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A PERTINÊNCIA DA ETNOGRAFIA EM ESTUDOS DE C OMUNICAÇÃO

Letícia Conceição Martins Cardoso & Márcio Leonardo Monteiro Costa∗

Índice nas formas de consumo e nas relações dos usuários


com a tecnologia contemporânea.
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1 A abordagem etnográfica: quando o Neste contexto societário, o campo da Comu-
contato com outro é indispensável . . . 2 nicação está se convertendo num espaço estraté-
1.1 Trilhas metodológicas da pesquisa et- gico, a partir do qual se podem pensar as relações
nográfica . . . . . . . . . . . . . . . . 3 sociais, bem como os conflitos, as tensões e as con-
1.1.1 Diário e inserção no campo . . . . . 4 tradições que nos constituem.
1.1.2 Observação participante e entrevistas 5
1.1.3 Observação participante e entrevistas 5 Hoje é quase impossível se fazer o estudo de
1.1.4 Observação participante e entrevistas 5 um grupo social sem considerar a relação deste
1.1.5 A escrita . . . . . . . . . . . . . . . 6 segmento com as mídias e outras tecnologias co-
2 Uma nova etnografia? . . . . . . . . . . 6 municacionais, o que vem despertando já há al-
3 Etnografia para a comunicação . . . . . 7 gum tempo o interesse dos cientistas sociais, como
Considerações finais . . . . . . . . . . . . . 8 é o caso do sociólogo Manuel Castells e do antro-
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 pólogo Nèstor Garcia Canclini, que, dentre vários
outros pesquisadores, são referência de pesquisa
no campo da Comunicação.
As sociedades, como as vidas, contêm suas
próprias interpretações. No mesmo movimento interdisciplinar, a Co-
É preciso apenas descobrir o acesso a elas. municação vem tecendo um diálogo com a Antro-
(Clifford Geertz) pologia, compartilhando seus interesses, objetos
de estudo e métodos. Essa aproximação pode ser
constatada desde a experiência da Escola de Chi-
Introdução
cago2 , que, a partir de 1920, despertou o olhar da
COMUNICAÇÃO sempre fez parte de nossa antropologia para os centros urbanos e sua (inevi-
A essência antropológica. Mas, nas socieda-
des contemporâneas, a formação de nossas iden-
tável) relação com os veículos midiáticos. E, como
indica Silveira (2006), especialmente, a partir da
tidades e as relações que estabelecemos com os década de 1980, com os estudos culturais ingleses
outros e com o mundo estão cada vez mais asso- e os estudos latino-americanos da recepção, que
ciadas às tecnologias da informação e da comu- procuram salientar a natureza comunicacional da
nicação. Jenkins (2009) denomina este momento cultura e a natureza cultural da comunicação. Um
de cultura da convergência, um novo modo de re- dos traços que passam a ser compartilhados é jus-
presentar a mente dos consumidores individuais e tamente o método clássico da disciplina antropo-
que pode ser percebido em suas interações sociais, lógica, a etnografia, tema deste trabalho.
∗ Universidade Federal do Maranhão rização do editor e do(s) seu(s) autor(es). O artigo, bem como a
autorização de publicação das imagens, são da exclusiva respon-
c 2018, Letícia Conceição Martins Cardoso & Márcio Leonardo sabilidade do(s) autor(es).
Monteiro Costa. 2 Escola de pesquisas sociológicas fundada nos Estados Uni-

c 2018, Universidade da Beira Interior. dos em 1910 que desenvolveu estudos em comunicação cuja
O conteúdo deste artigo está protegido por Lei. Qualquer forma tendência metodológica aliou pesquisa quantitativa e qualitativa
de reprodução, distribuição, comunicação pública ou transforma- (abordagem etnográfica), visando entender as intereções simbóli-
ção da totalidade ou de parte desta obra carece de expressa auto- cas dos sujeitos no contexto social.
Letícia Conceição Martins Cardoso & Márcio Leonardo Monteiro Costa

O método de pesquisa de campo por excelên- De acordo com Malinowski (1986), as fontes
cia da Antropologia3 tem se mostrado promissor na pesquisa etnográfica têm características confli-
nas pesquisas comunicacionais, especialmente no tantes: são ao mesmo tempo acessíveis, disponí-
que diz respeito aos estudos de recepção. Diante veis, complexas e enganosas. Para ele, isto se ex-
disso, o objetivo deste artigo é tratar a pertinência plica porque as informações não estão armazena-
da abordagem etnográfica enquanto método para das em documentos materiais, mas no comporta-
investigar objetos de comunicação. Para isso, re- mento e na memória dos pesquisados. A meta da
visitamos autores de referência na área, apresen- pesquisa etnográfica seria, então, captar o ponto de
tamos as características deste método de pesquisa vista do nativo. Ou seja, captar “sua relação com a
qualitativo e empírico, seus procedimentos de co- vida, apreender a sua visão do seu mundo. Temos
leta de dados e descrevemos apropriações etnográ- que estudar o homem e devemos estudar o que lhe
ficas bem sucedidas pelo campo da Comunicação. diz respeito mais intimamente, ou seja, a influência
que a vida exerce sobre ele” (Malinowski, 1986, p.
48).
1 A abordagem etnográfica: quando
Assim surge a prática etnográfica no fim do
o contato com outro é indispensável século XIX, rompendo com uma tradição determi-
Tradicionalmente, Franz Boas (1858-1942) e Bro- nista e evolucionista nos estudos das ciências hu-
nislaw Malinowski (1884-1942) são apontados manas e sociais, cujos métodos de pesquisa se ori-
como os fundadores da etnografia (Laplantine, entavam – para garantir a legitimidade científica
2003). Foram esses antropólogos que primeiro ad- – pelas ciências exatas e da natureza (baseadas na
vogaram a necessidade de o pesquisador ir além prova, na “neutralidade”, na “verdade”, no quanti-
de relatos de segunda mão feitos por viajantes e tativo). Um primeiro princípio que se contrapõe às
missionários e efetuar, ele próprio, sua pesquisa noções positivistas então vigentes é que a etnogra-
no campo, dando a esta etapa um valor significa- fia passa a reconhecer as subjetividades do pesqui-
tivo ao constituir parte integrante da pesquisa4 . sador e dos pesquisados como elementos funda-
Desde então, a abordagem etnográfica é conce- mentais da experiência de levantamento de dados,
bida como uma investigação de fenômenos sociais desmontando a ideologia da neutralidade nas ci-
em que o pesquisador participa do contexto pes- ências sociais. Este reconhecimento, como se ob-
quisado com o objetivo de entender os significa- serva, vem se estendendo gradualmente a outras
dos das ações e dos comportamentos dos sujeitos disciplinas e inspirando novas práticas metodoló-
que vivem e se relacionam numa dada sociedade. gicas, a exemplo da história oral, da pesquisa-ação,
Esses significados são expressos na linguagem ou análise hermenêutica, entre outras.
nas próprias ações dos nativos, denominados pe- Em segundo lugar, a etnografia inova (e choca)
los antropólogos de informantes. Em suma, fa- ao introduzir o esforço de estranhamento dos pes-
zer etnografia implica um trabalho de descrição de quisadores em relação ao objeto, num movimento
uma cultura a partir da visão de mundo dos nativos de compreender, aproximando o que está distante
dessa cultura. e tornando familiar o que é estranho. Sobre isso,
3 Cabe aqui uma breve distinção entre Etnografia, Etnologia 4 Franz Boas formulou o conceito de etnocentrismo e a ne-

e Antropologia: Os três termos são muitas vezes empregados em cessidade de se estudar cada cultura singularmente por seus pró-
convergente sentido quando se trata de campos distintos. A defi- prios termos, o que influencia a Antropologia até hoje. A par-
nição de etnografia exige trabalho no próprio terreno, observação tir do estudo dos índios do Peru e da América Central, criticou
direta e a participação do investigador constantemente à procura severamente os determinismos biológicos e geográficos, além da
das melhores vias de acesso. Ela fica ao nível da descrição e visa a crença no evolucionismo cultural, defendendo, a então inédita no-
uma apresentação tão completa quanto possível de um grupo (e de ção de cultura como fruto de um desenvolvimento histórico pe-
uma cultura) cuja extensão restrita parece permitir um apanhado culiar. Para Boas, o objetivo da pesquisa antropológica está em
total. A Etnologia constitui uma segunda etapa. Sem excluir compreender qual sentido os membros de uma cultura atribuem
a observação direta, tende para a síntese e não pode contentar- às suas práticas, ao invés de estabelecer leis gerais (evolucionis-
se unicamente com os materiais recolhidos em primeira mão. É tas). Malinowski, por sua vez, atribui a incoerência da vida pri-
um ramo da Antropologia cultural que faz o estudo comparativo mitiva relatada por antropólogos da época à falha das técnicas de
sistemático da variedade de povos. Já a Antropologia, diz Lèvi- observação. Sua principal contribuição para a Antropologia foi a
Strauss: “tem por objetivo um conhecimento global do homem, formulação de um novo método de investigação de campo, des-
abarcando o que lhe diz respeito em toda a sua extensão histórica crito em obras como o célebre "Argonautas do Pacífico Ociden-
e geográfica; aspirando um conhecimento aplicável ao conjunto tal". Também rejeitou a especulação evolucionista e considerou
do desenvolvimento humano (...) e tendendo a conclusões positi- em sua análise não só a ação, mas também a representação da
vas ou negativas, mas válidas para todas as sociedades humanas, ação, buscando os significados dos fenômenos culturais, a par-
desde a grande cidade moderna, até a mais pequena tribo melané- tir da extensa vivência com o povo Mailu e os nativos das Ilhas
sia”. Ver mais em: Balandier (1977). Trobriand, na Austrália. Ver mais em: Laplantine (2003).

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Beaud e Weber (2007, p.10) dizem que a etnogra- e a observação da realidade ‘nativa’
fia não julga, nem condena em nome de um ponto com a qual se defronta.
de vista “superior”. Este novo modo de pesqui-
sar sociedades consideradas “exóticas” e “primi- De acordo com Oliveira (2000), o trabalho do
tivas” (tribos indígenas isoladas, povos em extin- antropólogo – embora seja necessário admitir que
ção) contribuiu para denunciar a tendência ao etno- não apenas o trabalho do antropólogo – consiste
centrismo nas ciências e para uma nova concepção em realizar três tarefas: olhar, ouvir e escrever.
de cultura, percebida de forma singular e relativi- O autor salienta que é necessário “disciplinar” o
zada, evitando a comparação evolucionista entre olhar e o ouvir, isto é, estas duas primeiras eta-
culturas. Em outras palavras, cada sociedade, cada pas devem ser orientadas por um aporte teórico es-
cultura passa a ser vista com sua importância, com pecífico. O objeto, deste modo, não poderia ser
seu próprio sistema lógico e coerente. apreendido fora de um esquema conceitual de uma
Mas a etnografia não ficou restrita à neces- disciplina. O autor diz que as duas primeiras eta-
sidade de se conhecer as sociedades “exóticas”. pas também não podem ser tomadas como inde-
Como veremos adiante, essa perspectiva metodo- pendentes, mas como complementares. A etapa do
lógica continua atual, na medida em que se adap- escrever seria, então, a da sistematização do que
tada aos problemas comuns do mundo contempo- fora observado. Em suma, a etnografia seria um
râneo. Assim, é um método que se baseia no con- trabalho rigoroso de observação, escuta e descri-
tato intersubjetivo entre o pesquisador e o seu ob- ção.
jeto, seja ele uma tribo indígena do Xingu ou qual- Mas qual a origem da autoridade etnográfica?
quer outro grupo social (os fãs de um cantor pop, Esta é a questão posta por Clifford (2002), em uma
um grupo de bumba-meu-boi, a comunidade de análise sobre o que chama de etnografia profissio-
uma favela do Rio de Janeiro, os vizinhos do nosso nal. Para o autor, a partir da década de 1920, a
bairro, os empresários de multinacional etc), tudo etnografia pode ser pensada como uma descrição
depende do recorte analítico que será feito. cultural baseada na observação participante que
obedeceria a, pelo menos, seis “regras”. Primeiro,
ocorreu a legitimação da persona do pesquisador
1.1 Trilhas metodológicas da
de campo. Entre os padrões normativos a serem
pesquisa etnográfica considerados, temos que “o pesquisador de campo
Ao analisar a prática de pesquisa de Malinowski, deveria viver na aldeia nativa, usar a língua nativa,
Durham (1986) elenca alguns procedimentos- ficar um período de tempo suficiente (mas rara-
chave do antropólogo que ajudam a compreender mente especificado), investigar temas clássicos, e
a abordagem etnográfica e que podem servir como assim por diante” (Clifford, 2002, p. 28). Esta
recomendação para novas pesquisas de campo. profissionalização entra em oposição direta com os
Primeiro, o pesquisador não deveria se conten- escritores como missionários, comerciantes e via-
tar com uma única informação obtida de uma fonte jantes que anteriormente apenas relatavam a vida
ou de um informante, por mais privilegiado que dos observados, sem obediência à cientificidade ou
este pareça ser. Em seguida, seria importante com- neutralidade.
parar as informações obtidas, ou seja, o relato, com O etnógrafo profissional, considerando o
aquilo que se observa diretamente, no comporta- pouco tempo em que iria permanecer no campo,
mento das pessoas em situações específicas. Este poderia “usar” a língua dos nativos, mas não
último passo seria a forma mais coerente de enten- necessariamente precisava dominá-la. A ênfase
der se o comportamento observado está de acordo maior estava no poder da observação. Uma vez
com os comentários feitos sobre estes comporta- que tivesse sido devidamente treinado, o observa-
mentos. dor poderia não apenas registrar, mas explicar a
Sobre este aspecto, Peirano (1995, p. 135-136) cultura de um determinado povo. Estas explica-
aponta que: ções eram mais facilmente alcançadas pelos etnó-
grafos acadêmicos visto que estes faziam uso do
[...] a pesquisa etnográfica é o meio que Clifford (2002, p. 29) chama de “poderosas
pelo qual a teoria antropológica se de- abstrações teóricas”. E já que se tratava de pes-
senvolve e se sofistica quando desafia quisas de curta duração, era importante focar em
os conceitos estabelecidos pelo senso instituições específicas. As partes eram concebi-
comum no confronto entre a teoria das, aponta o autor, como analogias do todo. Por
que o pesquisador leva para o campo último, temos que os todos representados no traba-

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lho dos etnógrafos profissionais eram sincrônicos. Assim, a abordagem etnográfica expõe a com-
Ou seja: “Introduzir uma pesquisa histórica de plexidade das práticas sociais mais comuns dos
longa duração teria complicado e tornado impos- pesquisados, aquelas tão espontâneas que passam
sível a tarefa do novo estilo de trabalho de campo” despercebidas e que se acredita serem “normais”
(Clifford, 2002, p. 30). ou “naturais”, mas foram naturalizadas pela ordem
A crítica do autor concentra-se na ideia de social como práticas econômicas, escolares, cultu-
que tais “regras” teriam servido para validar o que rais, midiáticas, políticas, religiosas.
chama de “etnografia eficiente”, baseada na obser- Para fins didáticos, tomamos como referência a
vação participante científica. Porém, para Clifford sistematização feita por Travancas (2011) e as ori-
(2002, p. 33), a observação participante seria uma entações de Beaud e Weber (2007) sobre as etapas
fórmula para uma espécie de vaivém entre o inte- e os procedimentos do trabalho etnográfico:
rior e o exterior dos acontecimentos: “[...] de um
lado, captando o sentido de ocorrências e gestos 1.1.1 Diário e inserção no campo
específicos, através da empatia; de outro, dá um
passo atrás, para situar esses significados em con- É necessário preparação para a pesquisa etnográ-
textos mais amplos”. Precisa haver, reivindica o fica. O pesquisador precisa se municiar, prover-se
autor, um tratamento dialético entre experiência e com diversos tipos de leituras. De acordo com Be-
interpretação, sob o risco de reduzir a observação aud e Weber (2007), existem quatro razões para
participante numa fórmula paradoxal e enganosa. que o pesquisador faça um trabalho prévio de lei-
Um dos aspectos centrais para a autoridade et- tura antes de ir, de fato, ao campo. Em primeiro lu-
nográfica está na tradução da experiência de pes- gar, as autoras apontam para o conhecimento acu-
quisa em texto. Clifford (2002, p. 41) apresenta a mulado. A leitura evitaria, neste sentido, que er-
questão nos seguintes termos: ros ou preconceitos fossem reproduzidos. Depois,
a leitura teria a função de refinar as questões da
Se muito da escrita etnográfica é pro- pesquisa. A seguir, permitiria que o pesquisador
duzido no campo, a real elaboração tivesse uma visão correta a respeito do campo. E
de uma etnografia é feita em outro lu- por último, que tivesse ideias para a condução da
gar. Os dados constituídos em condi- pesquisa na relação com os pesquisados.
ções discursivas, dialógicas, são apro- Após o levantamento bibliográfico e leitura,
priados apenas através de formas tex- é preciso fazer um diário ou caderno de campo
tualizadas. Os eventos e os encon- (de papel ou digital, podendo-se usar gravadores,
tros da pesquisa se tornam anotações smartphones, tablets etc), em que o pesquisador
de campo. As experiências tornam- registrará as questões sobre o tema e grupo pes-
se narrativas, ocorrências significati- quisado, além de descrever tudo o que observar e
vas ou exemplos. presenciar no campo. Beaud e Weber (2007, p. 67)
Nesta mesma direção aponta Geertz (1989, p. defendem:
10), para quem fazer etnografia é mais que “es- Só o diário de campo transforma uma
tabelecer relações, selecionar informantes, trans- experiência social ordinária em expe-
crever textos, levantar genealogias, mapear cam- riência etnográfica, pois não só resti-
pos, manter um diário, assim por diante”. Segundo tui os fatos marcantes que sua memó-
o autor, essas são técnicas importantes do traba- ria corre o risco de isolar e de des-
lho de campo, mas não são a etnografia propria- contextualizar mas, especialmente, o
mente dita. Para ele, a etnografia é uma “descrição desenrolar cronológico objetivo dos
densa”, resultado de um esforço e um investimento eventos.
intelectual.
Segundo Travancas (2011), a descrição densa O diário ajudará também na explicitação das
é uma interpretação que pretende dar conta das es- nossas das “pré-noções”: na medida em que as
truturas significantes que estão por trás e dentro do anotamos, caminhamos para um processo de rup-
menor gesto humano numa determinada cultura. tura e autoanálise.
Assim, o pesquisador que opta pelo trabalho et- Outro ponto é que o pesquisador deve estar
nográfico deve ultrapassar a descrição superficial preparado para negociar sua inserção no grupo a
dos fatos e compreender como estes são produzi- ser pesquisado, uma vez que é impossível prever as
dos, percebidos, interpretados pelos “nativos” da condições e exigências de acesso, tendo uma “in-
sociedade estudada. finidade de possibilidades e variáveis que na reali-

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dade estão mais relacionadas ao universo pesqui- mulado. A leitura evitaria, neste sentido, que er-
sado que ao método propriamente dito” (Travan- ros ou preconceitos fossem reproduzidos. Depois,
cas, 2011, p. 101). a leitura teria a função de refinar as questões da
pesquisa. A seguir, permitiria que o pesquisador
1.1.2 Observação participante e entrevistas tivesse uma visão correta a respeito do campo. E
por último, que tivesse ideias para a condução da
A etnografia é uma pesquisa de caráter qualitativo, pesquisa na relação com os pesquisados.
que até pode se apropriar de questionários ou da- Após o levantamento bibliográfico e leitura,
dos estatísticos como informações complementa- é preciso fazer um diário ou caderno de campo
res, mas uma vez que o objetivo principal do traba- (de papel ou digital, podendo-se usar gravadores,
lho etnográfico consiste em entender “o ponto de smartphones, tablets etc), em que o pesquisador
vista dos nativos”, o mais importante é observá-los registrará as questões sobre o tema e grupo pes-
e ouvi-los, o que requer paciência e tempo. Assim, quisado, além de descrever tudo o que observar e
na condução da pesquisa, observações e entrevis- presenciar no campo. Beaud e Weber (2007, p. 67)
tas são complementares. Sobre este aspecto, Be- defendem:
aud e Weber (2007, p. 93) afirmam: “[...] uma
observação sem entrevistas arrisca-se a ficar cega Só o diário de campo transforma uma
aos pontos de vista nativos; uma entrevista sem ob- experiência social ordinária em expe-
servações corre o risco de ficar prisioneira de um riência etnográfica, pois não só resti-
discurso descontextualizado”. tui os fatos marcantes que sua memó-
Quanto à observação participante, não há uma ria corre o risco de isolar e de des-
regra ou código rígido de comportamento, mas o contextualizar mas, especialmente, o
pesquisador deve saber observar tendo consciência desenrolar cronológico objetivo dos
de que também é observado e de que sua presença eventos.
pode modificar as atividades cotidianas do grupo.
Ele pode participar e se envolver nas práticas do O diário ajudará também na explicitação das
grupo, sem negligenciar, no entanto, o seu com- nossas das “pré-noções”: na medida em que as
promisso profissional e ético. É preciso ter cui- anotamos, caminhamos para um processo de rup-
dado com o engajamento para não perder o foco tura e autoanálise.
da pesquisa e transformar-se apenas num porta- Outro ponto é que o pesquisador deve estar
voz do grupo. preparado para negociar sua inserção no grupo a
No caso das entrevistas, a preferência é pelas ser pesquisado, uma vez que é impossível prever as
entrevistas abertas e em profundidade, que costu- condições e exigências de acesso, tendo uma “in-
mam ser longas e podem ser realizadas em vários finidade de possibilidades e variáveis que na reali-
encontros, em dias e locais diferentes, para explo- dade estão mais relacionadas ao universo pesqui-
rar novas percepções. Geralmente partem da bio- sado que ao método propriamente dito” (Travan-
grafia do entrevistado e novas questões podem ser cas, 2011, p. 101).
levantadas na ocasião por qualquer uma das partes.
Nelas, o pesquisador pode pedir esclarecimentos, 1.1.4 Observação participante e entrevistas
mostrar contradições, mas sem pressionar ou jul-
gar o informante; seu dever é escutar, pois não está A etnografia é uma pesquisa de caráter qualitativo,
em busca de uma resposta verdadeira ou objetiva. que até pode se apropriar de questionários ou da-
Os silêncios e as lacunas também devem ser con- dos estatísticos como informações complementa-
siderados dados valiosos a serem interpretados. res, mas uma vez que o objetivo principal do traba-
lho etnográfico consiste em entender “o ponto de
1.1.3 Observação participante e entrevistas vista dos nativos”, o mais importante é observá-los
e ouvi-los, o que requer paciência e tempo. Assim,
É necessário preparação para a pesquisa etnográ- na condução da pesquisa, observações e entrevis-
fica. O pesquisador precisa se municiar, prover-se tas são complementares. Sobre este aspecto, Be-
com diversos tipos de leituras. De acordo com Be- aud e Weber (2007, p. 93) afirmam: “[...] uma
aud e Weber (2007), existem quatro razões para observação sem entrevistas arrisca-se a ficar cega
que o pesquisador faça um trabalho prévio de lei- aos pontos de vista nativos; uma entrevista sem ob-
tura antes de ir, de fato, ao campo. Em primeiro lu- servações corre o risco de ficar prisioneira de um
gar, as autoras apontam para o conhecimento acu- discurso descontextualizado”.

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Quanto à observação participante, não há uma 2 Uma nova etnografia?


regra ou código rígido de comportamento, mas o
Numa perspectiva mais atual da pesquisa etnográ-
pesquisador deve saber observar tendo consciência
fica, Flick (2009) argumenta que a etnografia tem
de que também é observado e de que sua presença
sido utilizada em substituição à observação partici-
pode modificar as atividades cotidianas do grupo.
pante. Isto porque visaria não apenas a uma com-
Ele pode participar e se envolver nas práticas do
preensão de eventos e processos sociais a partir de
grupo, sem negligenciar, no entanto, o seu com-
relatos, mas de um ponto de vista interno ao pro-
promisso profissional e ético. É preciso ter cui-
cesso. “A participação prolongada – em vez de en-
dado com o engajamento para não perder o foco
trevistas e observações isoladas – e o uso flexível
da pesquisa e transformar-se apenas num porta-
de diversos métodos (incluindo entrevistas mais ou
voz do grupo.
menos formais ou análise de documentos) caracte-
No caso das entrevistas, a preferência é pelas rizam essa pesquisa” (Flick, 2009, p. 31). Entre-
entrevistas abertas e em profundidade, que costu- vistas e análise de documentos são técnicas de co-
mam ser longas e podem ser realizadas em vários letas de dados que, integradas à pesquisa, fornece-
encontros, em dias e locais diferentes, para explo- riam informações complementares, sugere o autor.
rar novas percepções. Geralmente partem da bio- “Enquanto, no começo, a etnografia estudou cul-
grafia do entrevistado e novas questões podem ser turas remotas em seu caráter de não-familiaridade,
levantadas na ocasião por qualquer uma das partes. a etnografia atual começa sua pesquisa por perto
Nelas, o pesquisador pode pedir esclarecimentos, e quer mostrar determinados aspectos daquilo que
mostrar contradições, mas sem pressionar ou jul- parece familiar a todos nós” (Flick, 2009, p. 215).
gar o informante; seu dever é escutar, pois não está Na perspectiva de Beaud e Weber (2007), exis-
em busca de uma resposta verdadeira ou objetiva. tem muitos sentidos para o que se costuma cha-
Os silêncios e as lacunas também devem ser con- mar de pesquisa de campo. O campo do etnógrafo
siderados dados valiosos a serem interpretados. seria caracterizado pela presença demorada no lo-
cal, estabelecimento de relações de proximidade e
confiança com os pesquisados, escuta atenta e pa-
1.1.5 A escrita ciência para a execução de um trabalho que pode
durar meses ou mesmo anos. Tudo isso para dar
A última etapa do processo é a elaboração do texto,
a palavra àqueles que normalmente seriam negli-
que é escrito para a comunidade acadêmica. “O
genciados no processo de pesquisa. As vantagens
pesquisador não é apenas um transmissor de falas
da utilização desta abordagem são descritas pelas
ouvidas (...), seu papel fundamental é interpretar”,
autoras nos seguintes termos:
ou seja, atribuir sentido a ações, comportamentos,
falas que podem parecer caóticas, obscuras e até A etnografia, graças à imersão do pes-
mesmo naturais. É uma tarefa de desconstrução e quisador no meio pesquisado, recons-
reconstrução da cultura a partir da produção tex- titui as visões da base mais variadas
tual. Evocando as palavras de Geertz (1989, p.7): do que se imagina; permite o cruza-
mento de diversos pontos de vista so-
é como tentar ler (no sentido de bre o objeto, torna mais clara a com-
“construir uma leitura de”) um ma- plexidade de práticas e revela sua den-
nuscrito estranho, desbotado, cheio sidade (Beaud; Weber, 2007, p. 10-
de elipses, incoerências, emendas sus- 11).
peitas e comentários tendenciosos, es-
Para as autoras, a pesquisa etnográfica permi-
critos não com os sinais convencio-
tiria uma mudança completa de ponto de vista, ao
nais do som, mas com exemplos tran-
permitir que questões nas quais se esbarra no co-
sitórios de comportamentos modela-
tidiano sejam realmente vistas. Isto é, o trabalho
dos.
do etnógrafo seria o de descobrir uma história sub-
jacente a fatos considerados banais, naturais e evi-
Neste processo, o trabalho final do antropólogo dentes não somente em sociedades distantes e con-
– seu texto – acaba sendo fruto de muitas vozes: sideradas exóticas.
das vozes nativas, das vozes dos autores com quem A partir da tradição de estudos denominada Es-
dialoga e da sua própria voz, num discurso polifô- cola de Chicago, ainda nos anos 1920, os méto-
nico. dos de observação utilizados para estudar a vida e

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A pertinência da etnografia em estudos de Comunicação

os costumes dos índios da América do Norte pas- unilaterais do processo de urbanização, tendências
sam a ser aplicados de maneira ainda mais efici- uniformizantes que não representavam o efetiva-
ente ao estudo dos costumes, das crenças, das prá- mente vivido pelos habitantes das cidades. Assim,
ticas sociais e das concepções gerais de vida que a etnografia torna-se uma opção para estudos em
permeiam as cidades. Assim, é construído o ca- comunicação que entendem o indivíduo não ape-
minho da Antropologia Urbana, em que o “outro” nas como receptor (depositário de mensagens ou
torna-se o “próximo”5 . número estatístico), mas como sujeito capaz de
Contrapondo-se à sociologia especulativa da uma experiência singular, que traduz sua história
Europa, caracterizada pela abstração para produ- de vida, sendo ao mesmo tempo submetido às for-
ção de sistemas gerais, a Escola de Chicago opta ças de nivelamento e homogeneização do compor-
por realizar pesquisas a partir de “situações con- tamento.
cretas, suscetíveis de ajudá-los a forjar ferramentas
para a análise das atitudes e dos comportamentos” 3 Etnografia para a comunicação
(Mattelart, 1999, p. 30), com enfoque microssoci-
ológico e empírico. Com a popularização dos estudos de etnografia ur-
Assim, de forma pioneira, o grupo de pesqui- bana, cada vez mais a abordagem etnográfica vem
sadores de Chicago toma o meio urbano como seu sendo apropriada pelos estudos em Comunicação.
foco de análise principal, numa abordagem etno- Numa tentativa de sistematizar e compreender os
gráfica. Concentram suas investigações no surgi- usos da etnografia neste Campo, Silveira (2006)
mento de favelas, na proliferação do crime e da vi- realizou um mapeamento das produções acadêmi-
olência, no aumento populacional, entre outros te- cas da área, chegando a identificar vertentes que
mas marcantes no início do século XX. “A cidade incorporam a pesquisa etnográfica7 . São elas:
como ‘laboratório social’, com seus signos de de- a) Etnografia da comunicação urbana: é de-
sorganização, de marginalidade, de aculturação, de senvolvida a partir da Escola de Chicago, tratada
assimilação; a cidade como lugar da ‘mobilidade’” anteriormente, figurando um conjunto de estudos
(Mattelart, 1999, p.30) é o terreno privilegiado de de direcionamento etnográfico dedicados à socia-
observação da Escola. bilidade urbana, à comunicação urbana ou à comu-
Robert Park (1864-1944), experiente jornalista nicação visual urbana. Benjamin, Simmel e Robert
e pesquisador de destaque de Chicago, deu impor- Park são os autores de referência. Não há um foco
tantes contribuições ao campo da Comunicação, midiático mais estrito, mas a comunicação é vista
com o estudo de comunidades de imigrantes na so- como um elemento que integra o social, no espaço
ciedade americana, questionando a função assimi- vivido da cidade. Os estudos de Janice Caiafa re-
ladora dos jornais. Park identifica sua problemá- presentam essa tendência no Brasil;
tica com o conceito de “ecologia humana”6 , em b) A etnografia nos estudos de produção e de
que o nível social/cultural “é assumido pela comu- rotinas produtivas: tem o objetivo de descrever et-
nicação e pelo consenso (ou ordem moral) , cuja nograficamente as lógicas produtivas e as culturas
função é regular a competição, permitindo aos in- profissionais que impactam sobre (e moldam) as
divíduos, desse modo, partilhar uma experiência, ofertas midiáticas, sobretudo a produção jornalís-
vincular-se à sociedade”. (Mattelart, 1999, p. 32). tica. Representantes: Juana Gallego e Gaye Tuch-
A metodologia etnográfica, com monografias de man;
bairro, observação participante, análise das histó- c) Etnografia do consumo e da comunicação:
rias de vida, mostrou-se útil e necessária para Park constitui uma etnografia da indústria cultural, em
nos estudos das interações sociais com a mídia, que o universo descrito é o universo ficcional vi-
construindo uma verdadeira etnografia da comu- vido/performatizado no interior do filme ou da
nicação urbana. tevê. Neste caso, o campo passa a ser o próprio
Mattelart (1999) observa que antes de Park, material midiático. Representante: Everardo Ro-
Cooley (1864-1929) já criticava as interpretações cha.
5 Nos casos em que se abordam grupos culturalmente próxi- ção sistemática do esquema teórico da ecologia vegetal e animal
mos, deve-se buscar produzir a distância que permite a desnatura- ao estudo das comunidades humanas. (Mattelart, 1999, p. 31).
lização dos lugares comuns, ensinam Beaud e Weber (2007). 7 O autor justifica que essas vertentes não são formalizadas
6 Referência ao conceito do biólogo alemão Ernest Haeckel nem organizadas numa corrente de estudo específica, são na ver-
(1859), que define a ecologia como ciência das relações do orga- dade tendências pulverizadas, ainda que aferíveis e localizáveis,
nismo com o ambiente, compreendendo em sentido amplo todas modos ainda difusos de aparição do método etnográfico na Co-
as relações de existência. Além de Park, Spencer e Burgess tam- municação.
bém se apropriam dessa categoria como uma tentativa de implica-

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Letícia Conceição Martins Cardoso & Márcio Leonardo Monteiro Costa

d) Multimeios e documentações etnográficas: pela abordagem etnográfica deve levar em consi-


os trabalhos que, com uma orientação antropoló- deração o objeto sobre o qual repousa o interesse
gica, têm por objeto os mecanismos de registro fo- do pesquisador. Saber que ela não satisfaz toda
tográfico e videográfico e se interessam também sorte de investigações, tendo em vista seu caráter
por arte e multimídia, por fenômenos de represen- necessariamente focal, estreitamente circunscrito,
tação e narrativa do real, por estratégias de docu- experimental, detalhista e descritivo, que exige ne-
mentação. Silveira (2006, p. 29) destaca que “cabe gociação entre pesquisadores e pesquisados. Deve
reconhecer a importância de tal perspectiva, ainda ser evitada por quem visa obter abstrações ou re-
que tais estudos não ocupem o centro (ou o núcleo sultados gerais.
duro) da área, mas justamente o espaço fronteiriço Desta maneira, considerando os usos contem-
ou de trânsito entre Antropologia, Comunicação e porâneos da abordagem etnográfica, concordamos
Arte”. Representam essa tendência Március Freire com Sá (2010, p. 299) quando afirma que a grande
e Etienne Samain; e contribuição da etnografia para os debates comu-
e) Netnografias: usam a etnografia como mé- nicacionais da sociedade contemporânea, conver-
todo empírico para a coleta de dados em pesquisas gente e conectada em redes, é que “passamos da
ligadas à internet, dedicadas ao exame de chats, discussão macrossocial das redes a análises con-
listas de discussão e do espaço interacional da web. cretas nas redes”, consideradas como parte da rea-
O foco são as experiências de sociabilidade da- lidade social.
das na (ou em função da) internet. Esta vertente
vem ganhando destaque nos estudos contemporâ- Referências
neos de recepção. De acordo com Fragoso, Re-
cuero e Amaral (2011, p. 171), a internet e suas Balandier, G. (1977). Etnografia, Etnologia, An-
características permitem um tipo de transformação tropologia, Sociologia, Etnologia e Etnogra-
em relação à abordagem etnográfica na medida em fia. In G. Gurvith (org.), Tratado de Sociolo-
que “[...] o deslocamento, o estranhamento e o ‘ir gia, vol. 1. Martins Fontes: São Paulo.
ao campo’ tão decisivos na formação do olhar in- Beaud, S. & Weber, F. (2007). Guia para a pes-
terpretativo pareciam ter se esvaído frente a uma quisa de campo: produzir e analisar dados
possível dissolução espaço-temporal advinda das etnográficos. Petrópolis: Vozes.
tecnologias de comunicação e informação”. Entre
outros, representam esta vertente Suely Fragoso, Clifford, J. (2002). A experiência etnográfica: an-
Raquel Recuero, Adriana Amaral e Simone Pe- tropologia e literatura no século XX. Rio de
reira de Sá. Janeiro: Editora UFRJ.
Durham, E. R. (1986). Uma nova visão da antro-
Considerações finais pologia. In E. R. Durhan (org.), Bronislaw
Malinowski: Antropologia. São Paulo: Edi-
A abordagem etnográfica é útil para acrescentar, à tora Ática.
análise dos processos comunicativos, as vozes dos
vários sujeitos envolvidos e as mais diversas per- Fígaro, R. (2000). Estudos de recepção para a crí-
cepções. Ao pesquisador, cabe a responsabilidade tica da comunicação. Comunicação & Edu-
de proceder eticamente em relação àqueles a quem cação, (17): 37-42, jan./abr. São Paulo.
observa, preservando, quando for o caso, nomes ou
Flick, U. (2009). Introdução à pesquisa qualita-
qualquer outro dado que leve à identificação do in-
tiva. Porto Alegre: Artmed.
formante. O pesquisador deve apresentar-se como
tal, e precisa planejar bem a sua pesquisa. Cada Fragoso, S.; Recuero, R. & Amaral, A. (2011).
passo deve ser previamente estudado, para que o Métodos de pesquisa para internet. Porto
pesquisador não perca o acesso às suas fontes. E Alegre: Sulina.
considerando a importância dos aspectos não ver-
Geertz, C. (1989). A interpretação das culturas.
bais das respostas dadas às questões das entrevis-
Rio de Janeiro: Zahar Editores.
tas, é fundamental que entrevistador e entrevistado
possam estar cara a cara. Guedes, O. (1998). Os estudos de recepção, etno-
São muitas as possibilidades de aplicação e grafia e globalização. In A. A. C. Rubim, I.
apropriação da etnografia no campo da Comunica- M. G. Bentz & M. J. Pinto, Produção e re-
ção. No entanto, é preciso entender qual a vocação cepção dos sentidos midiáticos. Petrópolis:
desta metodologia. Dito de outra maneira, a opção Vozes.

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A pertinência da etnografia em estudos de Comunicação

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