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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA E ANTROPOLOGIA

LICENCIATURA EM ANTROPOLOGIA

3ᵒ Ano, 1ᵒ semestre, 2020

Cadeira: Método etnográfico

Docente:

Emídio Gune

Discentes:

Celestina Cumbane

Maputo a 20 de Abril de 2022

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1. Antropologia do gabinete”, “Antropologia da varanda” e “Trabalho de campo, com
imersão” (procedimentos metodológicos adoptados no processo de produção de
conhecimento antropológico e inovações e limitações)

1.1. Na antropologia do gabinete procedimentos metodológicos adoptados no processo de


produção de conhecimento antropológico, era informação a respeito dos povos nativos que
provinha de relatos recolhidos por missionários, administradores, viajantes e expedicionários
com preocupações mais próximas ao naturalismo evolucionista. Se mantinha a linha divisória
entre os viajantes e residentes nas terras distantes e os antropólogos de gabinete. Estes
últimos enviavam para os missionários longos questionários que cumpriam a tarefa de um
roteiro para a realização das entrevistas, que após sua realização, eram enviadas de volta para
eles.

A limitação consiste na medida em que naquele momento a profissionalização era incipiente,


a grande maioria dos membros dessas primeiras gerações de pesquisadores provinha de
outras disciplinas; por essa razão, os dados a respeito dos costumes dos povos nativos
ocupavam uma posição secundária nos seus relatórios.

1.2. Na antropologia da varanda vigorou No final do Século XIX, em 1898, já podemos nos
referir à segunda expedição de Haddon ao Estreito de Torres, cujas preocupações centrais
eram etnológicas. Esta expedição foi integrada por uma equipe de cientistas, antropólogos,
biólogos e psicólogos (W.H.R. Rivers, Haddon, Seligman, Ray) com interesses em
antropologia física, antropologia biológica, testes psicólogos e linguísticos. Embora os
interesses dessa segunda expedição fossem antropológicos, o tipo de trabalho de campo
realizado estava longe do que posteriormente viria a ser considerado o moderno método de
trabalho de campo, já que muitas das informações eram recolhidas de segunda mão por
relatos de missionários, comerciantes, empregados do governo; mas um dos avanços nesta
expedição foi a ideia de que esses estudos tinham que ser feitos: de forma intensiva; e em
áreas limitadas.

As limitações consiste na medida em que Essa mesma situação que imperava na antropologia
inglesa no final do Século XIX, à antropologia norte-americana do final daquele século “o
trabalho de campo desenvolvido na América do Norte foi o resultado de uma tradição difusa,
não dirigida, assistemática, individualizada e, frequentemente, as descrições etnográficas da
vida indígena eram realizadas por observadores entusiastas mas não treinados.

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1.3. Quanto a antropologia do trabalho do campo, Malinowski foi considerado aquele
que produziu (e encarnou) a revolução metodológica que significou a passagem da
varanda da missão para o centro da aldeia para assim de alguma forma participar da
vida nativa

O etnógrafo que ele representa é aquele que “busca a objetividade e se esforça por ter uma
visão científica das coisas” Sua figura expressou, com grande ênfase, a direção que o
etnógrafo tem que tomar isolando-se dos brancos e tentando viver somente junto aos nativos,
compartilhar seu cotidiano para observar seus estados de ânimo, em busca da totalidade da
vida social dos nativos. Neste sentido, ele expressa que “as vezes convém que o etnógrafo
deixe de lado a câmara, o caderno e a caneta, e intervenha ele mesmo no que está ocorrendo,
da varanda o malinowski trás mudanças significativas como: 1- ao centro da aldeia 2- da
pergunta à observação participante 3- da representação do grupo para a incorporação da
experiência vivida (MALINOWSKI, 1978, p. 18).

Quanto ao contributo consiste na medida em que com a prescrição malinowskiana de imersão


no curso dos acontecimentos estava-se instaurando uma matriz metodológica: a “observação
participante”. A antropologia se torna pela primeira vez uma atividade ao ar livre, levada,
como diz Malinowski, ‘ao vivo’, em uma ‘natureza imensa, virgem e aberta’. Com o trabalho
do campo desenvolvido pelo Malinowski, a antropologia se torna uma “ciência” da alteridade
que vira as costas ao empreendimento evolucionista de reconstituição das origens da
civilização, e se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura.

Quanto as limitações do trabalho do campo consistiu na medida o grande problema que


Malinowski enfrenta na sua introdução, que é o dilema da etnografia, é o de como convencer
o leitor – como fazer com que sua experiência desperte a mesma experiência no leitor? O
problema é como fazer que sua experiência pessoal, vivida a partir de sua experiência com os
nativos desperte essa experiência no leitor. Ele não tentou fazer uma descrição de experiência
pessoal de campo, mas buscou um fazer consciente para os etnógrafos principiantes das
dificuldades que tinham que enfrentar e assim legitimar o estilo do trabalho de campo.

Por outro lado, O elemento que se insinua no trabalho de campo é o sentimento e a emoção –
os hóspedes não convidados da situação etnográfica. E tudo indica que tal intrusão da
subjetividade e da carga afetiva que vem com ela, dentro da rotina intelectualizada da
pesquisa antropológica, é um dado sistemático da situação

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2. O etnocentrismo é um termo técnico para esta visão das coisas segundo a qual nosso
próprio grupo é o centro de todas as coisas e todos os outros grupos são medidos e avaliados
em relação a ele. Cada grupo alimenta seu próprio orgulho e vaidade, considera-se superior,
exalta suas próprias divindades, olha com desprezo as estrangeiras e projecta valores no
conceito do mesmo. Cada grupo pensa que seus próprios costumes são os únicos válidos e se
ele observa que outros grupos têm outros costumes, encara-os com desdém”

E esta tendência de alguém tomar a própria valores como centro exclusivo de tudo, e de
pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios valores e categorias muitas
vezes dificulta um diálogo intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável aprendizado que
as diversas culturas oferecem, assim limitando a qualidade do conhecimento antropológico.
Por isso é errado, conceitual e eticamente, sustentar argumentos de ordem racial/étnica para
justificar desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso, exploração de certos grupos

4. A crítica que malinowski lança a antropologia evolucionista é a impossibilidade que há de


se traçar leis gerais para todos os povos. Pelo contrário, os estudos antropológicos devem
considerar as culturas na sua individualidade. No entanto, ele demonstrar que não se pode
estudar uma cultura analisando-a do exterior, e ainda menos a distância. Qualquer cultura
deve ser analisada em uma perspectiva sincrônica, a partir unicamente da observação de seus
dados contemporâneos. Contra o evolucionismo voltado para o futuro,

A fim de pensar essa coerência interna, Malinowski elabora uma teoria (o funcionalismo) que
tira seu modelo das ciências da natureza: o indivíduo sente certo número de necessidades, e
cada cultura tem precisamente como função a de satisfazer à sua maneira essas necessidades
fundamentais. Cada uma realiza isso elaborando instituições (econômicas, políticas, jurídicas,
educativas...), fornecendo respostas coletivas, que constituem cada uma a seu modo, soluções
originais que permitem atender a essas necessidades.

Malinowski propõe então o funcionalismo centrado no presente, único intervalo de tempo em


que o antropólogo pode estudar objetivamente as sociedades humanas, ou seja, o pensamento
funcionalista, ao mesmo tempo em que rompe, introduz uma inovação do método de análise
dos fenômenos culturais dentro de determinados agrupamentos humanos. Para tal, não se
apoiavam no estudo histórico, para os funcionalistas, era possível o conhecimento de uma
cultura, sem, necessariamente, dar a conhecer sua história. Disso decorrem as pesquisas de

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campo, onde Malinowski tornou-se um dos representantes funcionalistas que mais atuou no
campo dos estudos antropológicos.

Explicite quais eram os procedimentos metodológicos adoptados por Malinowski.

Os procedimentos adoptados pelo malinowski no começo do trabalho de campo nas Ilhas


Trobriand, Malinowski conta que não foi possível entrar em conversas mais explícitas ou
detalhadas com os nativos, a solução encontrada era coletar dados concretos, e, assim, passou
a fazer um recenseamento da aldeia: anotou genealogias, alguns desenhos, relação dos termos
de parentesco. Porém, isso tudo não era suficiente para entender a verdadeira mentalidade e
comportamento dos nativos, como idéias sobre religião, magia, suas crenças e etc

Quais os aspectos inovadores introduzidos pelo autor comparativamente aos seus


antecessores?
A saída para desvendar o verdadeiro espirito dos nativos, seria através da aplicação
sistemática e paciente de algumas regras de bom senso assim como de princípios científicos.
Os princípios metodológicos podem ser agrupados em três unidades: em primeiro lugar, o
pesquisador deve possuir objetivos genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios
da etnografia moderna. Em segundo lugar, deve o pesquisador assegurar boas condições de
trabalho, o que significa, basicamente, viver mesmo entre os nativos, sem depender de outros
brancos. Finalmente, deve ele aplicar certos métodos especiais de coleta, manipulação e
registro de evidência.

1.1. Explicite os procedimentos metodológicos propostos por Leach.

Os procedimentos metodológicos adoptados pelo Leach, é através de uma análise das


relações de poder e das relações familiares em diferentes sociedades primitivas, o autor
constrói uma teoria antropológica particular, mostrando a interdependência de todas as
dimensões da vida social, portanto ele adopta um método.

1.2. Apresente os aspectos inovadores introduzidos pelo autor comparativamente aos


seus antecessores e as respectivas limitações dos referidos procedimentos.

O aspecto inovador trazidos pelo autor foi de formular uma teoria antropológica particular, ou
seja, uma visão parental dos grupos familiares para compreender o funcionamento das
dimensões ou aspectos económicos, políticos, legais e religiosos de uma sociedade.

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As limitações desta teoria consiste na medida em que as sociedades são diversas e dinâmicas
e nem sempre a teoria pode ter consistência em analisar sociedades complexas em que as
analises partem do particular, ou seja de um grupo de família para compreender as diferentes
dimensões de uma sociedade, portanto a teoria particularista é vaga, a questão é: quantos
grupos familiares o cientista teria que analisar e quanto tempo isso levaria?

2.1. Explicite os procedimentos metodológicos propostos por Geertz:

Os procedimentos metodológicos adoptados pelo Geertz em Bali foi os métodos


Interpretativo (hermenêutica), ele procede com a Etnografia descrevendo e analisando “a
briga de Galos”, estudos anteriores sobre Bali, linguagem, leis, lenda popular, sistema
econômico, religião, sistema de parentesco e organização social. Ele utiliza alguns dados
históricos, tanto em termos do passado (o que ocorria antes da dominação holandesa p.ex.)
quanto em termos do que aconteceu anos depois (“guerra civil” com milhares de mortos em
1965, pp. 320-1); mas seu método jamais poderia ser descrito como histórico, ele estuda a
briga de galo sincronicamente e não diacronicamente.

2.2. Apresente os aspectos inovadores introduzidos pelo autor comparativamente aos


seus antecessores e as respectivas limitações.

O método inovador introduzido pelo Geertz é a interpretação de textos, na qual aqui ele vai
afirmar a briga de galos como um texto, dentre outros textos que formam uma cultura e
afirmar as possibilidades do método interpretativo. Superação das análises das formas
culturais: “dissecar um organismo, diagnosticar um sintoma, decifrar um código ou ordenar
um sistema” postas de lado em benefício de uma análise próxima à “penetração de um texto
literário”; não é um problema de mecânica social e sim de “semântica social

Objetivo do texto para Geertz se toma a briga de galos, ou qualquer outra estrutura simbólica
coletivamente organizada, o antropólogo, cuja preocupação é com a formulação de princípios
sociológicos, não com a promoção ou apreciação de brigas de galos, ou seja, briga de galos
serve para exemplificar possibilidades do método interpretativo: o antropólogo lendo o
conjunto de textos que forma a cultura por cima dos ombros dos nativos então há aqui um
objetivo triplo: fazer uma descrição etnográfica densa da briga de galos, exemplificando um
método interpretativo e fortalecendo a defesa de uma teoria da cultura enquanto um conjunto
de textos

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Quanto as limitações, a primeira consiste na falta de rigor metodológico, os dilemas
epistemológicos da estrutura original, a hermenêutica, deixa a análise cultural vulnerável aos
céticos, que permanecem ‘alérgicos’, como disse Geertz ‘a tudo que seja literário ou inexato’.
Dada a natureza qualitativa da análise cultural, quais são as garantias de controlo de
qualidade oferecidas por Geertz além daquelas de seu próprio talento prodigioso?

A segunda esta na incapacidade da teoria interpretativa de oferecer critérios para a avaliação


de interpretações diferentes ou de paradigmas diferentes coloca um gigantesco obstáculo a
suas pretensões de superioridade teórica. Apesar de suas pretensões fenomenológico-
hermenêuticas, não há, de fato, em ‘Deep Play’ “A briga de galo” nenhuma compreensão dos
nativos sob o ponto de vista dos próprios nativos… Geertz não oferece nenhuma evidência
especificável de suas atribuições de intenção, de sua afirmação de subjetividade e de suas
declarações de experiência. Suas construções de construções parecem não passar de
projeções, ou pelo menos de confusões, de suas ideias, sua objetividade, com relação às do
nativo, ou, para ser mais exato, do nativo imaginado.

A terceira consiste na medida em que a tendência da descrição densa e da semiótica é de


fortalecer o impulso de esconder-se, e de não tentar ligar as coisas. Isso acontece por aquilo
que é uma força analítica a atenção de Geertz à particularidade e o fato de ele voltar-se para a
perspectiva do ator constitui uma fragilidade em termos de síntese. A descrição densa leva a
brilhantes leituras de situações, rituais e instituições, isoladamente.

Não requer que se diga de que maneira os ‘textos culturais’ se relacionam uns com os outros
ou com os processos gerais de transformação econômica e social. A análise cultural de Geertz
é tão estática quanto qualquer estruturalismo.“O tempo é simplesmente outra modalidade de
deslocamento, uma outra forma de alheamento. O significado é descrito, nunca
inferido.“Geertz afirma que ‘o homem é um animal suspenso nas teias de significado que ele
próprio teceu’. As teias, não o ato de tecer; a cultura, não a história; o texto, não o processo
de textualização,são essas as coisas que atraem a atenção de Geetz.

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