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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

TEMA 1
CAPITULO 1 – Uwe Flick

Cada método tem por base uma ideia específica do seu objecto.
Cada método está enraizado no processo de investigação.
A investigação qualitativa é importante para o estudo das relações sociais dada a pluralidade
existente.
O pós-modernismo não exige tanto grandes teorias mas antes narrativas limitadas no tempo e no
espaço e em dada situação.
A rápida mudança social confronta actualmente o investigador com novos contextos sociais e novas
perspectivas.
A investigação recorre cada vez mais a estratégias indutivas ou seja, não parte das teorias mas sim
necessita de trabalhar com conceitos sensibilizadores para abordar um determinado contexto social.
É certo que estes conceitos são influenciados pelo conhecimento teórico existente.
OS LIMITES DA INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA: UM PONTO DE PARTIDA
Princípios orientadores da investigação:
1. Isolar claramente causas e efeitos

2. Operacionalizar as relações teóricas

3. Medir e quantificar os fenómenos.

4. Conceber planos de investigação que permitam a generalização de resultados

5. Formular leis gerais.

A investigação social baseou-se durante muito tempo em inquéritos padronizados que


documentavam e analisavam a frequência e a distribuição dos fenómenos.
As Ciências Sociais têm um nível muito baixo de aplicabilidade pois não são transferidas para a
prática institucional e se o são é de forma parcelar.
Com a investigação qualitativa pode-se atingir a sólida fundamentação empírica destas afirmações
relativas a situações e sujeitos.
TRAÇOS ESSENCIAIS DA INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA
1. Escolha de métodos e teorias apropriados. O critério que determina o objecto de investigação
é a possibilidade de os métodos disponíveis poderem ser utilizados no estudo. Se os estudos
fossem planeados exclusivamente em obediência ao modelo rígido das relações de causa e
efeito, todos os objectos complexos seriam excluídos. A segunda solução é incluir as
condições do contexto nos planos de pesquisa quantitativa e explicar os modelos complexos
nos planos estatísticos e empírico. A terceira solução pode ser a adopção de métodos tão
abertos que se ajustem à complexidade do objecto. Neste caso o objecto é o factor primordial
da escolha do método.

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2. Reconhecimento e análise de diferentes perspectivas

3. A reflexão do investigador sobre a investigação

4. A variedade dos métodos e perspectivas. Para se estudar a diversidade da vida quotidiana os


métodos caracterizam-se pela abertura face aos objectos de estudo. Neste caso o objectivo
não é testar teorias mas criar novas teorias. A validade é estabelecida como referência ao
objecto estudado e não obedece a critérios académicos abstractos. A investigação qualitativa
tem como critérios centrais a fundamentação dos resultados obtidos e uma escolha e
aplicação de métodos adequados ao objecto de estudo.

AS PERSPECTIVAS DOS PARTICIPANTES NA SUA DIVERSIDADE


A investigação qualitativa parte dos significados individuais e sociais do objecto para evidenciar a
diversidade das perspectivas sobre ele. Dito de outro modo, estuda-se as práticas e o saber dos
participantes e analisa-se as interacções sobre o objecto e os modos de o enfrentar num determinado
espaço.
REFLEXÃO DO INVESTIGADOR SOBRE A INVESTIGAÇÃO
Os métodos qualitativos consideram a interacção do investigador com o campo e os seus membros
como parte explícita da produção do saber e consideram-na uma variável interveniente.
A subjectividade do investigador e dos sujeitos fazem parte do processo de investigação
VARIEDADE DE ABORDAGENS E METODOS DA INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA
A prática e a análise da investigação qualitativa caracterizam-se por diversas abordagens teóricas e
respectivos métodos. As opiniões de cada sujeito são o ponto de partida. Depois vem a construção e
o desenvolvimento das interacções e de seguida o processo de reconstrução das estruturas do espaço
social e o significado das práticas.
HISTÓRIA DA INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA
Na psicologia Wundt usou métodos de descrição e compreensão na sua psicologia popular em
simultâneo com métodos experimentais da psicologia geral.
Simultaneamente na sociologia alemã surge a polémica entre a tendência monográfica da ciência e a
perspectiva empírica e estatística.
Até aos anos 40, a espinha dorsal da sociologia americana foram os estudos de caso, os métodos
bibliográficos e os métodos descritivos.
Os anos 60/70 conduziram ao renascimento da investigação qualitativa nas CS e também na
psicologia.
Os desenvolvimentos na Alemanha e EUA acontecem em épocas diferentes e em diferentes fases.
DESENVOLVIMENTO NO ESPAÇO DE LINGUA ALEMÃ
Habermas reconhece as diferenças do debate americano na sociologia. Vários são os estudos
americanos que dão aos alemães textos fundamentais da etnometodologia e do interaccionismo
simbólico. O debate é centrado no objecto da investigação na tentativa de o tratar de uma forma mais
ajustada.

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No final dos anos 70, na Alemanha, acontece um debate amplo sobre a entrevista e as suas
aplicações.
Já nos anos 80, dois métodos originais revelam-se cruciais no impulsionar da entrevista narrativa de
Schuze. Já não são uma importação americana (como a observação participante ou a entrevista
orientada por guião ou a entrevista focalizada).
Estes dois métodos - a entrevista narrativa e a hermenêutica objectiva de Oevermann - são tão
importantes como os resultados que permitiram obter.
Em meados dos anos 80 são as questões de validade e de generalização dos resultados dos métodos
qualitativos que atraem a atenção e discutem-se as questões da apresentação e transparência dos
resultados.
O DEBATE NOS EUA
Considera-se o período tradicional o que vai do inicio do século XX até à II guerra mundial. É a fase
da investigação de Malinowski na etnografia e da escola de Chicago na sociologia. A Investigação
qualitativa estava interessada no estrangeiro, sua descrição e interpretação.
A fase modernista dura até aos anos 70 e é marcada pela tentativa de formalização da investigação
qualitativa.
Até meados dos anos 80 os acontecimentos são marcados pela confusão dos géneros: vários modelos
teóricos e explicações contrapõem uns aos outros ou combinam.
A meio da década de 80, a crise da representação transforma o processo de apresentação do
conhecimento e dos resultados numa componente importante do processo de investigação. Esta
torna-se um processo contínuo de construção de versões da realidade (o investigador faz uma
entrevista e interpreta dados, relata-os: quem lê interpreta de outro modo, o que conduz à emergência
de novas versões do acontecimento). Destaca-se aqui o papel dos interesses particulares.
Assim, a avaliação dos resultados de uma investigação torna-se tema central: são os critérios
tradicionais válidos ou é necessário procurar alternativas na investigação qualitativa?
A situação actual é descrita como o momento em que as narrativas substituíram as teorias ou então
estas são lidas como narrativas. A ênfase coloca-se agora nas narrativas e teorias que se ajustem a
situações e problemas específicos delimitados no espaço. Assim a actualidade liga as questões de
investigação qualitativa às políticas democráticas.
Se compararmos as duas linhas de desenvolvimento:
1. A Alemanha tem uma crescente consolidação metodológica no que respeita a procedimentos
e à prática de investigação

2. Já nos EUA os desenvolvimentos são caracterizados pela tendência a questionar de novo ou


mais fundo as certezas que os diferentes métodos oferecem. Têm relevo a apresentação no
processo de pesquisa, a crise de representação, a relatividade do material apresentado,
relegando para 2º plano os métodos. A investigação qualitativa está baseada na abertura e na
reflexão do investigador.

A INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA NOS FINAIS DA MODERNIDADE TEM 4


TENDENCIAS:

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1. O regresso à oralidade que se exprime na tendência a formular teorias e na realização de


estudos empíricos.

2. Regresso ao particular embutido na formulação de teorias e na condução de estudos


empíricos orientados não para questões universais mas sim para tipos específicos de
situações.

3. Regresso ao local, no retomar do estudo de sistemas de conhecimento, práticas e experiências


sem procurar validades universais.

4. O regresso ao conceito de oportunidade que se encontra nos problemas estudados e nas


soluções a propor, num contexto histórico e temporal onde os descreve e explica.

TEMA 2
Capitulo 2 Uwe Flick_Pag 17/28

POSIÇÕES TEORICAS
Perspectivas de investigação no campo da investigação qualitativa
As diferentes perspectivas de investigação são diferentes nas hipóteses teóricas, no modo de entender
o objecto e na perspectiva metodológica. São 3 perspectivas:
● Interaccionismo simbólico

● Etnometodologia

● Posições estruturalistas ou psicanalistas.

INTERACCIONISMO SIMBÓLICO: O SIGNIFICADO SUBJECTIVO


No interaccionismo o ponto de partida é o significado que os sujeitos atribuem às suas actividades e
contextos.
Blumer foca o processo de interacção, baseando-se no seu conceito para acentuar o carácter
simbólico das acções sociais.
Representa as ideias da escola de Chicago.
HIPOTESES FUNDAMENTAIS
Blumer resumiu os fundamentos do interaccionismo em 3 hipóteses simples:
1. Os sujeitos agem em relação às coisas com base no significado que elas têm para eles.

2. Este significado resulta da interacção social entre o sujeito e os outros.

3. Os significados são modificados por um processo interpretativo que o sujeito utiliza para
lidar com tudo o que encontra.

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Logo, o centro da investigação são as diferentes formas de o indivíduo dar significado aos objectos,
experiências, acontecimentos, etc. A reconstituição destes pontos de vista subjectivos é os
instrumentos da análise das realidades sociais.
Outra hipótese central está no Teorema de Thomas que nos diz que quando uma pessoa define uma
situação como real, ela torna-se real nos seus efeitos. Este é um princípio fundamental do
interacionismo simbólico que leva o investigador a olhar o mundo pelo ângulo do sujeito estudado.
DESENVOLVIMENTOS RECENTES NA SOCIOLOGIA: INTERACCIONISMO
INTERPRETATIVO
Denzin, parte do interacionismo simbólico mas integra correntes mais actuais para desenvolver a sua
perspectiva. Esta perspectiva é delimitada por Denzin em dois aspectos: ´
1. Só deve ser seguida quando o investigador examina a relação entre os problemas pessoais e
as politicas criadas para enfrentar esses problemas.

2. Define que os processos estudados têm de ser entendidos num plano biográfico e
interpretados por esse ângulo.

DESENVOLVIMENTOS RECENTES NA PSICOLOGIA: AS TEORIAS SUBJECTIVAS


COMO PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO
O ponto de partida é a ideia de que os sujeitos no dia-a-dia elaboram teorias sobre a sua própria
acção e sobre o comportamento das coisas. Testam as teorias nas actividades, revendo-as se
necessário. Nestas teorias, as hipóteses são organizadas de forma independente, com uma estrutura
de raciocínio.
Este tipo de investigação reconstitui as teorias subjectivas, da forma mais aproximada possível do
ponto de vista do sujeito.
A investigação qualitativa é moldada pelo ponto de vista dos sujeitos e dos significados que atribuem
às experiências e acontecimentos.
Esta abordagem utiliza essencialmente diferentes formas de entrevista e observação participante.
A ETNOMETODOLOGIA: A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL
Garfinkel fundou a etnometodologia. Esta questiona o modo como as pessoas produzem a realidade
social nos seus processos de interacção. A grande preocupação é o estudo dos métodos utilizados por
elas para a produção da realidade quotidiana.
Os estudos etnometodológicos analisam as actividades quotidianas como métodos com que os
membros da sociedade tornam estas actividades racionais.
O interesse nas actividades do dia-a-dia e a sua execução caracteriza o programa de pesquisa da
etnometodologia. Tem-se centrado na análise de conversas.
Hipóteses de base
Heritage condensa as premissas da etnometodologia em 3 hipóteses básicas:
1. As interacções organizam-se em estruturas

2. As interacções são moldadas pelo contexto que também o renovam.

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3. As duas propriedades são inerentes pelo que nenhum pormenor pode ser a priori desprezado.

Estas hipóteses têm dois pontos fundamentais:


● A ideia de que a interacção é produzida de modo ordenado

● A ideia de que o seu contexto é produzido ao mesmo tempo que a interacção e através
dela.

Decidir o que é relevante na interacção social é feito pela analise dessa interacção e nunca tomada
como certa a priori. O foco é colocado no modo como a interacção se organiza. A investigação é
assim o estudo das rotinas da vida quotidiana, acontecimentos percebidos e investidos de significado.
Não interessa a definição a priori da situação mas sim o modo como a situação se constitui.
Desenvolvimentos recentes da etnometodologia nas Ciências Sociais: estudos do trabalho
A partir de 1980 criou-se um segundo eixo de investigação: a análise dos processos de trabalho. São
estudados em sentido amplo no contexto de trabalho. O objectivo amplia-se: das interacções até à
preocupação com o conhecimento materializado daquelas praticas e resultados.
Desenvolvimentos recentes na psicologia: psicologia do discurso
É na psicologia social britânica que se desenvolve a psicologia do discurso. Os fenómenos
psicológicos são estudados pela análise dos discursos:
● Os discursos abrangem tanto as conversas como os textos dos media.

● A tónica é colocada nos processos de elaboração e comunicação das mensagens.

● O ponto de partida metodológico é a análise dos reportórios interpretativos. Estes são um


conjunto de termos, descrições, figuras de linguagem.

● Com base nestes discursos reconstituem-se procedimentos e conteúdos dos processos


cognitivos, assim como são avaliados os modos de entender as memórias colectivas e sociais.

A perspectiva desta abordagem cinge-se à descrição do como na construção da realidade social.


Enquadramento cultural da realidade social e subjectiva: modelos estruturalistas
Esta perspectiva teórica pressupõe que os sistemas culturais de significado enquadram a percepção e
a construção da realidade subjectiva e social.
Hipóteses de base
Esta perspectiva distingue:
● as experiências e actividades de superfície (acessíveis ao sujeito). A superfície está ligada às
intenções e significados da acção.

● das estruturas de profundidade da acção (não acessíveis à reflexão individual no dia-a-dia).


As estruturas de profundidade são geradoras das actividades de superfície. Estas
encontram-se nos modelos culturais, nos padrões de interpretação e nas estruturas de
significados latentes.

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A psicanálise procura revelar o inconsciente tanto na sociedade como no processo de investigação as


normas implícitas e explícitas da acção têm uma importância fulcral.
A hermenêutica defende que: os textos da interacção constituem as estruturas objectivas de
significado. São uma realidade no plano analítico.
Desenvolvimentos recentes nas Ciências Sociais: pós estruturalismo
O texto não é uma realidade por si só mas uma representação objectiva de partes da realidade. É o
resultado dos interesses dos que o produzem e dos que o lêem. Assim considera-se existir um hiato
metodológico na hermenêutica objectiva.
Desenvolvimentos recentes na psicologia: representações sociais
Representação social é um sistema de valores, ideias e práticas com a função de estabelecer uma
ordem para os indivíduos se orientarem mas também permitir a existência de comunicação entre
membros da mesma comunidade.
Esta abordagem é cada vez mais utilizada nos estudos qualitativos sobre a construção social. As
normas sociais também são estudadas sem serem concebidas como uma realidade sui generis. São
utilizadas diversas formas de entrevistas e observação participante.
RIVALIDADE DOS PARADIGMAS OU TRIANGULAÇÃO DAS PERSPECTIVAS
A primeira perspetiva parte dos sujeitos envolvidos na situação e dos significados ca situação. Os
significados culturais e sociais são reconstituídos a partir desses significados subjectivos.
A segunda perspectiva parte da interação estudando o discurso. Os contextos sociais e culturais
externos à interação são importantes como contexto se foram produzidos ou continuados no interior
da mesma.
A terceira perspetiva questiona o valor das normas implícitas o foco principal incide a cultura, as
suas estruturas e normas. Os processos de interação são importantes como meios de exposição e
reconstituição das estruturas.
Modos de resposta:
1. Pode adoptar-se uma posição única pondo criticamente da parte as outras perspetivas

2. As diversas posições teóricas entender-se. Cada uma delas pode examinar a parcela do
fenómeno e a que exclui.

Logo, as diferentes perspetivas da investigação podem ser combinadas e complementadas umas com
as outras. Esta triangulação alarga a visão do fenómeno estudado pela reconstrução do ponto de vista
dos participantes e pela análise posterior do revelado na interação.
TRAÇOS COMUNS ÀS DIFERENTES POSIÇÕES
Compreensão como princípio epistemológico = A investigação qualitativa compreende a partir do seu
interior os fenómenos e acontecimentos estudados. Compreende o ponto de vista do sujeito, o curso
das situações sociais, as normas sociais e culturais.
A reconstituição dos casos como ponto de partida = Cada caso é analisado de forma consistente e só
depois parte para generalizações.
A construção da realidade como base = Os casos reconstituídos contêm vários níveis da construção da
realidade: os sujeitos, as estruturas, a realidade é construída por diversos actores.

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O texto como material empírico = A reconstituição dos casos induz à produção de textos os quais são
analisados empiricamente. O texto é em todas as perspectivas a base da reconstituição e
interpretação.

Ponto de vista do Construção de Enquadramento


sujeito realidades cultural das
sociais realidades sociais
Raízes teóricas Interacionismo Etnometodologia Estruturalismo
tradicionais simbólico Psicanálise
Desenvolvimentos Interacionismo Estudo do Pós estruturalismo
recentes nas interpretativo trabalho
Ciências Sociais
Desenvolvimento Programa de Psicologia do Representações
recentes na investigação “teorias discurso sociais.
psicologia subjectivas
Traços comuns 1. Verstehen como
princípio
epistemológico.
2. Reconstituição
dos casos como
ponto de
partida
3. Construção da
realidade como
base
4. O texto como
material
empírico.

TRAÇOS DA INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA


● Adequação dos métodos e teorias
● Perspectivas dos participantes na sua diversidade
● Reflexão do investigador sobre a investigação
● Variedade de métodos e perspectivas na investigação qualitativa
● Verstehen como princípio epistemológico
● A reconstituição dos casos como ponto de partida
● A construção da realidade como base
● O texto como material empírico.

TEMA 3
TEXTO 3 … Uwe Flick (pág. 29-37)

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CONSTRUÇÃO E COMPREENSÃO DO TEXTO


TEXTO E REALIDADE
No processo de investigação científica o texto:
● Constitui os dados em que se baseia a descoberta
● É a base da interpretação
● É o meio da comunicação e apresentação dos resultados

Deste modo, o texto é o resultado da colecta de dados e o instrumento de interpretação. Logo que o
investigador recolhe os dados e estrutura um texto, o texto passa a ser utilizado no resto do processo
como o substituto da realidade. As Ciências Sociais apoiam-se nos textos como modo de fixar e
objetivar os seus resultados.
O TEXTO COMO CONSTRUÇÃO DA REALIDADE: CONSTRUÇÕES DE PRIMEIRA E
SEGUNDA ORDEM
Como crise de representação duvida-se que os investigadores sociais captem directamente
experiencias vividas. A experiencia é criada no texto escrito pelo investigador.
A segunda crise é a da legitimidade: os critérios de controlo da investigação qualitativa não
legitimam o conhecimento científico.
O construtivismo social parte da ideia que a realidade é produzida pelos participantes, através da
atribuição de significados e acontecimentos, e que a investigação social não pode fugir a esses
significados se quiser tratar as realidades sociais.
O ponto de partida da investigação é a ideia do acontecimento social e o modo como essas ideias
comunicam entre si
Entram em conflito?
São partilhadas?
Como são vividas?
AS CONSTRUÇÕES SOCIAIS COMO PONTO DE PARTIDA
A investigação social é uma análise dos modos de construção da realidade e dos esforços
construtivos dos sujeitos no seu quotidiano.
As percepções e o conhecimento comum são a base da elaboração da versão da realidade mais geral.
As múltiplas realidades, sendo uma delas a científica, estão organizadas com base nos mesmos
princípios que organizam o quotidiano.
A investigação em Ciências Sociais é confrontada com o problema do seu estudo se centrar nas
versões existentes, ou nas que são construídas em comum pelos sujeitos e na sua interacção. O
conhecimento científico e a explicitação das inter-relações englobam vários processos da construção
da realidade que são subjectivas e elaborações científicas elaboradas pelos investigadores no
tratamento e interpretação de dados e na apresentação de resultados.
Nestas construções as relações são traduzidas:
⮚ A experiencia do dia-a-dia é traduzido em conhecimento pelos sujeitos
⮚ Os relatos são traduzidos em textos pelos investigadores.

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A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE NO TEXTO: A MIMÉTICA


Mimética é a transformação da realidade em mundo simbólico.
Podemos identificar os elementos miméticos pelos seguintes aspectos:
✔ Transformação da experiencia em narrativa pelas pessoas estudadas
✔ Elaboração de textos baseados no ponto anterior e a sua interpretação pelos investigadores
✔ Devolução destas interpretações aos contextos quotidianos através da leitura do texto que
apresenta os resultados

Na produção de textos aquele que lê e interpreta está tão implicado na construção da realidade como
aquele que o escreveu.
Há 3 formas de mimética:
1. As interpretações estão sempre baseadas numa pré-concepção da actividade humana e dos
conhecimentos naturais, sociais, etc. É a pré concepção da natureza da acção humana, o seu
simbolismo, a sua temporalidade.
2. A transformação mimética no processamento dos ambientes naturais para textos deve ser
entendida como um processo construtivo: a mimética. O seu domínio está entre os
antecedentes e os consequentes do texto. O este nível a mimética é a configuração da acção.
3. A transformação mimética do texto acontece na interpretação científica dessas narrativas e
documentos de investigação. Aqui a mimética assinala a intersecção do mundo do texto com
o do leitor.

Assim, os processos miméticos podem ser entendidos como o cruzamento da construção e da


interpretação da experiencia.
A MIMÉTICA NA RELAÇÃO DA BIOGRAFIA COM A NARRATIVA
A parte prática de pesquisa concentra-se na reconstituição através da entrevista de biografias. O seu
ponto de partida é o de que a narrativa é a forma mais apropriada de apresentar a biografia. A
narrativa biográfica não é uma representação de processos factuais. A narrativa permite localizar,
apresentar, e avaliar as experiências. A mimética constrói de novo mundos que já foram construídos.
Ao reconstruir-se uma vida em resposta a uma questão concreta, elabora-se e interpreta-se uma
versão da experiencia.
Antes da apresentação dos resultados desta reconstituição, as experiencias e o universo em que foram
realizadas são apresentados de forma específica na forma de uma teoria que reclama validade. A
mimética é intermediária porque encaixa entre uma e outra realidade.
Na investigação qualitativa, a diferença entre a explicação quotidiana e a científica reside na
organização metodológica do processo de investigação.

TEMA 4
O papel da teoria na investigação qualitativa – Métodos qualitativos
MÉTODOS E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Madeleine Grawitz, define métodos, como:
1_ Um conjunto concertado de operações que são realizadas para atingir um ou mais objetivos,

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2_ Um corpo de princípios que presidem a toda a investigação organizada,


3_ Um conjunto de normas que permitem selecionar e coordenar as técnicas,
4_ Os métodos constituem de maneira mais ou menos abstrata ou concreta, precisa ou vaga, um
plano de trabalho em função de determinada finalidade.
Método - É uma conceção intelectual coordenando um conjunto de operações, em geral várias
técnicas.
Técnicas - São procedimentos operatórios rigorosos, bem definidos, transmissíveis, suscetíveis de
serem novamente aplicados nas mesmas condições, adaptados ao tipo de problema e aos
fenómenos em causa. A escolha de técnicas depende do objetivo que se quer atingir, o qual, por sua
vez, está ligado ao método de trabalho. Para Grawitz a técnica representa a etapa de operações
limitadas, ligada a elementos práticos, concretos, definidos, adaptados a uma determinada
finalidade.
Métodos quantitativos e métodos qualitativos - Tradicionalmente a investigação quantitativa e a
investigação qualitativa estão associados a paradigmas (modelos).
O paradigma quantitativo postula uma conceção global positivista, hipotética dedutiva,
particularista, orientada para os resultados, própria das Ciências Naturais
O paradigma qualitativo postula uma conceção global fenomenológica, indutiva, estruturalista,
subjetiva e orientada para o processo, própria da Antropologia Social. A distinção entre paradigmas
(modelos) diz respeito à produção do conhecimento e ao processo de investigação e pressupõe
existir uma correspondência entre epistemologia (teoria do conhecimento), teoria e método, no
entanto, a distinção é usualmente empregada a nível do método.
CARATERÍSTICAS DOS PARADIGMAS QUALITATIVOS:
1_ Advoga o emprego dos métodos qualitativos,
2_ Está interessado em compreender a conduta humana a partir dos próprios pontos de vista
daquele que atua,
3_ Observação naturalista e sem controlo,
4_ Subjetivo,
5_ Próximo dos dados; “perspetiva a partir de dentro”,
6_ Fundamentado na realidade, orientado para a descoberta, exploratório, expansionista, descritivo
e indutivo,
7_ Orientado para o processo,
8_ Válido: dados “reais”, “ricos” e “profundos”,
9_ Não generalizável: estudos de casos isolados,
10_ Holístico,
11_Assume uma realidade dinâmica.
CARATERÍSTICAS DOS MÉTODOS QUANTITATIVOS
1_ Está ligado à investigação experimental,
2_ formulação de hipóteses explicativas dos mesmos,
3_ controlo de variáveis,
4_ seleção aleatória (amostragem) de sujeitos,

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5_ verificação ou rejeição de hipóteses,


6_ sujeição análise estatística e modelos matemáticos,
7_ generalização resultados,
8_ necessidade de elaborar previamente um plano de estudo estruturado,
9_ testar teorias,
10_ seleção de amostra representativa. Principal limitação advém quando o objeto de estudo tem
uma natureza eminentemente social.
CARATERÍSTICAS DOS MÉTODOS QUALITATIVOS
1_ Indutiva
i) desenvolvem conceitos e chegam à compreensão dos fenómenos a partir de padrões
provenientes da recolha de dados. Não procuram a informação para verificar hipóteses,
ii) A teoria é desenvolvida de "baixo para cima", tendo como base os dados que obtiveram
e estão inter-relacionados. Segundo Glaser e Strauss, esta teoria designa-se por "teoria
fundamentada",
2_ Holística - Os investigadores têm em conta a "realidade global",
3_ Naturalista, a fonte direta de dados são as situações consideradas "naturais". Os investigadores
interagem também com os sujeitos de ma forma "natural" e, sobretudo, discreta. Os investigadores
são "sensíveis ao contexto"-
Os atos, as palavras e os gestos só podem ser compreendidos no seu contexto.
O "significado" tem uma grande importância - Os investigadores procuram compreender os
sujeitos a partir dos "quadros de referência" desses mesmos sujeitos. Vivem a realidade da mesma
maneira que eles. Os métodos qualitativos são "Humanísticos", quando os investigadores estudam
os sujeitos de uma forma qualitativa tentam conhecê-los como pessoas e experimentar o que eles
experimentam na sua vida diária (não reduzem a palavra e os atos a equações estatísticas).
Os investigadores interessam-se mais pelo processo de investigação do que unicamente pelos
resultados ou produtos que dela decorrem.
O plano de investigação é flexível.
A investigação qualitativa é "Descritiva", devendo ser rigorosa e resultar diretamente dos dados
recolhidos.
O investigador é o "instrumento de recolha de dados", onde a validade, fiabilidade dos dados
depende da sua sensibilidade e experiência. Aqui a objetividade do investigador constitui o
principal problema da investigação qualitativa.
A validade do trabalho realizado assume particular relevância, onde os dados recolhidos devem
estar de acordo com o que os indivíduos dizem e fazem.
A preocupação central não é a de saber se os resultados são suscetíveis de generalizações, mas
sim a de que outros contextos e sujeitos a eles podem ser generalizados - Bogdan e Biklen. As
técnicas mais utilizadas são a observação participante, a entrevista em profundidade e a análise
documental.
TRADIÇÕES TEÓRICAS EM INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

A investigação qualitativa não é uniforme devido a existirem diferentes tradições teóricas e


orientações metodológicas (Etnografia ⬄ Antropologia; Etnometodologia ⬄ Sociologia).
Possibilidade de utilizar uma combinação de métodos quantitativos e qualitativos – Brannen,
salienta que a utilização conjunta de métodos quantitativos e qualitativos tem implicações teóricas.
Smith e Heshusus, salientam que as duas abordagens se fundamentam em pressupostos diferentes.
Reichardt e Cook, afirmam que um investigador não é obrigado a optar pelo emprego exclusivo de
métodos quantitativos ou qualitativos e se a investigação o exigir poderá combinar a sua utilização.
Denzin, Cronbach et al, Miles e Hubermann e Patton, utilizam conjuntamente os dois métodos.
Patton, afirma que uma forma de tornar um plano de investigação mais "sólido" é através da
triangulação, isto é, da combinação de metodologias no estudo dos mesmos fenómenos ou
programas.
Ele cita Denzin que identificou quatro grandes tipos de triangulação:
1_ Triangulação de dados - o uso de uma variedade de fontes num mesmo estudo,
2_ Triangulação de investigadores - o uso de vários investigadores ou avaliadores,
3_ Triangulação de teorias - o uso de várias perspetivas para interpretar um mesmo conjunto de
dados,
4_ Triangulação metodológica - O uso de diferentes métodos para estudar um dado problema ou
programa. A lógica da triangulação é que cada método revela diferentes aspetos da realidade
empírica e consequentemente devem utilizar-se diferentes métodos de observação da realidade.
Reichardt e Cook, Indicam as vantagens de combinar métodos, nomeadamente quando se trata de
trabalhos de investigação com propósito múltiplos, pois o facto de se utilizarem métodos diferentes
pode permitir uma melhor compreensão dos fenómenos, do mesmo modo que a triangulação de
técnicas pode conduzir a alcançar resultados mais seguros, sem enviesamento.
No entanto é referido por todos os autores que o facto de se combinarem os dois métodos apresenta
vários problemas relativamente ao:
1_ Custo,
2_ Tempo,
3_ Experiência e competência do investigador na utilização dos dois tipos de métodos, o que é raro.

Texto 4 de FLICK
A investigação científica implica um modo específico de entender a relação entre o assunto a
estudar e o método. Na investigação qualitativa as várias partes do processo são interdependentes e
por isso difíceis de empreender, ao contrário da investigação quantitativa ou experimental, onde o
processo de investigação pode ser engatilhado metodologicamente numa sequência linear.
A INVESTIGAÇÃO COMO PROCESSO LINEAR
O ponto de partida do investigador é o conhecimento teórico obtido na literatura ou por resultados
empíricos anteriores. Daí se derivam as hipóteses que são testadas a novas condições empíricas. Os
objetos da investigação, como por exemplo um campo social ou pessoal real são onde são testadas
as relações universais sob a forma de hipóteses. O investigador pretende garantir a

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

representatividade dos dados e resultados obtidos com uma mostra aleatória. Quer ainda subdividir
as relações complexas em variáveis distintas de modo a isolar e medir os efeitos de cada uma. As
teorias e métodos são anteriores ao objeto de investigação, são depois testadas.
O CONCEITO DE PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO NA TEORIA ENRAIZADA
A teoria enraizada dá preferência aos dados e ao campo de estudo relativamente aos pressupostos
teóricos. Estes não são aplicados à questão estudada mas antes descobertos e formulados. O
objetivo é aumentar a sua complexidade pela inclusão do contexto. A relação entre teoria e material
empírico é definida assim: o princípio da abertura implica o adiamento da estruturação do material
estudado até emergir a estruturação da questão pelos próprios sujeitos estudados. Temos assim a
suspensão do conhecimento teórico à priori. O adiamento da estruturação implica o abandono da
formulação de hipóteses. Este modo de ver a investigação qualitativa deve adotar uma atitude que
foi designada como “suspensão calculada da atenção”.
O modelo do processo de investigação na teoria enraizada engloba os seguintes aspetos principais:
1_ amostragem teórica,
2_ codificação teórica,
3_ escrita da teoria.
Esta abordagem está fortemente orientada para a interpretação de dados. As decisões sobre os
dados a integrar e os métodos a utilizar para esse fim baseiam-se no estado de elaboração da teoria,
depois da análise dos dados obtidos até então.
Aspetos que ganharam importância, Glaser e Strauss
1_ A amostragem teórica enquanto estratégia de definição gradual da amostra aplica-se em
pesquisas que utilizam métodos de interpretação diferentes dos propostos por Glaser e Strauss ou
que não visam a elaboração de uma teoria,
2_ A codificação teórica como método de interpretação dos textos,
3_ A ideia de elaborar teorias com base na análise do material empírico tornou-se essencial para o
debate sobre a investigação qualitativa quer se utilizem ou não os métodos desta abordagem.
LINEARIDADE E CIRCULARIDADE DO PROCESSO
A circularidade das partes do processo no modelo de investigação da teoria enraizada é uma
característica fundamentalmente desta abordagem. A circularidade obriga o investigador a uma
reflexão permanente sobre o processo de investigação no seu conjunto e sobre a interligação de
cada um dos seus passos com outros. A estreita ligação entre a coleta e a interpretação dos dados
por um lado e a seleção do material empírico por outro permite responder à questão:
1_ em que medida as categorias, métodos e teorias utilizadas se ajustam ao tema e aos dados.
AS TEORIAS NO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO ENQUANTO VERSÕES DA
REALIDADE
Afinal qual é a função da teoria?
As teorias não são representantes de factos existentes. São versões ou perspectivas através das
quais se vê a realidade. As teorias como versões da realidade tornam-se preliminares e relativas. As
hipóteses teóricas tornam-se relevantes como versões da compreensão do objeto estudado,
reformuladas e elaboradas no decurso do processo de investigação. A investigação qualitativa não

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

se ajusta à lógica tradicional linear da investigação. A interligação circular dos passos empíricos
ajusta-se ao carácter de descoberta da investigação qualitativa. O lugar central reservado à
interpretação dos dados dá o devido valor ao facto de o texto ser o efetivo material empírico e a
ultima base para a elaboração da teoria.

TEMA 5 - A Pratica da Investigação


A formulação das questões da investigação é orientada pelo objetivo de clarificar o que os contactos
de campo revelam. Se as questões não forem claras, o risco do investigador ser confrontado com
montanhas de dados é maior. São necessárias ideias claras acerca dos problemas a resolver para
garantir a justeza das decisões metodológicas. Questões do processo de investigação:

Formulação da questão geral


=> formulação de questões específicas de pesquisa
=> formulação dos conceitos sensibilizadores
=> seleção dos grupos de investigação com base nos quais se vai estudar a questão
=> escolha dos métodos e do plano de pesquisa adequados
=> avaliação e reformulação das questões específicas da investigação
=> recolha de dados
=> avaliação e reformulação das questões específicas da investigação
=> análise de dados
=> generalização e avaliação das analises
=> formulação dos resultados obtidos.

Ajustar as questões
A decisão acerca de uma questão específica depende dos interesses do investigador e do seu
envolvimento num ou outro contexto histórico e social. As tradições e estilos de pensamento
influenciam a elaboração das questões da investigação científica tanto no trabalho de laboratório
como nos grupos de trabalho em CS. A decisão sobre uma questão concreta está sempre ligada à
redução da variedade e consequentemente à estruturação do campo de estudo: há aspetos puxados
para o foco da atenção, enquanto outros são considerados menos importantes ou mesmo
abandonados.

ESPECIFICAR A AREA DE INTERESSE E DELIMITAR O PROBLEMA


O resultado da formulação das questões da investigação é a delimitação de uma área de interesse
específica, considerada essencial, no interior de um campo complexo. Importa que o campo e a
questão da investigação possa ser resolvida com os recursos disponíveis, e formulada de tal forma
que uma questão não dê origem a várias.

Os CONCEITOS CHAVE E A TRIANGULAÇÃO DE PERSPECTIVAS

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

Os conceitos chave podem servir como ponto de partida de uma investigação, neste caso Glaser e
Strauss chamam-lhes “conceitos analíticos e sensibilizadores”. A triangulação de perspetivas
refere-se à combinação de perspetivas e métodos próprios para entrar em linha de conta com tantas
facetas distintas de um problema, quantas seja possível. Os aspetos estruturais de um problema terão
de ser articulados com a reconstrução do seu significado para as pessoas envolvidas. Tanto a
utilização dos conceitos chave como a triangulação de perspetivas aumenta o grau de proximidade
em relação ao objeto na exploração dos casos e dos campos. É um processo que pode contribuir para
a abertura de novos domínios do saber. A formulação precisa das questões de investigação deve ser
examinada criticamente quanto à sua origem. Constituem pontos de referência para avaliar a solidez
do plano de pesquisa e adequação dos métodos de recolha e interpretação de dados.

TIPOS DE QUESTÕES EM INVESTIGAÇÃO


A descrição de estados e a discrição de processos são 2 tipos fundamentais de questões na
investigação e podem ser classificadas como unidades de complexidade crescente.
1) as questões de investigação orientadas para a descrição de estados descrevem como uma
determinada situação (tipo e frequência) aconteceu (causas e estratégias) e como se mantêm
(estruturas),
2) as questões dirigidas à descrição de processos, o objetivo é descreverem os desenvolvimentos ou
mudanças de um dado fenómeno (causas, processos, consequências e estratégias). Qual o grau de
adequação? As questões de investigação podem classificar-se com base no seu grau de adequação à
confirmação das conceções existentes (equiparadas e hipóteses) ou à descoberta de explicações
alternativas.
Questões generativas (strauss) são as que estimulam a investigação em direções positivas, conduzem
a hipóteses e comparações, à recolha de dados. As questões da investigação são uma porta aberta
para o campo de pesquisa. Da formulação das questões depende que as atividades empíricas
adquiridas conduzam ou não a respostas. Também delas depende a decisão sobre os métodos, quem
(pessoas, grupos), o quê (processos, atividades) deve ser incluído no estudo. Os critérios para avaliar
as questões da investigação terão a ver não só com a sua solidez e clareza, mas também com a
possibilidade de gerarem respostas no quadro de recursos existentes e limitados (tempo, dinheiro,
etc).

TEMA 6 - O Projeto de Investigação em Ciências Sociais

Duas questões prévias:


1_ A questão da informação disponível
2_ A questão da gestão do tempo.

A QUESTÃO DA INFORMAÇÃO DISPONÍVEL


1_Os estudantes pensam que o terreno que vão explorar é completamente virgem ou que já se
escreveu tudo sobre determinado assunto,

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

2_ Objetivos a serem atingidos pelo estudante:


i) Adquirir uma atitude adequada perante o estudo,
ii) Proceder a uma recolha preliminar da informação.
Uma atitude de recordista:
1_ Combater a arrogância de quem pensa ser o pioneiro e que não necessita da ajuda de ninguém,
2_ Deverá ter uma postura de recordista de alta competição, que implica uma curiosidade nunca
satisfeita e uma motivação para aprender com os outros (comunidade académica, informadores
qualificados, população alvo da investigação) com as diversas fontes de informação e com a
realidade em geral,
3_ Adotar uma postura de sábia humildade intelectual e a constituição progressiva de redes de
cooperação.

RECOLHA PRELIMINAR DE INFORMAÇÃO


1_ Colher elementos sobre as teorias já existentes,
2_ Indagar que pesquisas têm sido feitas no domínio em questão, e quais os métodos utilizados
para as desenvolver (recorrer a base de dados; monografias, artigos, etc),
3_ A análise crítica dos métodos adoptados anteriormente é muito importante, pois dá-nos a ideia
da fiabilidade dos seus resultados.
Obsessões que podem levar a erros metodológicos:
1_ Obsessão pelo mais recente – nem sempre o antigo é “antiquado” e o moderno “inovador”,
2_ Obsessão pelo quantitativo – Considera “não-científicas” investigações que não contenham
números,
3_ Obsessão pelo qualitativo – Trabalhos especulativos com falta de rigor.
Já se escreveu tudo sobre determinado assunto? Nesta fase o investigador pode adoptar a ideia
de já se ter escrito tudo sobre determinado assunto, assolando-o geralmente um sentimento de
perplexidade dadas as novidades que a vida social nos proporciona. Margaret Mead, defendia a
imagem de “imigrantes no tempo”, acreditando ter de existir uma adaptação à inovação. Edgar
Morin, defendia que estamos a entrar na “idade de ferro planetária”, que não é mais do que o tomar
consciência da mundialização, dilacerada pelas contradições que a integram (desastres ecológicos,
poluição, etc).
O nevoeiro informacional: É o conjunto de 3 tipos de filtros, que impedem de visibilizar de
forma clara a sociedade que se pretende estudar:
1_ Sobre informação – Excesso de informação em que é imerso no seu quotidiano profissional, 2_
Subinformação – Substancial falta de informação sobre o seu objecto de estudo, devido à rapidez
com que a sociedade contemporânea muda,
2_ Pseudoinformação – Informação deliberada, involuntariamente deformada, ou falseada, sobre a
realidade social. O maior problema metodológico para o investigador é a seleção e gestão de
informação disponível, que o obriga a um triplo esforço de redução dos efeitos do nevoeiro
informacional.
Ele deve procurar:

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

1_ Não se afogar em informação inútil,


2_ Explorar os espaços de subinformação,
3_ Fazer uma análise contrastiva das fontes.

A QUESTÃO DA GESTÃO DO TEMPO


O tempo é uma variável estratégica em qualquer processo de pesquisa, devido a 3 fatores:
1_ Porque o nevoeiro informacional acima referido determina gastos consideráveis de tempo,
2_ Porque a unidade académica tem vindo a estabelecer inúmeras pontes com o mundo não
académico, nomeadamente com as empresas, tendo de se adaptar aos seus critérios mais rigorosos
de prazos e custos,
3_ Porque o encurtamento do ciclo de vida do saber não se compadece com ciclos de pesquisas
demasiado longos, que conduziriam inevitavelmente à divulgação de resultados desatualizados à
nascença.
Estes fatores apelam para o tempo útil de pesquisa, que se assume como condicionador importante
da determinação do objeto de estudo e da metodologia a adotar. A variável tempo deve ser
transformada em oportunidade pela autodisciplina e servindo de controlo de qualidade da
investigação e acelerador de resultado. Para transformar aquela dificuldade em oportunidade é
necessário:
1_ listar as principais fases e tarefas da investigação,
2_ calcular quanto demorará cada uma delas e como se articulam entre si,
3_ encadeá-las de forma regressiva, desde a data da conclusão da pesquisa regredindo até ao
momento atual.

ELEMENTOS PARA O PLANEAMENTO DE UMA INVESTIGAÇÃO


Planear é definir rumos. Sem se conhecer o rumo da pesquisa não se pode dizer que ele venha a
alcançar qualquer bom porto.
Investigar o quê?
A Primeira questão a definir é o que se quer investigar, ou seja, é DELIMITAR QUAL O
OBJETO DE ESTUDO, nomeadamente quem, o que, onde e quando se vai investigar. Em
ciências sociais a determinação do campo que se vai investigar não deve ser feita ao acaso ainda
que este desempenhe um papel importante. Raymond Quivy, acredita que devemos delimitar o
objecto de estudo, para que a pesquisa seja sucedida, e que na fase inicial da investigação, é
importante evitar 3 tipos de erros:
1_ A gula livresca ou estatística – pode fazer-nos afogar em sobre informação,
2_ O desprezo pela disciplina – recomenda-nos a prévia conceção de hipóteses e/ou
questões-bússola, que funcionem como orientadoras da pesquisa,
3_ O gongorismo arrogante – evitar o uso exaustivo de discurso hermético.
Desta forma, recomenda-se:
1_ A precoce constituição de um corpo de perguntas ou de um conjunto de hipóteses,

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

2_ A definição de uma estratégia de recolha de informação que respondam às perguntas e


hipóteses iniciais, mas que deixem espaço para o inesperado,
3_ A definição rigorosa, mas também clara, das intenções de investigação.

CRITÉRIOS ÚTEIS PARA A DEFINIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO


1_ Critério da familiaridade do objeto de estudo – é vantajoso que o trabalho a realizar se enraíze
na experiência anterior do investigador,
2_ Critério da afetividade – a seleção do campo e do tema específico da investigação deve possuir
uma forte componente pessoal,
3_ Critério dos recursos – resulta da antevisão de facilidades na captura de meios necessários à
investigação, como perspetivas de acesso a boas fontes, a financiamentos ou maiores possibilidades
de publicação, podem condicionar a pesquisa tanto na delimitação do seu objeto, como na
definição das suas metas.

DEFINIR O OBJECTIVO DA PESQUISA


Após delimitar o objeto de estudo, há que definir claramente que meta ou metas o investigador quer
alcançar. Selttiz, jahoda, Deutch e Cook, classificam os estudos em 3 tipos:
1_ Estudos exploratórios – reconhecimento de uma realidade, pouco ou nada estudada,
2_ Estudos sociográficos ou descritivos – descrever rigorosamente um objeto de estudo, na sua
estrutura e funcionamento,
3_ Estudos verificadores de hipóteses causais – parte de hipóteses para a sua verificação.
Qualquer dos três têm igual estatuto de ciênticidade.

PROGRAMAR A PESQUISA
Uma vez definido o objetivo, ou objetivos, da investigação, há que desmultiplicá-lo até à sua
concretização em tarefas precisas, bem definidas, articuladas e calendarizadas em função do que se
designa da árvore de objetivos, que é definida e operacionalizada em variáveis e indicadores,
tendo que se escolher:
1_ Que técnicas de recolha de dados irei utilizar:
i. Pesquisa documental,
ii. Observação,
iii. Inquérito por entrevista ou questionário,
iv. Escalas de atitudes;
2_ Como tenciono tratar e interpretar os dados: que estratégia adotar:
i. Quantitativa ou
ii. Qualitativa,
3_ Que modelo de análise utilizarei e com que elementos?
4_ Que estratégia vou usar para difundir os meus resultados:
i) Apenas o discurso scripto,
ii) Gráficos,

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

iii) Tabelas,
iv) Diagramas,
v) Audiovisuais,
vi) Software educativo,
5_ Como situar cada uma das tarefas no tempo?

Cronograma Abr- Mai- Jun-1 Jul-1 Ago- Out- Nov- Dez-


Set-14
14 14 4 4 14 14 14 14
Maturação teórica
Entrevista/especialista
Pesquisa documental
Recolha, análise e tratamento
de dados
Guião das entrevistas
Pré-teste entrevistas
Entrevistas no aeroporto
Observação participante
Redação
Revisão e crítica
Versão final

IDENTIFICAR E ARTICULAR OS RECURSOS NECESSÁRIOS:


Drucker - um recurso é algo para que descobrimos uma dada utilidade. Recursos necessários,
alguns aspectos:
Instalações => casa, escritório,
Equipamentos => tipo de hardware, software,
Apoio financeiro=> patrocínio, bolsas, empréstimo,
Apoio logístico=> expediente (cartas, arquivo, fax, correio) apoio administrativo (marcação
reuniões/entrevistas, gestão agenda)
Apoio documental=> bibliotecas, centro de documentação, arquivos, etc,
Orientação científica – que tipo pretendo?

FERRAMENTAS METACOGNITIVAS PARA INVESTIGAÇÃO (mapas conceptuais e


outros diagramas estruturados cognitivos)
Ajudam o investigador a gerir melhor a informação e a transformá-la em conhecimento. O
investigador deve assumir-se como aprendente do mundo e da vida, ganhando competências de
aprendizagem (“aprender” a “aprender” cada vez melhor).
Os Mapas conceptuais (devem-se a Joseph Novak) e são:
1_ Ferramenta de representação do conhecimento,
2_ Assume a forma de um diagrama bidimensional,

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

3_ Procura mostrar conceitos hierarquicamente organizados, bem como a relação desses conceitos
num dado campo de conhecimento,
4_ Defende uma aprendizagem de qualidade, decorrente da aquisição de conceitos claros e
rigorosos, ancorados nos conhecimentos prévios do aprendente. A construção de um mapa
conceptual estimula a imaginação sociológica do investigador, permitindo-lhe expandir a sua visão
e construir outras hipóteses e teorias.
Passos para a elaboração de um mapa conceptual:
1_ Localizar conceitos,
2_ Catalogar conceitos hierarquicamente,
3_ Distribuir conceitos em 2 dimensões.
Um mapa conceptual deve ser encarado como:
1_ Traçar linhas de relações entre os conceitos,
2_ Escrever a natureza da relação,
3_ Proceder à revisão e refazer o mapa,
4_ Preparar o mapa final.
Os de mapas conceptuais são concebidos para:
1_ Clarificar conceitos, que integram o campo semântico do conceito de exclusão social,
mostrando que o mesmo é mais abrangente que o da pobreza,
2_ Desempacotar um conhecimento complexo, pois permite a análise mais clara e rigorosa de
documentos de diversa natureza, clarificando textos densos e salientando as linhas mestras do
pensamento do(s) autor(es),
3_ Conceber um campo semântico, sempre que o investigador precisa conceber um conjunto de
conceitos articulados entre si (para escrever relatórios, artigos, etc). Estes MC’s podem ser usados
como grelha de análise sobre o modo como um dado agregado (escola, família, etc), educa a
personalidade dos jovens ou como estrutura base para desenhar intervenções com esse objetivo.
Para além dos MC existem outros instrumentos metacognitivos como por exemplo:
1_ Diagrama sistémico que permite analisar o conceito intervenção socia,
2_ O Vê heurístico, epistemológico ou de Gowin, que vê a investigação científica como uma forma
de estabelecer ligações entre conceitos, eventos e factos.
O Vê de Gowin pretende representar qualquer campo de conhecimentos:
1_ Objeto de estudo, Investigador deve identificar um objeto de estudo observável e coerente com
os recursos disponíveis,
2_ Questão-chave, Definir 1 ou mais perguntas que identifiquem o objeto de pesquisa,
3_ Conceções do mundo e da vida, Crenças, estereótipos, preconceitos do investigador, que possam
afetar a investigação,
4_ Teorias, Identificar teorias que vão fundamentar a investigação,
5_ Modelos, Caracterizar os modelos de observação e análise que vão ser adotados,
6_ Conceitos, Identificar, relacionar e hierarquizar os principais conceitos a utilizar, sob a forma de
um mapa,
7_ Registos, Conceber instrumentos de registo de informação (questionários, roteiros, observação,

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

etc),
8_ Transformações, - Definir estratégias de recolha, tratamento e interpretação de dados,
9_ Resultados obtidos- Identificar resultados que se espera obter (questões respondidas, hipóteses
levantadas, etc),
10_ Valor acrescentado da pesquisa, Identificar o valor acrescentado da pesquisa para o
desenvolvimento da teoria, da metodologia e/ou prática.

TEMA 7 – A pesquisa documental / Técnicas de observação (cap.3 e 4)

O papel da PESQUISA DOCUMENTAL no contexto do processo de investigação Pesquisa


documental adequada,
1. Visa selecionar, tratar e interpretar informação bruta existente em suportes estáveis
(scripto, áudio, vídeo...) com vista a dela extrair algum sentido,
2. Tem por objetivo executar essas mesmas operações relativamente a fontes indiretas. Um
processo de investigação é algo de semelhante a uma corrida de estafetas. Para atingir os
seus objetivos, o investigador necessita de recolher o testemunho de todo um trabalho
anterior, introduzir-lhe algum valor acrescentado e passar esse testemunho à comunidade
científica a fim de que outros possam voltar a desempenhar o mesmo papel no futuro. A
pesquisa documental assume-se, desta forma, como a passagem do testemunho, dos que
investigaram antes no mesmo terreno, para as nossas mãos.
Documentos escritos:
1. Bibliotecas e arquivos (proceder a uma seleção prévia dos centros de documentação mais
adequados);
2. Bibliografia;
3. Documentalistas (informadores qualificados);
4. Livros;
5. Revistas especializadas;
6. Instituições ensino superior.

PRIMEIRA TRIAGEM: O investigador deve proceder a aproximações sucessivas até chegar a uma
dimensão manuseável.
1. Consultar bibliografias já publicadas,
2. Enciclopédias, dicionários e vocabulários especializados,
3. Consultar base de dados,
4. Suporte local (CD rom, resumos, microfilme, etc.),
5. Suporte remoto (internet),
6. Prevenir o desnorteamento (sobre informação e nevoeiro informacional),
7. Prévia identificação de revistas especializadas (monografias),
8. No trabalho exploratório – recorre aos documentalistas,

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

9. Verificação de “literatura cinzenta” (obras não publicadas mas validadas por júris
qualificados – ensino superior),
10. Possui catálogos informatizados,
11. Estão disponíveis “online” para todos.

Exploração do texto. Após efetuada a dupla triagem, locais a procurar e unidades de informação a
selecionar, passa-se à exploração das duas.
Economia da leitura: Face ao tempo disponível, custos e outras limitações de recursos.

Estratégias de exploração de texto:


1. Começar por observar o título da unidade de informação: Nome do autor – fornece
indicações sobre a qualidade do trabalho (efeito de halo) é a tendência de valorizar um
determinado fenómeno, situação ou resultado presente, se acordo com informações
passadas e não de acordo com o quadro atual. Não parece muito eficiente que o estudo de
uma monografia ou de um artigo seja feito sem interrupções, do princípio ao fim, se o
fizermos arriscamo-nos a ler muita informação inútil para o nosso trabalho o que não só
gasta tempo como produz ruído informacional,
2. Ter atenção à data e local das edições,
3. O nome do Editor pode ser sinonimo de fiabilidade,
4. Badanas e contracapa, pela pertinência dos resumos,
5. Índice, ideia rápida da estrutura,
6. Só após se observar com as conclusões e a introdução, o investigador deve selecionar os
capítulos e fragmentos de texto.

Registo de dados: existem dois tipos de fichas:


♣ Fichas bibliográficas - Contêm a identificação básica do documento - Existem três tipos de
documentos que são habitualmente objeto de fichas bibliográficas:
o MONOGRAFIAS – apelido do autor, 1º nome (data edição), título da obra (bold),
local de edição, editora, outras observações, ATIGOS DE REVISTAS, UNIDADES
DE OBRAS COLETIVAS.
♣ Fichas de leitura: Integram um valor acrescentado se comparadas com as fichas
bibliográficas, nestas fichas é comum:
1. Resumir parte do que se leu e interessa ter sempre presente o objetivo da recolha
de dados,
2. Citar passagens consideradas importantes entre aspas,
3. Anotar ideias que surjam como eco da reflexão sobre o texto. Comentários e
ideias do investigador, deverão ser anotados na ficha de leitura, enquadrados por
um sinal convencional (exemplo: “p” de particular).
Sistema de classificação: Quanto maior for o volume de informação, mais se justifica o emprego
de sistemas de classificação: CDU, através de palavras-chave, etc.

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

Documentos Oficiais: Para muitos estudos torna-se necessário a consulta de documentos oficiais
que podemos tipificar em dois grupos:
1. Publicações oficiais:
i) Diário da República,
ii) Diário das sessões da Assembleia da Republica,
iii) Publicações oficiais oriundas da Administração Central, Regional e Local,
2. Documentos não publicados, por vezes existem a necessidade de recolher informação em
fontes oficiais não publicadas. Nesta expectativa de ter de recorrer a arquivos públicos, o
investigador deve, por isso unir-se de uma prévia autorização dos respetivos decisores para
o que lhe é conveniente possuir uma credencial passada pelo orientador da dissertação ou
pela instituição que legitima a sua investigação.

Estatísticas: As estatísticas podem também ser excelentes fontes de informação:


Virtualidades:
♣ Dados provenientes de censos, de Anuários ou de Estatísticas Especiais, podem
constituir elementos valiosos por exprimirem grandes tendências nos campos
demográficos, sociais, económicos e culturais, de outra maneira dificilmente
percecionado.
Limitações:
♣ Estatísticas são concebidas por pessoas, com critérios de categorização e
arrumação discutíveis, nem sempre suficientemente explícitos,
♣ As estatísticas são concebidas não para clarificarem a realidade mas para
justificarem prévias interpretações sobre essa mesma realidade,
♣ Quem concebe as estatísticas não têm os mesmos interesses que os investigadores o
que os leva a não terem em conta os mesmos critérios classificatórios. Princípios
orientadores. Em função do exposto constituem medidas de prudência: a) Escolher
como fontes estatísticas as provenientes de instituições credíveis; b) Refletir
criticamente sobre o modo como os indicadores foram concebidos e calculados; c)
Utilizar a imaginação sociológica - para tirar partido das estatísticas, cruzando a
matéria-prima informativa desta proveniência com informações oriundas de outras
fontes documentais e obtidas com base noutras técnicas de recolher de dados.

Documentos pessoais:
1) Autobiografias,
2) Diários,
3) Correspondência,
4) Dissertações académicas não publicadas,
5) Outros documentos pessoais.
O interesse deste tipo de documentos reside sobretudo em dois aspetos:

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

i) Possibilita aceder a informação que não se encontra noutras fontes (informação


única),
ii) Permite dar voz aos que normalmente não a têm (contando a versão dos
acontecimentos pela voz dos protagonistas).
Limitações :
1) São expressões subjetivas dos atores sociais,
2) Estão limitados pelos preconceitos estereótipos e ideologias dos autores onde o grande
envolvimento emocional com os inevitáveis filtros percetivos de natureza afetiva e
cognitiva,
3) Por vezes não constituem documentos sociográficos, mas autojustificações mais ou menos
fundamentadas do comportamento dos autores,
4) Dada a singularidade de algumas informações que os integram, é difícil provar a sua
veracidade, 5_ A análise quantitativa deste tipo de documentos sendo possível através por
exemplo de análise de conteúdo é, no entanto muito trabalhosa.

Princípios orientadores
É recomendado:
i) Verificar os factos cruzando com informação (documentos pessoais/fontes
documentais),
ii) Proceder a uma rigorosa crítica externa (verificar se o documento foi escrito pelo
autor manifesto),
iii) Fazer uma cuidadosa crítica interna (comparar a coerência do texto com a realidade
conhecida => verídica ou não).

Conclusão: A informação fornecida pelos documentos pessoais, deve ser cruzada com a
informação proveniente de outras fontes, dadas as suas limitações.
Documentos escritos difundidos:
1) Jornais, publicações (periódicas ou não) produzidas pelos meios de comunicação social,
assim como cartazes, panfletos, graffiti e documentos escritos de natureza diversa,
constituem boas fontes de informação, aplicando-se-lhes basicamente os critérios atrás
mencionados para uma utilização eficaz.

O jornal como fonte de dados


Quando se debruça sobre um jornal com o intuito de o analisar o investigador quer frequentemente
atingir um de três objetivos:
i) Colher informações brutas sobre um dado fenómeno social (pode ser alterada a
fiabilidade),
ii) Salientar o conteúdo da informação difundida,
iii) Revelar o tipo de impacto que dado tipo de informação difundida tem sobre os
segmentos de opinião.

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

Análise de impacto
Ter em conta:
1. Nome do jornal (controlo a que está sujeito),
2. Data da difusão (avaliar importância dada pela opinião pública),
3. A pagina em que a unidade de informação (UI) é colocada (indicador do impacto),
4. O lugar da UI (maior importância – cima e esquerda),
5. Grandeza do título (importância da informação),
6. Conteúdo do titulo (concordância ou não com o texto),
7. Para avaliar o impacto, há que ter em conta as seguintes variáveis:
a. Ilustrações (fotos, diagramas, desenhos),
b. Tipografia (dividida em partes? Sublinhado? Caixas?),
c. Estrutura (numa só página ou em duas?),
d. Origem (de onde vem a informação?),
e. Seleção (factos sublinhados e omitidos pelo investigador).

Documentos não escritos:


Objetos - Através do estudo dos objetos pode reconstituir-se a estrutura e o funcionamento de um
dado agregado social. Os objetos observados devem ser catalogados e analisados, fazendo uma
espécie de ficha de leitura com os seguintes elementos:
1. Descrição,
2. Localização no espaço e no tempo,
3. Funcionalidade.
Registo de som e imagem em suporte analógico ou digital: Este tema requer uma especialização
fora do âmbito deste manual de estudo.

TÉCNICAS DE OBSERVAÇÃO - É importante adotar uma postura e uma atitude de observação


consciente, conforme refere Carmo & Ferreira, que só pode ser conseguida apos muito treino da
atenção, aguçando a capacidade de extrair o essencial do acessório do objeto observado, sendo que
requer uma preparação teórica e empírica e consequentemente decorrente de uma formação
metodológica consistente.
Para cada projeto existe a necessidade de planear a estratégia de observação, respondendo às
seguintes questões:
1. O que observar?
2. Que instrumentos utilizar para registar as observações?
3. Que papel e grau de envolvimento devem ter quando optamos pela observação participante?
4. Quais as questões deontológicas a gerir?
5. Que dificuldades anteveem e como ultrapassá-las?

Que aspetos Observar?

Cecı́lia Rocha Pá gina 26


METODOS QUALITATIVOS 2014/15

Os indicadores como filtros de informação: É neste contexto que se impõe uma breve reflexão
sobre a construção e/ou seleção de indicadores, de modo a funcionarem como instrumentos de
filtragem de informação, que permitam uma orientação mais segura no terreno.

Questões conceptuais:
INDICADOR
i) É um instrumento (não gastar demasiada energia na conceção do mesmo),
ii) É revelador (Faz emergir informação),
iii) Revela condições ou aspetos da realidade, que de outra maneira não seriam
percetíveis à vista desarmada,
iv) É necessário ao investigador recorrer a processos de seleção da informação útil.

Indicadores demográficos - Permitem que os investigadores se apercebam com maior rigor e


clareza de aspetos relacionados com a estrutura da população, na sua distribuição espacial e
funcional, bem como da sua dinâmica.
Indicadores económicos - Foram criados por forma a responder às necessidades de analisar as
grandes crises económicas dos dois últimos séculos.
Indicadores sociais (Contribuíram para a compreensão do sistema social). São instrumentos
construídos com o objetivo de revelar certos aspetos pertinentes da realidade social, de outro
modo não percecionáveis, com o fito de a estudar, de a diagnosticar e sobre ela poder intervir.
Estes indicadores também podem ser:
Quantitativos: Exemplo: a taxa de mobilidade intergeracional calculada por Birnbaum =>
construído para revelar a fraca mobilidade social existente na classe dirigente francesa nos
últimos 30 anos. Destina-se a revelar a mobilidade social no espaço de uma geração,
considerando:
1. Haver mobilidade vertical - quando a posição social do filho fosse superior à do pai
(ascendente) ou inferior (descendente),
2. Existir mobilidade horizontal - quando pai e filho pertencessem a profissões diferentes
mas do mesmo nível,
3. Hereditariedade social - quando pai e filho tivessem exatamente a mesma profissão e o
mesmo nível hierárquico.

Qualitativos: exemplos: falta de recursos económicos, alta taxa de penhoras, uso de roupas e
mobiliário em 2ª mão, más condições habitacionais, ausências de infância, falta de vida
privada, estrutura fraca de ego, forte sensação de marginalidade, baixo nível de aspirações.
Tanto os indicadores sociais quantitativos como os qualitativos, são construídos para atingir
quatro objetivos concretos:
1. Retratar a realidade social nas suas facetas estrutural e dinâmica,
2. Revelar as perceções dos diferentes grupos sociais sobre o sistema social,
3. Planear a intervenção social,

Cecı́lia Rocha Pá gina 27


METODOS QUALITATIVOS 2014/15

4. Avaliar essa intervenção com clareza e rigor.

Critério para a construção de indicadores sociais:


1. Reconhecimento da sua utilidade, há que questionar se ele poderá ser útil, quer para a
análise da realidade, quer para a intervenção dos atores sociais,
2. Os caminhos utilizados para a sua elaboração, são variados podendo-se:
i) Partir de dados já disponíveis e utilizá-los em bruto,
ii) Construir índices a partir da sua combinação,
iii) Recolher dados brutos através da pesquisa direta para responder a certas questões.

Guiões de observação e sistemas de registo. Quando se planeia uma observação no terreno,


interessa sobretudo indicadores sociais, sendo que para tal:
1. Deve-se construir um guião de observação que inclua um conjunto de indicadores
necessários para retratar o objeto de estudo mas não excessivamente abundante de modo
a poder criar uma situação de sobre informação,
2. Tirar partido de leituras e contactos efetuados no estudo exploratório,
3. Nunca se deve ir desarmado para o campo (para prevenir informação inútil e não deixar
escapar a pertinente). Para além do uso dos próprios guiões de observação que podem
funcionar como instrumentos de registo, é usual recorrer-se a outros elementos como os
seguintes:
Bloco de notas - Companhia permanente onde anota tudo o que observa, sob a forma de notas e
memorandos para ajudar a memória.
Diário de pesquisa - Relatório mais detalhado de toda a informação útil a não esquecer (incluir
fotografias, gráficos, mapas, tabelas, etc.). É um autêntico “diário de bordo” (Deve-se utilizar
dossier de folhas soltas).

Procedimento na feitura de um diário de pesquisas:


1. Registo deve ser feito no mesmo dia (por forma a não se perder a informação relevante),
2. Registar anotações em ordem cronológica,
3. Conseguir diferenciar os factos observados, dos juízos de valor, interpretações e
hipóteses,
4. Usado frequentemente como fonte de reflexão e devem ser anotadas novas ideias,
5. Elaboração de um índice analítico no diário de pesquisas.

Gravações em áudio ou em vídeo: Suporte informático. Vantagens do registo imediato do diário


de pesquisa em suporte informático, sobre o clássico dossier:
1. Permite construir texto,
2. Proporciona uma pesquisa rápida da informação registada,
3. Permite um arquivo seguro e organizado.

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TIPOS DE OBSERVAÇÕES - Distinção de acordo com o envolvimento do observador no campo


do objeto de estudo.
Observação não-participante
1. O observador não interage de forma alguma com o objecto de estudo no momento
em que realiza a observação,
2. Este tipo de técnica, possui características interessantes por:
i) Reduzir substancialmente a interferência do observador no observado,
ii) Permitir o uso de instrumentos de registo sem influenciar o grupo alvo,
iii) Possibilitar um grande controlo das variáveis a observar. Contudo, grande
parte das pesquisas exige um trabalho de campo em situação “natural”, não
podendo simular em laboratório.
Observação participante despercebida pelos observados - Em certas investigações deste tipo, o
papel que o investigador assume é ténue, passando completamente despercebido à população
observada, sem que esse facto possa considerar-se incorreto do ponto de vista deontológico,
porque são feitas em ambiente aberto:
a. Estudo do comportamento de claques de futebol,
b. Padrões de atuação de vendedores ambulantes ciganos em feiras,
c. Expressões associativas de grupos minoritários,
d. Padrões de ocupação de tempos livres de cabo-verdianos.
Observação participante propriamente dita - O desempenho do observador fá-lo participar da
vida da população observada. Assume explicitamente o seu papel de estudioso e combina-o
com outros papéis sociais. Tem vantagens e inconvenientes:
Vantagens: A possibilidade de entender profundamente o estilo de vida de uma população e de
adquirir um conhecimento integrado da sua cultura.
Desvantagens: Como limitações dominantes salientam-se a morosidade de tal técnica exige e as
dificuldades que levanta a uma posterior quantificação dos dados.
Aspetos relevantes da observação participante. A observação participante tem vindo a ser cada
vez mais usada em trabalhos de natureza sociológica, interdisciplinar ou em antropologia das
sociedades complexas, quer como ferramenta exploratória quer como técnica principal de
recolha de dados, quer ainda como instrumento auxiliar de pesquisas de natureza
quantitativa. Dada a sua utilidade vale a pena refletir um pouco sobre duas questões a ter em
conta no seu uso, a fim de dela melhor se poder tirar partido:
Negociação e escolha do papel social – Deve existir um cuidado extremo na negociação que
conduzirá a escolha do papel social que o investigador irá desempenhar. Aquele deve ser muito
claro para a população-alvo, de utilidade social reconhecida e com consciência que funcionará
como observatório. Uma vez decidido o papel social, este terá naturalmente benefícios e custos.

A questão da intensidade do mergulho. O investigador deve interrogar-se sobre a questão do seu


envolvimento com o grupo-alvo ou seja, sobre a intensidade do mergulho que quer dar sobre o
objeto de estudo. O modelo proposto por Joseph Luft e Harry Hingham, conhecido pela Janela

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de Johari, representa com clareza as relações interpessoais, categorizando-as em quatro áreas,


relativamente a um dado ego:
Área livre - aqueles que integram a informação conhecida pelo ego e pelo outro,
Área cega - o que são conhecidos apenas pelo outro,
Área secreta - os que, o ego conhece sem os partilhar com o outro,
Área inconsciente - os elementos que condicionam a relação mas dos quais nem o ego nem o outro
têm consciência.

Mergulho restrito - Quanto maior for o distanciamento do investigador, menos será o seu acesso à
área secreta do objeto a observar.
Mergulho profundo - Escolha de um papel em que o investigador se envolve com maior
profundidade com a populaçao a observar. Acesso à área secreta facilitado, enquanto a
observação da área cega é dificultado. A situação de observador participante é portanto muito
complexa, contendo em si dois papéis em constante dialéctica - o de observador e o de
participante exigindo por parte do investigador uma constante auto-vigilância se quer manter o
equilíbrio precário conferido pela sua dupla condição.
Observação militante - Situação em que o papel de observador e o de participante, tende a
desequilibrar-se claramente em favor do segundo (participante).

Problemas deontológicos - Deveres e regras de ética a cumprir:


1. Ao ganhar a confiança da população observada, o investigador passa a ter acesso a um
conjunto de informações secretas e eventualmente sagradas sobre a sua cultura (área
secreta),
2. Em contrapartida, compromete-se implicitamente a respeitar certas regras de controlo
de informação obrigando-se a só divulgá-la quando autorizado,
3. Qualquer investigador deverá ter a maturidade emocional e a integridade moral
suficientes para gerir a situação de ambivalência sociológica que o confronta com o
dilema da dupla fidelidade, à comunidade académica que lhe pede resultados
cientificamente e à população-alvo que em si confiou um património de informações de
acesso reservado. Deve ser feita uma prévia negociação de até onde deve exercer o seu
papel de investigador, evitando tornar-se ladrão de informação.

RESUMO:
A. Observação,
B. Indicadores,
C. Guiões de observação,
D. Importância do Diário de Pesquisa,
E. Tipos de observações,
F. Observação Participante e observação participante despercebida,
G. Escolha do observatório,

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H. Envolvimento do observador no grupo-alvo,


I. Problemas deontológicos

TEMA 8 – As entrevistas e as dinâmicas de grupos (pág. 135-153)


INQUÉRITOS POR ENTREVISTA E POR QUESTIONÁRIO
Um inquérito é um processo em que se tenta descobrir alguma coisa de forma sistemática.
O inquérito em Ciências Sociais:
1. Designa processos de recolha sistematizada, no terreno, de dados suscetíveis de poder ser
comparados,
2. Existem autores que quando se referem a inquéritos se circunscrevem aos que permitem
uma posterior análise quantitativa identificando-os erradamente com o conceito de inquérito
por questionário,
3. Esta perspectiva quantitativista é, profundamente redutora, uma vez que o que define um
inquérito não é a possibilidade de quantificar obtida mas a recolha sistemática de dados
para responder a um determinado problema.

Tipos de inquéritos em Ciências Sociais.


Tendo em vista estudar os procedimentos práticos no ato da inquirição, existem duas variáveis:
1. O grau de diretividade das perguntas,
2. A presença ou ausência do investigador no ato da inquirição.
O resultado do cruzamento destas variáveis, conduz-nos a 4 tipos de inquérito (A a D):

Grau diretividade das Situação do investigador no ato da inquirição


perguntas Está Presente Está ausente
Menor diretividade A – Entrevista pouco C- Questionário pouco
estruturada estruturado
Maior diretividade B – Entrevista Estruturada D- Questionário
Estruturado

Dependendo do objetivo e do tipo de investigação poderá ser vantajoso e conveniente utilizar


vários, ou mesmo, todos os tipos de inquéritos, escolhendo o mais conveniente á fase da
investigação.
Exemplo: Inquirir informadores qualificados=> questionário deve ser pouco estruturado (C),
Inquérito por questionário para evitar viagens impossíveis de realizar, Entrevista estruturada (B)
para aplicação de uma amostra da população-alvo, e por fim Inquérito por questionário
não-estruturado, para verificação das hipóteses da entrevista estruturada.

INQUÉRITOS POR ENTREVISTA


A interação direta, questão-chave na técnica de entrevista:
1. Quando vai começar uma entrevista o investigador partilhou habitualmente pouca

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

informação com o entrevistado (área livre pequena), sabe pouco sobre ele (grande área
cega do entrevistador e secreta do entrevistado) encontrando-se este último na mesma
situação (extensa área cega e secreta de quem o vai entrevistar),
2. O objetivo de qualquer entrevista é abrir a área livre dos dois interlocutores no que respeita
a matérias da entrevista, reduzindo, por consequência, a área secreta do entrevistado e a
área cega do entrevistador. Para atingir tal meta, uma estratégia habitualmente eficaz é a de
começar por reduzir a nossa área secreta aplicando uma regra fundamental das elações
humanas => Regra da reciprocidade.
Uma primeira forma de o fazer é através de uma apresentação bem-feita a qual assume três
vertentes:
1. A apresentação do investigador, para criar um ambiente de partilha,
2. A apresentação do problema da pesquisa,
3. Explicação do papel pedido ao entrevistado.
Na entrevista importa gerir simultaneamente três problemas:
1. Influência do entrevistador no entrevistador, para não induzir a resposta,
2. Diferenças culturais entre o entrevistador e o entrevistador, (género, idade, cultura),
3. Sobreposição de canais de comunicação, cuidado ao colocar as questões e como as
enquadra em termos não-verbais (expressões faciais, etc.).

Quando recorrer à entrevista?


Duas situações típicas em que o uso de entrevista é recomendável:
1. Nos casos em que o investigador tem questões relevantes, cuja resposta não encontra na
documentação disponível ou, tendo-a encontrado, não lhe parece fiável, sendo necessário
comprová-la,
2. Em situações em que o investigador deseja ganhar tempo e economizar energias recorrendo
a informadores qualificados como especialistas no campo da sua investigação ou líderes da
população-alvo que pretende conhecer. Em qualquer dos contextos mencionados é
fundamental ter consciência que ao ser selecionada uma qualquer fonte de informação estão
a rejeitar-se outras que podem ser igualmente importantes.
Madelaine Grawitz, propôs uma tipologia já considerada clássica: De acordo com esta autora
pode-se classificar as entrevistas de acordo com uma sequência ininterrupta, variando entre um
máximo e um mínimo de liberdade concedida ao entrevistado e o grau de profundidade da
informação obtida.
São 6 tipos de entrevista, que a autora agrupa em 3 grupos dominantes:
1. Entrevistas dominantemente Informais,
2. Entrevistas mistas,
3. Entrevistas dominantemente formais.

Entrevistas dominantemente Entrevistas Entrevistas dominantemente


Informais mistas formais

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

1_ Entrevista clinica 3_ Entrevista 5_ Entrevista com perguntas


Livre abertas
2_ Entrevista em profundidade 4_ Entrevista 6_ Entrevista com perguntas
centrada fechadas

● Entrevista clínica => utilizada em contextos terapêuticos/liberdade quase total na resposta


do entrevistado/abundância e profundidade de informações,
● Entrevista em profundidade=> utilizada em aconselhamento vocacional/grande grau de
liberdade no diálogo/profundidade na abordagem temática da parte do entrevistado,
● Entrevista livre, (estudos exploratórios),
● Entrevista Centrada, (estudos exploratórios),
● Entrevista com perguntas abertas,
● Entrevista com perguntas fechadas=> estas típicas das sondagens feitas a populações de
grande dimensão/grau de liberdade reduzido, bem como, profundidade da informação
obtida. Ambas com características predominantemente formais.
Decorre igualmente como fatores de diferenciação do tipo de entrevista:
6 Variáveis:
1. Número de perguntas,
2. Ordem das perguntas,
3. Forma das perguntas,
4. Focagem dominante,
5. Grau de interação entrevistador/entrevistado,
6. Facilidade de análise das respostas.
Aspetos de natureza prática. Independentemente do tipo de entrevista a realizar a experiência
resultante do trabalho de campo aconselha a adoção de um conjunto de padrões de atuação que se
tornaram habituais, e devem ser tidos em conta antes, durante e depois da entrevista:
● Antes - Definir os objetivos => o planeamento de uma entrevista deve começar por integrar
a explicitação dos objetivos que se querem alcançar.
ʊ Construir o guia de entrevista=> operacionalizar sob a forma de variáveis e encadear
as questões de forma adequada ao objetivo da pesquisa (que idade tem?),
ʊ Escolher os entrevistados=> informadores qualificados ou aleatórios,
ʊ Marcar data, hora e local. Preparar as pessoas a serem entrevistadas => contactá-las
previamente, por forma a saber a sua disponibilidade e a de transmitir uma imagem
de profissionalismo.
● Durante - Explicar quem somos e o que queremos; Obter e manter a confiança, Dar tempo
para ”aquecer” a relação => 1 questão inicial que o coloque à vontade; Saber escutar,
recorrer a perguntas de “aquecimento”, deixando-o falar à vontade; Manter o controlo com
diplomacia, controlando o fluxo de informação, utilizando perguntas de aquecimento e
focagem; Enquadrar as perguntas melindrosas 🡺 Devem ser feitas no fim da entrevista sob
um clima de confiança; Evitar perguntas indutoras.

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

● Depois - Registar as observações sobre o comportamento verbal do entrevistado; Registar


as observações sobre o ambiente em que decorreu a entrevista.

INQUÉRITOS POR QUESTIONÁRIO. O inquérito por questionário distingue-se do inquérito


por entrevista essencialmente pelo facto de investigador e inquiridos não interagirem em situação
presencial.
A interação indireta, questão chave do inquérito por questionário:
Duas questões devem ser examinadas a este respeito:
1. O cuidado a ser posto na formulação das perguntas,
2. Forma mediatizada de contactar com os inquiridos.

TEMA 9 – A Analise de Conteúdo

A Análise de Conteúdo orienta-se para a formalização das relações entre temas, permitindo traduzir
a estrutura dos textos - Berelson, define a Analise de Conteúdo como "uma técnica de investigação
que permite fazer uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das
comunicações, tendo por objetivo a sua interpretação".
Pormenorizando:
1_ Objetiva, porque conduzida de acordo com regras, instruções claras e precisas para que
investigadores diferentes uma vez debruçados sobre o mesmo conteúdo, obtenham resultados
idênticos,
2_ Sistemática, onde o conteúdo deve ser ordenado e integrado em categorias pré-selecionadas em
função dos objetivos a atingir,
3_ Quantitativa, porque é amiúde calculado a frequência dos elementos considerados significativos.
Cartwright, Para além do "conteúdo manifesto da comunicação", estende a "todo o comportamento
simbólico".
Stone, define como "uma técnica que permite fazer inferências, identificando objetiva e
sistematicamente as características específicas da mensagem" orientando-se para a formalização
das relações entre temas, permitindo decifrar a estrutura dos textos.
Grawitz, desaparecem as exigências de manifesto no que diz respeito ao conteúdo e de descrição
quantitativa, e aparecem as noções de forma e de estrutura.
Bardin, a AC não deve ser utilizada apenas para proceder a uma descrição do conteúdo das
mensagens, pois a sua principal finalidade e à inferência de conhecimentos relativos às condições
de produção (ou eventualmente de receção), com a ajuda de indicadores (quantitativos ou não).
Como se processa a análise de conteúdo:
1_ Descrição, a enumeração resumida após o tratamento das características do texto constitui a 1ª
etapa,
2_ Interpretação, o significado atribuído a essas mesmas características, constitui a última etapa.
A Inferência é o processo intermédio que permite a passagem, explícita e controlada, de uma à
outra.

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

Ainda de acordo com Bardin, a técnica de pesquisa AC pode considerar-se como a articulação
entre o texto (descrito e analisado) e os fatores que determinam essas características, por
dedução lógica, constituindo estes a especificidade da Análise do Conteúdo.
Tipos de análises do conteúdo - Madeleine Grawitz, segundo a autora existem diversos tipos de
Analise Conteúdo:
1_ Análise de exploração e Análise de verificação – Análise de conteúdo cuja finalidade é
fundamentalmente explorar, distinta da análise de documentos que tem como finalidade a
verificação de uma hipótese, cujo objetivo é bem definido e conduz à quantificação dos resultados.
2_ Análise Quantitativa e Análise Qualitativa – A Principal distinção entre as duas é que na
Análise Quantitativa, o que é mais importante é o que aparece com frequência, sendo o número de
vezes o critério utilizado, ao passo que na Análise qualitativa, a noção de importância implica a
novidade, o interesse, o valor de um tema,
3_ Análise direta e análise indireta, a análise quantitativa utiliza a medida de uma forma direta, a
análise qualitativa utiliza a forma indireta, na medida em que, procura inferir o que não foi dito ou
escrito e por conseguinte que se encontra latente sob a linguagem expressa.
A PRÁTICA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO - A análise de conteúdo compreende no seu
percurso um certo número de etapas. Bardin, considera 3 fases na análise do conteúdo:
1ª - Pré-análise (recolha de documentos sujeitos à análise, formulação de hipóteses, dos objetivos
da investigação e dos indicadores, todas elas interligadas),
2ª - Exploração do material,
3ª - Tratamento dos resultados, inferência e interpretação.
Etapas da análise de conteúdo:
1_ Definição dos objetivos e do quadro de referência teórico, onde são definidos objetivos e um
quadro de referência teórico,
2_ Constituição de um corpus, onde se procede à recolha de documentos.
A escolha deve ter certas regras:
i) Exaustividade (todos os elementos),
ii) Representatividade (escolher documentos que sejam representativos do conjunto de
documentos),
iii) Homogeneidade (documentos devem se enquadrar na generalidade nos critérios
escolhidos),
iv) Pertinência (os documentos escolhidos devem ser uma fonte de informação fidedigna
que cumpra os objetivos),
3_ Definição de categorias, as categorias são "rubricas significativas, em função das quais o
conteúdo será classificado e eventualmente quantificado”, Grawtiz.
As categorias podem ser definidas à priori, onde são formuladas hipóteses e o investigador
pretende verificá-las, tendo definido antecipadamente as categorias de análise, contudo, podem
levar a que não se tenha em consideração aspetos importantes do conteúdo.
Quando definidas à posteriori, significa que não foram definidas antecipadamente, sendo este
designado por “procedimento exploratório. A definição de categorias à posteriori só deve ser feita

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

após leituras sucessivas do documento, norteado sempre pelos objetivos. As categorias devem ter
as seguintes características:
1_ Exaustivas, (significa que todo o conteúdo é incluído),
2_ Exclusivas, (os mesmos elementos devem pertencer a uma e não a várias categorias),
3_ Objetivas (onde a categorização é explicitada de forma direta, clara e distinta),
4_ Pertinentes, (devem manter estreita relação com os objetivos e com o conteúdo que está a ser
classificado). Um problema levantado por muitos autores incide sobre a possibilidade de definir um
conjunto de aspetos da realidade comuns a muitas análises, de forma a facilitar e a normalizar a
Análise de Conteúdo, apesar das diferenças de objetivos que encerram e dos textos que lhe venham
a ser submetidos: Grawitz, enumera alguns aspetos que podem constituir objetos de análise:
1_ Matéria, Importa saber de que trata a comunicação (assuntos que nela são abordados),
2_ A direção da comunicação, que pode ser, por exemplo, favorável, neutra, desfavorável, entre
outra,
3_ Os valores, procuram explicar a orientação da comunicação pelo reconhecimento dele ser
favorável, neutra ou desfavorável, revelando finalidades que os indivíduos nela implicados
procuram alcançar,
4_ Os meios, dizem respeito aos instrumentos de comunicação utilizados para os recetores
aderirem aos valores do emissor,
5_ Os atores, trata-se de definir as características individuais dos acores intervenientes, exemplo:
idade, profissão religião),
6_ A origem, diz respeito à origem dos textos utilizados, tais como: artigos de revistas ou jornais
regionais, nacionais,
4_ Definição de unidades de análise, três tipos de unidades:
a) - Unidades de registo, É o segmento mínimo de conteúdo que se considera para poder proceder à
análise, colocando-o numa dada categoria. Pode ser de natureza e de dimensões muito diversas:
i) Unidades formais (que podem ou não coincidir com unidades linguísticas. Ex: a palavra,
a frase, uma personagem,
ii) Unidades semânticas, mais comum é o tema (Ex.: democracia, sucesso escolar, etc),
b) - Unidades de contexto, constitui o segmento mais longo de conteúdo que o investigador
considera quando caracteriza uma unidade de registo, sendo a unidade de registo o mais curto. É
importante considerar a unidade de contexto para assegurar a fidelidade e a validade da análise,
c) - Unidades de enumeração, é a medida em função da qual se procede à quantificação. As
unidades de enumeração dizem respeito ao tempo e ao espaço (Ex. Parágrafo, linha, centímetro,
minutos de registo, etc). A escolha de unidades de enumeração deve ser cuidadosamente feita e
devem ser indicados os critérios que a orientaram: Segundo Vala – Pode ter 3 direções:
1_ Análise de ocorrências, visa determinar o interesse da fonte por diferentes objetos ou
conteúdos,
2_ Análise avaliativa, é o estudo das atitudes da fonte relativamente a determinados objetos, 3_
Análise estrutural, visa fazer inferências sobre a organização do sistema de pensamento da
fonte implicado no discurso que se pretende estudar,

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

5_ Quantificação, existem inúmeras técnicas de quantificação,


6_ Interpretação dos resultados, deverá não só possibilitar a compreensão do fenómeno que
constitui objeto de estudo, como fazer o investigador chegar à sua explicação e podendo,
em alguns casos, chegar a formas de previsão.
Fidelidade e validade:
1_ Fidelidade, diz respeito ao problema de garantir que diferentes codificadores cheguem a
resultados idênticos (fidelidade inter-codificadores), e que um mesmo codificador ao longo do
trabalho aplique de forma igual os critérios de codificação (fidelidade intracodificador),
2_ Validade, diz respeito àquilo que o investigador pretendia medir. É válida quando a descrição
que se fornece sobre o conteúdo tem significado para o problema em causa e reproduz fielmente a
realidade dos f a t o s.

**

ANÁLISE DE CONTEUDO constitui uma metodologia de pesquisa utilizada para descrever e


interpretar documentos e textos. Existem diversas teorias sobre o objeto e formas da Análise de
Conteúdo, como por exemplo Berelson, que a define como uma “técnica de investigação”, embora
com um conjunto de requisitos de objetividade, sistematização e quantificação. Outros autores como
Cartwright, estende a análise de conteúdo do texto para fora do documento, nomeadamente
englobando na análise “comportamentos simbólicos”, e outros como Stone, vão mais longe,
efetuando inferências que na sua opinião permitem, identificar e as características específicas da
mensagem do texto. Importa salientar que na análise de conteúdo está sempre latente a possibilidade
dos seus múltiplos significados e múltipla variedade de análise, influenciada certamente pelos
valores culturais e contexto do investigador.

1_ Definição dos objetivos e do quadro de referência teórico, delimitação do objeto, definir o


objetivo, programar a pesquisa. Identificar e recursos.
2_ Constituição de um corpus - Conjunto de documentos que sustentarão a análise de conteúdo.
3_ Definição de categorias -
4_ Definição de unidades de análise -
5_ Quantificação -
6_ Interpretação dos resultados - Fidelidade e validade

TEMA 10 – Relatório de pesquisa (Cap. 6 + Cap. 21 Flick)


O objetivo de um relatório é por em comum uma estabelecida ação do autor e compartilhar um
conjunto de informações por ele consideradas relevantes. Isto implica que a preocupação
dominante de quem tem a missão de lançar um qualquer relatório deve ser a de ter um plano de
comunicação adequada ao publico a quem esse documento de destina e deverá ser um reflexo da
pesquisa efetuada.

Reflexões previas ao ato de relatar

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

O que é que quer transmitir?


‫ خ‬Deve ser aplicado o princípio da economia da informação.
‫ خ‬É preciso ter noção da informação que se quer obter e como se quer difundi-la.
‫ خ‬Saber selecionar informação. Nunca transmitir tudo.
‫ خ‬O relatório deve conter informação sobre os seguintes aspetos:
o Objetivo da pesquisa – indicar os resultados previstos
o Objeto – delimita o campo da investigação
o Relação da problemática investigada e a teoria existente
o Resultados efetivamente obtidos
o Apresentação dos resultados não alcançados e justificação dos motivos que
impediram atingi-los

A quem se destina o relatório?


Esta questão prende-se á caraterização dos utilizadores do relatório, uma vez que o investigador
não escreve para si próprio. Enquanto a pesquisa documental é uma “passagem de testemunho”, o
relatório de pesquisa corresponde à “devolução” do testemunho. Deve ser uma estratégia
comunicacional adequada aos grupos-alvo a que se destina.

Quando e onde se desenvolve a pesquisa?


‫ خ‬Condicionamentos espaço-institucionais
o As restrições devem ser “incorporadas” pelo investigador e dadas a conhecer no
relatório, para que os resultados possam ser alvo de uma avaliação adequada.
o Estudos sobre prisões, hospitais, psiquiátricos, grupos fechados, … são alguns
exemplos deste tipo de condicionamento
‫ خ‬Condicionamentos temporais
o Têm de ser explicados no relatório e facultada ao leitor a justificação do ocorrido.
o Ao relatar, esta limitação deve ser explanada com clareza, não como legitimação dos
resultados que não se alcançaram, mas como, indicador de custos tempo/qualidade
(resultados obtidos) da pesquisa.

Como se desenvolveu a investigação?


Refletir sobre a metodologia adotada e as dificuldades encontradas na sua execução.
A auto e heterocritica metodológica é imprescindível para a apresentação de um trabalho sério e ter
noção sobre o seu valor acrescentado e sobre as suas limitações.

EM SUMA: A reflexão prévia tem como objetivo ter presente o enquadramento material, pessoal,
espaço-temporal e metodológico que desenvolveu-se a pesquisa.

ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO
Conteúdo do relatório – O relatório deve conter os seguintes elementos:

Cecı́lia Rocha Pá gina 38


METODOS QUALITATIVOS 2014/15

1. Apresentação do problema
▪ O relatório tem que explicar com clareza a delimitação da pesquisa, os seus
objetivos e a moldura teórica em que o mesmo se enquadra.
▪ A preparação desta parte do relatório estará facilitada, se o investigador tiver feito
uma delineação cuidada e registado o resultado do mesmo.
2. Itinerários e Processos de Pesquisa
▪ Explicitação dos problemas epistemológicos
▪ Problemas que se prendem com a metodologia adotada
▪ Problemas com as técnicas selecionadas
▪ Dificuldades encontradas
▪ Forma como todos eles foram superados
3. Resultados Alcançados
▪ Os resultados alcançados pela investigação (positivos ou negativos), constituem a
parte substantiva de qualquer relatório.
4. Consequências dos resultados
O conteúdo do relatório deve abranger os dez elementos que integram o Vê de Gowin:
o Vertente concetual
♣ Objeto de estudo
♣ Questão-chave
♣ Conceções do mundo e da vida
♣ Teorias
♣ Modelos
♣ Conceitos
o Vertente metodológica
♣ Registos
♣ Transformações (estratégias de recolha, tratamento e interpretação de
dados)
♣ Resultados obtidos
♣ Valor acrescentado da pesquisa

Construção e forma do relatório


A forma de apresentação é tão importante como o seu conteúdo, visto tratar-se de um instrumento de
comunicação.
Dois princípios básicos indispensáveis
1. Clareza – discurso morfológico sintético e lexical correto
2. Rigor – assenta no valor defendido por qualquer ramo da ciência da procura da
verdade. Materializa-se num relatório, em conceitos bem definidos, numa distinção
clara entre juízos de valor e juízos de fato, na separação compreensível entre descrição
e interpretação da realidade estudada.
Esquema de apresentação: o travejamento temático

Cecı́lia Rocha Pá gina 39


METODOS QUALITATIVOS 2014/15

Um relatório tem como base de apoio um esquema que, na sua fase final, assume a forma de Índice
Geral (esquema geral que remete às paginas onde são tratados os assuntos), organizado em
unidades estruturadas (partes, capítulos, secções, parágrafos, etc.). O esquema funciona
como uma espécie de bússola, com funções orientadoras, e não como um espartilho à
criatividade do investigador.
O corpo do texto
Com o esquema, o investigador pode escolher um de dois caminhos:
1. Escreve o relatório final apenas ao terminar todo o processo de investigação. OU
2. Vai progressivamente escrevendo sucessivas versões provisórias paralelamente ao
processo de pesquisa.
Sugestões para preparar a redação do texto:
1. Dimensões dos parágrafos e períodos
2. Formatação da mancha (alíneas, espaços, etc.)
3. Pés de página
4. Quadros, gráficos, diagramas, mapas, fotos e outras ilustrações
5. Sínteses parciais e conclusões
6. Introdução
7. Anexos
8. Glossários
9. Índices
10. Bibliografia
11. Titulo

Flick_Cap.21_PESQUISA QUALITATIVA E QUANTITATIVA


• Relações entre a investigação qualitativa e quantitativa
As relações entre a investigação qualitativa e quantitativa podem ser discutidas e estabelecidas a
diferentes níveis:
a) Epistemológico e metodológico;
b) Planos de pesquisa que combinam ou integram a utilização de dados e métodos qualitativos e
quantitativos;
c) Métodos de pesquisa que são simultaneamente qualitativos e quantitativos;
d) Ligação das descobertas das pesquisas quantitativas e qualitativas;
e) Generalização dos resultados;
f) Avaliação da qualidade da investigação: aplicação de critérios quantitativos à investigação
qualitativa e vice-versa.
• Dar ênfase às incompatibilidades
Uma 1ª relação é salientar as incompatibilidades de ambas as investigações, nos princípios
epistemológicos e metodológicos ou nas metas e objetivos a alcançar. É um comportamento
frequentemente associado a posições teóricas diferentes, como o positivismo versus construtivismo

Cecı́lia Rocha Pá gina 40


METODOS QUALITATIVOS 2014/15

ou pós positivismo. Por vezes, essas incompatibilidades são referidas como paradigmas diferentes,
pelo que os dois campos aparecem como envolvidos em guerras de paradigmas.
• Definir as áreas de aplicação
P. ex. se um investigador quer saber alguma coisa sobre a experiência subjetiva de uma doença
mental crónica, tem de fazer entrevistas biográficas de alguns pacientes e analisá-las
minuciosamente. O investigador que quer descobrir a frequência e distribuição da doença na
população precisa de realizar um estudo epistemológico sobre a questão. Os métodos qualitativos são
adequados na 1ª questão e os métodos quantitativos na 2ª, abstendo-se cada método de entrar no
território do outro.
• Domínio da investigação quantitativa sobre a qualitativa
Em estudos exploratórios com entrevistas abertas que precedem à coleta de dados por questionário,
em que o 1º passo e os seus resultados são considerados apenas como preliminares. São
frequentemente utilizados argumentos como a representatividade da amostra, para comprovar a
asserção de que só os dados quantitativos conduzem a resultados concretos, deixando os dados
qualitativos mais um papel ilustrativo. As afirmações feitas nas entrevistas abertas são a seguir
testadas e explicadas pela sua confirmação e frequência nos dados do questionário.
• Superioridade da investigação qualitativa sobre a quantitativa
Oevermann et al. (1979) diz que, os métodos quantitativos são sempre um mero 'atalho económico
da investigação, no processo de geração de dados', ao passo que só os métodos qualitativos,
particularmente a Hermenêutica Objetiva por ele desenvolvida são capazes de proporcionar uma
verdadeira explicação científica dos factos. Kleining (1982) sublinha que os métodos qualitativos
podem perfeitamente passar sem a utilização dos métodos quantitativos, ao passo que os métodos
quantitativos precisam dos métodos qualitativos para explicar as relações que descobrem. Cicourel
(1981) considera os métodos qualitativos especialmente adequados para responder a questões
microssociologias e os métodos quantitativos para as questões macro-sociológicas. McKinlay (1995)
torna bem claro, que na saúde pública e relações sociopolíticas, devido à sua complexidade, são os
métodos qualitativos e não os quantitativos que conduzem a resultados relevantes. Podem ser, pois,
encontradas razões para a superioridade da investigação qualitativa, quer ao nível da programação da
pesquisa quer ao nível de adequação ao tema estudado.
o Articular a investigação qualitativa e a quantitativa num plano de pesquisa
o Integração da investigação qualitativa e quantitativa
Miles e Huberman desenham 4 tipos de pesquisa. No 1º plano, ambas as estratégias funcionam em
paralelo. No 2º plano, é a observação contínua do terreno que proporciona a base para relacionar as
várias curvas da pesquisa ou para derivar e configurar e confìgurar as que serão integradas. O 3º
plano, começa com um método qualitativo (por exemplo, uma entrevista semi-estruturada), seguido
de um estudo por questionário, como fase intermédia, antes de os resultados dos dois passos serem
aprofundados e estabelecidos, numa segunda fase qualitativa. No 4º plano, um estudo de campo
complementar acrescenta profundidade aos resultados de uma sondagem feita no primeiro passo,
seguindo se uma intervenção experimental no terreno, para testar os resultados dos dois primeiros
passos.

Cecı́lia Rocha Pá gina 41


METODOS QUALITATIVOS 2014/15

• Sequenciar a investigação qualitativa e quantitativa


Barton e Lazarsfeld sugerem, que se use a investigação qualitativa para elaborar hipóteses que serão
posteriormente testadas por abordagens quantitativas. No seu raciocínio, não destacam apenas as
limitações da investigação qualitativa; reconhecem também explicitamente o potencial da
investigação qualitativa na exploração do fenómeno estudado. A pesquisa qualitativa e quantitativa
estão localizadas em partes diferentes do processo de investigação.
• A triangulação da investigação qualitativa com a quantitativa
As perspectivas metodológicas diferentes complementam-se no estudo de um assunto, e isso é
concebido como forma de compensar as fraquezas e dos pontos cegos de cada um dos métodos. A
intuição, que se tem afirmado a pouco a pouco, da complementaridade e não da rivalidade dos
métodos qualitativos e quantitativos é o fundamento desta ideia. Mas os diferentes métodos
mantêm-se autónomos, funcionando lado a lado, tendo como ponto de encontro o assunto estudado.
E nenhum dos métodos combinados é afinal, encarado como superior ou preliminar. A utilização dos
métodos em simultâneo ou um depois do outro é menos importante que o facto de serem
considerados iguais, relativamente ao papel que desempenhem no projeto. Esta combinação de
métodos diferentes num plano de um estudo cria alguns problemas práticos, p.ex., a que nível é
exatamente aplicada a triangulação.
Podem distinguir-se 2 alternativas. A triangulação da investigação qualitativa e da quantitativa pode
centrar-se num caso. São entrevistadas e preenchem um questionário as mesmas pessoas. As suas
respostas em ambos os casos são comparadas agregadas e relacionadas uma com outras na análise.
As decisões de amostragem são tomadas em 2 passos. As mesmas pessoas são incluídas nas 2 partes
do estudo, mas numa 2ª fase tem de se decidir que participantes do estudo por questionário serão
selecionados para as entrevistas. A articulação pode ser também estabelecida no nível dos dados. As
respostas ao questionário são analisadas em termos de frequência e distribuição na amostra, e as
respostas das entrevistas são analisadas e comparadas desenvolvendo-se uma tipologia, p.ex., são
depois conjugadas e comparadas a distribuição das respostas do questionário e a tipologia elaborada.
o Combinar dados qualitativos e quantitativos
o Transformação de dados qualitativos em quantitativos
Hopf critica a tendência de investigadores qualitativos tentarem convencer o seu público com
argumentos baseados na lógica quantitativa em vez de procurarem uma interpretação e uma
apresentação dos resultados teoricamente fundamentadas.
• Transformação de dados quantitativos em qualitativos
Esta já é mais difícil. Os dados de questionários quase não permitem a revelação do contexto de cada
resposta ao que só pode ser conseguido pela utilização explícita de métodos adicionais, como
entrevistas complementares a uma parte da amostra. Se a análise da frequência de certas respostas
nas entrevistas pode proporcionar novas intuições relativamente a essas entrevistas. A explicação do
motivo por que certos padrões de reposta surgem com grande frequência nos questionários exige a
coleta e a introdução de novos tipos de dados.
o Combinar métodos qualitativos e quantitativos
o Articular resultados qualitativos e quantitativos

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

A combinação das 2 abordagens é mais frequente estabelecida pela articulação dos resultados da
investigação qualitativa e quantitativa no mesmo projeto ou em projetos diferentes, sequencialmente
ou em simultâneo. Um exemplo pode ser a combinação de resultados de um inquérito e de um estudo
por entrevista. Esta combinação pode ser prosseguida com diferentes objetivos:
- Obter sobre o assunto em estudo um conhecimento mais alargado do que o proporcionado por uma
única abordagem;- validar mutuamente os resultados das duas abordagens;
Podem surgir desta combinação 3 tipos de resultados:
1) Os resultados qualitativos e os quantitativos convergem, confirmam-se mutuamente e apoiam as
mesmas conclusões;
2) Os dois resultados evidenciam aspetos diferentes de um problema, mas complementam-se e
conduzem a um quadro mais completo;
3) Os resultados qualitativos e os quantitativos são divergentes ou contraditórios.
• Avaliação e generalização da investigação
Uma forma comum de as combinar é visível na aplicação do modelo da investigação qualitativa à
quantitativa. A questão da amostragem, por ex., é basicamente vista como um problema numérico,
traduzido na pergunta: De quantos casos preciso para fazer uma afirmação científica? Está a
aplicar-se uma logica quantitativa à investigação qualitativa. Outra combinação é aplicar os critérios
de qualidade de uma á outra. A investigação qualitativa é frequentemente criticada por não obedecer
às exigências de qualidade da investigação quantitativa sem se ter em conta que estes critérios não se
ajustam à investigação qualitativa, aos seus princípios e práticas. Em sentido inverso, acontece o
mesmo problema, embora raramente. Outra forma é que se esquece que generalizar resultados de um
estudo, a partir e um nº limitado de entrevistas de uma sondagem representativa é também uma
forma de generalização. Esta generalização numérica não é necessariamente a correta, pois muitos
estudos qualitativos visam o desenvolvimento de novos conhecimentos e novas teorias. A questão
mais relevante é a da generalização dos resultados qualitativos com base num fundo teórico solido. É
menor o nº de casos estudados mas melhor a qualidade das decisões de amostragem sobre qual
assenta a generalização.
Neste caso, as perguntas relevantes são: Quais casos? Em vez de quantos casos? E o que representam
os casos ou para que fim foram selecionados? Deste modo a questão da generalização na
investigação qualitativa está vinculada à quantificação menos rigidamente do que por vezes se
presume.
• Adequação dos métodos como ponto de referência
Wilson (1982) advoga o relacionamento das 2 tradições metodológicas: “ as abordagens qualitativa
e quantitativa mais do que métodos competitivos são complementares e a utilização de um método
em particular deve antes de mais basear-se na natureza do problema a estudar”.
Todavia, ainda não foi resolvido satisfatoriamente o problema da combinação destas 2 abordagens.
As tentativas de integrar as 2 abordagens acabam frequentemente nas opções “uma-depois-da outra”
(com preferências diferentes) em paralelo (com vários níveis de independência das duas estratégias)
ou dominância (também com preferências diferentes). A integração está frequentemente limitada ao

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METODOS QUALITATIVOS 2014/15

nível do plano de pesquisa- o uso combinado de vários métodos, com níveis diversos de inter-relação
entre eles.
Por outro lado, continuam a existir diferenças nos dois processos de investigação acerca da
adequação dos planos de pesquisa e da forma correta de avaliar os processos, os dados e os
resultados. Continua em aberto a discussão sobre o modo de ter em atenção estas diferenças, na
combinação das 2 abordagens. Existem algumas questões-guia, para avaliar os exemplos de
combinação das 2 abordagens:
- É atribuído um peso igual às 2 abordagens (no plano do projeto, na relevância dos resultados, etc)?
- As 2 abordagens são aplicadas separadamente ou estão efetivamente relacionadas? Muitos estudos,
por ex., utilizam separadamente métodos qualitativos r quantitativos e a integração das 2 partes
refere-se simplesmente à comparação dos 2 resultados, no final.
- Qual a relação lógica das 2 abordagens? Simplesmente em serie? Como? Ou são realmente
integrados num plano de métodos múltiplos?
- Quais são os critérios utilizados para avaliar a investigação no seu todo? É a perspetiva tradicional
da validação que domina ou ambas as formas de investigação são avaliadas por critérios
apropriados?

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