foi caracterizado como um projeto
para o Brasil tendo como base uma “concepção distributivista de bens e benefícios” e
considera que o partido “pode ser identificado como expressão melhor acabada do
trabalhismo brasileiro”. A autora define que o Partido Trabalhista teve suas
heterogeneidades e o classifica em três influências ideológicas. O primeiro seria os
getulistas pragmáticos, com início em 1945, ano de sua criação até 1954, vinculado a
“estrutura do Estado através do Ministério do Trabalho e por sindicalistas ligados ao
corporativismo sindical oficial”. O segundo momento seria identificado como o dos
91
FERREIRA, Jorge. “O nome e a coisa: o populismo na política brasileira”. In: FERREIRA, Jorge. O
populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p.97.
92
WEFFORT, Francisco Corrêa. O Populismo na política brasileira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980.
(Estudos brasileiros, v.25), p. 63.
57
93
NEVES, Lucília de Almeida. Trabalhismo, nacionalismo e desenvolvimentismo: Um projeto para o
Brasil(1945-1964). In: FERREIRA, Jorge. O populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001, p. 168-203.
58
trabalho, “o povo tinha o direito de receber, e portanto o dever de retribuir”. 94 Para ela,
a invenção do trabalhismo como ideologia da outorga permitiu justamente refletir sobre
a dimensão simbólica que alimentava e dava feição específica a estas relações política, a
este pacto social. Conclui afirmando que houve um competente esforço realizado no
processo de invenção do trabalhismo aliando uma “análise cientificista moderna e
sofisticada com um articulado discurso de apelo popular” 95 e que o segredo estava na
releitura que o governo fez do passado, “das lutas dos trabalhadores sem ao menos
mencioná-lo, estruturando-se a partir de uma ética do trabalho e da valorização da figura
do trabalhador nacional”, ou seja se apropriou do discurso do trabalhador como se
estivesse emergido da parte do governo. 96
O PSD foi um partido criado também em 1945. Segundo Lucila Delgado 97 foi
fundado em uma “perspectiva getulista de continuísmo na transformação” e aliado de
“primeira hora do PTB”. A base do partido estava ligada a máquina administrativa do
primeiro governo de Vargas e nas interventorias na esfera estadual. Uma característica
que fez parte da história do partido foi a disponibilidade de dialogar com as variadas
correntes de opiniões, uma flexibilização que permitiu muitas vezes um êxito eleitoral.
Delgado ainda analisa que a aliança existente entre PSD e PTB sofreu um descompasso
ao final da década 1950 e início de 1960 quando o PTB aproximou-se do PCB
defendendo uma reforma agrária no Brasil e essa proposta ia contrariamente aos
interesses de alguns membros do PSD que eram proprietários rurais e passaram a se
aliar a UDN buscando impedir a implementação da reforma agrária. 98
Também em 1945, foi criado a UDN, frontalmente oposicionista a Getúlio
Vargas, ao trabalhismo e era também anticomunista. Não reconhecia a participação das
classes populares como legítimas. O partido tinha como premissa o pensamento liberal
sendo contra a qualquer ampliação da cidadania política. O perfil dos membros do
partido era elitista. 99
94
GOMES, Angela de Castro. A invenção do trabalhismo. Rio de janeiro: Editora FGV, 2005. p.232.
95
Ibidem, p.233.
96
Ibidem.
97
DELGADO, Lucilia de Almeida Delgado. Partidos políticos e frentes parlamentares: projetos, desafios
e conflitos na democracia. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O tempo da
experiência democrática: Da democratização de 1945 ao golpe civil –militar de 1964. 5ª ed. –Rio de
janeiro: civilização Brasileira, 2013,v3.
98
Ibidem.
99
FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. p.108-
109.
59
1.3 - Legislatura 1955: “Tudo pela lei, fora da lei nada” 101
100
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011,p.87.
101
Frase dita por João Nou quando argumentou que a Frente Popular democrática era de oposição
vigilante e de acordo com a lei citando Rui (provavelmente Rui Barbosa) disse a frase “Tudo pela lei, fora
da lei nada”.
102
SOARES, Ede Ricardo de Assis. Os comunistas e a formação da esquerda (Alagoinhas, 1945-
1956).Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, 2013, p.78.
60
103
O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 124, 27.04.1953, p.1.
104
INICIANDO A Luta. O Nordeste, Alagoinhas Ano I, nº 1, 29.07.1948, p.1.
105
SOARES, Ede Ricardo de Assis. Os comunistas e a formação da esquerda (Alagoinhas, 1945-
1956).Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, p.78.
61
Importante pontuar que tudo leva a crer em função do exposto acima, que só
veio a aparecer um novo jornal com mesmo alcance que O Nordeste, em 21 de outubro
de 1957, com o nome de Alagoinhas Jornal e foi criado pelos irmãos Walter Altamiro
Robatto Campos e Waldo José Robatto Campos, que eram filhos de Altamirano
Campos, ex-prefeito da cidade de Alagoinhas e vereador por dois mandatos. 106
A configuração política nas eleições de 1954, no estado da Bahia, como aponta
Paulo Fábio Dantas Neto 107 era que a conjuntura política nacional desde 1945,
influenciou o quadro eleitoral baiano com o segundo momento do governo de Getúlio
Vargas desembocando em seu suicídio. O autor ainda considera que nesse pleito foram
“vencidos pela prioridade da ideia desenvolvimentista e pela urgência da questão
social.” Avalia que, na Bahia o acordo entre Juracy Magalhães e Antônio Balbino
proporcionado por Getúlio Vargas, salvou a UDN dos possíveis danos político eleitoral
em decorrência da perseguição antigetulista e que o “alinhamento de forças na eleição
baiana de 1954 poderia parecer paradoxal a um observador do quadro nacional, era, em
termos locais, um retrato preciso e coerente do que a trajetória de diversos atores
houvera construído, ao logo de mais de duas décadas” 108. O autor ainda considera que o
elemento nacional na conjuntura colocou a política baiana nos caminhos modernizantes
da época e finaliza afirmando que as “lógicas do nacional e do local podem ser
complementares e não antagônicas”. 109
Essa conjuntura provavelmente influenciou os municípios baianos, e
consequentemente a experiência de Alagoinhas, em relação aos quadros dos
representantes do povo que teve uma sensível participação de operários atuando em
busca de seus próprios diretos enquanto classe trabalhadora.
As eleições municipais de outubro 1954 em Alagoinhas se caracterizaram por
um período de acentuada tensão. O momento eleitoral já tem uma característica de ser
conflituoso e com a atmosfera política que vivia o Brasil no referido período
culminando com a morte de Vargas em 24 de agosto de 1954, contribuiu para que esse
pleito tivesse os embates intensificados. Como mostra a manchete do Jornal O Nordeste
de 29 de outubro 1954, com o título grafado em letras garrafais: “Sob um clima de
106
SANTOS, Roberto Magno. “Alagoinhas Jornal”: O comportamento da imprensa escrita no município
de Alagoinhas durante o quadriênio 1960-1964”. Dissertação (especialização em História) - Universidade
do Estado da Bahia, campus II, 2003.
107
DANTAS NETO, Paulo Fábio. Tradição, autocracia e carisma: a política de Antonio Carlos
Magalhães na modernização da Bahia (1954-1974). Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro:
IUPERJ, 2006, p.107.
108
Ibidem, p.104 -105.
109
Ibidem.
62
110
SOB um clima de corrupção feriu-se o pleito. O Nordeste, Alagoinhas, Ano I, nº 165, 29.10.1954, p.1.
111
SOB um clima de corrupção feriu-se o pleito. O Nordeste, Alagoinhas, Ano I, nº 165, 29.10.1954, p.1.
112
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013. Cabe destacar que Carvalho Junior foi Prefeito
da cidade de Alagoinhas em mandato anterior, (não identificamos o período). Ver: BARROS, Salomão.
Vultos e Feitos do Município de Alagoinhas. Salvador: Artes Gráficas, 1979, p.178.
63
113
Sob um clima de corrupção feriu-se o pleito. O Nordeste, Alagoinhas, Ano I, nº 165, 29.10.1954. p.1.
114
SOARES, Ede Ricardo de Assis. Os comunistas e a formação da esquerda (Alagoinhas, 1945-
1956).Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, 2013, p.126.
115
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .15/04/1955.
64
Essa composição da bancada única que integrou a FPD reuniu 6 vereadores que
se constituíram como oposição ao prefeito udenista Carvalho Junior e entre seus
integrantes a maioria vinha das camadas populares. Eram eles: os ferroviários Hostílio
Dias(UDN) e Amando Camões(PSD), que além de funcionário da ferrovia foi
presidente da Associação Ferroviária de Alagoinhas; João Ramos(PSD), morador da rua
2 de julho, reduto dos ferroviários e era considerado o vereador do 2 de julho,
Romualdo Campos(PSD), era presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de
Curtimento de Couros e Peles de Alagoinhas e iria exercer o segundo mandato como
vereador, Hildebrando Dias(PSP), irmão de Hostílio Dias, era coletor da Secretária da
Fazenda do Estado da Bahia e retornava de uma cassação por falta de decoro em 1952,
como vereador mais votado neste pleito e João Nou(PSD), líder da FPD, era advogado e
foi primeiro tenente da polícia militar, porém pediu exoneração em 1950. 116
Sobre a cassação do mandato de Hildebrando Dias em 1952, nesta legislatura
se elegeu pelo PTB e também foi ex membro do Partido Comunista do Brasil, porém se
desligou em 1946 em desacordo ao apoio que o “Comitê Estadual ofereceu à
candidatura de Otávio Mangabeira”. O que motivou a cassação do mandato, segundo
Ede Soares a partir das fontes estudadas que teria sido uma armação realizada pelo
prefeito vigente, Pedro Dórea(PSD), por influência política do governador Régis
Pacheco para se livrar da oposição do vereador ao prefeito e “orquestrada pela bancada
governista, principalmente pelos vereadores Horácio Leal Dantas e Coronel Santinho,
ambos da UDN”. O choque de interesses entre esfera estadual e municipal seria um dos
motivos dessa oposição exercida pelo vereador Hildebrando e o outro vereador também
petebista Eurico Costa ao governo pessedista de Pedro Dórea. A justificativa, “falta de
decoro”, que o levou a perda de mandato, não correspondia com as provas apresentadas
pelo Juiz da Comarca de Alagoinhas, a sessão de acusação foi realizada secretamente,
sem a presença do acusado e as atas anexadas evidenciavam que não foi falta de decoro
e sim as “acusações e denúncias que o vereador direcionou ao prefeito durante o curto
116
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011. Importante salientar que a
composição da “Frente” esteve presente em outros municípios da Bahia, como por exemplo Cruz das
Almas. conferir dissertação: OLIVEIRA, Heber José Fernandes de. O Movimento de Luta Nacionalista
em Cruz das Almas- Recôncavo Baiano(1957-1964). Dissertação (Mestrado em História Regional e
Local) - Universidade do Estado da Bahia, 2013.
65
espaço de tempo em que ocupou uma cadeira na Câmara Municipal”. 117 Esse é um
exemplo obscuro da política com seus meandros e intervenções que foge do percurso de
como deveria funcionar, porém é mais comum e corriqueiro essas armações e durante
esse estudo veremos muitos episódios parecidos em que governantes abusam do poder
político para impor seus objetivos.
A FPD tinha como perspectiva atuar em favor da classe trabalhadora mais
especificamente os ferroviários, operários de curtumes e servidores municipais fazendo
uma interlocução direta entre eles e o poder público. De acordo com as memórias do Sr.
Hostílio Dias e as atas do período de vigência da atuação do bloco, os membros em seus
discursos nas sessões, frequentemente estavam reforçando em suas falas esse objetivo
do bloco. A FPD se mostrou aguerrida, crítica e incansável na fiscalização e na intensa
vigilância da administração do prefeito udenista Carvalho Junior. Assim como se
intitulava uma frente popular, passou a ter um contato direto com a população
alagoinhense e o Sr. Hostílio Dias relatou que eles “saíam semanalmente nas ruas e
bairros” para conversar com a população e tomar conhecimento das demandas sociais e,
“quinzenalmente para fazer comícios de esclarecimento ao povo, o desenrolar do
administrativo público, da câmara e prefeitura”. 118 Vemos que a Frente Popular buscou
construir um discurso para a legenda como defensora dos interesses da população,
investindo em sua visibilidade perante a sociedade. Não que eles não tivessem
propósitos ou não fizeram ações de interesses sociais, mas existia uma política de
autopromoção intensa sendo usada pelo bloco.
Nessa mesma ata do dia 15 de abril de 1955 em que ficou registrada a criação
da Frente Popular, foram definidas as organizações das comissões. O vereador João
Nou solicitou que as “comissões deveriam ser escolhidas pelos partidos, com a
indicação dos mais capazes para cada comissão”. 119 Feita a distribuição, o vereador
Hostílio Dias, integrou a Comissão de Legislação e Redação, juntamente com João Nou
e Horácio Leal Dantas. Essa comissão era responsável pelos projetos de leis, resolução e
decretos legislativos e seus membros analisavam se eram admissíveis tais projetos.
Levando em consideração os mais aptos para cada comissão, a escolha de Sr. Hostílio
117
SOARES, Ede. Os comunistas e a formação da esquerda (Alagoinhas, 1945-1956). Dissertação
(Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
2013, p.117 -118.
118
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
119
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.15/04/1955, p. 6 -7.
66
para fazer parte talvez se justificasse em função de seus estudos das leis, dedicação que
se iniciou no período que ingressou na Viação Férrea, quando passou a se inteirar por
esses assuntos, como por exemplo, do Estatuto dos Funcionários Público Civis da
União. Ainda fez parte de mais uma comissão, a de Saúde e Assistência juntamente com
Altamirano Campos e Armando Leal.
Importa trazer uma reportagem que saiu no Jornal O Nordeste que abordou a
composição dos novos quadros de funcionários para trabalhar na nova administração
municipal. O Prefeito eleito nomeou seu filho Darcy Carvalho, para ocupar o cargo de
secretário municipal, na reportagem o jornal divulgou a nomeação como positiva e bem
sucedida até mesmo pela oposição demonstrando que o nome transitava bem com os
adversários de seu pai. Veremos abaixo a manchete.
120
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .22/04/1955, p.19.
68
elétrica que ainda não havia sido restabelecida, fazendo críticas ao prefeito sobre a falta
de “fornecimento de luz em diversas ruas e que teria sido uma das promessas do
prefeito a regularização dos serviços de luz pública e particular”. A ata registra a fala
do vereador Horácio Dantas, que julgava prematura a crítica a atual administração com
poucos dias de exercício. 121 Apesar dos trabalhos legislativos estarem ainda no começo,
é importante pontuar que a energia é algo essencial para a rotina de uma população e
por isso mesmo razoável a cobrança para solucionar essa demanda.
Ainda nessa mesma ata foi nomeada uma comissão especial para as
festividades do dia 1º de maio, composto por Hostílio Dias, Romualdo Campos e
Altamirano Campos que ficou no lugar de João Nou, justificando sua saída por estar
com excesso de trabalho devido a profissão de advogado. Prosseguindo sobre a
comemoração, o vereador Romualdo Campos alegou que nenhuma “atenção foi dada
aos trabalhadores para comemoração do dia 1º de maio”, assim ia “providenciar a
celebração de uma missa, e outras festividades dentro das possibilidades dos
trabalhadores”. Romualdo Campos alegou que obteve informações do secretário do
Prefeito “de que a prefeitura não tinha condições de fazer despesas”. 122
O vereador João Nou, pediu um aparte e lembrou que o prefeito que justificava
que a prefeitura não tinha verbas para apoiar a comemoração do 1º de maio foi o mesmo
que através dos seus vereadores udenistas que pertenciam ao partido do governo
“Milton Leite e Horácio Dantas, pleiteavam o aumento de subsídio e representação do
prefeito”. 123Essa solicitação de aumento para o executivo municipal foi barrada pela
bancada oposicionista FPD que tinha seis membros e nesse caso relatado só estavam os
vereadores Milton Leite e Horácio Dantas, que eram da bancada governista e que
votaram a favor, os outros vereadores não estavam na sessão que foi solicitado tal
aumento.
A Frente Popular nessa experiência se constituiu como maioria e mostrava que
poderia interferir diretamente nas decisões do legislativo caso estivesse com todos os
seus membros e na falta de um vereador da situação provavelmente já configuraria
como a bancada com maior poder. Moisés Morais 124 afirma que desde a reabertura do
Legislativo Municipal em 1948, nenhuma bancada havia apresentado esse poder de
121
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.25/04/1955, p.29.
122
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.25/04/1955, p.30.
123
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.25/04/1955, p.36.
124
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011, p.95.
69
decisão. Nesse episódio, ainda podemos avaliar que provavelmente não existia uma
coesão da bancada da situação, visto que nessa votação do aumento do salário do
prefeito só estavam presentes dois dos seis representantes, provavelmente porque essa
votação de aumento não os beneficiaria ou eles não concordavam.
Sobre a comemoração do dia do trabalho, a falta de apoio da prefeitura com
investimento para a execução da festa fez com que o vereador Romualdo Campos
sugerisse que a verba fosse arrecadada no próprio sindicato entre seus associados. João
Nou ainda orientou a usar o serviço de alto-falantes da Câmara de Vereadores de
Alagoinhas e a festa aconteceu como foi noticiado pelo jornal O Nordeste sob o título:
“Comemorado o Primeiro de Maio”
Graças à liderança dos vereadores Romualdo Campos e Hostílio Dias, aquele
presidente do Sindicato dos Empregados em Curtume, e este dirigente da
classe ferroviária, o Primeiro de Maio não passou despercebido em
Alagoinhas, apesar do Prefeito Carvalho Júnior sobre o pretexto da falta de
dinheiro nos cofres municipais ter se esquivado de colaborar com a classe
operária nas comemorações do dia consagrado ao Trabalho. Um bem
elaborado programa constou de alvorada com salva de vinte e um tiros, missa
gratulatória, tarde esportiva e sessão solene no Sindicato dos Empregados em
Curtume, foi executado na mais perfeita harmonia entre os trabalhadores
alagoinhense, tendo a frente os seus líderes. 125
125
COMEMORADO o Primeiro de Maio. O Nordeste, Alagoinhas, Ano I, nº 178, 14.05.1955, p.6.
126
COMEMORADO o Primeiro de Maio. O Nordeste, Alagoinhas, Ano I, nº 178, 14.05.1955, p.6.
70
vão garantir melhorias nas condições de trabalho e leis que precisam ser executadas. A
festa reforça uma consciência de classe, sendo um momento oportuno para
reivindicações que possivelmente foram feitas a aquela gestão. Outra coisa a analisar é
como o jornal fez questão de frisar que tudo acontecia em “perfeita harmonia” buscando
diferenciar os participantes de baderneiros e também demarcando que as comemorações
aconteceram sem patrões, empresários ou políticos que não eram afinados com os
interesses dos trabalhadores. Na realidade os ganhos políticos de uma festa como essa
seriam dos vereadores da oposição.
Importante relembrar que o jornal O Nordeste, tinha dois redatores, J. Godinho
Carneiro e João Nou que era o líder da FPD. O Nordeste acabava sendo uma extensão
da bancada da Frente Popular, visto que expunha os conflitos e denúncias sobre o atual
governo e ainda servia de autopromoção para os integrantes da bancada FPD.
Aqui é necessário fazer uma reflexão sobre o discurso e pronunciamento que
são instrumentos da política. Como já mencionado, o Jornal O Nordeste era um
prolongamento da Frente Popular que alcançava a população alagoinhense e as notícias
e colunas nele publicadas tratando da situação política da cidade e da administração do
prefeito produziam uma rede de poder daquele grupo opositor que queria se estabelecer
como uma bancada forte e se destacar como necessários para a comunidade. Durval
Muniz de Albuquerque Júnior adverte que o “discurso e pronunciamento” tem que ser
analisado não apenas as informações que foram produzidas, mas como esse discurso
“foi produzido e por quem”, visto que tem uma base ideológica. O autor ainda enfatiza
que “todo discurso tem uma relação de coexistência com outros discursos com os quais
partilha enunciados, conceitos, objetivos e estratégias”. 127
Sendo assim, o jornal possuía esse poder e durante esse período legislativo de
1955-1956, curto para os supostos envolvidos no crime em 1956, foi usado como um
arsenal pesado na oposição, evidenciando que a bancada da Frente Popular conseguiu se
articular muito bem. Começava na plenária, nos trabalhos da sessão, com os discursos
expondo as demandas da população e as denúncias e posteriormente essas solicitações
eram expostas no jornal e sobre vários aspectos, a maioria das notícias sempre tinha
uma conotação denunciatória reforçada a importância da Frente para a cidade. Assim
eles buscavam se projetar como porta voz da população e dos trabalhadores.
127
ALBURQUERQUE JR, Durval Muniz de. “A dimensão retórica da historiografia”. In: PISNKY, Carla
Bassanezi e LUCA, Tania Regina de (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2011,
p.235.
71
128
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 09/05/1955.
72
Esse comício promovido pela Frente Popular para além das denúncias expostas
para a população nos permite avaliar a atuação do bloco oposicionista que promoveu
um evento com a clara intenção política de minar a figura da administração vigente,
trazendo no noticiário um enfoque direcionado e certeiro de ataque e ainda repercutiu
que a população esteja de acordo, quando fez questão de noticiar que o vereador foi bem
aplaudido. A notícia ainda coloca em pauta um episódio que ocorreu sobre uma
“raspagem de cabeças”.
O jornal O Nordeste, na coluna Aguilhoadas, publicada em 18 de agosto de
1955, informou que “dois pretensos latifundiários, usando chapa branca do Serviço
Nacional de Malária, assaltaram dois camponeses em seu labor diário no distrito de Boa
União e após seviciarem-nos, rasparam-lhes a cabeça.” Segundo o noticiário o Vereador
Hostílio Dias “tomando conhecimento do fato, o bravo e destemido líder ferroviário,
levou-os às autoridades e a praça pública onde, em ato público, denunciou os
espancadores ao povo”. O texto do jornal seguiu dizendo que “Não parou aí, porém, o
bravo líder popular. A sua luta prossegue e já agora com pleno apoio de nós da Frente
Popular Democrática e do povo esclarecido de Alagoinhas denunciamos a barbárie às
autoridades.” 130
O Jornal ainda acusou a imprensa da capital afirmando que a não divulgação
desse episódio era “porque um dos seviciadores é irmão de festejado homem de jornal,
que além de jornalista brilhante e não menos combativo deputado que muitas acicatadas
têm dado no Governo”. A coluna foi mais incisiva e disparou mais acusações dizendo
que “todos esperavam que o Governo mandasse apurar o caso com imparcialidade. Mas
o Governo através da sua Secretaria de Segurança Pública, não está interessado senão
em prestar serviços ao deputado-jornalista. ” E finalizou dizendo que “o professor
Lafayete [Coutinho] deseja ser sucessor do senhor Antonio Balbino e é bom não fazer
129
PONTOS nos ii. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 183, 15.08.1955, p.6.
130
NOU, João. Aguilhoadas. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 183, 15.08.1955, p.2-3
73
rios de inimigos, mas sim muitos amigos que lhe ajudem a conduzir sua cruz, até o
Aclamação, onde poderá receber bem.” 131
O episódio “raspagem de cabeças” ocorreu no distrito de Boa União, onde dois
camponeses foram torturados, tendo suas cabeças raspadas e a denúncia ocorreu no
comício que foi noticiado no jornal o Nordeste, afirmando que estava havendo
“apropriação indébitas de terrenos no Tabuleiro”. O vereador Hostílio expôs o corrido
as autoridades e para a sociedade alagoinhense. Na coluna ainda denunciou que não
estava havendo um empenho na apuração dos fatos, inclusive houve uma acusação
sobre um “deputado-jornalista” que estaria envolvido nesse assunto. João Nou, em sua
coluna Aguilhoada ainda prosseguiu fazendo denúncias sobre as interferências das
autoridades em seu texto incisivo:
Por isto aqui nos apareceu um delegado especial. E sabem o que o delegado
especial está cuidando de apurar? Não é quem raspou as cabeças dos
carvoeiros, mas sim, se os vereadores Hostílio Dias e Hildebrando Dias estão
conspirando para derrubar o regime do qual ele, o delegado, é supremo
guarda. Estamos acostumados a essas farsas e nos recusamos a participar
delas. Com a nossa assistência o nosso amigo Dr. Heleno Araujo não se
redimirá do pecado de haver dissolvido um comício do Sr. Antonio Balbino
no Largo do Tanque, em Salvador. Acostumado às farsas do tempo de
Oliveira Brito, não nos deixaremos envolver pelas do nosso amigo professor
Lafayete Coutinho, que, bom urologista que é escolheu a dedo o delegado
especial para mandar a Alagoinhas, onde udenistas espertos precisam ser
chamado ao redil. Não nos iludimos com o resultado do inquérito e este não
nos surpreenderá se demonstrar que eu e o Vereador Hostílio Dias que
raspamos as cabeças dos carvoeiros, Alagoinhas nos julgará... 132
131
NOU, João. Aguilhoadas. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 183, 15.08.1955, p.2-3.
132
NOU, João. Aguilhoadas. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 183, 15.08.1955, p.2-3.
74
Falo ligeiramente de um assunto que não queria falar, mas é impossível ficar
calado. É fato concedido por todos nesta cidade que miseráveis camponeses
neste município tiveram as cabeças raspadas e os bigodes arrancados a
alicate. Infelizmente entre os autores das violências está um homem de quem
eu nunca esperava isso. E o mais estranho é que depois de tudo aparece aqui
um delegado especial que veio para apurar o caso e acha que tudo não passa
de comunismo...a eterna balela deste país, para esconder misérias e
violências, lá vem o rifão: é comunismo...Como estará o deputado que foi tão
votado entre nós e é o líder desta gente... As coisas vão mal, senhor deputado,
dando a chicote na cara de quem lhe deu voto? 133
133
CARNEIRO, J Godinho. Coluna do meio. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 183, 15.08.1955, p.3.
134
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 02/12/1955, p.191.
135
PONTOS nos ii. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 183, 29/07/1955, p.6.
75
de Alagoinhas 136 que seriam os mandantes do episódio. As linhas das notícias eram
provocativas e desafiadoras, não tivemos acesso ao inquérito e não sabemos se foram
identificados os criminosos, porém a notícia sobre esse caso relatado no O Nordeste deu
indícios de que houve um desvio do foco do crime e leva a crer que o inquérito foi
encerrado sem que os autores do crime respondessem a um processo.
A FPD também se posicionou na eleição presidencial de 1955, em apoio a
Juscelino Kubitschek e João Goulart, respectivamente para cargos de presidente e vice-
presidente. Segundo o noticiário das eleições publicadas no O Nordeste, a Frente teria
sido responsável pela vitória de Juscelino e Goulart em terras alagoinhenses, onde João
Goulart, candidato a vice presidência, teve 3.335 votos, uma quantidade superior ao
candidato à presidência Juscelino Kubitschek, com 2.661votos, no município de
Alagoinhas fato amplamente noticiado no jornal O Nordeste. 137 Logicamente que o
jornal O Nordeste diante de seu jornalismo parcial, iria devotar todo o mérito da vitória
eleitoral para o bloco oposicionista.
136
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011.
137
RESULTADO do pleito de 3 de outubro, neste Município. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 190,
19.10.1955, p.1.
76
138
JUSCELINO visitou Alagoinhas. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 187, 12.09.1955, p.1.
139
JUSCELINO visitou Alagoinhas. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 187, 12.09.1955, p.1.
77
140
NOU, JOÃO. Aguilhoadas. O Nordeste, Alagoinhas, Ano, nº 190, 19.10.1955, p.2.
141
NOU, JOÃO. Aguilhoadas. O Nordeste, Alagoinhas, Ano, nº 190, 19.10.1955, p.2.
78
142
CARNEIRO. J Godinho. O Nordeste, Alagoinhas, Ano, nº 190, 19.10.1955, p.3.
143
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.14/10/1955, p.78.
79
tarde. O vereador chegando ao final da sua explanação disse “que se congratulava com
os comerciários desta cidade, pela sindicalização dos componentes da mesma
classe”. 144Cabe registrar que os sindicatos eram de extrema importância para a classe
trabalhadora por concentrar força e união por um objetivo comum.
Durante as sessões do ano de 1955, havia muitas solicitações do Sr. Hostílio e
outros membros da Frente Popular para tornar os times Agulha Esporte Clube, Grêmio
Esportivo, Botafogo Esporte Clube de Alagoinhas e outros como entidades de utilidade
pública, eram times 145 associados a sindicatos e operariado. A criação de times
operários foi uma prática realizada por várias empresas que viam no futebol uma forma
de controle dos seus operários e projeção também das empresas. Segundo José Sérgio
Leite Lopes 146, em 1904 já era normal terem times que representavam as empresas,
porém o elenco era formado por dirigentes e chefes que em sua maioria eram compostos
por ingleses que exerciam cargos de chefias nas empresas brasileiras. Neste mesmo ano
foi criado o “The Bangu Athletic Club, para a prática do futebol pelos chefes e
empregados ingleses da fábrica de tecidos Companhia Progresso Industrial no Rio de
Janeiro em Bangu. Porém, pela localização e distância do clube, os ingleses passaram a
incorporar também operários de outras nacionalidades inclusive brasileiros, e um
número maior de operários brasileiros passou a integrar o time.
Nesse panorama, segundo Lopes, “iniciava-se com o Bangu a figura do
operário-jogador” que se “destacava menos por seu trabalho útil dentro da fábrica e
mais pela sua atuação como jogador de futebol no time da fábrica” que atuava. Nessa
perspectiva, as empresas se apropriavam desse esporte como forma de mediação entre
empregadores e empregados e esta era uma maneira de controlar os funcionários e
também colocava a empresa em destaque na imprensa, favorecendo um prestígio devido
a exposição gerada pelo time, sobretudo aqueles que se destacavam nas atuações.
A figura do operário-jogador foi se tornando mais comum nos clubes
esportivos associados as empresas. A partir dessas adesões foi se construído uma cultura
operária tendo o futebol como tradição. Necessário salientar, como analisa Miguel
144
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .31/10/1955, p.106.
145
Para saber mais sobre a cultura do futebol de Alagoinhas, consultar: CORREIA. Kleber Soares. Cultura
do Futebol em Alagoinhas e a Gênese Carcará (1919-1975). Trabalho de Conclusão de Curso(Graduação
em Licenciatura em História) - Universidade do Estado da Bahia, 2010.
146
LOPES, José Sérgio Leite. “Classe, Etnicidade E Cor Na formação Do Futebol Brasileiro”. In:
BATALHA, Claudio H. M.; SILVA, Fernando Teixeira da; FORTES, Alexandre. (orgs.) Culturas de
Classe: identidade e diversidade na formação do operariado. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004,
p.130.
81
Enrique Stédile 147, que apesar da adoção da classe operária pelos clubes esportivos tanto
“os anarquistas, que constituíam a principal força do nascente movimento sindical
brasileiro nas duas primeiras décadas do século XX”, quanto “os comunistas, que se
organizam no país principalmente a partir de 1922, com a fundação do Partido
Comunista - Seção Brasileira (PCB)”, inicialmente eles foram contra, a princípio, dessa
formação e associação dos operários as empresas, porém com a popularização do
futebol e identificação da classe operária ao esporte eles sentiram a necessidade de
reconhecer essa atividade esportiva e passaram a incentivar e a enxergar um espaço para
além apenas do lazer e sim uma aglomeração de operários que iam construindo e
fortalecendo uma identidade, uma vez que ali eles acima de tudo poderiam disseminar
suas ideias.
Provavelmente isso explique as solicitações sempre feitas pela FPD para um
incentivo aos clubes esportivos na cidade de Alagoinhas, que eram ligados aos
sindicatos e também é preciso pensar que eles queriam capitalizar, ganhar capital
político com essas ações. Esse contato direto com a classe trabalhadora e solicitações de
suas demandas garantia um elo e troca de apoio em uma via de mão dupla, esses
espaços sempre rendiam conversas para além do futebol e um contato direto dos
sindicalistas com o operariado propiciando um sentido de caminhar junto. Fortalecer
alianças se fazia necessário, principalmente no espaço da política.
Outro assunto que tinha pauta recorrente nas sessões da Câmara Municipal de
Alagoinhas foi a violência urbana como consta na ata do dia 7 de novembro de 1955,
em que o “vereador Hostílio fez comentários em torno da ação da polícia local, dizendo
que os furtos e crimes outros” continuavam a se “verificar sem nenhuma providência”.
Foi “aparteado com manifestação favoráveis as suas palavras, pelos vereadores:
Hildebrando Dias, Romualdo Campos e Jose Leite”. Ainda o vereador Hostílio “referiu-
se ao funcionalismo deste município, que deixaram de receber até o momento o abono
correspondente ao mês de outubro”. Ainda fez um “apelo ao diretor da Leste Brasileiro,
pra que fossem tomadas as providências sobre a situação do barracão do meio
pertencente a mesma empresa, que se achava servindo de esconderijo a desocupados e
cafajestes”. 148
147
STÉDILE, Miguel Enrique. Clubes de futebol operário como espaço de autonomia e dominação.
(Artigo, publicado em revista Espaço Plural). 2013.
148
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .07/11/1955, p.122.
82
149
PROJETO de Lei N.11.O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 198, 02.05.1956, p.4.
83
era pauta na sessão da Câmara. 150 Apesar dessa comissão os trabalhos parecem que não
andavam a julgar pela recorrência das queixas e reclamações.
Hostílio Dias se posicionou sobre os acontecimentos políticos do Brasil e na
ata de 11 de novembro 1955 ele “se congratulava com o povo brasileiro pela atitude
digna e patriótica do general Lott, ministro de guerra, que soube desarticular a
articulação dos gatunos e chantagistas que proclamavam o golpe no Brasil”. Na mesma
sessão ele declarou que “queria denunciar o inspetor das oficinas de São Francisco, que
com as suas atitudes de perseguição a humildes operários das oficinas e que lhes são
subalternos, demonstra ser verdadeiro criminoso e vem envergonhar a administração da
Leste” e o Vereador Romualdo Campos, se manifestou favorável às acusações do
colega. Sr. Hostílio Dias, prosseguiu afirmando que o “inspetor de oficinas de São
Francisco é um carrasco e ele orador vai denunciá-lo ao diretor da Leste, assim como
outros chefes com fatos, os que trazem intranquilidade de humildes operários.” 151
O líder ferroviário e vereador, Hostílio teve sua história política construída no
centro das lutas ferroviárias e a sua luta trabalhista enquanto funcionário da VFFLB
passou a ser não uma questão sua, particular, como de todos seus colegas, visto que as
conquistas desses direitos trabalhistas só podiam ser construídos através da consciência
de classe. E com a vitória do Sr. Hostílio para o Legislativo, esse grupo que o elegeu
passou a ter um representante direto das suas demandas. Como mostra a sessão da
Câmara acima, o líder ferroviário era solicitado para dar visibilidade a diferentes
necessidades que os ferroviários demandavam. Podemos pensar que essas necessidades
expostas na Câmara, poderiam ser também em decorrência da sua própria investigação
para saber como andavam as demandas da população.
Ainda na mesma ata de 11 de novembro, houve uma citação de uma notícia
publicada no jornal O Nordeste referente a data de 16 de março de 1955, relatando que
o vereador Hildebrando Dias, irmão de Hostílio, com mais de 3 vereadores
suspenderam a execução do ato do prefeito sobre a construção de um palanque
funcional na Praça Graciliano de Freitas. Possivelmente o serviço na praça foi
questionado por estar em desacordo com as leis. O vereador Hildebrando ainda iniciou
um projeto de lei que pretendia proibir a alienação dos bens patrimoniais do município.
Frisou que não era “contrário ao progresso do município, mas era contrário
peremptoriamente ao modo pelo qual o Snr. Prefeito o fazia com o manifesto desacato
150
PROJETO de Lei N.11.O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 198, 02.05.1956, p.4.
151
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.11/11/1955, p.120.
84
ao poder Legislativo” 152. Ainda fez a referência ao general Lott e leu a carta testamento
de Getúlio Vargas. A oposição a administração do prefeito a cada dia acirrava mais e as
publicações do Jornal O Nordeste davam o tom de denúncia e publicização das questões
em pauta. As manifestações dos vereadores da FPD nas sessões da Câmara tinham esse
viés de apontar um erro ou improbidade do governo, até onde supostamente seria algo
bom para a população acabava havendo críticas. Pelo que observamos o bloco
oposicionista não queria deixar o prefeito captar nenhum ganho político.
A vigilância à administração do prefeito era feita pelos membros da Frente
Popular que atuavam em conjunto e unidos para embargar os desmandos e também
buscava obstaculizar tudo que não os beneficiava diretamente. As críticas ao prefeito
seguiam em alta e é importante destacar que não temos a certeza que essas denúncias
eram totalmente verdadeiras, em virtude de que existe o jogo político e manipulação dos
fatos. Precisaríamos ter acesso a diferentes fontes que permitissem outra perspectiva do
governo. Embora tenhamos dificuldades para uma análise mais profunda, ainda assim,
podemos produzir reflexões importantes fazendo um esboço do cenário político do
período estudado, e sobre esses silêncios e vazios buscamos alinhavar com o fio da
história que proporciona um arrumar ainda que parcial dos fatos.
Na sessão do dia 14 de novembro de 1955, Hildebrando Dias chegou a afirmar
que o prefeito Carvalho Junior tinha “incapacidade de governar”. 153 Certamente que as
demandas de um município nunca serão sanadas completamente por uma administração.
São várias possibilidades e situações, como por exemplo, o governo municipal podendo
realizar e não fazendo ou por descaso ou corrupção, ou também, não estavam
conseguindo concretizar pela existência de outros empecilhos que travavam a sua
efetivação. Enfim, muitas possibilidades. É preciso considerar que a FPD era oposição e
o que eles buscavam era o desgaste do executivo, e tinham o interesse na promoção do
descrédito da administração e no desgaste da imagem pública do prefeito.
Na mesma ata, o vereador Hostílio disse que o “senhor Isidoro Oliveira ex-
funcionário do Estado, demitido em face do governo Estadual, achava-se em estado de
penúria nesta cidade e ia dar um festival lítero-musical”, e pelo seu ‘intermédio
mandava 62 ingressos para o festival e pedia apoio da casa”. Na ata, não se informava o
motivo da demissão do funcionário. Hostílio, ainda ironicamente, “congratulava com a
delegacia de polícia que tinha prendido um ferroviário e deixado os gatunos soltos”.
152
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.11/11/1955, p.120.
153
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .14/11/1955, p.135.
85
Não se tem mais informações sobre essa prisão, porém acessando as outras denúncias
do vereador Hostílio nas atas, o que se depreende é que o ferroviário citado foi preso
injustamente pelo delegado que por sinal o vereador fazia duras críticas sobre a sua
atuação. O tema da segurança pública do município sempre esteve em pauta durante seu
primeiro mandato. O vereador Hostílio voltou novamente a falar da perseguição do
chefe das oficinas de São Francisco aos operários que não gozavam da sua simpatia.
Na ata do dia 18 de novembro de 1955, o vereador Hildebrando Dias, iniciou
dizendo que “lamentável e desgraçadamente a FPD, a despeito do seu interesse de
harmonia e tudo fazer para o engrandecimento do município”, que vinha “assistindo
infrutíferos os seus esforços, com os mexericos e intrigas do presidente da Câmara
[Eurico Batista da Costa]”, que deveria se “colocar no plano da sua honrosa missão que
é de dirigente do Poder Legislativo. As atas permitem constatar que as relações na
Câmara Municipal de Alagoinhas a cada dia se tornavam cheias de hostilidades. Como
também aponta a ata do dia 21 de novembro de 1955, no qual novas críticas foram feitas
ao prefeito, dizendo que ele muito teria se empenhado “pela nomeação do atual
delegado, no entanto a cidade estava transformada em jogos e paraíso de gatunos. ” E
ainda o Vereador José Araujo discorreu sobre o estado das ruas, “dizendo que o prefeito
Carvalho Júnior” nada tinha “feito do que prometeu”. 154 É interessante observar a fala
do vereador Hildebrando Dias, em dizer que a FPD tinha interesse pela “harmonia”,
pois não era isso que observamos nas sessões da Câmara por meio das atas, em que o
nível dos discursos na plenária era, em sua maioria, acompanhado de muita provocação
e ironia.
O Sr. Hostílio Dias na ata do dia 25 de novembro de 1955, pede explicação ao
Prefeito sobre a moção nº 5. “Fez severíssimas críticas aos chefes das oficinas de São
Francisco e o engenheiro Fernando, dizendo que é conhecedor de desmando e hábitos
desonestos que poderão ser provados a qualquer momento. ” Pelo exposto nessa ata, não
havia resolvido o problema do excesso de autoridade. Ainda falou sobre a política do
país e últimas eleições. Recebendo apoio dos vereadores: José Batista, João Nou e
Hildebrando Dias. Chamou o Presidente Café Filho de covarde e fez “veemente críticas
ao Prefeito Carvalho Junior chamando-o de golpista. O Vereador Horácio Dantas
reprovou os comentários de Sr. Hostílio Dias, e que ele deveria apresentar provas das
denúncias que fazia. Observamos aqui uma acusação mais grave desferida por um
154
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .21/11/1955, p.54.
86
Esse tipo de postura de alguns superiores da ferrovia que o Sr. Hostílio, relatou
sobre uma aplicação de suspensão, já era apontada por ele em sua experiência como
funcionário da Viação Férrea no ano de 1947, e ainda em 1955 essa prática era
realizada. Naquela época eles se uniram e resistiram para que essa prática abusiva fosse
tirada do cotidiano de trabalho, mas pelo visto as distorções ainda se faziam recorrentes.
O combate a administração do prefeito se intensificava e o vereador João Nou,
na ata do dia 28 de dezembro de 1955, afirmou que era melhor o prefeito renunciar e o
tom da oposição partia não apenas das denúncias como palavras de ordem para que
houvesse uma desistência de Carvalho Junior do cargo. 156
Um mês antes, João Nou fez um discurso na sessão do dia 29 de novembro de
1955 que assim ficou registrado:
A Frente Popular Democrática que tem dado provas exuberantes das suas
boas intenções e desejo de trabalhar pelo progresso do município de
Alagoinhas e haja visto que o seu representante o vereador Hildebrando Dias
tem demonstrado esses propósitos com a sua capacidade de trabalho e
inteligência, dando a sua cooperação valiosa na elaboração do código
tributário como também o fez com relação a Lei de Meios. João Nou
relembrou a atividade passada da Frente Popular Democrática hoje em
155
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .26/11/1955, p.167.
156
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 28/12/1955.
87
Nesse discurso, João Nou enalteceu a Frente Popular, elogiou dois de seus
membros que segundo ele acabaram contribuindo para que o bloco desenvolvesse. E
assim o registro continua:
157
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.29/11/1955, p.189.
158
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.29/11/1955, p. 189.
88
159
TENTATIVA de morte contra o vereador. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 195, 25.02.1956, p.1.
160
TENTATIVA de morte contra o vereador. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 195, 25.02.1956, p.1.
89
O início dos trabalhos legislativos em 1956, já dava indícios que não seria nada
fácil as relações entre os integrantes da Câmara de Alagoinhas. Na reabertura do
legislativo, na primeira sessão do dia 7 de abril deveria ser definida a composição da
mesa diretora, como previa o regulamento da Casa. Porém, essa condução do regimento
estava por ser quebrada pela ação do até então Presidente, o udenista Eurico Batista da
Costa que “declarou que estavam presentes o Prefeito de Alagoinhas, o Juiz de Direto e
outras autoridades”, e pediu que eles “tomassem assento no lugar reservado”. O
vereador João Nou pediu a palavra e iniciou dizendo que era uma “honra receber as
autoridades, porém discordava da atitude do Presidente da Câmara”, visto que primeiro
precisavam tratar da “eleição dos membros da Mesa diretora dos trabalhos deste período
legislativo”. O presidente da Câmara declarou que sendo “omisso o regimento interno
na questão concernente, mantinha a sua deliberação e novamente convidava as citadas
autoridades” 162, demonstrando assim, ignorar talvez propositalmente o regimento e a
solicitação de João Nou.
O vereador João Nou não aceitou a condução considerando a quebra da rotina e
pediu que o Presidente Eurico Costa, colocasse em votação na plenária e seu pedido não
foi aceito. João Nou declarou que diante de tal postura do Presidente da Câmara
161
TENTATIVA de morte contra o vereador. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 195, 25.02.1956, p.1.
162
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .07/04/1956, p.3.
90
163
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .07/04/1956, p.4.
164
ARMANDO Leal com Juscelino. O Nordeste, Ano VII, nº 187, 12.09.1955, p.1.
165
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .18/03/1956, p.1-5.
166
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .07/04/1956, p.3.
91
mesa diretora que regerá os destinos da Casa desta até 7 de abril de 1957” e em seguida
a sessão foi suspensa por cinco minutos para que os vereadores organizassem suas
chapas. 167
A eleição para a Mesa Diretora da Câmara de Alagoinhas ocorreu e se
constituiu da seguinte forma: Armando Leal, se elegeu presidente, com sete votos; João
Nou, se elegeu vice-presidente, com sete votos; Hildebrando Dias, se elegeu primeiro
secretário, com sete votos; e Romualdo Campos, se reelegeu, como segundo secretário,
com sete votos. Podemos perceber que existiu uma orquestração dos votos, já estavam
definidos o desfecho da votação. A partir dessa configuração da Mesa Diretora a FPD
passaria a dirigir os trabalhos Legislativos Municipais entre 1956 e 1957 e isso só foi
possível pela adesão do ex udenista Armando Leal à Frente Popular e a bancada passou
a se constituir como maioria. Podemos observar que houve uma negociação para a
presidência e um alinhamento com a Frente Popular. É importante frisar que essa
conformação da bancada, com a maioria de representantes das camadas operárias era
inédito em Alagoinhas. Armando Legal também se beneficiou com o arranjo feito com a
Frente Popular e todos saíram ganhando.
O Jornal O Nordeste noticiou esse episódio da Câmara de Vereadores. Noticiou
que aquela vitória da composição da Mesa teria partido de uma proposta de João
Ramos, vereador do 2 de julho, como era chamado, propondo para que a Frente Popular
indicasse “Armando Leal para a Presidência do Legislativo Municipal, assim,
conseguindo desfalcar de mais um elemento a bancada udenista que passou apenas a
três membros: Eurico Costa, Milton Leite e Horácio Dantas. ” Essa articulação ou
acordo foi intitulada pelo Jornal: “fórmula João Ramos”. O Jornal ainda relatou que
Eurico Costa tinha tentado um “golpe, procurando obstruir a sessão para retardar a
eleição”, porém, “o Juiz de Direito da Comarca, no louvável intuito de encontrar uma
fórmula conciliadora sugeriu submeter a questão de ordem a deliberação da plenária”. 168
Claramente descrito pelo Jornal como uma articulação entre a Frente Popular,
João Ramos e Armando Leal para conseguir assumir a Mesa Diretora, fazendo supor
que o vereador Armando Leal já flertava com a FPD e seus membros. Eles foram
habilidosos em colocá-lo na presidência e essa negociação certamente precedeu a
sessão. Talvez os adversários soubessem dessa possibilidade e exatamente por isso
167
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .07/04/1956, p.4.
168
NOVA mesa da comarca. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 197, 11/04/1956, p.1.
92
tenham tentado ganhar tempo trazendo convidados para a sessão, inclusive o prefeito
talvez como uma forma de inibir o antigo aliado.
É importante reavivar que o jornal em questão tinha à frente da redação dois
representantes da Frente Popular, João Nou, que era o líder do bloco e Hildebrando Dias
que era um dos mais atuantes, ou seja, as informações que eram divulgadas a respeito
dos trabalhos legislativos provavelmente eram escritas por eles e quando não
diretamente, no mínimo, orientadas pelos dois representantes do bloco oposicionista e
nesse episódio da votação foram muitas informações que só quem participou
internamente do processo poderia conhecer. É interessante também verificar que a
notícia foi passada em tom de vanglória, mostrando uma satisfação no desfecho,
evidenciando escancaradamente o lado que estava o jornal O Nordeste.
Ainda sobre a sessão conflituosa do dia 7 de abril, depois de passada a votação
os novos membros eleitos discursaram e chegando quase ao término da sessão,
Hildebrando Dias informa que o Deputado Federal Manoel Novaes, estaria na cidade e
que fosse “franqueado aquele parlamento afim de que S.Excia em debate público,
pudesse discutir com o povo assuntos dos interesses do Município.” Passado esse
informe a sessão foi encerrada. Em sua passagem por Alagoinhas, o deputado Manoel
Novaes esteve em alguns lugares estratégicos, conversando com ferroviários,
curtumeiros, trabalhadores do comércio e da construção civil. Em uma dessas
oportunidades, na Associação Lauro de Freitas, o vereador Hostílio Dias entregou nas
mãos do Deputado Novaes, uma mensagem dos trabalhadores alagoinhense para que a
mesma chegasse ao Presidente Juscelino Kubitscheck. 169
Retomando as eleições da Câmara que definiu a vitória da Frente Popular, o
jornal noticiou que:
Inconformados com a derrota os udenistas, Tendo a frente o Sr.Eurico Costa
e dois suplentes do PSP que serviram na Secretaria da Câmara, como
assessores do ex-Presidente, determinaram ao Delegado de Polícia local que
cercasse a Câmara para impedir a entrada no edifício, dos vereadores da
maioria. Assim é que no domingo pela manhã, a Câmara amanheceu cercada
por soldados da polícia militar, armados a fuzil, bem como guardas
municipais mandado do Sr. Prefeito [Carvalho Junior]. 170
169
A visita de Manoel Novais a Alagoinhas. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº198, 02/05/1956, p.1.
170
NOVA mesa da comarca. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 197, 11/04/1956, p.1.
93
171
NOVA mesa da comarca. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 197, 11/04/1956, p.1.
172
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .04/05/1956, p.29.
94
Não seria possível que S. Excia, que não teve a coragem de defender a sua
honra quando moço o quisesse fazer agora quando ultrapassou os 70 anos, e
está enquadrado entre os indivíduos citados pelos cientistas, que dizem que
nessa idade são eles atacados de amnésia irreparável, insensibilidade e se
entregam a libidinagem, ficando sujeitos a ser acometidos, facilmente por um
ataque cardio-renal. (...) Familiares e mal conselheiros do Sr. Carvalho Júnior
compeliram-no a lançar o ridículo e irrisório boletim, pensando que ele
orador se deixaria levar para atender convite tão idiota. No entanto, aceitava-
o para um debate público, a ser realizado no Cine Azi, com entradas pagas, e
cuja renda viesse a reverter em benefício da Santa casa de Misericórdia. (...)
que ele, o prefeito, tem um filho moço, e este estava no dever de defendê-lo
não deixando cair no ridículo como vem fazendo; que o pai dele, orador, é
Desembargador no estado de Sergipe, e se por acaso soubesse que alguém o
ferira na sua honra e reputação, imediatamente se transportaria para ali, e
como quiserem fossem as suas palavras compreendidas. 174
173
NOU, João. Voltando á cadeia. O Nordeste, Alagoinhas, Ano VII, nº 198, 02/05/1956, p.3.
174
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .04/05/1956, p.30.
95
O debate saiu das questões políticas e passou para ordem pessoal e após João
Nou ter encerrado a fala, outros vereadores se pronunciaram. O vereador Hildebrando
Dias concordou com as falas de João Nou, e ainda falou sobre as leis orçamentárias e
códigos tributários vigentes, afirmando que vinham sendo “criminosamente
desrespeitada pelo Snr. Prefeito”. O vereador Hostílio Dias também pleiteou a fala, se
referindo as questões administrativas e críticas ao vereador e ex-presidente Eurico
Costa. “Por duas vezes o vereador João Nou, justificando o seu interesse pelo discurso
que estava sendo proferido pelo vereador Hostílio, requereu a sessão por 10 minutos”.
Infelizmente não houve o registro na ata de quais assuntos tratava o Sr. Hostílio, apenas
que foi algo administrativo e denúncia contra o ex-presidente da Câmara.
Os acontecimentos que se seguiram refletem o limite que foi quebrado entre o
político e as ofensas pessoais. Na Sessão do dia 7 de maio de 1956, estando presentes os
vereadores da Frente Popular Democrática João Nou, Hildebrando Dias, Hostílio Dias,
Romualdo Campos, Amando Camões Filho, e José de Araújo Batista que tinha
assumido como suplente do Vereador João Ramos, ainda estavam os vereadores
udenistas governistas Eurico Batista, Horácio Dantas, Milton Leite, José Lúcio dos
Santos- PSD e Altamirano Campos –PSP. Importante informar que os vereadores
ligados ao governo, citados acima, desde a conflituosa eleição da Mesa Diretora em que
ganhou a Frente Popular estavam faltosos nas sessões da Câmara. Em virtude da
ausência do presidente da Câmara, Armando leal, assumiu João Nou.
Segue abaixo a ata da sessão do dia 7 de maio de 1956, com registro e desfecho
que subverteu a rotina da Câmara de Vereadores de Alagoinhas, assim foi registrada a
sessão:
Foi determinada a leitura da ata da sessão dia 4 do mês andante. Terminada a
leitura da ata o Sr. Presidente submeteu a discussão e a aprovação, como
nenhum dos srs. Vereadores se pronunciaram sobre a mesma, deu como
aprovada; já nessa ocasião não se encontravam mais no recinto do plenário os
vereadores Horácio Leal Dantas, Eurico Batista Costa, Milton Batista de
Souza Leite, José Lúcio dos Santos e Altamirano Cerqueira Campos, os quais
retirando-se, ficaram a porta da ante-sala que dá acesso ao recinto das
sessões. Nessa altura dos trabalhos legislativos da presente sessão, surgiu do
meio dos assistentes, e que de pé já se encontrava o Bel. Darcy Carvalho,
Secretário da Prefeitura, que em voz alta e agitada, dirigindo-se ao Sr.
Presidente disse que protestava contra a ata que acabava de ser aprovada e
que pedia ao vereador João Nou, para que ele repetisse o que havia dito do
seu pai. Fazendo soar a campainha, o Sr. Presidente disse ao interpelante que
a assistência não podia se manifestar. Nesse ínterim os vereadores Eurico
Costa, Horácio Leal Dantas e Milton Batista de Souza Leite, que se
encontravam na porta da ante-sala, bateram palmas dizendo que a assistência
podia se manifestar, no que foi imitado por quase toda a assistência. No meio
96
dessa confusão verificou-se que o Bel. Darcy Carvalho, pulava o gradio que
separa a assistência do plenário e de arma em punho dizia para o Sr.
Presidente: “isto ainda é sobre o repto de honra”. A partir desse momento,
deu-se um tremendo tiroteio e nada mais pode ser percebido. E para constar
lavrou-se a presente ata, que depois de lida, aprovada e por todos assinada,
será transcrita em livro próprio. 175
175
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .07/05/1956, p.35.
176
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
97
177
TIROS e Facadas na Prefeitura de Alagoinhas. A noite, Rio de Janeiro, Ano 1956, edição15307,
10/05/1956.
178
PROTESTA o congresso dos servidores públicos. Nordeste, Alagoinhas, Ano, nº 200, 15/07/1956, p.6.
98
179
PROTESTA o congresso dos servidores públicos. Nordeste, Alagoinhas, Ano, nº 200, 15/07/1956, p.6.
180
PROTESTA o congresso dos servidores públicos. Nordeste, Alagoinhas, Ano, nº 200, 15/07/1956, p.6.
99
escrito por Fernando Teles, advogado dos três vereadores acusados do crime e por outro
advogado, Jessé Muniz Ferreira. Como o livro trabalha com o processo dos acusados
mostrando quais os argumentos e as provas que foram usadas para comprovar a não
autoria do crime e a legítima defesa, trataremos agora de fazer as análises dessas
exposições.
Tanto João Nou quanto Hildebrando Dias, foram defendidos pelos advogados
com o argumento da legítima defesa, nas alegações finais os advogados apresentaram as
provas e que eles que deveriam ser “absolvidos sumariamente, nos termos do art.411 do
código de processo penal” 181. Reafirmando que os acusados se defenderam do ataque
desferido por Darcy Carvalho na Câmara de Vereadores ao cobrar o repto de honra,
mostrando que “não se excederam na repulsa à agressão de que foram alvos” isso foi
constado ao verificar as armas que foram apreendidas de Darcy Carvalho que teve
“cinco cápsulas deflagradas”, a de Hildebrando Dias sendo “duas deflagradas e três
intactas” e João Nou “retinha no pente, três intactas”. A defesa com essas constatações
do laudo de exame pericial alegou que as balas usadas pelos seus clientes foram
indispensáveis para sua defesa, e em contrapartida “ a vítima disparou contra eles toda
carga do revólver”. 182
Outro ponto que foi usado pela defesa se valendo da perícia foi a alegação da
verificação de que constavam muito mais pessoas armadas dentro da plenária e isso se
confirmou pelo número de “tiros equivalente ao dobro que foram desfechados pelas
armas dos denunciados e da vítima”, muitos projeteis encontrados correspondiam a
outros modelos de armas e que dos “nove disparos que foram direcionados a mesa da
presidência quatro ou cinco foram deflagrados pela vítima” e que a maioria dos tiros
detonados foram direcionados contra a mesa da presidência em direção aos vereadores
acusados. Os advogados ainda analisaram que diversas dessas detonações partiram de
uma “porta, que liga a sala de espera com a plenário da Câmara, e de outra, que se abre
para o hall da escada, ambas situadas do lado esquerdo da mesa da presidência, sendo
inadmissível que houvessem[sic] sendo feitas pela vítima” visto que ela estava
localizada no centro do recinto. Acrescentou que dois projeteis que atingiram
181
TELES, Fernando Jatobá da Silva; FERREIRA, Jessé Muniz. O caso da Câmara de Alagoinhas:
Defesa dos vereadores João Rodrigues Nou, Hildebrando Dias e Hostílio Ubaldo Ribeiro Dias.
Alagoinhas: [s.n], 1957, p. 5.
182
Ibidem, p. 28.
100
183
TELES, Fernando Jatobá da Silva; FERREIRA, Jessé Muniz. O caso da Câmara de Alagoinhas:
Defesa dos vereadores João Rodrigues Nou, Hildebrando Dias e Hostílio Ubaldo Ribeiro Dias.
Alagoinhas: [s.n], 1957, p. 33.
184
Ibidem, p.38.
185
TELES, Fernando Jatobá da Silva; FERREIRA, Jessé Muniz. O caso da Câmara de Alagoinhas:
Defesa dos vereadores João Rodrigues Nou, Hildebrando Dias e Hostílio Ubaldo Ribeiro Dias.
Alagoinhas: [s.n], 1957, p. 39.
186
Ibidem.
101
disparos recentes na arma” e ainda ressaltou que nenhuma pessoa que estava na Câmara
relatou o caso de ter sido baleado por ele e nem que ele houvesse atirado. 187
As conclusões que a defesa chegou foram que a agressão de que foram vítimas
o Dr. João Rodrigues Nou e Hildebrando Ribeiro Dias, na Câmara de vereadores do dia
7 de maio 1956 foi “adredemente planejada” e confirmada a partir do fato de que “os
vereadores situacionistas que, desde a eleição que perderam, deixaram de comparecer às
sessões da Câmara, estavam ali presentes, naquele dia, retirando-se do recinto para a
sala de espera e corredor lateral, logo depois da leitura da ata”. Teoria reforçada pelos já
mencionados tiros deflagrados contra a mesa que saíram da sala de espera e corredor
lateral e um dos tiros que alvejou João Nou ter saído de um projétil calibre 38, ao passo
que a arma de Darcy Carvalho era de calibre 32. Esses elementos que constavam no
processo reforçavam a suposta participação de Eurico Batista, Anibal Cerqueira Passos
e Milton Leite de Souza, no ataque armado contra os denunciados. E relatou ainda
atitude ocorrida antes, quando “Dr. Darcy Carvalho, ao entrar na Câmara, encontra-se,
próximo à porta desta, com Dr. João Nou e não o agrediu como seria de esperar-se, caso
se tratasse de um desforço pessoal”. Todos esses aspectos detalhados no livro e que
integravam o processo dão conta da conturbada sessão mas também da fragilidade e
condução desvirtuada dos encaminhamentos processuais. Quanto ao Sr. Hostílio, ele
não deveria nem mesmo ter sido processado porque não teve nenhuma participação
direta no ocorrido. 188
Importante ressaltar que esse livro que trata dos argumentos de defesa foi
publicado em 1957, ano anterior ao julgamento que foi em setembro de 1958. É
possível que a publicação do livro tenha impactado de alguma forma o desenrolar dos
acontecimentos.
187
TELES, Fernando Jatobá da Silva; FERREIRA, Jessé Muniz. O caso da Câmara de Alagoinhas:
Defesa dos vereadores João Rodrigues Nou, Hildebrando Dias e Hostílio Ubaldo Ribeiro Dias.
Alagoinhas: [s.n], 1957.
188
Ibidem.
102
189
JOÃO ataca. Alagoinhas jornal. Alagoinha, Ano2 nº17,22/01/1959, p.3.
190
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011, p.116.
104
o Sr. Hostílio teve algum ressarcimento do Estado pelos dois anos de sua prisão, mas
tudo leva a crer que não.
Ao falar desse processo, o Sr. Hostílio, afirmou que ele tinha certeza do
resultado, pois não havia feito nada e sabia que estava preso por perseguição política. 191
Suas reflexões recuperam o cenário que desencadeou o episódio do crime.
Afirmou que muitas fraudes e corrupções foram descobertas na administração pública e
que o prefeito Carvalho Junior antes das denúncias era “homem até respeitado, tido
como homem de bem”. Afirmou que “os ferroviários [tiveram] uma parcela decisiva”
naquela eleição e que se não fossem eles, a vitória seria de “Victor Nascimento o
candidato de Pedro Dórea que tinha muita força aí dentro[ferrovia]”. Ele lembra com
ironia afirmando que “elegemos Carvalho Junior e vejam só! ” e ainda recuperou que
“quem sugeriu isso em uma madrugada foi eu, digo só tem um nome aí, trabalhista de
Getúlio”. 192
Em suas memórias, ele narrou e ao mesmo tempo elaborou conclusões sobre os
acontecimentos, como por exemplo sobre o repto de honra assim ele ponderou:
Ali foi um acúmulo de coisa! deu com aquela explosão, por causa do amigo
nosso colega, ele muito impulsivo, eu não tava tendo conhecimento desse
negócio, mas pra mim, ele se precipitou no caso aí lançou um repto de honra
ao prefeito que começou a encontrar assim coisas terrível de corrupção. 193
A impressão que temos com essa reflexão de Sr. Hostílio é que ele ao trazer a
memória do episódio, reinterpreta que o limite das denúncias foi extrapolado, que os
atos saíram do controle. Essas ponderações que ele fez nos faz pensar que a intensidade
das denúncias feitas no período foi demais ou a forma de fazê-las tenha extrapolado os
limites do decoro imposto ao cargo que ocupavam. Talvez essa consideração só tenha
sido feita muito depois, quando passou por tudo que narrou e viveu outras experiências
e aprendizagens que o fizeram repensar os acontecimentos daquele período.
Ao ser questionado sobre os anos que passou preso, sua experiência e cotidiano
ele se restringiu a frisar exclusivamente que passou os dias “lutando na cadeia”,
segundo ele pelos “problemas de ferroviário, referente a viúva, de aposentado” e ainda
191
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
192
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
193
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
105
informou que na rua de sua casa dava para os fundos do prédio da prisão, local onde
ficou preso até julgamento. 194
Observamos que, na primeira experiência como vereador o Sr. Hostílio teve
uma atuação intensa. Ter sido acusado de um crime e ficado preso por um tempo é um
registro curioso, peculiar e que certamente deixou marcas em sua vida. O fato também
de ter concorrido pela UDN nas eleições, contrariando sua propalada identificação com
o PTB revela que ele se engendrou na articulação política apesar de ser iniciante a sua
atitude evidencia uma conexão com os arranjos políticos. Podemos perceber também
que o vereador João Nou, presidente e fundador da FPD e figura representativa da
legenda, foi um exemplo em que ele buscou se espelhar, afinal, o percurso do seu
mandato foi muito guiado pela atuação da bancada oposicionista. Eles foram articulados
e atuaram em parceria um reforçando a atitude e fala dos outros, e não seria exagero
dizer que foi nesse bloco que o Sr. Hostílio Dias foi ganhando envergadura e se
aprimorando como político intenso que esteve durante sua primeira experiência política
envolvido na linha de frente em oposição a administração do prefeito udenista Carvalho
Junior, de quem foi, ao menos por pouco tempo, estratégica e circunstancialmente
aliado.
O Sr. Hostílio buscou se projetar como líder de sua classe, sabia se posicionar e
ganhar visibilidade entre seus colegas em virtude de ser habilidoso na escolha do
momento certo de agir, mas não foi o único representante dos ferroviários.
Existiram outros e isso ficou perceptível na documentação trabalhada, como
também nas entrevistas que foram cedidas por ele em 2012 e 2013, ainda que ele se
esforçasse para se posicionar como o maior protagonista e principal líder. Em vários
momentos das entrevistas percebemos no cenário narrado as disputas entre lideranças já
instituídas e de outros que buscavam ocupar ou ascender a esse cobiçado posto de líder
ferroviário.
A FPD foi um bloco criado em um cenário de dissidências partidárias. Quando
analisamos toda a atuação dela até culminar no crime na Câmara percebemos que a
bancada oposicionista estava bem articulada com o objetivo de tomada de poder político
na cidade de Alagoinhas, se mobilizando no sentindo de enfraquecer a gestão vigente,
buscando sufocar a administração pública do prefeito Carvalho Junior. Não pudemos
conhecer melhor a gestão, mas muitos das denúncias que eram alardeadas nas sessões
194
DIAS, Hostílio Ubaldo Ribeiro. Hostílio Dias (depoimento entre 2012 e 2013). Entrevista cedida a
Tatiane Figueiredo Araujo. Alagoinhas, BA. 2012-2013.
106
Capítulo III
“Sob o manto da paz” 195: segundo mandato de Hostílio Dias (1959-1963)
195
Frase encontrada na ata da sessão do dia 18 de maio de 1959, quando o vereador João Ramos destacou
essa frase de autoria de Jairo Maia quando ele afirmou “ que o juracisismo (sic) não se considerava
melhor e nem superior aos partidos que com o manto da paz se acobertavam”.
196
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Atas das sessões. 03/10/1955 e 07/04/1959.
197
Resultado geral das eleições. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano I, nº14, 29/10/1958, p.1.
108
198
SANTOS, Roberto Magno. “Alagoinhas Jornal”: O comportamento da imprensa escrita no Município
de Alagoinhas durante o quadriênio 1960-1964. Dissertação (especialização em História Política)-
Universidade do Estado da Bahia, campus II. 2003.
199
Ibidem, p.44.
200
Resultado geral das eleições. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano I, nº14, 29/10/1958, p.1.
109
201
Afirmação feita por João Nou em sessão da Câmara. ALAGOINHAS. Câmara Municipal de
Alagoinhas. Ata da sessão, 23/05/1958.
202
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011, p.91.
203
RESULTADO geral das eleições. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano I, nº14, 29/10/1958. p.1.
110
jornal caracterizou o que seria perfil necessário “para prefeito de Alagoinhas, um moço
idealista, trabalhador, instruído e sobretudo apaixonado amante da honestidade”. 204
Ao fazer essa campanha pela renovação da política alagoinhense, o noticiário
apontava para o próprio Walter Campos que se candidatou a vereador e se apresentava
como uma oportunidade de novidade, inclusive seu slogan de campanha era: Um Moço
a serviço de Alagoinhas 205. Em contrapartida, seu pai Altamirano Campos 206, já havia
sido prefeito e se candidatava novamente contrariando os argumentos que pediam
renovação para a política de Alagoinhas. Durante o desenrolar da campanha eleitoral
essas duas propostas de candidaturas foram desfeitas, o Alagoinhas Jornal de 13 de
setembro de 1958, revelou que houve um acordo 207 entre o Partido Social Progressista-
PSP, de Altamirano Campos, e o Partido Trabalhista Nacional-PTN renunciando a sua
candidatura em favor de Antonio Valverde Bastos e passou a concorrer ao cargo de
vereador, juntamente com o seu filho Walter Campos 208. Contudo, no resultado das
eleições divulgado no jornal detalhando a relação 209 dos candidatos e quantidades de
votos não constava os nomes do pai nem do filho e deduzimos que eles desistiram das
candidaturas em decorrência de algum acordo partidário.
O candidato eleito para prefeito foi José da Silva Azi, com 38 anos de idade,
era comerciante, industrial, proprietário do cinema da cidade, o Cine Azi e concorreu
pelo Partido Republicano –PR. Novo na política local, teve apoio do Deputado Federal
do PR, Manoel Novaes que em um dos comícios na cidade chegou a condicionar a
instalação do serviço de água à eleição do seu candidato. 210
204
QUAL o melhor candidato à Prefeitura de Alagoinhas? Alagoinhas Jornal, Alagoinha, Ano I, nº 121,
21.10.1957. p.2.
205
UM moço a serviço de Alagoinhas. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano I, nº 12, 13/09/1958, p.6.
206
PARA prefeito Altamirano Campos. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano I, nº 11, 12/08/58, p.4.
207
Alagoinhas Jornal, Ano I, nº 12, 13/09/1958, p.6.
208
Anteriormente ao período eleitoral, quando se cogitava possibilidades de candidaturas, Walter Campos
chegou a anunciar em seu Jornal através de um artigo de Haeckel Meyer apresentando as propostas de
governo que estava sendo organizadas para sua candidata a prefeito de Alagoinhas, sendo mais para
frente afastada essa possiblidade, provavelmente testando a popularidade perante a cidade. Ver
Alagoinhas Jornal, Ano I, nº 6, 24.03.1958. P.1. Arquivo particular de Walter Campos.
209
Resultado geral das eleições. Alagoinhas Jornal, Ano I, nº 14, 29/10/1958. p.1.
210
Matéria publicada no Alagoinhas Jornal feita por Haeckel Meyer, com título: Manoel Novaes-Água só
se José Azi for Prefeito. Abelardo Andréa-Água com qualquer prefeito. “ O bem estar da coletividade
está acima do interesse particular”. Fazendo uma crítica a condição dada em comício pelo deputado
Manoel Novaes que condicionava a instalação do serviço de água a eleição de José Azi, na reportagem
repudiava essa atitude e apoiava o Major Abelardo Andréa que independente que ganhasse a prefeitura
iria buscar verbas para a instalação do serviço de Água em Alagoinhas. Ver Alagoinhas Jornal Ano I nº
13, 29/09/1958, p.2.
111
Cabe registrar que, no ano de 2011, Hildebrando Dias 211 publicou um livro de
memórias intitulado A história de uma vida 212, e para prestar uma homenagem ao amigo
José Azi, informou que a entrada dele na política teria se dado a partir de um apelo
popular para que concorresse a prefeitura e acrescentou que não achou nenhuma
legenda partidária que o aceitasse, isso teria ocorrido porque as lideranças políticas
locais teriam sido contra sua candidatura e ele teria procurado o amigo ex-vereador Dr.
João Nou 213, que na ocasião estava “privado da sua liberdade” 214, fazendo a ponte com
o Deputado Federal Manoel Novaes e conseguindo seu apoio para a candidatura. Ainda
segundo essas memórias, com o desenrolar da campanha e suposta aprovação da
população, a UDN passou a apoiar a candidatura. A princípio o que o alinhava com o
requisito apontado pelo jornal para ser um bom prefeito, foi o fato de ser iniciante na
política e jovem, por outro lado a tradição de se ter sempre representantes abastados
economicamente ainda se fez presente nessa legislatura.
O jornal além de noticiar o resultado das eleições destacou as propostas de
campanha eleitoral feitas pelo o prefeito eleito, as principais eram: “água encanada e
esgoto, calçamento para as principais ruas da cidade terraplanagem e meio fio para
todas as outras ruas”. Necessidades que estiveram com frequência em pauta nas sessões
da gestão anterior. Outras propostas foram a “extensão e melhoramento da rede de
energia elétrica, instalação de lavanderias e chafarizes nos bairros da cidade, assistência
médica e escolas gratuitas, construção de campo de aviação comercial e construção de
arquibancadas no campo de futebol”. 215 A energia foi tema recorrente em 1955-1958,
inclusive uma das promessas de regularização dos serviços de luz pública e particular
foi proposta eleitoral do ex-prefeito Carvalho Junior e, a partir da recorrência dessa
demanda verificamos que o serviço continuou deficitário e moroso. A pauta defendida
pelo prefeito José Azi para essa legislatura da construção do campo de avião comercial
não era uma proposta nova visto que no mandato de 1955, o vereador Hostílio Dias com
211
Importante informar que buscamos realizar uma entrevista com Hilbrando Dias, irmão de Hostílio
Dias, em 2020, porém por questões relacionadas a saúde dele essa entrevista não se concretizou.
212
Livro escrito pelo irmão de Hostílio Dias contou com sua ajuda no fornecimento de documentos e fotos
contribuindo com a pesquisa para o livro. Ver DIAS, Hidelbrando Ribeiro. História de uma vida. Livro
memorialístico. Alagoinhas-Bahia,2011.
213
O ex-vereador João Nou foi acusado do crime da Câmara que levou a morte de Darcy Carvalho,
Secretário Municipal e filho do então prefeito Antonio Carvalho Junior em 1956. Como aponta
reportagem no Alagoinhas Jornal ele ficou preso até ser absolvido no julgamento. Ver Alagoinhas Jornal,
Ano 2, nº 17, 22.01.1959. P.2.Arquivo particular de Walter Campos.
214
DIAS, Hidelbrando Ribeiro. História de uma vida. Livro memorialístico. Alagoinhas-Bahia,2011.
P,78.
215
RESULTADO geral das eleições. Alagoinhas Jornal, Ano I, nº 14, 29.10.1958, p.1.
112
frequência solicitava essa construção como foi visto no registro das atas da sessão da
Câmara de Vereadores trabalhadas no capítulo anterior.
Retornando a Ata da Sessão Solene de Instalação dos Trabalhos Legislativos e
de juramento e posse do Prefeito eleito, para o quadriênio de 1959 a 1963, a Mesa eleita
responsável por reger o Poder Legislativo até abril de 1960, se configurou da seguinte
forma, para “Presidente Luiz Bastos Rabêlo-PSD, Vice-presidente José de Araújo
Batista-PSD, Primeiro Secretário Romualdo Pessoa Campos-PSD e para segundo
Secretário, Maria de Lordes Almeida Velôso-PTN”. 216 Importante registrar que o ex
Prefeito Antônio Martins de Carvalho Junior, não compareceu a essa solenidade de
posse do novo Prefeito e designou uma funcionária para o representar. 217 Os motivos do
não comparecimento não foram expostos em ata, mas podemos supor que foram em
decorrência dos acontecimentos durante sua gestão, com o crime na Câmara perdendo o
filho e também a sua conturbada administração pública acusada de mau uso do dinheiro
público, crítica que perdurou até o fim de mandato. 218 Apesar disso, conseguiu o ex
prefeito apresentar o balancete do último período administrativo expondo as contas da
Prefeitura e fazendo a prestação exigida por lei. 219
O Legislativo Municipal se estruturou diferente da experiência passada que
contava com uma bancada oposicionista representada pela Frente Popular Democrática
que realizou uma fiscalização diária e incisiva mantendo uma regularidade da postura
desde o início na administração pública com uma definição clara de quem era situação e
oposição. Embora essa postura se configurou porque a tensão estava abafada uma vez
que a bancada da oposição era reduzida.
Nessa nova experiência, as atas permitem afirmar que a bancada oposicionista
não ficava clara. Moises Leal avalia que o prefeito José Azi “em tese” contava “com
seis dos doze membros” de vereadores, confirmado por uma “bancada governista no
Legislativo Municipal composta pelos quatro vereadores eleitos pelo PSD e os dois pela
UDN, partidos que haviam apoiado” o então candidato “para a chefia do Executivo
Municipal” se “constituindo pela liderança de Osvaldo Matos (PSD)”. Leal ainda
acrescenta que “quanto às demais organizações partidárias, PTN, PSB e PTB tendiam a
atuarem como bloco de oposição”, contudo os vereadores da PTN e do PSD “embora
em determinados momentos tenham reivindicado a condição de oposição,
216
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 07/04/1959, p.9.
217
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 30/01/1959, p.15.
218
CARVALHO Junior entrevistado. Alagoinhas Jornal, Ano 2, nº18, 16.02.1959, p.1.
219
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.10/04/1959, p.18.
113
demonstraram uma conduta pendular, por vezes adotando uma postura de conciliação
com o governo e agindo como representantes da situação”. E nesse panorama na
maioria das vezes “apenas o ferroviário Hostílio Dias (PTB) manteve uma atitude
constante e solitária de fiscalização sobre o Executivo Municipal”. 220
Hostílio Dias perdeu muitas alianças políticas nesse mandato e não integrou
nenhum bloco de oposição coeso como foi a Frente Popular Democrática, representado
na figura do Líder João Nou, dele e do seu irmão Hildebrando Dias, que foram os
membros mais atuantes do bloco no mandato anterior. Com a antiga aliança se tornaram
imbatíveis até terem sido desarticulados pelo trágico episódio do crime da Câmara e não
mais conseguiram se organizar naquela correlação de forças.
Antes de prosseguir com a análise do mandato do vereador Hostílio se faz
necessário contextualizar o cenário brasileiro durante a legislatura que correspondeu ao
intervalo entre 1959-1963. Período este que se configurou por episódios e eventos
político-econômicos acentuadamente e difíceis na política do Brasil, ficando bem
definidos esses momentos nas figuras dos três presidentes que estiveram à frente do
país, ao longo desse intervalo.
Começando com o governo de Juscelino Kubitschek e o vice-presidente João
Goulart entre 1956-1961, primeiro presidente eleito após a morte de Getúlio Vargas, seu
governo ficou conhecido pelo programa do “plano de metas” que realizou investimentos
no setor industrial com abertura ao capital estrangeiro que trouxe um crescimento
econômico, porém favoreceu a um controle internacional e lucro sobre a economia
brasileira. O governo passou também a emitir papel moeda que ocasionou crescimento
da inflação. Seguindo uma política desenvolvimentista foi no governo de Kubitschek
que foi construída a nova Capital Federal, Brasília.
Em 1960, chegando ao fim do mandato do presidente Kubitschek, novas
eleições aconteceram para presidente e Jânio Quadros conseguiu se eleger com 48% dos
votos conseguindo vencer o marechal Henrique Teixeira Lott, que foi “apoiado pelos
dois maiores partidos PSD e PTB” e “apoiado pelas esquerdas”. O vice eleito foi
novamente João Goulart, que segundo Angela de Castro Gomes e Jorge Ferreira, “entre
1945 e 1964, o vice-presidente era igualmente eleito por voto popular, concorrendo de
220
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011.
114
221
FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro.1964: O golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao
regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. 1ª ed.-Rio Janeiro: Civilização Brasileira,2014. p.22.
222
Ibidem, p. 24.
223
Ibidem, p. 22.
224
Ibidem.
225
Ibidem, p.27.
115
serviço do governo. Contudo, quem passou a mandar no país foi uma junta formada por
três ministros militares “sem declaração formal”, o Brasil estava sob estado de sítio” e
ficou claro pelos militares a oposição em relação a volta de João Goulart para assumir a
presidência. 226
Dentro dessa nova configuração João Goulart tinha o direito constitucional de
assumir a presidência, contudo ele estava diante de uma resistência a sua posse
reforçando mais ainda a configuração de um golpe em curso. Porém, Goulart teve apoio
do governador do estado do Rio Grande Sul, Leonel Brizola, político atuante que
conseguiu apoio de uma parte dos militares e de partidos. Diante disso e da crise
instaurada e com possibilidade de guerra civil, João Goulart buscou mediar a situação e
a solução encontrada foi pela instauração do regime parlamentarista que diminuía os
poderes do presidente e assim foi feito. Após o referendo popular, em janeiro de 1963,
Goulart permaneceu no cargo e voltou o sistema de governo presidencialista. 227
Ao longo do período do mandato de Goulart identificamos várias referências
aos acontecimentos nacionais e até mundiais nas atas da Câmara de Alagoinhas
correspondentes ao período analisado. Retomando a experiência do personagem, no
início do seu mandato, o Sr. Hostílio foi confrontado publicamente por meio de uma
matéria do Alagoinhas Jornal, datado de 13 de maio de 1959, expondo um suposto
acordo que teria sido realizado entre o Sr. Hostílio Dias e seu partido, o PTB, antes das
eleições. Segundo o referido acordo, se ele não atingisse o coeficiente eleitoral,
renunciaria ainda que ganhasse ao pleito sem atingir essa meta. O Jornal noticiou esse
episódio com a seguinte manchete: “A minha confissão tácita e pública de indignidade e
falta de caráter”, a reportagem veio em meia página com a foto de Sr. Hostílio e também
a imagem do suposto documento. O articulista informou que o referido documento teria
sido assinado e registrado em cartório pelo próprio Sr. Hostílio e nele constaria que ele,
por “livre e espontânea vontade” e “sob condições proposta por ele mesmo”, à direção
do PTB que, caso não “conseguisse o número de votos igual ao coeficiente eleitoral o
Presidente do aludido partido” apresentaria o documento “à justiça Eleitoral” com o
pedido de renúncia do Sr. Hostílio Dias que já teria deixado assinado em mãos do
Presidente do partido. 228
226
FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro.1964: O golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao
regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. 1ª ed.-Rio Janeiro: Civilização Brasileira,2014, p. 30.
227
Ibidem.
228
A minha confissão tácita e pública de indignidade e falta de caráter. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas,
Ano 2, nº 21. 13/05/1959, p .2.
116
229
A minha confissão tácita e pública de indignidade e falta de caráter. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas,
Ano 2, nº 21. 13/05/1959, p .2.
117
quando já estava com os papéis em mãos, o Presidente do PTB teria imposto o tal
acordo. Ele não teria concordado e pensou em desistir de concorrer, porém os seus
amigos o incentivaram a aceitar o acordo, afinal aquilo era “algo ilegal e não poderia ser
levado a frente”. No próprio Alagoinhas Jornal 230 quando saiu o resultado das eleições
constava uma lista com todos os vereadores que concorreram para o pleito e um dos
candidatos era Manoel Otávio-PTB e nenhum registro da candidatura de seu pai Manoel
Bispo que foi mencionado acima pelo Sr. Hostílio indo ao encontro das suas afirmações
sobre a renúncia da vaga e a transferência da mesma para ele.
É necessário chamar a atenção para a reincidência de problemas relacionados a
inscrição do Sr. Hostílio nas legendas nos períodos das candidaturas. No primeiro
mandato, como mencionado no capítulo anterior, também houve uma confusão
envolvendo o candidato e os partidos e quase não conseguiu se inscrever. Sobre aquela
situação, o Sr. Hostílio Dias alegou que faltou experiência, e, novamente, nesse
mandato ocorreu outra situação confusa envolvendo sua inscrição, embora nessa
experiência ele tenha vindo de um período preso e isso pode ter concorrido para gerar
esse outro episódio. Mas ainda nos perguntamos sobre as razões para tantos desacertos e
que não ficaram apenas nesses dois mandatos, continuaram como uma marca das suas
candidaturas.
Não encontramos nenhuma menção do vereador Hostílio em Ata sobre esse
acordo. Contudo, na sessão de 18 de maio de 1959, ou seja, 3 dias depois da publicação
do jornal, o vereador Osvaldo Matos- PSD “fez severas observações as notas expressas
no Jornal Alagoinhas julgando-as responsáveis na quebra de clima de paz e
tranquilidade pelo ressurgimento de um ambiente de desassossego”. Fez “considerações
ponderadas sobre diversas páginas do jornal salientando a vontade soberana do povo na
expressiva escolha dos seus dirigentes” e aproveitando “a oportunidade e num gesto
elegante hipotecou solidariedade ao vereador Hostílio pela ofensa ao mesmo dirigida e
expressa na 2ª página do jornal de Alagoinhas” e ainda ressaltou “os serviços
extraordinários prestados a casa pelo referido vereador”. 231 Provavelmente o vereador
Osvaldo estava se referindo ao acordo partidário que foi exposto no Jornal.
O jornal publicou, na mesma edição, outra reportagem intitulada O Prefeito
esqueceu, informando que em “3 de abril de 1959 a Cidade se encheu de um ‘aviso’ em
forma de periquita assinada pelo prefeito eleito, o Sr. José Azi proibindo a atualização
230
RESULTADO geral das eleições. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano I, nº 14, 29.10.1958, p .1.
231
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.18/05/1959, p.70.
119
232
O Prefeito esqueceu Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 21. 13/05/1959, p .3.
233
O Prefeito esqueceu Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 21. 13/05/1959, p .3.
234
O Prefeito esqueceu. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 21. 13/05/1959, p.3.
235
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.18/05/1959, p.73-74.
120
Quando o Prefeito eleito estava montando sua equipe para dar suporte
administrativo, saiu uma pequena nota no Alagoinhas Jornal se referindo ao possível
interesse do prefeito eleito, José Azi para colocar no cargo de Secretário Municipal
Hildebrando Dias. Com o título: COM ELE NÃO, o jornal noticiou que o “prefeito
eleito tem sido visto nos bairros da cidade acompanhado do Sr. Hildebrando Dias
planejando medidas para o futuro”, e que aquela atitude “tem dado motivo a uma série
de conjecturas de observação pelo anunciado de vir a ser o acompanhante do prefeito
eleito o seu futuro secretário”. Segundo a nota, isso teria provocado “reações
desfavoráveis a citada escolha pelos líderes que dominarão a próxima legislatura que a
esta altura, estão envidando esforços no sentido de evitar barulho não dando ensejo a
oposição de derrubá-los das posições ora conquistadas” e “por isso estão pressionando o
Sr. José Azi para desistir desse intento caso contrário retirarão seus apoios”. 236 Se de
fato houve o interesse e uma desaprovação em relação a Sr. Hildebrando Dias para
ocupar o cargo, isso obteve sucesso porque ele não o exerceu. Contudo, essa notícia saiu
sem o jornal revelar de onde teria obtido a informação. E aqui é importante relembrar
que o Jornal no período dos resultados eleitorais demonstrou a satisfação em ter se
reelegido poucos candidatos do mandato passado deixando claro que o ideal era uma
renovação do Legislativo, então talvez o Jornal também não fosse favorável a ele,
Hildebrando Dias.
236
COM ele não. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 21. 16/02/1959, p.2.
121
237
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .13/04/1959, p.26.
238
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 24/04/1959, p.45.
239
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.24/04/1959, p.45-46.
240
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.24/04/1959, p.51.
241
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.24/04/1959, p.56.
122
242
PETRÓLEO em Alagoinhas. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 21. 13/05/1959, p .8.
243
Ibidem.
244
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .08/05/1959, p.56.
245
Ibidem, p.57.
123
poderia ter se manifestado sobre o requerimento nº7, matéria vencida no entanto o fizera
por tolerância do senhor presidente”. 246
Apesar do presidente da Câmara querer demonstrar uma boa mediação nos
debates nas sessões, como ficou registrado através do comentário do vereador
Romualdo, que o presidente teria sido tolerante com Hostílio mesmo não podendo mais
fazer a defesa do requerimento, ainda assim percebemos para além do que se queira
deixar registrado no documento das atas que existia um movimento de atitudes
colocando o vereador Hostílio em isolamento, revelando certa animosidade ou
indisposição para com ele que veremos por todo o período do mandato.
As cobranças sobre a administração do Prefeito começavam a ganhar mais
reincidências como mostra uma denúncia do vereador João Ramos afirmando que o
Prefeito estava “proibindo a construção de casas com alvará de licença nos terrenos
loteados no matadouro”. O vereador Amando Camões saiu em defesa do prefeito José
Azi, justificando que ele suspendeu as obras para que fosse melhor estudada afirmando
que o mesmo tem boa vontade. Antonio Mutti também manifestou defesa do Prefeito
declarando que “os comentários que surgem são inventados por objetivo de
prejudicar”. 247
Em ata de 15 de maio de 1959, Hostílio solicitou do presidente da Câmara
informações sobre o requerimento de sua autoria que pedia “providências aos senhores
Presidente e vice-presidente da República e general Teixeira Lott sobre a situação que
atravessam os aposentados que recebem pela caixa de aposentadoria e pensões dos
ferroviários”. 248 O Presidente “informou que na sessão já tinha constado no expediente
um telegrama do senhor presidente da República em resposta ao pedido prometendo
atendê-lo”. O vereador Hostílio ainda “solicitou informações sobre o seu requerimento
que pede ao juiz eleitoral dizer qual o 1ª suplente de vereador pelo Partido Trabalhista
Brasileiro”. Foi informado “pela mesa ao senhor Hostílio que os senhores Antonio
Cardoso de Araújo obtivera 113 votos e, portanto, era considerado suplente. Hostílio
ainda solicitou da mesa que fossem apresentados os ditos telegramas e ofício para ler na
tribuna. Ainda encaminhou à mesa a indicação nº11 que solicitou do prefeito
246
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .08/05/1959, p.64.
247
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.11/05/1959, p.64-65.
248
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.15/05/1959, p.65.
124
249
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.08/05/1959, p.67.
250
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.08/05/1959, p.67.
125
251
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.29/05/1959, p.85.
252
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .01/06/1959, p.88.
126
253
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.01/06/1959.
254
Ver Alagoinhas Jornal de 22 /06/1959 e 16/07/1959.
255
GRANDE projeto. Alagoinhas Jornal, Ano 2, nº 23, 22.06.1959, p.1.
127
o PTN. O vereador Osvaldo Matos informou em sessão que teria ouvido um comentário
na cidade que os “vereadores desta Câmara só queriam falar e nada produziam em
benefício do povo”. Hostílio Dias falou sobre essa crítica dizendo “da incapacidade
daqueles que criticavam a Câmara, quando deviam provar o que fazem para ajudar o
soerguimento da terra e a felicidade do povo”. Não registraram a origem das críticas em
relação aos vereadores ou em que circunstâncias foram feitas. Essas informações soltas
e sem clarezas geravam acusações, conflitos e desvio de foco, contudo também foi
identificada uma união em prol de se defenderem juntos. Se considerarmos que esse
descontentamento recaía em todos os vereadores, questionamos sobre os vereadores que
faziam oposição a administração Municipal, que não eram tantos assim e em muitos
casos ficava representado de modo destacado na figura de Sr. Hostílio.
Novas alianças políticas e mudanças continuaram a ocorrer e uma delas foi a
do vereador ferroviário José de Araújo Batista, que declarou em sessão que com a
“independência política que sempre teve” ingressou na “União Democrática Nacional,
seção de Alagoinhas ao lado de Dr. Jairo Maia seu amigo dedicado”. 256 Percebemos que
essa “independência” era um jargão usados por outros vereadores além do Sr. Hostílio.
Vale recordar que a UDN estava no governo do estado da Bahia, com Juraci Magalhães.
Uma preocupação e cuidado dos vereadores era reforçar o domínio de posse do
recente poço de petróleo encontrado em Alagoinhas. Como ficou evidente na sessão do
dia 3 de julho de 1959, Sr. Hostílio leu uma nota de Jornal sobre a produção de petróleo
no campo de Buracica. A nota extraída de uma entrevista do presidente da Petrobras
com o presidente da República mencionando que Buracica estava com uma produção
comercial e nessa entrevista ocorreu um erro recorrente sobre a localização do petróleo
que pertencia a cidade de Alagoinhas. O vereador Romualdo Campos se manifestou
afirmando que “já havia constado dos anais dessa casa o seu protesto sobre o modo da
imprensa só fazer referência ao petróleo do município de Alagoinhas como sendo de
Buracica de Santo Amaro”. O vereador Hostílio esclareceu que “o nome Buracica era o
prefixo dado pelo petróleo ao novo campo, mas o petróleo havia jorrado no lugar
denominado “Espelho” no município de Alagoinhas” e advertiu o “poder executivo
deste município para as vantagens econômica dessa riqueza que acabava de surgir para
o Município”. 257
256
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.22/06/1959, p.113.
257
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.03/07/1959, p.120.
128
Ainda na mesma ata foi colocado em discussão o Projeto de lei nº4 para
abertura de “credito especial de 100.000,00 para obras no Rio Catu”. O vereador
Hostílio argumentou “que a área de que se ocupa o projeto era competência do
Departamento de portos , Rios e canais, não havendo portanto necessidade da prefeitura
despender essa quantia para as referidas obras” e acrescentou “que não pretendia
prejudicar o projeto todavia, lembrava a necessidade de ser consultado ao departamento
de portos , rios e canais para Câmara ter uma melhor orientação neste sentido”.
Aparteando o vereador Romualdo Campos informou que o projeto “fora apresentado
depois de prévio entendimento com o prefeito que recomendava” providências para que
a obra fosse bem sucedida no local e acrescentou que “o projeto em questão já recebera
na comissão de urbanização o parecer de dois engenheiro os quais podiam se pronunciar
com maior conhecimento”. O vereador João Ramos também opinou sobre o assunto e
citou o “artigo 105 do requerimento que dispõe sobre a audiência do prefeito sobre os
recursos e apelo no sentido de que o projeto fosse retirado de pauta para garantir tais
proveniências”. 258O vereador Romualdo concordou com a retirada do requerimento
sendo feito. E nesse episódio observamos que o Sr. Hostílio estava com razão ou pelo
menos existia brechas para dúvidas em relação a instância em que deveria tramitar esse
projeto, tanto que os outros vereadores concordaram com a retirada dele para ser
avaliado. Uma outra avaliação da performance do vereador é que nesse episódio
observamos mais uma vez que o Sr. Hostílio estava orientado pelas leis e regimentos
algo que ele seguia para embasar seus argumentos e que esteve presente na sua vida
política.
Quase ao final dessa sessão, Romualdo Campos fez um breve desabafo
afirmando que “desde a legislatura passada que no cargo de secretário da Câmara
sempre” teria procurado “cumprir com o seu dever fazendo advertência sobre pareceres
de comissão sempre que se tornava necessário em face das normas regimentais” e
“nunca porém chegou a molestar os seus colegas que bem sabiam que tudo que dizia a
respeito destes pareceres era no sentido de resguardar o bom nome da Câmara da qual
somos todos integrantes e com responsabilidade iguais”. E prosseguindo em seu
discurso afirmou que “queria se referir a certa pessoa que mal informada ou de má fé
dissera ao digno vereador Osvaldo Matos que havia feito conceitos ofensivos a pessoa
daquele vereador” e “invocava o testemunho dos seus colegas presentes a sessão
258
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.03/07/1959, p.120.
129
259
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.03/07/1959, p.122.
260
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.03/07/1959, p.123.
261
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.10/07/1959, p.126.
130
dos motivos dos vereadores não quererem as transmissões das sessões poderia ser
também porque elas davam visibilidade a essas faltas.
Desde que foram apontadas em plenária as faltas de alguns vereadores
observamos que a vereadora Maria de Lurdes era uma das mais ausentes, faltando as
sessões, principalmente as extraordinárias, sem constar justificativas dos motivos de
suas faltas. O vereador Hostílio citou o item “4º do artigo do requerimento para dizer
que a situação da vereadora Maria de Lurdes Veloso estava sujeita as sanções do citado
artigo”, e pediu que fosse convocado o suplente daquela vereadora em função da
ausência prolongada. Em aparte o vereador Antonio Mutti indagou o orador
perguntando quantas sessões faltavam para completar o período. O presidente disse que
“estava atento a situação da vereadora Maria de Lurdes, entretanto, podia informar a
Casa que a vereadora não estava sujeita a sanção do artigo 19 item 4º” e acrescentou
que a “vereadora não havia atingido o prazo estipulado no regimento e devia também
adiantar que o item 4º artigo 19 se refere as sessões do período ordinário e a câmara
estava funcionando em período extraordinário, cuja presença de qualquer vereador deve
ser facultativa”. 262
O presidente da Câmara ressaltou que “o vereador Hostílio havia usado a
tribuna por mais de 1 hora para discutir um assunto que não dependeria se não de 20
minutos, com a que preteriu os demais vereadores de fazerem suas explicações
pessoais” e enfatizou “que nestas condições a comarca não podia funcionar pois o
vereador Hostílio só admitia o uso da palavra e declara em que estando esgotado a hora
do regimental estava encerrado a sessão.” 263 Com esse episódio fica evidente como o
vereador Hostílio buscava dominar a cena.
As cobranças sobre a administração do governo aumentavam como podemos
constatar no pedido do vereador Antonio Guimarães, solicitando melhorias para a
guarda noturna. Em defesa ao governo o vereador Araújo Batista protestava dizendo
que o “prefeito José Azi estava no governo há 3 meses apenas, e que não havia tempo
para regularizar a guarda noturna”. Aqui percebemos uma preocupação do vereador
José Araújo Batista em defender o prefeito mais do que encontrar medidas para
solucionar o problema dos guardas, visto que é na plenária que de fato a necessidade da
população é apresentada para uma solução, mesmo que o governo seja novo ou
262
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 28 /08/1959.
263
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 28 /08/1959.
131
264
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.10/07/1959, p.127.
265
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.13/07/1959, p.120.
132
266
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.20/07/1959, p.139.
267
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Alagoinhas.07/08/1959, p.160. Disponível no
arquivo da Câmara Municipal de Alagoinhas, Alagoinhas-Bahia.
133
268
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Alagoinhas.17/08/1959, p.172. Disponível no
arquivo da Câmara Municipal de Alagoinhas, Alagoinhas-Bahia.
269
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.14/08/1959, p.170.
134
Mostrando que estava afinado ou ao menos parecer que tinha ramificações partidárias
federal. Se mostrou também apoiador do prefeito José Azi e em muitas situações saiu
em sua defesa argumentando que ele estava fazendo um bom trabalho e quando
precisava solicitar alguma demanda fazia com cuidado e buscando não responsabilizar a
gestão do prefeito. 270 A partir das atas podemos perceber que a atuação dele era
cuidadosa, buscava fazer solicitações, mas sem criar conflitos com a gestão municipal,
com outros colegas e autoridades. Ao que parece, ele se revelava mais habilidoso para
lidar com os meandros do jogo político do que o Sr. Hostílio.
As tensões nas sessões eram quase que constantes e se estendiam por longos
debates e em várias reuniões seguidas. E um exemplo foi a aquisição de um automóvel
que gerou conflito de interesses, como podemos analisar na ata do dia 21 de agosto de
1959, foi colocado em discussão o projeto nº 19 do poder executivo para adquirir um
veículo, com a justificativa de uso para o transporte das autoridades municipais. Os
vereadores Antonio Guimarães e Felisbertino Oliveira se mostraram de acordo com o
projeto. Porém o vereador Hostílio alegou que a “comissão de constituição e redação
não pedira os recursos disponíveis ao prefeito”. Em seguida Antonio Guimarães rebateu
afirmando que o “projeto sendo oriundo do prefeito não havia necessidade destas
informações”. 271 O vereador Antonio Guimarães fez um “apelo ao vereador Hostílio no
sentido da aprovação do projeto” que respondeu condicionando “seu apoio ao projeto se
o prefeito assumisse o compromisso de pagar o que a prefeitura deve a caixa de
aposentadoria e produzisse um aumento para os funcionários do município”. O vereador
Osvaldo Matos disse que Hostílio “estava enganado, visto que o prefeito já havia pago
[sic] uma parte do débito que a prefeitura tem com a Caixa e que a Comissão de
Constituição e Redação havia dado seu parecer no projeto, o qual encaminhado a
Comissão de Finanças” e “esta não deu parecer com referência a compra do Jeep disse
que o pagamento seria feito em prestações mensais não prejudicando a despesa prevista
da prefeitura”. Ainda acrescentou que o prefeito estava tomando providências para
regularizar a situação em que encontrava na Câmara com “pagamentos atrasados de
fornecimento de luz, caixa de aposentadoria e outras despesas”. O projeto foi aprovado
por unanimidade dos presentes como registra a ata, apesar de todos os questionamentos
de Hostílio Dias ele voltou a favor. 272
270
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.14/ 08/ 1959.
271
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.21/08/1959, p.192.
272
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.21/08/1959, p.193.
135
273
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.24/08/1959, p.203.
274
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.21/08/1959, p.189.
275
Seria importante consultar a referida Lei para saber sobre as interpretações que cada um estava fazendo
da mesma. Infelizmente não tivemos acesso.
276
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.24/08/1959, p.198.
277
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 24/07/1959 e 24/08/1959.
136
economia e Araújo Batista 278 frisando que por causa da Petrobras as estradas e fazendas
estariam se estragando e sugerindo que se firmasse acordos com a empresa na defesa
dos interesses do município. Também o vereador empossado Filadelfo Neves 279
apontou o estado precário das estradas e sugeriu que a fábrica de fertilizantes fosse
instalada onde estava jorrando o petróleo. 280
Até aqui, as atas das sessões da Câmara analisadas demonstraram que havia
uma tensão de ideias que muitas vezes era instaurada por um jogo político em que cada
um buscava a melhor performance de sua atuação e disputava visibilidade e eleitores.
Observamos que em alguns episódios o ponto de desagregação partia do vereador
Hostílio com suas afirmações minuciosas, intensas e repetitivas, mas é importante
destacar que essa aparente reincidência com os mesmos questionamentos se dava
porque as diversas solicitações ou observações feitas por ele, não eram atendidas ou
valorizadas, aparentemente buscando desacreditar a imagem do vereador Hostílio ou
minar suas forças. Em contrapartida, ele buscava desarticular seus opositores e como
forma de retaliação questionava e problematizava questões que aparentemente não
precisariam criar demorados questionamentos ainda que fossem legítimos. E aqui
percebemos que a harmonia que alguns vereadores diziam que existia era só uma
retórica e um apelo para se destacar como aquele que não provocava confusão, mas
todos se provocavam.
Um assunto que ganhou atenção na sessão do dia 4 de setembro de 1959 foi
sobre o aumento da carne verde e vários vereadores se manifestaram sobre esse assunto
como Hostílio Dias, que considerou “sem cabimento” o aumento praticado. O vereador
Felisbertino de Oliveira afirmou que a “competência da câmara era no sentindo de
colaboração e não ordenar o aumento ou proibir”. 281 Araújo Batista foi contrário ao
aumento da carne e estava de acordo com a comissão para negociar com as autoridades
em Salvador. O vereador Romualdo Campos fez críticas sobre a comissão de vereadores
formada para ir a Salvador resolver a questão, considerá-la inútil tornando o “assunto
político, dando margem a demagogia”. 282
O assunto do aumento do preço da carne voltou a pauta e o vereador Antonio
Guimarães criticou a atitude do prefeito em ter autorizado o aumento do produto antes
278
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.14/08/1959.
279
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.24/08/1959.
280
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.28/08/1959.
281
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.04/09/1959, p.217.
282
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.04/09/1959, p.219.
137
do regresso da comissão que foi à Salvador para buscar reverter a situação. Acrescentou
que “o Presidente da COAP aplaudiria o ponto de vista de liberar o mercado da carne e
queria nesta hora homenagear a Roosevelt Góes[empresário do abate da carne] que
vinha prestar o seu apoio no momento”. O vereador Neves aparteando afirmou que o
“prefeito aguardava que Sr. Roosevelt Góes lhe endereçasse um documento hábil
propondo o negócio do abate de gado pois não seria possível atender a uma nota
divulgada na rua”. Novamente aparteando o vereador Filadelfo Neves falou “que não lia
no alcorão do prefeito, porém sabia que ele não tivera intuito de desconsiderar a Câmara
e sim para não deixar o povo na falta de carne”. O vereador Guimarães disse que
“estava fazendo uma advertência e falava como vereador pois desejava dar este
desabafo para que amanhã não acontecesse o pior e reafirma que o Prefeito precisava
acatar melhor esta casa” e citou como exemplo o “Presidente da Câmara que acatava
sempre a opinião da maioria”. Os vereadores Antonio Mutti, Filadelfo Neves e
Romualdo Campos se colocaram em defesa da atitude do Prefeito. 283
O Alagoinhas Jornal de 30 de setembro de 1959, fez uma grande reportagem
sobre o tema do aumento da carne. Com o título: O Povo foi esbulhado, a matéria inicia
dizendo que “mais uma vez o povo foi imolado pela pressa daquele que cumpria estar
do seu lado- O Prefeito- Uma vez que satisfez a voracidade de maiores lucros de seus
correligionários”. A reportagem também voltou ao período eleitoral fazendo insinuações
de um possível atentado afirmando que era “hora de retribuir com gratidão, à custa do
suor do povo, aquele trabalho realizado na madrugada de 3 de outubro” afirmando que
“elementos a mando de terceiro cortaram pneus de carros e furaram radiador de um
caminhão de políticos adversários que confiaram numa disputa limpa no pleito então
realizado” e que “a máquina dessa marmelaria administrativa está bem ajustada”, o
jornal prosseguiu informando que “serão narrados episódios e fatos lamentáveis nos
quais estão envolvidas pessoas tidas em nosso meio como de ilibada reputação
moral”. 284
A reportagem segue revelando alguns nomes e afirmando que “vereadores
como Zezito de Aramari[José Araújo Batista] e Romualdo Pessoa Campos, dois líderes
das classes menos favorecidas não souberam corresponder a confiança dos seus
representados colocando-se, prontamente, ao lado dos aumentistas” não aguardando “o
pronunciamento de estudos em andamento”. O Jornal segue expondo a suposta trama
283
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.11/09/1959, p.227-238.
284
O Povo foi esbulhado. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 27. 30/09/1959, p.2.
138
que envolvia a questão da carne afirmando que José Azi havia concedido o aumento
sem antes esperar a volta da comissão composta pelos Vereadores Antonio Guimarães,
José Batista, João Ramos, Romualdo Pessoa, Hostílio Dias, e do seu representante
Nilton Maia que foram a Salvador buscar “entendimentos com a COAP e autoridades
estaduais”, o jornal prossegue dizendo que foi uma “desconsideração a Câmara”. A
reportagem passa a fazer elogios ao vereador Antonio Guimarães ressaltando a sua
“atuação desassombrada e viril” e fez uma denúncia apontando que os microfones
foram desligados por três vezes quando ele discursava, afirmando que tal atitude foi
para que as verdades não fossem ouvidas pelo público. 285
O Alagoinhas Jornal também trouxe um dos discursos do Vereador Antonio
Guimarães, que iniciou dizendo que lamentava os acirramentos e que o Prefeito estava
acostumado aos elogios e por isso estranhou as críticas que foram feitas sobre o preço
da carne. Prosseguiu afirmando que o Prefeito teria acusado os vereadores que
defenderam o direito da população de “minoria inconformada, demagogos, agitadores e
comunistas”. Acrescentou ainda que o Prefeito veiculou uma nota oficial no serviço de
alto-falantes “advertido a população contra representantes do povo”, embora o vereador
Antonio Guimarães afirmou que o Prefeito havia sido “convidado e não teve coragem
de comparecer para debater um problema que afligia esse povo”. 286
A empresa de carne também se posicionou em reportagem para o jornal,
afirmando que não havia cogitado o aumento do preço com o valor de Cr.$ 15,00, mas
diante da circulação do panfleto com esse valor, forçou a empresa a entregar ao Prefeito
as bancas do mercado para outros abatedores que se dispusessem a entrar no mercado e
fez críticas a “políticos de mentalidade doentia que na sua demagogia devastadora não
se importam que o povo sofra as consequências de seus atos”. 287
O Jornal também informou sobre as conclusões e solicitações que chegaram a
mesa redonda presidida pelo Meritíssimo Sr. Juiz da comarca, acompanhado pelos srs.
Cte. do batalhão e Delegado regional, solicitando que a venda da carne fosse colocada
nas bancas do Mercado Municipal e em concorrência, e que essas bancas fossem
entregues aos abatedores com melhor preço e condições e quem vencesse a
concorrência se responsabilizaria por aumentar o preço do gado em proporção igual ao
gado de pé com comprovação oficial. E que se fizesse uma comissão para o exame da
285
O Povo foi esbulhado. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 27. 30/09/1959, p.2.
286
O Povo foi esbulhado. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 27. 30/09/1959, p.2.
287
O Povo foi esbulhado. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 27. 30/09/1959, p.2.
139
288
O Povo foi esbulhado. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 27. 30/09/1959. p.2.
289
O Povo foi esbulhado. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 27. 30/09/1959 p. extra.
290
O Povo foi esbulhado. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 27. 30/09/1959 p. extra.
140
291
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: O anticomunismo no Brasil
(1917-19640).Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia, letras e ciências Humanas da
USP. 2000.
292
ISSO é desonestidade. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas, Ano 2, nº 27. 30/09/1959, p.2.
293
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.26/10/1959, p.6.
141
294
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão .06/11/1959. p.17.
295
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.13/11/1959.
142
Campos pediu uma “tolerância a respeito, pois o Senador Jarbas Maranhão” estava
interessado no assunto. Em aparte o vereador Antônio Mutti, afirmou que não achava
razoável o protesto, pois os “particulares não podem interferir nas sessões das
comissões”. O vereador Hostílio insistiu “no seu ponto de vista afirmando que os
funcionários podiam até emitir opiniões na elaboração das leis.” 296 Novamente um
impasse de ideias, atitudes e interpretações, mas o que fica visível é que os discursos e
ações do vereador Hostílio era no sentido de lutar por direitos e melhorias dos
trabalhadores, embora saibamos também que a Câmara era um espaço de visibilidade e
palco político perante a população durante o mandato.
O assunto da Caixa de Aposentados seguia ainda sem resolução e o vereador
Aurelino Mascarenhas fez um protesto sobre o assunto. Sr. Hostílio apresentou emenda
ao “projeto nº44 do orçamento e mais um projeto de Lei concedendo abono de Natal aos
funcionários”. O vereador João Ramos falou do veto realizado pelo prefeito
correspondente ao “auxílio para os menores a título de salário família quando o
progenitor dos membros não era funcionário da prefeitura”. O vereador João Ramos fez
uma revelação dizendo “ que será coerente enquanto permanecer nesta Casa afirmando
que não faria como outros vereadores que antes de virem para a sessão iam ouvir o
Prefeito sobre o que deveriam apresentar”. O vereador Araújo Batista aparteou
“defendendo-se das alegações do vereador João Ramos” e o vereador Romualdo
Campos lamentou a “desconsideração do vereador João Ramos a sua pessoa”. 297 As
alegações não foram confirmadas com provas, mas também não é de duvidar desses
acordos escusos na política e considerando que dentre os dozes vereadores a maioria se
posicionava em fazer frequentes elogios a figura do Prefeito, passando a mudar um
pouco essa postura nos meses finais desse primeiro ano de governo, visto que não cabia
mais se defender com o argumento de que encontrou muitas dívidas da gestão passada e
sim começar a praticar as propostas da campanha eleitoral.
Os posicionamentos em relação às questões nacionais também apareciam entre
os debates na Câmara, dentre eles o vereador Hostílio lançou uma Moção sobre
Marechal Henrique Lott, que o definiu como de “atitudes firmes como chefe do exército
e a sua compostura como candidato a presidência da República”. Se referiu também aos
últimos acontecimentos militares e condenou os “autores da intentona malograda,
acentuando que aquele movimento de insurreição” era “nada mais do que o fruto da
296
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 16/11/1959, p.31.
297
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 23/11/1959, p.38.
143
ambição daqueles que se no poder praticariam o pior”. E finalizou fazendo uma crítica
da “simulação que usavam, atirando aos comunistas a culpa de tudo. Sobre o candidato
Jânio Quadros disse que o mesmo não teve a coragem necessária para enfrentar a
situação”. 298
1.2 – 1960: ano da greve dos ferroviários e insatisfações com o descaso das pautas
sociais
As pautas trabalhistas eram diárias nas sessões, porém poucas solucionadas, até
porque muitas não poderiam mesmo ser resolvidas pela Câmara. Muitas solicitações
eram de necessidade imediata que se estendiam sem soluções por longo tempo, como
podemos verificar nesse pedido do vereador “Hostílio apelando ao Prefeito em nome de
Deus para socorrer os servidores municipais as quais estavam passando as maiores
dificuldades em face a elevação diária do custo de vida” 299. Hostílio Dias reclamou por
várias vezes de pedidos que não eram respondidos pelo Prefeito.
A Câmara de vereadores de Alagoinhas recebeu o Deputado Fernando Santana
mediante ao cenário de greve dos ferroviários que se avizinhava por falta da não solução
das demandas da classe. O vereador Hostílio transmitiu as reivindicações dos
ferroviários e leu “farto documentário a respeito do movimento da Classe” e ressaltou
que o “movimento dos ferroviários era de caráter pacífico” e estranhava a “presença de
soldados da polícia nos setores da ferrovia”. Afirmou que recebeu do “governo do
Estado telegrama em que informava que a polícia fora requisitada por autoridades
federais para preservar o patrimônio da União e nunca molestar os ferroviários nas suas
pretensões”. E ainda salientou o “apoio moral recebido da igreja católica desta cidade
através do superior franciscano”. Pediu também “ao presidente para em nome da
Câmara escrever a determinado jornal da capital e ao Presidente da Associação
comercial informando o caráter pacífico do movimento da classe”. 300
Alegou ainda que o deputado federal Fernando Santana “prometeu incorporar-
se aqueles que na Câmara Federal defendem os interesses de Alagoinhas e dos
ferroviários” destacando a “necessidade de uma concepção nova de administração para
Alagoinhas” e falou sobre o “desenvolvimento crescente desta terra e demonstra a
298
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.30/11/1959, p.50.
299
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.25/01/1960, p.78.
300
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.25/01/1960, p.78
144
301
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão, 25/01/1960, p.80.
302
O general “fome” Comanda o Movimento dos ferroviários. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas,
02/02/1960, p.4.
145
303
O general “fome” Comanda o Movimento dos ferroviários. Alagoinhas Jornal, Alagoinhas,
02/02/1960, p.4.
304
É importante registar que nos arquivos da repressão agora disponíveis não localizamos nenhum dossiê
exclusivo sobre o Sr Hostílio. Ele contudo foi citado no dossiê do deputado estadual Diógenes Alves, com
a informação de que ao lado do ferroviário Vitor Santos lideraram a greve de 1960 que mobilizou mais de
dez mil ferroviários.
146
305
Documento referente ao Protocolo pelo qual os ferroviários da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro
S/A, acordam com a diretoria da mesma estrada em fazer cessar a paralização do tráfego e mais
serviços, mediante o estabelecimento de condições e compromissos. Salvador, 28 de fevereiro de 1960.
305
Protocolo pelo qual os ferroviários da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro – Rede Ferroviária
Federal S/A – acordam com a diretoria da mesma Estrada em fazer cessar a paralisação do tráfego e mais
serviços, mediante o estabelecimento de condições e compromissos. Salvador, 28 de fevereiro de 1960.
Agradeço imensamente ao pesquisador Ede Soares por disponibilizar este documento.
306
Protocolo pelo qual os ferroviários da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro – Rede Ferroviária
Federal S/A – acordam com a diretoria da mesma Estrada em fazer cessar a paralisação do tráfego e mais
serviços, mediante o estabelecimento de condições e compromissos. Salvador, 28 de fevereiro de 1960.
Agradeço imensamente ao pesquisador Ede Soares por disponibilizar este documento.
307
MORAIS, Moisés Leal. Urbanização Trabalho e seus interlocutores no Legislativo Municipal:
Alagoinhas-Bahia, 1948-1964. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Campus V, 2011. .
147
310
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão, 06/05/1960.
311
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão, 06/05/1960.
149
que deixava de votar favorável ao mesmo porque o Prefeito fizera aquele projeto para
atrair a sua atenção dele orador pois o beneficiado era seu pai” e o “poder executivo
pensou que lhe era agradável encaminhando a consideração da Câmara, porquanto
outros funcionários estavam nas mesmas condições e o prefeito nada fez para mandar
pagar os adicionais a que os mesmo tem direito”. O vereador Hostílio reforçou
novamente “que mais uma vez estava contra o projeto que tinha por objetivo comprar a
consciência do orador”. O vereador João Ramos disse que em “virtude deste orador
condenar a atitude do projeto só lhe restava nesta oportunidade acompanhar o vereador
Hostílio Dias e pedir aos demais vereadores a solidariedade, votando contra o projeto”.
Hostílio então “declarou que não era contra o projeto”. O projeto foi submetido e o
resultado se configurou com os votos contra de José Lucio, João Ramos, Luiz Rabêlo,
Romualdo Campos, Osvaldo Matos, Thiago Evangelista, Milton Ramos, Araújo Batista
e Hostílio Dias e os votos a favor de Maria de Lurdes e Antonio Guimarães. 312
Como visto o projeto foi negado e nesse episódio é interessante notar que
apesar do vereador Hostílio não ter votado favorável ao projeto por entender que o
Prefeito estaria armando uma cilada, o vereador buscou em seu argumento denunciar a
intenção do Prefeito, mas não o benefício ofertado reforçando que o projeto era legal e
assim transpareceu que ele esperava que seus colegas votassem favorável ao benefício
de direito para o seu pai. Observamos que nesse episódio o vereador saiu prejudicado
porque seu pai deixou de receber algo que era de direito seu e não conseguindo apoio
dos seus colegas, apenas da vereadora Maria de Lurdes e o vereador Antonio Guimarães
que reconheceram a legalidade do projeto e tudo leva a crer que os outros não quiseram
se comprometer ou mesmo buscaram desdenhar dele que afinal votou contra.
Em outra sessão o vereador Hostílio Dias pediu explicações ao presidente
sobre o pedido que ele havia feito ao superintendente da Leste para que o trem expresso
fizesse parada na Estação de São Francisco. Respondendo o Presidente disse que não
tinha informações e só falaria depois da sessão com as informações dadas pela
secretaria. A ata registra que o vereador Hostílio prosseguiu “em linguagem derivante e
desatenciosa a Mesa” acrescentando que ele novamente discursou, referindo-se ao
prefeito sobre o requerimento e o acusando de não ter “honra e dignidade para
responde-lo”. 313 Ao que parece, Hostílio Dias se mostrava incisivo nas ocasiões em
que não era atendido sobre as suas solicitações e cobrava repetidamente nas sessões
312
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.16/05/1960.
313
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.08/06/1960.
150
buscando a concretização de seus pedidos, contudo também fica evidente que havia uma
demora para atender suas solicitações e isso justificava, ao menos em parte, a postura
insistente buscando romper essa barreira.
Ocorreu na sessão do dia 7 de novembro de 1960 uma solicitação dos
vereadores Jose de Araújo Batista e Hostílio Dias pedindo à Mesa para ser oficiado um
convite a Fidel Castro, Primeiro-ministro da República de Cuba, para visitar
Alagoinhas, visto que ele viria ao Brasil, porque havia sido convidado pela turma da
Faculdade de Direito de Goiás para ser paraninfo. O vereador Osvaldo Matos disse que
respeitava a opinião dos seus colegas, porém não sabia a razão para tal convite a não ser
“para conhecer este homem que tem sacrificado patrícios, mandando assassinar
inocentes pelo simples fato de não comungarem com suas ideias” e criticou os
estudantes de Direito, pois mostravam “o desapreço aos nossos homens”. Antonio
Guimarães se posicionou contra e não se justificava convidar um “estrangeiro para ser
paraninfo” e criticou que no requerimento fazia o convite para Fidel Castro se hospedar
na casa do Prefeito e que era melhor solicitar a visita dos Ministros para assim mostrar a
necessidade da cidade. O vereador Araújo Batista justificou esse convite afirmando que
a sua atitude era uma “repulsa ao governo de Juscelino”. O vereador Osvaldo Matos
disse que “ Juscelino no fim do seu governo não merecia censuras e se ele tem defeitos,
entretanto elevou o nome do Brasil em categoria de um povo civilizado e grande
tornando-o conhecido em todos os quadrantes do mundo”. Essa solicitação não foi à
frente e em outra sessão o próprio vereador Araújo Batista solicitou a retirada e
arquivamento desse pedido, assim sendo feito. 314
Os trabalhos legislativos de 1960 seguiam conflituosos e em várias atas
identificamos os registros das críticas do vereador Hostílio sobre a administração
pública que ele julgava que não estava legislando para a população. Em alguns
momentos ele contou com o apoio de José Araújo Batista que se unia para lutar pelas
demandas dos ferroviários e também em alguns episódios o vereador Antonio
Guimarães concordava com o colega. Ainda na mesma sessão ocorreu uma verdadeira
confusão. O vereador Hostílio Dias se mostrou contra uma ação proposta, contudo o
vereador Osvaldo Matos afirmou que “tratava-se da diminuição de uma taxa e não de
um projeto”, Romualdo Campos afirmou que Hostílio estava “infringindo um
regimento” e o que estava em discussão era uma “emenda e não um projeto”. A emenda
314
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.07/11/1960.
151
foi aprovada contra o voto de Hostílio. Foi posto em discussão também um projeto de
lei nº24 que Hostílio Dias se manifestou contra, afirmando que era uma “grande
imoralidade e que o Prefeito estava fazendo demagogia engabelando o povo que a
cidade estava cheia de esmoleres”. O vereador João Ramos disse que as “atitudes
vacilantes do vereador Hostílio, deixava-se penalizado, pois não se pode compreender o
que desejava o vereador” e acrescentou “porquanto se há aumento de impostos ele
combate e quando há redução como houve poucos momentos de 15% para 10% de
adicional também ele se manifestou revoltado”. Contudo, o vereador Antonio
Guimarães fez uma declaração afirmando que o vereador João Ramos já de antemão
teria combinado com Prefeito a redução do imposto adicional e, no entanto vinha
apresentar a emenda na plenária para ficar “o bonzinho”. João Ramos “declarou que
repelia a insinuação do seu colega que o tomava por brincadeira”. 315 E aqui uma
observação que quando era outro vereador que não fosse Hostílio Dias que fizesse uma
crítica a qualquer emenda havia uma resposta mais branda de contrapor a denúncia.
Os dois próximos anos 1961 e 1962, finais dos trabalhos Legislativos foram
permeados por muitos acontecimentos locais e nacionais, debates, conflitos e lutas em
um jogo de disputa de poder e prestígio da figura política.
As pautas discutidas nas sessões desses períodos ainda traziam demandas dos
dois primeiros anos do legislativo, 1959-1960, e que se arrastavam em busca de
soluções e o mais debatido foram os de direitos trabalhistas, contenção de aumentos de
preços dos produtos de primeira necessidade e também denúncias sobre a administração
pública. A carne verde foi o produto que mais sofreu majoração e foi tema presente
assiduamente nas reclamações de alguns vereadores principalmente Hostílio Dias e
Araújo Batista. A eletricidade também teve aumentos e foi amplamente debatida. Outras
solicitações de ordem trabalhistas ainda seguiam sem resolução ou inconclusa, como
por exemplo, o aumento dos guardas municipais que no primeiro ano dos trabalhos
legislativos foram discutidos em virtude de seus baixos salários, assim também as
demandas dos funcionários municipais estiveram quase que diariamente como pautas
nas sessões solicitando aumento de salários, abonos e um estatuto que pudesse assegurar
315
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.07/11/1960, p.313.
152
seus direitos. As demandas dos ferroviários por melhores salários e cumprimento das
leis continuaram presentes nas discussões das sessões. Um ponto de destaque foi a
aprovação do projeto de implantação do serviço de água e esgoto. 316
Para os trabalhos legislativos do ano de 1961 foram definidos a seguinte Mesa,
para presidente Luiz Bastos Rabêlo, primeiro secretário João Ferreira Ramos e segundo
secretório Professora Maria de Lurdes Almeida Veloso. O vereador Hostílio Dias
compôs a Comissão de Educação, saúde e Assistência social. 317A administração do
Prefeito José Azi neste ano se caracterizou mais pelo destaque das denúncias e
insatisfações que eram expostas nas sessões em sua maioria pelo vereador Hostílio que
já fazia oposição e se intensificou, por outro lado, uma maior parte de vereadores
buscava minimizar os ataques, ainda que precisassem fazer uma cobrança, amenizavam
a falta de resolução da administração do prefeito afirmando que ele tinha boa vontade
para buscar soluções. Em um dessas sessões o vereador Hostílio acusou o Prefeito de ter
invadido um terreno e apontou também que havia irregularidades na Petrobras. 318
Diante das muitas incriminações que o vereador Hostílio fez sobre o Prefeito, o
vereador Romualdo Campos disse que o vereador “só sabia falar mal” e até o vereador
Araújo Batista também fez críticas ao vereador Hostílio e disse que “antigamente o
vereador andava em todos os lugares com José Azi e este foi quem mais concorreu para
sua inscrição de candidato a vereador e agora o atacava.” 319
Também em 1961, os vereadores se manifestaram sobre a renúncia do
Presidente Jânio Quadros e, quando estavam em sessão a notícia foi dada pelo vereador
João Ramos que tinha recebido a informação por meio de uma pessoa da emissora
Sociedade da Bahia. O vereador Hostílio sugeriu que a Câmara deveria permanecer em
“sessão permanente” 320 e essa solicitação não aconteceu, passados três dias uma nova
sessão ocorreu e o vereador Hostílio leu o manifesto lançado pelo Marechal Henrique
Lott e fez críticas a dificuldade que estava sendo imposta para que o substituto legal da
presidência assumisse o que era por direito. O vereador Romualdo Campos se
manifestou também dizendo que era seu propósito apresentar indicação sobre o episódio
porém não tinha número legal na sessão e que tinha confiança que seria resolvido dentro
dos “postulados da constituição” e sugeriu que fosse enviado um telegrama ao
316
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 17/02/1962.
317
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 14/04/1961, p.31.
318
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 27/05/1961.
319
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 03/06/1961.
320
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 25/08/1961.
153
321
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 28/08/1961.
322
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.15/09/1961.
323
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 15/09/1961.
154
324
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.06/10/1961. Destacamos que mais
uma vez o espectro comunista aparece nos registros do período. Consultar: MOTA, Rodrigo Patto Sá. Em
guarda contra o perigo vermelho. O anticomunismo no Brasil( 1917- 10960). Tese de doutorado
apresentado à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 2000.
325
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.01/12/1961.
155
326
Hildebrando Ribeiro. História de uma vida. Livro memorialístico. Alagoinhas-Bahia,2011, p.105-146.
327
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.25/05/1962.
328
O vereador Antonio Guimarães havia passado no concurso de dentista da polícia militar e talvez essa
ausência por 15 dias seja por conta disso. Ver: ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata
da sessão. Alagoinhas.06/05/1960.
329
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 02/04/1962.
156
330
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 28/05/ 1962.
331
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.17/09/1962.
157
332
Foi noticiado a morte desse vereador que foi descrita pela ata da sessão do dia 12 de dezembro de 1962,
“como um falecimento trágico”. Ver: ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão.
Ata da Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Alagoinhas, 17/12/1962.
333
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 24/09/1962.
334
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 21/12/1962.
158
335
EM memorável campanha cívica lutará contra grupos econômicos, a corrupção pública e o suborno.
Alagoinhas jornal, Alagoinhas, 23/09/1962.
336
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Resultado eleição 1962 para Deputado Estadual.
159
Outra reflexão que fazemos é como Sr. Hostílio e José Azi foram concorrentes
nas eleições e, em parte, isso pode nos dar um indício da subida de tom nas denúncias
realizadas pelo vereador, não que elas não fossem verdadeiras, até porque durante o
período do mandato a postura de Hostílio foi essa de cobrança e fiscalização. Contudo o
período eleitoral sempre é permeado por conflitos e exposições de erros e qualquer
indício pode se tornar uma arma poderosa para expor o concorrente negativamente
perante a população.
Durante a administração do prefeito José Azi, ele esteve no alvo de denúncias
nas sessões da Câmara de vereadores, sendo acusado de gerir mal o dinheiro público e
beneficiar empresas e seus negócios em detrimento da população. Como vimos, o
aumento abusivo da carne verde que esteve por muitas vezes em pauta nas sessões
durante seu período de gestão e sendo uma marca negativa de sua atuação em função da
sua postura favorável a empresa da carne e não em defesa da população alagoinhense,
embora todos esses fatores não o impediram de ganhar a eleição para deputado estadual.
Faltando dois dias para findar o mandato de Jose Azi, saiu uma reportagem de
primeira capa, no Alagoinhas Jornal, em 5 de abril de 1963, intitulado “vereadores ou
‘velhacos’? ” A notícia inicia explicando que devido à falta de “caráter” e “ineficiência”
da maioria dos vereadores o povo de Alagoinhas de uma forma “zombeteiramente” os
batizaram de “velhacos”. O texto segue afirmando que tinha vereador que recebia
dinheiro do Prefeito para votar em projetos e que Alagoinhas era um município baiano
que tinha um custo de vida muito alto e que “vende-se a carne verde pelo preço que os
monopolizadores do negócio entenderem” e também fez uma crítica ao cinema local,
alegando ser um outro monopólio, afirmando ser caríssimo. Lembrando que só existia
um cinema e o dono era o Prefeito. O jornal chamou atenção para que houvesse
fiscalização e disse que para isso existia a COFAP e COAPES, porém afirmou que em
Alagoinhas nunca teve isso e sentencia afirmando que o Prefeito era o “grande ausente”
na “fiscalização dos preços de gêneros de primeira necessidade para o consumo do
povo”. 337 Pelo Alagoinhas Jornal e também por partes de alguns vereadores como
vimos durante o desenrolar do capítulo a atuação da prefeitura foi de má gerência. Essas
denúncias aparentemente ficavam no campo da acusação e sem provas concretas, talvez
essa hipótese nos abra caminhos para entender sua vitória nas eleições para deputado
estadual não fazendo sentido essas denúncias para a população que o elegeu.
337
VEREADORES ou “velhacos”? Alagoinhas jornal, Alagoinhas, 05/04/1963.
160
Hostílio Dias terminou o mandato sem se reeleger e sua carreira política dentro
do legislativo teve uma pausa só retomada em 1966. Essa experiência de seu segundo
mandato demonstrou sua postura fiel e aguerrida pelas causas trabalhistas, mas também
a confirmação desse político polêmico. E se esse mandato foi concluído sobre uma
normalidade, uma “paz” que se configurou em não ter tido nenhum dano a vida de
ninguém que fizesse parte desse governo, em contrapartida, debaixo desse “manto de
paz”, ocorreram muitos episódios que beiraram a linha tênue da normalidade com
diversos registros de tensões e conflitos.
161
Considerações Finais
momentos de uma voz barulhenta e sem eficácia que desagregava apenas, mas sem
obter resultados objetivos. Essa atitude poderia mesmo ser um recurso de sua tática,
embora quando aconteciam esses momentos era perceptível que ele saia mais
prejudicado em relação aos outros.
Essas ponderações foram percebidas principalmente a partir das atas da
Câmara e entendemos que este é um documento construído para uma finalidade e que
não se registra tudo o que aconteceu porque existe um espaço limitado e também uma
escolha do que destacar. Compreendemos que são conclusões parciais, embora nos
revelem facetas curiosas e ricas da sua personalidade como político.
O Sr. Hostílio tanto nas entrevistas quanto em alguns registros das atas deixou
claro seu total desprendimento partidário no sentindo de que se não estivesse satisfeito
com as ideias e condutas partidárias se desligava do grupo. Ele afirmou em entrevista
que a luta na prática ele era apaixonado e não sairia, mas a de partido não se prenderia
caso por algum motivo quisesse sair.
No final da segunda candidatura em 1962, Hostílio Dias concorreu para
Deputado Estadual pela aliança trabalhista PTB/PR/PL, obteve 746 votos, porém não se
elegeu tendo uma pausa em sua carreira política. Ele ainda teve mais duas experiências
como vereador que não foram trabalhadas nesta dissertação. Ganhou as eleições em
1966 pela MDB, conquistando 593 votos, e nesta legislatura teve seu mandato extinto
em 10 de outubro de 1969 338, com justificativa de ter faltado quatro dias das sessões
extraordinárias, seguindo assim mais um episódio que interrompeu sua atuação. E a
última eleição ganha foi em 1976 339, se elegendo pela ARENA com 525 votos
encerrando sua participação direta na política.
A dissertação precisa finalizar mas, deixamos inúmeras possibilidades para
novos estudos e indagações partindo do período e dos vários atores sociais que
apareceram nesta dissertação e que podem abrir caminhos para novas descobertas e
favorecer mais peças para o conhecimento do passado em uma perspectiva de uma visão
e experiências de uma localidade interiorana que ajuda a entender não só o espaço
analisado como uma história nacional com ramificações mundial, afinal toda história
nacional é uma história de localidades que se cruzam em uma teia social que pulsa com
acontecimentos e transformações produzindo História.
338
ALAGOINHAS. Câmara Municipal de Alagoinhas. Ata da sessão. 10/10/1969.
339
BRASIL.Tribunal Superior Eleitoral. Resultado, eleição Municipal-vereadores de 15 de novembro
de 1976.
165
Arquivos e fontes
Fontes Orais:
-Entrevistas realizadas com Hostílio Ubaldo Ribeira Dias entre 2012 a 2013 a
pesquisadora Tatiane Figueiredo Araujo. Local: Alagoinhas, Bahia, Brasil.
-Entrevista realizada com José Antônio de Lima dia 10/05/2012 a pesquisadora Tatiane
Figueiredo Araujo. Local: Alagoinhas, Bahia, Brasil.
Fontes escritas:
Periódicos:
Online
Referências Bibliográficas
BORGES, Vavy Pacheco. Grandezas e misérias da biografa. In: PINSKY, Carla (org).
Fontes históricas. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2011.
CARR, Edward Hallet. A sociedade e o indivíduo. In: CARR, Edward Hallet. Que é
História? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
167
COSTA, Cléria Botelho da. A escuta do outro: dilemas da interpretação. História Oral,
Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 47-65, jul./dez. 2014.
DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. A vida fora das fábricas – cotidiano operário em
São Paulo(1920-1934). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GOMES, Angela de Castro. (Org.). Escrita de Si, escrita da História. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2004.
168
LUCA, Tania Regina de. A história dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY,
Carla Bassanezi (org.). Fontes Históricas. 2° Ed. São Paulo: Contexto, 2008.
MATOS, Maria Izilda Santos de. Cotidiano e Cultura: história, cidade e trabalho.
Bauru, São Paulo: Edusc, 2002.
RÉMOND, René. Uma história presente. RÉMOND, René (org). Por uma história
política. Tradução Dora Rocha – 2ed. Rio de Janeiro: Editora: FGV, 2003.
SAVAGE, Mike. Classe e História do Trabalho. In: Batalha, Claudio H. M., Silva,
Fernando Teixeira da: FORTES, Alexandre. (orgs). Culturas de Classe: Identidade e
diversidade na formação do operariado. Campinas, SP: Editora da Unicamp,2004.
SILVA, Paulo Santos. Narrar uma cidade: história e historiografia. In: BATISTA,
Eliana Evangelista. Alagoinhas: histórias e historiografia. (org)- Alagoinhas(BA):
Quarteto/ FIGAM, 2015.
170