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Índice

Os prazos da Coroa em Moçambique ................................................................................................. 3


Localização ...................................................................................................................................... 3
Prazos .............................................................................................................................................. 3
Formação............................................................................................................................................. 4
A origem ...................................................................................................................................... 5
Problemas e dificuldades no prazo ................................................................................................. 6
Base Económica................................................................................................................................... 8
Estrutura Social e Aparato Ideológico ................................................................................................. 9
Decadência ........................................................................................................................................ 10
Conclusão .......................................................................................................................................... 11
Bibliografia ........................................................................................................................................ 12
Introdução
Os Prazos da Coroa foram uma das formas que tomou a colonização portuguesa de
Moçambique. Por volta de 1600, Portugal começou a enviar para Moçambique colonos,
muitos de origem indiana, que queriam fixar-se naquele território. Esses colonos, muitas
vezes casavam com as filhas de chefes locais e estabeleciam linhagens que, entre o
comércio e a agricultura, podiam tornar-se poderosas.
Os prazos são o resultado da expansão económica portuguesa, cuja instituição diferia do previsto,
isto e, não funcionava em função da aristocracia portuguesa, pois os prazeiros possuíam interesses
egocêntricos. Assim, é destes prazos da Coroa que pretendemos abordar neste trabalho e
explicar a sua decorrência deste a sua origem até o seu fim.
Os prazos da Coroa em Moçambique

Localização
A insurreição de 1693 levou os portugueses a refugiarem se em Tete, Sena e Quelimane, mais
tarde o sistema de prazos foi alargado para norte de Zambeze nomeadamente para os territórios
do Estado de Cheua dos Undi.

O sistema de prazos desenvolveu-se ao longo do vale do Zambeze, entre Quelimane e


Zumbo, de modo a controlar as principais rotas comercias. Cada prazo tinha uma área de
cerca de cinco léguas quadradas.
Os prazos do vale do Zambeze mais conhecidos foram: Massangano, Massingre, Gorongosa,
Makololo, Maganja, Carazimamba Kanyemba, Makanga e Matakenya.

O Prazo moçambicano apenas praticado nas jurisdições de Quelimane, Sofala, Sena e Tete,
resulta da combinação das sesmarias do reino com as mercês nupciais por três vidas feitas
na Índia. [História de Moçambique, p. 10]

Foi na segunda metade do século XVI que os portugueses estabeleceram no Vale do


Zambeze uma nova instituição – os prazos da coroa

Prazos

Eram unidades políticas onde a classe dominante era formada por mercadores portugueses
estabelecidos como proprietários de Terras, terras essas que tinham sido doadas, compradas
e até mesmo conquistadas aos chefes locais. Ou por outra, eram territórios concedidos por
um período de três gerações aos mercadores portugueses e indianos. A administração era
transmitida aos descendentes, mas deveria ser seguida a linha de sucessão matrilinear. Isto é,
seria a mulher a garantir a sucesso.

Os prazos da coroa foram inicialmente terras conquistadas por aventureiros, soldados e


mercadores de missanga, à testa de exércitos de cativos, quer terras que chefes locais lhes
cederam em troca de saguates ou de ajuda militar contrachefes rivais. Pode-se sustentar que
os prazos nasceram com a penetração portuguesa no vale a partir de 1530.

Portugal ao criar os prazos pretendia criar bases para uma ocupação efectiva de Moçambique
garantindo a montagem da administração colonial. Porém, os prazos que muitos historiadores
pretendiam ver como a primeira forma de colonização portuguesa em Moçambique e
particularmente no vale do Zambeze, acabaram sendo essencialmente bolsas de escoamento
de mercadorias (ouro, marfim numa primeira fase e de escravos numa segunda fase) que
aproveitaram o rio Zambeze como via natural.

Todavia, os prazos foram o resultado do cruzamento de dois sistemas sociais de produção:


um pré-existente na sociedade Chona, com dois níveis o dos camponeses das mushas vivendo
num regime de relativa autarcia e o da aristocracia dominante formada pelos mambos e fumos

O nome prazo veio do conteúdo dos contratos que a Coroa fazia com os seus mercadores. O
termo prazo aparece no século XVII, quando os Portugueses começaram a receber do vice-
rei da Índia (em nome do rei de Portugal), por um prazo de tempo (1, 2 ou mais vidas ou
gerações). Aos recebedores de um prazo chama-se prazeiros.

Os prazos da Coroa surgem como propriedades estatais, sujeitas a uma renda anual em ouro
e constituíam uma verdadeira estrutura militar do capital mercantil. Estas unidades políticas
caracterizavam-se cultural e politicamente por assentarem na base de raízes da tradição
cultural africana, adaptadas aos interesses administrativos comerciais da época.

Formação
Os prazos remontam ao século XVI e terminaram definitivamente só na década de 30 do
século XX.
Ao surgirem os prazos (que não foram uma criação regia portuguesa, mas o simples
reflexo no sertão da faina de mercadores particulares), a coroa pretendeu nacionaliza-los
outorgando-lhes um estatuto legal e atribuindo aos prazeiros a obrigação de pagarem
foros. Quer dizer Portugal pretendeu dar aos prazos do vale de Zambeze o estatuto dos
feudos portugueses e a natureza da estrutura feudal que dominava a sociedade.
A tentativa teve sempre pouco êxito, primeiro que a forca administrativo-militar era fraca e
segundo, porque quem mandava e impunha a lei no vale do Zambeze eram os prazeiros.

A origem

A origem dos Prazos pode remontar a penetração portuguesa no vale do Zambeze, entre
Quelimane e Zumbo (uma zona da actual província de Tete), que se verificou desde meados
do século XVI quando, de forma espontânea, homens do reino se aventuraram legal ou
ilegalmente no comércio. No entanto, só depois de 1618, com a regulamentação da lei
sobre concessão de terras, é que a Coroa portuguesa iniciou o processo de reconhecimento
dos privilégios e direitos destes primeiros ocupantes portugueses, passando a designá-los de
“Prazos da Coroa”. A Coroa portuguesa reconhecia por um prazo determinado a posse da
terra ocupada a quem a legalizasse, qualquer que tivesse sido a forma da sua obtenção.
No entanto atualmente existem outras opiniões diferentes sobre a origem desta instituição,
apontando-a como sendo:
a) De origem árabe (tese defendida por Oliveira Martins e pero Alvares)
b) De origem portuguesa, com ou sem influencia da Índia (tese defendida por lobato e
Papagno)
c) Um processo de substituição, através da conquista da conquista aos africanos- tese
do trespasse (tese defendida por Ernesto de Vilhena e Fitz Hoppe).
As autoridades portuguesas de Lisboa, ao instituírem o sistema de prazos, pretendiam
implantar a dominação colonial em Moçambique com o incremento do povoamento branco,
numa tentativa de ocupar efectivamente os territórios coloniais.

Os prazeiros tinham deveres para com a Coroa:


 Reger-se pelas leis régias, assim como na administração do seu território. O capitão-
mor (dependente do vice-rei da Índia) era quem zelava por essa aplicação;
 Expandir a civilização portuguesa e a fé cristã;
 Proteger os habitantes africanos residentes nos prazos;
 Pagar o imposto anual (foro), equivalente a 1/10 do rendimento do prazo.
Contudo, no processo da formação dos prazos, surgiram várias dificuldades ou problemas.
Na prática, a formação dos prazos funcionou apenas em benefício dos prazeiros contra as
pretensões da Coroa portuguesa.

Problemas e dificuldades no prazo

Prazeiros eram, por natureza, contrários aos interesses da Coroa:


 A maioria dos prazeiros eram pessoas que cumpriam penas de degredo em
Moçambique: criminosos, opositores políticos do regime, desertores do exército.
 O crescente poder militar dos prazos reduzia a capacidade de pressão do governo
sobre eles.
Prazeiros eram poucos face às necessidades
 Eram em número reduzido para responder aos interesses da Coroa em termos de
divulgação da cultura portuguesa no seio das comunidades africanas.
Prazeiros eram controlados legal e fiscalmente
 A impotência das autoridades portuguesas que só se encontravam na costa sem
força para obrigar a cumprir com as leis de Lisboa;
 O crescimento do poder dos prazos fora do controlo de qualquer autoridade lusa.

Prazeiros por vezes eram mais poderosos que a Coroa


 A aliança dos prazeiros com os chefes locais, muitas vezes era feita via casamento
com as filhas dos chefes locais, tornava-os mais poderosos; havia um poder quase
absoluto dos prazeiros em relação a autoridade portuguesa.

A organização político-administrativa

 Os prazeiros gozavam de uma independência quase total

 Afixavam os impostos (mussoco, atributo em géneros) a serem pagos pela


população camponesa residente dentro dos prazos e seus arredores;

 Condenavam a morte por enforcamento e aplicavam chicotadas e palmatoadas a


todos os que se recusavam a acatar as suas leis;
A organização socioeconómica
No aspecto económico, a vida do prazeiro era baseada na pilhagem feita durante as incursões
armadas, na venda de peles, de ouro e de marfim e no comércio de escravos (mais tarde). Os
escravos encontravam-se divididos em dois grupos com funções distintas:

 O exercito (A-chicunda), que garantia a defesa do prazo, a organização do ouro e


uma industria ligeira (barqueiros, pescadores, carpinteiros, etc.)

A organização político-administrativa
 Afixavam os impostos (mussoco, atributo em géneros) a serem pagos pela população
camponesa residente dentro dos prazos e seus arredores;
 condenavam a morte por enforcamento e aplicavam chicotadas e palmatoadas a todos os
que se recusavam a acatar as suas leis;
 tinham a sua própria força militar, formada sobretudo por escravos e depois mercenários.

Estrutura social
Esquematicamente, os Estados Militares apresentavam a seguinte estrutura social:

Prazeiro
A-chucunda
Mambos e fumos (Aristocracia dominante)
Comunidade aldeã (camponeses)

Para assegurar a sua reprodução como classe dominante, os senhores dos Estados Militares
promoviam uma cuidadosa politica de alianças matrimoniais com os principais reis locais e
utilizavam todo o aparato ideológico necessário.
Base Económica
O comercio do ouro e do marfim configurou a base económica dos prazos ate os finais do
seculo XVIII e ligou-os a cadeia de acumulação primitiva de capital. Isto é, os prazos
serviam, de bolsas de escoamento de mercadorias (ouro e marfim, numa primeira fase, e
escravos, depois) aproveitando as condições naturais do rio Zambeze para escoar os produtos
ate a costa litoral do indico.

A cobrança de impostos também fazia parte da componente económica dos prazos. 1/10 do
resultado da cobrança de impostos era pago à Coroa. O mussoco era o imposto mais
conhecido e consistia num pagamento em cereais.

A pilhagem era também uma actividade económica. O resultado das pilhagens feitas em
incursões militares era propriedade do prazeiro.

Os prazos localizavam-se ao longo do rio Zambeze e tinham grandes poderes sobre as


populações que viviam nos seus domínios. Os prazeiros lideravam exércitos privados, cujos
soldados eram recrutados entre os escravos domésticos e demais elementos da população a-
Chicunda.

Comercio régio
Os portugueses usam no seculo XVII por exemplo o sistema de arrendar terras a capitães,
que tomavam a seu cargo o monopólio de compra e venda de produtos e pagavam a fazenda
real uma determinada percentagem dos lucros. Esses arrendamentos eram interpelados pela
tentativa de nacionalização, da actividade comercial a qual ficava a cargo da fazenda ou das
juntas do comercio. Tudo se tornava ineficaz na prática do ponto de vista da coroa e a maior
parte da riqueza acumulada ou era simplesmente drenada para a Índia ou ia para lisboa nos
baús dos nobres para ser sistematicamente investido em bens de raiz.

No seculo XVII a Índia tornou-se quase virtualmente a verdadeira metrópole mercantil de


Moçambique, no que diz respeito na acumulação de capitais quando os primeiros mercadores
indianos começaram a chegar a ilha de Moçambique.
Estrutura Social e Aparato Ideológico
Os prazos devem ser como um processo continuo no qual, os colonos portugueses, mestiços
ou indianos, adquiriam reconhecimento como chefes políticos sobre as populações africanas,
ganhando estatuto especial que antes só pertencia aos chefes africanos. [História de
Moçambique, p. 125]
 Em termos de organização social, os prazos eram encabeçados pelos senhores dos
prazos ou prazeiros. Havia ainda colonos Livres que também viviam nestes domínios.
 Os trabalhadores dos prazos eram os escravos e os A-Chicundas. Os escravos eram
bens do senhor dos prazos e, apesar de a escravatura ter sido abolida em 1836, os
prazeiros continuaram esta actividade ate 1900. Os prazos talvez tenham sido a
estrutura política mais esclavagista de que há memória em Moçambique.
 Os A-Chicundas eram o exército dos senhores dos prazos. Os A-Chicundas
organizavam-se em pequenas companhias, chefiadas por um Sachicunda

.
Os prazos mais não foram do que a síntese do cruzamento de dois sistemas sociais
do produção: um, preexistente na sociedade Karanga-Chona, com dois níveis, o dos
camponeses das mussas, vivendo num regime do relativa autarcia, e o da aristocracia
dominante, formada pelos mambos e pelos fumos; o outro sistema, quo se sobrepõe
ao primeiro — forma especifica de sobreposição do capital mercantil a economia
natural, era formada pelos prazeiros (mercadores, ex-soldados desertados, fugitivos
que cumpriam penas de degredo), elite dominante, e por exércitos de cativos
guerreiros, os chamados A-Chicunda. [História de Moçambique, vol. I, pp. 84-85]

Aparato ideológico

Do ponto de vista ideológico, os senhores dos prazos usavam quase na totalidade as formas
nativas de invocação dos cultos. A utilização do muávi (uma beberagem toxica que se
acreditava poder mostrar a culpabilidade de alguém num determinado delito ou numa
acusação de feitiçaria), o culto aos espíritos, as cerimónias de invocação das chuvas e
outras manifestações constituíam os mecanismos que garantiam a reprodução das relações
produtivas então existentes. Os prazeiros africanizaram-se.
Tal como sucedia quando morria um mambo, também a morte de um prazeiro provocava
um período de desordem generalizado – os choriro (quem rema no fundo)
Decadência

Por volta de 1830, a maior parte dos Estados Militares estava em decadência ou tinha sido
abandonada, os prazos começam a entrar em decadência provocada por várias razões:

 Havia uma fragilidade estrutural institucional latente devido a ausência de


legitimidade do poder dos prazeiros;
 Deu-se uma crise na produção agrícola pois não havia como responder aos elevados
índices de consumo no seio da população;
 Os prazeiros começaram a cobrar cada vez mais os impostos a população, como o
“Mussoco”;
 Notou-se a concorrência entre diferentes prazos e Estados vizinhos;
 Verificou-se a ineficácia da administração portuguesa e a falta de uma força militar
para impor o seu domínio;
Conclusão
As concessões faziam-se a título perpétuo ou em vidas. A perpetuidade vigorou apenas nas
doações às instituições religiosas. As regras eram os emprazamentos em três vidas, em que
o foreiro usufruía da terra durante a sua vida, nomeando a segunda e esta a terceira. Era
usualmente reconhecido o direito de renovação, permitindo ao último detentor declarar um
sucessor, que alcançava mais três vidas. A transmissão dos prazos de vidas, tal como a dos
bens da Coroa, regulava-se pela indivisibilidade, impondo a nomeação de um único sucessor,
e pela inalienabilidade, demandando a autorização da Coroa para designar a vida seguinte. A
principal função dos prazos, para alguns historiadores, é económica. Um prazo era uma base
de escoamento de mercadorias como o ouro, o marfim e os escravos.

O objectivo da coroa portuguesa era a colonização de Moçambique, com o incremento do


povoamento branco. A obrigatoriedade da renovação da concessão de três em três gerações
e da transferência por via femininas, em caso de norte dos titulares, enquadrava-se na
perspectiva de atrair para Moçambique mulheres portuguesas, para não se por em causa a
continuidade da raça branca, com os inevitáveis casamentos de homens brancos com
mulheres negras.
Bibliografia
 NHAPULO, Telésfero de Jesus, História 12ª classe, Plural Editores, Maputo, 2013
 PEREIRA, José Barbosa, História 12ª classe, Pearson, Maputo, 2013
 UEM, Departamento de História, 1983. História de Moçambique Volume 2: Agressão
Imperialista (1886-1930). Cadernos TEMPO. Maputo

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