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Estêvão Francisco Júnior

Horácio Mário

Lucas Silvestre Sozinho

Lurdes da Graça Cipriano

O Comercio de Ouro em Moçambique séc. XV- XVII

Curso de Licenciatura em Ensino de História com Habilidades em Documentação

Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2023
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Estêvão Francisco Júnior

Horácio Mário

Lucas Silvestre Sozinho

Lurdes da Graça Cipriano

O Comercio de Ouro em Moçambique séc. XV- XVII

Trabalho de carácter avaliativo de


Historia de Moçambique II, Curso de
Licenciatura em Ensino de Historia
com Habilidades em Documentação.
Departamento de Letras e Ciências
Sociais

Docente: MSc. Alex Samuel Artur

Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2023
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Índice

Introdução ................................................................................................................................... 4
1. O Comercio de Ouro em Moçambique séc. XV- XVII .......................................................... 5
1.2. Contextualização ................................................................................................................. 5
1.2.1. Penetração Mercantil Portuguesa ..................................................................................... 5
1.2.2. O comércio do ouro e a penetração portuguesa no Mwenemutapa .................................. 6
1.2.3. O processo de organização nas minas .............................................................................. 7
1.3. Características gerais do comércio do ouro ......................................................................... 8
1.4. Consequências do comércio do ouro ................................................................................... 9
1.5. Decadência do Império de Muenemutapa ........................................................................... 9
Conclusão ................................................................................................................................. 11
Bibliografia ............................................................................................................................... 12
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Introdução

O preste trabalho tem como tema, o comercio do ouro em Moçambique no período


compreendido entre os séculos XV ao século XVII. Este período que viria se acompanhar
com a penetração mercantil portuguesa no império dos Mutapas. Neste sentido, o trabalho
girara em torno do grande império Mwenemutapa desde a sua fundação, seu desenvolvimento
e por último a sua decadência que por grande parte teve a ver com o comércio do ouro
consequência da penetração mercantil portuguesa.

Objectivo geral

 Analisar o comércio do Ouro em Moçambique nos séc. XV-XVII.

Objectivos específicos

 Conceituar comércio, penetração mercantil;

 Espelhar as consequências do comércio do Ouro;

 Caracterizar o comércio do Ouro.

Metodologia

O presente estudo utiliza o método empírico e dedutivo, por intermédio de uma abordagem
quantitativa e qualitativa; quanto ao procedimento, é uma pesquisa bibliográfica, mediante a
revisão de estudos e artigos científicos realizados sobre o tema e websites de periódicos
científicos na base da norma APA, visando esclarecer a relevância do tema em estudo O
comércio de ouro em Moçambique.
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1. O Comercio de Ouro em Moçambique séc. XV- XVII

1.2. Contextualização

1.2.1. Penetração Mercantil Portuguesa

Segundo Barros (1978, p.43), O contacto entre os portugueses e as populações de


Moçambique iniciou em 1498 com a chegada de Vasco da Gama, no âmbito da expansão
europeia. A fixação dos portugueses em Moçambique iniciou no século XVI com a ocupação
de Sofala em 1505 e da Ilha de Moçambique em 1507. Em 1530 os portugueses construíram
feitorias em Tete e Sena (1530) e fixaram-se em Quelimane em 1544.

Nesta fase as autoridades locais detinham total domínio e os


estrangeiros eram obrigados a pagar tributos (curva e empata) e a
observar o ritual (descalçar, tirar o chapéu, estar desarmado e bater
palmas para entrar na corte) em sinal de respeito ao soberano (Barros,
1978, p.44).

Quando os portugueses chegaram à Moçambique, já os Árabes-Swahili estavam


estabelecidos, controlando o ouro que vinha do Império do Mwenemutapa. Por mais de três
séculos seus soberanos foram senhores de muitas terras e minas, as quais representaram a
fonte da sua grande riqueza, pois seus reis dominavam um número considerável de minas de
ouro, as quais atraíam comerciantes de vários cantos do continente e até mesmo passou a
interessar povos estrangeiros como os árabes e os portugueses. Para Correa (1885),

O objectivo dos Portugueses era de controlar o acesso às


zonas produtoras do ouro, pois só assim poderiam acabar com a
escassez de metais preciosos em Portugal e comprar as especiarias e
produtos asiáticos muito apreciados na época (p.62).

Moçambique passou a constituir uma espécie de reserva de meios de pagamento das


especiarias e essa foi a razão por que os portugueses se fixaram no Pais, primeiro como
mercadores e, só mais tarde, como colonizadores efectivos.

A partir de 1530 os portugueses decidiram penetrar no vale do Zambeze, como


corolário, Tete e Sena são fundados em 1530 e Quelimane em 1544. Tratava-se, agora, já não
da tentativa de controlo das vias de escoamento do ouro, mas do próprio acesso às zonas
produtoras. Os mercadores portugueses tentaram lutar sem êxito contra a concorrência que
fizeram os swahill-árabes, que transformaram Angoxe no novo centro escoador do ouro
tornando assim, estratégica a via fluvial do Zambeze, bem como contra o bloqueio de certas
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dinastias Karanga-Chona à passagem das mercadorias da costa, tecidos e missanga para o


interior.

1.2.2. O comércio do ouro e a penetração portuguesa no Mwenemutapa

A primeira década do século XVII marcou o início de uma nova era no Estado dos
Muenemutapas. A classe dominante encontrava-se envolvida em profundas contradições.
Gatsi-Lucere, o imperador, sentindo-se militarmente impotente para debelar a revolta
comandada por Mthuzianye, viu-se obrigado a solicitar apoio militar português.

De acordo com Bocarro (2002),

O ouro era, mais do que outra qualquer riqueza, o grande


instrumento regulador das trocas à distância. Nele encontravam
mouras e cristãos a melhor forma de pagamento. Por isso não admira
que as douradas terras do Mwenemutapa sofressem todas as
resultantes advindas da partilha política das grandes potências. O ouro
era a grande força que chamava a si as atenções dos grandes impérios”
(p.54).

O Mwenemutapa terra misteriosa e rica dos sertões de Sofala, prendeu e apaixonou os


portugueses do século XVI. Sertanejos, mercadores, militares e missionários, viveram nessa
enigmática e aliciante região do Indico africano, drama intenso, comoção constante. As
fabulosas riquezas auríferas fizeram do Mwenemutapa uma das presas mais cobiçadas da
Antiguidade, da Idade Média e do Mundo Moderno, as suas minas de ouro atraíram e
fascinaram os grandes impérios africanos e asiáticos desde os mais recuados tempos. Segundo
Nhapulo (2013, p.97),

O ouro resgatado pelos portugueses nos estabelecimentos


comerciais de Sofala não provinha apenas das ricas minas de Manica
ou Chicanga. Para a costa ia o ouro de todas as terras auríferas do
Mwenemutapa, especialmente dos seguintes reinos negros, senhores
de vastos territórios, cujas formações geológicas continham o precioso
metal amarelo. As manchas geológicas auríferas estendiam-se por
quase todo o sertão do Mwenemutapa.

Em 1629, a dependência cristalizou-se na forma de um novo tratado que garantia os


portugueses a livre circulação de homens e de mercadorias isentas de qualquer tributo, a
obrigatoriedade de o Muenemutapa consultar o capitão Português de Massapa que assegurava
e protegia a penetração mercantil nas feiras comerciais de Tete e Zimbabwe, antes de tomar
qualquer decisão, a permissão para os mercadores entrarem na corte do Muenemutapa sem
respeitar o protocolo
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1.2.3. O processo de organização nas minas

Segundo Serra (2000), O processo de trabalho nas minas era geralmente organizado no
quadro das relações de parentesco e a divisão das tarefas no decorrer do processo produtivo
fazia-se de acordo com esse quadro. Eram sobretudo mulheres e crianças que trabalhavam nas
minas ou, pelo menos cabiam-lhes as tarefas mais duras e perigosas, nomeadamente a de
penetrar nas escuras galerias à procura de ouro.

Não foi o comércio que veio criar a exploração, ele veio antes
se escrever-se nas anteriores relações de produção e exploração
intensificando-as e fazendo desviar o campesionato para uma
produção que não era interior a estrutura social. Essa actividade
produtiva nas minas e nos cursos fluviais, a qual, antes da penetração
portuguesa se fazia nas épocas mortas, fora do plantio e das colheitas
agrícolas, passou a efectuar-se também nos períodos produtivos
agrícolas (Serra, 2000, p,72)

A penetração mercantil portuguesa não agiu unicamente ao nível da classe dominante, mas
igualmente, ao nível do próprio campesionato. O processo de comprometimento do novo
imperador culminou com a assinatura, no mesmo ano (1629), do tratado que transformou o
império num Estado Vassalo de Portugal.

Pelo tratado a aristocracia do Muenemutapa ficou obrigada a:

1. Não exigir aos funcionários e mercadores portugueses a observação das regras


protocolares quando recebidos por autoridades e altos dignitários da corte (descalçar,
tirar o chapéu, bater palmas, ajoelhar-se, etc.);

2. Não obrigar os mercadores portugueses a pagarem impostos inerentes à sua


actividade;

3. Aceitar uma força constituída por 50 soldados portugueses na corte;

4. Consultar o capitão português de Massapa antes de tomar qualquer decisão


importante;

5. Expulsar os mercadores asiáticos do império;

6. Facilitar o estabelecimento de igrejas no território;

7. Emitir a instalação de pequenas unidades políticas dirigidas por brancos no império


(prazos).
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1.3. Características gerais do comércio do ouro

Desde o início da conquista, os portugueses descobriram a importância estratégica de


Moçambique para a realização do comércio da costa oriental africana, mas também como
base de apoio do comércio com a Índia e para a navegação de longo curso. Na primeira fase
do século XVI, o interesse dos mercadores portugueses era fundamentalmente o ouro do
Mwenemutapa que saía por Sofala e era capturado pelos mercadores árabes.

Com esse ouro faziam concorrência aos portugueses não só na costa africana, como no
Índico asiático. Mas os portugueses precisavam dele para a compra das especiarias na Índia,
por isso lutaram para assumir o controlo total do comércio e da produção do ouro e
conseguiram em meados do século XVII. (Barros 1978), explica que o comércio do ouro teve
algumas características gerais que forão:

1. Troca de produtos diferenciados, entre o ouro e outros produtos do oriente;

2. Rivalidades entre asiáticos e europeus;

3. A fixação portuguesa e a fundação da feitoria de Sofala em 1505;

4. Emergência e desenvolvimento dos Estados Mwenemutapa, Marave, Prazos da Coroa


Estados Militares do vale de Zambeze, Ajaua e Afro Islâmicos da Costa Ajaua, Afro
Islâmicos da Costa e o Estado de Gaza;

5. Desagregação de vários Estados moçambicanos;

6. Existiam os intermediários que facilitavam o comércio (Mussambazes) mercadores


negros especializados.

7. De Portugal partiam embarcações carregadas de produtos manufacturados,


como armas de fogo, rum, tecidos de algodão asiático, ferro, jóias de pouco valor,
entre outros artigos de menor valor comercial e em troca obtinham o ouro;

8. O ouro foi obtido pela promoção de instabilidades nos estados africanos;

9. Rivalidades entre Portugal e estados afro-asiáticos como árabes e outros pelo comércio
do ouro;

.
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1.4. Consequências do comércio do ouro

Segundo Correa (1858), desde o século XVI, o actual território moçambicano era
conhecido pelas suas actividades de mineração principalmente de ouro (branco e amarelo).
Com o decorrer do tempo a mineração do ouro iria diminuir reunindo desta forma as seguintes
consequências deste comércio:

A presença estrangeira em Moçambique, e particularmente a portuguesa, trouxe graves


consequências para as populações moçambicanas, a saber:

1. Fuga das comunidades nas áreas onde a actividade mineira era muito intensa;

2. Morte de crianças e mulheres nas escuras galerias à procura do ouro;

3. Introdução de uma renda em prospecção mineira (ouro);

4. Aumento do poder de compra de alimentos e produtos artesanais;

5. Integração da costa oriental africana no comércio internacional.

Olhando para estas consequências o comércio do ouro trouxe instabilidade nos estados
moçambicanos porque com a penetração portuguesa eles criaram instabilidade com estados,
com objectivo te tomar o controlo das minas de ouro

1.5. Decadência do Império de Muenemutapa

Segundo Serra (2000), a decadência do Estado de Muenemutapa iniciou por volta de 1480,
após a morte de Matope devido a vários factores dos quais se destacam:

1. A luta pelo controle do comércio;

2. A fixação de mercadores portugueses na costa moçambicana a partir de 1505, com a


ocupação de Sofala, introduzindo profundas transformações na estrutura socio-política
e económica da sociedade Shona, contribuindo para a decadência do estado
Muenemutapa;

3. As lutas pela independência dos Mambos sobre influencia dos árabes favoráveis a tais
independências uma vez que eles obteriam vantagens no comercio do ouro com o
território do império;
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4. Traições de certos Muenemutapas, especificamente o acordo de Mavura com os


Portugueses;

5. A invasão dos povos Nguni provenientes da Zululândia, liderados por Zuangendaba e


Mzilikazi;

6. Intervenção dos Portugueses nos assuntos internos do Estado e a intensa cristianização


prosseguida pelos missionários;

7. Desenvolvimento dos Prazos do Vale do Zambeze.

Os prazos eram pequenas unidades políticas estruturadas dentro do império dos


Mwenemutapa por mercadores de origem portuguesa e indiana. A ocupação das terras seguiu
três vias principais:

 Doações dos chefes africanos ao governo português;


 Conquista militar por parte de alguns mercadores ricos; e
 Compra aos chefes africanos pelos mercadores.
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Conclusão

A fixação dos portugueses em Moçambique iniciou no século XVI com a ocupação de Sofala
em 1505 e da Ilha de Moçambique em 1507. Em 1530 os portugueses construíram feitorias
em Tete e Sena (1530) e fixaram-se em Quelimane em 1544. Numa primeira fase as
autoridades locais detinham total domínio e os estrangeiros eram obrigados a pagar tributos
(curva e empata) e a observar o ritual (descalçar, tirar o chapéu, estar desarmado e bater
palmas para entrar na corte) em sinal de respeito ao soberano. Em 1607, e em troca de apoio
militar para fazer face às revoltas internas, o mambo Gatsi Lucere cedeu terras aos
portugueses, abrindo uma fase de aliança entre os shona e os portugueses. Em 1627, após a
morte de Gatsi Lucere, subiu ao trono Caprazine, que era contra os portugueses, este tentou
retirar os privilégios destes.
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Bibliografia

Barros. T. (1978). Expansão e penetração mercantil portuguesa em Moçambique, Lisboa

Bocarro, A. (2002). O caminho das índias e a fixação das feitorias portuguesas, Lisboa

Castanheda, F. L. (2001). História: do descobrimento e conquista da índia pelos


portugueses, L. I, Coimbra

Correa, G. (1858). O comércio do ouro nos reinos e impérios antigos, Lisboa

Nhapulo, Telesfero de Jesus. (2013).Historia 12ª classe, plural editores, Maputo

Serra, Carlos.(2000). História de Moçambique: Agressão Imperialista, 1886-1930. Maputo:


Livraria Universitária-UME

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