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METODOLOGIAS ETNOGRÁFICAS DE PESQUISA

EM SAÚDE

Károl Veiga Cabral


Márcio Mariath Belloc
Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira
Ángel Martínez-Hernáez
Martín Correa-Urquiza

1. Introdução
No amplo campo da saúde, muitas metodologias de pesquisa são utilizadas como
forma de conduzir estudos e coletar dados, afim de publicar achados que possam auxiliar
na produção de conhecimento e indagar a realidade em que vivemos, na perspectiva de
produzir saúde ou mesmo para a tomada de decisão na gestão, sobre que modelo de saúde
adotar para produzir mais saúde a população. O presente texto, busca contribuir para a
reflexão sobre a utilização de metodologias etnográficas na construção de pesquisas no
campo da saúde. Neste sentido, abordaremos as noções etnográficas e sua aplicabilidade,
bem como proporemos a discussão de seus aportes na produção de conhecimento no
campo da saúde a partir de exemplos de pesquisas efetuadas em distintos níveis de
complexidade acadêmica. Uma metodologia que pode ser utilizada tanto na graduação
quanto na pós-graduação lato sensu e stricto sensu, e que no campo da saúde se constitui
numa potente ferramenta de abordagem, como veremos, ao encontro das políticas
públicas cidadãs e da relação democrática e libertária de construção do conhecimento.
No caso brasileiro o advento do Sistema Único de Saúde (SUS) implica conceber
saúde como muito mais que um bem estar físico e emocional, como já postulou a
Organização Mundial de Saúde (OMS), pois para o SUS a saúde é um direito de todos e
dever do Estado. Desta forma, pensar modelos explicativos e conduzir investigações
científicas necessariamente implicam na escolha de um método de pesquisa que esteja
em consonância com estes pressupostos, para que o máximo de proveito possa ser tirado
desta relação entre a ferramenta e o campo no qual ela será aplicada.
A contribuição da teoria-metodológica, que se inscreve na dupla tradição da
antropologia e da sociologia, pela via da etnografia, pode nos auxiliar a compreender e
indagar diferentes fenômenos socioculturais, entre eles os do campo da saúde, levando
em conta essencialmente o conhecimento de todos os envolvidos neste processo. Caprara
e Landin (2008) apontam que são inúmeros os exemplos de pesquisas que podem ser
conduzidas com esta metodologia no campo da saúde, envolvendo temas como a
avaliação de programas de Saúde da Família (TRAD et al., 2001), a investigação
epidemiológica (ALMEIDA FILHO et al., s/d), ou mesmo temas bem específicos
delimitados dentro de uma dada sociedade, como a discussão sobre práticas de
transplantes no Japão (LOCK, 1995). Neste texto vamos apresentar a metodologia de
pesquisa da etnografia e seus fundamentos essenciais para condução de pesquisas dentro
da esfera do campo da saúde.

2. O modelo etnográfico
O modelo etnográfico corresponde necessariamente a uma pesquisa de campo, a uma
imersão no local em que a pesquisa será realizada, seja ele um grupo indígena, um serviço
de saúde, um grupo de usuários em situação de rua, ou mesmo um coletivo de mulheres
feministas. Tal modelo tem por vocação dar a palavra a aqueles que normalmente nunca
têm a palavra, os ditos mais humildes, as tribos isoladas, os povos colonizados, classes
dominadas ou grupos tidos como minorias (BEAUD; WEBER, 2014). Desta forma, este
modelo de pesquisa se mantém absolutamente atual e em consonância com as demandas
atuais dos coletivos e movimentos sociais que exigem “nada sobre nós, sem nós!”.
Reivindicam o justo direito de falar em primeira pessoa e com conhecimento de causa
que só os ditos afetados possuem. Este tipo de pesquisa demanda uma presença demorada
no local de investigação, permitindo o estabelecimento de uma relação, de uma
proximidade entre pesquisador e os ditos informantes. É necessário o estabelecimento da
constituição de uma relação de confiança com os atores pesquisados, assim como uma
escuta atenta e interessada por parte de quem pesquisa. O trabalho do investigador pode
se estender por meses ou mesmo anos e exige dedicação e paciência, pois como nos
advertem Beaud e Weber (2014), o campo é um trabalho e não uma passagem, ou uma
visita.
A abordagem etnográfica caracteriza-se fundamentalmente pela observação
sistemática das situações reais no local onde os fenômenos acontecem, possibilitando
uma revisão contínua face aos dados coletados e também facilitando o desenvolvimento
de novos caminhos. Erickson (1992) afirma que, na pesquisa etnográfica, a coleta de
dados e a análise dos mesmos são mutuamente constitutivas; por isso, as diferentes
perspectivas que alimentam a análise etnográfica necessitam ser discutidas, bem como os
processos de observação e a criação de registros de dados sobre os quais o relato se baseia.
Este autor defende a ideia de estudar o discurso no contexto onde ele ocorre, em vez de
se criar situações experimentais falsas, chamando atenção para a importância de se
analisar o contexto social e suas dimensões. Uma ferramenta bastante usada pelo
pesquisador é o diário de campo, no qual vamos encontrar o material acumulado pelo
pesquisador que é registrado, para futura análise e cruzamento com a teoria, assim como
os documentos e dados acumulados sobre o material pesquisado.
O que caracteriza a pesquisa etnográfica e a distingue de outros modelos é aquilo
que a antropologia chama de revolução malinowskiana, ou seja, a recusa de um
antropólogo de gabinete, ou melhor dito, de alguém disposto a terceirizar parte de suas
tarefas. Um etnógrafo não confia a pesquisa a intermediários, ele a realiza do princípio
ao fim, passando por todas as etapas que a imersão no campo demanda. O etnógrafo para
realizar uma pesquisa precisa estar envolvido com a mesma do início ao fim do processo,
construindo o projeto de pesquisa, definindo o objeto, negociando
com seus informantes, indo e vindo do campo, observando e analisando os dados e
testando suas hipóteses para depois publicar os resultados da pesquisa.
Sabemos que a escolha de um método nunca é imparcial ou neutra, pois responde de
antemão a postura ética que rege o pesquisador, suas crenças e sua visão do mundo. Um
método não é melhor que o outro, podemos no máximo dizer que uns são mais adequados
que outros dependendo do tipo de pesquisa que se quer realizar. Para Beaud e Weber
(2014) a pesquisa etnográfica necessita de três condições básicas para ocorrer: que o meio
pesquisado se caracterize por um grau elevado de interconhecimento; que o pesquisador
providencie os meios para uma análise reflexiva de seu próprio trabalho, ou seja, que
ocorra observação e análise e que a mesma seja de longa duração, permitindo assim a
ligação duradoura entre pesquisador e investigados. Sem interconhecimento não existe
campo. É preciso que se estabeleça algum tipo de proximidade, de relação direta entre o
investigador e os informantes, construindo um conhecimento mútuo de alguns dados uns
dos outros, de informações nominais. Todo o meio de interconhecimento é atravessado
por conflitos, disputas verbais, de concorrências, sendo possível estabelecer este tipo de
relação com alguém que nunca havíamos visto antes (ELIAS, 1986). Podemos dizer que
o interconhecimento é o princípio da aliança na pesquisa etnográfica e sua regra de ouro
(BEAUD; WEBER, 2014). Quanto à reflexividade ou autoanálise é fundamental que o
etnógrafo analise o que se passa relacionando sempre com aquilo que ele mesmo produz.
Ele poderá experimentar a surpresa, quando da realização de uma pesquisa em que vive
a desambientação, ou seja, pesquisa o que não conhece, ou mesmo através do
distanciamento em pesquisas em campos familiares ao pesquisador. A pesquisa de longa
duração em campo permite que com a passagem do tempo ocorram os encontros, os
intercâmbios entre pesquisador e informantes.
Importante destacar que, segundo os mesmos autores, a pesquisa etnográfica não se
opõe às pesquisas estatísticas, inclusive podem ser complementares, pois o etnógrafo
pode utilizar da combinação de métodos e diferentes fontes como documentos
preexistentes a sua pesquisa. Neste sentido, a oposição neste tipo de estudo não se
encontra entre pesquisa quantitativa ou qualitativa, mas sim entre pesquisa mecânica e
pesquisa reflexiva. A última supõe uma análise em profundidade. Já Malinowski na sua
monografia seminal (2014) sobre os trobriandeses indicou esta possível
complementariedade ao comentar as três vias do trabalho de campo etnográfico; isto é:
1) o uso do método estatístico para dar conta de dados demográficos, habitacionais etc.,
2) o contato direto com os informantes, por exemplo morando no povoado de estudo, 3)
e a obtenção do un “corpus inscriptionum” da mentalidade nativa (legendas, frases típicas
etc.). De fato, estas três vias estão relacionadas, principalmente e de forma respectiva,
com o tipo de dados do trabalho de campo: a observação de fatos, a observação-
participante como ferramenta para conhecer os comportamentos e
a entrevista para obter as narrativas e depoimentos nativos.
A metodologia etnográfica nos parece uma ferramenta menos contraditória para a
realização de determinadas investigações que procuram establecer vínculos com os
sujeitos, já seja com o objetivo de conhecer as necessidades de saúde de um grupo social
ou para impulsar uma pesquisa e ação participativa Trata-se de buscar, através deste
método, a voz do outro a partir da simetria e da transversalidade que esta modelagem nos
permite. Trata-se de dar voz ao discurso do outro, às pessoas anônimas, que podem ser
chamadas de sujeitos, informantes, investigados etc., mas que na verdade são
protagonistas da história que queremos contar. A etnografia nos permite analisar este
discurso e as práticas, facilitando o conhecimento, que seja mais encontro do que certeza.
Essa é uma das razões que podem ser elencadas para definir o método como apropriado
para conduzir pesquisas em saúde, em particular no Sistema Único de Saúde, uma vez
que este prima pelo protagonismo dos usuários e por diretrizes básicas como
integralidade, universalidade e equidade, todas voltadas à satisfação e ao acesso com
qualidade para o usuário. Costuma-se dizer que o SUS é usuário-centrado justamente por
ser todo pensado como forma de garantir os direitos do usuário.
O modelo etnográfico nos permite a construção de uma demanda trasnversalizada.
Mais do que horizontalizar as relações, que nivelaria todos ao mesmo, o que também
pode se produzir como violência, trata-se de garantir a validade e a singularidade de cada
experiência e o saber e conhecimento produzidos. Construir um relação transversal,
assim, é garantir o comum como um espaço de garantia de exercício da singularidade e
de reconhecimento mutuo, de intersubjectividade. É nesse sentido que a metodologia
etnográfica pode ser um instrumento importante que auxilie a garantir o tão almejado
equilíbrio entre os distintos saberes (profanos ou especialistas), como nos aponta Correa-
Urquiza (2018), que desvele o ponto cego do discurso do sujeito sobre sua própria
história, que nos auxilie na construção de um enfoque holístico, na perspectiva da
integralidade. Que sejamos capazes de observar a globalidade da cultura, que se expressa
a partir de estilos particulares, que ofereça através de seu enfoque antropológico a
possibilidade de não desagregar os grupos com os quais trabalhamos, sendo capazes de
desenvolvermos uma análise que dê conta das múltiplas relações que se estabelecem
nestes coletivos, produzindo assim uma análise crítica dos processos vividos.
A etnografia, enquanto instrumento de análise dialógico, oferece a possibilidade de
nos afastarmos como investigadores ao mesmo tempo em que nos permite novamente a
aproximação do processo, possibilitando incorporar o vivido, e não apenas isso: partir
dele. A noção de observação participante ou participativa auxilia neste movimento
pendular promovendo a oscilação entre o afastamento (observação, análise, experiência
distante) e a proximidade (a experiência próxima e encarnada). Possibilita uma
perspectiva autocrítica e faz com que o pesquisador seja a principal ferramenta de
pesquisa. Não gera modelos nos quais os dados e a análise se fragmentam, como num
processo produtivo industrial. A insistência de outras metodologias na representatividad
da mostra ou nos protocolos e instrumentos de obtenção de dados são no escamotear da
experiência do sujeito como a etnografia é no sujeito vivencial e reflexivo. A ênfase na
longa permanência no território, na contínua reelaboração de hipóteses que iluminem o
famoso “ponto de vista nativo”, na necessidade de que o recopilador dos dados seja
também o analista, e inclusive a presença nas formas de construção da autoridade
etnográfica desse “eu estive ali” que Geertz (1989) fez consciente para todos nós, não são
mais que formas de nos dizer que o enfoque etnográfico toma como base a experiência
do sujeito cognoscente, seu olhar e sua capacidade para recompor analiticamente uma
paisagenm cultural que observa desde uma posição oscilante de extranhamento e
pertença. A etnografia se apresenta como um instrumento de investigação que, como
indica Delgado (2007), permite ao pesquisador aproveitar intensamente sua capacidade
humana de receber impressões sensoriais na tentativa de organizar o pensamento para
enfrentar a tarefa de comunicar o vivido e observado. Tal trabalho exige uma imersão
física e psíquica do investigador na tarefa que desempenha, a qual, assim como a marca
do narrador se apresenta no narrado, terá efeitos sobre a escrita do investigador,
desenhando uma tessitura singular. Um labor investigativo que se aproxima à arte de
narrar descrita e discutida por Benjamin (1936), a faculdade de intercambiar experiências,
essa artesania tão necessária para abordar o declínio e a pobreza da experiência que o
autor já observava no início do século XX.
É certo que não se pode conceber a realidade observada sem levar em conta aquele
que observa, pois o olhar deste e suas análises teóricas determinam a forma como a
realidade será apresentada. Esse reconhecimento leva a um velho problema para a
filosofia acerca da verdade, já que o antropólogo trabalha sobre uma realidade que
também lhe trabalha.
Beaud e Weber (2014), apoiados na obra de Émile Durkheim, apontam para a
necessidade de romper com as pré-noções, desnaturalizar o mundo em que vivemos: “O
melhor método é o desvio pela história, pela gênese das instituições e das normas. Ela
demonstra que todas as coisas do mundo social têm uma história, que nada é ‘como está’,
‘desde toda a eternidade’. A etnografia clássica é uma outra arma para desnaturalizar o
mundo social” (p. 33-35). Esta noção é fundamental pois vai permitir que o pesquisador
indague, questione aquilo que vê, ouve e experimenta, dando-se conta de que muito do
que pensa ou sabe parte de sua concepção do mundo e que é preciso deixar emergir o
olhar do outro, neste caso o grupo pesquisado. Este movimento de outrar-se de verdadeiro
encontro com o outro, rompendo com a lógica de monólogo institucional denunciada por
Martínez-Hernáez (1998), produzirá profundas transformações no pesquisador que já não
saíra o mesmo que entrou neste campo de investigação.

Invertamos o olhar. É preciso aprender a considerar o ‘banal’ como algo que


não é automático, que poderia passar-se de outro jeito, que tem uma história. É
preciso aprender a tornar estranha a trama da vida ordinária. Para isso prestem
atenção aos objetos, aos lugares, aos momentos em que se cristalizam as
relações sociais (BEAUD; WEBER, 2014, p. 36).

Assim podemos dizer que a etnografia não é somente um método de pesquisa, mas
um processo conduzido com sensibilidade reflexiva (GEERTZ, 1989) e que considera a
própria experiência que se estabelece no campo entre pesquisador e pesquisado. É um
modelo no qual a relação social que se estabelece está em jogo a todo o momento no
trabalho desenvolvido. Para Cardoso de Oliveira (2000, p. 24), isto faz com que os
“horizontes semânticos em confronto”, neste caso o do pesquisador e o do pesquisado
abram-se um ao outro, “de maneira a transformar tal confronto em um verdadeiro
encontro etnográfico”. Para esse autor, o trabalho do antropólogo consiste em olhar, ouvir
e escrever, sendo que esse último aspecto não pode ser negligenciado pelo pesquisador.
A respeito da necessidade de desenvolver um método de registro, neste caso o diário de
campo, Cliffort (2002, p. 21) é enfático quando diz que: “A etnografia está, do começo
ao fim, imersa na escrita. Esta escrita inclui, no mínimo, uma tradução da experiência na
forma de texto”. A etnografia contemporânea deixa espaço à subjetividade do etnógrafo,
à utilização de escritas na primeira pessoa, à colocação de considerações auto-reflexivas
do pesquisador e por consequência produz auto-reflexão também entre os membros do
grupo estudado.

3. Pesquisas etnográficas em ato: composições e exemplos


Um exemplo desta característica pode ser verificado no trabalho de conclusão de
curso do aluno Isaque Farias Lisboa (2019), desenvolvido junto à Graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no estado do Rio Grande do Sul,
intitulado “Subjetividade Touchscreeen: rastreando itinerários sexuais em uma rede sócio
técnica para o público gay”, no qual o pesquisador utiliza uma forma específica de
etnografia. Trata-se da netnografia, uma forma especializada de etnografia que utiliza
comunicações mediadas por computador como fonte de dados para chegar à compreensão
e à representação etnográfica de um fenômeno cultural na Internet. Sua abordagem é
adaptada para estudar fóruns, grupos de notícias, blogs, redes sociais etc. Desta maneira,
Lisboa desenvolve uma pesquisa sobre o uso de aplicativos de relacionamentos para o
público gay, procurando compreender e adentrar a este universo de relações. Uma vez
dentro do universo o pesquisador busca verificar até que ponto o tema da Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) é
debatido no espaço do aplicativo, assim como indagar sobre como propor intervenções
de saúde na perspectiva da promoção e prevenção nestes espaços virtuais, já que
atualmente muitas pessoas se conhecem e se relacionam justamente por estes aplicativos.
Interessante destacar que no relato do trabalho o pesquisador conta que ao fazer um perfil
para entrar no aplicativo e desenvolver a pesquisa teve que se inserir realmente no
território investigado. Colocar corpo no personagem pesquisador. Inicialmente havia
criado um perfil sem muitas informações e não conseguiu estabelecer nenhum diálogo,
não foi acessado e nem conseguiu acessar ninguém do aplicativo. Para furar este bloqueio
e desenvolver a pesquisa aumentou os dados, mas ainda sem imagem e as interações
foram mínimas e logo abandonadas. Finalmente criou um perfil completo, com foto, ou
seja, imagem “real”, e finalmente foi adicionado pelos informantes. Só assim pôde se
apresentar, dizer que desenvolvia a pesquisa e obter a cumplicidade e as informações que
tanto almejava. Todo o processo foi importante para o pesquisador em formação
compreender seu papel e a utilização do método.
Um método, um caminho investigativo, que por definição precisa se adaptar ao
território investigado, ao grupo humano a que se dispõe a pesquisar e – no caso das
etnografias no campo da saúde coletiva, ou como tradicionalmente é denominado, no
campo da antropologia médica – às condições sociais, culturais e políticas vinculadas
aos processos de saúde/adoecimento/atenção (MENÉNDEZ, 2009)
Belloc (2011), em seu trabalho intitulado “Homem-sem-história: a narrativa como
criação de cidadania”, utiliza o método de pesquisa etnográfico como forma de dar voz a
uma experiência relacional no contexto da Asociación Socio Cultural Radio Nikosia de
Barcelona, Espanha. Um imersão de 3 anos no campo de investigação no qual a produção
comunicacional e cultural era o dispositivo de construção de cidadania para pessoas com
problemas de saúde mental, um movimento articulado por diagnosticados e não-
diagnosticados. Tal trabalho de pesquisa foi construído a partir da singular inserção como
pesquisador neste campo de pesquisa, compondo uma metodologia etnográfica mista:
história de vida, antibiografia e autoetnografia. Uma composição como resposta
investigativa etnográfica possível ao campo de pesquisa.
Tal campo era o projeto de rádio chamado Nikosia. De sua homônima Nicosia,
capital do Chipre, guarda apenas uma relação metafórica. A cidade chipriota dividida por
uma muralha que separaria origens gregas e turcas, supostos abismos culturais e religiões.
A Nikosia fala de uma muralha e suposta divisão entre normalidade e loucura, do quão
tênue é essa divisão e que na verdade passamos constantemente a um lado e outro dessa
indelimitada fronteira. Nikosia, cidade-metáfora, talvez mais ou tão fantástica quanto as
cidades invisíveis descritas por Marco Polo através da pena de Italo Calvino (1990).
Nikosia, cidade-encontro, cujas edificações são construídas com a matéria-prima da
relação entre pessoas que se unem em torno da luta por direitos humanos, cujas ruas,
bulevares e avenidas, feitas com ladrilhos de cumplicidade, se estendem e se espraiam
como ondas sonoras, sempre em busca de um horizonte de diversidade e liberdade.
Nikosia, cidade-palavra, cujo exercício da reflexão, da narração, do debate e da troca de
experiências torna a simples palavra um dispositivo de ruptura com o instituído e
transforma uma emissora de rádio em uma espécie de ágora contemporânea. Em resumo,
cidade que é criada a partir de um projeto que se chama Rádio Nikosia.
Rádio Nikosia iniciara como projeto no ano de 2003. Martin Correa-Urquiza,
jornalista e antropólogo, com passagem pela Radio LT22 La Colifata de Buenos Aires,
Argentina, idealiza e põe em funcionamento em Barcelona um projeto comunicacional
que se baseia na experiência de pessoas diagnosticadas com problemas de saúde mental.
Se em La Colifata, rádio que emite dentro das dependências do Hospital Psiquiátrico José
T. Borda de Buenos Aires, o projeto tem um claro objetivo clínico, terapêutico, Rádio
Nikosia já parte de um contexto distinto, e sua intervenção primordial, a partir da luta
contra o estigma, tem um caráter claramente político, no sentido dos direitos humanos e
da cidadania. Ainda que se possa considerar a reforma psiquiátrica catalã insuficiente98,
há a presença de diversos dispositivos substitutivos,

98 É preciso ressaltar que a reforma psiquiátrica na Espanha se desenvolveu de


diferentes maneiras, trilhando diversos caminhos, em cada comunidade
autônoma. A Catalunha é um caso específico dentro dessa diversidade.
Para mais informações ver, por exemplo, Ramón García (1995), Josep
Comelles (1988, 2006), Comelles y Martínez-Hernáez (1994), González
Duro (1987).
que difere enormemente do contexto asilar e manicomial ainda presente na citada
instituição portenha. Nesse sentido, o contexto cultural, bem como os desafios presentes
nos modelos de políticas de saúde mental de cada local, vão influenciar na forma e no
estilo de estruturação e execução desses projetos comunicacionais vinculados à saúde
mental.
Além de integrar, participando ativamente da construção e consolidação do projeto
Nikosia como associação, também nos demos conta rapidamente que esse contexto, que
o próprio território investigado, se redobrava sobre a experiência do investigador na
medida em que, como estrangeiro, também passava a recriar sua cidadania com Nikosia.
Neste sentido, era preciso tomar como categoria de análise a própria experiência do
pesquisador participante nikosiano. Eis aí a necessidade de constituição de uma
autoetnografia. Susan DiGiacomo em sua “Autobiografia crítica i teoria antropològica”
de 2004, invocando a própria experiência vivida como categoria analítica, afirma que sua
porta de entrada na antropologia médica foi justamente seu padecimento, sua própria
enfermidade. Ela aponta que teve de vivê-la desde um ponto de vista etnográfico. Essa
antropóloga norte-americana recebeu o diagnóstico de Mal de Hogdkin, quando se
encontrava em terras catalãs, seu campo de investigação doutoral. Sua tese, oriunda da
referida pesquisa, versa sobre a construção de um projeto nacional catalão durante a
época conhecida como Transição, circunscrita ao período de reorganização política
estatal espanhola pós-franquista.
Num primeiro momento, essa postura autoetnográfica permitiu à autora conhecer
melhor a doença de que padecia, tornar sua a experiência nomeada como enfermidade
pelo modelo médico hegemônico (MENÉNDEZ, 2009). Apropriar-se dela para saber
como mover-se, informar-se, e, assim, fazer frente a ela e tomar decisões difíceis
vinculadas ao duro processo de tratamento que viria pela frente. Não obstante, em um
segundo momento, tal postura lhe trouxe outro benefício. A autora relata a recuperação
de um certo sentido de controle por meio desse conhecimento. Algo que se estabelece
como um antídoto potente contra a imobilidade, segundo a mesma, provocada pelo medo.
Tal perspectiva autoetnográfica, como um fio de continuidade com sua vida anterior ao
diagnóstico, permitia superar a ruptura promovida pelo mesmo.
Voltando aos Estados Unidos para começar o tratamento, DiGiacomo (1995)
assevera que seu retorno ao país de origem não foi verdadeiramente sentido como uma
volta à casa. O lugar para onde ia, mais especificamente, era o hospital, onde se sentia
mais estrangeira do que na cidade catalã na qual viveu e trabalhou no período anterior a
essa internação. Relata a autora uma espécie de emigração o prolongado ou periódico no
hospital, onde foi ainda mais forte o sentimento de uma estranha numa terra estranha do
que na Catalunha. Distintas formas de linguagem, organização institucional, estruturas
de autoridade, e crenças compartilhadas fazem destes lugares tão estrangeiros como
qualquer outra cultura desconhecida (DIGIACOMO, 1987, p. 315).
Em sua experiência como pesquisadora em antropologia política em Barcelona,
DiGiacomo desenvolveu ferramentas investigativas a partir de sua implicação no campo.
A autora aponta que necessitou se recriar como catalã para poder se construir como
antropóloga. Ou seja, foi só a partir de implicação no contexto sociopolítico da Catalunha
que pôde investigar a construção da própria identidade catalã. E tais ferramentas
investigativas ajudaram-na a também sobreviver neste outro país estrangeiro que acabava
de conhecer: o hospital, ou melhor, o sistema de saúde, de tratamento, amplamente
dominado pela biomedicina. Ela conta que aprendeu em Barcelona o que necessitava para
cruzar as portas do hospital já como antropóloga e não mais como uma doente de câncer
(DIGIACOMO, 2004, p. 133).
Neste sentido, a autora reivindica uma série de possibilidades quanto à constituição
do saber e do fazer antropológico:

Primer, l’atzar. Segon, el treball des de la pròpia vulnerabilitat i la


identificació amb l’Altre [...]. Tercer, l’experiència viscuda com a categoria
analítica. Quart, la traducció com a pràctica etnogràfica. I cinquè, l’etnografía
com a pràctica de resistència contra el discurs hegemònic (DIGIACOMO,
2004, p. 134)99.

A porta de entrada para essa pesquisa sobre Nikosia foi, então, a própria condição de
estrangeiro do pesquisador. Condição essa que permitiu encontrar o projeto nikosiano e
fez sentir-se à vontade pelos caminhos criados pelo mesmo, tal como o flâneur
poeticamente descrito por Baudelaire (1863) e filosoficamente analisado por Benjamin
(1938), e por essa disposição estar aberto aos acasos que se apresentaram no percurso.
Acasos que proporcionaram o encontro com a história de vida de um diagnosticado
participante do projeto. Utiliza-se assim o dispositivo quando se investiga seus efeitos a
partir também da própria inserção em Rádio Nikosia. Trata-se no caso de uma
reconstrução como nikosiano e pesquisador, contando, narrando com voz própria os
padecimentos, ao mesmo tempo da estruturação de uma investigação e, assim, a partir da
narração nela contida, buscando como DiGiacomo um fio de continuidade frente a uma
ruptura. Participar desse coletivo, como princípio, é deixar de ser aneu logou, é deixar a
privação de falar. Nesse sentido, a postura investigativa sobre o projeto Radio Nikosia,
não poderia partir senão da experiência como pesquisador também como categoria de
análise.
Tal experiência se constitui no encontro com outras experiências de padecimento, no
caso, de problemas de saúde mental, marcadas por um apagamento, um silenciamento,
vinculado ao processo de estigmatização e alienação da loucura, na modalidade de longa
internação, ou mesmo na teurapetização e medicalização da vida, que no citado trabalho
foi identificado por uma colonização da história da pessoa por um diagnóstico-sentença-
psicopatológica que media sua presença no mundo. Uma mediação que inviabiliza
qualquer outro modelo explicativo que não o do diagnóstico biomédico. Um processo
que destitui as pessoas de sua própria história.
Nesse sentido, a singularidade do campo e da situação pesquisada, necessitou da
composição dessa metodologia etnográfica com a antibiografia desenvolvida por
Terradas (1992). Esse antropólogo barcelonês trabalha sobre uma nota de rodapé de um
livro de Engels que trata da condição da classe operária na Inglaterra do século XIX.

99 Tradução livre (Tl): Primeiro, o acaso. Segundo, o trabalho desde a própria


vulnerabilidade e a identificação com o Outro [...]. Terceiro, a experiência
vivida como categoria analítica. Quarto, a tradução como prática
etnográfica. E quinto, a etnografia como prática de resistência contra o
discurso hegemônico.
Northern Star, no. 355, Aug. 31st, 1844, p. 6, cols. 2-5 - inquest on Eliza
Kendall, shirt-maker, aged 19, who committed suicide by jumping into the
Grand Surrey Canal. She and her sister had
‘borrowed a trifle from rent money, and, being unable to make it up, she pawned
some of the shirts intrudes to them to make…’ (reported earlier in the Weekly
Dispatch, no. 2235, August 25th, 1844, p. 399, col. 4.)100 (ENGELS, 1958, p.
239).

Tal nota é um simples recorte da notícia do suicídio de uma jovem operária inglesa,
supõe-se que causado pelas dívidas contraídas para pagar seu aluguel. A notícia
jornalística destacada na nota de Engels dava conta de exemplificar as condições de
semiescravidão nas quais vivia este tipo de subproletariado inglês. Pessoas sempre em
dívida, cuja pequena produção encomendada por um fabricante já estava hipotecada
mesmo antes de estar pronta. Eliza Kendall era uma de muitas pessoas relegadas ao
esquecimento, à marginalidade social. A nota de Engels, chamando a atenção para uma
morte injusta, desnecessária, como efeito de uma atividade exploradora, traz à tona a
possibilidade de acesso a sua experiência. Então como é possível chegar a essa
experiência? Como romper as muralhas do esquecimento relegado a uma pessoa de suas
condições, se nem ao menos ela está presente para poder iniciar uma narração de sua
própria história?

La antibiografía entendida como imposibilidad de reducción al orden biográfico


y al mismo tiempo la necesidad de reconstruir o recordar una vida (como
personaje, símbolo, actuación, etc.) es algo que nos habla con especial veracidad
de la importancia definitiva de una persona para que una civilización posea una
cultura: un sentido social y expresivo de la vida humana. La antibiografía nos
revela el silencio, el vacío y el caos que una civilización ha proyectado sobre
una persona, haciéndola convencionalmente insignificante (TERRADAS,
1992, p. 13).101

Uma antibiografia não descreve a vida de alguém, mas fala-nos sobre a pessoa em
questão, no sentido de refletir sobre o que se produz contra a vida dela, ou seja, o que
está ao seu redor, seu meio social. Assim, uma antibiografia seria “[...] un conjunto de
producciones culturales y actitudes sociales que promueve a personajes y a símbolos o
emblemas a las personas que se tienen por insignificantes.”102 (TERRADAS, 1992, p.
13).

100 Tl: Northern Star, no. 355, 31 de agosto, 1844, p. 6, cols. 2-5 – inquérito
sobre Eliza Kendall, fabricante de camisetas, de 19 anos, que cometeu
suicídio saltando no Grand Surrey Canal. Ela e sua irmã tinham ‘tomado
um empréstimo de pouco de dinheiro para o aluguel, e, sendo incapaz de
pagá-lo, ela penhorou algumas das camisas encomendadas...’ (relatado
anteriormente no Weekly Dispatch, no. 2235, 25 de agosto, 1844, p. 399,
col. 4.)
101 Tl: A antibiografia entendida como impossibilidade de redução à ordem
biográfica e ao mesmo tempo a necessidade de reconstruir ou recordar
uma vida (como personagem, símbolo, atuação etc.) é algo que nos fala
com especial veracidade da importância definitiva de uma pessoa para que
uma civilização possua uma cultura: um sentido social e expressivo da vida
humana. A antibiografia revela-nos o silêncio, o vazio e o caos que uma
civilização projetou sobre uma pessoa, fazendo-a convencionalmente
insignificante.
102 Tl: [...] um conjunto de produções culturais e atitudes sociais que promove a
personagens e a símbolos ou emblemas às pessoas que se têm por
insignificantes.
Terradas reconstrói a vida de Eliza Kendall a partir do contexto sociopolítico em que
ela estava inserida. Traz, assim, à tona a experiência dessa jovem inglesa e, com uma
reconstrução antibiográfica, que parte de uma singela nota de rodapé, coloca-a em
diálogo com a experiência esquecida de outras pessoas antes tão insignificantes quanto
ela, e acaba por desenvolver uma crítica atual sobre os processos de dominação e
exclusão.
Nessa pesquisa sobre Nikosia, a antibiografia se constituiu como forma de recompor
as produções culturais e atitudes sociais que promoviam a insignificância das
experiências de vida envolvidas, seja a da loucura, seja a do estrangeirismo. Neste
sentido, a antibiografia como reconstrução do meio no qual se solidificou o
esquecimento, no qual a pessoa foi jogada na posição de homem-sem-história, é o
impulso inicial de uma narração. É quando uma metodologia de pesquisa se encontra com
o dispositivo libertário investigado que se propõe assumir o lugar do narrador, da
singularidade, e romper com os processos de opressão colonizadores da experiência,
sejam eles supostamente científicos, sejam eles produção do senso comum.
Uma metodologia etnográfica se constitui sempre em íntimo contato com o campo
de pesquisa, com o grupo humano investigado, no caso, com o processo de
saúde/adoecimento/atenção e seus desdobramentos. Sendo assim, deve estruturar suas
ferramentas de acordo com que o campo demandar. Assim, a antibiografia surgiu como
importante estratégia para poder utilizar a autoetnografia e a história de vida. Dois eixos
de recomposição histórica, a do pesquisador e a de seu parceiro nikosiano diagnosticado
por problemas de saúde mental, tendo o projeto radiofônico e a criação da Asociación
Socio Cultural Radio Nikosia como pontos de chegada, de encontro e partida. Trata-se
de recompor esses singulares caminhos que levaram até o projeto nikosiano, que
passaram por colonização da experiência, alienação e estigmas, cada um da sua forma, e,
assim, investigar o dispositivo narrativo presente no projeto nikosiano em sua
potencialidade de criação de cidadania. É a metodologia que se redobra dialeticamente
sobre a forma de intervenção e ação pesquisadas.

4. Considerações
Como tentamos demonstrar neste texto a etnografia é um método de pesquisa que
permite ao pesquisador partir das próprias vivências no campo de investigação, sempre
mantendo a autocrítica e buscando resgatar de forma explicita as narrativas dos
investigados, sua história. Ainda que saibamos que é impossível representar a
complexidade do vivido não devemos nos furtar do intuito de produzir estas marcas,
plasmando os achados em nossos diários de campo e realizando a análise em
profundidade do material pesquisado de forma a compartilhar o vivido transformando-o
em experiência compartilhada. Um modelo no qual o investigador faz parte do processo
a ser analisado.
“De qual realidade fala, de fato, o pesquisador, se não daquela que ele mesmo constrói
na interação circular com os seus objetos” (MELUCCI, 2001, p. 168). Modelo no qual a
incorporação do vivido faz parte do processo a ser analisado. Um modelo dialógico que
permite ao investigador afastar-se e
aproximar-se do material investigado. Segundo Martínez-Hernáez (2010) o método
etnográfico ultrapassou a barreira da antropologia e das ciências sociais e firmou-se como
um instrumento de investigação na saúde. “A razão dessa proliferação é a evidência de
que toda intervenção em saúde pública, que deseje contar com a participação ativa das
populações, deve apoiar-se nos saberes e práticas locais”(MARTÍNEZ-HERNÁEZ,
2010, p. 400). Segundo este autor, o poder dialógico da etnografía não se encontra numa
pseudotecnificação difusa ou em alguma sofisticada gíria técnica, senão que
precisamente na posta em suspenso do posicionamiento especialista para mostrar-se mais
como interrogante que como evidência.
Partindo desta premissa podemos compreender porque esta modelagem de pesquisa
tem sido cada vez mais utilizada no Brasil, pois no modelo do SUS a participação social
é fundamento legal (LEI FEDERAL 8.142/90) que baliza o sistema e como tal valoriza
os saberes de todos os envolvidos, sejam eles gestores, trabalhadores ou usuários.
Inclusive nos conselhos municipais, estaduais e nacional, instâncias oficiais do controle
social, a participação destes atores é paritária, buscando garantir assim a força da
representação dos saberes locais oriundos dos usuários, em pé de igualdade com gestores
e trabalhadores. Saberes historicamente hierarquizados, no controle social
potencialmente tranversalizados.
O mesmo Martínez-Hernáez nos ensina que a etnografia é um modelo de intervenção
dialógica que deve ser multidimensional, bidirecional e basear-se em relações simétricas
e de reciprocidade. Tal dialógica garante a possibilidade de uma interação social sem
mediações, ou seja, direta. É certo que as forças de saber e poder (FOUCAULT, 2013)
seguem atuando nas relações e que manter a horizontalidade das mesmas é um desafio
no campo da saúde, porém, trabalhar na direção de garantia dessa possibilidade já é um
bom indicador do tipo de saúde que desejamos produzir. Da mesma forma, optar por uma
modelagem de pesquisa etnográfica é caminhar nesta direção.

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