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Índice

Introdução...................................................................................................................................3

1. As Fontes Escritas...................................................................................................................4

1.1. As Fontes Escritas Anteriores ao Século XV......................................................................4

1.2. As Fontes Escritas a Partir do Século XV...........................................................................5

2. As Fontes Europeias...............................................................................................................5

2.1. As Fontes Nativas................................................................................................................5

3. A Tradição Oral......................................................................................................................6

4. A Arqueologia.........................................................................................................................8

Conclusão..................................................................................................................................10

Bibliografia...............................................................................................................................11
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Introdução

O presente trabalho é da cadeira de pré-história e tem como tema as fontes históricas


africanas. A história da África, apesar de nova em alguns aspectos, é uma disciplina que
começa a existir já na Antiguidade, com a actividade de alguns autores gregos e árabes
interessados em saber mais sobre o passado e o presente daquele misterioso continente de
pessoas com pele escura. No século XV, por causa dos contactos euro-africanos, houve uma
mudança no rumo da produção desses conteúdos históricos, que, passaram a contar com
centenas de relatos e documentos escritos principalmente por missionários cristão.

A partir do século XVIII, as grandes potências europeias com a intenção de um maior


aproveitamento nos lucros das terras africanas, passaram a dar mais atenção ao continente;
entretanto, essa atenção vinha mesclada com uma grande quantidade de racismo e
intolerância, dando luz a uma crença generalizada.

Apenas a partir de 1948 a historiografia da África começa a se assemelhar com a do resto do


mundo e a ser encarada como algo que pode ser estudada tanto quanto qualquer outra
disciplina histórica, no entanto, com a necessidade de um uso mais diversificado das fontes.
Por sua “falta” de fontes escritas e seu suposto isolamento geográfico, o continente africano
esteve por muito tempo relegado a ser considerado uma região pré-histórica, no entanto, o que
os historiadores da época ignoravam é que existem diversas possibilidades de compreensão da
história escondidas em diferentes áreas, como a arqueologia, a tradição oral, a linguística, e
até mesmo alguns relatos escritos (principalmente muçulmanos), que eram em sua maioria
desprezados e taxados como inconfiáveis.

Com base na trajectória da história do continente africano e no preceito de que a história pode
ser feita de diferentes maneiras através de diversos tipos de fonte, essa pesquisa busca
compreender e comparar esses métodos de forma panorâmica, analisando suas vantagens,
desvantagens e contextos em que começaram ou deixaram de se popularizar.
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1. As Fontes Escritas

Segundo FAGE (1982:18), “considerada uma dos maiores problemas do estudo da história
africana, a escassez de fontes escritas foi considerada por séculos como a prova de que as
sociedades africanas não possuíam história, no entanto, isso não é verdade”.

A África, por ser um continente grande e com uma diversidade de culturas e sociedades maior
ainda, possui diferentes formas e recorrências de fontes escritas por região e época, por isso
podemos dividir as fontes entre as escritas antes do século XV e as escritas após o século XV.

1.1. As Fontes Escritas Anteriores ao Século XV

Para DJAIT (1982:12), “as fontes escritas antes da chegada dos europeus no continente
africano geralmente seguiam duas tendências: narrativas (crónicas, anais, relatos de
viagens, obras literárias, etc.) e arquivistas (documentos particulares, estatais e jurídico-
religiosos)”.

Essas fontes podem ser divididas em três épocas diferentes: a Idade Pré-islâmica (até 622
d.C.), considerada a época com menor recorrência de documentos escritos e de menor
importância; a primeira Idade Islâmica (622-1050), que vem com a conquista árabe e o
estabelecimento do império almorávida e traz um crescimento de fontes escritas em árabe,
principalmente narrativas; e a segunda Idade Islâmica (século XI ao século XV), onde as
fontes escritas antes do século XV encontraram seu ápice, contando com diversos cronistas
que escreviam os fatos observados com grande riqueza de detalhes e confiabilidade.

Em relação a essas fontes, também é muito importante entender as diferenças que ocorriam
em cada região. Enquanto partes do continente como o Egipto e o norte da África estavam
repletos de influência muçulmana e europeia, as regiões como a África central e meridional
estavam mais isoladas desses povos com escrita, acarretando em uma quantidade muito maior
de fontes nas primeiras do que nas outras (DJAIT, 1982:13-14).

O problema da pequena quantidade de documentos escritos, adicionado ao problema


linguístico dos europeus em relação à eles (grande parte desses escritos estava em árabe,
egípcio antigo, copta e outras línguas específicas da região), acabou por gerar preconceito e
consequentemente uma renúncia ao uso desse tipo de fonte por séculos.
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1.2. As Fontes Escritas a Partir do Século XV

O motivo da divisão histórica das fontes entre “antes do século XV” e “após o século XV”
está na diferença entre suas características e na quantidade em que foram produzidas.
Enquanto a primeira é conhecida como “a época das fontes árabes”, graças ao grande número
de suas fontes serem escritas por muçulmanos, a segunda pode ser considerada “a época das
fontes europeias”, pelo declínio das fontes árabes e a ascensão das escritas europeias e nativas
(HAMPATÉ, 1982).

Do mesmo modo que as anteriores ao século XV, as fontes escritas modernas, por terem uma
distribuição irregular quanto ao tempo, espaço, carácter, origem e língua são muito difíceis de
generalizar, então para melhor compreensão as dividiremos por suas origens.

2. As Fontes Europeias

De acordo com KI-ZERBO (1982:354), “a partir do século XV, encontramos um vasto


volume de literatura portuguesa, holandesa, francesa, inglesa e alemã sobre a África,
principalmente na costa ocidental e em maior parte da costa oriental”.

Escritos principalmente por comerciantes, missionários, viajantes e colonizadores, a maior


parte das fontes europeias até o século XIX preocupava-se ou com a exaltação do que era
exótico e diferente ou com relatos de perigosas e impressionantes aventuras; esses relatos
eram quase todos repletos de panfletagens, preconceitos e graves incompreensões dos
aspectos culturais e das estruturas internas das sociedades relatadas.

No entanto, esses relatos ainda são fontes históricas muito importantes para o estudo da
história da África, pois, apesar de preconceituosos e exagerados (coisas que afinal deveriam
ser dribladas por historiadores conscientes), esses documentos podem complementar muitos
aspectos da história com suas requintadas descrições de costumes, comportamentos,
cerimónias, vestimentas, técnicas de produção, datações, entre outras coisas.

2.1. As Fontes Nativas

As fontes históricas escritas por africanos até o século XX estão em sua maioria em árabe e
mostram pela primeira vez uma visão da história da África que não estivesse contaminada por
etnocentrismos europeus ou muçulmanos.
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Representada principalmente por crónicas, a historiografia genuinamente africana possui as


mesmas desvantagens das fontes narrativas normais, contudo, possuem uma vantagem
incomparável: elas representam a versão africana da história, que muitas vezes passou
despercebida e ignorada entre a grande quantidade de versões estrangeiras da mesma.

Juntas, as fontes escritas representam uma parte muito importante das fontes utilizáveis para o
estudo histórico da África, entretanto, embora abundantes, elas formam apenas uma peça do
quebra-cabeças, pois sua utilidade está comprimida apenas a regiões e épocas específicas para
o estudo de assuntos específicos que geram um conhecimento muitas vezes incompleto e
deficiente, destacando o exemplo das sociedades iletradas, que apesar de possuírem a sua
própria história, muitas vezes não são contempladas com as fontes escritas (DJAIT, 1982:21).

3. A Tradição Oral

A tradição oral pode ser definida como um testemunho transmitido oralmente de uma geração
a outra, e é, entre os três tipos de fontes a serem tratadas neste trabalho, a fonte mais
complicada de se trabalhar, tanto por sua complexidade filosófica e metodológica, quanto pela
árdua crítica histórica, literária e sociológica que deve ser subjugada a fim de obter-se um
conteúdo concreto e próximo da realidade.

As fontes orais são geralmente adquiridas após uma série de pesquisas e entrevistas com
pessoas especiais e confiáveis de certas sociedades, os tradicionalistas. Esse tipo de fonte é
especialmente útil quando tratamos de sociedades iletradas, pois nelas existe uma grande
espiritualidade no poder da palavra, e assim as fontes adquirem maior credibilidade
(VANSINA, 1982).

Assim como qualquer outro tipo de fonte, a tradição oral também deve ser submetida a certos
tipos de crítica e decodificações. As fontes orais normalmente se constituem de mitologias,
contos épicos, poemas e músicas, por isso possuem a história em forma de códigos que
necessitam ser, além de decifrados, também devidamente entendidos em seus contextos.

Para este entendimento, o historiador deve primeiro ter um grande conhecimento da


sociedade, da língua e dos personagens envolvidos na pesquisa e ter também conhecimento
das metodologias do estudo da história oral, de modo que não se perca no meio de uma
infinidade de informações sem saber o que usar ou como usar correctamente.
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Além dessas dificuldades, a tradição oral possui também alguns pontos negativos específicos
de seu método. Com a sua utilização pode-se citar diversos problemas cronológicos, pois as
unidades de tempo usadas pelos tradicionalistas responsáveis pelos relatos são em sua maior
parte relativas a sua própria cultura, o que pode trazer muitas dificuldades ao tentarmos
relacionar os relatos com a história de outras sociedades e culturas.

Outro aspecto negativo seria a dificuldade de analisar, com a ajuda dessas fontes, mudanças
inconscientes ou muito lentas na estrutura de uma sociedade, pois pelas tradições orais serem
focadas principalmente em eventos únicos como a chegada de um novo líder ou a migração de
um povo, as transformações mais gerais como mudanças subtis ocorridas em uma religião
acabam passando despercebidas.

No entanto, apesar dessas dificuldades legítimas, antes do século XX não faltavam falácias
que atentassem contra a credibilidade das fontes orais; ao ser considerada não confiável por
ser tendenciosa, funcional ou passível de erros, esquecia-se que toda fonte histórica é passível
das mesmas coisas:

“O testemunho, seja escrito ou oral, no fim não é mais que um testemunho humano, e vale o
que vale o homem”. Hoje em dia é impossível descartarmos a importância que possui a
tradição oral para o estudo histórico da maior parte da África subsaariana, tanto pela escassez
que ela possui de importantes fontes escritas, quanto pela riqueza de conteúdo que ela pode
possuir se retirada dos informantes certos e usada de forma certa pelos historiadores e
especialistas envolvidos.

Uma metodologia aplicada a história da África que possui um grande potencial e vem
produzindo grandes frutos é a “verification approach”, uma técnica interdisciplinar para o
estudo da história da África que consiste na afirmação de uma teoria pela comparação e
confirmação entre no mínimo duas fontes independentes, por exemplo, uma tradição oral
pode ter sua verdade confirmada com vestígios arqueológicos, sem que para isso uma precise
ser considerada auxiliar da outra, pois ambas as ciências podem e devem se complementar
(VANSINA, 1982).
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4. A Arqueologia

O terceiro e último tipo de fonte a ser explorado nesta pesquisa pode ser considerado o mais
“científico”, ou pelo menos o mais próximo das ciências naturais e com a maior probabilidade
de acertos no campo em que é devidamente usado, a arqueologia (ISKANDER, 1982).

Usando técnicas já consagradas na arqueologia mundial, a arqueologia da África foi e ainda é


considerada por muitos o melhor método de estudo da história da África pré-escrita, por seus
complexos métodos de datação, prospecção e conservação, que levam muitas vezes a
resultados precisos do passado das sociedades estudadas. Entretanto, assim como os outros
tipos de fonte, a arqueologia das diferentes regiões africanas deve ser dividida entre os seus
devidos contextos regionais.

Enquanto os esforços desta ciência estiveram até as últimas décadas do século XIX voltados
exclusivamente para as civilizações do norte da África, consagrando famosos arqueólogos
como Jean-François Champollion e Flinders Petrie, a arqueologia das regiões central,
ocidental e oriental foi em sua essência relegada ao anonimato.

Seguindo basicamente os mesmos processos técnicos, a arqueologia no território africano


esteve, inicialmente, actualizada com o resto da arqueologia do mundo: tinha como principal
propósito o descobrimento de artefactos antigos, raros ou esteticamente belos (como as
famosas cabeças de bronze do Benim).

Segundo ISKANDER (1982), “com as mudanças na filosofia da arqueologia, foi acentuada


sua necessidade na contribuição para as ciências em geral, sendo a partir daí usada como
técnica em pesquisas sobre a história social, económica e cultural da África”.

Para essas pesquisas foi muito importante o desenvolvimento da etnoarqueologia, uma


disciplina que mistura técnicas usadas normalmente na antropologia, como estudos das
sociedades do presente e entrevistas com moradores das regiões de estudo (usando as
tradições orais), com as já conhecidas técnicas arqueológicas, servindo para facilitar o
encontro de sítios arqueológicos e o entendimento dos artefactos encontrados.

Contudo, a arqueologia, como todos os outros tipos de fontes, também possui seus pontos
fracos. Através dela, é muito difícil decifrar alguns aspectos muito objectivos de fatos
ocorridos no interior de algumas sociedades, como nomes de agentes ou sistemas sociais e
políticos.
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Apesar de ser possível entender alguns vários aspectos da história africana através da
arqueologia, para preenchermos os buracos deixados, tanto pelas tradições orais e fontes
escritas quanto pela arqueologia, é sempre interessante optarmos pelo verification approach,
pois ele permite uma concreta comparação e uma possível confirmação da verdade dos fatos
históricos retirados dos diferentes tipos de fonte.
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Conclusão

Um dos principais problemas epistemológicos para os historiadores da África se constitui na


interdisciplinaridade necessária para o entendimento de seu objecto de estudo.

Além das fontes principais já analisadas, ainda existem diversas outras técnicas e
metodologias que permitem o aprofundamento na interpretação dos dados adquiridos pelas
fontes, entre elas temos a linguística histórica, que possibilita analisar possíveis descendências
ou unidades culturais entre povos de diferentes regiões, a paleobotânica, que permite revelar
actividades de domesticação de plantas alimentícias, a egiptologia e paleografia, que ajudam a
decifrar pictogramas e signos utilizados por algumas sociedades da África negra e a
antropologia e as ciências social e política, que permitem redefinir o saber histórico e cultural
de estruturas sociais diferentes das sociedades ocidentais.

A arqueologia igualmente mostrou que, na África, especificamente no Egipto, desenvolveu-se


uma das antigas civilizações mais brilhantes do mundo. Outra fonte digna de nota é a tradição
oral que, até recentemente desconhecida, aparece hoje como uma preciosa fonte para a
reconstituição da história da África, permitindo seguir o percurso de seus diferentes povos no
tempo e no espaço, compreender, a partir de seu interior, a visão africana do mundo, e
apreender os traços originais dos valores que fundam as culturas e as instituições do
continente.

Quando se trata da história da África, não podem existir fronteiras entre suas disciplinas de
estudo, por isso é impossível relegar qualquer ciência à “auxiliar” ou qualquer tipo de fonte a
“não utilizável”. É nas técnicas de comparação e complementação entre fontes que a história
da África encontra seu potencial.
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Bibliografia

DJAIT, Hisham. As Fontes Escritas Anteriores ao Século XV in História Geral da África: I.


Metodologia e Pré-história da África. São Paulo. Ática, 1982.

FAGE, John Donnelly. Evolução da Historiografia na África in História Geral da África: I.


Metodologia e Pré-história da África. São Paulo. Ática, 1982.

HAMPATÉ BÂ, Amadou. A Tradição Viva in História Geral da África: I. Metodologia e


Pré-história da África. São Paulo, Ática, 1982.

ISKANDER, Z. A Arqueologia da África e suas técnicas Processos de datação in História


Geral da África: I. Metodologia e Pré-história da África. São Paulo, Ática, 1982.

KI-ZERBO, Joseph. Introdução Geral in História Geral da África: I. Metodologia e Pré-


história da África. São Paulo. Ática, 1982.

VANSINA, Jan. A Tradição Oral e sua Metodologia in História Geral da África: I.


Metodologia e Pré-história da África. São Paulo. Ática, 1982.

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