Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
u pesquisara uma pequena classe média espacialmente próxima, mas relativamente distanciadade meu
universo de origem, no segundo caso
, lidei com pessoas não só de grande proximidadesociológica, mas que, em significativa proporção,
faziam parte do meu cír
culo de amizades”
Nobres e anjos
os “
nobres
interessante
como nessa passagem Gilberto velho diz que isso é “[...] um movimento um tanto heterodoxo
para
os padrões tradicionais da antropologia” (p.15), o que denota como essa mudança no
estranhar o familiar
foi crucial, em suas palavras, para empreender os estudos acima citados, sendo uma tarefa árdua e
passível de erros, já queimplica desnaturalizar e colocar sob outras lentes fenômenos, noções e
situações tão comuns ao pesquisador (inclusive incrustados em sua própria visão de mundo). Quando
diz sobre a
situação ‘atual” (no período histórico em que escreve o texto aqui analisado) afirma que estudar
o próximo já não é mais algo tão excepcional, e que trabalhos sobre as camadas médias, religião,
parentesco e etc. já implicam, de alguma forma, lidar com as ideias de estranhamento efamiliaridade
s camadas médias
superiores na fronteira com as elites [...]” (p. 14). Como afirma: “Alguns membros dessa camada tinham
ligaçãocom minha família, e outros haviam sido colegas meus de curso secundário” (p. 14). Dessa forma
haviam vínculos
No mesmo período, diz Gilberto Velho, outra subárea dos estudos urbanos que emergiufoi o das
pesquisas sobre desvio e comportamento desviante
doença mental, prostituição, usode drogas e etc. A questão do uso de drogas foi força motora para a
aproximação do autor com
o universo das “camadas médias superiores da Zona Sul do Rio de Janeiro”, gerando umaaproximação
com a “área psi’ por interesses em comum.
“A própria tradição interacionista, forte influência em nossos trabalhos, estava ligada desde as
indivíduo e sociedade
está, portanto, estreitamenteligada a boa parte das investigações em meio urbano que se multiplicaram
a partir dos anos
1970” (p. 16). Isso levou ao uso de histórias de vida, biografias e trajetórias individuais –
quesão amplamente utilizados atualmente não só nos estudos urbanos, mas em diversos eixos
ougêneros da antropologia. Os indivíduos (em sua singularidade, como assinala) se tornaram,também,
matéria da antropologia. Com a preocupação da pesquisa e análise das redes derelações e significados,
os indivíduos passaram a ser vistos como agentes, imbricados nessas
redes (ou malhas, como também viriam a ser chamadas), sendo “[...] intérpretes de mapas e
A ideia de colocar os indivíduos soba égide da análise antropológica foi fundamental para que Velho
lidasse com o universo dascamadas médias superiores já que eram indivíduos com discursos, práticas e
reflexões críticas(afirma que isso também ocorria com os pesquisados em Copacabana, como pode
ocorrer emqualquer grupo), advindos de um setor mais intelectualizado da sociedade brasileira. Como
também construíamrespostas nas quais estavam presentes alguns dos principais temas da
intelligentsia
, não só
de novos valores
marcam fronteiras em relação a uma sociedade tradicional” (p. 17).
A questão do pertencimento
a vários grupos e redes é colocada aqui como “[...] um fenômeno básico a ser investigado e
ao mesmo tempo tornara-se fato a ser analisado também é o mesmo que permite que
o/aantropólogo/a pesquisa sua própria sociedade, sua própria cidade, sua própria camada urbana eos
circuitos e redes de relação que os compõe. Há então uma necessidade de atenção aoscontextos, e uma
tarefa de evitar as reificações nos interlocutores, uma vez que as redes quecompõe tais contextos [e o
próprio movimento da sociedade] são dinâmicos, os atores
envolvidos estão num constante dinamismo, sendo assim, tarefa do pesquisador utilizar, porexemplo, os
indivíduos como mapas para a compreensão de tais redes
Para finalizar: “Assim, cada pesquisador deve buscar suas trilhas próprias a partir do
” (p. 18).
*Utilizarei citação subsequente para tecer uma sorte de diálogo entre Gilberto Velho e Norbert Elias no
que concerne aos processos de construção de modernidade e como isso sereflete
também construíam respostas nas quais estavam presentes alguns dos principais temas da
intelligentsia
intelligentsia
O processo civilizador.
grupo de intelectuais alemães, sem acesso à corte e à ‘civilité’ (ao modo francês) engendraram
-se num cultivo do self (num mergulho no universo interior e intelectual, da erudição) opondo-se aos
aspectos do mundo externo, como era comum e predominante no comportamento decorte francês
já que para a sociedade de corte francesa os modos de agir (se portar a mesa,falar, etc.), por exemplo,
ocupavam papel central na vida cotidiana e na diferenciação com os
. Essa imersão no self, esse processo de intelectualização e negaçãodos aspectos exteriores remonta à
noção de
Kultur
Civilité
kultur
alemã baseia-se na
intelligentsia
, que se tornaum traço hegemônico alemão, passando a significar o espírito nacional, não só mais o
cultivodo self, mas do espírito de um povo.Analisando o uso que Velho faz da noção de
intelligentsia
, à luz do que diz Elias, me parece que as camadas médias superiores que estudara podem ter um
paralelo
kultur
cultura
(ao seu modo no sensocomum, especificamente) e esse acúmulo de erudição, especialmente por uma
classe média,intelectualizada e economicamente abastada que se diferencia
modo francês) ainda parece, de alguma forma existir. Quando Velho diz que muitos dosinterlocutores
pertencentes a esse substrato da sociedade tinham conhecimentos de psicanálise,marxismo, história da
arte, literatura etc. demonstra como esse traço da
kultur
alemã semanifesta como parte do que Elias chama de processo civilizador, sendo um traço
damodernidade que deixa impressa sua marca na sociedade urbana brasileira
especialmenten
intelligentsia