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ESTUDO

“GÉNERO, SEXUALIDADE E
PRÁTICAS VAGINAIS”

BRIGITTE BAGNOL
ESMERALDA MARIANO

Pesquisa qualitativa realizada na


cidade de Tete e no distrito de
Changara de Julho a Setembro 2005

Maputo, Junho 2006


Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

AGRADECIMENTOS

Este estudo etnográfico foi realizado sob os auspícios e graças ao


financiamento do governo Flamingo (no âmbito do Projecto de Combate à
Feminização do HIV/SIDA) coordenado pela UNAIDS, e aos fundos doados
pela AusAID (Agencia Australiana para o Desenvolvimento Internacional), pelo
que endereçamos os nossos agradecimentos.

O nosso sincero obrigado a todas as mulheres que nos revelaram os seus


“segredos” e partilharam connosco as suas experiências íntimas de vida e nos
transmitiram os seus conhecimentos. Sem a sua disponibilidade e confiança
em abordar assuntos íntimos de sexualidade, não teria sido possível a
realização do estudo. Desculpamo-nos do facto de revelar estes “segredos” de
uma forma tão directa, mas acreditamos que isso possa contribuir para a
melhoria da saúde delas e dos seus parceiros. Por isso pedimos compreensão
e desculpas.

Um agradecimento especial vai a todos os participantes, entrevistados e à


população em geral, pela sua hospitalidade e generosidade.

O nosso agradecimento particular é dirigido ao Director Provincial de Saúde de


Tete, Dr. Frederico Brito que acolheu com entusiasmo este programa de
pesquisa.

A nossa apreciação também vai aos assistentes de pesquisa, Sras. Laurinda


António P. J. Fernandes, Isabel de Sousa Makaza e Sr. Albineiro Tsiro, pela
valida e continua contribuição na recolha e análise da informação. Em fim
agradecemos a todos quantos nos ajudaram na materialização deste estudo
incluindo os colaboradores externos Ana Maria, Agostinho, Fernando Sande,
Francisco Álvaro, Camuaza, Veloso Pedro e Olívia Massango.

Agradecemos à Dra. Adriane Martin Hilber do Departamento de Saúde e


Pesquisa Reprodutiva, Género e Direitos de Saúde Reprodutiva da OMS
Genebra, pela coordenação da pesquisa ao nível internacional, assim como ao
Dr Terry Hull, pela coordenação na Ásia e as Dras Jenny Smith e Eleonor
Preston-White, pela coordenação na África.

Ao Dr. Touré Boukar, representante da OMS em Moçambique na altura em que


iniciamos o estudo, e à Dra. Alicia Carbonel, ponto focal na OMS, também vão
os nossos sinceros agradecimentos pelo apoio incondicional dado ao longo do
trabalho.

Compete-nos também apresentar o nosso reconhecimento à Dra. Ana Dai


(MISAU) e a Dra. Filipa Gouveia (ponto focal no MISAU), à Dra. Fátima Simão
(CRDS) e aos colegas de equipa quantitativa Dr. Francisco Mbofana e Dr.
Hipólito Nzwalo, pelo imenso apoio prestado.

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

O nosso muito obrigado a todo o pessoal do Centro Internacional para a Saúde


Reprodutiva (ICRH) da Universidade de Ghent em Tete pelo apoio logístico
prestado que tem tornado realizável este estudo: Professora Dra. Marleen
Temmerman (ICRH Belgica), Sr. Lou Dierick (ICRH Kenya), Dr. Wouter
Arrazola, Dr. Fulgêncio Sambola, Sr. Marçal Monteiro, Sra. Aida Jasse, Sr.
Helder Benjamin, Dra. Isabel François do ICRH Moçambique.

O nosso agradecimento estende-se a todos os informantes-chave e


autoridades administrativas que facilitaram a realização dos nossos encontros,
nomeadamente: Sra. Marta Zalimba, secretaria provincial da OMM, Sr.
Albertino Francisco, secretario do Bairro Filipe Samuel Magaia, os Senhores
Pascoal Timba e Kulazare K. Mbuzi, respectivamente presidente da localidade
e líder comunitário de Chipembere, Sr. Inácio J. Muchanga, Administrador do
distrito de Changara, Sra. Maria Odete Quinhentos, Directora Distrital de Saúde
em Changara, Srs. Naisson Pior e Wyrosse Nguiraze Mbvala, respectivamente
secretario do bairro e líder comunitário em Changara, Sra. Celeste Manteiga,
secretaria da OMM e líder comunitária em M’padue e Sr. Raul José Catete,
secretario do bairro M’padue.
São também dignos de menção o Dr. Hugo Nunez e a Dra. Lilia pelo apoio
prestado nas consultas de ginecologia e obstetrícia, assim como das
enfermeiras do SMI Sras. Esmeralda Jóia e Maria de Fátima, do Hospital
Provincial de Tete.

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

INDÍCE

AGRADECIMENTOS
INDÍCE

INTRODUCÇÃO
Antecedentes e justificação
Perfil sócio demográfico da província
Práticas vaginais conhecidas

1. OBJECTIVOS GERAIS DO ESTUDO E RESULTADOS ESPERADOS

1.1. OBJECTIVOS GERAIS


1.2. RESULTADOS ESPERADOS

2. FORMAÇÃO DOS ASSISTENTES, METODOLOGIA DE PESQUISA E


AMOSTRA REALIZADA

2.1. FORMAÇÃO
2.2. AMOSTRA REALIZADA
2.3. TECNICAS PARA A CONDUÇÃO DAS ENTREVISTAS

3. TRABALHO DE CAMPO

3.1. RECRUTAMENTO E SELECÇÃO DOS ENTREVISTADOS


3.2. CONSENTIMENTO INFORMADO
3.4. PARTICIPAÇÃO DOS ENTREVISTADOS NO ESTUDO
3.5. O TRABALHO DE EQUIPA, CONSTRANGIMENTOS E
POSSIBILIDADES DE MELHORIAS

4. RESULTADOS DA PESQUISA

4.1. PRÁTICAS MAIS COMUNS


4.2. FREQUENCIA E PREVALENCIA ESTIMADA
4.3. MOTIVOS PARA REALIZAR ESTAS PRÁTICAS
4.5. TIPOS DE PRODUTOS, EVOLUÇÃO DAS PRATICAS E LUGAR
DE COMPRA/VENDA
4.5. PERCEPÇÃO DOS HOMENS E DAS MULHERES DO IMPACTO
DESTAS PRATICAS SOBRE A SUA SAUDE SEXUAL E
REPRODUTIVA
4.6. PERCEPÇÃO DOS HOMENS E DAS MULHERES SOBRE O
IMPACTO DESTAS PRÁTICAS SOBRE A SUA SATISFAÇÃO
SEXUAL E EXPERIENCIA

5. CONCLUSÕES

Anexos:
Anexo 1: Entrevistas realizadas

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INTRODUÇÃO

Desconstruindo as noções coloniais e pós coloniais sobre os “outros”, e a visão


da sexualidade Africana como promíscua, baseada no modelo dicotómico do
prazer sexual masculino e na sexualidade reprodutiva para a mulher; o estudo
mostra como as pessoas constroem a sexualidade em torno de noções e
praticas contextualmente específicas. Com este estudo pretendemos explorar
áreas até agora pouco estudadas, concernentes ao desejo sexual, erotismo,
prazer, fertilidade, reprodução, purificação sexual. Este estudo foi elaborado
principalmente do ponto de vista feminino, mas também numa perspectiva
masculina, considerando a nova perspectiva de género na sexualidade.
Desafiar as concepções sobre a passividade da mulher e submissão da mulher
ao desejo sexual masculino, permite nos focalizar na mulher como actor
sexual. É importante realçar que a sexualidade não é monolítica e imposta ao
individuo, mas é sujeita a negociações e mudanças durante o ciclo da vida e
portanto, permite-nos falar sobre múltiplas e contextualizadas sexualidades. No
campo da sexualidade, assim como das praticas quotidianas, estas são
inventadas e influenciadas pela “modernidade” na era em que a pandemia do
HIV/SIDA é dominante no discurso em torno da sexualidade.

Esta pesquisa faz parte do “Estudo da OMS em Múltiplos Países sobre Género,
Sexualidade e Práticas Vaginais”, que está sendo realizado no Sudeste
Asiático (Tailândia e Indonésia) e na África Austral (Moçambique e África do
Sul). O estudo global em múltiplos países é coordenado pelo Departamento de
Pesquisa em Saúde Reprodutiva e Género e Direitos da OMS - Genebra. Na
África Austral, a pesquisa é coordenada pela Rede sobre o HIV/SIDA (HIVAN)
na Universidade do Kwazulu Natal (Durban - RSA). Em Moçambique, a
pesquisa está sendo realizada em colaboração com o Ministério da Saúde, a
Direcção Provincial de Saúde de Tete. A pesquisa qualitativa em Tete está
sendo coordenada pelo ICRH - Universidade de Ghent em parceria com a OMS
Moçambique. O Centro Regional para o Desenvolvimento Sanitário (CRDS)
terá um papel mais activo na segunda fase da pesquisa quantitativa.

O estudo compreende duas fases. A primeira parte qualitativa consistiu no


trabalho etnográfico de campo para identificar a construção cultural das
práticas vaginais em Tete. Com base nos resultados do estudo qualitativo, em
2006, será levada a cabo a parte quantitativa constituindo assim a segunda
fase do estudo1.

O objectivo da pesquisa em Moçambique, é de recolher dados relacionados


com práticas realizadas sobre a genitália feminina tais como aquelas que visam
secar e apertar a vagina; o alongamento dos lábios vaginais (“puxa puxa”
kukhuna ou “kupfuwa”); extracção de impurezas através da incisão (“masale”
ou “masungo”) para cura e tratamento da infertilidade; e práticas afins ligadas a
noções de limpeza e de purificação que envolvem o encontro sexual com
parceiros casuais (limpeza ritual depois do tratamento de DTS, ou uma limpeza
ritual após o falecimento dum familiar).

1
Para informações adicionais sobre o estudo, queira consultar o protocolo da OMS.

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

Foram empregues métodos qualitativos para entender melhor a natureza,


frequência, contexto e motivações que estão por trás de certas práticas
vaginais específicas; para melhor perceber o significado das práticas para as
mulheres no seu relacionamento com a sua sexualidade; para identificar a
terminologia certa; e grupos populacionais que realizam estas práticas. Para
além disso, foram igualmente avaliadas a percepção sobre os benefícios ou
consequências destas práticas sobre a saúde reprodutiva e sexual, de modo a
melhor entender o dano potencial que uma substância específica utilizada pode
provocar. As informações recolhidas serão utilizadas para a elaboração dum
questionário de inquérito que será administrado na fase seguinte da pesquisa
quantitativa.

A pesquisa qualitativa foi realizada em quatro locais na Província de Tete; em


duas zonas rurais e duas urbanas na Cidade de Tete e no Distrito de
Changara. Foi seleccionado Changara visto que constitui um corredor
importante entre a Beira, o Malawi e o Zimbabué.

Na Cidade de Tete, capital da província, foram seleccionados o bairro (Filipe


Samuel Magaia) e uma zona semi-urbana (M’padue). No Distrito de Changara
foi seleccionado (o bairro na sede do distrito e na localidade de Chipembere,
uma zona rural).

Antecedentes e justificação

Moçambique tem uma população de cerca de 18 milhões de habitantes com


uma taxa de prevalência entre adultos2 de 16.2% (MISAU/PCN, 2005) - está
rodeado de países com níveis de prevalência bem acima da sua própria: a
Suazilândia e o Zimbabué a mais de 30%, a Zâmbia e a África do Sul a cerca
de 20%, o Malawi a 15% (UNAIDS, 2002).

Os dados revelam diferenças dramáticas nas taxas de prevalências nas


regiões fronteiriças (MISAU-PNC/DTS/HIV-SIDA: 2005). As taxas de
prevalência mais elevadas encontram-se nas três províncias do centro do Pais;
Tete, Manica e Sofala (16.6%, 19.7% e 26.5%, respectivamente) onde há
corredores de transporte activos de grande movimento levando ao Zimbabué, à
Zâmbia e ao Malawi, países estes que têm níveis mais elevados de prevalência
do HIV do que Moçambique. A região central com (20,4%) tem a taxa de quase
o dobro da região norte (9,3%). A taxa de prevalência na região sul (18,1%) é
ligeiramente mais alta do que a taxa nacional. O inquérito de 2000 mostrou que
as mulheres grávidas (com idades compreendidas entre 15 e 24 anos) nas
principais zonas urbanas, estavam mais afectadas do que aquelas fora destas
zonas. Um facto alarmante é que a taxa de infecção das mulheres entre 15 e
24 anos de idade, é quatro vezes mais elevada do que entre os homens da
mesma idade.

O inquérito nacional realizado em 2001 sobre a saúde reprodutiva e o


comportamento sexual dos jovens e adolescentes, indica que 12% dos jovens
2
Pessoas com idades compreendidas entre 15 e 49 anos.

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de ambos sexo masculino e feminino afirmou ter experimentado um corrimento


uterino/vaginal (INE: 2001). No mesmo estudo, 3% dos jovens de sexo
feminino e 5,4% dos jovens masculinos relataram igualmente ter tido uma
úlcera genital. Estas cifras são muito elevadas e sugerem a necessidade de
investigação.

A Província de Tete, com uma prevalência do HIV/SIDA entre os adultos de


16,6% (MISAU-PNC/DTS/HIV-SIDA: 2005), foi seleccionada para realizar esta
pesquisa por estar localizada na parte central do país, onde a prevalência do
HIV/SIDA é mais elevada e onde se encontram algumas das práticas acima
referidas. A cidade de Tete e o Distrito de Changara registam uma prevalência
de 25,8% e 19,6% respectivamente (MISAU-PNC/DTS/HIV-SIDA: 2005).
Estudos recentes sobre as ITS nesta província, mencionam o uso de plantas
introduzidas na vagina “para diminuir a lubrificação e aumentar a fricção”
(Mohamed et al., sem data: 27). Se bem que não existe nenhuma evidência
duma correlação entre práticas vaginais específicas e as ITS, a existência de
ambas nas zonas de elevada prevalência de ITS, merece maior investigação.
Apesar de esforços crescentes para melhorar os conhecimentos e fomentar a
mudança de atitudes e práticas, está muito difundida a falta de conhecimento
acerca da saúde sexual e reprodutiva e do HIV/SIDA. Embora tenha sido
realizada uma melhoria na última década, os esforços actuais de prevenção e
cuidados são considerados insuficientes (ONUSIDA/OMS, 2003). Uma falta
continuada de compreensão por parte dos pesquisadores e trabalhadores da
saúde sobre a sexualidade, noções de prazer, transmissão de doenças e
purificação, impedem qualquer intervenção adequada. Embora tenham sido
identificadas como prejudiciais, algumas práticas tais como as chamadas “sexo
seco”, ainda carecem de estudo adicional.

Perfil sócio demográfico da província

A província de Tete tem uma extensão territorial de 100.724 km2, divide-se em


12 distritos com 2 municípios (Cidade de Tete e Moatize), e tem uma
população de aproximadamente 1.353.425 habitantes. Cerca de 87% da
população vive em zonas rurais, e é considerada uma das províncias mais
pobres do Pais com um nível de incidência de 82%. Um recente estudo reporta
que a população de Tete é maioritariamente composta por crianças e jovens, e
a tendência das famílias terem um elevado números de filhos é sustentada
como tentativa de equilíbrio familiar em casos de morte dos filhos
(MISAU/DANIDA 2004:37). O mesmo estudo indica que a média geral do
tamanho do agregado familiar na cidade de Tete é de 5.3 e no distrito de
Changara é de 5.0.

No que diz respeito ao acesso à energia eléctrica e água potável, é comum nos
locais de estudo, a maioria da população fazer recurso as águas do rio
Zambeze e somente a cidade de Tete tem acesso a energia eléctrica.

Importa salientar que sistema de descendência da população estudada é


patrilinear, onde os direitos de transmissão, sucessão e herança seguem a via
masculina.

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O casamento exógamico é uma característica comum, e são frequentes


casamentos poliginicos principalmente nas zonas rurais, Gujral et al. (2004:37)
aponta que 24.7% dos homens tinham mais de uma esposa.

Do ponto de vista religioso, a maioria da população professa um sincretismo


religioso; o culto tradicional dos espíritos dos antepassados e a religião católica
e protestantes.

Cerca de 67% da população é analfabeta, factor determinante no estado de


saúde da população da província.

Práticas vaginais conhecidas

A presente pesquisa dá continuidade a várias investigações realizadas por


diferentes autores sobre as práticas sexuais em Moçambique. Foi realizada
uma grande quantidade de pesquisas na última década por várias instituições e
ONGs, sobre questões relacionadas com o HIV/SIDA e a sexualidade. Uma
análise da produção de pesquisa neste campo, afirmou que a maioria destes
trabalhos são extremamente limitados em termos de investigação etnográfica e
de análise aprofundada do contexto cultural (Arthur e Osório, 2002). Isto é
devido principalmente ao período relativamente curto dos estudos de pesquisa
realizados anteriormente e a uma falta de financiamento suficiente para um
amplo e conveniente trabalho de campo. A maior parte das pesquisas
realizadas até hoje têm sido orientadas para os projectos, e portanto, não
captaram suficientemente a complexidade da sexualidade em Moçambique.
Nenhuma pesquisa examinou especificamente o conceito de prazer sexual e
noções de higiene vaginal ou de purificação ritual.

As mulheres por todo o país utilizam diversos agentes (Dethol, Savlon, uma
pedra especial chamada de “enxofre” ou “incenso”: uma mistura de água, sal,
limão e vinagre) ou seguem as recomendações dos curandeiros (mistura não
especificada de plantas, raízes e outros ingredientes) para secar, limpar, tratar
corrimentos vaginais e/ou apertar a sua vagina. Um estudo recente realizado
na província de Tete sobre as ITS, explica que a prática do “sexo seco” visa
aumentar o prazer sexual do homem em detrimento do da mulher (Mahomed et
al., sem data: 27). Os autores explicam também que as pessoas procuram um
apoio, tanto das unidades sanitárias como dos curandeiros, para as infecções
de transmissão sexual e outros aspectos da sexualidade, visto que algumas
são consideradas como tendo uma origem espiritual e mágica. Os curandeiros
são responsáveis por realizar a purificação da paciente.

Outra prática comum nesta região, bem como no norte do país, trata-se do
esticamento dos lábios menores da vagina. (Arnfred, 2003; Bagnol, 2003). É
necessário que seja avaliado o seu impacto sobre a saúde reprodutiva, visto
que ela pode criar esfoladuras e erupções cutâneas, aumentar a superfície em
contacto durante o sexo, e aumentar a fricção por colocar os lábios dentro da
vagina para apertá-la. Vários autores (Ironga, 1994; Enoque, 1994; Arnfred,
2003; Bagnol, 1996, 2003) investigaram o alongamento dos lábios menores na
província de Nampula. Enquanto Bagnol (2003) analisou a implicação das

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práticas sobre a homo-atracção e os papéis de género, Arnfred (2003) realçou


a importância duma etnografia participativa aprofundada de forma a evitar
modelos ocidentais preconcebidos que condenam a prática como sendo uma
mutilação genital. Alguns autores referem-se a esta prática como sendo um
pedido masculino na medida em que realça o prazer sexual (Raimundo et al.,
2003) ou, na mesma linha, consideram que a sua ausência pode constituir
motivo de divórcio (Ironga: 1994). O relatório preparatório para a Conferência
Extraordinária da Organização da Mulher Moçambicana (OMM, 1983), indica
que o alongamento dos lábios é útil porque “durante a cópula eles aumentam o
prazer sexual do homem e depois quando a mulher é mais idosa, os lábios são
utilizados para fortalecer o diâmetro da vagina”. O mesmo relatório, ao analisar
os rituais de iniciação e as práticas que visam o alongamento dos lábios ou o
aumento do tamanho do pénis, afirma que “tanto os rapazes como as
raparigas, não devem utilizar produtos que prejudiquem a sua saúde e seus
órgãos sexuais” (OMM, 1983).

Outras intervenções sobre a genitália feminina incluem a extracção duma


“impureza” através duma pequena incisão entre o orifício vaginal e o ânus, no
caso de infertilidade ou de abortos frequentes. Esta intervenção visa curar uma
doença conhecida no Sul de Moçambique como "ku tsamiwa" ou "xilo" (Mariano
2001) e masale ou masungo na província de Tete.

A testagem da virgindade é igualmente realizada na região Centro de


Moçambique. É necessário portanto, que sejam identificados os métodos
empregues e as consequências da prática, visto que podem igualmente afectar
as taxas de infecção por ITS e HIV em função das técnicas empregues ou
outros factores tais como as raparigas serem importunadas por homens mais
idosos que estão à procura de virgens.

A prática do desfloramento durante os ritos de iniciação foi identificada no


Distrito de Mucubúri e no Distrito de Cuamba (Província do Niassa) (Bagnol,
1997) e na Província da Zambézia (Dava, F. et al,. 1999). Bagnol (1997) cita
uma entrevistada com 35 anos que fez um depoimento sobre esta prática:
“Na minha zona os ritos são muito diferentes dos ritos na costa ou em outras
áreas. Os idosos, para além de oferecerem ensinamentos, simulam o acto
sexual com um pénis não lubrificado feito de barro. É muito doloroso e
traumático para as raparigas, que têm medo dos homens e de ter relações
sexuais. Fica-se a saber que o prazer sexual é para o homem, e que devemos
sempre aceitar o homem, que ter sexo é para ter filhos. As pessoas idosas no
interior vivem uma forma violenta de sexualidade”. Devido ao facto do mesmo
pénis feito de barro ou madeira que é utilizado durante estes rituais, ser
utilizado para várias raparigas, um relatório recente relaciona as questões de
saúde e a eventual contaminação (Raimundo et al., 2003).

Embora algumas destas práticas tenham sido documentadas, nenhuma foi


estudada cuidadosamente para compreender a sua dimensão cultural e o seu
impacto sobre a transmissão e prevenção da ITS/HIV.

1. OBJECTIVOS GERAIS DO ESTUDO E RESULTADOS ESPERADOS

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1.1. OBJECTIVOS GERAIS

Os objectivos gerais do estudo são de acordo com o protocolo da OMS:

• Identificar, compreender melhor e documentar as práticas vaginais


relacionadas com a sexualidade e saúde sexual das mulheres. Uma
pergunta orientadora para este objectivo, é o impacto percebido pelas
próprias mulheres, das práticas sobre a sua saúde sexual e bem-estar.
• Descrever o contexto social mais amplo no qual estas práticas se
realizam – incluindo por exemplo o sistema de género, a economia,
cultura, o enquadramento histórico, religião e as instituições médicas.
• Entender as motivações, intenções, percepções e experiências (as
benéficas como as prejudiciais) de mulheres que tenham realizado as
práticas vaginais.
• Obter estimativas fiáveis da prevalência de práticas vaginais
específicas entre um grupo social específico importante em cada área.

O estudo foi projectado de modo a abordar especificamente as seguintes


perguntas de pesquisa:
1. Que práticas vaginais (esforços no sentido de modificar, cortar, secar,
purificar, melhorar, apertar, lubrificar ou limpar a vagina, lábios, clítoris
ou hímen) se encontram entre as mulheres nas comunidades de
realização do estudo?
2. Qual é a prevalência e frequência destas práticas vaginais dentro de
cada população objecto de estudo?
3. Quais são as razões pelas quais as mulheres realizam estas práticas
vaginais?
4. Qual é o impacto que estas práticas têm sobre a saúde sexual e
reprodutiva das mulheres e dos homens?
5. Qual é o impacto que estas práticas têm sobre a satisfação e
experiência sexuais percebidas pelas próprias mulheres e homens?
6. Até que ponto as práticas são promovidas pelos parceiros sexuais das
mulheres, ou por outros membros da comunidade, incluindo
fornecedores de serviços de saúde tradicionais e modernos?

1.2. RESULTADOS ESPERADOS

De acordo com o protocolo, os resultados do estudo serão utilizados para:

1. Contribuir nas políticas sobre as DTS, HIV/SIDA e sexualidade a todos


os níveis
2. Influir no desenvolvimento de microbicidas e preservativos
3. Contribuir para a elaboração de mensagens relevantes para a
prevenção das DTS e do HIV/SIDA
4. Desenvolver consciência sobre as práticas vaginais e a compreensão
pelas pessoas da sexualidade e do prazer

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2. FORMAÇÃO DOS ASSISTENTES, METODOLOGIA DE PESQUISA E


AMOSTRA REALIZADA

O trabalho de campo foi realizado entre o dia 21 de Julho e 28 de Setembro


2005 na província de Tete tendo as entrevistas sido realizadas entre o dia 1 de
Agosto e 20 de Setembro.

No dia 22 de Julho as investigadoras credenciadas pelo MISAU (Ministério da


Saúde) apresentaram-se à DPS (Direcção Provincial da Saúde de Tete), para
iniciar o “Estudo sobre Género, Sexualidade e Práticas Vaginais”. O director
provincial por sua vez, autorizou e enviou credenciais às autoridades
administrativas quer a nível da cidade quer distrital, informando a realização do
estudo.

A pesquisa foi realizada em quatro locais na Província de Tete. Zonas tanto


rurais como urbanas estão cobertas pelos locais seleccionados na Cidade de
Tete e no Distrito de Changara. Changara foi seleccionado por constituir um
corredor importante entre a Beira, o Malawi e o Zimbabué.

Na Cidade de Tete, capital da província, foram seleccionados um bairro (Filipe


Samuel Magaia) e uma zona semi-urbana (M’padue). Foram seleccionados
também dois locais no Distrito de Changara (a sede distrital e Chipembere,
uma zona rural).

2.1. FORMAÇÃO

A equipa de investigação foi composta por duas investigadoras e de três


assistentes de pesquisa (duas mulheres e um homem) com experiência em
pesquisa social. Os assistentes de pesquisa são provenientes da unidade de
pesquisa do Instituto de Comunicação Social (ICS) e da Direcção Provincial de
Saúde (DPS).

A formação dos três assistentes e o pré-teste dos instrumentos de trabalho


decorreram de 25 a 30 de Julho 2005 no Centro de Formação de Saúde.
Durante o curso “formal” discutiram-se alguns conteúdos dos guiões para a
uniformização cognitiva entre os membros da equipa. Os entrevistadores foram
formados na metodologia de pesquisa, instruídos a garantir o sigilo e
confidencialidade, respeitar os comentários, valores, crenças, decisões e
opções dos entrevistados.

Principais conteúdos do treino:


• As relações de género;
• A sexualidade;
• Significado local e definição de prazer e satisfação sexual;
• Identificação e classificação das praticas vaginais e sexuais;
• Elaboração de um glossário;
• Discussão e tradução dos guiões das entrevistas;
• A metodologia de pesquisa qualitativa;
• Mobilização na comunidade para preparação do ensaio de entrevista e
teste do consentimento informado em Tete - Bairro M’padue;

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• Pré-teste e ensaio de entrevistas com entrevistados chave.

Na prática, o processo formativo foi contínuo, desde o início do treino formal


até ao fim da realização das entrevistas. A equipa efectuou encontros
semanais para síntese e discussão das entrevistas, a sistematização dos
dados de forma a actualizar a metodologia de pesquisa além das discussões
diárias.

2.2. AMOSTRA REALIZADA

Para a recolha de informações da pesquisa realizaram-se entrevistas semi-


estruturadas seguindo um guião com os principais tópicos, usando entrevistas
individuais com informantes chave, entrevistas em profundidade, grupos focais
e grupos de referência para a verificação e validação das informações.

Tabela 1: Amostra

Entrevistas Prevista Realizada


Entrevistas com 20 20
informantes chaves
Entrevistas em 15 18
profundidade
Grupos focais 6 7
Grupos de referência 3 4

Durante o primeiro ano, o objectivo era de acordo com o protocolo da OMS


realizar um total de 6 discussões em grupo focal (dois com adultos e dois com
jovens de cada sexo) e 20 entrevistas individuais com informantes chaves, 15
entrevistas em profundidade e 3 discussões de grupo com um grupo de
referência. Além disso, previa-se acompanhar alguns curandeiros de ambos os
sexos durante um período de três meses.

Num total de 103 pessoas participaram no estudo sendo 25 homens e 78


mulheres. (Ver em anexo 1 o detalhe das entrevistas realizadas desagregadas
por sexo).

Realizaram-se:
- 20 Entrevistas com informantes chave
- 18 Entrevistas em profundidade
- 7 Grupos focais (nunca com indivíduos com menos 18 anos; um grupo
focal com homens adultos, um com adolescentes do sexo masculino, um
grupo misto de curandeiros, um grupo de trabalhadoras do sexo, um
grupo de mulheres com filhos, um grupo de matronas)
- 4 Grupos de referência: Mulheres da OMM, Enfermeiros homens e
mulheres, Curandeiras e jovens estudantes.

Os informadores chave incluem homens e mulheres líderes comunitários,


matronas/ parteiras tradicionais, oleiras e enfermeiras e, ginecologista. Numa
primeira fase, os líderes comunitários, secretários dos bairros, as mulheres da
OMM, pessoal da (Direcção Distrital de Saúde) DDS, foram escolhidos como

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informantes chave, estes por sua vez convidavam outras pessoas usando a
técnica bola de neve, seguindo os critérios indicados pelas investigadoras
(idade, sexo, conhecimentos e experiência sobre praticas vaginais).

As entrevistas em profundidade envolviam vendedoras de produtos vaginais,


trabalhadores de sexo, oleiras, mulheres com filhos e curandeiros/as. Algumas
entrevistas individuais decorreram nas proximidades do acampamento da
equipa de investigação, os informantes se dirigiam ao local para garantir
confidencialidade.

Os grupos de discussão em geral compreendiam um numero de 5 a 9 pessoas,


homogéneos em termos de categorias profissional e sexo.

Características dos entrevistados:


- Homens adultos com idades compreendidas entre 18 a 70 anos,
camponeses, casados e com filhos;
- Mulheres adultas com idades compreendidas entre 18 a 70 anos,
camponeses, casadas e com filhos;
- Jovens raparigas com idades compreendidas entre 18 e 20 anos,
estudantes na escola secundária, solteiras, sem filhos;
- Jovens rapazes com idade compreendida entre 18 e 25 anos;
camponeses e trabalhadores, casados e solteiros;
- Matronas ou outras mulheres que fornecem tratamentos ou conselhos
durante as práticas, com idades compreendidas entre 30 a 70 anos,
viúvas, casadas e com filhos;
- Trabalhadoras de sexo com idades compreendidas entre 18 e 30 anos,
solteiras e com filhos;
- Lideres comunitários e secretários dos bairros, com idades
compreendidas anos entre 30 a 72 anos, casados com filhos;
- Curandeiros homens e mulheres, com idades compreendidas entre 30 a
45 anos, solteiros/as e casados/as com filhos;
- Enfermeiras/os, com idades compreendidas entre 25 a 45 anos,
casadas/os, com filhos;
- Médicos/as e ginecologistas com idades compreendidas entre 40 e 60
anos, divorciadas e solteiras, com filhos.

As discussões decorreram em espaços físico que garantiam um ambiente


confidencial e com pouco distúrbio geralmente dentro da casa do entrevistado
para permitir mais privacidade. Por vezes decorreram em espaços público
escolhidos para o efeito.

2.3. TECNICAS PARA A CONDUÇÃO DAS ENTREVISTAS

Para a condução das entrevistas seguia-se um guião de entrevista semi-


estruturado, onde as questões partiam dos aspectos gerais até as questões
mais específicas, focalizando nos objectivos da pesquisa. Os guiões foram
adaptados a partir dos guiões contidos no protocolo da OMS. Estes guiões
foram aprovados pela Rede sobre o HIV/SIDA (HIVAN) na Universidade do
Kwazulu Natal (Durban - RSA) encarregue da supervisão do trabalho de
pesquisa em Moçambique.

Bagnol B. e E. Mariano 13
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

Foi utilizada uma abordagem simbólica para se explorar aspectos que


relacionam a sexualidade com a cultura material e os papéis de género. Por
exemplo: pilão e pilador associado à relação sexual, panela de barro/útero,
vagina/casa.

O uso de algumas imagens extraídas de livro e ou do computador portátil, que


mostravam a vagina ou os lábios alongados, estimulou a discussão dos
indivíduos ou dos grupos quer entre homens quer entre as mulheres.

A apresentação de algumas amostras de plantas ou raízes, serviu de


instrumento base para a discussão e análise dos produtos vaginais.

A aquisição dos produtos de “amor e sexo” vendidos no mercado Kwachena,


permitiu a discussão e classificação sistematizada dos produtos vaginais. No
mesmo local fez-se a observação directa da clientela e dos tipos de produtos
vendidos.

As investigadoras principais socorreram-se do método de observação


participante, para a compreensão e análise de algumas praticas vaginais
(alongamento dos lábios vaginais). Elas por vezes assumiram um papel de
“iniciandas a sexualidade”, e as entrevistadas, mulheres experientes agiam
como matronas ou madrinhas. Esta metodologia, facilitou maior interacção,
criando um clima de confidencialidade e maior interesse na transmissão de
conhecimentos, recreando situações conhecidas pelas entrevistadas e no qual
se sentiam a vontade.

Foram necessária observações directas, acompanhamento das consultas e


explicações fornecidas por enfermeiros/as, especialistas ginecologista
obstetras para entender a percepção do pessoal de saúde.

Fez-se também o acompanhamento e observação das suas actividades de


alguns/algumas curandeiros/as; identificando o tipo de clientes, classificando os
produtos vaginais para preparação sexual, atracção e erotismo, para o parto, o
aborto e tratamento das DTS.

3. TRABALHO DE CAMPO

O trabalho de campo decorreu de 01 de Agosto a 20 de Setembro 2005, em


duas áreas administrativas: na cidade de Tete nos bairros Filipe Samuel
Magaia e M’padue; e no distrito de Changara na própria Sede e na localidade
de Chipembere.

3.1. RECRUTAMENTO E SELECÇÃO DOS ENTREVISTADOS

Iniciou-se a recolha de dados no terreno, após prévia apresentação da equipa


(1ª. Fase na cidade de Tete e Bairro M’padwe, 2ª fase em Chipembere e 3ª.em
Changara-Sede) às autoridades administrativas e locais (Administrador do

Bagnol B. e E. Mariano 14
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

distrito, lideres comunitários, secretários dos bairros, sede da OMM e DDS)


como pontos focais para:

- Identificação do lugar para a montagem do acampamento da equipa em


Chipembere e Changara Sede;
- Apresentação e introdução às pessoas chaves das comunidades;
- Circuito de reconhecimento na Sede do distrito e nalgumas aldeias, com
o apoio das autoridades locais;
- Explicação do processo de pesquisa aos/as lideres comunitários/as e
curandeiros/as e solicitar a sua participação na identificação e selecção
dos/as entrevistados/as;
- Marcação das entrevistas e identificação do local dos encontros.

3.2. CONSENTIMENTO INFORMADO

Antes da realização das entrevistas explicou-se o objectivo da pesquisa e


pediu-se para gravar a conversa. A seguir gravou-se a leitura do consentimento
informado aos participantes em Nyungwe e ou Português, para a sua
aprovação em colaborar no estudo.

Em geral a leitura do consentimento fazia-se dia/s antes da realização das


entrevistas. Isso permitiu que os participantes se preparassem e conhecessem
os objectivos do estudo. O tempo médio de apresentação da equipa de
investigação dos objectivos do estudo e da leitura do consentimento em
Nyungwe e Português variava entre vinte a trinta minutos, facto que tornava a
entrevista cansativa, ou criava expectativas nos participantes em querer iniciar
súbito a entrevista.

Algumas vezes os entrevistados não se apresentavam no dia marcado para a


entrevista, por esquecimento do programa ou estavam ocupados noutras
actividades.

Nalguns momentos verificaram-se casos de incompreensão do próprio


consentimento, devido aos termos técnicos empregues no documento, como
por exemplo, “comité de ética”. Algumas entrevistas realizaram-se logo a seguir
a leitura do consentimento, principalmente entre os falantes da língua
portuguesa e entre os participantes que possuíam um maior nível de
escolaridade (enfermeiros, estudantes e médicos).

Com a excepção de uma entrevistada que recusou a gravação da conversa,


todos os consentimentos e as entrevistas foram gravadas com a prévia
autorização escrita dos participantes.

3.3. SIGILO E ORGANZAÇÃO DOS DADOS

Para a organização dos dados, em cada gravação indica-se a data, o lugar, o


código da entrevista. Nas transcrições, sem mencionar os nomes, indica-se o
código e os dados pessoais (idade, sexo, estado civil, casamento poligâmico
ou não, numero de filhos e outras características demográficas.

Bagnol B. e E. Mariano 15
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

A tradução e transcrição manual das cassetes foram realizadas com a


contratação de mais cinco pessoas externas a equipa.

A Análise dos dados foi realizada manualmente dactilografando-se unicamente


os aspectos relevantes organizando-os por assunto relevante.

3.4. PARTICIPAÇÃO DOS ENTREVISTADOS NO ESTUDO

Foi comum o desejo e interesse da população em participar no estudo, a


maioria demonstrou completa abertura em discutir assuntos íntimos ligados a
sexualidade. Contudo, entre o grupo das mulheres da OMM, a reacção inicial
foi de não-aceitação em abordar aspectos ligados a sexualidade, por constituir
segredo das mulheres, e que geralmente seus conhecimentos e experiências
para serem difundidos devem ser compensadas.

As entrevistas tinham uma duração que variava entre 45 minutos e três horas e
meia. Algumas entrevistas foram feitas ao longo de vários encontros tratando
se geralmente de entrevistas em profundidade e especificamente de
acompanhamento de médicos tradicionais. As vendedeiras de produtos
vaginais do mercado de Kwachena que são também médicas tradicionais
moçambicanas e zimbabueanas acompanharam a pesquisa durante toda a sua
duração.

Todos os participantes no estudo receberam em gesto de agradecimento


sabão e bolachas. Aos participantes residentes em localidades distantes foi-
lhes compensado o dinheiro de transporte, ou acompanhados através do
transporte da equipa.

3.5. O TRABALHO DE EQUIPA, CONSTRANGIMENTOS E POSSIBILIDADES


DE MELHORIAS

O ambiente de trabalho da equipa foi positivo, determinante para a obtenção de


vasta e aprofundada informação. Quase sempre se estabeleceu um ambiente
de aproximação e intimidade entre os entrevistados e entrevistadores, factor
importante e necessário para se aprofundar e clarificar alguns tópicos das
discussões. A título de exemplo algumas questões que merecerem
aprofundamento e a criação de um ambiente propício: “alongam-se os lábios
vaginais maiores ou menores”; “puxa-se a partir do clítoris”; “o que acontece a
este órgão, cresce, é tapado, reduz-se”?

Entre os vários informantes, incluindo o pessoal da saúde as opiniões por


vezes divergiam. Para superar o impasse foi necessário a observação directa.
Porém o protocolo da pesquisa não incluía a observação clínica, recolha de
imagem fotográfica, factor que limitou significativamente o aprofundamento de
alguns aspectos.

A falta de uma máquina fotográfica digital para o registro das imagens fez-se
sentir mesmo durante as entrevistas. Imagens podiam ser usadas como
material para identificar produtos (raízes, plantas, etc.) que podiam ser
mostrados para outros, a fim de confirmar e completar informações de uma

Bagnol B. e E. Mariano 16
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

forma extremamente rápida. A recolha de gestos complementou, integrou e


reforçou a linguagem verbal. Constatou-se que a linguagem gestual constitui
um valido instrumento e documento de análise da pesquisa etnográfica, que
por motivos éticos não foi completamente explorada. A falta de um gravador
digital fez se sentir quando as discussões eram em português e quando a
equipa de pesquisa ou as pesquisadoras trocavam ideias. Com este
equipamento poderia ter sido possível imediatamente guardar as discussões
em files electrónicos nos computadores, para ulteriormente utilizar estes
elementos de análise.

Várias informantes mostraram-se disponíveis não somente em fazer


demonstrações sobre algumas praticas vaginais, como também mostrar seus
órgãos genitais. Muitas partilharam os ensinamentos ligados a educação
sexual recebidos tais como movimentos, posições, massagens, maneira de
tratar e falar com o parceiro.

A questão linguística e compreensão da língua usada foi problemática devido a


heterogeneidade cultural do grupo de discussão, por vezes limitava a
compreensão geral, assim como do próprio tradutor falante da língua Nyungwe.
A principal língua de comunicação foi Nyungwe, contudo muitos informantes
falavam outras línguas (Nyanja, Sena e Português). Sentiu-se a falta de
pessoal especializado e integrado previamente na equipa para análise
linguística em relação aos conceitos base e para interpretação dos signos e
símbolos.

4. OS RESULTADOS

Mesmo os elementos mais evidentes “dados” como característica sexual


“natural” dos indivíduos são moldados pelas práticas sociais e os significados
culturais. As pesquisas etnográficas, históricas e estudos realizados pelas
feministas mostraram que existe uma grande variedade de noções de
sexualidade, forma de ser ou de se sentir homem ou mulher e de incorporar
(incarnar/incluir dentro do corpo/integrar/personificar) valores sociais.

As noções sobre o corpo, os desejos eróticos, o amor ou as práticas sexuais


variam de sítio para sítio em função de vários factores que incluem entre
outros, a classe social, o grupo étnico, as crenças religiosas, o sexo, a idade,
etc. Os historiadores mostraram também que estas noções evoluíam com o
decorrer do tempo e são intrinsecamente ligadas as transformações politicas,
sociais e culturais. Por exemplo, sociedades homo-fóbicas moldam o
comportamento das pessoas com atracção homo-erótica. A pertença a um
grupo religioso pode proibir o uso do preservativo ou o abandono de certas
práticas sexuais consideradas inapropriadas. As noções sobre a beleza do
corpo da mulher tendem a privilegiar um corpo esbelto na sociedade ocidental
enquanto em certas partes da Africa Austral um corpo robusto é muitas vezes o
desejado para corresponder aos padrões estéticos. Outro exemplo, desta vez
ligado as politicas do estado, pode ser encontrado na China onde as politicas
de controlo de natalidade a uma criança por casal, dita as regras de relações
sexuais entre parceiros. “Corpo”, “desejo”, “amor”, “sexualidade”, relações entre

Bagnol B. e E. Mariano 17
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

homens e mulheres são consequentemente construções sociais que evoluíram,


evoluem e continuarão a evoluir.

Falar da sexualidade é um desafio intelectual porque se trata de reflectir sob


aquela área em que o pensamento e a vida se intersectam numa ligação
complexa. “Corpo”, “sexualidade”, “saúde” e “doenças” podem ser
consideradas como “máquinas” conceptuais que tentam capturar a experiência
vivida numa definição ou representação abstracta. As noções de “corpo”,
“saúde” e doença” operam portanto como conceitos que agem simbolicamente
e materialmente sobre os corpos vivos e portanto não são separáveis dos
campos sociais, das forças históricas que intervêm activamente na sua
definição.

De um ponto de vista antropológico “o corpo”, a “sexualidade”, o “erotismo”, a


“saúde” não são objectos “naturais” mas produtos históricos, quer dizer
construções culturais que variam de acordo com os contextos sócio-culturais.
Nem todas as culturas humanas elaboram uma noção abstracta para definir o
corpo como uma entidade biológica individualizada e a concepção de base da
saúde e da doença é variável. A partir desta consciência e adoptando uma
metodologia critica de tipo cultural, politica e histórica, a antropologia
contextualiza os processos perceptivos e de conhecimento na relação entre o
corpo e o mundo e contribui a desenvolver uma certa reflexividade sobre a
experiência concreta de viver numa sociedade. É neste contexto e com estes
pressupostos que o trabalho de campo foi realizado e que os dados
preliminares são apresentados.

4.1. PRÁTICAS MAIS COMUNS

As práticas mais comuns mencionadas e realizadas pelas mulheres:


- Alongamento dos lábios (kukhuna, kupfuwa ou puxa-puxa)
- Inserção e utilização de produtos vaginais (mankwala ya kubvalira –
significa medicamento para usar, e neste contexto significa pôr na
vagina)
- Lavagem e limpeza quotidiana vaginal externa (vulva) e interna inserindo
um dedo para facilitar a remoção de secreções, com uma gama de
produtos
- Ingestão de estimulantes sexuais
- Ingestão de poções para estimular a dilatação do cólon do útero antes
do parto e aumentar as contracções uterinas
- Ingestão de poções para reduzir o orifício vaginal e o cólon do útero
depois do parto
- Introdução de estacas de mandioca para induzir o aborto
- Excisão e incisão de “impureza” na zona perineal (entre o orifício vaginal
e ânus)
- Corte dos pelos púbicos

As práticas mais comuns mencionadas e realizadas pelos homens:


- Alongamento/crescimento do pénis
- Ingestão de estimulantes sexuais

Bagnol B. e E. Mariano 18
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

4.2. FREQUENCIA E PREVALENCIA ESTIMADA

De acordo com o protocolo da OMS, procurou-se durante a trabalho de campo


concentrar sobre as práticas usadas pelas mulheres dando menor atenção às
práticas masculinas.

Tabela 2: Frequência das práticas vaginais e prevalências estimadas

Práticas Praticantes Frequência Prevalência


estimada
Todas as mulheres
Alongamento dos a partir dos 8/12 Na infância, e Muito alta
lábios kukhuna, anos como
kupfuwa ou puxa- (antes da primeira manutenção
puxa menstruação) após os partos
• Mulheres em
Inserção e utilização idade fértil Irregular a Alta
de produtos vaginais • Interrompem regular com
mankwala ya no terceiro frequência
kubvalira mês de diária ou
gravidez até semanal
pós parto
• Mulheres em
idade fértil
Ingestão de • Mulheres Irregular a
estimulantes sexuais depois do regular com Alta
parto frequência
• Interrompem semanal
no terceiro
mês de
gravidez até
pós parto
Ingestão de poções
para estimular a Mulheres grávidas Media Media
dilatação do cólon do
útero antes do parto
Ingestão de poções Mulheres depois do Regular Alta
para fechar a vagina e parto
do cólon do útero
depois do parto
Introdução de estacas Mulher desejando
de mandioca para abortar Media Media
provocar aborto
Lavagem diária Todas as mulheres Muito alta- Muito alta
interna da vagina com diária
água, sabão, sal, chá

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

Corte dos pelos Todas as mulheres Regular Muito alta


púbicos
Código de avaliação das frequências e prevalências numa escala de cinco
qualificadores : muito alta, alta, media, rara e muito rara.

São essencialmente as mulheres em idade fértil e sexualmente activas que


utilizam produtos vaginais para “preparar” a sua vagina. As mulheres grávidas
deixam de usar produtos vaginais após o terceiro mês. Em situação de
competição sexual com outras mulheres, como nas cidades ou em caso de ter
um marido que tem várias mulheres ou amantes, as mulheres tendem a fazer
mais uso de produtos vaginais. As mulheres em menopausa param de ter
relação sexual e tendem muito frequentemente a abandonar o uso dos
produtos vaginais e outros ligados a sua sexualidade. Porém, algumas
continuam a usar para “ficar bem” e ter “peso”.

Só aquelas que menstruam e estiver a nascer é que põem kubvalira (…) As


meninas quando começam a crescer as mamas, quando começam a ter sexo,
é que põem kubvalira. Agora basta casar, põem. Há duas maneiras. Quando
você não tem criança põe bolinhas pequenas e com frequência reduzida. E
quando for uma (mulher) que já tem filho, usa bolinhas grandes e
frequentemente. (CHI1– p. 19) (Mulher com filho cerca de 30 anos,
Chipembere, Agosto 2005)

4.3. MOTIVOS PARA REALIZAR ESTAS PRÁTICAS

As práticas directamente ligadas as actividades sexuais estão integradas numa


certa concepção do corpo da mulher, do significado de ser mulher e do que é
uma relação sexual satisfatória para o homem e a mulher.

Fundamental na socialização da mulher é o alongamento dos pequenos


lábios da vagina. A rapariga é ensinada pela madrinha logo que as suas
mamas começaram a crescer que para “ser” e se “sentir mulher” tem que fazer
isso. Também é ensinada que este é o “brinquedo do homem” e que se o
homem não a encontra com os lábios alongados terá mais dificuldades em
segurar o seu parceiro. Este processo emprega alguns meses para se atingir o
tamanho desejado. Algumas mulheres e nalgumas zonas da província “puxam
mais” ou mais frequentemente. Geralmente após os partos os pequenos lábios
tendem a encolher e precisam ser esticados novamente. Além de ser um
elemento fundamental para a preparação do coito e dos jogos eróticos entre
parceiros, os pequenos lábios visam fechar a vagina da mulher considerada
“aberta” se não tem um involucro.

“Para alguns homens tem servido de brinquedo, (…) primeiro ele diz que
vamos brincar, leva o prato, queima e começa a fazer puxa-puxa, brincar.
Então, quando vamos fazer sexo na medida em que o homem vai puxando
aquilo aumenta os centímetros (…) o homem puxa e quando é para a relação
sexual apenas pega em brincadeira (…) para motivar o sexo.” (TET6- p.7-8)
Curandeira, Tete Agosto 2005

Bagnol B. e E. Mariano 20
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

“Os homens quando vão brincar com aquela mulher é para aquilo servir de
brinquedo, brincam com aquilo é também gosta, porque aquilo fica parece
choque.” (CHA5- p.3) Grupo focal de homens, Changara, Setembro 2005

“Os homens pegam aquilo e carregam para conseguir penetrar o sexo deles
(…) os homens preferem vida (lábios vaginais) (…) aquilo faz animar. O
homem quando vão na esteira ao fazer sexo ele brinca com aquilo para
apanhar tesão, aquilo chama-se divertimento da esteira, o homem fica animado
com aquilo e é quando goza aquela outra que você não tens vida, só tens
buraco (…) serve de brinquedo para o homem poder ficar teso.” (CHI9- p. 3-4)
Grupo focal de matronas (viúvas, casadas em união poliginica) Chipembere
Agosto 2005

Da mesma forma que o alongamento dos pequenos lábios servem para fechar
o orifício vaginal considerado “aberto” após o nascimento dos filhos. O uso de
produtos vaginais e a ingestão de estimulantes sexuais também utiliza-se
para fechar a vagina e a aumentar a fricção, criar maior atrito durante a
penetração e o acto sexual. A realização destes tratamentos para fechar visa
também reter o esperma dentro da vagina. Certos mankwala, “medicamentos”
ingeridos ou inseridos na vagina procuram também secar a vagina, proporciona
o calor no corpo e na vagina quente, assim como estimulam o desejo sexual.

As noções de fechar/aberto, humidade/secura, frio/quente são extremamente


importantes para entender os fenómenos ligados a sexualidade e a reprodução
no contexto em estudo. A sexualidade é extremamente ligada a possibilidade
de procriação e as noções de prazer para ambos os parceiros. Para a
concepção são necessárias certas condições: É necessária uma certa
humidade, a retenção dos líquidos da mulher e do homem e um certo calor
para se realizar o processo de “cozedura” que vai permitir a concepção. O
aparelho reprodutivo feminino é comparado a uma panela fechada onde se
cozinha. Os pequenos lábios da vagina são a lenha que alimentam o fogo que
permite a cozedura. As metáforas ligadas a sexualidade e reprodução referem-
se essencialmente a preparação da comida e a alimentação. A sexualidade é
muitas vezes comparada a o acto de comer. Quando a pessoa come, a barriga
fica cheia. Similarmente quando a mulher fica grávida a sua barriga fica cheia.
Estas concepções são frequentes na Africa Austral e já foram documentados
em vários trabalhos (Mariano 2001, 1998; Moore, 1999; Feliciano, 1998;
Bagnol, 1997:22; Gregory, 1982; Biesele, 1993: 2).

(Mankwala ya kubvalira) serve para ela, a dona, como esses que nascem
alargam o corpo (vagina) na altura da saída do bebé (parto). Depois, a vagina
fica larga. Então tem que procurar este medicamento de kubvalira para contrair,
para ficar bem. (…) Mesmo aquelas que ainda não nasceram, que brincam
(tem relação sexual) com homens (usam estes “medicamentos). O homem é
que faz alargar o corpo (durante a relação sexual). Sendo assim, tem que
diminuir, contrair o corpo aplicando medicamento. Quando ela ficar aberta com
a vagina larga não fica bem. O corpo fica leve. (…) Nós somos mulher! Como
eu, se fosse nova a brincar com o meu marido… o lugar de brincar é esse… eu
a brincar com o meu marido, o sítio, esse, vagina, todos os dias ele está a me
abrir. (MPD3- p.9- 13) (Mulher de cerca de 50 anos, viúva M’padwe, Agosto

Bagnol B. e E. Mariano 21
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

2005)

“Ter água é característica de cada pessoa. Essa água é por isso que nos
levamos medicamentos para usar (kubvalira). Por causa disso! Porque as
mulheres quando têm filhos, o corpo não fica bem. É por isso que usam
medicamento para o corpo voltar ao seu estado inicial anterior, para ficar bem
com o marido. (A mulher) não pode ficar sem usar isso.” (MPD1- p. 14)
Secretária da OMM e matrona de 50 anos, casada, M’padwe Agosto

A noção de bem-estar, “se sentir bem” é recorrente no discurso veiculado pelas


mulheres para se referir a maneira de se sentir quando usam mankwala ya
kubvalira. As entrevistadas também dizem que quando elas não fazem o
“tratamento” o corpo fica “leve”, “sem força”. Esta situação mostra o quanto a
noção de saúde está ligada à compreensão específica do corpo, à maneira de
se sentir e de sentir o seu corpo.

“(Mulher que usa kubvalira) sente-se com peso anda também com peso
mesmo, sente-se pessoa. (…) Ela sente, porque mesmo que não vai fazer a
relação sexual, mas ela ao andar sente-se com peso (…) O peso refere-se ao
facto de se juntar com o marido, ele se sente bem e ela também. Depois de
pouco tempo eles têm vontade de novo de voltar a estar juntos” (MPD6-p. 7-8)
Curandeira, M’padwe Agosto 2005

Tabela 3: Finalidades/Justificativa da realização das práticas vaginais

Práticas Motivos
Para se prepararem para as relações sexuais
Para serem e se sentirem mulheres
Para satisfazerem o parceiro sexual/estimular a erecção
Alongamento dos Para segurar o parceiro
lábios Para se satisfazerem sexualmente
Para se sentirem bem
Para o corpo ter peso
Para terem força
Para fechar o orifício vaginal
Para embelezar o corpo
Para manter a vagina quente
Para apertar o pénis
Para seguirem a tradição
Para ter vida
Inserção e utilização Para apertar a vagina antes do acto sexual, depois do
de produtos vaginais acto sexual e depois do parto
Para secar
Para reduzir/diminuir o orifício vaginal
Para aquecer a vagina
Para tratamento de masale
Para tratamento de ITSs
Para parecer virgem

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

Ingestão de Para apertar


estimulantes sexuais Para ficar como o corpo quente
Para ter desejo sexual
Ingestão de poções
para estimular a Para dilatar o cólon do útero e facilitar o parto
dilatação do cólon do
útero antes do parto
Ingestão de poções
para reduzir o orifício Para contrair cólon do útero e facilitar o trabalho de parto
vaginal e cólon do
útero depois do parto
Introdução de estacas
de mandioca para Para induzir o aborto
provocar aborto
Lavagem diária
interna da vagina com Higiene diária
água, sabão, sal, chá,
limão, vinagre, Dethol
Higiene
Corte dos pelos Jogo erótico durante o corte entre parceiros
púbicos Aumentar a fricção sexual

As mulheres ao tomarem banho em casa ou no rio incluem uma lavagem


interna com água e sabão da sua vagina. Elas efectuam um movimento
circular com um dedo (geralmente um dedo da mão esquerda) na parte interna
da vagina com o objectivo de retirar as secreções vaginais, o esperma e os
mankwala ya kubvalira. Entre uma relação sexual e outra para eliminar o
esperma da sua vagina a mulher costuma limpar-se com um pano o interior da
sua vagina, podendo ser também limpa pelo seu parceiro. Este acto visa
também eliminar o excesso de “água” e a remoção de secreções vaginais e do
esperma após o acto sexual.

De acordo com os entrevistados, as mulheres tendem a procurar mais produtos


vaginais ou produtos para ingerir para melhorar a sua sexualidade quando
estão preocupadas em manter um parceiro infiel ou polígamo. As trabalhadoras
de sexo também tendem a usar frequentemente produtos vaginais para
proporcionar as prestações sexuais mais satisfatórias e assegurar seus
clientes. A utilização de produtos vaginais secando e contraindo a vagina faz
com que o parceiro não desconfie que a mulher tenha recentemente tido
relação sexual com outro. Existem mulheres que não utilizam os medicamentos
tradicionais porque algumas igrejas proíbem estas práticas.

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

“Vagina da mulher é larga quando muitos homens já passaram por ai, acho que
quando a todo o momento está a fazer relações sexuais. Depois da relação
sexual a vagina fica com cavidade maior, ao fazer sexo pode fazer mais força,
aí sai agua. (…) Para diminuir lava com agua morna e sal e também com
sabão” (TET7- p.23-24) Grupo focal de raparigas estudantes, solteiras Tete
Agosto 2005

“Aquelas mulheres que saiem agua e não utilizam kubvalira quando estiver a
fazer sexo, aquilo faz barulho, antes do homem ejacular tem que tirar para tirar
aquela água. (…) Então aquele medicamento quando põe vai puxar toda
aquela água”. (CHA3- p.7) Grupo focal de curandeiros, Changara, Setembro
2005

“(Com agua) não sente gosto, porque a vagina fica larga, fica com largura
assim (…) agua mesmo, basta fazer sexo uma vez chega.” (CHA3- p. 21)
Grupo focal de curandeiros, Changara, Setembro 2005

“Com aquele medicamento até ela sente o corpo a encolher-se quando for
lavar, o dedo pode entrar lá para tirar aquela sujidade, o corpo contraiu-se,
ficou como uma menina.” (CHA3- p.8) Grupo focal de curandeiros, Changara,
Setembro 2005

“Nós fazemos assim, quando a menina começa a sair maminha, procuramos


uma madrinha para lhe ensinar estas coisas de puxa-puxa (alongamento dos
pequenos lábios). Porque uma criança de sexo feminino não pode ficar assim
sem fazer isso. Isso faz bem. Como você é mulher, não pode ficar assim como
nasceu. Não vai aguentar ficar com marido. Antigamente não ficava bem. Era
preciso ter puxa-puxa. Aquilo é bom porque você é mulher. Nós mulher temos
o que? Temos buraco! Não pode ficar apenas buraco! Deve possuir aquilo (os
pequenos lábios alongados) para fechar aquele buraco”. (Se a mulher não tem
lábios alongados) não acontece nada. Se você deixar assim, pode ficar assim.
Mas é bom (ter), porque aqueles homens ou rapaz, quando tiver o seu marido
(…) como homem não costuma ter uma única mulher e eu como mulher posso
ficar com o meu marido sozinha, mas apenas para cozinhar. Mas, para brincar
ele tem outra mulher. E lá, naquela mulher, quando for encontrar aquilo, lábios
alongados (… ) e, quando voltar para si, ele há de encontrar só buraco! Não
tem lábios alongados! Antigamente não ficava bem. Mas, agora não constitui
problema. (…) (MPD3- p.1-2) Matrona viúva, 60 anos, M’padwe Agosto 2005

Finalidades/Justificativa da ingestão de mankwala (“medicamentos”) pelos


homens:
- Para estimular a erecção
- Para aumentar a potencia sexual
- Para ter vários coitos durante uma noite
- Para agradar a mulher
- Para ter mais prazer ele mesmo

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

4.5. TIPOS DE PRODUTOS, EVOLUÇÃO DAS PRATICAS E LUGAR DE


COMPRA/VENDA

“Antigamente” mankwala ya kubvalira (medicamentos vaginais) eram


fornecidos pelos familiares da mulher (madrinhas, tias, avós) ou pelos médicos
tradicionais. Estes mankwala ya kubvalira produzidos localmente são folhas,
raízes, cascas de árvore secadas e piladas colocadas no orifício vaginal com a
ponta do dedo, na calcinha ou dentro da vagina. Existem também tipos de
“óvulos vaginais” preparados com substâncias naturais similares aos acima
mencionados e misturados com ovo para formar as bolinhas. Estas são
colocadas no orifício vaginal ou inseridas na vagina. É frequente as mulheres
permanecerem durante várias horas com os óvulos inseridos na vagina. O uso
do ovo na preparação prende-se com o facto que o ovo é fechado e este é o
objectivo desejado: fechar a vagina. Muitos processos de tratamento são
baseados nesta forma de pensamento: através da analogia pretende se obter o
resultado desejado (Feliciano, 1998: 297-323). Outros produtos utilizados
incluem sal, limão, vinagre ou Dethol.

Nos últimos anos (aproximativamente desde 2001/2) constata-se a aparição de


novos produtos considerados “modernos”, “dos brancos” ou “das
Zimbabueanas” provenientes do Zimbabué e vendidos nos mercados ou por
vendedoras ambulantes. Estes mankwala ya kubvalira importados do
Zimbabué estão tendo um grande sucesso entre as mulheres apesar de
algumas já terem observado efeitos negativos. Estes produtos incluem
variedades tais como pedras ou pós (alguns deles sendo chamado Copper
Sulfure e Alum).

“Há um tipo de medicamento que (se vende no) mercado Kwachena de cor
azul, vem do Zimbabué. Quando comprei depois de tomar banho, fui colocar e
depois de um tempo a vagina toda inchou e começou a sair agua e nesse dia
no hospital tinha aparecido (também) uma senhora vindo de Marara com estes
problemas, utilizou em quantidade e fechou toda a vagina e a barriga ficou
empanturrada, com dores, andou distendida e morreu.” (MPD11- p.25) Mulher,
solteira sem filhos, M’padwe Setembro 2005

“Conheço o medicamento de Zimbabué de kubvalira, comprei esse pus


comecei a gemer, logo adoeci, nesse dia tive que levar ventoinha por (vagina)
meu marido queria ter relação comigo tive que dizer que tenho febres. No dia
seguinte aquilo escamou, escamar mesmo, uma coisa branca, tive que ficar
uma semana sem jantar com o meu marido, e aquilo estraga o útero (…) aquilo
é sal do Zimbabué, pedrinhas (…) estraga o útero. (TET4- p.24) Grupo focal,
mulheres da OMM, Tete Agosto 2005

Para o alongamento dos pequenos lábios da vagina ou a


manutenção/tratamento dos mesmos, as mulheres usam essencialmente óleo
extraído da amêndoa da fruta de nsatsi (rícino) ou de nthenguene. A amêndoa
é queimada e pilada da qual se extrai o óleo. As vezes este óleo é misturado
com uma borracha (a que se usa para fazer fisgas), chewingum ou asas de
morcego também queimadas e reduzidas em pó. Actualmente as mulheres
usam também óleo para criança Jhonson, vaselina adquiridos nas lojas, ou

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

mesmo óleo de cozinha. O uso da chewingum ou das asas de morcego na


preparação do óleo para alongar os pequenos lábios da vagina, prende se com
o facto que ambos serem elásticos, uma característica que se pretende atingir
com o tratamento. Como referimos anteriormente isso é também outro
tratamento que funciona na base do sistema analógico (Feliciano, 1998: 297-
323).

4.5. PERCEPÇÃO DOS HOMENS E DAS MULHERES DO IMPACTO DESTAS


PRATICAS SOBRE A SUA SAUDE SEXUAL E REPRODUTIVA

As mulheres referem que alguns produtos usados para o alongamento dos


lábios menores e o próprio acto de alongar por vezes causa lacerações, e o
acto em si é doloroso. Lacerações também podem ocorrer quando o parceiro
sexual “brinca” com os pequenos lábios, puxando-os sem usar óleo. As
lacerações também resultam da má preparação do produto, quando não são
bem triturados. A associação entre estas lacerações e a possibilidade de
transmissão de ITS/HIV/SIDA não é feita por nenhum dos entrevistados com
excepção de alguns trabalhadores da saúde, activistas e médicos. A humidade
ligada a retenção da urina, do esperma, do fluxo menstrual também é vista
como uma possibilidade de maior infecção por alguns provedores da saúde.

A grande maioria das mulheres que usam os produtos vaginais incluindo as


trabalhadoras da saúde afirmou não terem efeitos negativos. Contudo, as
mulheres das zonas rurais e urbanas, consideram que os produtos vendidos
(pedras e pós) no Kwachena (mercado local) são os únicos que provocam
distúrbios, pois muitas tiveram experiências de descamação da mucosa
vaginal, lacerações vaginais, ardor, inchaço e aumento de secreções vaginais,
como consequência da utilização destes produtos. Os homens também podem
ter lacerações no pénis como consequência do esforço necessário na
penetração e da fricção.

A prática de higiene diária que inclui a lavagem da parte interna da vagina


com água e sabão com os dedos é considerada pelo pessoal de saúde como
uma possibilidade de laceração com as unhas ou de infecção como sujidades
introduzidas pelos dedos. Uma outra consequência frequentemente referida é a
destruição da flora vaginal.

Dos encontros realizados com pessoal da saúde, verificou-se que é frequente


nas observações clínicas o aparecimento de mulheres com resíduos de
substâncias vaginais, ou com complicações vaginais (corrimentos) causados
pelo uso de produtos.

O pessoal de saúde especializado (ginecologistas) aponta para várias


consequências ligadas as acima referidas práticas tais como:
- menopausa precoce
- atrofia das genitais internos (útero e ovários)
- lacerações vaginais
- descamação da parede vaginal
- destruição da flora vaginal
- câncer do colo do útero

Bagnol B. e E. Mariano 26
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

- maior vulnerabilidade às ITS

Apesar da consciência da existência de uma elevada prevalência de mulheres


que utilizam os produtos vaginais, e dos efeitos para a saúde sexual e
reprodutiva, a discussão sobre o assunto entre o pessoal de saúde é ainda
limitada. Embora algumas destas práticas tenham sido mencionadas, o assunto
ainda não constitui objecto de investigação em saúde pública, para
compreender a sua dimensão cultural e o seu impacto sobre a transmissão e
prevenção da ITS/HIV.

4.6. PERCEPÇÃO DOS HOMENS E DAS MULHERES SOBRE O IMPACTO


DESTAS PRÁTICAS SOBRE A SUA SATISFAÇÃO SEXUAL E EXPERIÊNCIA

Apesar das mulheres considerarem que puxar os pequenos lábios é um


processo muito doloroso sobre tudo no início, todas consideram que o efeito
obtido é importante e necessário para o bem-estar sexual do homem e da
mulher.

Em relação ao uso de mankwala ya kubvalira a grande maioria dos


entrevistados considera que o seu uso é fundamental para permitir uma relação
sexual satisfatória. Uma mulher “que não se preparou” é considerada aguada,
e ter uma relação sexual com seu parceiro equivale a penetrar “num copo de
água”. Isso significa que a sensação de prazer é inexistente porque o apertar e
o atrito são considerados fundamentais. Tanto para o homem como a mulher
esta prática está profundamente ancorada na “tradição” e na concepção da
sexualidade. As mulheres usam estes medicamentos antes ou depois do acto
sexual e depois dos partos.

“Depois de inserir as pedras tem tido reacção de corrimento que nunca passa,
corrimento vaginal. E nunca passa realmente. Quando chego aqui (no PS) elas
(as mulheres) apresentam como DTS enquanto não é DTS, então a gente, eu
como estou nas consultas faço perguntas à pessoa e eu tento lhe explicar que
por esta questão não se poderia utilizar isso. Isso não é nenhuma DTS. E as
vezes gastam mais dinheiro, não sei quanto. Nunca cura.” (MPD2 – p 1)
Provedor de saúde de sexo masculino.

“Tem este problema… As raízes podem provocar lesões fora ou dentro da


vagina e é um perigo … com este problema das DTS e do HIV/SIDA vai aí com
aquelas lesões e é mais fácil para apanhar.” (MPD2 – p. 8) Provedor de saúde
de sexo masculino.

Constatou-se que a maioria dos entrevistados não usa o preservativo,


sustentando que com a pratica de kubvalira o sexo deve ser desprotegido (sem
o preservativo) para permitir um contacto mais directo entre a vagina e o pénis
e obter maior prazer sexual. Fazer kubvalira é procurar uma maior fricção o que
implica de certa maneira ter uma relação “nyama na nyama” (carne na carne).
O preservativo aparece para alguns como em oposição directa como o uso do
preservativo. Alguns entrevistados, inclusive as trabalhadoras de sexo, porém
explicaram que pode se usar makwala ya kubvalira e o preservativo.

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

“O uso do preservativo com o kubvalira não fica bem, porque o seu corpo… e o
seu corpo sempre não vai apertar, e aquilo fica parece tem água, porque o
preservativo tem aquele liquido, e se for a usar e colocar o sexo na vagina vai
apanhar o kubvalira que era para secar o sexo e apanha o preservativo
molhado, tudo ao contrário e não é a mesma coisa.” (MPD9- p.28) Grupo focal
de homens, M’padwe Agosto 2005

“O preservativo não serve quando se faz kubvalira, porque o homem não vai
sentir o gosto (…) tem que encontrar sangue com sangue.” (FSM9- p.9)
Curandeira, com 4 filhos, cerca de 60 anos, Tete Agosto 2005

5. ALGUMAS QUESTÕES PARA PREPARAÇÃO DA SEGUNDA FASE DA


PESQUISA (QUANTITATIVA)

O protocolo inicial da pesquisa, previa para a fase quantitativa a ser realizada


em 2006 uma amostra representativa de (1000) mulheres que frequentavam as
unidades sanitárias da província, com vista a identificar a prevalência das
práticas identificadas na fase da pesquisa etnográfica. Perante a situação
encontrada e a experiência adquirida no terreno, algumas perguntas surgem.
Estas são analisadas e discutidas abaixo.

5.1 COMO INQUIRIR AS UTILIZADORAS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE


SOBRE ASSUNTOS ÍNTIMOS DE PRATICAS VAGINAIS QUANDO ESTAS
SE DIRIGEM AS CONSULTAS PARA SUAS CRIANÇAS OU PARA ELAS
MESMAS?

Devido a experiência adquirida durante a primeira fase da pesquisa alguns


problemas de ordem logísticos de privacidade e preparação do ambiente ideal
se colocam quando se considera a hipótese da realização de inquéritos nas
unidades sanitárias da província.

a) Duração da entrevista:
A assinatura do consentimento informado leva cerca de 40 minutos para
apresentação do entrevistados e do objectivo do trabalho, colocar a
entrevistada a vontade, explicar o consentimento informado, responder as
dúvidas e fazer assinar o documento. Mesmo um questionário curto pode levar
até 45 minutos para ser aplicado. Para se perguntar a mulher o que ela colocou
na sua vagina e quando foi a ultima vez que usou um produto, um ambiente
específico tem que ser estabelecido a prior, sob pena de se obter respostas
que não correspondem a realidade, somente para a entrevistada se livrar da
entrevistadora. Além de mais é extremamente importante se criar um ambiente
de cumplicidade, de conversa e não de inquérito com perguntas frontais,
directas e uma atrás da outra. Por esta razão as entrevistas duram muito mais
tempo do que o simples perguntar e responder. Será que uma mulher grávida
que percorreu quilómetros para chegar ao centro de saúde e está na bicha
durante algumas horas pode ter a disponibilidade e espírito adequado para
perder mais uma hora e meia com pesquisadores?

Bagnol B. e E. Mariano 28
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

b) Assinatura do consentimento informado e do questionário no mesmo


dia
Tudo indica que é importante fazer assinar o consentimento informado antes da
realização da própria entrevista para:
- as mulheres serem preparadas para discutir o assunto
- encontrar um período de tempo adequado para tal tipo de discussão
- preparar um sítio adequado para a realização da entrevista geralmente
num espaço fechado e privativo
Consequentemente, as pesquisadoras têm imensas dúvidas na possibilidade
de se realizar a assinatura do consentimento informado e da entrevistas no
mesmo dia num lugar público e num momento em que a mulher se encontra
sob pressão de tempo e preocupada com os seus a fazer e seu problema de
saúde ou da sua criança.

c) Ambiente adequado para a realização da entrevista


A maioria das entrevistas realizadas decorreu em ambiente fechado e
extremamente privado, sem a presença de criança ou bebés ou mulheres mais
velhas, sem observadores e num ambiente de total disponibilidade para discutir
o assunto. Somente nestas condições é que as entrevistas decorreram da
melhor forma e os nossos interlocutores se abriram ao diálogo. As unidades
sanitárias não oferecem estas condições. Como entrevistar uma mulher que
carrega uma criança às costas, e que precisa de lhe dar atenção? Onde
encontrar numa unidade sanitária o lugar adequado para se realizar as
entrevistas? Como convencer a mulher a perder o seu precioso tempo para
responder perguntas?

5.3 PODERÁ SER REPRESENTATIVO A REALIZAÇÃO DOS INQUÉRITOS


NAS UNIDADES SANITÁRIAS DA PROVÍNCIA OU DEVERIA SE REALIZAR
O INQUERITO NA COMUNIDADE?

Somente uma ínfima proporção de mulheres se dirige as unidades sanitárias


para fazer o controlo da gravidez e o controlo de crescimento da sua criança
pós parto. Será que estas mulheres são representativas das mulheres em
idade fértil em geral?

Na fase antecedente ao parto as mulheres deixam de usar mankwala ya


kubvalira usando somente produtos ingeridos para favorecer a dilatação do
útero. Nas semanas que se seguem ao parto elas voltam a ingerir mankwala
para fechar a vagina. Geralmente não são colocados mankwala ya kubvalira na
vagina por causa das lacerações existentes. Porém alguns desses
medicamentos são usados para cicatrizar. Será que a amostra que se pode
conseguir nas unidades sanitárias não cria um viés nos resultados obtidos?

Devido a duvida levantada pelas pesquisadoras na aplicação e realização dos


inquéritos nas unidades sanitárias alterou-se a ideia inicial do protocolo de
investigação, optando-se para a realização do estudo quantitativo na
comunidade, com uma amostra representativa das mulheres em idade fértil e
sexualmente activas.

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

5. CONCLUSÕES

O estudo das práticas vaginais em Tete ilustra como a sexualidade e algumas


condutas de género são resultado de um processo de aprendizagem. Estas
são representações de comportamentos de género geralmente associados à
feminilidade e masculinidade e incorporadas como resultado de normas sociais
entre as quais a heterosexualidade e a reprodução jogam um papel
fundamental (Butler, 1990). A incorporação/imposição destes comportamentos
de género toma por base o corpo sexuado do “homem” e da “mulher” mas
modifica-os no sentido de os adequar aos valores vigentes.

As pessoas - num processo dinâmico de submissão e resistência - são


objectos e sujeitos ao mesmo tempo desta transformação que os insere dentro
da cultura local e da concepção global da sociedade que inclui as noções de
sexualidade, de saúde, bem-estar social e relações entre pessoas e as forças
espirituais. É no processo de transformação e cuidados com os seus corpos e
as suas funções (essencialmente sexuais e reprodutivas) que os indivíduos
biologicamente de sexo masculino e feminino se tornam “homens” e mulheres”
aprendendo os comportamentos de género adequados em cada fase da sua
vida. Assim, o corpo biológico adquirido à nascença é um dos elementos que
determina o facto de se comportar como “homem” ou “mulher” mas em si não é
suficiente. Nas instituições e com as pessoas com as quais interagem os
indivíduos inventam e definem o seu pertencer à categoria “homem” ou
“mulher”. É neste contexto que os indivíduos continuamente negociam e
exercem a sua identidade.

Assim, nas zonas estudadas, da província de Tete uma rapariga torna-se


mulher somente através do alongamento dos pequenos lábios. Mulheres e
homens de todas as idades concordam com o facto que esta passagem é
fundamental para ser mulher. Mas esta tem que ser completada com outro
factor, a maternidade. Assim, o género e o ser pessoa (personalidade) são
concebidos como uma contínua inscrição ritual sobre o corpo biológico da
mulher através do processo de envelhecimento segundo a forma como este é
culturalmente construído (Green, 1999: 256).

É notável a diferença na realização das práticas entre as jovens raparigas


residentes no contexto urbano e com um nível de escolaridade mais elevado,
comparativamente as mulheres que vivem no contexto rural. Muitas jovens da
cidade ou que estudam tendem a evitar o alongamento dos lábios durante a
sua infância, mas por vezes mais tarde (por influencia dos parceiros ou amigas)
aceitam realizar. Em relação aos medicamentos do amor, para atrair e segurar
os parceiros e propiciar a vagina agradável (seca e quente), não se observam
diferenças conforme o contexto e a categoria social das mulheres,
diferenciando-se apenas os tipos de produtos ou substâncias usadas.

Considerando que a sexualidade integra a reprodução, enquanto culminar de


uma relação sexual satisfatória, os fluidos sexuais (vaginais e sémen) como
trocas fundamentais e necessárias, não devem ser bloqueadas pelo uso do
preservativo. As entrevistas mostram que a não utilização ou o uso limitado do
preservativo prendem-se com o facto que elementos como o sémen, têm

Bagnol B. e E. Mariano 30
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

importância para a fertilidade e estão ligados à noção de saúde e bem-estar. É


percepção comum portanto, a incompatibilidade entre as praticas vaginais para
“abrir/fechar” (inserção, ingestão) e finalizadas a aumentar o prazer sexual,
com a utilização do preservativo.

No que concerne as implicações das práticas sobre a saúde de homens e


mulheres, em geral foi registada uma limitada aceitação e consciência de risco
das práticas. Apesar da noção de dor não ter sido suficientemente
documentada, a dor que muitas mulheres referiram sentir durante a penetração
sexual, pelo atrito causado resultante do uso dos produtos adstringentes, é
superada pelo prazer do coito. A confirmação e reconhecimento de um acto
doloroso só ocorrem com o aparecimento das lacerações e lesões na vagina
ou no pénis. O mesmo sentimento e experiência de dor foi testemunhada por
varias mulheres que usaram produtos e tiveram consequências de inflamação,
descamação e ardor vaginal. É opinião geral que os produtos mais nocivos são
os compostos químicos “modernos” chamados dos brancos, provenientes do
Zimbabué.

A percepção que o pessoal de saúde tem sobre os efeitos das práticas é ainda
muito limitada. Embora alguns provedores de saúde lidem frequentemente com
casos de pacientes mulheres que apresentam queixas provavelmente
relacionadas com a utilização de substâncias vaginais, o assunto nunca foi
devidamente discutido e documentado de forma sistemática.
Nesta perspectiva a primeira fase do estudo mostra em primeiro lugar que,
apesar da relutância inicial das instituições de saúde em abordar um tema
sensível e íntimo, é possível estudar e aprofundar aspectos ligados à
sexualidade. Em segundo lugar, dialogando com as pessoas e obtendo mais
informações e conhecimento sobre as noções de sexualidade, saúde, bem-
estar e doença, resulta evidente que subsistem ainda zonas de fraca
percepção do risco inerente à utilização dos produtos.

Bagnol B. e E. Mariano 31
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

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Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

Anexo 1: Entrevistas realizadas

INFORMANTES CÓDIGO H M IC EP GF GR
M’PADWE
OMM, Matrona MPD 1 1 x
Enfermeiro MPD 2 1 x
OMM/parteira tradicional MPD 3 1 x
Curandeiro MPD 4 1 x
Secretario do bairro MPD 5 1 x
Médico tradicional MPD 6 1 x
Oleira MPD 7 1 x
Mulher c/ criança MPD 8 5 x
Homens assalariados MPD 9 6 x
Parteira - Enfermeira MPD10 1 x
Trabalhadora do sexo MPD11 6 x
CHIPEMBERE
Médico trad., oleira, matrona CHI 1 1 x
Oleira CHI 2 1 x
Oleira CHI 3 1 x
Secretario do bairro CHI 4 1 x
Líder comunitário CHI 5 1 x
Enfermeira, parteira CHI 6 1 x
Secretaria OMM CHI 7 1 x
Oleira CHI 8 1 x
Matronas/parteiras tradicionais CHI 9 6 x
Mulheres c/ criança CHI 10 6 x
Mulher c/ criança CHI 11 1 x
FILIPE S. MAGAIA
Secretario do bairro FSM 1 1 x
Secretaria OMM FSM 2 1 x
Médico tradicional FSM 3 1 x
Médico tradicional FSM 4 1 x
Curandeiro FSM 5 1 x
Médico tradicional FSM6 1 x
Vendedeira produtos vaginais FSM 7 1 x
VPV FSM 8 1 x
VPV FSM 9 1 x
CHANGARA SEDE
Enfermeiro CHA 1 1 x
Parteira CHA 2 1 x
Curandeiros CHA 3 3 3 x
Mulher c/ filho CHA 4 1 x
Homens jovens CHA 5 7 x
OMM CHA 6 1 x
Líder comunitário CHA 7 1 x
Secretario do bairro CHA 8 1 x
Oleira CHA 9 1 x
Trabalhadora do sexo CHA 10 1 x
Activista CHA 11 1 x
TETE
Ginecologista obstetra TET 1 1 x
Enfermeira SMI TET 2 1 x
Ginecologista obstetra TET 3 1 x
Mulheres da OMM TET 4 9 x
Enfermeiros/as SMI,Téc. Saúde TET 5 1 5 x
Curandeiros TET 6 4 x
Jovens estudantes TET 7 7 x
TOTAL 25 78 20 18 7 4

Bagnol B. e E. Mariano 36
Género, Sexualidade e Práticas Vaginais – Tete 2005-2006

Legenda:
H: Homens
M: Mulheres
IC: Informantes Chave
GR: Grupos de referencia
EP: Entrevistas em Profundidade
VPV: Vendedeira de Produtos Vaginais
GF: Grupos Focais

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