A pesquisa qualitativa, em linhas gerais, é descrita nos textos
"Pesquisa qualitativa de serviços de saúde", de Maria Lúcia Magalhães Bosi e Francisco Javier Mercado, bem como em "Métodos Quantitativos e Qualitativos na área da saúde, definições, diferenças e seus objetos de pesquisa", de Egberto Ribeiro Turato. Ambas as descrições buscam detalhar e respaldar esses conceitos, aplicando-os na realidade da área da saúde.
Embora a estrutura da área da saúde ter sido fundamentada por um
longo período pela lógica científica-cultural, a ressignificação dos conceitos de doença e a "humanização" dos serviços prestados contribuíram para uma multidisciplinaridade nesse âmbito, abrangendo as ações do indivíduo (valores, crenças, razões), em conjunto com a antropologia, a sociologia, a história e a psicologia, o que cria um compilado entre profissionais da saúde, usuários e serviços. Esse espaço fornece particularidades, que podem ser exploradas pela pesquisa qualitativa, entendendo não há o processo doença-sujeito, mas também o processo doença-sociedade, experiências subjetivas e socioculturais.
Os antecedentes históricos da pesquisa qualitativa, porém, são
relativamente recentes como ciência. As ciências humanas surgem há cerca de um século, em conflito com as já estruturadas ciências da natureza. É na vertente antropológica que os métodos qualitativos foram instrumentos de pesquisa, com Malinowski, considerado pioneiro no tratamento de dados em experiência de campo. Além disso, Marx e Freud contribuíram para tais estudos, ao disponibilizarem novos pensamentos que visam o entendimento do ser humano.
A pesquisa qualitativa entende-se por uma procura por um
conhecimento acerca de um fato, que pode ser um objeto de estudo ou um problema delimitado. É importante ressaltar que um caso específico não generaliza outros casos, mas há a possibilidade do uso de um método comparativo, que fundamenta-se nas homologias estruturais para articular campos ou diferenças de estado em um mesmo campo.
Assim, a pesquisa qualitativa não possui uma teoria fixa ou
paradigma, com uma abordagem sem metodologia rígida, em discursos narrativas, conteúdos e frequentes participação com o método quantitativo, de modo que a relação entre o sujeito e a sociedade seja dinâmica e independente. Entretanto, pode-se tomar cinco diretrizes norteadoras para elaborar tal pesquisa: a primeira é o interesse do pesquisador pelo significado e a contribuição para o cotidiano, a segunda diz respeito à escolha do campo da pesquisa, que deve ser ambiente natural dos indivíduos estudados, a terceira retrata o observador como o próprio instrumento de pesquisa , ou seja, usando seu sentido e interpretação para com os objetivos de estudos, na quarta constata-se que a credibilidade dos dados coletados, e, finalmente, a quinta retoma o conceito de generalização dos resultados, como cada caso sendo singular.
Em síntese, quando compara-se a pesquisa qualitativa com a
quantitativa, é possível observar que suas diferenças são inicialmente atribuídas a "vertente fundadora", no caso Fenomenologia e Positivismo respectivamente. Além disso, a pesquisa quantitativa busca relações de causa e efeito, com tratamento matemático específico e tabulado, observação afastada e com análise fechada, onde o objeto de estudo transforma-se em um dado estatístico. Em contrapartida, o método qualitativo está imerso ao contexto abordado, interpretando as relações e os fenômenos sociais por observação livre, entrevistas e o diálogo propriamente dito.