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DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA E
ANTROPOLOGIA
Março, 2021
Índice
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Introdução..................................................................................................................................2
I. III. Quando foi publicada a primeira versão do Usos e Costumes dos Bantos?.....................4
III.II. Como é que Junod imaginava colonizar os africanos e como é que a sua abordagem
diferia de António Ennes e de Mouzinho de Albuquerque?......................................................7
Referencias Bibliográficas.........................................................................................................8
Introdução
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O seguinte trabalho da cadeira de Antropologia em Moçambique, pretendo através de vários
posicionamentos teóricos de alguns pensadores e autores, fazer uma apreciação da obra de
Henri-Alexandre Junod um dos antropólogos que destacou-se no período em que vigorava a
administração colonial em africa. Portanto através da resolução de algumas perguntas
inerentes a esta figura, farei uma análise descritiva dele e da sua obra.
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I. Os dados biográficos de Henri Junod
Gajanigo (2006) afirma que a relação que se estabeleceu com as autoridades coloniais em
moçambique pode-se dizer que sua relação com o governo colonial português era mais
complicada e tensa. Os portugueses desaprovaram, num primeiro momento, a missão entre os
negros, além de não gostarem da afinidade da Missão Suíça com a Missão de Paris ou com
outras missões internacionais, pois o contexto era de acirrada disputa colonial por territórios.
Apesar dos portugueses não alcançarem mais do que os arredores de Lourenço Marques, a
região do norte do Transvaal, onde se iniciou o estabelecimento da missão, era um local
estratégico de trânsito de mercadorias de e para Lourenço Marques e também de fonte de
mão-de-obra para as minas da região, o que gerava grandes divisas para o governo português.
(idem) Junod teve contacto com a antropologia Em 1895, porém, sua atividade de
colecionador e classificador irá mudar radicalmente de direção. Neste ano, Junod teve contato
com James Bryce, um historiador britânico de Oxford e amigo de James Frazer de visita ao
sul da África. Gajanigo (2006) afirma quem Segundo o próprio Junod, foi esse encontro que
despertou o interesse do missionário pela etnografia. Podemos ver, em suas palavras, a
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importância que este encontro teve para sua escolha pela etnografia. Junod percebera a
importância que a “cultura” tinha para os ”tsongas” quando viu, ao fim da guerra de 1894-5,
o esforço desses africanos em resgatar e fortalecer práticas que estavam desaparecendo então
decide proceder com registos etnográficos com objectivos de resgatar e sistematizar a
“cultura tsonga”.
As técnicas iniciais de antropologia que Junod utilizou consistem na medida em que após o
encontro com James Bryce, um historiador britânico de Oxford e amigo de James Frazer de
visita ao sul da África, já no ano de 1896, Junod voltou à Suíça para suas férias viagem que o
fará perder sua filha de um ano, Elisabeth. Em território suíço, o missionário tratou, então, de
experimentar o conselho de Bryce, sistematizando e apresentando aquilo que pesquisara – de
maneira íntima com sua atividade missionária sobre os africanos com quem conviveu (idem)
I. III. Quando foi publicada a primeira versão do Usos e Costumes dos Bantos?
Na perspectiva de Ngoenha (2011) A primeira versão dos usos e costumes bantos foi
publicada em 1898 na qual fazia menção sobre os Rongas, Percorreu as Igrejas da Missão
Romande com seu violão, mostrando os cantos rongas e contando sobre os hábitos desse
povo. Também dedicou boa parte do tempo escrevendo sobre isso, e assim, esse período foi
muito fértil em publicações: em 1896 escreveu “Grammaire Ronga”; “Les Chants et les
Contes des Ba-Ronga”, em 1897; e sua primeira etnografia “Les Ba-Ronga” em 1898
Junod se distinguiu dos restantes autores da sua época na medida em que, está entre aqueles
que colocaram a antropologia no bloco de anotações. Que transformaram o estudo dos povos
“exóticos” em uma longa experiência de convivência. Tal imersão na vida daqueles que lhe
forneceram o material de seu estudo é o grande avanço metodológico sobre o parentesco e o
procedimento Ritual de Van Gennep que o mesmo revitalizou, marcou esse período na
antropologia. Um período demasiadamente fértil, onde um paradigma estava sendo
derrubado, a saber, o evolucionismo clássico, e aquele que o seguiu ainda não tinha sido
solidamente erigido. Dessa forma, podemos encontrar na obra de Junod uma variação
considerável em suas análises, que constituiu um ecletismo instigante.
Segundo Feliciano (1996) A principal preocupação de Henri Junod nessa obra ao escrever a
monografia Usos e Costumes dos Bantos era duplo. Primeiro, oferecer uma compreensão
profunda e completa do funcionamento da sociedade e do pensamento tsonga para melhorar
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as relações entre os administradores coloniais e os nativos. Segundo, conceber um relato da
sociedade tsonga que estava prestes a desaparecer devido ao avanço colonial, para os próprios
nativos, portanto a busca pela compreensão dos “bantus” era o principal objectivo. Para
atingir esses objetivos, a realização de uma densa monografia com status de ciência era uma
condição para Junod. Portanto os debates acadêmicos sobre o conhecimento dos ‘primitivos’
foram a base para a construção dessa monografia.
Tal intenção para o etnógrafo, deveria ser levada a cabo através de um procedimento
científico, fazendo uso dos conceitos legítimos da prematura ciência etnográfica. Ou seja, a
etnografia em Junod é uma autoproclamada reconstrução da cultura “tsonga” já decadente.
Contudo, não interessava a Junod se dedicar, na etnografia, aos novos costumes estabelecidos
pelo contexto colonial, mas sim ao que restara das antigas práticas (idem).
Para o Feliciano (1996) A metodologia de pesquisa utilizada por Henri Junod consistem em
dois métodos que foram chave para a compreensão das relações entre os tsongas: o uso do
método genealógico sistematizado por Rivers e a análise de rituais de passagem formuladas
por Van Gennep, assim desempenhando um importante contributo no campo de parentesco e
no ritual.
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II. I. Sobre a estrutura da etnografia Usos e Costumes dos Bantus
Segundo Feliciano (1996) a pretensa do Junod ao apresentar a obra em dois volumes consiste
pelo facto do autor pretender construir uma obra com a missão de abranger a totalidade da
“vida tsonga” e na mesma perspectiva apresentar a noção individuo primeiro e sociedade em
segundo, ele queria saber a sustentabilidade dessas duas acepções
Na etnografia de Junod Usos e costumes dos bantos: a vida duma tribo sul-africana. Vol. 1 e
2 as descrições abrangem vários grupos identificados como “tsongas”, sendo os rongas um
dos grupos dentre os “tsongas”. Para Junod, o que define a unidade dos “tsongas” é a língua,
apesar de reconhecer algumas variações linguísticas no grupo. Para Junod os “tsongas” com
suas famílias, aldeias e clãs formariam uma etnia que, em toda obra, ele intitula de tribo. O
primeiro volume da etnografia é intitulado Vida social e constitui-se de descrições a respeito
da vida do indivíduo homem e mulher, vida da família e da povoação, e vida nacional o clã, o
chefe, a corte e o tribunal, e o exército. O segundo volume é intitulado Vida mental e
constitui-se de descrições a respeito da vida agrícola e industrial, vida literária e artística, e
vida religiosa e “superstições” (Gajanigo, 2006)
Na perspectiva de Gajanigo (2006) Um dos objetivos pelo qual Junod escreveu Usos e
Costumes foi o desejo de fornecer ao próprio “povo tsonga” sua cultura “emoldurada” como
relicário frente à sua destruição e também Como o mesmo diz em sua introdução: “O meu
fim foi submeter a tribo tsonga a um estudo deste gênero científico e completo. Para Junod,
era possível que estes indígenas aproveitassem um estudo desse gênero e viessem mais tarde
a ser-nos gratos por saberem o que tinham sido no tempo da sua vida primitiva” e assim
produziria acervos sobre usos e costumes dessa sociedade para a próxima administração que
viesse ocupar.
III.II. Como é que Junod imaginava colonizar os africanos e como é que a sua
abordagem diferia de António Ennes e de Mouzinho de Albuquerque?
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nova tarefa impôs-lhe uma importante questão: a língua nativa. Deferia de Ennes e
Albuquerque na medida em que este acreditava que os rongas (grupo que vivia próximo ao
atual Maputo) tinham uma língua própria e tinha uma pretensa em colonizar para libertar.
Enquanto a colonização de Albuquerque tinha fins e objectivos meramente explorativos.
Para o Ngoenha (2011) a obra de Junod deixa um legado extremamente rico, eclético, e
portanto, merece ser objeto de mais estudos, a genealogia da contribuição da obra de Junod
segue pelo caminho da teoria ritual. Sua relação de proximidade com Van Gennep traduziu-se
numa colaboração criativa do missionário no que diz respeito ao conceito de “rito de
passagem”. Junod foi o primeiro a usar esse conceito extensivamente e com centralidade em
uma etnografia.
Dessa forma, sua contribuição para com o conceito proveio de sua aplicação no conjunto da
vida dos “tsongas”, salientando uma inovação, ainda tímida em Van Gennep, no sentido da
secularização da categoria “ritual”. É tal passo que o fez ser referência de antropólogos,
principalmente da escola de Manchester, que buscaram na ideia de “rito de passagem”
inspiração para enfrentar etnograficamente questões postas pelas análises das sociedades
coloniais de clivagens profundas e intenso conflito Inclusive, servindo de inspiração para
antropólogos mais contemporâneos, como é o caso de João de Pina Cabral em estudo sobre a
noção de “marginalidade” (idem)
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Referencias Bibliográficas
Feliciano, José Fialho. 1996. “Prefácio”. In Henri A. Junod. Usos e Costumes dos Bantu
(Tomo I). Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique pp. 15-20